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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Avaliação de Filosofia II – 2017.2 / Profª Monique Guedes


Tayane Cristina Gil de Menezes (117054794)

A relação de “Da utilidade e desvantagem da história para a vida”, de Friedrich


Nietzsche, com o conto “Funes, o memorioso”, de Jorge Luis Borges.

O conto de Jorge Luis Borges é sobre Funes, um rapaz que conseguia memorizar e
lembrar de cada detalhe da vida cotidiana, algo que tinha seus prós e contras. No texto “Da
utilidade e desvantagem da história para a vida”, Nietzsche se aprofunda na questão,
discutindo a possibilidade da plenitude humana a partir da memória: esquecer e lembrar
permitem que o ser humano, enfim, viva até que ponto? Na seguinte passagem, Nietzsche
ilustra esse pensamento:

Um homem que quisesse sentir apenas historicamente seria semelhante àquele que
se forçasse a abster-se de dormir, ou ao animal que tivesse de sobreviver apenas
da ruminação e ruminação sempre repetida. Portanto: é possível viver quase sem
lembrança, e mesmo viver feliz, como mostra o animal; mas é inteiramente
impossível, sem esquecimento, simplesmente viver.

Aqui, traça-se um parâmetro com o personagem do conto de Jorge Luis Borges:


Furnes. Esse personagem, que ao sofrer um acidente, adquiriu a habilidade de lembrar
detalhadamente de memórias do passado e de exatamente tudo que ocorre no presente;
memórias antigas e cotidianamente triviais, alegando que ao morrer, não teria ele catalogado
todas as memórias da infância.

O ponto é que Furnes, nessa condição, não conseguia viver, pois ele conseguia
perceber a vida de outra maneira, mais lenta, perceptível aos seus olhos, se transformando
num espectador atento de algo que ele não conseguia vivenciar. Ainda que essa habilidade lhe
permitisse aprender idiomas e degustar o mundo, ele não conseguia pensar, assim como não
conseguia dormir, pois isso o desprendia desse lugar de observador, o distraia do mundo ao
redor, e pensar significava esquecer diferenças, generalizar a vida, abstrair.

A narrativa de Nietzsche inclina-se nesse aspecto, pois aqui se trata, sobretudo, de


história, e a história é construída através da memória, e essa preservação às vezes pode ser
nociva de houver um desequilíbrio, como houve na vida do personagem Furnes. Fazendo uma
crítica ao historicismo, Nietzsche afirma que a História pode destruir se não gerar impulsos
construtivos, dividindo a história em três tipos: 1) espécie monumental, homem agindo e
aspirando; 2) espécie antiquária, homem venerando e preservando; 3) espécie crítica de
história, homem precisando de libertação. Essas três formas de abordagem da história são
necessárias, mas alguns desequilíbrios podem ser causados por sua transplantação
inconseqüente e degenerada.Um destaque maior pode ser dado hoje à história crítica, a qual,
assim como a história monumental e a história antiquário, pode ser benéfica ou maléfica para
a vida. Na história crítica, o homem resgata o passado para diante do juiz, questionando-o
enfaticamente e depois condenando-o, o que pode levar a uma postura de julgamentos
ressentidos e de vingança fácil contra um passado que é analisado pela perspectiva do
presente.

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