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Dimensões Identitárias e Assistenciais do Espiritismo
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Dimensões Identitárias e Assistenciais do Espiritismo

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Em Dimensões identitárias e assistenciais do espiritismo, o leitor tem diante de si uma coletânea de artigos, escritos pelos sociólogos Pedro Simões e André Ricardo de Souza, sobre duas dimensões do espiritismo no Brasil: a identitária e a assistencial. Ambas marcam características fortes dessa religião. A primeira diz respeito à tripla identidade espírita, tal como apontada pelo seu próprio fundador, Allan Kardec: o espiritismo é definido, ao mesmo tempo, como ciência, filosofia e religião. O outro aspecto central entre os espíritas está no lema "Fora da caridade não há salvação".
LanguagePortuguês
Release dateApr 8, 2020
ISBN9788547340780
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    Dimensões Identitárias e Assistenciais do Espiritismo - Pedro Simões

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Pedro Simões

    À minha filha, Maria Teresa, minha alegria de todo dia!

    André Ricardo de Souza

    Também à minha filha, Giulia, tão alegre quanto amorosa.

    Sumário

    INTRODUÇÃO 9

    Parte 1 – Questões Identitárias 15

    1

    O espiritismo na pluralidade cristã brasileira 17

    André Ricardo de Souza

    2

    IDENTIDADE ESPÍRITA NO BRASIL E EM PORTUGAL 29

    Pedro Simões

    3

    FEIÇÕES EXPRESSIVAS DO MOVIMENTO ESPÍRITA BRASILEIRO 51

    André Ricardo de Souza

    Célia da Graça Arribas

    Pedro Simões

    4

    UMA VISÃO SOCIOLÓGICA DE ALLAN KARDEC 79

    André Ricardo de Souza

    Parte 2 – Universo Assistencial 87

    5

    CONTORNOS E CONTROVÉRSIAS DAS ATIVIDADES ASSISTENCIAIS CRISTÃS 89

    André Ricardo de Souza

    6

    CENSO ESPÍRITA 2017: UM ESTUDO SOBRE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM SANTA CATARINA PRIMEIRAS IMPRESSÕES 109

    Pedro Simões

    Helder Boska Sarmento

    7

    A CONCEPÇÃO DOS ESPÍRITAS SOBRE ASSISTêNCIA SOCIAL 143

    Pedro Simões

    8

    DESAFIOS DO TRABALHO ASSISTENCIAL ESPÍRITA: DOIS MODELOS DE ATUAÇÃO 167

    André Ricardo de Souza

    Pedro Simões

    9

    A ECONOMIA SOLIDÁRIA NO PRINCIPAL LIVRO ORIUNDO DE CHICO XAVIER 193

    André Ricardo de Souza

    SOBRE OS COAUTORES 197

    INTRODUÇÃO

    O espiritismo é uma religião minoritária no Brasil, embora este seja o país com o maior contingente espírita. Segundo o censo demográfico de 2010, 2% da população nacional se identifica desse modo. Isso coloca o espiritismo como a quarta maior vertente religiosa no Brasil, atrás do catolicismo, do protestantismo e do contingente que se declara sem religião. No entanto, como a diferença percentual entre os irreligiosos (8% em 2010) e os espíritas é de quatro vezes, quando são tratadas as principais tendências religiosas no país, nem o espiritismo, nem as demais religiões minoritárias, são enfocados. Quando o são, os comentários são mais reduzidos do que para as religiões com mais adeptos, chegando, em alguns casos, a ser inexistente.

    A despeito do seu tamanho, bem menor que o das maiores vertentes religiosas no país, o segmento espírita, tem bastante vitalidade. Tendo chegado ao Brasil já em meados do século XIX, poucos anos após sua fundação na França, em 1857, o espiritismo se espraiou daqui para outros países no centenário seguinte. Sua história no Brasil é caracterizada pela atuação de importantes médiuns e pela expressiva literatura decorrente de sua prática, cuja autoria é atribuída a a indivíduos falecidos, chamados de benfeitores espirituais.

    Além da marca mediúnica, outro fator que caracteriza a ação desse grupo religioso é a prática de atividades assistenciais. Os pesquisadores profissionais voltados para o estudo do espiritismo no Brasil convergem em suas análises para a importância dessas duas dimensões ‒ a mediúnica e a assistencial ‒ associadas ao estudo da doutrina espírita, como fundamentais para a compreensão dessa religião.

    Assim, a partir dessas referências, unimos esforços investigativos para organizar esta coletânea e enfocar duas dimensões do espiritismo no Brasil: suas questões identitárias e assistenciais.

    A perspectiva identitária envolve a compreensão do que é o espiritismo e como ele é percebido, tanto pelos seus agentes internos ‒ médiuns e demais militantes religiosos ‒ quanto por agentes externos, adeptos deoutras religiões, analistas e comentaristas do espiritismo, entre outros. Se o segmento espírita, por meio da sua principal organização representativa no país, a Federação Espírita Brasileira (FEB), busca consolidar certa unificação, as divergências internas não são poucas. Assim também, as análises do espiritismo não apontam para uma homogeneidade de práticas. Torna-se, então, imprescindível discutir como os adeptos do espiritismo se percebem e são percebidos, principalmente por intermédio da clivagem entre ciência, religião e filosofia, abordagens presentes na obra do fundador francês Allan Kardec. Para o enfrentamento de tal questão são comparados dados da realidade brasileira e portuguesa, bem como são enfocados os dilemas e dificuldades enfrentados pelo chamado movimento espírita brasileiro.

    No primeiro capítulo, o espiritismo é situado no campo religioso, tendo como parâmento os dados do censo de 2010. Nessa pesquisa, teve destaque o intenso avanço evangélico e também do contingente que se declara sem religião. Na presente década, porém, ao lado da expansão pentecostal, verifica-se o refreamento na proliferação dos irreligiosos, o grande crescimento espírita e ao acirramento da intolerância pentecostal aos adeptos dos cultos afro-brasileiros, sendo este o cenário religioso mais amplo em que o espiritismo se insere.

    No segundo capítulo, a identidade espírita no Brasil é discutida tendo como parâmetro a experiência do espiritismo em Portugal. Essa abordagem comparativa permite que se observem as marcas características do espiritismo no Brasil em perspectiva, ou seja, tendo um parâmetro externo. Para isso, foram analisados os nomes das instituições religiosas em ambos os países. A partir das informações contidas nos sites da Federação Espírita Portuguesa (FEP) e da Federação Espírita Catarinense (FEC), foi construído um banco de dados com 72 e 150 nomes de instituições, respectivamente. Com a utilização do software AntConc, pôde-se identificar as palavras mais recorrentes, sua localização na composição dos nomes e a associação estatística entre elas. Observou-se, assim, a predominância das associações culturais (Portugal) versus os centros espíritas (Brasil) na identificação das instituições espíritas. Esse capítulo evidencia que não existe uma identidade única para o espiritismo e que ela depende do contexto em que ele se insere.

    Seguindo a discussão sobre a identidade espírita, o capítulo seguinte, Feições expressivas do movimento espírita brasileiro, escrito também com a professora Célia Arribas (Universidade Federal de Juiz de Fora), demonstra algumas contradições internas do segmento espírita brasileiro. Tais contradições são analisadas a partir da discussão do chamado tríplice aspecto do espiritismo: filosofia, ciência e religião. Desde a implantação do espiritismo no Brasil, na década de 1860, há um segmento que valoriza bastante sua dimensão intelectualista, filosófica e científica, de modo a haver organizações e ativistas com posturas que chegam a ser bastante cientificistas. Porém a ênfase no aspecto religioso, historicamente, sobressaiu e prepondera no espiritismo nacional, havendo duas destacadas facetas dela. Uma paulista, que foi iniciada pelo militar orientalista Edgard Armond, e a outra mineira, protagonizada pelo médium mineiro Francisco Cândido Xavier e seu mentor espiritual Emmanuel. Ambas estimulam o estudo bíblico do Novo Testamento, embora esta proponha mais aprofundamento do que aquela, sendo que ambas enfatizam a identidade cristã do espiritismo.

    Seguindo a argumentação identitária sobre o espiritismo, o capítulo 4 constitui uma breve explanação sociológica a respeito de Allan Kardec, que é o responsável pela formação do espiritismo na França. Mediante a sistematização de mensagens ditadas por espíritos considerados superiores, através de diferentes médiuns, Kardec publicou livros e também uma revista de estudos e divulgação da comunicação com o chamado mundo espiritual. O texto apresenta sua trajetória pessoal e também a sua doutrina em seu nascedouro francês e início de sua proliferação.

    Após essas discussões identitárias, os capítulos seguintes tratam do tema assistencial. A literatura acadêmica enfoca esse tipo de atividade tomando considerações mais amplas sobre as ações desenvolvidas pelos espíritas nessa área. Neste livro, entretanto, busca-se colocar a assistência como objeto principal de análise, preenchendo tal lacuna na literatura das ciências sociais da religião.

    O capítulo 5, primeiro dessa segunda parte, aborda algumas das principais experiências de assistência social em curso no âmbito das maiores vertentes cristãs brasileiras: catolicismo, protestantismo e espiritismo, dada a referência em Jesus Cristo e a caridade cristã neste último segmento. Tais iniciativas fazem parte do chamado terceiro setor, campo social bastante heterogêneo. Entre as entidades assistenciais cristãs, há disputas por reconhecimento público e por recursos financeiros, algo que provoca controvertidos desdobramentos políticos-eleitorais, particularmente no meio evangélico. O trabalho assistencial cristão é antigo, amplo e também paradoxal. No texto são apontados aspectos relevantes e polêmicos dessa faceta do cenário religioso brasileiro. Assim, nesta primeira abordagem o espiritismo é abordado dentro do escopo maior da filosofia e da ética cristã.

    Na sequência, temos o capítulo 7, contendo um mapeamento das atividades desenvolvidas nos centros espíritas filiados à Federação Espírita Catarinense (FEC). Trata-se, apenas, das primeiras impressões sobre esses dados. No Censo Institucional, a assistência social foi um dos temas pesquisados, já que esta se afigura como um dos pilares do espiritismo, por meio do conceito de caridade. Esse capítulo apresenta os dados investigados relativos a essa área, tendo como base o estado de Santa Catarina. Para mapear esse campo de atividades, quatro questões principais foram feitas: quais as atividades assistenciais desenvolvidas?; com que frequência?; quantas são as pessoas beneficiadas?; e quantos são os trabalhadores espíritas nelas engajados? Na análise das 92 instituições pesquisadas (em um total de 159), foram utilizadas estatísticas descritivas (média e percentual) e inferenciais (testes estatísticos, com p=0,05). Embora novos, esses dados ajudam a corroborar uma concepção, já desenvolvida em outros trabalhos sobre o tema, em que se observa: uma ênfase na assistência social, por intermédio da doação de roupas e alimentos; uma associação entre os trabalhos: assistencial, doutrinário e mediúnico; uma baixa integração dos centros espíritas com a rede socioassistencial do município e do estado; e, por fim, a predominância de atividades com baixo escopo de atuação, com pouco ou nenhuma especialização no trabalho, tendo como alvo prioritário a família (distribuição de roupas) e a criança (distribuição de enxovais).

    Se o Censo Institucional traz dados objetivos sobre a assistência social espírita, o capítulo 8 aborda as concepções dos espíritas sobre o tema, a partir de entrevistas realizadas com 30 responsáveis pelas atividades assistenciais de instituições espíritas em Florianópolis. Essa pesquisa teve como base autores da sociologia dedicados ao tema da assistência social. O trabalho assistencial foi investigado de forma relacional, incorporando sua formulação no contexto político mais amplo. Para realização da análise dos dados foi utilizado o software AntConc (3.4.4), no qual foram observadas as palavras mais recorrentes no discurso dos atores, bem como a correlação estatística entre elas. Foram pré-selecionadas algumas categorias principais para análise: caridade, assistente, assistido, entre outras. Em seguida, buscou-se ampliar o significado dos discursos a partir de outros elementos discursivos. O objetivo era estabelecer uma conceituação da assistência social incorporando seus elementos relacionais e contextuais. A análise mostrou, entre outras conclusões, que a conceituação construída pelos espíritas entrevistados estava mais referida ao universo interno à religião do que dialogava com o contexto social.

    No capítulo 9 são constituídos dois modelos de atuação assistencial dos centros espíritas. Um modelo refere-se às grandes obras assistenciais; o outro, à atuação dos centros espíritas intramuros, ou seja, pequenas atividades desenvolvidas no âmbito dos próprios centros espíritas. A assistência social espírita de maior porte se dá em hospitais psiquiátricos e casas de acolhimento e educação de crianças e jovens vulneráveis e deficientes. As ações de menor porte, constituem, sobremaneira, a distribuição de cestas básicas e enxovais para recém-nascidos, como visto no capítulo 5. Esse texto apresenta os resultados de duas pesquisas, tendo sido a primeira referente aos núcleos espíritas do estado de Santa Catarina e, a segunda, sobre cinco instituições assistenciais de grande porte situadas nas cidades de: São Paulo, Guarulhos, Salvador, Rio de Janeiro e Niterói. Características básicas, contribuições assistenciais efetivas, assim como alguns entraves são discutidos neste capítulo.

    Por último, é apresentada uma contribuição literária de Chico Xavier, tomando especificamente aquela que foi por ele mesmo apontada como sua principal obra mediúnica, o livro Paulo e Estevão, do espírito Emmanuel. O capítulo destaca nessa obra uma experiência peculiar de organização socioeconômica que tem alguns marcos históricos e trajetória de expansão no Brasil das três últimas décadas, denominada economia solidária. O texto aponta como, a partir de uma obra assistencial ‒ considerada no meio espírita como fundante do cristianismo ‒ foi formado um empreendimento econômico em que todos os envolvidos trabalham coletivamente segundo o princípio da autogestão. Tal reflexão nos remete à prática comunitarista ou socialista do chamado cristianismo primitivo

    Enfim, esta é uma coletânia de textos oriundos de pesquisas conforme os parâmetros da sociologia da religião, buscando elevar o grau de conhecimento científico a respeito do espiritismo no Brasil. Embora parte de seus adeptos ainda se recuse a chamá-lo de religião – algo que é próprio de uma longa discussão identitária ‒ o fato é que empiricamente o segmento espírita se mostra como uma religião pautada por valores cristãos, sobremaneira a caridade materializada também em atividades assistenciais.

    Pedro Simões.

    André Ricardo de Souza.

    Primavera de 2019.

    Parte 1

    Questões Identitárias

    1

    O espiritismo na pluralidade cristã brasileira

    ¹

    André Ricardo de Souza

    INTRODUÇÃO

    O espiritismo é a terceira força religiosa brasielria, atrás do catolicismo e do protestantismo com prevalência pentecostal. Cabe analisar como seu deu o processo de desenvolvimento do campo religioso nacional e suas características atuais mais marcantes.

    Tal como os demais do Ocidente, o Brasil é um país com histórica e grande predominância cristã, possuindo ‒ em consonância com o restante da América Latina ‒ sua maioria populacional católica. No primeiro recenseamento nacional em que o quesito religião foi considerado, em 1872, praticamente toda a população (99,72%) assim se identificou,² apontando algo que perduraria por muito tempo: a conjugação entre a identidade católica e a brasileira.

    A religião voltaria a fazer parte do censo demográfico em 1940, já sob a condução do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), criado na década anterior. Naquele primeiro levantamento da série histórica, passadas sete décadas desde o anterior, o catolicismo prosseguia reinando quase que absoluto, com 95,2% da população nacional, quase sem haver conversão ao protestantismo, então com crescimento vegetativo, cifra total de 2,6% e grande predominância de sua vertente histórica, abarcando: luteranos, anglicanos, presbiterianos, batistas e metodistas. Ainda era modesto o avanço das duas igrejas pentecostais que haviam sido aqui implantadas na primeira década do século: Congregação Cristã do Brasil (1910) e Assembleia de Deus (1911).

    Após dois decênios, o quadro se modificou com a expansão pentecostal em face da chegada ao país da Igreja do Evangelho Quadrangular (1951) e do surgimento, em São Paulo, das primeiras denominações nacionais desse tipo: Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962), que foram fundadas, respectivamente, pelos pastores Manoel de Melo e David Miranda. Tais igrejas se caracterizavam para pregação em praças públicas, em tendas e também pelo rádio, configurando o que ficou conhecido como pentecostalismo de cura divina, em contraposição ao pentecostalismo clássico, formado pelas duas pioneiras do início daquele século. Pelo fato de a Igreja Quadrangular ter se fixado em território paulista, especificamente no município de São João de Boavista, tal vertente foi chamada ainda de onda paulista (SOUZA, 1969; FRESTON, 1993).

    Também no contexto de industrialização e de grande urbanização, com seus decorrentes problemas sociais, a umbanda, que surgira na cidade do Rio de Janeiro, dissemina-se, e o candomblé, oriundo da Bahia ‒ onde se desenvolvera ao final do século XIX ‒ começa a dar os primeiro passos no Sudeste, contribuindo para a mudança da paisagem religiosa (FRY, 1975; PRANDI, 1991). Junto com o espiritismo, trazido ao Brasil já em meados do século anterior e que se propaga lentamente por grandes e médias cidades, vão se formar outros grupos religiosos (CAMARGO, 1961; AUBRÉE; LAMPLANTINE, 2009; PEREIRA, 2013). No recenseamento de 1960, chama atenção o avanço evangélico, ainda moderado, mas já impulsionado pela propagação pentecostal, de modo a perfazer 4,3% da população nacional.

    Doravante, haveria no Brasil uma pluralidade muito notadamente cristã que aos poucos faria crescer a concorrência entre diversas igrejas, ainda mais em face de uma terceira vertente pentecostal. O mercado religioso (BERGER, 1984) se tornaria efetivamente uma realidade nacional. O contingente que se declara sem religião em 1960 correspondia a apenas 0,5% e iria crescer enormemente, por muito tempo. Dados estatísticos mais recentes, entretanto, denotam significativas mudanças a serem mais bem compreendidas. Atualmente, depara-se também com o acirramento da intolerância religiosa em relação aos adeptos dos cultos afro-brasileiros e algumas tentativas ecumênicas de resposta a isso (SOUZA, 2018). Este capítulo discute tais questões e as principais mudanças no cenário religioso ocorridas na segunda metade do século XX e também nas duas décadas do atual centenário, até o momento.

    1.1 DESENVOLVIMENTO DO MERCADO RELIGIOSO BRASILEIRO

    A partir da década de 1960, a sociologia da religião irá se desenvolver no Brasil, tendo como grande ponto de partida a importante obra de Cândido Procópio Ferreira de Camargo (1973) e a análise de outros autores, tal como nos outros países latino-americanos, voltada

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