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CADERNO 8 DE EDUCAÇÃO DO MST

PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS

1- Relação entre a prática e a teoria

A articulação entre teoria e prática e a prática e a teoria é referida pelo movimento


como o primeiro princípio para educar sujeitos com base numa nova concepção de
desenvolvimento para o campo,o que requer um educar para a ação
transformadora. Isso implicara numa articulação integrada entre os conteúdo
escolares e a vida cotidiana tais como: o trabalho, a militância e as relações
interpessoais.

Em contraposição ao modelo vigente de escola a partir do qual a escola é a


guardiã do conhecimento teórico, que só posteriormente a ela a prática ganha
aplicabilidade, busca-se que a prática social dos educandos e ducandas sejam a
base em que se constituirá o processo formativo. Neste sentido,o curso deve ser o
lócus privilegiado das praticas e vivencias trazidas pelo educando.

Tal concepção implicaria, ainda, numa reorganização do currículo. Este precisa


abranger metodologias que contenham respostas práticas para os estudantes
possibilitando, aos mesmos, meios para relacionar os conteúdos teóricos com os
saberes vindo das famílias e das diferentes realidades vividas.

2- Combinação metodológica entre processos de ensino e de capacitação

Assim,o movimento propõe uma “combinação metodológica entre os processos de


ensino e capacitação. A novidade posta no documento da necessidade de articular
teoria e prática está na separação entre o ensino e a capacitação como duas fases
fundamentas da construção do conhecimento. Trata-se da diferenciação entre
ensino e capacitação, que, de acordo com o documento, foi um resultado da
experiência do MST com os cursos formais, em especial no modalidade de
educação de adultos. (MST,1996,p.166).
O ensino é considerado pelo movimento como os saberes teóricos (saber),ao passo
que a capacitação estaria na esfera dos saberes práticos (saber-fazer) ,ou seja,
refere-se às habilidades e capacidades e em( saber-ser) que dizem respeito aos
comportamentos, atitudes,posicionamentos.(MST,p.167).

“Uma implicação prática importante deste princípio: em nossas escolas ou em


nossos cursos podemos/devemos estabelecer, não só a lista de conteúdos a serem
dominados pelos/pelas estudantes, mas também as metas de capacitação, ou seja, as
habilidades ou competências a serem desenvolvidas numa determina disciplina, ou uma
etapa, ou numa série...Isto implicará, certamente, toda uma reformulação dos métodos
tradicionais de avaliação, que costumam estar voltados só para apreensão de
conteúdos...”(MST, 1996, p.167-168)

Neste contexto, a escola é pensada como uma “oficina de alternativa” capaz de


promover aos educandos e educandas um aprendizado que conduz a promover
transformações sociais, a criar novos comportamentos, atitudes pessoais em
relação ao coletivo e à cooperação.(MST, 1996, p.167)

Interessante perceber a ressignificacao feita com respeito a concepção de


capacitação, capacita-se não apenas para servir a um projeto exterior, como a
busca de inserção no mercado, por exemplo, capacita-se para novos valores, para
a cooperação e para uma forma integral, omnilateral onde todas as capacidades e
habilidades contidas no sujeito do conhecimento dever ser matéria do processo de
ensino e aprendizagem escolar. Nelas estão os saberes e conteúdos socialmente
produzidos ao longo da história e os saberes oriundos de diferentes vivencias e
lutas políticas constitutivas das experiências diárias dos educandos. A educação
estaria, portanto, na escola, nas relações interpessoais, no trabalho, na luta
política, nos saberes trazidos pelos educandos.

3- A realidade como base da produção do conhecimento

O conhecimento se produz por meio de uma meticulosa compreensão da realidade


vivida pelos seres humanos em diferentes momentos de sua história. É o entender
como as coisas se formaram, se consolidaram e podem se transformar.O
documento menciona o “método de ensino através de temas geradores”.

Mas, para além do entendimento geral,mais amplo da realidade que se nos


apresenta, seria necessário segundo o MST tomar como ponto de partida também
a realidade mais próxima posto que para:

“para entender a situação da agricultura no país hoje, fica mais fácil se começarmos
discutindo como está a situação da produção no assentamento. Porque se consegue
partir dos conhecimentos que os/as estudantes já têm e ir ligando com novas
informações, estudos e discussões que chegando à realidade nacional e até
internacional, vão acabar ajudando a entender melhor a própria situação do
assentamento.Ou seja, se conhece transitando constantemente do particular para o
geral.(MST, 1996,p.168)

4- Conteúdos formativos socialmente úteis

Neste princípio o documento critica o conteúdo pelo conteúdo, ao afirmar os conteúdos


como instrumentos objetivos ligados ao ensino e a capacitação. A questão seria, então,
definir quais conteúdos contribuem para este sentido mais amplo do educar. Já que os
conteúdos de maneira geral implicam uma escolha, e, tal escolha está referenciada a
uma visão de mundo, ou seja, não é neutra e, portanto, ser a algum propósito
determinado pelo grupo, sociedade ou época histórica. E indicam uma posição política,
interesses sociais. Assim, a definição dos conteúdos para as escolas do assentamento
(ou para as escolas em geral, já que o compromisso de luta política do MST é com a
emancipação humana) deve está articulado aos princípios filosóficos e pedagógicos
apresentados pelo movimento. Os princípios filosóficos e pedagógicos constituem-se
num parâmetro de analise e de construção do currículo.

5 Educaçao para o trabalho e pelo trabalho

O MST parte de uma concepção ampliada de trabalho. O trabalho é entendido não


apenas como produção de riquezas,mas também como meio de identificação de classe,
de relações sociais e formação de consciência coletiva e pessoal. É no trabalho que se
constrói uma subjetividade na e para a ação social transformadora, uma cultura da
mudança. O trabalho também é concebido como um meio de construção de relações
igualitárias de construção social, daí se alcança seu valor pedagógico educativo,
desconstruindo características exploratórias e de valores dicotômicos entre o fazer
intelectual e o fazer manual. O que demandaria o reconhecimento e prática do trabalho
como um método pedagógico, a partir do qual se produz o conhecimento sobre a
realidade. Além de possibilitar a construção de relações sociais fundamentadas na
cooperação, em relações mais horizontalizadas, e, portanto democráticas.

O valor pedagógico do trabalho é tema recorrente da pedagogia russa na qual a


construção do conhecimento implicaria na interação entre o fazer e o saber no sentido
de que o conhecimento se faz pelas vivencias com a realidade concreta e pelo trabalho
CONTINUAR , especialmente com Pistrak.

Mas, em Gramsci encontramos a relação entre o trabalho e a organização da cultura.


Para Gramsci todo trabalho, mesmo que mecânico existe o mínimo de qualificação
técnica, ou de “atividade intelectual criadora”, as atividades manuais e intelectuais existem
conjuntamente em qualquer espécie de trabalho, posto que “não existe atividade humana
que possa excluir toda intervenção intelectual”(GRAMSCI, 1985, p.7 Os intelectuais e a
organização da cultura, Ed civilização brasileira: RJ, 1985).

Gramsci nos leva a pensar sobre o porquê da separação do homo faber do homo sapiens,
ou seja, a separação entre o intelectual e o manual marca a organizacao da cultura de um
tipo de sociedade, no caso a capitalista, que utiliza o conhecimento como matéria de
poder. A organização da cultura e do conhecimento que confere legitimidade apenas ao
saber intelectual é uma estratégia de dominação da hegemonia dominante para garantir
seu poder sobre os modos de construção e elaboração do conhecimento. E todo saber
que não se insere nos seus cânones de legitimidade é premido com a invisibilidade.

A construção de uma contra-hegemonia estaria vinculada a criação de um novo


intelectual como estratégia para se quebrar as estruturas de poder da maneira
hegemônica de concepção do conhecimento legitimo. Nesta perspectiva é que Gramsci
afirma que:

“O modo de ser do novo intelectual não pode mais constituir na eloqüência, motor
exterior e momentâneo dos afetos e das paixões,mas num imiscuir-se ativamente na
vida prática (...) Uma das mais marcantes características de todo grupo social que se
desenvolve no sentido do domínio é sua luta pela assimilação e conquista que são tão
mais rápidas e eficazes quando mais o grupo em questão elaborar simultaneamente seus
próprios intelectuais orgânicos. ”(GRAMSCI, 1985, p.09)

6 - Vínculo orgânico entre processos educativos e processos políticos

Neste principio o MST reconhece a relação entre a vida social e a politica ao entender
ao entender os processos políticos como o modo de dirigir e governar a vida social,
envolvendo relações as poder no interior de uma sociedade podendo estar na direção de
transformação ou conservação de uma determinada estrutura organizativa. Neste sentido
a política está presente no conjunto da sociedade na medida em que se estabelecem
constantes disputas pelo poder. A educação é portanto, uma prática política responsável
pela transformação ou manutenção da sociedade. Negar a relação entre a escola e a
política aos estudantes do MST é o mesmo que reprova sua participação no Movimento
e na luta pela reforma agrária, assim a educação deve estabelecer um vínculo com a
política ao:
a) Tratar injustiças e indignidade humana despertando o
compromisso com a mudança social;
b) Estimular a participação política dos educandos em situações
concretas educando para a solidariedade;
c) Desenvolver a reflexão critica e autocrítica no âmbito coletivo
e pessoal;
d) Cumprir a meta de promover o aprendizado político
promovendo a compreensão da importância de pertencer a
uma organização
7- Vínculo orgânico entre processos educativos e econômicos
A escola do campo necessita estar comprometida me aproximar os estudantes do
funcionamento do mercado, promovendo entendimento dos processos produtivos.
Também precisa estabelecer a relação dos estudantes com o mercado possibilitando-os
produzir bens e serviços para ser utilizado por outras pessoas, precisa mostrar aos
educandos que eles podem educar-se com uma função social significativa.

8- Vínculos orgânico entre educação e cultura


Compreender a educação como um “processo de produção e socialização da
cultura”,mas também como um instrumento de transformação cultural, a partir do
reconhecimento das lutas culturais como portadoras das transformações social. A
vinculação entre a educação e a cultura no entender do MST colabora para uma cultura
da mudança:
“...uma cultura da mudança, que tem o passado como referência, o presente como a
vivência que ao mesmo tempo em que pode ser plena em si mesma, é também
antecipação do futuro, nosso projeto utópico, nosso horizonte” (MST,1996,p.173).

9- Gestão democrática

Os/as educandos/as precisam vivenciar um espaço de participação democrática, devem


ser educados “pela e para” a democracia social, o que implica na sua participação na
gestão da escola para que possam aprender a tomar decisões, respeitar as decisões
tomadas pelo conjunto, executar as decisões e avaliar os resultados das ações coletivas.

10- Auto-organizacao dos/das estudantes


Fundamentado da pedagogia de Pistrak,o MST entende por auto-organizacao a
construcao de espaços de autonomia decisório para os educandos que os possibilite
discutirem e deliberarem sobre questões próprias, como também sobre o coletivo maior
da gestão da escola. O objetivo deste princípio é destacar o desenvolvimento da
consciência organizativa dos/as educandas.

11- Criação de coletivos pedagógicos e formação permanente dos educadores/das


educadoras
Este princípio desta a necessidade de organicidade dos processos educativos. Partindo
das formulações de Makarenko segundo as quais os educadores não podem atuar
individualmente o MST instituiu a prática dos coletivos de educacao cuja função e
sistematizar conjuntamente as praticas educativas dos assentamentos e acampamentos a
fim de garantir o caráter orgânico de suas ações. Liga-se igualmente a concepção de
autoformaçao permanente por meio da reflexão e discussão coletiva de suas práticas.

12- Atitudes e habilidades de pesquisa

A pesquisa é aqui entendida como um aprofundamento dos conhecimentos sobre a


realidade por meio da investigação, trata-se da problematizacao da realidade e sua
solução por meio da investigações históricas, originarias de uma situação atual. Consiste
num método de analise da realidade para nela intervir, numa ação em que se conjuga
teoria e prática adequadas aos diferentes níveis cognitivos e de desenvolvimento de cada
educandos/as.
13-Combinação entre processos pedagógicos coletivos e individuais

O décimo terceiro principio destaca o caráter individual e coletivo da aprendizagem,


pois ainda que a aprendizagem ocorra na pessoa ela se faz por meio da interação entre
pessoas, no coletivo. Processos pedagógicos coletivos auxiliam os indivíduos a
administrar os conflitos, a reconhecer a legitimidade das diferenças e a elaborar a critica
da realidade e auto-critica de sua inserção nesta realidade.
Questão: Será que os cursos de licenciatura do campo oferecidos pelo PRONERA
podem ser compreendido como uma institucionalização dos princípios filosóficos e
pedagógicos do MST para a formação dos educadores e educadoras do campo?

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