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A Arte de Contar Histórias - Curso Livre - UNIGRAN / 2015

Módulo
A Importância das
Histórias Infantis para
o Desenvolvimento
da Criança
Caros(as) alunos(as),

No segundo módulo de nosso curso abordaremos dois tópicos fundamentais


para se entender arte de contar histórias:

• a importância das histórias para o desenvolvimento da criança;


• contos de fadas e o universo infantil.

Por meio desses tópicos, esperamos contribuir para que tenham algumas
dúvidas sanadas e que ampliem o conhecimento de vocês sobre as discussões
propostas.
Qualquer dúvida, contatem-nos através do quadro de avisos, ok?

Olá cursistas,

Iniciemos nosso segundo módulo abordando a importância das


histórias infantis para o desenvolvimento da criança

A literatura infantil tem por principal alvo encantar a criança, é a


união do entretenimento e a instrução ao prazer da leitura, ela veio para
educar a sensibilidade, reunindo a beleza das palavras e das imagens,
levando a criança a desenvolver as suas capacidades de emoção,
admiração, compreensão do ser humano e do mundo, entendimento dos
problemas alheios e dos seus próprios, enriquecendo principalmente as
suas experiências escolares, cidadãs e pessoais.( Souza 2009)

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Desta forma podemos afirmar que as crianças fazem uso da


imaginação, ou seja utilizam as situações vividas em cada história para
tentar compreender o mundo a sua volta. Eles ainda não compreendem
que isto está acontecendo, mas nós os adultos podemos através da
observação perceber a utilidade prática que as histórias infantis podem
trazer para os alunos dentro da sala de aula, um exemplo claro disto seria:
o desenvolvimento da oralidade e a ampliação do conhecimento de mundo
que a própria criança começa a demonstrar através da fala e de suas ações.
Portanto, devemos nos atentar diante de uma prática tão importante
e envolvente como o momento da contação de histórias. Devemos utilizar
este meio para tornar as aulas mais prazerosas e significativas para os
alunos no maternal, lembrando sempre que a busca e utilização de práticas
que respeitam a especificidade da criança sempre trarão resultados
positivos, contudo não podemos nos descuidar do momento em que vamos
escolher o volume a ser usado e também o modo como vamos encaminhar
a atividade.
Para Garcia, ao contar uma história para a criança, segundo as
ideias de Coelho (1998), proporciona-se a ela muita imaginação e permite-
se, também, que veja herois e heroínas encarando obstáculos, e assim,
criam-se condições para que vá aprendendo que é preciso enfrentar um
problema e buscar sua própria solução, superando o medo que a inibe.
As diferenças que mostram os personagens bons e maus, feios e bonitos,
poderosos e fracos, facilitam a compreensão de certos valores básicos da
conduta humana ou do convívio social. Arte de contar história é aquela que
comove, emociona, promove a sensibilidade. Os contos são verdadeiras
obras de arte, pois pertencem ao patrimônio cultural de toda a humanidade e
representam a visão do mundo, as relações entre o homem e a natureza sob
as formas estéticas mais acabadas; aquelas que provocam precisamente
o maravilhoso.

Vamos agora entrar no mundo da leitura infantil?

CONTOS DE FADAS E O UNIVERSO INFANTIL

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Os diferentes tipos de textos da Literatura Infantil

Bem pessoal, vamos agora tratar dos diferentes tipos de textos


de literatura infantil que podem ser trabalhados com as crianças. Entre
essa diversidade textual, vamos discutir as características Específicas das
narrativas, poesia, contos de fadas, história em quadrinhos.

NARRATIVA

A narrativa para crianças


“É preciso fazer compreender à criança que a leitura é o mais
movimentado, o mais variado, o mais engraçado dos mundos”. Alceu
Amoroso Lima

Aspectos teóricos

A narrativa para crianças não dispensa o dramatismo, a


movimentação. Irrequieta por natureza, incapaz de uma atenção demorada,
a criança irá interessar-se naturalmente pelos livros onde a todo momento
apareçam fatos novos e interessantes, cheios de peripécias e situações
imprevistas, movimentando-se assim o espírito infantil. Diz Sara Bryant:“Não
se trata do que pensaram as pessoas, ou do que sentiram, mas do que
fizeram”.
Pensamos, contudo, que não só o movimento físico, a ação das
personagens, cria o dinamismo da história: imaginamos que uma boa
técnica narrativa cria a movimentação, a preocupação máxima de um
narrador para crianças.
O autor terá mais sucesso entre as crianças se evitar descrições e
digressões longas, ainda que muito pitorescas, mas que não tenham nada
com o fio de ação da história. Em geral, elas interrompem o caso, e o
resultado não será o desejado pelo autor. É o que nos lembra Monteiro
Lobato:
“As narrativas precisam correr a galope, sem nenhum efeito
literário”.
Assim, a narração é mais agradável ao espírito infantil. Com relação
às falas e aos pensamentos das personagens, a melhor apresentação é
através do discurso direto. O diálogo, predominante no conto em geral, torna-
se mais necessário ainda para crianças: ele atualiza a cena, presentifica os
fatos, envolve mais facilmente o leitor que o discurso indireto, que fica a

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cargo do narrador. Por tudo isso, se bem feito, numa linguagem realmente
oral e adequada às características da personagem e à situação, o diálogo
dá um grande realismo à cena.
Muitos autores, conhecendo o valor do diálogo, usam até do
apelo ao leitor. Fazem-lhe perguntas, supõem respostas - técnica muito
interessante para a criança. O discurso indireto livre, pela economia e
relação com o direto, é de uso amplo e interessante.
As questões relativas às personagens são também muito importantes:
o número, o aparecimento, as oposições entre as personagens, suas
características, são pontos importantes a considerar, dentro do conjunto
da obra. Quanto à classificação, as personagens serão frequentemente
planas, sem grande complexidade.
O desenvolvimento de uma história para crianças será forçosamente
diferente do de uma narrativa para adultos. É claro que a criança vem
acostumando-se aos poucos aos processos narrativos da televisão e do
cinema, mas nestes a imagem e outros processos ajudam a criança a
perceber mais facilmente mudanças mais complexas de planos narrativos.
Por isso, vários processos usados num romance para adultos não podem ser
empregados numa obra infantil, sob pena de tornar a narrativa inacessível
à criança.
O texto que segue sobre a Narrativa para crianças e as Histórias
em quadrinhos foi retirado do livro Literatura Infantil: teoria e prática, de
Maria Antonieta Antunes Cunha
Assim, é importante a narrativa linear, com tempo cronológico
(e não psicológico), sem cortes e voltas ao passado (flash-back) ou a
cenas paralelas, sem “fluxos de consciência”. Os recursos narrativos mais
adequados à criança costumam formar o conto ou o romance de ação, nos
quais predomina a intenção de distrair, sem outro compromisso que o de
narrar uma história interessante.
Essa história interessante deve ter o desfecho feliz. Esse é um
requisito essencial sobretudo para as crianças mais novas. Se o adulto é
capaz de ler um livro ou ver um filme que acabe mal, sem deixar de apreciar
o livro ou o filme, pelo aspecto puramente artístico, ou pela realidade da
vida neles apresentada, tal não se pode esperar da criança. Normalmente
ela vive a história, identifica-se com a personagem simpática, e o final
desagradável a feriria inutilmente.
Essa necessidade do desenlace agradável parece ser um dado
cultural: sabe-se que na França não há grande preocupação com esse
aspecto, e muitas são as histórias que acabam mal. Pessoalmente, não

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vemos a vantagem do cultivo da infelicidade. E se o livro é um entretenimento,


o gosto pelo fim sombrio não será pouco saudável?
Não queremos dizer que o final deva ser sempre a mais absoluta
felicidade: em Platero e Eu, o burrinho morre, mas seu dono encontra uma
forma alegre de viver. Tistu, o menino do dedo verde, também não fica com
seus pais, mas arranja um modo de não magoá-los. O que achamos, afinal,
é que a amargura não deveria ser desenvolvida no espírito infantil.

A questão das faixas etárias

Um problema que diz respeito mais à narrativa do que aos outros


gêneros é o relativo à adequação da obra à idade da criança. Sabe-se pela
Psicologia que a criança passa por uma série de transformações, desde que
nasce até entrar na adolescência, transformações essas que estabelecem
fases de sua evolução.
Para a literatura infantil, têm sido consideradas três dessas fases:
a do mito, a do conhecimento da realidade e a do pensamento racional.
Parece-nos fundamental alertar para a relatividade dessas informações.
Os limites apresentados são teóricos. Na realidade, cada criança tem
seus próprios limites, num desenvolvimento peculiar definido por muitos
e diferentes fatores. Mais do que conhecer as fases do desenvolvimento
infantil, importa conhecer a criança, sua história, suas experiências e
ligações com o livro.
Por isso mesmo, as características e limites das fases que vêm
apresentadas a seguir são apenas pontos de referência, generalizações
que podem não se confirmar diante da criança específica que temos diante
de nós.
Na fase do mito se encontram as crianças de 3/4 a 7/8 anos.
Predomina nelas a fantasia, o animismo: tanto quanto as pessoas, os
objetos têm para a criança alma, reações.
Não existe para ela diferença entre realidade e fantasia, e a leitura a
ser feita para a criança desta época é a que também não faz essa distinção:
a literatura de maravilhas. Os contos de fadas, as lendas, os mitos e as
fábulas são especialmente adequados a essa idade.
A segunda fase (7/8 a 11/ 12 anos) se caracteriza pelo
conhecimento da realidade. A criança tem então maior necessidade
de ação: do plano contemplativo da fase anterior, passa ao executivo.
Interessa-se pela experiência do homem e da ciência. Valoriza o esforço
pessoal, o engenho do herói para vencer os obstáculos.

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Esta fase é chamada robinsonismo, porque serve de modelo à


época o herói de Daniel Defoe, Robinson Crusoé. A literatura adequada
às crianças dessa idade é o romance de aventura, o relato histórico. Os
relatos mitológicos, os heróicos (sobre o princípio da vida dos povos),
os de viagens e façanhas, as histórias regionais, nacionais e universais
(atualmente a literatura espacial) são muito apreciados.
Tais relatos, evidentemente, não são sempre verídicos. Na maioria,
têm uma base verdadeira, que foi alterada pela imaginação humana. Mas
mantêm todos um tom verídico, ou verossimilhante, que os torna mais
próximos da realidade imediata que a fada.
Convém lembrar que, apesar de meninos e meninas terem
interesses diferentes nessa fase, ao contrário do que se observa na anterior,
na leitura essa diferença não é tão marcante. Apenas podemos notar por
parte das meninas uma tendência maior à irrealidade, numa mistura talvez
com características da primeira fase, ou com o romantismo da terceira.
A terceira fase (de 11/12 anos até a adolescência) é a do
pensamento racional. Começa na criança o domínio das noções abstratas.
Caracteriza-se por uma segunda fase egocêntrica, mas diferente da que
ocorre a partir dos 3 anos, por ter caráter social. Preocupa-se consigo, mas
em sua relação com os outros. Isto se explica bem pelo elemento erótico,
pela preocupação sexual, que começa a existir. As questões pessoais
adquirem valor extraordinário, daí o interesse pelo romance em geral. A
literatura romântica, pelo caráter de seus heróis e por seus temas, é muito
bem aceita nessa idade.
Sobretudo para essa faixa etária, vem desenvolvendo-se no Brasil,
desde 1975, a chamada literatura realista para crianças, exemplificada
especialmente pela “Coleção do Pinto”, da Editora Comunicação. Esse
tipo de literatura pretende levar à criança assuntos até agora “malditos” ,
ou, pelo menos, “impróprios para menores”: a morte, o desquite, questões
ecológicas e políticas - enfim, problemas de nossa sociedade.
A partir daí, acompanham os educadores dúvidas quanto à validade
de experiências do tipo da Coleção do Pinto. Devemos lembrar que outras
formas da literatura infantil já foram e são questionadas por outros tantos
educadores: assim ocorreu e ocorre com os contos de fadas, com as fábulas
e mesmo com a fantasia em geral. Em todas essas restrições evidencia-se
a preocupação com o valor moral, ou educativo, da obra.
Novamente, queremos insistir num ponto: se o livro for realmente
arte, com as várias possibilidades de leitura que a caracterizam, não vemos
problemas em nenhuma dessas obras.

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O que parece ocorrer frequentemente também na chamada


literatura realista é que suas obras são antes projetos educativos que
literatura. Várias são feitas “sob encomenda” - o que eventualmente pode
não resultar em um produto literário.
Outro ponto a considerar é o de que a conscientização ou discussão
da realidade não se faz obrigatoriamente via realismo: a imaginação e a
fantasia podem fazer o mesmo, por caminhos subterrâneos da trama e,
talvez até por isso mesmo, com mais agudeza e profundidade.
O importante mesmo é que crianças ou jovens estejam em contato
com todo tipo de obra literária e façam as suas opções.

As revistas em quadrinhos

Praticamente todas as fases estão motivadas por um tipo especial de


narrativa: a dos quadrinhos. Já no primeiro capítulo deste livro observamos
a enorme preferência das crianças e adolescentes por tal leitura.
As posições com relação aos quadrinhos têm sido as mais variadas.
Há alguns anos, intelectuais, educadores e pais de família reagiam contra
as histórias “quadrinizadas”. Nós mesmos já tivemos uma posição meio
pessimista com relação a elas. Mas ainda hoje muitos conservam uma
posição radicalmente contrária.
Com os estudos sobre os meios de comunicação de massa,
começaram a surgir muitos trabalhos importantes sobre os quadrinhos.
Sociólogos, e não apenas estudiosos de comunicação e artistas, mostram
não só seu valor artístico e sua validade na vida moderna, para a qual seria
a única forma narrativa adequada, mas sua importância como pintura da
sociedade de nosso tempo.
Se é verdade que nossa geração também leu muitas revistas em
quadrinhos e não parece ter-se prejudicado com isso, também é certo
que não tínhamos apenas esse tipo de leitura. Falta-nos perspectiva para
dizermos que qualquer das duas posições radicais esteja com a verdade.
As maiores restrições que se fazem com relação às revistas em
quadrinhos são:
1. Provocam preguiça mental.
2. Incentivam a violência.
3. Apresentam uma literatura não-nacional.

Parece-nos que as objeções partem de enganos:


1. Muitos alunos referem-se à facilidade de leitura da revista. Mas

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não sabemos até que ponto outra boa leitura lhes tem faltado.
A falta de motivação pode não ser culpa do aluno, e não pode
ser confundida com preguiça, como salientamos na Unidade 3.
2. As revistas não são mais violentas do que a televisão ou o
cinema. Há psicólogos que até defendem a violência das
histórias: elas fariam descarregar a agressividade dos leitores.
3. A falta de tipos nacionais nos parece um dado importante, uma
vez que todas as formas de arte sofrem de início uma influência
estrangeira, e nem sempre apresentam tipos nacionais o
cinema, a literatura mesmo, ou a televisão.

Enquanto os educadores discutem o assunto, cada vez mais as


crianças e adolescentes, indiferentes à polêmica, entregam-se a esse tipo
de leitura. As razões disso são:
1. Facilidade de aquisição (baixo preço) e de leitura.
2. Grande apelo visual e grande dinamismo: as cores, os quadros,
os balões, tudo tão variado e funcional, dão uma movimentação
extraordinária à narrativa, que é vista e não só lida.
3. Linguagem oral e pitoresca (observe-se a quantidade de
onomatopeias).
4. Aventuras cheias de humor e otimismo, personagens
interessantes ou heroicos, respondendo, assim, aos interesses
das idades.
5. Escolha pessoal da criança ou jovem, sem o direcionamento e
a cobrança dos adultos.

As revistas de amor, tão procuradas pelas adolescentes, são muito


inferiores às de aventura. Normalmente repetem-se as mesmas histórias,
com pequenas variantes. Do ponto de vista de concepção, em geral são
muito fracas. É, contudo, a única leitura de muita gente.
Por tudo que foi exposto, cremos que, por enquanto, pelo menos,
o mais razoável e desejável deve ser o equilíbrio das leituras: propiciar aos
alunos o contato com bons livros e boas revistas.

POESIA PARA CRIANÇAS

O texto que segue sobre a Poesia para crianças foi retirado do livro
Literatura Infantil: teoria e prática, de Maria Antonieta Antunes Cunha

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Aspectos teóricos

Talvez a parte mais sacrificada da literatura infantil seja a poesia.


Normalmente, imaginamos que a criança não gosta de poesia, conceito
falso, ou decorrente de erros nossos no tratamento do poema levado à
infância. As pesquisas mostram uma tendência natural da criança para
a poesia, e várias são as razões disso. É muito comum compararmos a
criança e o poeta. Realmente, o mundo infantil é cheio de imagens, como
o campo da poesia. A fantasia e a sensibilidade caracterizam a ambos. A
todo momento surpreendemos nas crianças falas altamente poéticas.
O predomínio da linguagem afetiva existe na poesia e na criança.
A primeira forma de expressão do homem em sua história é a primeira
a encontrar ressonância na alma infantil. É fácil entender, portanto, por
que, entre as formas de arte, a criança prefira primeiro a música, depois a
poesia.
Por que, então, a ideia divulgada de que a infância não aprecia a
poesia? Parece-nos que vem de duas causas: uma falha na escolha do
poema e outra no tratamento do poema em classe.
Com relação à primeira, podemos afirmar que, mais do que a
narrativa e o teatro, a poesia não deve dirigir-se especificamente às crianças:
se nos endereçamos exclusivamente a elas, raramente conseguimos
desvencilhar-nos das intenções educativas. Mais facilmente do que os
outros gêneros, a poesia infantil corre o risco de se tornar moralizadora ou
pueril.
Até bem pouco tempo atrás nossos livros impingiam à criança
poemas preconceituosos, pregando sempre o amor à pátria, à árvore, às
boas ações, e assim por diante. Esses textos eram feitos sobretudo por
educadores, e não por poetas.

Onde buscar poesia para crianças

Em boa hora estão surgindo alguns bons autores de poemas para


crianças. E têm-se organizado novas antologias poéticas para a infância,
feitas segundo critérios de valor artístico, com poemas não escritos para
crianças. Esse nos parece também um bom caminho - não acreditamos
sempre numa inspiração “para crianças” e “noutra” para “adultos”. Por isso
mesmo não concordamos com os que acham (como Renato de Almeida,
no capítulo sobre literatura infantil, no volume 6 de A Literatura no Brasil)
que o Brasil é pobre em poemas infantis.

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Vamos colher, então, entre nossos grandes poetas os poemas que


maior ressonância encontrem no espírito infantil. Que elementos provocam
essa ressonância?
Em primeiro lugar, a sensibilidade e a fantasia. Quanto menor o
número de elementos conceituais, quanto maior a exploração do sentimento
e do sensorial, melhor será a acolhida entre as crianças.
O ritmo, elemento essencial a toda arte e à poesia, deverá ser
fortemente marcado no poema para crianças. A rima, que naturalmente é
um acessório na poesia, agrada-lhes muito. Esses elementos marcam mais
uma vez o objetivo lúdico da criança, diante sobretudo da poesia.
A linguagem, voltamos a insistir, deve ser simples: o rebuscamento
e a retórica, mesmo na poesia mal suportados pelo adulto, são inaceitáveis
para a infância. Essa linguagem não supõe ausência de imagens. É claro que
o excesso de sutilezas, surgidas quase sempre da elaboração intelectual,
como também as associações muito subjetivas, podem prejudicar o poema.
Mas a metáfora e outros tropos são perfeitamente normais para as crianças,
porque elas mesmas os utilizam, inconscientemente. A metonímia, de base
racional, lógica, é muito menos usada.
Os versos curtos e os poemas curtos são os mais aconselháveis na
infância - facilitam a sintonia com a criança, a observação e o sentimento
do ritmo; mais facilmente interessam o menino.
Embora nem sempre se pense desta maneira, o poema modernista
tem mais possibilidade de agradar aos alunos pequenos, por ser o que
mais se aproxima da experiência infantil. Sabemos que a poesia de nossa
época está próxima das cantigas populares e folclóricas, das canções de
ninar, dos versos de roda e dos jogos - e ao entrar na escola esta é a
experiência que a infância tem, e continuará a ter no período escolar, no
campo da poesia. Um soneto é muito mais difícil - na sua forma e na sua
mensagem - do que um poema em redondilhas ...
E claro que não são os elementos estudados (ou simplesmente
eles) que fazem a beleza do poema.
Eles podem ser encontrados num poema desprovido de valor
artístico. Lembramos, no entanto, que, de antemão, estamos excluindo de
uma seleção os poemas “sem poesia”, sem emoção, sem harmonia.
Como a criança e o jovem são sempre surpreendentes, e como é
precário e impreciso o critério para estabelecer o difícil para eles, parece-
nos interessante expô-los a material poético diversificado, em todos os
sentidos: o fácil e o difícil, o longo e o curto, poemas com e sem rima etc.
O que eles não assimilarem imediatamente poderá vir a ter significação

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um dia. O difícil (ou sem interesse) não os perturbará nem os afastará da


poesia, a menos que seja exclusivo, uma constante na experiência com
poemas.

OS CONTOS DE FADAS VIVEM ATÉ HOJE

Quem lê “Cinderela” não imagina que há registros de que essa


história já era contada na China, durante o século IX d.C. E, assim como
tantas outras, tem se perpetuado há milênios, atravessando todas as
geografias, mostrando toda a força e a perenidade do folclore dos povos.
Por quê? Porque os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso,
um universo que detona a fantasia, partindo sempre duma situação real,
concreta, lidando com emoções que qualquer criança já viveu ... Porque se
passam num lugar que é apenas esboçado, fora dos limites do tempo e do
espaço, mas onde qualquer um pode caminhar ... Porque as personagens
são simples e colocadas em inúmeras situações diferentes, onde têm que
buscar e encontrar uma resposta de importância fundamental, chamando
a criança a percorrer e a achar junto uma resposta sua para o conflito ...
Porque todo esse processo é vivido através da fantasia, do imaginário,
com intervenção de entidades fantásticas (bruxas, fadas, duendes, animais
falantes, plantas sábias ... ).
Ou, como bem explica Vera Teixeira de Aguiar: “Os contos de fadas
mantêm uma estrutura fixa. Partem de um problema vinculado à realidade
(como estado de penúria, carência afetiva, conflito entre mãe e filho), que
desequilibra a tranquilidade inicial. O desenvolvimento é uma busca de
soluções, no plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos
(fadas, bruxas, anões, duendes, gigantes etc.).
A restauração da ordem acontece no desfecho da narrativa,
quando há uma volta ao real. Valendo-se desta estrutura, os autores, de um
lado, demonstram que aceitam o potencial imaginativo infantil e, de outro,
transmitem à criança a ideia de que ela não pode viver indefinidamente no
mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no momento certo” .

POR LIDAR COM CONTEÚDOS DA SABEDORIA POPULAR,


COM CONTEÚDOS ESSENCIAIS DA CONDIÇÃO HUMANA, É QUE
ESSES CONTOS DE FADAS SÃO IMPORTANTES, PERPETUANDO-
SE ATÉ HOJE...

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Daí que haver numa história fadinhas atrapalhadas, bruxinhas que


são boas ou gigantes comilões não significa - nem remotamente - que ela
seja um conto de fadas ... Muito pelo contrário. Tomar emprestado o nome
das personagens-chave desses contos não faz com que essas histórias
adquiram sua dimensão simbólica ... A MAGIA NÃO ESTÁ NO FATO DE
HAVER UMA FADA JÁ ANUNCIADA NO TÍTULO, MAS NA SUA FORMA
DE AÇÃO, DE APARIÇÃO, DE COMPORTAMENTO, DE ABERTURA DE
PORTAS.
Acontece igualzinho quando se leem adaptações, canalizações,
suavizações, alterações etc ... Cada elemento dos contos de fadas tem
um papel significativo, importantíssimo e, se for retirado, suprimido ou
atenuado, vai impedir que a criança compreenda integralmente o conto ...
Por isso se condena tanto o que Walt Disney fez com os contos de fadas ...
Ao adocicá-las, pasteurizá-las, ao retirar-lhes os conflitos essenciais, tirou
também toda a sua densidade, significado e revelação ... O mesmo vale
para tantas edições brasileiras - nada confiáveis -, pois se trata muito mais
de uma adaptação ao gosto do encarregado da tarefa (que não é o autor),
do que de uma leitura rica e bela do original... (não basta conservar o título,
se não se mantém a integridade da história).
Se o adulto não tiver condições emocionais para contar a história
inteira, com todos os seus elementos, suas facetas de crueldade, de
angústia (que fazem parte da vida, senão não fariam parte do repertório
popular ... ), então é melhor dar outro livro para a criança ler. .. Ou esperar
o momento em que ela queira ou necessite dele e que o adulto esteja
preparado para contá-lo ... De qualquer modo, ou se respeita a integridade,
a inteireza, a totalidade da narrativa, ou se muda de história ... (e isso vale,
aliás, como conduta para qualquer obra literária, produzida em qualquer
época, por qualquer autor ... Mutilar a obra alheia, acho que é um dos
poucos pecados indesculpáveis ... ).
Os contos de fadas são tão ricos que têm sido fonte de estudo para
psicanalistas, sociólogos, antropólogos, psicólogos, cada qual dando sua
interpretação e se aprofundando no seu eixo de interesse.
Texto extraído do livro Literatura Infantil: gostosuras e bobices,
de Fanny Abramovich.

Assim finalizamos o módulo 2. Esperamos que você esteja gostando


de nossa viagem literária!!!
Vamos continuar?

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