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DEFEITOS DE FUNDIÇÃO
RELACIONADOS COM AREIAS
SÍLICO ARGILOSAS
SINTÉTICAS
A qualidade do molde influi diretamente na qualidade final do fundido, podendo
também influenciar sobre o aspecto metalúrgico. Geralmente os defeitos em peças
fundidas relacionados à qualidade das areias aglomeradas com argila têm suas
origens na deficiência de alguma propriedade de utilização da areia. Sendo assim a
classificação dos defeitos poderá ser feita segundo a propriedade com a qual se
relaciona. É comum que um mesmo defeito possa ter sua origem em uma ou mais
propriedade de uma mesma areia.
5.2.1 Bolhas
Este defeito manifesta-se através da formação de cavidades dispersas ou
concentradas, geralmente de forma arredondada com superfície interna lisa e
localizadas próximas a superfície da peça. Estas cavidades, ou bolhas são
provenientes de gases não evacuados nos molde durante o vazamento. A origem
destes gases pode ser:
5.2.3 Crostas
As peças apresentam-se com um aspecto rugoso com excrescências metálicas
(carepas) e depressões, e em alguns casos com inclusões em outras partes da
peça. Estes defeitos se assemelham a defeitos provocados pela dilatação da areia e
erosão. São provocados quando um ponto é submetido a um aquecimento
excessivo ocorrendo uma elevada produção de gases neste ponto (originado por
exemplo por um jato de metal incidindo diretamente em um ponto do molde),
podendo haver um arrancamento da parte de areia próxima à superfície do molde
pela liberação brusca e rápida dos gases formados. Defeito comum em peças de
grande porte, em moldes com elevado teor em água e baixa permeabilidade ou
areia heterogênea. As soluções se assemelham às utilizadas em defeitos de
expansão.
5.2.5 Explosão
Sob certas condições, pode ocorrer uma grande vaporização da água contida no
molde e um grande desprendimento de gases, que pela sua rapidez e volume pode
adquirir um aspecto de explosão, podendo promover a expulsão de metal líquido
para fora do molde pelas aberturas do mesmo, como massalotes, respiros e
canais, ou mesmo provocando a abertura do molde. Associam-se a este defeito a
rugosidade superficial e penetração metálica (mais comum em moldes compactados
em alta pressão, pois possuem baixa permeabilidade com tendência a ocorrer
também cavidades devido a gases). O metal líquido ao entrar em contato com a
parede do molde promove uma rápida e elevada produção de gases, os quais
misturados ao metal são violentamente arremessados de encontro as outras
superfícies do molde, ocorrendo nestas áreas forte penetração metálica.
Possíveis soluções para os defeitos comentados:
aumentar a permeabilidade do molde;
diminuição da tendência ao desprendimento de gases controlando
principalmente o teor em água;
colocar respiros localizados;
evitar o contato entre o metal líquido e a umidade excessiva (na panela, macho,
molde etc);
evitar o arraste de ar pelo sistema de canais (melhorar projeto de fabricação);
realizar vazamento mais lento;
procurar obter uma mistura de areia mais homogênea, sem grumos de argila
úmida, aditivos combustíveis, etc;
controlar a temperatura de vazamento;
controlar a altura do jato de metal no vazamento e condições de resfriamento.
5.3.3 Venulação
As peças se apresentam com excrescências metálicas que são comparáveis às
rebarbas perpendiculares à superfície das peças fundidas. Estes defeitos acontecem
fora da superfície de separação da peça, não podendo, portanto, serem confundidos
com rebarbas. É comum em ligas de boa fluidez ( baixa tensão superficial ) como o
ferro fundido e o cobre. A eliminação do defeito na rebarbagem é fácil, porém
eleva o custo final do fundido.
Mecanismo de formação
Seu mecanismo de formação é pouco explicado. Criam-se tensões internas na
areia, provocadas pela dilatação dos grãos, resultando em trincas e fissuras no
molde. Também é comum em moldes estufados. Ocorre com maior freqüência em
ângulos reentrantes das peças. Estudos comprovam que este defeito não está
relacionado com a natureza química da areia, sendo mais comum em areias
aglomeradas com resinas sintéticas.
Recomendações para combater o defeito :
- distribuição granulométrica entre 3 a 5 peneiras
- uso de aditivos para combate de defeitos do tipo rabo de rato são também
utilizados como perborato de cálcio hidratado, óxido de Fe, etc.
5.4.2 Sinterização
As peças se apresentam com uma camada de areia vitrificada aderida. A origem
deste defeito pode ser pela presença de impurezas de baixo ponto de fusão na
areia (silicato de sódio, óxido de ferro, argila inerte, etc.), que favorecem a
formação de silicatos e óxidos próximos à interface metal-areia. Pode ocorrer
também devido à reação molde-metal, por meio de óxidos metálicos básicos que
são formados no molde e têm grande afinidade pela sílica, havendo a formação de
faialita que possui elevado ponto de fusão, mas em combinação com elementos
contidos na argila, produz silicatos duplos de alumina e ferro, adquirindo assim um
ponto de fusão baixo, provocando a metalizarão da areia através de um mecanismo
de penetração. Quanto maior for o teor de água contido na areia do molde, pior
será o aspecto superficial das peças em ferro fundido.
Possíveis soluções para o defeito comentado:
- utilizar areia base de boa refratariedade;
- utilizar teor em água adequado à mistura de areia;
- controlar a temperatura de vazamento dos moldes;
- criar ambiente redutor dentro da cavidade do molde (adicionar pó de carvão
mineral por exemplo).
5.4.3 Oolitização
A oolitização é um cozimento cerâmico que a argila sofre, formando uma camada
cerâmica fina, dura, aderente e esponjosa que se fixa sobre os grãos de areia. Pelo
seu aspecto poroso aumenta a absorção de água do molde, pois uma parte da água
adicionada à mistura irá se alojar dentro desta camada, não sendo aproveitada
para a coesão da bentonita. Sendo assim, é necessária uma quantidade maior de
água para a argila desenvolver as suas propriedades de coesão e plasticidade.
É importante observar que:
- novas camadas oolitizadas podem sobrepor-se umas sobre as outras. Essas
camadas sobrepostas de argila calcinada em torno dos grãos não trazem só
desvantagens, se bem controladas podem trazer benefícios.
- Elevados graus de oolitização favorecem o aparecimento de reação molde-metal
e conseqüente sinterização.
- defeitos de dilatação tendem a diminuir com areias oolitizadas porque há menor
proporção real de sílica. A argila oolitizada ao absorver mais água, contribui
para diminuir a velocidade de aquecimento da superfície do molde, pois a água
rouba calor do molde para se evaporar.
6.
CLASSIFICAÇÃO DOS DEFEITOS
A maioria das fundições utilizam nomes tradicionais para identificar os defeitos que
ocorrem no seu dia-a-dia. Dentre os vários nomes utilizados podemos citar: rabo
de rato, escama, pele de jacaré, junta fria, casca de laranja, broca, chupada, etc.,
porém estes nomes quando usados por diferentes empresas não identificam os
mesmos tipos de defeitos. Este fator muitas vezes gera desentendimentos que
interferem diretamente nas relações intersetoriais e até mesmo nas relações entre
o cliente externo e a empresa. É necessário que todos os setores, produtivos e
comerciais, tenham uma clara e correta definição dos defeitos típicos do processo.
Cada empresa tem sua nomenclatura própria e definição dos defeitos, mas isto
deve ser avaliado sistematicamente para uma adequação às terminologias técnicas
usadas no mercado. O International Committee of Foundry Technical Association
criou uma normalização para identificação e nomenclatura dos defeitos em peças
fundidas. Esta classificação esta dividida em sete categorias, são elas :
A. Excrescências metálicas
B. Cavidades ou vazios
C. Descontinuidades do material
D. Defeitos superficiais
E. Peça incompleta
F. Dimensões e formas incorretas
G. Inclusões ou anomalias de estrutura
Normalmente, na empresa, a análise de defeitos não segue esta distinção de
classificações. Faz-se uma classificação do defeito segundo seu aspecto, e ao
mesmo tempo são levantadas e analisadas suas possíveis causas e propostas de
soluções.
A.
EXCRESCÊNCIAS / PROJEÇÕES
METÁLICAS
A.1 REBARBAS ( A 111 )
Defeito : Rebarbas
Manifestação: excrescências metálicas de espessura irregular, perpendiculares à
superfície da peça e localizadas nas superfícies de separação do
molde ( apartação e marcações )
Defeito : Veiamento
Manifestação : pequenas excrescências metálicas, em forma de veios ou veias,
perpendiculares a superfície da peça, de aspecto superficial rugoso.
Ocorrem isoladamente ou em conjunto, não estando presentes nas
superfícies de separação do molde.
Óxido de ferro
Produto constituído de pós de materiais inorgânicos naturais ou
sintéticos. Ao ser adicionado às areias, provoca um aumento da
resistência à compressão à verde pois aumenta o número de
pontos de contato entre o aglomerante e os grãos de areia, maior
NOTA superfície específica, ocorrendo uma queda da permeabilidade.
Os tipos de óxido de ferro encontrados são:
Hematita - Fe2O3, de cor vermelha.
É o tipo mais usado em fundição, pois é estável em condições
atmosféricas ambientais, sendo que a porcentagem de ferro varia
entre 30 a 62%, com uma densidade de 5,2 g/cm3 e uma
temperatura de fusão de aproximadamente 1565C.
Magnetita - Fe3O4, de cor negra;
Limonita - 2Fe2 O3 + H2O, de cor marrom;
Siderita - (FeCO3 ).
Os teores de óxido de ferro comumente usados variam entre 0,5 a
5%, sendo utilizados para solucionar defeitos do tipo:
Erosão - 2 a 4% combate a friabilidade;
Veiamento e penetração metálica - 4% de óxido de ferro em
areia contendo 2 a 8% de pó de carvão;
Pinholes de Nitrogênio - 1,5 a 2%;
Atuação do Óxido de Ferro no Combate aos Defeitos
B.
CAVIDADES OU VAZIOS
B.1 CAVIDADES DEVIDO AOS GASES ( BLOWHOLES E PINHOLES ) (B
111 )
Pinholes e Blowholes
Endógenos (origem interna)
Pinholes e Blowholes
Exógenos (origem externa)
Formação de Pinholes :
Formação dendrítica
Rechupe de macho Rechupe de ângulo
Rechupe
Defeito :
Intervalo de
Tendência ao
Tipo de Liga solidificação Modo de solidificação
o defeito
C
FC e FE hipoeutéticos
< 80 Frente Camada Rechupes
Ceq. > 3,6%
contínua espessa
FC hipoeutético < 80
Frente Camada Rechupes
FC hipereutético 20 a 150 mista fina (possibilidade
de auto-
alimentação)
Frente Camada
FE hipo e hipereutético <150
descontínua espessa Porosidades
C.
Descontinuidades do Material
C.1 TRINCA À FRIO ( C 211 )
Trinca à quente
Fratura mostrando formação
dendrítica
D.
Defeitos Superficiais
D.1 RUGAS SUPERFICIAIS ( D 111 )
Rugas superficiais
Defeito :
Pele de elefante
Defeito :
Rabo de rato
Defeito :
Reação molde/metal
Defeito :
Manifestação : toda a superfície da peça é tomada por cavidades, sulcos e
depressões semelhantes àquelas provocadas por erupções
cutâneas.
Causa da causa: a maioria das reações entre molde e metal são provocadas por
excesso de contaminantes presentes na composição da areia à
verde, tais como óleos, dextrina, resinas furânicas, ácido fosfórico,
fluoretos, peróxidos ( K e Na ), carbonatos, cereais, óxido de ferro,
resíduos de madeira, resíduos de materiais exotérmicos;
baixo teor de pó de carvão ( que forma uma atmosfera redutora
entre o metal e o molde ) ( ver notas abaixo );
etc.
A areia de sílica reage quimicamente com alguns metais mas não reage
com o ferro, a menos que o mesmo esteja oxidado. Esta oxidação tem
origem quando a água presente no molde, utilizada para inchar a
bentonita, evapora, liberando hidrogênio (H2) e oxigênio (O2). Este O2
Notas livre na cavidade do molde reage com a liga ferrosa quando do
vazamento formando camadas de óxidos no metal líquido a altas
temperaturas. Este óxido de ferro formado (wustita) escorifica a sílica,
formando com a sílica um silicato de ferro de baixo ponto de fusão, que
facilita a penetração do metal líquido entre os grãos de areia piorando o
acabamento superficial do fundido (rugosidade superficial).
H2O + Fe FeO + H2
água ferro (liga) óxido férrico - Wustita hidrogênio
fusão ~ 1500oC fusão ~ 1100 - 1200oC
Teorias da atuação do pó de carvão na areia sintética :
Penetração metálica
Defeito :
Manifestação : camada bastante rugosa e aderente de areia, sem forma definida,
formando uma mistura de areia e metal de aparência quase
esponjosa. Este defeito manifesta-se geralmente em regiões da
peça onde houver menor adensamento de areia no molde e macho.
Causa : penetração de metal entre os grãos de areia;
etc.
D.9 ESCAMAS
Formação da escama
Escamas
Escamas
Defeito :
F.
Dimensões e Formas
Incorretas
F.1 Taxa de contração indevida, resistência à contração, contração
irregular, empenamento ( F 111, 121, 122, 126)
Peça deformada
G.
Inclusões ou Anomalias de
Estrutura
G.1 Inclusões metálicas (G 111 )
Defeito
Inclusões metálicas
Defeito:
Gota Fria
Manifestação: inclusão metálica, geralmente de forma esferoidal, localizada na
parte inferior da peça. Esta inclusão tem a mesma composição
química da peça e apresenta-se geralmente oxidada.
Causa: projeção de metal sólido para dentro da cavidade do molde. Estas
partículas do metal não mais conseguem se fundir em meio ao
metal líquido que entra pela cavidade.
etc.
Defeito:
Inclusão de escória
Manifestação: inclusões não-metálicas (carbonatos, fosfetos, peróxidos, etc.) de
forma irregular semelhante às escórias formadas nos fornos de
fusão ou nas panelas de tratamento. Estas inclusões podem se
concentrar tanto na superfície da peça como na sua parte interna.
Sendo assim estes defeitos só serão notados após a usinagem das
peças ou através de ensaio radiográfico. É comum a partir destas
inclusões a formação de bolhas de gases.
Causa: a origem destas inclusões pode ser tanto a partir das escórias
geradas no forno de fusão como a partir das escórias geradas nos
tratamentos da liga em panelas ( como escórias geradas no
tratamento de dessulfuração, desoxidação, etc.).
Causa da causa:
reação entre os produtos desoxidantes e o material do refratário de
forno.
elevada oxidação do banho;
tratamento de desoxidação mal elaborado;
evitar o uso excessivo de produtos aglutinadores de escória
(fluxos );
etc.
Soluções: promover uma boa limpeza do metal no forno e panelas;
usar filtros nos canais de enchimento;
realizar um trabalho de desoxidação eficiente;
usar panelas de vazamento com sifão;
sempre que possível moldar as superfícies a serem usinadas para
baixo;
etc
Defeito:
Cavidades devido às bolhas de gases geradas na
Inclusão de escórias
Manifestação: inclusões não-metálicas (carbonatos, fosfetos, peróxidos, etc.)
estão normalmente associadas a bolhas de gás, pois estes
compostos ao se formarem tendem a liberar determinados tipos de
gases e tendem a se concentrar na superfície da peça, mas nas
partes maciças das peças ou em pontos de maior concentração de
calor. A análise química destas inclusões mostra um alto teor de S
e um elevado teor de óxidos de silício, manganês e ferro com um
teor de CaO quase zero. Devido ao aspecto semelhante à sílica,
este defeito é quase sempre confundido com inclusão de areia.
Causa: a origem destas inclusões está nas reações químicas que ocorrem
entre os vários elementos que compõem a liga ( por exemplo C,
Mn, S, Al, Ti, etc. ) ou então entre a liga e os seus óxidos, a
atmosfera, panelas, moldes e tintas.
etc.
Causa da causa:
elevada oxidação da carga metálica e do banho;
tratamento de desoxidação mal elaborado;
teores elevados de determinados elementos químicos ( C, Mn, S,
Al, Ti, etc. )
elevada velocidade de vazamento;
etc.
G.8 Coquilhamento
Defeito:
Coquilhamento
Defeito:
Flotação de Carbono ou Grafita
Manifestação: manchas negras, de forma irregular e de grande variação
dimensional encontradas nas regiões de fratura de peças,
normalmente na sua parte superior, de espessuras acima de 25
mm, podendo ocorrer a flotação do carbono para a superfície
externa da peça. Nota-se nestas regiões de flotação a presença de
nódulos explodidos, sulfetos e óxidos de magnésio.