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MATHEUS ORTEGA P IETROBON

MODELO ESTRUTURAL DA SUB-BACIA DO JURUÁ (BACIA DO


SOLIMÕES/AM), BASEADO EM INTERPRETAÇÃO DE DADOS
SÍSMICOS E INFLUÊNCIA DA TECTÔNICA PRÉ-ANDINA NA
GERAÇÃO DE TRAPAS .

Monografia apresentada à Comissão do


Trabalho de Formatura do Curso de Geologia
do Instituto de Geociências e Ciências Exatas –
UNESP, campus de Rio Claro, como parte das
exigências para o cumprimento da disciplina
Trabalho de Formatura no ano letivo de 2006”

Orientador: Prof. Dr. Antonio Roberto Saad

Co-orientadora: Msc. Maria Gabriela Castillo Vicentelli

Rio Claro – SP
2006
2

MATHEUS ORTEGA P IETROBON

MODELO ESTRUTURAL DA SUB-BACIA DO JURUÁ (BACIA DO


SOLIMÕES/AM), BASEADO EM INTERPRETAÇÃO DE DADOS
SÍSMICOS E INFLUÊNCIA DA TECTÔNICA PRÉ-ANDINA NA
GERAÇÃO DE TRAPAS .

Monografia apresentada à Comissão do


Trabalho de Formatura do Curso de Geologia
do Instituto de Geociências e Ciências Exatas –
UNESP, campus de Rio Claro, como parte das
exigências para o cumprimento da disciplina
Trabalho de Formatura no ano letivo de 2006”

Orientador: Prof. Dr. Antonio Roberto Saad

Co-orientadora: Msc. Maria Gabriela Castillo Vicentelli

Rio Claro – SP
2006
3

DEDICATÓRIA

A Deus por tudo que me proporciona na vida.


À minha mãe e meu pai, os quais amo muito, pelo
exemplo de vida e família.
A meus irmãos por tudo que me ajudaram até hoje.
À minha namorada Larissa, pelo carinho, compreensão e
companheirismo.
E ao meu “filho” Floquinho pela alegria e diversão.
4

AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço o PRH-05 – ANP pelo incentivo, apoio e infra-estrutura para o


desenvolvimento e conclusão deste projeto. Um agradecimento especial ao Profº Dr. Dimas
Dias Brito e ao meu amigo Zé Maria por todo o esforço e dedicação para manter e melhorar o
PRH-05 e conseqüentemente o LISG. À Unesp de Rio Claro pelo apoio a graduação e ao
desenvolvimento deste trabalho.
Ao Profº Dr. Antonio Roberto Saad, orientador, professor, amigo, um muito obrigado
pela dedicação e ajuda por esses anos de trabalho.
Um muito obrigado a minha amiga e co-orientadora MSc. Maria Gabriela Castillo
Vicentelli pelo aprendizado e dedicação por esses meses que trabalhamos juntos, e também
pela sua compreensão e profissionalismo.
Agradeço a Landmark® pelo apoio e pela licença do pacote Geographix e Openworks
cedida ao nosso laboratório (LISG).
Um forte abraço ao meu grande amigo Diogo Michelon (Pamonha), por toda a sua
ajuda nesses cinco anos de graduação, por nossa amizade, nossos trabalhos e nossas loucuras.
Agradeço o meu amigo Rodrigo Prudente de Melo (Bobó), por tudo que me ajudou e apoiou
nesses anos de graduação, dentro ou fora da Unesp.
Agradeço o Profº Dr. Hans Dirk Ebert, o Profº Dr. Joel Carneiro de Castro e o Profº
Dr. Clauzionor Silva pelo apoio e ajuda nos momentos precisos. Um agradecimento também
especial aos meus companheiros e amigos de laboratório, Bruno Osvaldo Leonel (Truta),
Sérgio Cáceres e Iata Souza Anderson, muito obrigado por tudo!
Um agradecimento muito especial aos meus queridos amigos, companheiros, irmãos e
“concorrentes” da turma de 2002 e agregados (Filé, Syang, Lulu, 120, Érica, Vanessa, Iaba,
Boye, Vira, Track, Vô, Bamby, Pockay, Gaúcho, Juliano, P.S., Minhoca, Truta, Pamonha,
Gustavo, Dark, Naldo, Jaime, Lingüiça, Zorbinha, Davi, Chuca, Mudinho, Hércules, Érica
Biasi, Joaninha, Cibele, Keila e Bobó) do curso de Geologia pela Unesp de Rio Claro/SP.
Muito obrigado por me acolherem como amigo. Vocês já fazem parte da minha vida!
Agradeço a todos do Geobizarro por tudo que passamos, pelas vitórias e pelas
derrotas. Geobizarro, Bi-Campeão interclasses de Geologia!
Um agradecimento a todos os professores, alunos e técnicos do Instituto de
Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Unesp, especialmente aos que estão ligados ao
curso de geologia.
5

Agradeço mais uma vez minha namorada por todos esses anos, de muito carinho,
amizade, companheirismo e felicidade. Obrigado por tudo meu amor, você é demais!
A meus pais, irmãos, cunhados e minha avó por serem meus amigos, companheiros e
acima de tudo, minha família. Vocês são tudo na minha vida!
Um agradecimento aos meus amigos Heder Marques (Tuty), Victor A. Pereira da Silva
(Vitão), Gustavo Tognetta (Gu) e Tales Duque Martins (Teo), à distância e o tempo nunca
irão nos separar, vocês fazem parte do meu coração!
Agradeço com muito carinho a minha “família” de São José de Rio Preto,
especialmente a minha sogrinha (Maria Cristina Lopes). Muito obrigado por me acolherem
com tanta gratidão e carinho!
E finalmente, agradeço a todos que me ajudaram direto ou indiretamente para o
desenvolvimento deste projeto. Um MUITO OBRIGADO a todos vocês!
6

SUMÁRIO

Pág.

1 – INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13

1.1 – SISTEMA PETROLÍFERO DA BACIA DO SOLIMÕES ........................................... 15


1.1.1 – Esforço Exploratório ...........................................…......................... 15
1.1.2 – Rochas Geradoras ..............................................….......................... 16
1.1.3 – Rocha Reservatório ......................................…................................ 16
1.1.4 – Rocha Selante ...................................................…............................. 16
1.1.5 – Trapas Estruturais ............................................…........................... 16
1.1.6 – Geração/ Migração/ Acumulação de Hidrocarbonetos.................. 17
1.2 – M ODELO DE ACUMULAÇÃO PROPOSTO ATUALMENTE PELA

PETROBRÁS ............................................................................................................................. 17
1.3 – POTENCIAL ECONÔMICO PETROLÍFERO – REGIÃO AMAZÔNICA
(AM)....................................................................................................................................... 18
1.3.1 – Produção Nacional de Petróleo (Brasil).......................................... 19
1.3.2 – Produção de Petróleo no Estado do Amazonas ............................. 19
1.3.3 – Produção de Gás Natural no Estado do Amazonas ...................... 20
2 – JUSTIFICATIVAS ........................................................................................................ 21
3 – OBJETIVOS .....................................................................................................….......... 25
4 – DADOS, MÉTODOLOGIAS E ETAPAS DE TRABALHO ..........................…....... 26
4.1 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS – M ETODOLOGIAS E CONCEITOS.........….......... 26
4.1.1 – Sismograma Sintético..........................................................….......... 26
4.1.2 – Calibração dos dados sísmicos...........................................….......... 27
4.1.3 – Interpretação de Dados Sísmicos.....................................…............ 27
4.1.4 – Seções Balanceadas...........................................................…............ 28
4.1.5 – Retrometamorfismo – Retrodeformação.................…................... 28
4.1.6 – Zona Triangular..............................................................….............. 29
4.1.7 – Fault bend Fold (Dobras por Falhas).....................…..................... 29
4.2 – DADOS ................................................................................................................ 30

4.3 – M ETODOLOGIAS................................................................................................ 32
4.4 – ETAPAS DE TRABALHO...................................................................................... 32
5 – GEOLOGIA REGIONAL ............................................................................................ 34
7

5.1 – ARCABOUÇO ESTRATIGRÁFICO .......................................................…............ 34


5.1.1 – Formação Prosperança (Grupo Purus) ....................….................. 36
5.1.2 – Formação Benjamin Constant .....................................…............... 36
5.1.3 – Formação Jutaí (Membro Biá) .....................................…............... 37
5.1.4 – Grupo Mari-mari .........................................................…................ 37
5.1.4.1 – Formação Jandiatuba .................................…................... 37
5.1.4.2 – Formação Uerê ..........................................…..................... 38
5.1.4.3 – Membro Urucu-Arauá ...............................…..................... 39
5.1.4.4 – Membro Jaraqui ..........................................…................... 39
5.1.5 – Grupo Tefé ................................................................….................... 40
5.1.5.1 – Formação Juruá ...............................….............................. 40
5.1.5.2 – Formação carauarí .............................…............................ 41
5.1.5.3 – Formação Fonte Boa ........................….............................. 42
5.1.6 – Grupo Javari ......................................................…........................... 43
5.1.6.1 – Formação Alter do Chão .....................…........................... 43
5.1.6.2 – Formação Solimões ............................…............................ 44
5.2 – M AGMATISMO NA BACIA DO SOLIMÕES .............................…......................... 44
5.3 – ARCABOUÇO ESTRUTURAL E TECTÔNICA DA REGIÃO
AMAZÔNICA..................................................................................….......................... 45
5.4 – EVENTOS TECTÔNICOS-MAGMÁTICOS-SEDIMENTARES FANEROZÓICOS DAS
BACIAS BRASILEIRAS ................................................................................…......................... 49
6 – RESULTADOS OBTIDOS..................................................................…...................... 52
6.1 – INTERPRETAÇÃO DE DADOS DE POÇOS (PERFIS )............................................... 52
6.2 – SISMOGRAMA SINTÉTICO ................................................................................. 54
6.3 – SISMOGRAMA SINTÉTICO + LINHAS SÍSMICA - CALIBRAÇÃO......................... 54
6.4 – INTERPRETAÇÃO E VISUALIZAÇÃO DOS DADOS SÍSMICOS ............................... 57
6.4.1 – Interpretação das Linhas Sísmicas 391, 392 e 393 ........................ 57
6.4.2 – Interpretação da Linha Sísmica 394 ............................................... 58
6.4.3 – Interpretação da Linha Sísmica 395 ............................................... 58
6.5 – M ODELO DE ACUMULAÇÃO PROPOSTO ........................................................... 64
6.6 – SEÇÃO SÍSMICA – CONVERTIDA DE TEMPO (MS ) EM PROFUNDIDADE
(M)........................................................................................................................................... 67
6.7 – CINEMÁTICA DE DEFORMAÇÃO – RETRODEFORMAÇÃO DE SEÇÃO

BALANCEADA .......................................................................................................................... 69
8

6.7.1 – Retrodeformação do Evento 1 –....................................................... 69


6.7.2 – Retrodeformação do Evento 2.......................................…............... 69
6.8 – M APAS ESTRUTURAIS DOS TOPOS DAS FORMAÇÕES ..................…................. 72
6.8.1 – Topo da Formação Prosperança / Base da Formação
Juruá..................................................................................................................…................ 72
6.8.2 – Topo da Formação Juruá / Base da Formação
carauarí...............................................................................................................…............... 73
6.8.3 – Topo da Formação carauarí / Base da Formação Fonte
Boa.......................................................................................................................................... 74
6.8.4 – Topo da Formação Fonte Boa / Base da Formação Alter do
Chão....................................................................................................................................... 75
7 – CONCLUSÕES .............................................................................................................. 77
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 79

ÍNDICE DE FIGURAS

Pág.

Figura 1: Mapa das Bacias Sedimentares Brasileiras, em vermelho está em destaque


a Bacia do Solimões – Área de estudo (Fonte: Zalán,
2004)....................................................................................................................................... 13
Figura 2: Bacia do Solimões – dividida em 2 Sub-bacias por um alto estrutural. Sub-
Bacia de Jandiatuba, Sub-Bacia de Juruá e o Alto ou Arco de carauarí. (Fonte: Clark,
2002)....................................................................................................................................... 14
Figura 3: Localização da área em estudo, dando uma visão mais ampla da área com
os elevados Andinos (Fonte: modificado de Castillo,
2006)....................................................................................................................................... 14
Figura 4: Modelo de Acumulação de Hidrocarboneto para a Bacia do Solimões –
modelo proposto pela Petrobrás (Fonte: Clark, 2002)..................…...................................... 18
Figura 5: Seção Geológica Esquemática da Bacia do Solimões proposta atualmente
(Fonte: Clark, 2002)......................................................................…….................................. 22
Figura 6: Interpretação Sísmica da estrutura de idade mesozóica da bacia do
Solimões (tectonismo Juruá). (Fonte Costa, 2002).........................................….................... 23
9

Figura 7: Seção Geológica da Serrania do Interior Venezuelana (Fonte: Rossi,1984


sengundo Castillo, 2004)........................................................................................................ 23
Figura 8: Interpretação do modelo exploratório com falhas inversas de baixo ângulo
na Serrania do Interior Venezuelano (Fonte: Castillo, 2004)................................................. 24
Figura 9: Sismograma sintético, elaborado a partir de registros sônico e densidade
(Leonel et al., 2006)................................................................................................................ 26
Figura 10: Exemplo de Seção Sísmica 2D 0231-0923 (Bacia de Cumuruxatiba),
interpretação de horizontes guias e de falhas representadas na seção (Leonel et al.,
2006)....................................................................................................................................... 27
Figura 11: Restauração teórica de uma seção deformada (Castillo,
2005)...................................................................................................………........................ 28
Figura 12: Zona Triangular Tipo I, proposta por McClay (1992, segundo Castillo,
2005)....................................................................................................................................... 29
Figura 13: Esquema de uma Fault bend Fold e o nível de descolamento inferior
(Fonte: modificado de Castillo, 2005).............................................………………............... 30
Figura 14: Gama de dados de Sísmica 2D e Poços na Bacia do Solimões – BDEP
(Banco de dados de Exploração e Produção) ......................................................................... 31

Figura 15: Mapa contendo as cinco linhas sísmicas e os três poços selecionados para
o pedido ao Banco de Dados de Exploração e Produção (Fonte:
BDEP)..................................................................................................................................... 31
Figura 16: Coluna Litoestratigráfica da Bacia do Solimões (Fonte: Eiras et al.,
1994)....................................................................................................................................... 35
Figura 17: Modelos de Blocos Crustais de Hasui et al. (1984). Em vermelho se
destaca a área de estudo – Bacia do Solimões........................................................................ 45
Figura 18: Arcabouço Estrutural da Bacia do Solimões – Cráton Amazônico (Fonte:
Tassinari & Macambira, 1999)............................................................................................... 47
Figura 19-A: Perfil no km 102 da Rodovia AM-010, que mostra leques imbricados
compressivos (duplex) da zona de empurrão que deformam as camadas da Formação Alter
do Chão . Presença de falha com adelgaçamento do flanco e retroempurrão (Fonte:
modificado de Silva, 2005)..................................................................................................... 48
Figura 19-B: Estruturas tipo DUPLEXES encontrados na Formação Alter do Chão
(Cretáceo) na Região Amazônica, estruturas relacionadas a esforços compressivos (Fonte:
modificado de Silva, 2005)..................................................................................................... 48
10

Figura 20: Mapa Estrutural da área de estudo, localizando-se pelos poços utilizados
no projeto (1_RBB_0001_AM, 1_NMR_0001_AM E 1_IMR_0001_AM) .......….............. 49
Figura 21: Eventos Tectônicos-magmáticos-sedimentares Fanerozóicos das bacias
brasileiras. (Fonte: modificado de Zalán, 2004)..................................................................... 50
Figura 22: Dados de Poços diponíveis do BDEP (Raio gamma, Sônico e Densidade –
Poço 1_NMR_0001_AM – Bacia do Solimões) .................................................................... 53
Figura 23: Seção Estratigráfica Oeste/Leste – Sequência Permocarbonífera – Bacia
do Solimões, Norte do Brasil (Becker, 1997) ........................................................................ 53
Figura 24-A: Geração do Sismograma Sintético– Interpolação do Raio Sônico + a
Densidade...........................................................................................................…................. 55
Figura 24-B: Sismograma Sintético do poço padrão selecionado (Poço
1RBB_001_AM).................................................................................................…................ 55
Figura 25: Linha Sísmica calibrada com o sismograma sintético. Mesma escala de
tempo entre a linha sísmica e o sismograma sintético (Linha 395).....................…............... 56
Figura 26: Linha Sísmica interpretada – Linha 391 (perpendicular à deformação).
Software SeisVision – GeoGraphix (Landmark®)................................................................. 60
Figura 27: Linha Sísmica Interpretada – Linha 392 (perpendicular à deformação).
Software SeisVision – GeoGraphix (Landmark®)................................................................. 61
Figura 28: Linha Sísmica Interpretada – Linha 393 (perpendicular à deformação).
Software SeisVision – GeoGraphix (Landmark®)................................................................. 62
Figura 29: Linha Sísmica Interpretada – Linha 395 (paralela à deformação). Software
Seis Vision – Geographix (Landmark®)……………………..…............................……….. 63
Figura 30: Modelo de Acumulação proposto na área estudada de acordo com as
interpretações dos dados sísmicos – Bacia do
Solimões................................................................................................................................... 66
Figura 31: Seção Sísmica convertida de tempo (ms) em profundidade
(m)........................................................................................................................................... 68
Figura 32: Seção Sísmica convertida em profundidade, com apenas o primeiro
evento tectônico retrodeformado............................................................................................ 70
Figura 33: Seção Sísmica convertida em profundidade e Retrodeformada – Camadas
Subparalelas. Retrodeformação somando o evento 1 mais o evento 2, para análise da
porcentagem de encurtamento da seção.................................................................................. 71
Figura 34: Mapa estrutural do contato entre as Formações Prosperança (topo) e Juruá
(base). Software SeisVision – Geographix (Landmark®)...................................................... 73
11

Figura 35: Mapa estrutural do contato entre as Formações Juruá (topo) e carauarí
(base). Software SeisVision – Geographix (Landmark®)...................................................... 74
Figura 36: Mapa estrutural do contato entre as Formações carauarí (topo) e Fonte
Boa (base). Software SeisVision – Geographix (Landmark®).............................................. 75
Figura 37: Mapa estrutural do contato entre as Formações Fonte Boa (topo) e Alter
do Chão (base). Software SeisVision – Geographix (Landmark®)....................................... 76

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Produção nacional de petróleo (terra e mar) – 2005/2006 (m3 )/(Fonte: ANP
- Boletim Mensal de Produção submetido à ANP)................................................................. 19
Tabela 2: Produção de petróleo no Estado do Amazonas (terra) - 2000-2006
(m3 )/(Fonte: ANP - Boletim Mensal de Produção submetido à ANP)................................... 19
Tabela 3: Produção de gás natural no Estado do Amazonas (terra) – 2000/2006 (103
m3 )/(Fonte: ANP - Boletim Mensal de Produção submetido à ANP).................................... 20
Tabela 4: Legenda da Figura 18. Em azul (eventos 18, 42, 43, 44 e 50) são
destacados os eventos associados com a Bacia do Solimões.................................................. 51
Tabela 5: Velocidades Intervalares consideradas por cada formação da Bacia do
Solimões.................................................................................................................................. 67
12

RESUMO

A Bacia Paleozóica do Solimões tem grande importância econômica na prospecção e


exploração de recursos energéticos, em razão da ocorrência de hidrocarbonetos comerciais,
especialmente na sub-Bacia de Juruá. A partir de 1978, a pesquisa de hidrocarbonetos na
Bacia do Solimões tornou-se significativa, estando representada por levantamentos de linhas
sísmicas, perfis gravimétricos, perfis magnetométricos e aero-magnetométricos, bem como
perfurações de poços estratigráficos e pioneiros. Esse esforço exploratório foi coroado com a
descoberta de 9 campos de gás na província de Juruá, 5 campos de óleo, gás e condensado na
província de Urucu, 1 campo de gás no Rio Copacá e 2 campos de gás e condensado na
província de São Mateus, além de outras acumulações subcomerciais nessas províncias. A
importância de se estudar e compreender a evolução estrutural da sub-Bacia de Juruá, torna a
interpretação de linhas sísmicas uma ferramenta fundamental. Ao mesmo tempo, o
desenvolvimento da pesquisa está diretamente ligado ao entendimento do sistema petrolífero
desta bacia, sendo a Bacia do Solimões do tipo compressiva, devido à orogenia Pré-Andina. A
interpretação deste sistema compressivo foi possível através das linhas sísmicas e sua
calibração, a partir da elaboração do sismograma sintético. A determinação dos topos das
diferentes formações foi realizada através da interpretação dos registros de raio gamma (GR)
e densidade (RHOB), dados estes fornecidos pelo Banco de Dados de Exploração e Produção
do Brasil (BDEP). Nos registros de poços foram reconhecidos os topos das formações
Prosperança, Juruá, carauarí e Fonte Boa. Estes topos servem de guia para determinar os
refletores sísmicos que melhor representam o evento geológico, permitindo assim avaliar a
geometria da deformação e a seqüência de eventos tectônicos determinantes na formação do
alvo exploratório. Como resultados temos o Sistema Cretáceo envolvido na deformação,
observando-se que a tectônica Pré-Andina influenciou a bacia até neo-cretáceo. A
estruturação da Bacia do Solimões corresponde com a compressão dos Andes Equatorianos
numa direção NW-SE. Propõe-se um modelo estrutural baseado no modelo de zona triangular
do tipo I do McClay (1992), com dois níveis de descolamento basal, um na Formação carauarí
(em litologia de evaporítos – sal) e um segundo evento na Formação Prosperança (em
litologia de folhelhos de alta pressão). Através da retrodeformação da secção, temos um
encurtamento na ordem de 2,8% e um ângulo de rampa de 22 graus para o nível de
descolamento da Formação Prosperança. Como evolução da estrutura de Juruá é proposto um
último evento tectônico que deforma as camadas pré-deformadas da Formação carauarí, com
valor de encurtamento de 5,5% e ângulo de rampa de 10 graus. Finalmente, determina-se que
o fato de ter uma zona triangular do tipo I na região do Juruá dá prospectividade tanto na
região do noroeste da sub-bacia como para a região sudeste, devido à existência de estruturas
do tipo dobras simétricas nas duas sub-regiões.

PALAVRA-CHAVE: Geologia, geofísica, petróleo, tectônica compressiva, descolamento


basal.
13

1 – INTRODUÇÃO

A Bacia Paleozóica do Solimões (Figura 1) situa-se na Região Norte do Brasil e


estende-se por uma área de 600.000 km2 , dos quais 300.000 km2 referem-se à ocorrência de
sedimentos Paleozóicos. A Bacia do Solimões possui 9 campos exploratórios, sendo 4 na
Província Gaseífera de Juruá e 5 na Província Oleífera de Urucu. Limita-se a sul e a norte
com os escudos Brasileiro e das Guianas, respectivamente, constituídas por rochas pré-
cambrianas. Seu limite oeste é com a Bacia do Acre, separado pelo Arco de Iquitos, enquanto
que a leste é com a Bacia do Amazonas, por meio do Arco de Purus (Figuras 1 e 2).
Num contexto mais regional, a Bacia do Solimões está localizado a leste das
montanhas Andinas, sendo que a área em estudo está aproximadamente a 1.400 km de
distância em linha reta dos principais elevados Andinos (Figura 3).

Figura 1: Mapa das Bacias Sedimentares Brasileiras, em vermelho está em destaque a Bacia do
Solimões – Área de estudo (Fonte: Zalán, 2004).
14

Figura 2: Bacia do Solimões – dividida em 2 Sub-bacias por um alto estrutural. Sub-Bacia de


Jandiatuba, Sub-Bacia de Juruá e o Arco de carauarí. (Fonte: Clark, 2002).

Figura 3: Localização da área em estudo, dando uma visão mais ampla da área com os elevados
Andinos (Fonte: modificado de Castillo, 2006).
15

De acordo com Eiras et al. (1994), as grandes áreas sedimentares paleozóicas situadas
na região norte do Brasil foram inicialmente consideradas como pertencentes à Bacia
Sedimentar do Amazonas. Por razões operacionais, essas áreas foram divididas em três
bacias, denominadas de Alto, Médio e Baixo Amazonas, separadas entre si pelo Arco de
Purus e Alto de Monte Alegre, respectivamente.

A partir de 1978, com intensa pesquisa desenvolvida pela Petrobrás na região do Alto
Amazonas, que culminou com a descoberta de hidrocarbonetos em nível comercial (Província
Gaseífera do Juruá e Província do Urucu), Caputo (1984) sugeriu a designação de Bacia do
Solimões para a região do Alto Amazonas, em face da evolução geológica diferenciada em
relação às áreas do Médio e Baixo Amazonas, que juntas atualmente constituem a Bacia do
Amazonas.
Internamente, a Bacia do Solimões é dividida em duas sub-Bacias, Juruá e Jandiatuba,
separadas pelo Arco de carauarí (Figura 2). Trata-se de uma feição geológica positiva, de
direção Norte-Sul, que exerceu forte controle na sedimentação pré-neocarbonífera da bacia
(Eiras, 1998). A sub-Bacia do Juruá é a melhor conhecida do ponto de vista geológico e
geofísico, em função das pesquisas petrolíferas aí desenvolvidas e por conter os principais
campos exploratórios da Bacia do Solimões, sendo quatro campos na província gaseífera de
Juruá e cinco campos na província oleífera de Urucu (Clark, 2002).

1.1 – SISTEMA PETROLÍFERO DA BACIA DO SOLIMÕES

A seguir, serão descritos os principais dados do Sistema Petrolífero da Bacia do


Solimões, de acordo com Petrobrás (2002).

1.1.1 - Esforço Exploratório

• Aquisição de Dados Sísmicos 2D: 35.809 km.


• Aquisição de Dados Sísmicos 3D: 48.783 km2 .
• Poços Exploratórios: 156 poços.
16

1.1.2 - Rochas Geradoras

Principal Rocha Geradora: Folhelho radioativo (Devoniano - Frasniano) da Formação


Jandiatuba:
• COT (Teor de Carbono Orgânico) máximo: 8,25%.
• Espessura máxima do Folhelho: 40-50 m.

Rochas Geradoras Secundárias:


+ Folhelhos Devoniano do Membro Jaraqui (Formação Jandiatuba):
• COT (Teor de Carbono Orgânico): 0,65% - 1,45%.
+ Folhelhos silicosos da Formação Uerê:
• COT (Teor de Carbono Orgânico): 1,48% - 3,07%.

1.1.3 - Rocha Reservatório

• Arenitos (Carbonífero) da Formação Juruá


- Seção Superior: Sedimentos Eólicos.
Porosidade (Ø): até 22,5 %.
Permeabilidade (K): 100 a 320 mD.
- Seção Basal: Sedimentos Fluvio-deltáicos.
Porosidade (Ø): 9 - 11 %.
Permeabilidade (K): 1 a 350 mD.

1.1.4 - Rocha Selante

• Evaporitos das Formações carauarí e Juruá.

1.1.5 - Trapas Estruturais

• Falhas direcionais.
• Esforços transpressivos.
• Falhas reversas.
• Dobras anticlinais assimétricas en echelon formando trends de direção NE-SW.
17

1.1.6 - Geração/ Migração/ Acumulação de Hidrocarbonetos

• Migração através de planos de falhas reversas.


• Acumulação em anticlinais assimétricas associadas.

É importante notar as implicações da estruturação para a prospecção de


hidrocarbonetos, apontadas por Neves (1990, segundo Silva, 2005). No processo de geração
para as faixas de maturação houve interrupção durante o Neojurássico/Eocretáceo relativo às
orogenias Herciniana (Neodevoniana ao Eocarbonífero, Eopermiano e Permo-Triássico) e
Kimmeriana tardia/Oregoniana (Eocretáceo). Portanto, no esquema evolutivo de geração,
migração e acumulação de hidrocarbonetos e a associação com a estruturação da bacia, deve
ser dado destaque, sobretudo, à fase compressiva no Eocretáceo e a reativação transcorrente
no Neocretáceo ao Terciário (Silva, 2005).
A migração de hidrocarbonetos das camadas geradoras devonianas para as camadas
carboníferas acima do horizonte evaporítico é através de planos de falhas ou por diques de
diabásio (Caputo, 1999, segundo Silva, 2005).

1.2 – M ODELO DE ACUMULAÇÃO PROPOSTO ATUALMENTE PELA PETROBRÁS

O modelo de acumulação utilizado atualmente pela Petrobrás apresenta falhas inversas


de alto ângulo (70º a 90º), sendo as trapas formadas por dobras anticlinais assimétricas en
echelon. Falhas de alto ângulo não são representativas de tectônica compressiva, e sim, de
tectônica distensiva por falhas normais. Apesar do alto angulo de mergulho, neste modelo a
estruturação é representada por falhas inversas (Figura 4).
18

Figura 4: Modelo de Acumulação de Hidrocarboneto para a Bacia do Solimões – modelo


proposto pela Petrobrás (Fonte: Clark, 2002).

1.3 – POTENCIAL ECONÔMICO PETROLÍFERO – REGIÃO AMAZÔNICA (AM)

De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), no ano de 2005 a produção


nacional de petróleo (terra e mar) no Brasil (Tabela 1) chegou a 94.796.734 m3 /ano, sendo
que 2,41% desta produção provém da Região Amazônica.
O potencial de petróleo e gás natural da região Amazônica é muito significativo.
Atualmente, a produção de petróleo no estado foi de 2.285.586 m3 /ano de óleo (Tabela 2) de
excelente qualidade e 3.567.205 (x 103 ) m3/ano de gás natural (Tabela 3). Segundo
estimativas, a meta é de produzir 45.000 bbl de óleo e 6 milhões de m3 de gás natural na
Bacia do Solimões. Atualmente, a região Amazônica detém a segunda reserva de gás natural
do Brasil, com 90.109 m3, perdendo apenas para a Bacia de Campos (RJ), com cerca de
300.109 m3.
19

1.3.1 - Produção Nacional de Petróleo (Brasil)

Tabela 1: Produção nacional de petróleo (terra e mar) – 2005/2006 (m3 )


(Fonte: ANP - Boletim Mensal de Produção submetido a ANP).
BRASIL ANO ANO
MESES 2005 2006
Janeiro 7.382.254 8.321.362
Fevereiro 6.644.407 7.533.460
Março 7.581.902 8.358.067
Abril 7.995.070 8.286.098
Maio 8.324.684 8.615.745
Junho 8.100.731 7.776.547
Julho 8.282.310 8.502.763
Agosto 8.013.086 8.393.094
Setembro 7.950.711 8.265.597
Outubro 8.233.697
Novembro 7.985.490
Dezembro 8.302.393
Total do ano 94.796.734 74.052.733

1.3.2 - Produção de Petróleo no Estado do Amazonas

Tabela 2: Produção de petróleo no Estado do Amazonas (terra) - 2000-2006 (m3 )


(Fonte: ANP - Boletim Mensal de Produção submetido a ANP).

ESTADO DO AMAZONAS ANO ANO


MESES 2005 2006
Janeiro 202.426 177.490
Fevereiro 175.702 153.495
Março 196.980 178.956
Abril 196.304 179.878
Maio 201.278 179.979
Junho 191.112 174.929
Julho 201.166 178.234
Agosto 199.608 178.669
Setembro 187.906 161.013
Outubro 192.687
Novembro 175.751
Dezembro 164.666
Total do ano 2.285.586 1.562.643
20

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

250.000

200.000
metro cúbico

150.000

100.000

50.000

aio
ril

lho
o

to
o
iro

ro
iro

ro
bro
Ab

ro
arç

nh

os
M

tub
Ju

mb
ne

re

mb
Ju

tem
M

Ag
ve
Ja

Ou

ve

ze
Fe

Se

No

De
Mês

Obs.: Gráfico pertencente à tabela 2 – Produção de Petróleo no Estado do Amazonas

1.3.3 - Produção de Gás Natural no Estado do Amazonas

Tabela 3: Produção de gás natural no Estado do Amazonas (terra) – 2000/2006 (103


m3 )/(Fonte: ANP - Boletim Mensal de Produção submetido a ANP).
ESTADO DO AMAZONAS ANO ANO
MESES 2005 2006
Janeiro 309.803 276.912
Fevereiro 278.100 231.515
Março 300.780 277.119
Abril 300.514 297.430
Maio 311.625 292.757
Junho 293.784 296.933
Julho 311.167 303.246
Agosto 311.476 296.921
Setembro 296.746 250.237
Outubro 310.541
Novembro 294.236
Dezembro 248.433
Total do Ano 3.567.205 2.523.070
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

350.000
300.000
250.000
200.000
103 m 3

150.000
100.000
50.000
0
aio
ril

lho
o

o
iro

to

bro

bro
ro
bro
ro

Ab
arç

nh
M

os

tub
ne

Ju
rei

m
Ju

tem
M

Ag
Ja

ve

Ou

ve

ze
Se
Fe

No

De

Mês
21

2 – JUSTIFICATIVAS

A importância econômica da Bacia do Solimões é justificada pela ocorrência de


hidrocarbonetos comerciais, especialmente na sub-Bacia de Juruá. A descoberta da província
gaseífera do Juruá se deu com a perfuração do poço 1-JR-1-AM (Rio Juruá nº.1) e marcou
uma nova era na história do petróleo amazônico.
A partir de 1978, ano da descoberta dessa província, a pesquisa de hidrocarbonetos na
Bacia do Solimões tornou-se significativa, estando representada por levantamentos de linhas
sísmicas, perfis gravimétricos, perfis magnetométricos e aero-magnetométricos, bem como
perfurações de poços estratigráficos e pioneiros. Esse conjunto de dados é, até hoje, objeto de
dissertações de mestrado, teses de doutorado e trabalhos científicos, devido às dificuldades de
integração e interpretação desses resultados.
Esse esforço exploratório foi coroado com a descoberta de 9 campos de gás na
província de Juruá, 5 campos de óleo, gás e condensado na província de Urucu, 1 campo de
gás no Rio Copacá e 2 campos de gás e condensado na província de São Mateus, além de
outras acumulações subcomerciais nessas províncias.
Dentro de uma visão macroeconômica, a Petrobrás planeja desembolsar nos próximos
anos, cerca de US$ 360 milhões para garantir o suprimento de 7,5 milhões de m3 /dia de gás
para a cidade de Manaus/AM, por meio de gasoduto, por um período de 20 anos. Para tal,
pretende-se interligar as províncias de Juruá e São Mateus às unidades de processamento de
gás natural (UPGNs) de Urucu.
Com base nessa prospectiva, pesquisas que venham a contribuir para um melhor
entendimento do potencial petrolífero da Bacia do Solimões são sempre relevantes, na medida
em que novos prospectos exploratórios possam vir a serem identificados.
Todos trabalhos apresentados até hoje sobre a estruturação na Bacia do Solimões
apresentam interpretações de falhas normais e inversas com ângulos de mergulho que variam
de 80º a 90º, conforme ilustram as figuras 4, 5 e 6.
Não é por acaso que as interpretações na Serrania do Interior Venezuelano nos anos 80
(Rossi, 1984), em áreas com prospecção de gás, também apresentam falhas de alto ângulo,
sendo elas falhas inversas ou normais (Figura 7).
Comparando as duas bacias, e no entendimento de que a Serrania do Interior
Venezuelano, desde o ano 1995, começou a ter uma visão de estruturas do tipo duplexes
Castillo (2004), através de interpretações de seções sísmicas, dados de superfície (campo -
mergulho dos contatos de camadas geológicas), em conjunto com calibrações de poços,
22

interpretou as falhas inversas da bacia com ângulos suaves, apresentando níveis de


descolamento basal e estruturas do tipo duplexes (Figura 8). Estes resultados foram
posteriormente confirmados através dos poços que foram perfurados nos últimos anos na área
em estudo.
Sabendo-se que ambas Bacias, do Solimões e do Interior Venezuelano, sofreram
esforços tectônicos compressivos (Bacias Compressivas), mesmo sendo de eventos
geológicos distintos, este trabalho tem como objetivo interpretar a cinemática da deformação
através das falhas de baixo ângulo e possivelmente com níveis de descolamento basal,
utilizando as interpretações dos dados sísmicos requisitados para o trabalho.

Figura 5: Seção Geológica Esquemática da Bacia do Solimões proposta atualmente (Fonte:


Clark, 2002).
23

Figura 6: Interpretação Sísmica da estrutura de idade mesozóica da bacia do Solimões


(tectonismo Juruá). (Fonte Costa, 2002)

Figura 7: Seção Geológica da Serrania do Interior Venezuelana (Fonte: Rossi 1984, segundo
Castillo, 2004).
24

Figura 8: Interpretação do modelo exploratório com falhas inversas de baixo ângulo na


Serrania do Interior Venezuelano (Fonte: Castillo, 2004).
25

3 – OBJETIVOS

O principal objetivo desse Trabalho de Conclusão de Curso é o estudo da relação entre


alinhamentos estruturais verificados na Bacia do Solimões, em especial na sub-Bacia do
Juruá, e das trapas estruturais passíveis de conter acumulações comerciais de hidrocarbonetos.

Os objetivos específicos podem ser assim resumidos:

• Definir as trapas capazes de conter hidrocarbonetos através da ni terpretação dos


dados sísmicos;
• Compreender o modelo estrutural da sub-Bacia do Juruá, com o objetivo de
propor uma evolução de eventos tectônicos associados com a deformação Pré-Andina. Pois o
entendimento da evolução tectono-sedimentar da Bacia do Solimões apresenta grande
importância na exploração de hidrocarbonetos;
• Construir um modelo sintético 2D com objetivo de definir a direção exata da
deformação;
• Gerar um modelo de acumulação para a Área Estudada, através das
interpretações dos dados sísmicos com ângulo de rampa mais suaves;
• Calcular valores de encurtamento e ângulo da falha dos níveis de descolamento
regional (basal) e secundários;
• Verificar a cinemática da deformação;
• Principalmente, utilizar os softwares relacionados a geologia do petróleo,
principalmente os usados como metodologia deste trabalho.
26

4 – DADOS, METODOLOGIAS E ETAPAS DE TRABALHO

4.1 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS – M ETODOLOGIAS E CONCEITOS

4.1.1 – Sismograma Sintético

De acordo com Costa & Silva (2005), o exercício de quantificação de erros e


sensibilidade da variação de parâmetros em geociências é muito difícil de ser realizado, sendo
necessário simplificações nos dados e nos programas que serão testados. Com este problema
em mente, algo que deve ser pensado é: Que tipo de dado será utilizado para testar o problema
proposto? A resposta mais simples para esta pergunta está na construção de um modelo onde
todos os parâmetros sejam conhecidos, de forma que, depois de processado o dado, o erro
encontrado na busca dos parâmetros possa ser calculado a partir do conhecimento anterior do
valor real.
O dado sísmico sintético (Figura 9) foi criado a partir de uma ferramenta do consórcio
SW3-D (abreviação do inglês Seismic Waves in complex 3-D structures) chamada anray
(Anray, 2002), abreviado do termo em inglês anisotropic ray (raio anisotrópico). Este
aplicativo utiliza o método de traçado de raio, simula anisotropia e inclui efeitos de
heterogeneidade para a geração de dados na forma de tempos de trânsitos e amplitudes
sísmicas (Costa & Silva, 2005).

Figura 9: Sismograma sintético, elaborado a partir


de registros sônico e densidade (Leonel et al., 2006).
27

4.1.2 – Calibração de dados sísmicos

Conforme Castillo (2005), este processo inicia-se com a exportação do sismograma


sintético para a seção sísmica, em conjunto com os topos estratigráficos de referência da área.
No caso em que as amplitudes do sismograma coincidam com as amplitudes dos sísmicos,
existe uma boa correlação entre os dados geofísicos diretos (perfis de poços) e os dados
geofísicos indiretos (seções sísmicas).
Isto permite ao intérprete identificar o nível estratigráfico sobre o qual estaria
trabalhando, além de fornecer informação sobre o refletor sísmico com boa amplitude que
será um bom marcador regional facilitando a interpretação seqüencial da área (Figura 25).

4.1.3 – Interpretação de dados Sísmicos

De acordo com Fleck et al. (2003), a visualização de dados sísmicos (Figura 10) é uma
importante ferramenta na pesquisa de reservatórios de hidrocarbonetos e a expressão “dado
sísmico” é utilizada para definir um conjunto de informações oriundas do interior da terra
através de sensores que são sensíveis às vibrações elásticas de partículas da terra, ou
variações de pressão nas partículas da superfície d’água, quando estimuladas por ondas
sísmicas específicas e geradas para as pesquisas de hidrocarbonetos, o que inclui a
diminuição da interferência de ruídos e a seleção de sinais identificados espacialmente por
coordenadas tridimensionais.

Figura 10: Exemplo de Seção Sísmica 2D 0231-0923 (Bacia de Cumuruxatiba), interpretação de


horizontes guias e de falhas representadas na seção (Leonel et al., 2006).
28

4.1.4 – Seção Balanceada

É uma seção que foi reconstruída até seu estado inicial sem deformação, através do
uso de métodos cinemáticos, verificando-se assim a qualidade da seção mediante sua
validação geométrica Lowell (1985, segundo Ferraz, 2004).

4.1.5 – Retrodeformação

Os objetivos consistem na determinação se sua seção está balançada adequadamente e


determinar o cumprimento da seção sem deformação, o que vai permitir calcular seu
encurtamento total devido a regimes compressivos. No entanto, a maior contribuição da
restauração é que ela permite reconhecer erros na elaboração do modelo geológico
(Castillo, 2005).

Para iniciar o processo de restauração da seção geológica, é necessário determinar as


linhas de referencia (pin line) na região não afetada pela deformação (Figura 11). Em
seguida deve-se voltar o bloco levantado (hanging wall) até a posição que corresponda
com seu respectivo bloco sem deformação (foot wall), iniciando-se o processo a partir do
descolamento que está na frente da deformação.

Figura 11: Restauração teórica de uma seção deformada (Castillo, 2005).


29

4.1.6 – Zona Triangular

A zona triangular definida por McClay (1992) tem sua dobra (Fault bend Fold)
controlada pela estruturação com uma ou mais falhas retro-reversas as quais são geradas a
partir do mesmo nível de descolamento basal. Este tipo de estrutura é característico de um
descolamento basal bem dúctil tal como o sal ou outro mineral evaporítico, o que vai permitir
falhar e dobrar a seqüência sedimentar superior (Figura 12).

Figura 12: Zona Triangular Tipo I, proposta por McClay (1992).

4.1.7 – Fault bend Fold (Dobras por Falhas)

Trata-se de dobras associadas com a mudança do mergulho do plano da falha. Este


tipo de dobra não gera níveis de descolamento na parte superior da dobra, mas sim deforma
a seqüência sedimentar que está sobreposto. A figura 13 apresenta um esquema de
evolução de um Fault bend Fold.
30

Figura 13: Esquema de uma Fault bend Fold e o nível de descolamento inferior.
(Fonte: Castillo, 2005).

4.2 – DADOS UTILIZADOS

Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizados dados públicos fornecidos


pelo Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP)/ (Figura 14) administrados pela
Agência Nacional do Petróleo (ANP), em linhas sísmicas 2D da área (total de cinco linhas)
e dados de poços (total de três poços), conforme ilustra a figura 15.
31

Figura 14: Gama de dados de Sísmica 2D e Poços na Bacia do Solimões – BDEP (Banco de dados
de Exploração e Produção)

Figura 15: Mapa contendo as cinco linhas sísmicas e os três poços selecionados para o pedido
ao Banco de Dados de Exploração e Produção (Fonte: BDEP).
32

4.3 – M ETODOLOGIAS

Para as etapas de trabalho, buscou-se na bibliografia exemplo de trabalhos de


interpretações sísmicas, conforme Vail (1987) o procedimento recomendado para os trabalhos
com interpretação de dados sísmicos é dividido em 7 principais etapas, sendo:

1- Análise sísmica (Interpretação Sísmica).


2- Análise dos dados de poço (Interpretação de Poços).
3- Geração de um sismograma sintético e calibração dos dados sísmicos (Sismograma
Sintético).
4- Análise do caráter sísmico das diferentes litologias.
5- Interpretação dos diferentes ambientes deposicionais e diferentes litofácies.
6- Gerar um modelo sísmico (Modelo Exploratório).
7- Interpretação final

Neste trabalho não foi utilizados as metodologias numeradas 4 e 5 (tachado) e foram


acrescentados as metodologias de balanceamento de seções, modelo em profundidade e
retrodeformação de seções propostos por Castillo (2005) e geração de mapas estruturais em
tempo dos topos das formações.

4.4 – ETAPAS DE TRABALHO

Para alcançar os objetivos propostos, realizou-se as seguintes etapas de trabalho:

• Sínteses envolvendo os seguintes temas relativos à Bacia do Solimões: geologia


regional, estratigrafia, tectônica, estrutural, poços perfurados, geofísica, dados econômicos,
exploratórios e de conceitos metodológicos;
• Síntese da evolução tectônica Fanerozóica Andina e Pré-andina;
• Geração do banco de dados no Laboratório de Integração de Dados Sísmicos e
Geológicos (LISG), no software Geographix (dados de poços, linhas sísmicas e dados
bibliográficos);
33

• Calibração e impressão dos poços com objetivo de interpretação de litofácies


com o software MATLAB;
• Após a calibração dos poços, com ajuda da bibliografia, estes foram
interpretados em papel. Em seguida foi selecionado o poço para o uso padrão, no poço
selecionado (poço padrão) os dados de velocidade e densidade foram transferidos para o
programa SynTool (módulo Openworks) para geração de um sismograma sintético;
• Definição dos refletores guias indicativos dos contatos das formações (topo e
base) no sismograma sintético;
• Calibração do sismograma sintético com a linha sísmica mais próxima do poço
padrão, com mesma escala de tempo tanto na linha sísmica quanto no sismograma sintético;
• Interpretação dos dados sísmicos em papel e com o software SeisVision 2D
(módulo da Geographix), delimitando as continuidades e descontinuidades dos contatos entre
as Formações;
• Construção de um modelo de acumulação para a Província Gaseífera/Oleífera de
Juruá;
• Converção da seção sísmica interpretada de Tempo (ms) para Profundidade (m)
– Após a conversão, calculo dos valores de encurtamento e ângulo da falha;
• Cinemática de deformação - retrodeformação de seção balanceada (em papel).
• Elaboração dos mapas Paleo-estruturais dos topos das Formações Fonte Boa
(Eo-Permiano), carauarí (Rocha Selante), Juruá (Rocha Reservatório) e Prosperança (Pré-
Cambriano);
• Interpretação dos Resultados Finais, e
• Conclusões.
34

5 - GEOLOGIA REGIONAL

5.1 - ARCABOUÇO ESTRATIGRÁFICO

O arcabouço estratigráfico Fanerozóico da Bacia do Solimões atinge, em sua porção


mais espessa, cerca de 3.800m de profundidade, conforme ilustrado na Figura 16. A coluna
estratigráfica pode ser dividida em duas grandes seqüências de primeira ordem: uma
paleozóica, contendo rochas que se estendem do Ordoviciano ao Permiano, e outra
mesozóica-cenozóica, de caráter vulcano-sedimentar (Eiras et al., 1994).
As rochas sedimentares da Bacia do Solimões foram formalizadas por esses autores
pelo Grupo Purus (pré-Cambriano) que contém a Formação Prosperança e o Embasamento
Cristalino, pela seqüência Ordoviciana que abrange a Formação Benjamin Constant, pela
seqüência Devoniana (Siluriano superior- Devoniano - Carbonífero Inferior) que apresenta a
Formação Jutaí (membro Biá) e o Grupo Mari-mari (Formação Jandiatuba, Formação Uerê,
Membro Jaraqui e Membro Urucu-Arauá) e finalmente pela seqüência Permo-Carbonífero
(Carbonífero superior - Permiano inferior) representada pelo Grupo Tefé (formações Juruá,
carauarí e Fonte Boa).
A seção pós-paleozóica resume-se ao Grupo Javari, o qual é constituído pela
Formação Alter do Chão (Cretáceo Superior) e pela Formação Solimões (Paleógeno –
Neógeno, antigo Terciário).
35

Figura 16: Coluna Litoestratigráfica da Bacia do Solimões (Fonte: Eiras et al., 1994).
36

5.1.1 - Formação Prosperança (Grupo Purus)

De acordo com Silva (1987), esta formação restringe-se à porção ocidental da Bacia
do Solimões, próximo à região do Arco de Purus, sendo mais expressiva na Bacia do
Amazonas. O sedimento desta formação ocorre abaixo da profundidade de 2900m do poço
Juruá nº 1 (1 – JR – 1 – AM).
As litologias mais freqüentes são conglomerados formados por seixos de quartzitos,
quartzo e riólitos com diâmetros vaiando de 1 a 25 cm; apresentando também alguns argilitos,
folhelhos e siltitos areno-argilosos. Os sedimentos apresentam coloração escura devido os
grãos serem recobertos por uma película ferruginosa. Os arenitos desta formação apresentam
uma composição entre 80 e 95% de quartzo, 5 a 20% de feldspatos e traços de muscovita,
biotita e minerais pesados. Devido à presença de Feldspatos, apresenta valores elevados de
unidade API nos perfis de GR (Raio Gamma), anomalia esta facilmente interpretadas nos
perfis.
A Formação Prosperança pode alcançar uma espessura de aproximadamente 5000
metros, e tem como contato superior discordante com as Formações Uerê, Urucu e Juruá
(discordância angular) e no Arco de Purus chega a fazer contato com a Formação carauarí.
Formada após a colisão do Arco de ilhas Rio Negro-Jurema com o Cráton Amazônico,
sendo os sedimentos depositados em grábens, por sistemas fluvio-deltáicos que adentraram no
sistema lacustre.

5.1.2 - Formação Benjamin Constant

De acordo com Silva (1987), a seção-tipo desta formação é encontrada no intervalo de


1075 a 1142 metros no poço Benjamin Constant nº 1 (2-BT-1-AM), aproximadamente à 3 km
da cidade de Benjamin Constant. Sendo a seção-de-referência o intervalo de 2540 a 2625
metros no poço Jandiatuba nº 1 (1-JD-1-AM). Esta formação datada como Ordoviciano
através da existência de microfósseis do grupo Acritarca.
As litologias presentes nesta formação são arenitos quartzosos com granulometria
variada, mal selecionados e com cimento silicoso; apresentam tanto estratificações plano-
paralelas como cruzadas de baixo ângulo na porção basal. Os folhelhos, menos comum nesta
formação, são micromicáceos, carbonosos, laminados, com presença de pirita e níveis silticos
e apresentam altos valores de densidade no perfil FDC.
37

A Formação Benjamin Constant pode chegar a uma espessura de aproximadamente 93


metros (poço: 2-BT-1-AM) e tem como contato inferior o embasamento cristalino (hiato de
tempo) e contato superior com a Formação Jandiatuba e o Membro Biá.
A deposição dos sedimentos desta formação foi por processo trangressivo (subida no
Nível Relativo do Mar – NRM), num ambiente marinho praial (areias litorâneas).

5.1.3 - Formação Jutaí (membro Biá)

De acordo com Silva (1987), a Formação Biá, hoje classificada como Formação Jutaí
tem como seção-tipo o intervalo entre 1802 a 1870 metros no poço Rio Biá nº 1 (1-RBI-1-
AM) e sua seção-de-referência se encontra no intervalo de 1152 a 1177 metros no poço
Eirunepé nº 1 (2-EP-1-AM).
Possui uma variada litologia, como arenitos grosseiros a conglomeráticos, quartzosos,
mal selecionados e com intercalações de siltitos (micromicáceos piritosos) e/ou folhelhos
(micáceos, micropiritosos e silticos) em sua porção médio-basal. Na sua porção superior
ocorre arenito fino a muito finos, geralmente argilosos e com intercalações de folhelhos
(carbonosos silticos) e/ou dolomitos (com pequenos nódulos fosfáticos).
A Formação Jutaí pode chegar a uma espessura de 68 metros (poço: 1-RBI-1-AM) e
faz contato inferior com a Formação Benjamin Constant e o Embasamento Cristalino,
superior e lateral com a Formação Jandiatuba e apenas superior com a Formação Uerê.
O sedimento desta formação foi depositado durante um evento transgressivo dominado
por ondas e ressurgência num ambiente marinho proximal.

5.1.4 - Grupo Mari-mari

5.1.4.1 - Formação Jandiatuba

Conforme Silva (1987), a Formação Jandiatuba esta contida apenas na Sub-Bacia do


jandiatuba e que representa a fácies marinha distal das Formações Biá, Uerê e parte inferior
da Formação Juruá. No Frasniano depositaram-se nesta sub-bacia do Jandiatuba folhelhos
negros ricos em matéria orgânica, que são um dos importantes níveis geradores de
hidrocarbonetos da unidade.
38

A seção-tipo representativa da Formação Jandiatuba se encontra entre os intervalos de


2218 a 2509 metros no poço Jandiatuba nº 1 (1-JD-1-AM) e sua seção-de-referência ocorre
entre os intervalos de 2073 a 2525 metros no poço Juta nº 2 (1-JT-1-AM).
Sua litologia é comumente argilosa, apresentando dois tipos de folhelhos. Um
micropiritoso, siltico, com laminação incipiente e baixo teor de matéria orgânica. E outro
carbonoso, também piritoso, micromicáceo, com boa laminação e alto teor de matéria
orgânica. Estes folhelhos apresentam altos valores de GR (Raio Gamma), entre 120 e 160 API
e densidades em torno de 2,45 gr/cm3 .
Secundariamente ocorrem siltitos arenosos, micropiritosos, arenitos finos a muito fino
e argilosos. Sua espessura máxima é aproximadamente 328 metros (poço: 1-JT-2-AM) e faz
contato inferior discordante com a Formação Uerê e o Membro Biá, superior concordante
com a Formação Juruá e contato lateral com a Formação Uerê e o Membro Biá.
Os sedimentos foram depositados num ciclo transgressivo na porção basal e regressivo
na porção superior num ambiente deposicional marinho (Alto teor de carbono orgânico).

5.1.4.2 - Formação Uerê

Silva (1987) caracteriza a Formação Jutaí como depósitos de sedimentos glaciais


Fameninano na Bacia do Solimões e por ter uma fauna endêmica de espongiários extintas pela
glaciação (frasniano – Fameninano). Sua seção-tipo ocorre entre os intervalos de 2030 a 2122
metros no poço Uerê nº 1 (1-EU-1-AM) e sua seção-de-referência é o intervalo de 2788 a
2900 metros no poço Rio Juruá nº 1 (1-JR-1-AM).
Tem como litologia rochas silicosas com material argiloso; espiculitos1 acamados,
com espículas de esponjas silicosas, densos, com elevados valores de resistividade e baixo
valor de radioatividade; os folhelhos silicosos apresentam micro-piritas e espículas de
esponjas gradando para porcelanitos2 argilosos com fraturas conchoidais.
A Formação Jutaí pode alcançar uma espessura máxima de 160 metros e faz contato
inferior discordante com o embasamento cristalino e com a Formação Prosperança,
concordante com o Membro Biá e transicional com a Formação Juruá. Seu contato superior é
discordante com a Formação Juruá e concordante com a Formação Jandiatuba e com o
Membro Jaraqui.
A deposição dos sedimentos desta formação foi por efeitos da glaciação num ambiente
marinho raso (Clima Seco e Frio).
39

5.1.4.3 - Membro Urucu-Arauá

O membro Urucu tem como seção-tipo o intervalo de 2062 a 2638 metros no poço Rio
urucu nº 1 (1-RUC-1-AM) e como seção-de-referência o intervalo de 2510 a 1548 metros no
poço São Raimundo nº 1 (2-SR-1-Am). É datada de frasniano devido à presença de espículas
de esponjas para a datação.
Como litologias apresenta arenitos quartzosos e feldspáticos, médios a grosseiros, bem
selecionados e com boa porosidade. Os folhelhos são micáceos, bioturbados, com
intercalações de arenito fino e siltitos, com forma de leito e com estruturas ondulares. Os
espiculitos são leitosos, com espículas de esponjas, fraturamento conchoidal e bordas
cortantes.
De acordo com Silva (1987), o Membro Urucu teve duas principais áreas fontes,
fazendo contato inferior discordante com a Formação Prosperança e o Embasamento
Cristalino, e contato lateral e superior concordante gradativo com a Formação Uerê.
Depósitos formados por barras de maré ou bancos costeiros num ambiente marinho.

5.1.4.4 - Membro Jaraqui

O Membro Jaraqui, antes denominada por Silva (1987) como Formação Jaraqui,
apresenta sua seção-tipo entre os intervalos de 2743 a 2768 metros no poço Jaraqui nº 1 (1-JI-
1-AM) e seção-de-referência no intervalo entre 2073 a 2104 metros no poço Fonte Boa nº 1
(1-FB-1-AM).
.

1 - Espiculito: rocha silicosa em que o arcabouço é sustentado por espículas de esponjas com
fratura conchoidal e bordas cortantes;
2 - Porcelanito: Rocha cinza, dura, com alta densidade, apresentando textura e fratura de
porcelana desvitrificada, podendo gradar para folhelhos silicosos.
40

Os arenitos se apresentam grosseiros, com composição quatzo-feldspatica, mal


selecionados, com estratificações plano-paralelas/cruzada/tabular e com porosidade fechada.
Como litologias aparecem diamictitos com matriz siltico-argilosa, maciços,
micromicáceos, piritosos e com clastos variados (quartzo, quartzito, folhelho e magmáticas);
pode ter a presença de Tilitos; argilitos com seixos pingados; folhelhos bem laminados,
micromicáceos, carbonosos e raramente fossilíferos.
Sua espessura pode chegar a 50 metros e faz contato superior concordante com a
Formação Juruá e lateralmente com a Formação Uerê. A presença de tilitos (folhelhos com
seixos pingados) sugere uma deposição em ambiente marinho glacial.

5.1.5 - Grupo Tefé

5.1.5.1 - Formação Juruá

Formação importante para a prospecção de hidrocarbonetos, onde foi pioneira a


exploração de petróleo pelo poço Juruá nº 1 (1-JR-1-AM). Sendo a Formação Juruá a
principal rocha reservatório da bacia. Sua seção-tipo se encontra no intervalo entre 2626 a
2746 metros no poço Juruá nº 1 e a seção-de-referência entre o intervalo de 2160 a 2247
metros no poço Norte do Pupunha (1-NPN-1-AM).
São classificados quatro diferentes tipos litológicos, sendo eles:
• arenitos médios a grosseiros conglomeráticos, mal selecionados, quartzosos
maciços ou com estratificações cruzadas de fácies fluvial;
• arenitos finos a muito finos, maturos, bem selecionados, bimoidal, com
estratificações cruzadas e marcas onduladas de fácies eólicas e interdunas;
• arenitos silticos, associados a folhelhos, maciços e/ou laminados e com
estratificações cruzadas de fácies de lobos de suspensão;
• folhelhos maciços e/ou interlaminados, com siltitos e/ou arenitos finos,
apresenta bioturbações, gretas de ressecamento, diques de arenito e módulos de
anidrita. Litologia esta de fácies de fundo lacustre. Estruturas tipo climbing,
hummocky e flasers são encontrados nos arenitos desta formação.
A espessura máxima pode chegar próxima a 122 metros e faz contato inferior
concordante com a formação Jandiatuba e discordante com esta mesma formação nas bordas
41

N-S da Bacia; contato inferior concordante com o Membro Jaraqui e discordante com as
Formações Uerê, Urucu e Prosperança. O contato superior é concordante com a Formação
carauarí.
A deposição os sedimentos se deu após a glaciação, numa subida relativa do nível do
mar (deposição típica de maré – barra e canal de maré) num ambiente marinho. São
classificadas quatro fácies sedimentares, fluvial, eólico, de suspensão e lacustre. (Silva, 1987).

5.1.5.2 - Formação carauarí

A Formação carauarí é marcada pela presença de carbonatos e evaporitos, tendo sua


seção-tipo no intervalo entre 1570 a 2552 metros no poço carauarí nº 1 (1-CI-1-AM)
excluindo os 122 metros de corpos intrusivos básicos e sendo completada pelo intervalo entre
1218 a 1480 metros no poço Juruá nº 2 (3-JR-2-AM). Sua seção-de-referência se apresenta no
intervalo entre 1527 a 3120 metros no poço Rio Tefé nº 1 (1-RT-1-AM), excluindo os 349
metros de corpos intrusivos básicos (diabásio).
Para melhor descrever as litologia desta formação, Silva (1987), dividiu-a em 6 ciclos
separados por marcos radioativos e elétricos. Sendo:
CICLO I: Anidrita gredosa/sacaroidal, com filmes de argila e carbonatos, com
bioclastos peloidais, apresenta matriz micrítica e possivelmente recristalizadas; Os folhelhos
são carbonosos, calcíferos, piritosos e duros; Os arenitos deste ciclo que pode chegar a 65%
da seção foram separados em 3 diferentes tipos. (I) Arenito médio, bem selecionado,
quartzoso, com cimento carbonático e anidritico apresentando rosetas de anidrita; (II) Este
arenito se diferencia do arenito (I) por ser subarredondado, mal selecionado e pouco poroso,
localizado entre as camadas de anidritas (excelente isócronos), apresenta gás sulfídrico em sua
porosidade; (III) Arenito quartzoso, de médio a fino, com cimento calcíferos, é o mais
expressivo em área e espessura e é limitado por camadas de anidritas.
Pode-se ocorrer neste ciclo carbonatos finos, com raros fósseis e argilosos e também
halitas hialina com agulhas de anidritas (o sal é bem evidenciado pelo perfil sônico e
apresenta alta porosidade);
CICLO II: é caracterizada por 2 principais camadas de halitas, podendo também
conter anidritas gredosas e semiduras; carbonatos calcissiltíticos, com raros fósseis, argilosos
e dolomitizados; folhelhos carbonosos, calcíferos, sílticos e semiduros e dolomitos com
42

porosidade vugular. Neste ciclo inicia-se a transgressão marinha que deu inicio a
sedimentação evaporítica;
CICLO III: carbonatos micriticos e calcissiltíticos e carbonatos bioclásticos com
feições de ressecamento e matriz calcissiltitica;
CICLO IV: Sub-Bacia do Jandiatuba à Carbonatos argilosos, de médio a fino, com
matriz micrítica, dolomitizados, apresenta porosidade vugular e com bioclastos a peloidais;
Calcissiltitos recristalizados, dolomitizados e duros; e anidritas gredosas e semiduras.
Sub-Bacia do Juruá à Anidritas hialinas, gredosas e semiduras; folhelhos calcíferos e
micropiritosos; e halitas hialinas com pequenas espessuras;
CICLO V: Sub-Bacia do Jandiatuba à Calcarenitos fino a médio, com porosidade
vugular, presença de bioclastos e matriz calcilutítica; Calcilutitos; Dolomitos porosos; e
folhelhos calcíferos, carbonosos, micropititosos e maciços.
Sub-Bacia do Juruá à Halitas e Anidritas,
CICLO VI: 45% da seção são terrígenos, com a presença de siltitos silicificados e
arenosos; e folhelhos silticos e calcíferos. Sedimentação carbonática-evaporítica apresenta
carbonatos micríticos, argilosos, recristalizados, dolomitizados e piritosos; anidritas leitosas,
gredosas e semiduras; e halitas hialinas.
A Formação carauarí pode alcançar a espessura de 1220 metros (no trend do Juruá) e
faz contato inferior discordante com as Formações Prosperança, Uerê, Jandiatuba e com o
Embasamento Cristalino; contato inferior concordante com a Formação Juruá. Faz contato
superior gradacional com a Formação Fonte Boa e discordante com a Formação Alter do
Chão. Os contatos laterais são com as Formações Iatatuba e Nova Olinda (Bacia do
Amazonas).
Os sedimentos desta formação foram depositados por baixa energia (supramaré,
intermaré alta, intermaré baixa e inframaré) num ambiente marinho restrito (bacia evaporítica,
rasa e isolada do mar). No ciclo VI inicia-se uma regressão marinha que culminou na
completa continentalização da Bacia do Solimões.

5.1.5.3 - Formação Fonte Boa

É classificada sua seção-tipo no intervalo entre 583 a 827 metros no poço Fonte Boa nº
1 (1-FB-1-AM) e sua seção-de-referência no intervalo entre 1109 a 1527 metros no poço Rio
Tefé nº 1 (1-RT-1-AM), excluindo 83 metros de rocha básica.
43

As litologias presentes nesta formação é bastante variada, tendo siltitos arenosos;


siltitos calcíferos, maciços e silicificados; folhelhos calcíferos, laminados e intercalados com
siltitos e arenitos finos a muito finos; anidritas gredosa, argilosa com filmes de argila; halitas;
carbonatos micríticos e recristalizados.
Esta formação de idade Neo-Permiano pode chegar a uma espessura de 377 metros
(poço: 1-RT-1-AM), fazendo contato inferior concordante e gradativo com a Formação
carauarí e contato superior discordante com a Formação Alter do Chão e/ou com a primeira
soleira de diabásio.
Os sedimentos desta formação foram depositados por fluxos de águas salinas num
ambiente lacustre.

5.1.6 - Grupo Javari

5.1.6.1 - Formação Alter do Chão

A Formação Alter do Chão foi introduzida por Kistler (1954, segundo Silva, 2005)
para os sedimentos vermelhos inconsolidados verificados na perfuração (1-AC-1-PA) na
região de Alter do Chão (PA), margem direita do Rio Tapajós, Caputo (1971, segundo Silva,
2005). Compreende arenitos finos a médios, argilosos, cauliníticos, inconsolidados, contendo
grânulos de seixos de quartzo esparsos, geralmente com estratificação cruzada. Os sedimentos
argilosos são vermelho-tijolo, laminados, contendo lentes de areia irregularmente distribuída.
Os conglomerados são constituídos por seixos de quartzo e arenito silicificado e constituem
paleocanais na base de bancos de arenito. Distribui-se de leste a oeste nas bacias do
Amazonas e Solimões, cuja espessura pode alcançar cerca de 1.250 m.
Essa formação sobrepõe em discordância a Formação Solimões. O contato com os
depósitos quaternários ao longo do sistema do Rio Amazonas é abrupto, onde tais sedimentos
são cobertos por sedimentos finos e bem consolidados. De acordo com Dino (1999, segundo
Silva, 2005), essa formação possui duas seqüências deposicionais: uma inferior (Neo-Alagoas
a Albiano) caracterizada por sedimentos terrígenos de sistemas fluviais meandrantes que
evoluíram para anastomosados com retrabalhamento eólico; e outra superior (Cenomaniano)
constituída por ciclos progradacionais flúvio-deltáicos-lacustres.
44

5.1.6.2 - Formação Solimões

A Formação Solimões corresponde à época de soerguimento da cadeia Andina no


Paleógeno. Esse fato possibilitou a deposição de pelitos com restos de conchas e moluscos e
vegetais por compensação isostática, que mal ultrapassou o Arco de Purus e avançou na Bacia
do Amazonas Cunha (1994). Essa unidade está composta por argilitos, vermelho e cinza, com
camadas de conchas e linhito, muito rica em fósseis vegetais e animais (troncos, folhas,
carófitas, ostracodes, escamas, dentes e ossos) que se distribuem amplamente na Amazônia
ocidental, desde o Acre até o limite oeste da Bacia do Amazonas. Com espessura que pode
alcançar 980 m, essa unidade está em discordância com a Formação Alter do Chão.
Predomina o ambiente de deposição do sistema fluvial a fluvial-lacustrino com característica
de estuário influenciado por condições marinhas marginais Hoorn (1993, segundo Silva,
2005).
De acordo com Hoorn (1995, segundo Silva, 2005), a história deposicional nesse setor
da Amazônia foi fortemente influenciada pelo soerguimento da Cordilheira Oriental durante o
Mioceno. O efeito da edificação dos Andes Orientais, no Mioceno tardio, causou a mudança
do curso do paleoorinoco, o estabelecimento da conexão do Rio Amazonas para o Atlântico e
o fechamento da conexão marinha do Rio Amazonas com o mar do Caribe via Rio Orinoco.

5.2 – M AGMATISMO NA BACIA DO SOLIMÕES

Ocorrem, ainda, intrudidos na seqüência permocarbonífera, corpos de diabásio,


datados de aproximadamente 200 Ma (Triássico), correlacionados ao evento magmático
Penatecaua (Eiras, 1998).
De acordo com Silva (1987), são denominadas três principais soleiras de diabásio:
• primeira soleira - localizada na porção mediana da Formação Fonte Boa (na
seção clástica);
• segunda soleira – localizada na porção mediana da Formação carauarí na sub-
Bacia do Juruá e Alto do carauarí e na porção basal da Formação Fonte Boa na
sub-Bacia do Jandiatuba, geralmente nas camadas de Anidritas e Carbonatos, e
• terceira soleira – localizada também na porção mediana da Formação carauarí,
em níveis de halita.
Diversos autores apresentam que as intrusões das soleiras de diabásio na Bacia do
Solimões foi de extrema importância na maturação da matéria-orgânica para a geração de óleo
45

e gás, auxiliando também na migração e trapeamento dos hidrocarbonetos encontrados na


área.

5.3 - ARCABOUÇO ESTRUTURAL E TECTÔNICA DA REGIÃO AMAZÔNICA

O Embasamento Cristalino que sustenta as bacias paleozóicas da região Amazônica é


entendido conforme dois modelos geotectônicos: a Compartimentação Geotectônica do Brasil
em Blocos Crustais (Figura 17) de Hasui (1984); e as Províncias Geocronológicas ou
Províncias Tectônicas do Cráton Amazônico (Figura 18), Cordani (1984) e Tassinari (2000).
O modelo de Compartimentação Geotectônica do Brasil ou Blocos Crustais mostra
que a região Amazônica está constituída por blocos crustais. Os blocos, também designados
de paleoplacas, são formados internamente por terrenos granito-greenstone limitados por
cinturões de cavalgamentos e transcorrências decorrentes de processos colisionais Costa &
Hasui (1997). Ao longo das descontinuidades preexistentes do embasamento houve reativação
que possibilitou uma série de processos durante a história evolutiva do Cráton Amazônico,
inclusive com a instalação das bacias paleozóicas e influenciando no quadro tectônico atual.
Nesse contexto, a área de estudo está compartimentada nos blocos Baixo Juruá (8) e
Acre (9)/(Figura 17).

Figura 17: Modelos de Blocos Crustais de Hasui (1984, segundo Silva, 2005). Em vermelho se
destaca a área de estudo – Bacia do Solimões.
46

As Províncias Geocronológicas ou Províncias Tectônicas do Cráton Amazônico


(Figura 18) sobre o qual a Bacia de Solimões se implantou é constituído por faixas móveis
proterozóicas, sendo a Província Rio Negro-Jurema e o Cinturão Rondoniano, acrescido a um
núcleo Arqueano, denominada Província Amazônica Central Thomaz Filho (1984, segundo
Silva, 2005). Além dessas rochas ígneas e metamórficas pré-cambrianas, destacam-se rochas
metassedimentares do grupo Purus, depositadas em bacias riftes proterozóicas.
Nos estratos fanerozóicos encontram-se registros dos eventos tectônicos que atuaram
nas placas gonduânicas (Paleozóico) e Sul-Americana (pós-paleozóico), como reflexo
intraplaca de interações ocorridas em suas bordas. Esses fenômenos encontram-se presentes
nas formas de dobras, falhas, arcos, epirogenia e depressões deposicionais, que contribuíram
para a formação e acumulação de óleo, gás e condensado, atualmente conhecidos.
Os processos de abertura do Oceano Atlântico e subducção na porção Andina
promoveram nessa região uma reativação tectônica de caráter cisalhante denominada por
Campos & Teixeira (1988) de Diastrofismo Juruá. O alívio proveniente desse esforço
compressivo resultou na deposição da Seqüência Cretáceo-Terciária porção ocidental da
Amazônia. Essa seqüência é representada pelo Grupo Javari (proposto por Eiras et al., 1994),
é constituído pela Formação Alter do Chão (sedimentos neocretáceos) e pela Formação
Solimões (sedimentos cenozóicos) da Bacia do Solimões.
Conforme Caputo (1985) o esforço compressivo que afetou somente a Formação Alter
do Chão, aponta para um regime compressivo oriundo do setor noroeste. Falhas inversas,
dobras e estruturas transpressivas e transtensivas são amplamente reconhecidas nos perfis
sísmicos das bacias do Solimões e Amazonas, como um fenômeno restrito ao Mesozóico;
enquanto na Bacia do Solimões tais feições afetam as camadas do Paleozóico e as rochas
intrusivas, na Bacia do Amazonas estas deformam a unidade do Cretáceo. Na região da Bacia
do Solimões esta deformação, denominada de Diastrofismo Juruá, é relacionada ao evento
transpressional decorrente da colisão oblíqua entre a Placa Sul-Americana e a Placa de Nazca,
que se iniciou no final do Jurássico.
Silva (2005) descreve mais detalhadamente em sua Tese de Doutorado falhas inversas
aparentemente restritas à unidade do Cretáceo e que apresentam atitude próxima a NNE-SSW,
porém com ângulo de mergulho tanto elevado como suaves. As falhas inversas, que cortam
todo o pacote, variam de N-S/70E, N12E/57SE e N08E/34SE (Figura 19-A). Algumas feições
como leques imbricados compressivos (duplex) são encontrados na Formação Alter do chão
(Cretáceo)/(Figura 19-B)
47

Figura 18: Arcabouço Estrutural da Bacia do Solimões – Cráton Amazônico (Fonte: Tassinari &
Macambira, 1999).
48

Falhas Inversas, normais e transcorrentes são encontradas na área, conforme a figura


19, a área de estudo apresenta falhas inversas de cavalgamento, sendo localizadas através dos
poços 1_RBB_0001_AM, 1_NMR_0001_AM 2 1_IMR_0001_AM. De acordo com Caputo
& Silva (1990), a área de estudo está localizada no trend do Ipixuna, representada por falhas
reversas (transpressionais)/ (Figura 20).

Figura 19-A: Perfil no km 102 da Rodovia AM-010, que mostra leques imbricados compressivos
(duplex) da zona de empurrão que deformam as camadas da Formação Alter do Chão. Presença
de falha com adelgaçamento do flanco e retroempurrão (Fonte: modificado de Silva, 2005).

Figura 19-B: Estruturas tipo DUPLEXES encontrados na Formação Alter do Chão


(Cretáceo) na Região Amazônica, estruturas relacionadas a esforços compressivos.
(Fonte: modificado de Silva, 2005).
49

Figura 20: Mapa Estrutural da área de estudo, localizando-se pelos poços utilizados no
projeto (1_RBB_0001_AM, 1_NMR_0001_AM E 1_IMR_0001_AM).

5.4 – EVENTOS TECTÔNICOS-MAGMÁTICOS-SEDIMENTARES FANEROZÓICOS DAS


BACIAS BRASILEIRAS

Para as datações dos eventos estruturais principais identificados neste trabalho, usou-
se como base bibliográfica, o quadro correlativo entre os principais eventos tectônicos-
magmáticos-sedimentares Fanerozóicos nas bacias brasileiras e suas correlações temporais, de
acordo com Zalán (2004)/ (Figura 21).
Os eventos destacados (eventos 18, 42A, 42B, 42C, 43, 44 e 50), são eventos
relacionados direto e indiretamente com a Bacia do Solimões, os quais foram usados para as
datações dos eventos estruturais identificados nas interpretações das Linhas Sísmicas.
O evento mais importante para o trabalho, é o evento 42 (A-B-C), o qual trata-se da
Orogenia Pré-Andina, em seus estágios inicial e final. A Tectônica Pré-Andina iniciou-se
aproximadamente a 96 Ma. chegando ao seu fim por volta de 65 Ma, abrangendo todo o
intervalo do Cretáceo. Os sedimentos do Cretáceo são representados na Bacia do Solimões
pela Formação Alter do Chão.
50

Figura 21: Eventos Tectônicos-magmáticos-sedimentares Fanerozóicos das bacias brasileiras.


(Fonte: modificado de Zalán, 2004).
51

Tabela 4: Legenda da Figura 21. Em azul (eventos 18, 42, 43, 44 e 50) são destacados
os eventos associados com a Bacia do Solimões.
52

6 - RESULTADOS OBTIDOS

6.1 – INTERPRETAÇÃO DE DADOS DE POÇOS (PERFIS )

Tem como objetivo principal determinar os diferentes tipos de litologias, para


posteriormente separar as formações presentes no perfil, achando os respectivos contatos
entre as mesmas.
Nos Perfis de poços (Figura 22), determina-se as litologias através da associação dos
dados presente do perfil, dados este:
• Perfil de Raio Gamma - GR: serve para determinação da litologia através da
quantificação da radioatividade específica de cada rocha. (folhelho: GR entre
90 – 120; Arenito: GR entre 30 – 60 e Anidrita: GR entre 20 - 40).
• Perfil de Densidade - RHOB: mostra os valores de densidade das litologias
presentes no perfil. A densidade está totalmente ligada a composição
mineralógica da rocha. (Halita: 2,17; Anidritas: entre 2,8 - 2,9; Arenito: entre
2.53 - 2,65 e Carbonatos: entre 2,72 - 2,85).
• Perfil de Raio Sônico - DT: Equipamento que emite um som, mede-se o tempo
de retorno desse som, e com o tempo calcula-se a velocidade da propagação.
Serve para identificação da porosidade da rocha (mais ou menos porosas), em
que quanto maior o raio sônico – maior a porosidade. Serve também para a
estimativa da constante elástica (Folhelho – 80; Anidrita – 60; Arenito – entre
60 e 80).
Nos poços interpretados, as principais litologia encontradas foram: arenito, folhelhos,
anidritas, halitas e carbonatos.
A figura 23 de Becker (1997), serviu de base bibliográfica para a calibração dos níveis
de halitas, pois nesta Seção Estratigráfica encontra-se a interpretação do poço
1_RBB_0001_AM, mesmo dado de poço utilizado do projeto na determinação das litologias e
dos contatos entre as formações e o mesmo que serviu de base para a geração do Sismograma
Sintético.
53

Figura 22: Dados de Poços diponíveis do BDEP (Raio gamma, Sônico e Densidade – Poço
1_NMR_0001_AM – Bacia do Solimões)

Figura 23: Seção Estratigráfica Oeste/Leste – Sequência Permocarbonífera – Bacia do


Solimões, Norte do Brasil (Becker, 1997).
54

6.2 - SISMOGRAMA SINTÉTICO

Após a interpretação em papel dos dados de poços (separando os contatos entre as


formações Prosperança, Juruá, carauarí, Fonte Boa e Alter do Chão/Solimões), gera-se o
sismograma sintético, que é a interpolação dos valores de Sônico e Densidade que são
1
encontrados nas descrições dos poços provenientes do BDEP (Figura 24-A). O Sismograma
Sintético é gerado através dos dados do poço selecionado como padrão para a área de estudo
(Figura 24-B).
O objetivo principal do sismograma sintético é a calibração dos dados de poço
(contatos, litologias e etc.) com o dado sísmico (em tempo), indicando quais os refletores
guias para os contatos entre formações e/ou litologia diferentes.

6.3 - SISMOGRAMA SINTÉTICO + LINHAS SÍSMICA - CALIBRAÇÃO

Após a Geração do Sismograma Sintético, determina-se com ajuda da interpretação


dos topos e bases de formações por estratigrafia de poço (Raio Gamma, Densidade Nêutron e
Sônico), separa-se os contatos entre as formações presentes, e cada contato é representado por
um refletor sísmico marcante. Com o sismograma pronto e os contatos já marcados, plota-se o
sismograma sobre a linha sísmica mais próxima do poço padrão, o mais próximo das
coordenadas reais, ajustando-os na mesma escala de tempo (ms)/(Figura 25).
Posteriormente, interpreta-se sua continuidade ao longo das linhas (pelos refletores
sísmicos). Esta etapa do trabalho tem como objetivo principal identificar contatos entre
formações, litologias com uma resposta sísmica marcante e outras características, para que
sejam interpretadas as suas respectivas continuidades, descontinuidades e geometria tanto na
linha selecionada para plotagem do sismograma como nas demais linhas próximas, paralelas
e/ou perpendiculares à linha selecionada.

1 - BDEP = Banco de Dados de Exploração e Produção.


55

Figura 24-A: Geração do Sismograma Sintético Figura 24-B: Sismograma Sintético do poço
– Interpolação do Raio Sônico + a Densidade. padrão selecionado (Poço 1RBB_001_AM).
56

Figura 25: Linha Sísmica calibrada com o sismograma sintético. Mesma escala de tempo entre a linha sísmica e o sismograma sintético (Linha 395).
57

6.4 – INTERPRETAÇÃO E VISUALIZAÇÃO DOS DADOS SÍSMICOS

As interferências de ruídos foram apenas identificas neste trabalho próximo as falhas e


discordâncias das Linhas 391, 392, 393 e 395.
Determinados os refletores-guias para identificação dos contatos das formações,
interpreta-se a continuidade desses refletores nas demais linhas sísmica (paralelas ou
perpendicular à linha calibrada com o sismograma sintético). Também se interpreta as
descontinuidades, como falhas e discordâncias presentes nas seções.
Pode-se também identificar discordâncias erosivas, as quais servem de guias para as
datações, como, por exemplo, à discordância do cretáceo, separando a Formação Fonte Boa
(Permiano) da Formação Alter do Chão (Cretáceo)/(Figuras 26, 27, 28 e 29).
A interpretações das linhas sísmicas são primeiramente interpretadas impressas em
papel para uma melhor visualização, sendo interpretada mais detalhadamente à frente, no
Software SeisVision (GeoGraphix - Landmark®).

6.4.1 – Interpretação das Linhas Sísmicas 391, 392 e 393

Nas linhas sísmica 391 (Figura 26), 392 (Figura 27) e 393 (Figura 28), paralelas entre
si, podemos identificar dois níveis de descolamento basal distintos, um entre as formações
Prosperança (Pré-cambriana) – Juruá – Carauarí (ambas Neocarbonífero) e outro apenas na
Formação Carauarí (Neocarbonífero). De acordo com as interpretações, notou-se que os
níveis de descolamento basal geram um modelo cinemático de zona triangular do tipo I de
McClay (1992), em que um nível de descolamento do mesmo evento compensa o outro pela
cinemática, por isso a interpretação de duas falhas inversas do mesmo nível de descolamento
com mergulhos opostos, gerando dois altos estruturais (dobras anticlinais – Fault bend Fold)
nas bordas e um baixo estrutural no centro.
Esses níveis de descolamento basal são níveis com certa plasticidade, geralmente com
litologias evaporíticas e de folhelhos de alta pressão. Essas litologias facilitam o descolamento
do pacote sedimentar superior gerando movimentação (falhas). Neste trabalho os níveis de
descolamento basais são interpretados como falhas inversas (falhas de empurrão), com
duplicações das camadas afetadas pela tectônica compressiva.
Além desses níveis de descolamento, pode-se observar falhas inversas que deformam
desde o pacote Carbonífero (Formação carauarí e Fonte Boa) até o sedimento Cretáceo da
Formação Alter do Chão.
58

Os pacotes sedimentares afetados pela tectônica, de acordo com as interpretações das


linhas sísmicas, apresentam estruturas como Fault bend Fold (Dobra por falha), que são
dobras anticlinais geradas devido a esforços compressivos na bacia associados às falhas
inversas, que no caso são os níveis de descolamento basal.
São interpretadas três discordâncias nestas linhas sísmicas, uma em meio a Formação
carauarí que serviu de base para as interpretações do modelo estrutural da área, mais
precisamente para a interpretação do nível de descolamento basal da Formação carauarí, outra
discordância no contato entre as formações carauarí e Fonte Boa e por ultimo, uma
discordância no pacote sedimentar da Formação Alter do Chão.

6.4.2 – Interpretação da Linha Sísmica 394

Devido a problemas apresentados na Linha 394 (problemas na aquisição ou no


processamento – Linha Sísmica Invertida), esta mesma não pode ser aproveitada para estudo.
Conseqüentemente não fora interpretado e apresentado no trabalho.

6.4.3 – Interpretação da Linha Sísmica 395

A linha sísmica 395 (Figura 29) se encontra perpendicular às linhas 391, 392 e 393.
Nesta linha podemos observar perpendicularmente o modelo cinemático de zona triangular do
tipo I de McClay (1992) apenas em seu flanco esquerdo. Pode-se também observar as três
discordâncias interpretadas sub-horizontais, os dois níveis de descolamento basal, além das
falhas inversas secundárias e a Dobra por Falha (Fault Bend Fold).
60

Figura 26: Linha Sísmica interpretada – Linha 391 (paralelo a direção de encurtamento). Software SeisVision – GeoGraphix (Landmark®).
61

Figura 27: Linha Sísmica Interpretada – Linha 392 (paralelo a direção de encurtamento). Software SeisVision – GeoGraphix (Landmark®).
62

Figura 28: Linha Sísmica Interpretada – Linha 393 (paralelo a direção de encurtamento). Software SeisVision – GeoGraphix (Landmark®).
63

Figura 29: Linha Sísmica Interpretada – Linha 395 (perpendicular a direção de encurtamento). Software Seis Vision – Geographix (Landmark®).
64

6.5 - M ODELO DE ACUMULAÇÃO PROPOSTO

O modelo proposto é o visualizado na interpretação da seção sísmica 391 (Figura 26),


no qual são separadas as Formações Prosperança, Juruá, carauarí, Fonte Boa e Alter do
Chão/Solimões, apresentando dois níveis de descolamento basal, sendo um na Formação
Prosperança e outro na Formação carauarí, e uma zona triangular do Tipo I, definida por
McClay (1992).
Nesta proposta as falhas inversas apresentam ângulos suaves (Figura 30),
diferentemente do modelo que apresenta falhas com mergulho de alto ângulo, conforme
ilustra a figura 5 da seção geológica da Bacia do Solimões, o modelo de acumulação (Figura
4) ambos propostos atualmente pela Petrobrás (Clark, 2002) e a Interpretação Sísmica de
falha inversa (Figura 6 – Costa, 2002),

• Rocha Reservatório – Arenitos da Formação Juruá (amarelo);

• Rocha Selante – Evaporítos da Formação carauarí (rosa);

• Trapa – Nível de descolamento na Formação Prosperança – Formação


de Dobra por Falha (Fold bend Fault) – Tectônica Pré -Andina com
esforços compressivos.
66

Modelo de Acumulação Proposto pra Área Estudada

Figura 30: Modelo de Acumulação proposto na área estudada de acordo com as interpretações dos dados sísmicos – Bacia do Solimões.
67

6.6 - SEÇÃO SÍSMICA – CONVERTIDA DE TEMPO (MS ) EM PROFUNDIDADE (M)

Esta técnica foi aplicada de forma manual, seguindo o mesmo processo aplicado pelos
softwares de conversão de modelo geológicos em tempo a profundidade.
Para esta metodologia foi necessária a obtenção dos valores das velocidades
intervalares de cada formação (Tabela 5).

Tabela 5: Velocidades Intervalares consideradas por cada formação da Bacia do Solimões


Formação (Bacia do Fonte
Solimões) Alter do Chão Boa carauarí Juruá Prosperança
Velocidade Intervalar (m/s) 2500 2500 5540 4689 4354

Uma vez obtida a seção sísmica em tempo (s) e com os campos de velocidades (m/s)
de cada formação definidos, constrói-se uma malha sobre a seção espaçada a cada 1000 m.
Cada um desses pontos é convertido em profundidade (m) pela fórmula V = D/T (V:
velocidade – D: distância – T: tempo) com o mesmo critério para todos os pontos.
Através do método de balanceamento de perfis, a seção sísmica mais adequada
estruturalmente é convertida de tempo (ms) em profundidade (m) (Figura 31), na qual
determina-se o valor do ângulo da Rampa (º). É também usada para a aplicação da
retrodeformação da seção (Figuras 32 e 33).
68

Figura 31: Seção Sísmica convertida de tempo (ms) em profundidade (m).


69

6.7 - CINEMÁTICA DE DEFORMAÇÃO - RETRODEFORMAÇÃO DE SEÇÃO BALANCEADA

Segundo Castillo (2005), esta fase consiste na determinação da evolução geológica da


bacia baseada na idade da deformação. Para atingir o objetivo, deve ser analisado o resultado
obtido da interpretação e da retrodeformação.
Através deste método determina-se também o valor de encurtamento (em %) da seção
balanceada. Para a execução desse método, os perfis devem atender às seguintes
características:

• Ser uma seção em profundidade;


• Apresentar escala vertical igual à escala horizontal,
• Representar uma seção transversal ao eixo principal da Bacia – direção principal do
esforço compressivo da área.

6.7.1 - Retrodeformação do Evento 1

Com base da metodologia proposta neste trabalho para a aplicação de retrodeformação


de seções balanceadas, obteve-se um encurtamento de 2,8% (350m), sendo a seção atual com
aproximadamente 12.500 metros. O ângulo de falha (rampa) identificado nesta seção foi de 22
graus para o evento de descolamento basal da Formação Prosperança (denominado evento um
(1) no trabalho), conforme ilustra a figura 32.

6.7.2 - Retrodeformação do Evento 2

Com base da metodologia proposta neste trabalho para a aplicação de retrodeformação


de seções balanceadas e com a evolução da estrutura de Juruá, é proposto um último evento
tectônico, associado à zona de descolamento basal da Formação carauarí (evento denominado
dois (2) no trabalho) que deforma as camadas pré-deformadas da Formação carauarí,
deixando-as com um ângulo maior ao que elas obtiveram na primeira deformação Pré-Andina
datada em 96 M.a. O evento dois tem valor de encurtamento de 5,5% (690m)/(Figura 33),
sendo a seção atual com aproximadamente 12.500 metros e o ângulo de falha (rampa)
aproxima-se a 10 graus. Sendo o evento 2 (dois) mais recente que o evento 1 (um).
70

Figura 32: Seção Sísmica convertida em profundidade, com apenas o primeiro evento tectônico retrodeformado.
71

Figura 33: Seção Sísmica convertida em profundidade e Retrodeformada – Camadas Subparalelas. Retrodeformação somando o evento 1
mais o evento 2, para análise da porcentagem de encurtamento da seção.
72

6.8 – M APAS ESTRUTURAIS DOS TOPOS DAS FORMAÇÕES

Este método tem como principal objetivo detalhar as diferenças entre altos e baixos
estruturais presentes nos topos de cada formação. Essa diferenciação é observada pelas
intensidades e variações de cores presentes nos mapas, em que cada cor ou tom de cores é
representada por um certo intervalo de tempo. Pode-se observar este intervalo (escala) no
canto direito de cada mapa estrutural gerado (Figuras 34, 35, 36 e 37).
Os mapas estruturais gerados neste projeto são representados pelos topos das
Formações Fonte Boa (Eo-Permiano), carauarí (Carbonífero), Juruá (Carbonífero) e
Prosperança (Pré-Cambriano).

6.8.1 – Topo da Formação Prosperança / Base da Formação Juruá

Foram aplicados a metodologia de geração de mapas estruturais, gerando superfície


relacionada ao topo da Formação Prosperança e/ou o contato entre a Formação Prosperança
com a Formação Juruá. Nota-se o modelo de zona triangular do tipo I de McClay (1992) visto
em planta, em que a área em azul representa um baixo estrutural enquanto que em verde um
alto estrutural (Figura 34).
73

Figura 34: Mapa estrutural do contato entre as Formações Prosperança (topo) e Juruá (base).
Software SeisVision – Geographix (Landmark®).

6.8.2 – Topo da Formação Juruá / Base da Formação carauarí

Foram aplicados a metodologia de geração de mapas estruturais, gerando superfície


relacionada ao topo da Formação Juruá e/ou o contato entre a Formação Juruá com a
Formação carauarí. Nota-se o modelo de zona triangular do tipo I de McClay (1992) visto em
planta, em que a área em azul e roxo representa um baixo estrutural enquanto que em verde
um alto estrutural (Figura 35).
74

Figura 35: Mapa estrutural do contato entre as Formações Juruá (topo), e


Carauari (base). Software SeisVision – Geographix (Landmark®).

6.8.3 – Topo da Formação carauarí / Base da Formação Fonte Boa

Foram aplicadas as metodologias de geração de mapas estruturais, gerando superfície


relacionada ao topo da Formação carauarí e/ou o contato entre a Formação carauarí com a
Formação Fonte Boa. Neste mapa as áreas em azul e roxa representam um baixo estrutural
enquanto que em verde e vermelho um alto estrutural.
Podemos apenas observar pequenas variações de tempo e/ou profundidade neste topo
ou contato, sendo essas pequenas variações geradas por falhas secundária (Figura 36).
75

Figura 36: Mapa estrutural do contato entre as Formações carauarí (topo) e


Fonte Boa (base). Software SeisVision – Geographix (Landmark®).

6.8.4 – Topo da Formação Fonte Boa / Base da Formação Alter do Chão (Figura 32)

Foram aplicados a metodologia de geração de mapas estruturais, gerando superfície


relacionada ao topo da Formação Fonte Boa e/ou o contato entre a Formação Fonte Boa com
a Formação Alter do Chão. Neste mapa as áreas em azul e roxa representam um baixo
estrutural enquanto que em verde e vermelho um alto estrutural.
A intensa variação de cores presentes no mapa estrutural da figura 32 apresenta alta
variação de cores devido o intervalo da escala escolhida ser muito pequeno. Tendo uma escala
com intervalo curto, qualquer variação no contato já é descriminada. Nota-se que a escolha de
escalas é importante para a interpretação, podendo dois mapas estruturais apresentar figuras
semelhantes e terem controles estruturais distintos (Figura 37).
76

Exemplo:
Intervalo Curto à de 0.43000 a 0.49000 (? de 0.06)/(Figura 27);
Intervalo Longo à de 0.8000 a 1.2000 (? de 0.4)/(Figuras 24 e 25).

Figura 37: Mapa estrutural do contato entre as Formações Fonte Boa (topo) e
Alter do Chão (base). Software SeisVision – Geographix (Landmark®).
77

7 – CONCLUSÕES

Após a execução das etapas de trabalho propostas no projeto, conclui-se que as


metodologias usadas foram bastante satisfatórias, tendo resultados significativos para a
conclusão e entendimento do projeto.
Após as análises dos resultados anteriormente apresentados, conclui-se que a
deformação proposta no trabalho, da província do Juruá, corresponde com a tectônica Pré-
Andina datada entre 96 –72 Ma.
A compressão principal proposta tem direção preferencial NW-SE, sendo responsável
pela geração de dois níveis de descolamento basal (falhas inversas com baixo ângulo de
rampa - descolamento) de eventos tectonicamente distintos e não contemporâneos. Os dois
níveis de descolamento, um na Formação Carauarí em litologia evaporítica e outro na
Formação Prosperança em litologia argilosa (folhelhos de alta pressão), geram um modelo
cinemático de zona triangular do tipo I de McClay.
Nestas seções, as formações Neo-Cretáceas (Formação Alter do Chão/Solimões:
Cretáceo - Terciário), se encontram deformadas, sendo a ultima deformação datada de
aproximadamente 72 Ma. As falhas propostas nestas formações são basicamente falhas
inversas com baixo ângulo de mergulho.
No balanceamento das seções, as formações identificadas no trabalho apresentam
espessuras bastante variadas. A Formação Alter do Chão/Solimões tem espessura aproximada
de 500 m; a Formação Fonte Boa apresenta espessura média de 125 m; a Formação carauarí
tem espessura de aproximadamente 1375 m e por fim a Formação Juruá com média de 120 m.
Não foi interpretada a base da Formação Prosperança, conseqüentemente não foi calculada a
espessura desta formação.
Com base das metodologias propostas neste trabalho para a aplicação de
retrodeformação de seções balanceadas, obteve-se um encurtamento de 2,8% (350m) e ângulo
de falha (rampa) de 22 graus para o evento de descolamento basal da Formação Prosperança
(denominado evento um (1) no trabalho).
E com a evolução da estrutura de Juruá, é proposto um último evento tectônico,
associado à zona de descolamento basal da Formação carauarí (evento denominado dois (2)
no trabalho) que deforma as camadas pré-deformadas da Formação carauarí, deixando-as com
um ângulo maior ao que elas obtiveram na primeira deformação Pré-Andina datada em 96
Ma. O evento dois tem valor de encurtamento de 5,5% (690m) e ângulo de falha (rampa) de
10 graus. Sendo o evento 2 (dois) mais recente que o evento 1 (um).
78

É também proposto neste trabalho que uma das principais trapas favoráveis a conter
hidrocarbonetos na área, são as Fault bend Fold (Dobra por falha), que é a formação de
dobras anticlinais devido a esforços compressivos na bacia associados às falhas inversas, que
no caso são os níveis de descolamento basal. Os arenitos Carboníferos da Formação Juruá que
é a principal rocha reservatório da bacia, encontra - se deformada pelas dobras anticlinais
classificadas como “Fault bend Fold”.
Finalmente, conclui-se que o fato de ter uma zona triangular do tipo I de McClay na
região do Juruá, com duplicação (repetição) das camadas reservatórios e devido também a
existência de estruturas do tipo dobras simétricas nas duas sub-regiões, tem-se
prospectividade tanto na região do noroeste da sub-bacia do Juruá como para a região sudeste.
79

8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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