METROLOGIA-2003 – Metrologia para a Vida
Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM)
Setembro 01−05, 2003, Recife, Pernambuco - BRASIL
COMPARAÇÃO ENTRE EXTENSÔMETRO ÓPTICO E EXTENSÔMETRO
ELÉTRICO
Alexandre S. Ribeiro1, Arthur M. B. Braga1, Adriana L. C. Triques1, Roberth W. A. Llerena1, Rogério D.
Regazzi2 e Luiz C. G. Valente2
1
Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
2
Gavea Sensors, Gênesis - Rio de Janeiro, Brasil.
Resumo: O uso de transdutores de medição de tensão a
fibra óptica, em particular os baseados em Redes de Bragg
em Fibras (RBF), já são encontrados em monitoramento de
estruturas em substituição aos transdutores tradicionais do
tipo resistivo e de corda vibrante, entre outros. O
reconhecimento das vantagens de utilização de transdutores
a fibra óptica vem aumentando com o desenvolvimento de
novas tecnologias de processamento de sinais ópticos que
reduzem os custos por canal de medição, o que vem
favorecendo a aplicação dos sistemas de medição de tensão
com uso de luz guiada. Neste trabalho um sistema completo
para a monitoração da distribuição tensões baseado em
sensores a redes de Bragg em Fibras (RBF) foi
desenvolvido. Isso inclui a fabricação de extensômetros que
podem ser fixados por solda de ponto e um software de
processamento em tempo real que permite visualizar a
evolução das deformações pontuais ao longo do tempo e
apresenta a distribuição superficial instantânea da
deformação. Antes de ser instalado para demonstração em
um tubo de aço inoxidável os sensores a RBF foram
comparados com extensômetros resistivos e Pt 100 no caso
da medição de temperatura, os resultados foram diferenças
inferiores a 6 ppm de deformação e 0,2 oC respectivamente.
Palavras chave: Fibras ópticas, redes de Bragg,
extensômetro
1. INTRODUÇÃO
O uso de sensores de fibra óptica e, particularmente de
sensores de Rede Bragg em Fibra (RBF) em grandes
estruturas civis tem, já há alguns anos, sido reconhecido
como uma das aplicações mais vantajosas dessa tecnologia
[1-4].
Para aplicações práticas, sobretudo em áreas nas quais se
encontram grandes estruturas que precisam ser monitoradas,
sensores devem ser incorporados dentro de dispositivos
robustos que possam ser facilmente instaladas no campo.
Neste tipo de instalações é desejável minimizar o manuseio
de fibras ópticas no campo e, se possível, empregar
ferramentas de uso convencional. Adesivos que necessitam
de cura em condições especiais e a preparação de superfícies
ou qualquer tipo de processo preparatório precisam também
ser evitados no campo. Neste sentido, a possibilidade de uso
de uma máquina solda de ponto portátil seria desejado.
Extensômetros passíveis de serem instalados com esta
técnica de fixação e cujo princípio de medição se baseia na
tecnologia de corda vibrante [5] podem ser empregados por
um longo tempo no monitoramento de tensões em
estruturas. Recentemente, sensores utilizando a tecnologia
de Fabry-Perrot em fibras ópticas e que podem ser
instalados da mesma forma que seus equivalentes elétricos
estão disponíveis e podem satisfazer diversos tipos de
aplicações [6]. Embora estes sensores a fibra possam
oferecer resultados confiáveis em instalações de campo
quanto os de RBF aqui utilizados, a capacidade de
multiplexação do sensor baseado em RBF, o qual pode ter
várias unidades instaladas em um único cabo óptico,
representa uma vantagem adicional, fazendo com que os
procedimentos de instalação se tornem bem mais simples.
Em várias situações é desejável não apenas monitorar a
deformação da superfície em diversos pontos, mas também
armazenar estas medidas e, se possível, visualizar a
distribuição superficial das deformações. Neste trabalho,
apresentamos a solução para monitoramento de tensão em
estruturas baseada no uso de extensômetros, facilmente
instaláveis no campo, onde os elementos sensores são RBF.
Um microcomputador ligado a um para um espectrômetro
óptico de alta resolução analisa os espectros de reflexão das
RBF e, através de um software desenvolvido em Labview,
obtém o valor da deformação dos diversos pontos onde estão
instalados os sensores e apresenta o histórico de cada um
deles. Além de permitir a gravação desses dados, o
programa possui um módulo de interpolação que apresenta,
em tempo real a distribuição superficial das deformações.
Este sistema pode ser empregado, de forma contínua ou em
operações de curta duração como um processo de
movimentação ou carregamento de estruturas.
2. DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA
Para evitar a necessidade de emendas de fibra no campo, as
FBGs são previamente emendadas ao longo da fibra. Foram
utilizadas fibras com revestimento secundário padrão, de 0,9
mm, saindo do revestimento somente uma pequena porção
de fibra desencapada perto do sensor. O extensômetro a
FBG era então fabricado usando tiras de aço inoxidável de
0.15 mm de espessura cortadas ao longo em pedaços de 7
cm de comprimento. As RBF s foram coladas no centro
dessas tiras finas de metal com um adesivo cianoacrilato
convencional. Buscando proteger as RBFs e também reduzir
possível histerese da camada adesiva, os sensores foram
protegidos com uma pequena capa de aço com espessura de
0.05 mm que foi colada com o mesmo adesivo e permite a
fixação na estrutura onde será usado por meio de solda de
ponto sem maiores dificuldades. A figura 1 mostra uma
gravura esquematizada do processo de montagem de quatro
extensômetros em série.
Fig. 1. Esquema da preparação de uma série de quatro
extensômetros a RBF
Na maioria das aplicações de campo o efeito da temperatura
sobre o sensor RBF tem de ser compensado. Isto se torna
viável empregando-se outra RBF aderida sobre uma base de
metal que por sua vez está livre de tensão já que não é
colada ou ponteada à estrutura como os demais sensores
utilizados como extensômetros. Este procedimento pode ser
feito para cada extensômetro ou para um grupo deles,
dependendo da distribuição da temperatura esperada. No
exemplo indicado na figura 1, somente um dos quatro
extensômetros possui um termômetro RBF incorporado.
Fig. 2. Fotografia de um jogo de 6 FBGs conectados em
séries
A figura 2 apresenta uma fotografia de um jogo de 6
extensômetros em série ao longo de uma mesma fibra onde
o conector pode ser visto claramente. Deve se apontar que a
distância sensores é totalmente flexível podendo ser de
poucos centímetros como nesta demonstração ou de até
vários quilômetros.
Uma vez pronta a fibra com os extensômetros, o conjunto
pode ser enrolado em um carretel para ser armazenado ou
transportada para o local onde será instalada na estrutura, em
nosso caso de demonstração a superfície de um duto.
Embora os pedaços de metal possam ser colados na
superfície, eles foram desenvolvidos para serem fixados por
solda de ponto direto a superfícies metálicas. Na figura 3 é
apresentada uma fotografia de um extensômetro soldado à
superfície de um tubo de aço inoxidável.
Fig. 3. A superfície de um tubo de aço inoxidável com um
extensômetro a fibra fixado por solda de ponto
Uma típica instalação é finalizada com os sensores fixados
em posições previamente determinadas de acordo com o
interesse de observação específica como na figura 4. O
conhecimento da posição onde cada sensor foi fixado é de
extrema importância para utilização prática das medidas de
deformação na análise a que se destina o sistema. Após a
fixação podem-se aplicar revestimentos protetores, como,
por exemplo, resina de silicone, para a proteção de cabos e
sensores.
Fig. 4. Exemplo da distribuição dos sensores sobre a
superfície de um tubo
3. RESULTADOS
Foram feitos testes em laboratório para certificar que todo o
processo de fabricação do extensômetro e de fixação não
impediria a adequada transferência da tensão da superfície
de interesse ao sensor RBF. O espécime utilizado para teste
de tensão é mostrado na figura 5 com as dimensões usadas.
Tanto o material dos espécimes como o processo de
soldagem tentaram reproduzir o melhor possível a situação
típica de instalação em estruturas metálicas.
O teste da instalação incluiu a compensação de temperatura
do extensômetro a RBF com um termômetro assim como
um termômetro Pt-100 e um extensômetro resistivo, ambos
usados como referências para seus equivalentes a fibra
óptica. A máquina servo-hidráulica, usada para executar os
testes, também monitora o alongamento total do espécime
sob ensaio. A instalação para o teste é mostrado na figura 6
onde podem ser vistos os sensores ópticos e elétricos lado a
lado.
Fig. 5. Dimensões, em milímetros, do teste de espécime
usado para avaliar o welding processo
Fig. 6. Teste de espécime instrumentado dentro de
experiência de tração
Os resultados indicaram uma correlação muito boa entre as
medidas dos extensômetros, elétrico e óptico com diferenças
sempre inferiores a 6 ppm. Da mesma forma a comparação
entre o termômetro a RBF e Pt-100 mostraram resultados
muito próximos com máxima discrepância de 0,2 oC. A
figura 7 apresenta o registro de deformação indicada por
cada um dos extensômetros durante um ciclo de
carregamento e descarregamento na faixa de 150 ppm a 450
ppm.
500.0
450.0
400.0
strain (x 10E-6)
350.0
300.0
250.0
200.0 Electrical Resistance Strain Gage
150.0 Spot-Weldable FBG Strain Gage
100.0
5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0
load (kN)
Fig. 7. Registro de deformação medida com os
extensômetros a RBF e resistivo.
4. DEMONSTRAÇÃO DO SISTEMA COMPLETO
Com o objetivo de demonstrar o desempenho do sistema
completo foi instrumentado um tubo de aço com diâmetro
de 51 mm e 2m de comprimento. Foram utilizados os 6
sensores da figura 2 em uma configuração semelhante à que
é apresentada na figura 4. Os extensômetros foram fixados
por solda de ponto e um termômetro a RBF foi instalado
para possibilitar a compensação térmica das medidas. Duas
seções transversais da tubulação com 12-cm de distância
entre si foram instrumentadas cada uma com três sensores
de deformação posicionados 120º entre eles, estando os
sensores alinhados ao longo comprimento do tubo.
O sistema de leitura consiste de uma fonte banda larga do
tipo ASE B&K e a leitura do espectro de reflexão era feita
por analisador de espectro óptico Burleigh Optical
Wavemeter WA-7600. Este conjunto permite a
determinação do comprimento de onda de pico de cada RBF
com resolução de 0,3 pm e exatidão da ordem de 1 pm. Isto
se traduz em deformações 0,2 ppm e 0,8 ppm
respectivamente. A tela do analizador com os espectros dos
sete sensores é apresentada na figura 8. No entanto, o
sistema foi configurado para transmitir apenas a posição dos
picos que são obtidos por um software de ajuste do próprio
equipamento.
Fig. 8. Espectros ópticos gravados dos sensores RBF sem
deformação
Uma unidade controladora National Instruments PXI-8156B
foi usada para processar e gravar as informações das RBF
recebidas do analisador de espectro. Os dados são
processados por um software desenvolvido em ambiente
LabView da National Instruments.
O tubo foi sujeito a diversos ciclos de carregamento lateral
com intensidades variadas de forma a verificar a presença de
histerese, o que não foi observado. Dois destes ciclos
consecutivos podem ser vistos na figura 9. As medidas de
deformação apresentadas são fruto da conversão das
variações nos comprimentos de onda através da expressão 1.
∆λ/λ = 0,78 ∆l/l + k1 (T-To) (1)
onde ∆λ/λ expressa a razão entre a variação comprimento de
onda de pico em relação ao valor inicial, não deformado,
∆l/l é a deformação, k1 uma constante de calibração e T-To a
variação da temperatura a partir a partir daquela em que foi
tomado o espectro de referência. Com esta expressão fica
claro a necessidade de descontar efeitos de temperatura para
se obter uma medida precisa de deformação. Isto era obtido
com termômetro a RBF para o qual o comprimento de onda
era interpretado utilizando-se a expressão 2.
∆λ/λ = k2 (T-To) (2)
Esta expressão indica o desacoplamento mecânico entre este
sensor e a superfície sob análise além de apresentar uma
constante térmica que não é, necessariamente, a mesma
daquela observada na expressão 1, dependendo do
encapsulamento da RBF utilizada para medição de
temperatura.
Uma vez obtidos os valores corretos de deformação em cada
um dos extensômetros estes são apresentados em uma tela
que acumula todas as medições ao longo do tempo até que
seja solicitada a gravação dos dados ou reinicializado o
programa. Simultaneamente os seis valores de deformação
são processados por um módulo de interpolação e o
resultado apresentado através de uma imagem com escala de
cores artificiais que permite uma visualização rápida dos
níveis de deformação e sua distribuição na superfície sob
análise. Esta tela completa é mostrada na figura 10, pelas
cores pode-se claramente observar que um lado do tubo está
sob tração (vermelho - acima) enquanto que o lado oposto se
encontra sob compressão (azul - abaixo).
Fig. 9. Registro temporal de dois ciclos de carga
5. CONCLUSÃO
Nesta contribuição foi apresentado um sistema de medição
de deformações completo incluindo sensores, sistema de
leitura óptico e software de processamento de sinais. A
tecnologia de sensoriamento se baseia em redes de Bragg
em fibras que apresenta vantagens em comparação com as
técnicas mais comumente utilizadas atualmente que são
extensômetros resistivos ou de corda vibrante. Mesmo em
relação a outra técnica a fibra óptica, a de Fabry-Perrot, as
RBF são vantajosas.
A técnica de instalação desenvolvida foi comparada com
extensômetros resistivos e aprovada em laboratório e foi
apresentada uma demonstração do sistema completo com
seis sensores de deformação em série além de um sétimo
para medição e compensação de efeitos térmicos.
Os autores acreditam que o sistema apresentado pode ser
aplicado em diversas situações onde há interesse no
monitoramento, contínuo ou periódico, de estruturas. Pelas
características próprias desta tecnologia é possível acessar
um grande número de pontos de medição em escalas de
tamanho que vão de centímetros a quilômetros sendo o caso
de dutos uma aplicação exemplar.
Fig. 10. Janela do software de processamento dos dados dos
extensômetros a FBG
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer pelo suporte da Agencia
Nacional Petróleo (ANP) em forma de bolsas de pesquisa e
taxas de bancada, assim como ao Ministro da Ciência e
Tecnologia que financiaram esta pesquisa através de suas
agências, CNPQ e CTPETRO/FINEP.
REFERÊNCIAS
[1] M. Andersen et al., Offshore Technology Conference,
Houston, Texas, May, 2001.
[2] R.C. Tennyson et al., Proceedings of SPIE, Vol. 4337, pp.
203-211, 2001.
[3] L. Maurin et al., , 15th Optical Fiber Sensors Conference,
Hilton Portland, Portland, May 2002, pp 91-94.
[4] D. Inaudi and N. Casanova, 15th Optical Fiber Sensors
Conference, Hilton Portland, Portland, May 2002, pp 27-30.
[5] www.geokon.com
[6] www.fiso.com
Autor: MSc Alexandre S. Ribeiro (alexsr@mec.puc-rio.br), PhD
Arthur M. B. Braga (abraga@mec.puc-rio.br), Dr Adriana L. C.
Triques (dritriques@terra.com.br) e MSc Roberth W. A. Llerena
(roberan@mec.puc-rio.br) estão com Departamento de Engenharia
Mecânica da PUC-Rio, Rua Marques de São Vicente 225, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil, fone 21 3114 1181, fax 21 3114 1165 e MSc
Rogério D. Regazzi (regazzi@mec.puc-rio.br) e Dr Luiz C. G.
Valente (guedes@mec.puc-rio.br) estão com Gavea Sensors, Rua
Marques de São Vicente 225, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, fone/fax
21 3114 1786.