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Como Portugal conseguiu conquistar uma posição tão privilegiada? O que permitiu o
desenvolvimento das grandes navegações? Que condições culturais e mentais impulsionaram
os portugueses para mares tão desconhecidos?
No século XV, a criação da Escola Naval de Sagres, pelo infante dom Henrique, foi um
marco decisivo para as navegações portuguesas no Atlântico. A Escola de Sagres reuniu os
maiores estudiosos do mundo europeu em técnicas de navegação e lançou ao mar pelo menos
um navio por ano para estudar o oceano, fazer mapas e anotar as posições das estrelas para
guiar os navegadores.
As viagens pelo Atlântico eram muito inseguras: todos os tripulantes dos navios, ao
saírem de Portugal, assinavam o livro de óbitos. Mesmo assim, os portugueses colocavam em
risco suas vidas, menos pela aventura do mar ou pela religião, e mais pelas possibilidades de
riquezas comerciais.
“Ó Mar Salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Se a alma não é pequena.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas
ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar”!
Nas colônias de povoamento a economia era organizada para atender aos interesses
dos colonos, que abandonaram seus países de origem por motivos de perseguição política ou
religiosa, ou por condições subumanas de sobrevivência.
Não se deve pensar, no entanto, que se tratava de colônias em que prevaleciam os
interesses dos colonizados... Através das colônias de povoamento, o que se visava era a
ocupação territorial, ao mesmo tempo em que se tentava resolver os problemas sociais,
políticos e econômicos das populações pobres da Europa, permitindo-lhe novas alternativas de
sobrevivência.
Quanto às colônias de exploração, foram organizadas com a finalidade de suprir a falta
de matérias-primas da metrópole. Aqui, a economia obedecia ao que se costumou denominar
de Pacto Colonial, que subordinava integralmente à metrópole toda transação comercial
(exportação e importação) das colônias. Ou seja, os colonizadores extraíam toda a matéria-
prima possível das colônias e as obrigavam a importar seus produtos manufaturados.
As colônias de exploração fundamentavam sua economia na extração de metais ou na
produção de qualquer gênero agrário, de alto valor mercantil, para ser vendido nos mercados
europeus. Produção em latifúndio, especialização em um único produto agrícola
(monocultura), emprego de mão-de-obra escrava eram as características desse modelo
colonial.
Entender o modelo de colônias de exploração é fundamental, pois ele caracteriza todo
um conjunto de colônias, exploradas pelos europeus em várias regiões (África, Ásia e América),
que permitiriam o crescimento da acumulação de capitais gerados pelas atividades mercantis
monopolistas.
O monopólio da compra dos produtos coloniais permitia à burguesia mercantil adquiri-
los a preços baixos. Os lucros eram enormes, pois essas mercadorias eram vendidas a preços
vantajosos no continente europeu.
As práticas mercantilistas deram origem à economia pré-capitalista, que se
desenvolveu principalmente nos séculos XVI, XVII até fins do século XVIII. A acumulação de
capitais comerciais pelas práticas dos mercantilistas foi responsável pela transição do processo
produtivo de manufaturas para o desenvolvimento industrial, característico da economia
capitalista.
Depois que os espanhóis encontraram ouro e prata em suas possessões nas Américas,
a França resolveu também enviar navios ao Brasil e aqui disputar com Portugal a procura de
metais preciosos. As expedições francesas ao litoral brasileiro provocavam protestos dos
portugueses, que reclamavam o acordo estabelecido no Tratado de Tordesilhas. O rei da
França - Francisco I - respondeu ao rei português que a França deixaria o litoral do Brasil se
Portugal apresentasse o "Testamento de Adão", em que constasse a doação das terras do
Novo Mundo aos espanhóis e portugueses...
Diante de tais ameaças, Portugal decidiu-se, a partir de 1530, a ocupar
economicamente o Brasil, colonizando-o. Além das ameaças europeias ao Brasil, o comércio
das especiarias no Oriente estava enfraquecendo. A concorrência de outras nações da Europa,
os altos custos militares e de transporte, a enorme distância entre a Índia e Portugal e
principalmente a diminuição dos lucros mercantis foram os fatores decisivos para os lusitanos
optarem pela exploração comercial da colônia brasileira. Por ordem de dom João III, a
expedição de Martim Afonso de Sousa ao Brasil, em 1530, visava expulsar os franceses do
litoral, observar e relatar cuidadosamente as características geográficas da nova terra e fundar
povoamentos.
São Vicente (no atual litoral paulista) foi a primeira vila brasileira, fundada em 1532.
Após o relatório de Martim Afonso, que mostrava a viabilidade da colonização, e tendo em
vista a falta de capital da Coroa, o rei decidiu entregar as despesas da colonização à iniciativa
privada.
A divisão da terra em capitanias hereditárias foi o esquema encontrado pela Coroa
portuguesa para a ocupação colonial. Eram quinze faixas lineares de terras, entregues a doze
proprietários, incumbidos de montar engenhos de açúcar, de pagar ao rei um quinto dos
metais preciosos encontrados, e, em troca, o donatário (proprietário da capitania) poderia
vender pau-brasil e índios em Portugal. A posse da terra era garantida pela Carta de Doação e
pelo Foral.
Os donatários eram capitães com poder de fazer leis, administrar a produção e a renda
das capitanias. Esses poderes eram bastante amplos; no entanto, o sistema de capitanias não
foi feudal, a mão-de-obra era escrava e a produção visava o mercado externo. A economia da
colônia funcionava de acordo com o comércio internacional.
O sistema de capitanias hereditárias foi adotado no Brasil devido ao êxito obtido com
um esquema semelhante na produção de gêneros agrários nas ilhas de Açores, Madeira, Cabo-
Verde, Porto Príncipe e em Angola (todos territórios portugueses no Atlântico). No Brasil, as
capitanias tiveram pouco resultado. A falta de recursos financeiros foi a principal causa do
fracasso; de resto, a maioria dos donatários nem veio ao Brasil para assumir a colonização.
O fracasso das capitanias determinou a necessidade de substituir a política
descentralizada por um centro de unidade política e administrativa. Assim, em 1548, foi criado
o Governo Geral. Tomé de Sousa foi o primeiro governador, com a função primordial de ajudar
os capitães donatários na produção agrícola.
Ao governador geral cabia também combater tribos indígenas rebeldes aos
colonizadores, realizar buscas de jazidas de ouro e prata pelo interior e construir navios para a
defesa territorial. Os governadores gerais pouco puderam fazer para estimular a produção e
defender as terras brasileiras, dada a enorme extensão territorial e os parcos recursos
financeiros que a Coroa enviava.
O poder de fato estava nas mãos dos proprietários de terras - os chamados senhores
coloniais -, donos das fazendas de açúcar, movidas a trabalho escravo. Essa classe social
detinha, na prática, o poder local através dos municípios, organizados em câmaras. Nestas,
reuniam-se os 'homens bons', isto é, homens de propriedades, para as decisões políticas,
administrativas e econômicas do município. Nelas ainda se decidia sobre a declaração de
guerra e paz com índios, arrecadação de impostos, catequese, abastecimento de mão-de-obra
escrava (negros e índios) para as fazendas.
a) As boas experiências produtivas dos portugueses com o açúcar cultivado nas ilhas de Açores
e Madeira;
b) O pequeno tempo gasto entre a produção e a comercialização do produto, em relação aos
outros gêneros, permitia que o capital empregado, embora elevado, tivesse retorno rápido;
c) O mercado europeu era garantido porque não haveria concorrentes;
d) A grande quantidade de terras disponíveis no Brasil, com solo tipo massapê favorável a essa
cultura.
BRASIL HOLANDÊS:
EXPULSÃO E CRISE:
A fase de expulsão dos holandeses iniciou-se com a saída de Nassau do Brasil. Uma
junta de três holandeses substituiu-o na administração da colônia. A junta seguiu as
orientações recusadas por Nassau. O resultado deste procedimento foi a reação imediata dos
colonos, organizando resistência armada e conseguindo a expulsão dos holandeses. Em 1654,
a Holanda aceitou a perda da guerra, assinando a rendição da Campina da Taborda.
Mais tarde, em 1661, os holandeses assinaram o acordo da Paz de Haia, reconhecendo
o domínio português sobre o Nordeste brasileiro e a região africana de Angola. Em troca, os
portugueses aceitaram a dominação holandesa em suas possessões do Oriente e pagaram uma
indenização de quatro milhões de cruzados (moeda portuguesa) à Holanda.
A Inglaterra, que já se impunha como nova potência marítima, serviu de intermediária
nos acordos entre flamengos e lusitanos. Com isso, passou a influenciar Portugal, com quem
estabeleceu uma aliança econômica e política.
Através dessa aliança, a Inglaterra torna-se o principal fornecedor de manufaturas
inglesas às colônias portuguesas. Quebra-se o domínio comercial holandês e os britânicos
substituem os flamengos enquanto grande potência pré-capitalista.
Em troca do apoio a Portugal ; a Inglaterra ficou com os domínios portugueses de
Tânger (África) e Bombaim (Ásia), e a permissão para o trânsito de mercadores ingleses no
comércio português da Índia. Por esse acordo, que culmina com o casamento entre a princesa
Catarina (portuguesa) e o rei Carlos II (inglês), Portugal recebeu da Grã-Bretanha dois milhões
de cruzados, suficientes para quitar metade da indenização prometida à Holanda. Pela outra
metade, os portugueses tiveram de pagar juros em libras aos britânicos.
A partir do século XVII, após a expulsão dos holandeses, o Brasil tornou-se a mais
importante colônia portuguesa. Isso porque a Coroa lusitana perdera pontos comerciais
importantes nos acordos com a Holanda e a Inglaterra, tendo que voltar- se integralmente à
exploração econômica na colônia brasileira.
A partir da segunda metade do século XVII, os holandeses levaram a tecnologia da
produção de açúcar, aprendida no Brasil, para seus domínios nas Antilhas (ilhas do Caribe), na
América Central e na Guiana Holandesa (fronteira com o Amazonas). O açúcar brasileiro
passou a ter como concorrente o açúcar flamengo, mais barato, porque os holandeses não
dependiam de capital estrangeiro, o que ocorria com Portugal em relação ao capital inglês.
Além disso, os preços do açúcar sofreram uma queda geral no continente europeu,
provocada pela diminuição da atividade das minas de ouro e prata na América espanhola.
Como resultado, faltavam moedas no mercado, o que levou ao declínio da produção
açucareira do Brasil.