Professional Documents
Culture Documents
NATAL – RN
2018
ISEIB- INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IBITURUNA
NATAL – RN
2018
1
RESUMO
A Saúde e Segurança do Trabalho é uma temática que tem grande importância nos dias
atuais em função da repercussão financeira dos acidentes e doenças ocupacionais para o
Estado brasileiro, sobretudo nas atividades desempenhadas pela máquina pública. No
Brasil essa temática é regulamentada na legislação trabalhista através das disposições da
Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT e das Normas Regulamentadoras (NR’s). No
entanto, no regime estatutário a realidade é bastante diferente. Embora o setor público
abrigue diversas atividades que implicam em riscos aos seus trabalhadores, essa temática
ainda é marcada pela omissão legislativa nesse setor. Nesse contexto, o objetivo geral
deste trabalho é provocar uma reflexão sobre a importância dada pela administração
pública à implementação de mecanismos, sobretudo legais, de proteção à saúde e
segurança do trabalho dos servidores estatutários. Para isso foi elaborado um estudo sobre
a evolução histórica da saúde e segurança do trabalho no serviço público brasileiro e uma
comparação com o regime celetista, com base em pesquisa bibliográfica em livros,
trabalhos acadêmicos, leis, normas regulamentadoras, orientações normativas e outros
documentos. A pesquisa mostrou que mesmo existindo alguns mecanismos de proteção
ao servidor público implantados, eles ainda são bastante discretos e, até os dias atuais,
pouco efetivos.
Palavras-chave: Segurança do Trabalho, Serviço Público, CLT.
Introdução
O trabalho tem papel fundamental na vida dos seres humanos, no entanto, embora
ocupe uma grande parcela do tempo das pessoas, inúmeras vezes as atividades laborais
são realizadas em ambientes inadequados que expõem o trabalhador a riscos à sua saúde
e à sua integridade física. Riscos estes que podem ter como fonte o ambiente no qual o
trabalho está sendo desempenhado ou, também, podem surgir da própria natureza da
atividade exercida.
O Brasil é o quarto país do mundo que mais registra acidentes de trabalho. Dados
do Observatório Digital de Saúde e Segurança de Trabalho (ODSST) (2018) reforçam a
seriedade do problema, apontando que entre os anos de 2012 e 2017 foram registrados
cerca de 4,0 milhões de casos de acidente de trabalho, gerando aos cofres públicos gastos
com benefícios acidentários, tais como auxílio-doença, aposentadoria por invalidez,
pensão por morte e auxílio-acidente, de cerca de 25 bilhões de reais.
público, apesar desse setor abrigar diversas atividades que implicam em riscos aos seus
trabalhadores.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo principal provocar uma
reflexão sobre a importância dada pela administração pública à implementação de
mecanismos, sobretudo legais, de proteção à saúde e segurança do trabalho dos servidores
estatutários. Além disso, a pesquisa também buscou trazer uma evolução histórica da
temática relacionada à saúde e segurança do trabalho e identificar o tratamento dado ao
tema no regime celetista e no regime estatuário.
Desenvolvimento
Registros históricos apontam que, desde a Antiguidade, o trabalho tem sido fonte
causadora de doenças, acidentes e mortes. Apesar de escassos, alguns documentos
antigos, dentre eles, o Novo Testamento de Lucas, mencionam a ocorrência de acidentes
relacionados ao desempenho da atividade laboral, como o desabamento da Torre de Siloé
que levou à óbito 18 trabalhadores (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2012).
Existem ainda referências a doenças possivelmente provocadas pelas condições
em que os trabalhos eram executados. Nesse sentido, no ano de 1700, o médico
Bernardino Ramazzini publicou em seu livro intitulado “De Morbis Artificum Diatriba”
uma descrição minuciosa de doenças relacionadas ao trabalho encontradas em mais de 50
atividades profissionais existentes na época (RAMAZZINI, 1999).
Embora a problemática já tenha sido identificada há muito tempo, a questão da
ocorrência de acidentes e doenças relacionados ao trabalho não chamou muito a atenção
de governantes durante milênios. Conforme Almeida (2017, p. 53) “uma das principais
razões para isso está no fato de que historicamente a mão de obra foi em sua maioria
prestada por escravos ou ainda por pessoas livres oriundas das camadas sociais
economicamente menos favorecidas”.
Os registros apontam que o aumento significativo do número de acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho veio a ocorrer, efetivamente, com a Revolução
Industrial, na Inglaterra, durante o século XVIII, fruto da mudança na dinâmica do
4
trabalho, havendo assim um notável aumento nos agravos a ele relacionados. Isso se deu
em decorrência do aumento crescente no uso de máquinas, da grande concentração de
operários em espaços confinados, das longas jornadas diárias de trabalho, da utilização
de crianças nas atividades industriais e das péssimas condições de salubridade nos
ambientes fabris, dentre outros fatores (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2012; ALMEIDA,
2017).
Nesse contexto histórico e social, em que o trabalho desenvolvido, fruto de um
processo de exploração econômica e social das pessoas, levava à danos à saúde e
provocava adoecimento e morte, surgiu a primeira lei de proteção aos trabalhadores, Lei
de Saúde e Moral dos Aprendizes, de 1802, a qual reduziu a jornada de trabalho para 12
horas, restringiu o trabalho noturno e regulamentou a idade mínima para trabalhar. Entre
os anos 1840 e 1860, outras legislações semelhantes foram publicadas pelas demais
nações em processo de industrialização regulamentando os problemas de saúde e as
doenças profissionais (ROSEN, 1994).
Outro momento histórico marcante foi a criação da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), em Genebra, no ano de 1919, logo após o final da Primeira Guerra
Mundial, com o objetivo de uniformizar as questões trabalhistas e reverter as condições
subumanas do trabalho. Com esse propósito, logo após sua criação, a OIT adotou seis
convenções destinadas à proteção da saúde e à integridade física dos trabalhadores, dentre
elas: a proteção à maternidade; a luta contra o desemprego; a limitação da jornada de
trabalho a 8 diárias e 48 semanais, atendendo a uma das principais reivindicações do
movimento sindical e operário do final do século XIX e começo do século XX; a idade
mínima de 14 anos para o trabalho na indústria; e a proibição de trabalho noturno para
mulheres e menores de 18 anos.
Entre os anos de 1919 e 1939 a OIT atingiu bons resultados. Adotou 67
convenções e 66 recomendações, porém a eclosão da Segunda Guerra Mundial
interrompeu de forma temporária esse processo (OIT, 2016). No ano de 1948, no contexto
Pós Segunda Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos Humanos contribuiu
de modo significativo para reforçar o direito ao trabalho, reivindicando condições justas
e favoráveis de trabalho e propondo ações voltadas à proteção do trabalhador em caso de
desemprego, limitação de horas de trabalho, direito ao repouso e direito às férias
periódicas remuneradas.
No Brasil, a preocupação relacionada à segurança e saúde dos trabalhadores
surgiu, assim como na maioria dos outros países, com o processo de industrialização,
5
aqui, porém, os avanços foram mais tardios. Durante o Brasil Colônia, entre os anos de
1500 a 1889, o trabalho, em sua grande maioria, era exercido por escravos e por homens
livres, porém pobres. Não havia grandes preocupações com a segurança e saúde desses
trabalhadores, e as que haviam eram exclusivamente de cunho privadas (ALMEIDA,
2017).
Somente durante a República Velha, entre 1889 e 1930, as primeiras normas de
proteção aos trabalhadores foram elaboradas pelo estado brasileiro. A título de exemplo,
no mesmo ano de criação da OIT, foi sancionado, em nosso país, o Decreto 3.724, de 15
de janeiro de 1919, que passou a regular as obrigações resultantes dos acidentes de
trabalho, atribuindo ao patrão a responsabilidade pelo pagamento de indenização ao
operário ou à sua família, em caso de morte ou incapacidade parcial ou total.
Essa legislação trabalhista, inicialmente esparsa, foi ampliada no Governo Vargas
com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), instituída pelo Decreto-Lei nº 5.452,
de 1º de maio de 1943, a qual buscou manter as demandas sociais e trabalhistas sob o
controle do Estado. Apesar de diversas alterações ulteriores em seu texto original oriundas
da mutabilidade e da dinâmica da ordem trabalhista, a CLT continua em vigor até os dias
atuais, mesmo depois de ter passado pela edição de quatro constituições federais (1946,
1967, 1969 e 1988). No entanto, é importante ressaltar que, segundo Araujo (2007) o
texto original da CLT aprovado em 1943 excluiu de sua aplicação servidores públicos do
Estado.
Dentre elas, o estatuto do servidor público federal (Lei 8112/1990), traz algumas
disposições acerca da temática, no entanto, observa-se que o foco das diretrizes reside na
questão dos adicionais e gratificações ocupacionais e na concessão da licença por acidente
em serviço. Verificando-se, dessa forma, que não há uma preocupação por parte do poder
público, do ponto de vista legal, na criação de programas e medidas que visem promover
melhorias através da eliminação ou diminuição de riscos nos ambientes laborais, tais
como a instituição de CIPA’s ou a criação de um Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais – PPRA para o serviço público.
No entanto, como é de conhecimento de todos, assim como no regime dos
trabalhadores em geral há exposição a riscos em seus ambientes laborais, no serviço
público, onde os processos de trabalho se caracterizam por atividades típicas do setor
terciário, existe uma grande necessidade de combater os agravos relacionados às más
condições dos ambientes de trabalho as quais os servidores estão expostos. De acordo
com Assunção e Lima (2010), no serviço público, os problemas físicos classicamente
associados ao trabalho repetitivo somam-se ainda às questões de natureza emocional,
inerentes às intensas interações humanas que caracterizam um aspecto do trabalho desse
setor.
Diante dessa situação, na ausência de uma regulamentação adequada, proliferam-
se extenuantes debates acerca da aplicabilidade ou não das normas de Saúde e Segurança
do Trabalho concernentes aos trabalhadores celetistas aos servidores públicos
estatutários. Villela (2012) defende, em seu artigo intitulado “A proteção do meio
ambiente de trabalho no serviço público”, que o servidor estatutário é um trabalhador, e,
assim como a qualquer outro trabalhador, deve ser assegurada a ele a tutela do seu meio
ambiente do trabalho, sendo-lhe aplicáveis todas as normas de saúde e de segurança
ocupacionais que sejam compatíveis com as peculiaridades que envolvam a prestação dos
respectivos serviços.
Por outro lado, conforme explicita Almeida (2017), o texto constitucional apenas
estende aos servidores públicos algumas garantias também oferecidas aos trabalhadores
em geral, dentre elas a “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança”. Ainda segundo o autor, não há autorização expressa para
que sejam adotadas as normas regulamentadoras editadas pelo Ministério do Trabalho,
salvo as NR’s 15 e 16, ferindo assim o princípio da legalidade, que afirma que a
administração pública só pode fazer aquilo que é autorizado por lei.
8
servidores. Porém, segundo Almeida (2017), fica claro que a omissão legislativa e
regulamentar sobre segurança e saúde do servidor público ainda é fator que prejudica o
emprego de medidas mais satisfatórias de atenção à segurança e saúde do trabalhador.
Logo, diante do exposto, verifica-se que é de fundamental importância que a
regulamentação no âmbito da Saúde e Segurança do Trabalho tenha abrangência geral,
abarcando tanto os trabalhadores do setor público quanto os da iniciativa privada. Além
disso, o desenvolvimento de programas e ações sobre medicina e segurança do trabalho,
à exemplo dos programas como o PPRA, o PCMSO e medidas como a CIPA são
fundamentais e devem fazer parte das iniciativas obrigatórias de proteção ao trabalhador
do serviço público.
Considerações finais
Referências
CHAGAS, Ana Maria de Resende; SALIM, Celso Amorim; SERVO, Luciana Mendes
Santos. Saúde e segurança no trabalho no Brasil: aspectos institucionais, sistemas de
informação e indicadores. 2. ed. São Paulo: IPEA - Fundacentro, 2012. Disponível em: <
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=10807
>. Acesso em 30 de Jan. de 2018.
MARTINS, Maria Inês Carsalade et al. A política de atenção à saúde do servidor público
federal no Brasil: atores, trajetórias e desafios. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro,2017. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232017002501429&l
ng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 de Jan. de 2018.
ROSEN, G. Uma história da saúde pública. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco,
1994.