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Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior

Centro Universitário de Mineiros


Unidade Básica das Humanidades
Curso de Direito
Direito da Seguridade Social
Professor Guilherme Sousa Borges
Prefácio

Este material foi elaborado a partir de pesquisa bibliográfica realizada junto a


doutrinas, legislações, jurisprudências dos tribunais pátrios, artigos científicos e informações
da rede mundial de computadores (gráficos, tabelas, notícias, etc.), tendo como foco de
análise o Sistema de Seguridade Social brasileiro.
Considerando a dinâmica de desenvolvimento das Ciências Jurídicas, com a constante
reformulação de leis e interpretações jurisprudenciais, muito em razão das demandas criadas
pelo movimento do corpo social (questões políticas, econômicas, históricas, etc.), situação
que dificulta sobremaneira o acompanhamento da evolução de todo o arcabouço legal
relacionado às diversas disciplinas trabalhadas no transcorrer do curso de Direito; o objetivo
da construção deste material, na forma de apostila, é fornecer aos alunos uma base teórica
inicial como subsídio para o aprofundamento dos estudos no âmbito do Sistema de
Seguridade Social.
Ressalta-se, desde já, que a intenção não é esgotar as discussões a respeito do
conteúdo da disciplina, mas sim apresentar os pontos de maior relevância no desenvolvimento
do tema e na sua relação com os contextos político, histórico e socioeconômico observados na
sociedade, contribuindo para que os alunos construam o conhecimento a partir de sua própria
perspectiva de análise.
Por fim, é importante observar que justamente em virtude da dinâmica de movimento
constante das Ciências Jurídicas, este material não é imune de falhas e equívocos de
interpretação, bem como se constitui como uma obra em eterna reformulação. De fato,
buscou-se, durante a organização do texto, evidenciar tanto os entendimentos majoritários
como também aqueles de menor relevância no campo acadêmico. Mas, tendo em vista a
posição hermenêutica deste autor, algumas opiniões tendem a destoar da posição consolidada
na doutrina e jurisprudência.
De todo modo, espera-se que o material contribua para a formação acadêmica dos
alunos leitores, potencializando os debates em sala de aula e auxiliando na construção do
conhecimento.

Guilherme Sousa Borges1


Mineiros – GO, 01 de agosto de 2016

1
Docente Assistente da Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior – FIMES. Mestrando em Educação
pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás – UFG/Jataí. e-mail:
guilherme@fimes.edu.br.
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SUMÁRIO

1. A Seguridade Social............................................................................................................05

1.1. Introdução..........................................................................................................................05
1.2. Definição............................................................................................................................06
1.3. Saúde, Assistência e Previdência Social............................................................................08
1.4. Breve histórico da Seguridade Social................................................................................16
1.5. A evolução da Seguridade Social no Brasil.......................................................................21
1.6. Organização e princípios constitucionais da Seguridade Social........................................25
1.7. A Seguridade Social na Constituição.................................................................................32
1.8. O Direito Previdenciário brasileiro....................................................................................39

2. A Previdência Social...........................................................................................................43

2.1. Regimes previdenciários....................................................................................................43

3. O Regime Geral de Previdência Social.............................................................................45

3.1. Introdução..........................................................................................................................45
3.2. Princípios específicos da Previdência Social.....................................................................47

4. Segurados do Regime Geral de Previdência Social..........................................................51

4.1. Segurados obrigatórios.......................................................................................................51


4.2. Segurados facultativos.......................................................................................................61
4.3. Filiação e inscrição no RGPS.............................................................................................63
4.4. Conceito de tomadores de serviço para o Direito Previdenciário......................................66

5. Custeio da Previdência Social............................................................................................68

5.1. Disposições iniciais............................................................................................................68


5.2. O salário de contribuição...................................................................................................71
5.3. Contribuição dos segurados...............................................................................................87
5.4. Contribuição dos tomadores de serviço.............................................................................95
5.5. Exemplo geral de custeio.................................................................................................104
5.6. Contribuição substitutiva da parte patronal.....................................................................106
5.7. Outras receitas da Seguridade Social...............................................................................111
5.8. Retenção sobre a nota fiscal dos prestadores de serviço..................................................111
5.9. Arrecadação e recolhimento das contribuições previdenciárias......................................114
5.10. Responsabilidade solidária na tributação previdenciária...............................................117
5.11. Restituição, compensação e reembolso de contribuições previdenciárias.....................119
5.12. Obrigações acessórias....................................................................................................122
5.13. Imunidade.......................................................................................................................123
5.14. Anterioridade nonagesimal............................................................................................124

6. Plano de benefícios do Regime Geral de Previdência Social.........................................124

6.1. Disposições iniciais..........................................................................................................124


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6.2. Benefíciários do RGPS....................................................................................................126
6.3. Prestações previdenciárias...............................................................................................131
6.4. Tempo de contribuição e sua contagem recíproca...........................................................132
6.5. Qualidade de segurado.....................................................................................................133
6.6. Carência...........................................................................................................................138
6.7. Salário de benefício..........................................................................................................142
6.8. Renda mensal inicial dos benefícios................................................................................147

7. Benefícios do Regime Geral de Previdência Social........................................................149

7.1. Aposentadoria por invalidez............................................................................................149


7.2. Aposentadoria por idade..................................................................................................150
7.3. Aposentadoria por tempo de contribuição.......................................................................151
7.4. Aposentadoria especial por exposição a agente nocivo à saúde......................................155
7.5. Aposentadoria especial do deficiente...............................................................................159
7.6. Salário-família..................................................................................................................162
7.7. Salário-maternidade.........................................................................................................163
7.8. Auxílio-acidente...............................................................................................................167
7.9. Auxílio-doença.................................................................................................................169
7.10. Pensão por morte............................................................................................................173
7.11. Auxílio-reclusão.............................................................................................................177
7.12. Benefício assistencial de prestação continuada.............................................................178
7.13. Acumulação de benefícios.............................................................................................181

8. Disposições gerais acerca do Plano de Benefícios do RGPS..........................................187

8.1. Benefícios especiais.........................................................................................................187


8.2. Hipóteses de suspensão e cancelamento dos benefícios..................................................189
8.3. Descontos legalmente autorizados...................................................................................190
8.4. Débito de contribuições previdenciárias e a concessão de benefícios.............................191
8.5. Desaposentação................................................................................................................191

9. Noções gerais de processo administrativo e judicial previdenciário............................193

9.1. Processo administrativo previdenciário...........................................................................193


9.2. Processo judicial previdenciário......................................................................................200

10. Crimes previdenciários...................................................................................................211


11. Previdência Social e contrato de trabalho....................................................................220

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................224
ANEXOS................................................................................................................................226

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A SEGURIDADE SOCIAL

1. Introdução

A preocupação com os infortúnios da vida tem sido uma constante da humanidade.


Desde tempos remotos, o homem tem se adaptado, no sentido de reduzir os efeitos das
adversidades da vida, como fome, doença, velhice, etc.
Pode-se afirmar que a proteção social nasceu, verdadeiramente, na família. Contudo,
nem todas as pessoas eram dotadas de tal proteção familiar e, mesmo quando esta existia, era
frequentemente precária. Daí a necessidade de auxílio externo, com natureza eminentemente
voluntária de terceiros, muito incentivada pela Igreja, ainda que tardiamente.
O Estado só viria a assumir alguma ação mais concreta no Século XVII, com a edição
da famosa Lei dos Pobres (Inglaterra – contribuição social compulsória). Até então, a ajuda a
pobres e necessitados aparece como algo desvinculado da ideia de justiça, reproduzindo mera
caridade.
Com o tempo, nota-se a assunção, por parte do Estado, de alguma parcela de
responsabilidade pela assistência dos desprovidos de renda até, finalmente, a criação de um
sistema estatal securitário, coletivo e compulsório.
Como usualmente reconhecido, o surgimento da proteção social foi fortemente
propiciado pela sociedade industrial, onde a classe laboral era dizimada pelas condições
precárias do ambiente de trabalho. Há uma insegurança econômica excepcional pelo fato de a
renda destes trabalhadores ser obtida exclusivamente por seus salários, havendo necessidade
da participação estatal, por meio de instrumentos legais, propiciando uma correção ou, ao
menos, minimização das desigualdades sociais.
Com a adoção de conceitos mais intervencionistas, o Estado mínimo foi trocado pelo
Estado de tamanho certo (Estado do Bem-Estar Social), ou seja, aquele que atenda a outras
demandas da sociedade, além das elementares, em especial na área social, propiciando uma
igualdade de oportunidades para todos, mas sem o gigantismo de um Estado Social.
O Brasil tem seguido esta mesma lógica, sendo que a Constituição Federal de 1988
previu um Estado do Bem-Estar Social em nosso território. Por isso, a proteção social
brasileira é, prioritariamente, obrigação do Estado.
Mas, naturalmente, as ações estatais não excluíram as demais, como a família, o
voluntariado e a previdência privada.

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2. Definição

A atual definição de seguridade social prevê a responsabilidade do Estado pela criação


de uma rede de proteção capaz de atender aos anseios e necessidades de todos na área social.
A segurança jurídica, que era frequentemente limitada à acepção formal, com a
previsibilidade e certeza do direito, passa também a englobar a garantia de direitos sociais
mínimos. Com isso, observa-se a transição da segurança jurídica típica dos Estados liberais
para a segurança social, ou seguridade social, característica do Estado Providência (Estado do
Bem Estar Social).

 Previsão Constitucional (art. 194 da CF/88) – A seguridade social compreende um


conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

 Conceito de Fábio Zambitte Ibrahim – A seguridade social pode ser conceituada como
a rede protetiva formada pelo Estado e por particulares, com contribuições de todos,
incluindo parte dos beneficiários dos direitos, no sentido de estabelecer ações para o
sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes,
providenciando a manutenção de um padrão mínimo de vida digna.

 Conceito de Marcus Orione Correia e Érica Paula Correia – Pode-se afirmar que a
Seguridade Social se traduz em um instrumento estatal específico de proteção das
necessidades sociais, individuais e coletivas, sejam elas preventivas, reparadoras ou
recuperadoras, na medida e nas condições dispostas pelas normas.

 Conceito da OIT (convenção 102 de 1952 – ratificada pelo Brasil pelo Dec. 269/08) –
A proteção que a sociedade oferece aos seus membros mediante uma série de medidas
públicas contra as privações econômicas e sociais que, de outra forma, derivam do
desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência, como consequência de
enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional,
desemprego, invalidez, velhice e também a proteção em forma de assistência médica e
ajuda às famílias com filhos.

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Para a completa compreensão da seguridade social, é necessário vislumbrar a
importância e alcance dos valores do bem estar e justiça sociais, os quais são, de fato, a base
do Estado brasileiro, assim como diretrizes de sua atuação. A seguridade social é, portanto,
um meio para se atingir a justiça, que é o fim da ordem social (art. 193 da CF/88). Tanto é que
atualmente a seguridade social possui natureza jurídica de direito fundamental.
Com efeito, a Constituição Federal de 1988 apresenta grande cunho social, o qual é
perceptível em seus primeiros artigos:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamento:
(...)
II – cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
(...)

O artigo citado demonstra a preocupação do legislador constituinte originário com o


indivíduo, não um indivíduo isolado, nos termo de um Estado Liberal, mas um ser que vive
em sociedade e necessita de condições para se desenvolver nesse meio.
Já o artigo 3º da Carta Magna prevê o seguinte:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

A exposição destes dois artigos da Constituição Federal tem como objetivo explicitar
que desde o início da Carta Constituinte vigente já havia a preocupação com a Seguridade
Social, que será tratada no próprio texto constitucional, a partir do art. 194, no Título VIII –
Da Ordem Social.
Todos os objetivos do artigo 3º são também, em sentido lato objetivos da seguridade
social.
Nos termos de Wagner Balera:

A Ordem Social alcançará a justiça se e quando a redução de desigualdades sociais e


regionais, a erradicação da pobreza e da marginalização – objetivos da República,
definidos no art. 3 º, III, da Lei Magna -, forem postas em ato. (BALERA, 2002, p.
11)
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Já José Afonso da Silva, ao comentar a Ordem Social disposta na Constituição,
observa que:

...ter como objetivo o bem-estar e a justiça sociais quer dizer que as relações
econômicas e sociais do país, para gerarem o bem-estar, hão de propiciar trabalho e
condição de vida, material, espiritual e intelectual, adequada ao trabalhador e sua
família, e que a riqueza produzida no país, para gerar justiça social, há de ser
equanimente distribuída. (SILVA, p. 758, 2007)

A seguridade social, de certo modo, se confunde com o conceito de política social,


pois ambos buscam alcançar os objetivos da República Federativa do Brasil elencados
posteriormente.
Celso Barroso Leite, no Dicionário Enciclopédico de Previdência Social, expõe sobre
seguridade social que:

Assim como a previdência social é parte do todo constituído pela seguridade social,
esta é parte do todo mais amplo que a proteção social constitui.
Principalmente porque o interesse individual e o interesse social são paralelos e
muito próximos um do outro, proteção social e proteção individual são expressões a
bem dizer sinônimas. A proteção social é, em verdade, proteção que a sociedade
procura garantir ao indivíduo, ou melhor, com que ela procura cuidar do que os
especialistas entendem como necessidades sociais dos indivíduos. (LEITE, p. 125,
1996)

Na verdade, a seguridade social brasileira terá duas vias de acesso aos problemas
sociais, a via previdenciária (seguro social) e a via assistencial (integrada por dois distintos
esquemas de atuação: o sistema de saúde e o sistema de assistência social).
As duas vias citadas são linhas de execução da seguridade social, que é formada por
esse tripé: assistência social, previdência social e saúde.

3. Saúde, Assistência Social e Previdência Social

Conforme se extrai da previsão constitucional (art. 194), a seguridade social


compreende três áreas distintas que se integram para formar um sistema protetivo completo:

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SEGURIDADE SOCIAL

SAÚDE ASSISTÊNCIA SOCIAL PREVIDÊNCIA

3.1 – Saúde (arts. 196 a 200 da CF/88)

Direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88). A saúde é segmento autônomo
da seguridade social, com organização distinta. Tem o escopo mais amplo de todos os ramos
protetivos, já que não possui restrição à sua clientela protegida – qualquer pessoa tem direito
ao atendimento providenciado pelo Estado – e, ainda, não necessita de comprovação de
contribuição do beneficiário direto.
A saúde é garantida mediante políticas sociais e econômicas visando à redução do
risco de doença e de outros agravos, com o acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços necessários para sua promoção, proteção e recuperação. As condições para
implantação de tais ações da saúde, além de sua organização e do funcionamento, são objeto
de regulamentação da Lei 8.080/90. Atualmente, as ações na área da saúde são de
responsabilidade do Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde – SUS.
São atribuições do SUS, dentre outras:

a) Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a


saúde, além de participar da produção de medicamentos, equipamentos,
imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;
b) Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde
do trabalhador;
c) Ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
d) Participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;
e) Incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;
f) Fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional,
bem como bebidas e águas para consumo humano;

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g) Participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
h) Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

3.2 – Assistência social (arts. 203 a 204 da CF/88)

A assistência social será prestada a quem dela necessitar (art. 203 da CF/88), ou seja,
àquelas pessoas que não possuam condições de manutenção própria. Assim como a saúde,
independe de contribuição direta do beneficiário. O requisito para o auxílio assistencial é a
necessidade do assistido.
A assistência social é regida por lei própria (Lei 8.742/93 - LOAS), a qual traz a
definição legal deste segmento da seguridade social:

Art. 1º - A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de


Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através
de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir
o atendimento às necessidades básicas.

A assistência social tem por objetivos a proteção à família, à maternidade, à infância, à


adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da
integração ao mercado de trabalho; a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária e a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família (art. 2º da
Lei 8.742/93).
O segmento assistencial da seguridade tem como propósito nuclear preencher as
lacunas deixadas pela previdência social, que não é extensível a todo e qualquer indivíduo,
mas somente aos que contribuem para o sistema, além de seus dependentes.
A constituição determina que a ação estatal na assistência social será realizada
preferencialmente com recursos do orçamento da seguridade social, e organizadas com base
na descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à
esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e
municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social. Também a participação
da população é prevista em texto constitucional, por meio de organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis (art. 204 da CF/88).

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As principais ações assistenciais prestadas à população brasileira são: a) benefício de
prestação continuada, previsto no artigo 203, V, da CF/88, e regulamentado pela Lei Orgânica
da Assistência Social (Lei 8.472/93); e b) programas de assistência social, que compreendem
ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência definidos para
qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais (art. 24, da LOAS), a
exemplo do Bolsa Família (Lei 10.836/2004).
Por fim, com o intuito de melhor gerenciar os programas assistenciais do governo, o
Decreto 6.135/2007 instituiu o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal,
como instrumento de identificação e caracterização socioeconômica das famílias brasileiras
de baixa renda, a ser obrigatoriamente utilizado para seleção de beneficiários e integração de
programas sociais do Governo Federal voltados ao atendimento desse público.

3.3 – Previdência social (arts. 201 a 202 da CF/88)

A previdência brasileira comporta dois regimes básicos, que são o Regime Geral de
Previdência Social – RGPS e os Regimes Próprios de Previdência de Servidores Públicos –
RPPS, estes últimos para servidores ocupantes de cargos efetivos e militares. Em paralelo aos
regimes básicos, há os complementares público e privado. Os regimes básicos, em especial o
RGPS, não visam manter o poder de compra do beneficiário, mas somente o suficiente para o
sustento do segurado e seus dependentes.
A previdência social é tradicionalmente definida como seguro sui generis, pois é de
filiação compulsória para os regimes básicos (RGPS e RPPS), além de coletivo, contributivo
e de organização estatal, amparando seus beneficiários contra os chamados riscos sociais. Já
os regimes complementares têm como características a autonomia frente aos regimes básicos
e a facultatividade de ingresso, sendo igualmente contributivos, coletivos ou individuais. O
ingresso também poderá ser voluntário no RGPS para aqueles que não exercem atividade
remunerada.
Embora o Regime Geral de Previdência Social seja somente um dos componentes do
seguro social pátrio, é frequentemente utilizado como sinônimo da previdência social
brasileira, devido à extensão de cobertura.
No que se refere à natureza jurídica dos regimes básicos de previdência, embora sua
sistemática se assemelhe muito à dos seguros comuns, onde a clientela protegida verte
contribuições com o intuito de se resguardar contra eventos futuros, sua natureza não é

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contratual. Com efeito, a natureza dos regimes básicos previdenciários é institucional ou
estatutária, já que o Estado, por meio de lei, utiliza-se de seu Poder de Império e cria a figura
da vinculação automática ao sistema previdenciário, independente da vontade do beneficiário.
Não há qualquer pacto de vontades no seguro social, salvo pela figura do segurado
facultativo. Por isso o seguro social é vinculado a ramo público do Direito (Direito
Previdenciário), ao contrário do seguro tradicional, que é vinculado a ramo privado (Direito
Civil).
Em razão dessa natureza institucional e não contratual, torna-se indevida a aplicação
do CDC em matéria previdenciária. Não há relação de consumo no seguro social, mas sim
proteção coercitiva patrocinada pelo Estado, que se utiliza para seu custeio, entre outras
fontes, de contribuições do próprio segurado (STJ – REsp. 370.957/SC, Rel. Min. Jorge
Scartezzini, DJ de 15/04/2002).
O seguro social atua, basicamente, por meio de prestações previdenciárias, as quais
podem ser benefícios, de natureza pecuniária, ou serviços (reabilitação profissional e serviço
social). Os benefícios podem ser de natureza programada (aposentadoria por idade) ou não
programada (auxílio-doença), de acordo com a previsibilidade do evento determinante.
O sistema previdenciário deve ser autossustentável, isto é, deve financiar-se a partir
das contribuições de seus beneficiários, diretos ou indiretos, evitando-se uma dependência
indevida de recursos estatais, o que naturalmente poderia comprometer o sistema protetivo.
O Regime Geral de Previdência Social brasileiro adota o regime de compulsoriedade
de filiação. No Brasil, qualquer pessoa, nacional ou não, que venha a exercer atividade
remunerada em território brasileiro filia-se, automaticamente, ao Regime Geral de
Previdência Social, sendo obrigada a efetuar recolhimentos ao sistema previdenciário. Essa
obrigatoriedade de filiação é norma de ordem pública, sendo defeso ao segurado alegar que
não deseja ingressar no sistema.
Os regimes básicos de previdência são necessariamente mantidos pelo Poder Público,
sendo o RGPS responsabilidade da União. A entidade gestora do RGPS é o Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS, autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência Social.

3.3.1 – Regimes de financiamento e equilíbrio financeiro e atuarial

O regime de financiamento da Previdência Social possui classificações de acordo com


a forma de arrecadação e o modo como é feito o pagamento das prestações pecuniárias.

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Quanto à forma de arrecadação, é possível identificar dois regimes básicos e opostos: a
repartição simples e a capitalização.
No regime de repartição, os segurados contribuem para um fundo único, responsável
pelo pagamento de todos os beneficiários do sistema. Dentro desse regime, há o conhecido
pacto intergeracional, isto é, os trabalhadores de hoje custeiam os benefícios dos aposentados
atuais, dentro do mesmo exercício.
No regime de capitalização, os recursos arrecadados com contribuições são investidos
pelos administradores do fundo, tendo em vista o atendimento das prestações devidas aos
segurados futuramente, ou seja, os valores pagos no futuro variarão de acordo com as taxas de
juros obtidas e a partir das opões de investimento dos administradores.
Ainda dentro dessa classificação, há o regime de repartição de capitais de cobertura,
que vai além do procedimento meramente contábil da repartição simples, na medida em que o
atuário deverá dimensionar as receitas não somente para as despesas do ano, mas também
para a fixação de reservas que sejam suficientes (com a devida correção) para a continuidade
do pagamento dos benefícios concedidos naquele determinado ano, até a morte do segurado e
dependentes. Pode-se dizer que é um regime intermediário entre a repartição e a capitalização.
Ao lado da forma de arrecadação, encontram-se os sistemas de concessão de
benefícios, sendo tradicionalmente classificados em regimes de contribuição definida ou
benefício definido.
Apesar de inexistir similitude direta, o mais comum é a vinculação do sistema de
benefícios definidos com o regime de repartição simples, enquanto o sistema de contribuições
definidas, com o regime de capitalização.
Na sistemática do benefício definido, o valor a ser pago ao beneficiário já é
previamente estabelecido ou, ao menos, o método de quantificação do mesmo, independente
das reservas formadas e da variação de rentabilidade do capital. É o que ocorre com a quase
totalidade dos benefícios da previdência social brasileira, pois a metodologia de cálculo é
preestabelecida em lei.
O sistema de benefício definido é fundamental para a concessão de benefícios não
programados, isto é, prestações previdenciárias oriundas de eventos imprevistos, como
doenças ou invalidez. Nestas situações, com muita frequência, o segurado não teve tempo de
perfazer contribuições suficientes para o sustento do seu benefício, e aí a lógica do seguro
coletivo atua: a solidariedade entre trabalhadores impõe a todos o custeio do referido
benefício.

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Já o método da contribuição definida é algo diferente. Neste sistema, os benefícios são
pagos de acordo com as contribuições individuais de cada segurado, as quais são separadas
por contas nominais, algo similar a uma poupança. Não existe preestabelecimento do valor a
ser pago ao segurado, isto irá depender das cotizações realizadas e da rentabilidade obtida
durante os anos. Por isso, o referido método é normalmente vinculado a um regime de
capitalização, pois a contribuição do assistido é individualizada. Tal sistema somente poderia
ser aplicado nas prestações programadas, ou seja, aquelas cujo evento determinante é
previsível, como a aposentadoria por idade.
A adoção de uma sistemática exclusiva de contribuição definida na previdência social
brasileira é evidentemente inconstitucional, pois excluiria por completo a solidariedade do
sistema, além de eliminar a garantia contra eventos não programados.
Os benefícios previdenciários brasileiros são, na maioria, financiados pelo regime de
repartição simples, com exceção da aposentadoria por tempo de contribuição, a qual se
submete ao regime de capitalização virtual, devido à aplicação obrigatória do fator
previdenciário no seu cálculo.
Dentro deste contexto, surge com maior vigor, após a edição da EC 20/98, a perene
busca do equilíbrio financeiro e atuarial (art. 201, caput, da CF/88), requisito desde sempre
elementar a todo sistema previdenciário, estatal ou privado.
Sucintamente, pode-se entender o equilíbrio financeiro como o saldo zero ou positivo
do encontro entre receitas e despesas do sistema. Seria, pois, a manutenção do adequado
funcionamento do sistema no momento atual e futuro, com o cumprimento de todas as
obrigações pecuniárias, decorrentes de pagamentos de benefícios previdenciários. Para tanto,
o administrador do sistema previdenciário deve preocupar-se com a garantia da arrecadação,
evitando, de toda forma, flutuações danosas ao equilíbrio de contas.
Já o equilíbrio atuarial diz respeito à estabilização de massa, isto é, ao controle e
prevenção de variações graves no perfil da clientela, como, por exemplo, grandes variações
no universo de segurados ou amplas reduções de remuneração, as quais trazem desequilíbrio
ao sistema inicialmente projetado.

3.3.2 – Inclusão Previdenciária

“A EC 47/05, trouxe uma mudança significativa na legislação previdenciária, prevendo


que a ‘lei disporá sobre sistema especial de inclusão previdenciária para atender a
trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que se dediquem
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exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que
pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor
igual a um salário-mínimo’.
Em verdade, toda pessoa que venha a exercer alguma atividade remunerada de natureza
lícita estará automaticamente filiada ao RGPS, salvo se participante, nesta condição, de
RPPS.
Todavia, a prática tem sido algo distante da norma legal. A maioria dos trabalhadores
autônomos, legalmente definidos como segurados contribuintes individuais, não
contribuem, em flagrante desrespeito aos preceitos legais e, o que é pior, gerando uma
sobrecarga gigantesca na assistência social, pois serão excluídos da Previdência Social e
poderão somente obter benefícios assistenciais, na condição de necessitados.
A questão da inclusão previdenciária é extremamente séria, apesar da melhoria
provocada pela Lei 10666/03, que determina a retenção da contribuição devida pelo
contribuinte individual pela própria empresa que o remunera, a exemplo do que já
ocorre com empregados e avulsos. Todavia, aqueles que laboram por conta própria
somente para pessoas físicas continuam à margem do sistema. Apesar de a reforma
constitucional expressar somente o trabalhador de baixa renda, a meta deve ser a
inclusão de todos.
Naturalmente, o trabalhador de baixa renda carece de maior atenção, pois o desamparo
estatal pode lhe custar a própria sobrevivência. Entretanto, não se deve olvidar da
natureza contributiva da Previdência Social. O seguro social é sistema protetivo contra
riscos sociais que demanda cotizações da clientela protegida, as quais são atuarialmente
quantificadas de modo a definir o nível de contribuição necessária a atender as
demandas socialmente relevantes.
Não é compatível a concessão de benefícios previdenciários a trabalhadores, ainda que
de baixa renda, sem o correspondente custeio. Para tanto, repita-se, existe a assistência
social, a qual tem a função natural de preencher as lacunas deixadas pela previdência.
De fato, a própria Constituição somente autoriza a concessão de novos benefícios ou a
ampliação de prestações já existentes com a previsão da fonte de custeio (art. 195, § 5º,
da CF/88), regra que, desgraçadamente, costuma ser ignorada pelo administrador
público e, mesmo, pelo legislador.
A inclusão previdenciária depende de fatores muitas vezes externos ao sistema
protetivo. Em um distante primeiro lugar, o trabalhador só poderá abrir mão de parcela
de sua remuneração em prol da previdência quando atingir determinado patamar
mínimo de rendimento. Isto é, a melhor maneira de incluir o trabalhador de baixa renda
no sistema protetivo é retirá-lo da situação de baixa renda.
Por outro lado, também não deve ser esquecida a completa reformulação da estrutura
administrativa do INSS, com a necessária melhoria do atendimento, de modo que os
beneficiários sejam efetivamente tratados como merecem, longe das providências
ridículas e absurdas muitas vezes adotadas pela autarquia previdenciária, com o intuito
de coibir fraudes.
Nesse ponto, de grande valia a análise de Juliana Presotto Pereira Netto:

Pode-se concluir assim que o principal desafio da Previdência Social no


Brasil hoje é aumentar a cobertura do sistema e se consolidar como um

15
serviço público confiável e de alta qualidade, como condição mesmo de
eficácia do próprio Direito Previdenciário.

Assim, basicamente, a inclusão previdenciária depende intimamente da melhoria


econômica dos trabalhadores, urgente aprimoramento da estrutura de atendimento à
população e, por fim, do ensino obrigatório, se possível já durante o período
fundamental, da importância da Previdência Social e seu papel na sociedade brasileira”.

Fábio Zambitte Ibrahim

4. Breve histórico da Seguridade Social

A evolução histórica da seguridade social, principalmente no que se refere à


previdência social, é usualmente dividida em três fases:

a) Fase inicial (até 1918) – criação dos primeiros regimes previdenciários, com
proteção limitada a alguns tipos de eventos, como acidentes do trabalho e
invalidez;
b) Fase intermediária (1919-1945) – expansão da previdência pelo mundo, com a
intervenção do Estado cada vez maior na área securitária;
c) Fase contemporânea (a partir de 1946) – aumento da clientela atendida e dos
benefícios. É o grau máximo do Welfare State, com a proteção de todos contra
qualquer tipo de risco social.

O que se pretende demonstrar com essas fases é a completude assumida pelo sistema
no decorrer do tempo. No início, tem-se a adoção de regimes previdenciários por diversos
Estados, em uma espécie de efeito dominó, em virtude do evidente benefício para a
população. Posteriormente, os sistemas passam por mudanças, de modo a atender demandas
sociais até então excluídas da proteção social. Trata-se do aprimoramento da técnica protetiva,
fase que vivemos hoje, de modo evidente.
Em um primeiro momento, podemos afirmar que a proteção contra os infortúnios da
vida tinha caráter eminentemente familiar, com os mais novos auxiliando os idosos e demais
incapacitados para o trabalho. Entretanto, tal proteção, ainda que exista até hoje, é
evidentemente limitada, ainda mais nos dias atuais com uma maior degradação da unidade
familiar, conforme já mencionado.

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Já em épocas remotas, a proteção adicional existente tinha caráter privado, de fundos
mutualistas, onde determinado grupo de pessoas unia-se, voluntariamente, para a proteção
mútua contra os riscos sociais. Quanto aos necessitados, a assistência era patrocinada pela
sociedade, também de forma voluntária.
Um avanço na sistemática da assistência social foi o Poor Relief Act (Inglaterra,
1601), o qual criou uma contribuição obrigatória, arrecadada da sociedade pelo Estado para
fins sociais. Este é considerado o primeiro ato relativo à assistência social propriamente dita,
sendo seu marco inicial.
Em 1891, tem-se a Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, a qual externava a
preocupação da Igreja com a proteção social. Esta instituição sempre teve importante
participação no quadro evolutivo da seguridade social como um todo, por meio de cobranças
constantes por uma maior participação dos Estados e da população como um todo na área
social.
Outras Encíclicas de importância na evolução securitária foram a Quadragesimo Anno
(1931), Divini Redemptoris (1937), Mater et Magistra (1961), Pacem in Terris (1963),
Guaudium et Spes (1965) e Laborem Excercens (1981).
O primeiro ponto fundamental para o estudo previdenciário ocorreu na Alemanha, em
1883. O Chanceler Bismarck obteve a aprovação do parlamento para seu projeto de seguro de
doença, o qual foi seguido pelo seguro de acidentes do trabalho (1884) e pelo seguro de
invalidez e velhice (1889).
Foi a gênese da proteção garantida pelo Estado, funcionando este como arrecadador de
contribuições exigidas compulsoriamente dos participantes do sistema securitário.
Neste momento, tem-se o nascimento da prestação previdenciária como direito público
subjetivo do segurado. A partir do instante em que o Estado determina o pagamento
compulsório de contribuição para o custeio de um sistema protetivo, o segurado pode exigir, a
partir da ocorrência do evento determinante, o pagamento de seu benefício, não sendo lícito
ao Estado alegar dificuldades financeiras para elidir-se a esta obrigação.
Em virtude da existência deste direito subjetivo é que a Lei de Bismarck é conhecida
como o marco primeiro da previdência social no mundo. Até então, os sistemas securitários
tinham natureza exclusivamente privada, sem as garantias de um sistema estatal.
Em 1885, a Noruega aprovou a cobertura diante de acidentes de trabalho e, também,
criou um fundo especial em favor de doentes e do auxílio-funeral. Nesta época, Ebbe
Hertzberg utilizou, pela primeira vez, o termo Estado do Bem-Estar Social, em 1884.

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Na América Latina, os sistemas mais antigos foram criados na Argentina, Chile e
Uruguai, no início da década de 1920. Nos EUA, o empobrecimento causado pela Grande
Depressão de 1929 estimulou o presidente Franklin Roosevelt a criar o Comitê de Segurança
Econômica, que incorporou recomendações à Lei de Seguridade Social de 1935 – Social
Security Act.
O Social Security Act, conhecido como a primeira citação feita à seguridade social em
âmbito mundial, demonstra a crescente preocupação com os excluídos dos regimes
previdenciários, defendendo a proteção de toda a população. Apesar do nome, o Social
Securit Act não corresponde à ideia atual de seguridade social, mas sim a algo próximo da
previdência social, como a conhecemos hoje, isto é, uma forma evoluída de seguro social, a
qual atende de forma mais ampla às demandas sociais da classe trabalhadora.
A primeira constituição a mencionar o seguro social foi a do México (1919).
A partir do modelo bismarckiano, esta técnica protetiva espalhou-se pelo mundo,
sendo que, no período entre as duas grandes guerras, houve uma maior abrangência da
técnica, atingindo um número cada vez maior de pessoas.
O ponto mais importante da evolução securitária, todavia, é o relatório de Beveridge
(Inglaterra, 1942). Este documento, que dá lugar ao plano de mesmo nome, foi responsável
pela origem da Seguridade Social, ou seja, a responsabilidade estatal não só do seguro social,
mas também de ações na área da saúde e assistência social.
Esse plano teve grande mérito por tratar-se do primeiro estudo amplo e minucioso de
todo o universo do seguro social e serviços conexos. É este relatório que questiona a proteção
do seguro social restrita aos empregados, pois todo e qualquer trabalhador deve ser objeto de
proteção.
Esse trabalho tinha como principais fundamentos:

a) Inovação total do trabalho, com o rompimento de conceitos passados, a partir


da experiência;
b) Amplificar a relevância do seguro social como fator de evolução social;
c) Cooperação entre indivíduo e Estado;
d) Novas idades para aposentadoria;
e) Plano de alcance universal;
f) Assistência social completando as lacunas do seguro social.

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Após a exposição dos princípios, o relatório explicita suas conclusões. Entre as mais
importantes, pode-se citar:

a) Seguro social compulsório – todas as pessoas devem participar do sistema


protetivo, sendo garantido aos necessitados um mínimo para sua manutenção.
Ainda, todos os protegidos devem ser tratados de modo equânime, sem
requisitos diferenciados.
b) Adoção da tríplice fonte de custeio – o custeio do sistema protetivo não deve
ser incumbência única e exclusiva de uma pessoa, mas de várias, que, no caso,
são o Estado, as empresas e os trabalhadores.
c) Unificação do seguro de acidentes do trabalho com o seguro social.
d) Unificação do seguro e da assistência social em único ministério – devido à
similitude de ações entre seguro e assistência social, seria evidente desperdício
a manutenção de suas estruturas em paralelo para o atendimento da população.
No Brasil, no entanto, a Lei 10.683/2003, dividiu o Ministério da Previdência
e Assistência Social – MPAS, criando dois ministérios distintos, o Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e o Ministério da Previdência
Social – MPS, em flagrante retrocesso.
e) Unificação das contribuições.
f) Separação da saúde do contexto previdenciário – a saúde, devido ao seu
espectro amplo de atendimento, deve ser colocada em separado da previdência
e assistência sociais.
g) Fornecimento de auxílio para o aprendizado – junto a esta ajuda estatal,
deveria existir o auxílio-desemprego por tempo indeterminado.
h) Revogação das isenções (privilégios).
i) Extensão do seguro social para todos os trabalhadores, não só os empregados.
j) Incentivo de permanência em atividade.

Com efeito, o relatório de Beveridge revolucionou a seguridade social como um todo,


trazendo um conceito de proteção universal como objetivo primordial da seguridade social.
A evolução histórica demonstra que a previdência social origina-se das lutas por
melhores condições de trabalho, as quais resultaram em diferentes sistemas protetivos, de
acordo com as situações de cada país envolvido. Alguns limitaram a proteção ao necessário à

19
sobrevivência, enquanto outros foram além, buscando programar substituição relacionada à
remuneração. Tais variações colocam em destaque as diferentes estruturas dos sistemas de
proteção. Basicamente, todos buscavam uma previdência social como garantia, ao menos, do
mínimo vital, de modo viável financeiramente.
No modelo bismarckiano, mais primitivo, a proteção não era universal, geralmente
limitada aos trabalhadores, rigoroso financeiramente por meio de contribuições sociais dos
interessados (trabalhadores e empresas), além de restringir sua ação a determinadas
necessidades sociais. O modelo beveridgiano tem concepção mais ampla, pois visa a
universalidade de atendimento, atendendo a tudo e a todos, com financiamento por meio de
impostos, arrecadados de toda a sociedade. Percebe-se, claramente, que a solidariedade é mais
forte nesse modelo.
No período pós-guerra, surge uma tendência universalizadora do seguro social, com
base nas premissas teóricas do Plano Beveridge. As maiores taxas de natalidade e crescimento
econômico geraram a euforia protetora, com a consequente universalização da clientela, sem
maiores distinções em razão das atividades econômicas, privilegiando a solidariedade. O
financiamento distancia-se da técnica de capitalização, com a repartição simples, trazendo
evidente enfraquecimento do aspecto atuarial do sistema protetivo. No sistema beveridgiano,
as prestações pagas pelo sistema são desvinculadas da real remuneração do trabalhador, ao
contrário do sistema bismarckiano, no qual a prestação é relacionada à cotização.
Portanto, a formação teórica do Estado do Bem-Estar Social tem início com o plano
bismarckiano e, com o tempo, passa a expandir a proteção social, de acordo com o sistema
beveridgiano. Contudo, atualmente se observa um retorno aos modelos bismarckianos de
seguro social, haja vista seu maior comprometimento com o equilíbrio financeiro e atuarial.
Com efeito, o que se constata, em âmbito mundial, é uma mescla dos sistemas
bismarckiano e beveridgiano. Em resumo, na concepção atualmente dominante, pode-se
vislumbrar a previdência social como um seguro sui generis, pois impõe, em regra, a filiação
compulsória, além de possuir natureza coletiva e contributiva, equilibrada do ponto de vista
financeiro e atuarial, amparando seus beneficiários contra as necessidades sociais, mediante a
repartição dos riscos dentro do grupo de segurados, em uma sistemática de solidariedade
forçada.

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5. A evolução da Seguridade Social no Brasil

A evolução da proteção social no Brasil seguiu a mesma lógica do plano internacional:


origem privada e voluntária, formação dos primeiros planos mutualistas e a intervenção cada
vez maior do Estado.
Como exemplos mais antigos da proteção social brasileira, temos as “santas casas”
(1543), atuantes no segmento assistencial, e o montepio para a guarda pessoal de D. João VI
(1808).
Nesta mesma época, em 1795, também foi criado o Plano de Benefícios dos Órfãos e
Viúvas dos Oficiais da Marinha.
Ainda dentro do período mutualista anterior ao surgimento do plano bismarckiano, é
digno de menção a criação do MONGERAL – Montepio Geral dos Servidores do Estado, em
1835.
Com efeito, a assistência social mutualista nasce da ajuda voluntária, e posteriormente
se desenvolve com a ação do Estado. No primeiro caso, reúne integrantes que conjugam
alguma afinidade profissional, religiosa ou mesmo geográfica, enquanto no segundo, surgem
os chamados Socorros Mútuos, organizados pelo Estado por meio de decretos legislativos.
No Brasil, são dignos de nota o Socorro Mútuo Marquês de Pombal, criado pelo
Decreto 8.504/1882; o Socorro Mútuo chamado Previdência, criado pelo Decreto 5.853/1875;
e o Socorro Mútuo Vasco da Gama, criado pelo Decreto 8.361/1881.
A primeira constituição brasileira a conter a expressão “aposentadoria” foi a de 1891,
prevendo a proteção de funcionários públicos em caso de invalidez. Este dispositivo é
bastante emblemático, pois ajuda a entender o tratamento diferenciado dado à previdência
social dos servidores e militares. Para tais pessoas, a regra sempre foi a concessão de
benefícios custeados, exclusivamente, pelo Estado, enquanto a previdência social dos
trabalhadores em geral, criada posteriormente, já possuía a natureza contributiva desde sua
gênese. Tal diferença, comum em diversos países, explica o fato de, no Brasil, ainda termos
um regime previdenciário segregado para servidores (RPPS), muito embora a Constituição já
preveja sua natureza contributiva.
Ainda sob a égide da Constituição de 1891, foi editada a primeira lei previdenciária do
Brasil, chamada Lei Eloy Chaves, que criou as caixas de aposentadorias e pensões para os
ferroviários. Todavia, a manutenção e administração do sistema era responsabilidade dos
empregadores, cabendo ao Estado apenas a normatização do funcionamento das caixas.

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A referida Lei previa a aposentadoria por invalidez e a ordinária. As caixas ainda
assumiram a responsabilidade pelo pagamento de indenização em caso de acidentes do
trabalho, e o pagamento de pensão aos dependentes do segurado.
Embora seja considerada o marco inicial da previdência no Brasil, a Lei Eloy Chaves
não beneficiava todos que trabalhavam na estrada de ferro, mas apenas os empregados,
aqueles que prestavam serviço mediante ordenado mensal, e os diaristas que executavam
serviços de caráter permanente.
Com a criação de um sistema protetivo exclusivo, outras categorias de trabalhadores
buscaram a mesma proteção, provocando uma rápida extensão da previdência no país. Como
exemplos dessa expansão, merecem destaque a Lei 5.109/1926, que estendeu o regime da Lei
Eloy Chaves aos portuários e marítimos; e a Lei 5.485/1928, referente ao pessoal das
empresas de serviços telegráficos e radiotelegráficos.
Após a revolução de 1930, com o início do governo de Getúlio Vargas, tem-se ampla
reformulação dos regimes previdenciário e trabalhista, principalmente pela criação do
Ministério do Trabalho.
Nessa época, o sistema previdenciário brasileiro vivenciou uma mudança radical,
deixando de ser organizado por empresas, nas caixas de aposentadoria e pensão, sendo
aglutinado por categoria profissional, nos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP).
O primeiro IAP foi o dos marítimos (IAPM), que tinha personalidade jurídica própria,
sede na capital da República, e era subordinado ao Ministério do Trabalho, destinando-se a
conceder ao pessoal da marinha mercante nacional e classes anexas os benefícios de
aposentadoria e pensões.
A organização previdenciária em categorias profissionais resolvia alguns problemas
existentes, como o pequeno número de segurados em algumas caixas, com evidente
fragilização do sistema, e os percalços enfrentados pelos trabalhadores que eventualmente
mudavam de empresa e, por consequência, de caixa.
A unificação das caixas em institutos também ampliou a intervenção estatal na área,
pois o controle público ficou finalmente consolidado, já que os institutos eram dotados de
natureza autárquica e subordinados diretamente à União, em especial ao Ministério do
Trabalho.
Além do IAPM, vários outros institutos foram criados, sendo, com o tempo, alguns
extintos ou fundidos a outros. À época da unificação, em 1966, existiam seis institutos:
Instituto da Aposentadoria e Pensão dos Bancários – IAPB; Instituto de Aposentadoria e

22
Pensão dos Comerciários – IAPC; Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários –
IAPI; Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Estivadores e Transportadores de Cargas –
IAPETC; e Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários e Empregados em Serviços
Públicos – IAPFESP.
A Constituição de 1934 foi a primeira a estabelecer a forma tríplice da fonte de custeio
previdenciária, com contribuições do Estado, empregador e empregado. Foi, também, a
primeira Constituição a utilizar a palavra “previdência”, sem o adjetivo “social”. Já a
Constituição de 1937 não trouxe novidades, a não ser o uso da expressão “seguro social”
como sinônimo de previdência social.
A Constituição de 1946 foi a primeira a utilizar a expressão “previdência social”,
substituindo a expressão “seguro social”. Sob sua égide, a Lei 3.807/1960, unificou toda a
legislação securitária e ficou conhecida como a Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS.
Na verdade, a unificação da legislação foi um passo premeditado no sentido da unificação dos
institutos. Essa tarefa ficaria sensivelmente facilitada se todos se submetessem a um mesmo
regime jurídico.
Ainda que a criação dos institutos, por si só, já tivesse representado uma evolução do
sistema, a consolidação total em uma única entidade era justificável. A manutenção de
diversos institutos gerava gastos elevados, com diversas redundâncias no funcionamento, já
que cada entidade deveria executar as mesmas atividades.
Contudo, é importante observar que os IAP’s somente foram unificados em 1966, por
meio do Decreto-Lei 72/1966. A resistência à unificação era grande por parte das entidades
envolvidas, pois havia o medo da perda de direitos e do enfraquecimento da proteção. Mas a
unificação fez-se necessária, pois não era razoável a manutenção de variadas instituições
estatais, exercendo exatamente a mesma função, diferenciando-se somente pela clientela
protegida. Era algo por demais custoso para um país tão carente de recursos.
Com a unificação, o sistema previdenciário brasileiro passou a ser administrado pelo
Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, autarquia federal que gozava de todos os
privilégios e imunidades da União.
Ainda na CF/46, temos a primeira menção ao equilíbrio financeiro do sistema, com a
proibição da prestação de benefício sem a correspondente fonte de custeio.
A Constituição de 1967 foi a primeira a prever o seguro-desemprego, sem maiores
alterações no regramento previdenciário. A reforma de 1969 também não trouxe alteração às
previsões previdenciárias do texto constitucional.

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Nesse período, a Lei 5.316/1967, integrou o seguro de acidentes de trabalho (SAT) à
previdência social, fazendo assim desaparecer este seguro como ramo à parte.
A proteção social na área rural começou com a instituição do Fundo de Assistência e
Previdência do Trabalhador Rural – FUNRURAL, instituído pela Lei 4.214/1963. O fundo
constituía-se de 1% do valor dos produtos comercializados e era recolhido pelo produtor,
quando da primeira operação ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários –
IAPI.
O Decreto-Lei 564/1969, que instituiu o Plano Básico da área rural, estendeu a
proteção aos trabalhadores do setor agrário da agroindústria canavieira e das empresas de
outras atividades que, pelo seu nível de organização, pudessem ser incluídas. O plano básico
de previdência social rural foi ainda ampliado pelo Decreto-Lei 704/1969.
A lei complementar 11/1971, instituiu o Programa de Assistência ao Trabalhador
Rural (PRORURAL), de natureza assistencial, cujo principal benefício era a aposentadoria
por velhice. Essa mesma lei complementar deu natureza autárquica ao FUNRURAL, sendo
subordinado ao ministro do Trabalho e Previdência Social.
A Lei 6.439/1977, instituiu o SINPAS (Sistema Nacional de Previdência e Assistência
Social), buscando a reorganização da previdência social. O SINPAS agregava as seguintes
entidades:

a) Instituto Nacional de Previdência Social – INPS;


b) Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS;
c) Fundação Legião Brasileira de Assistência – LBA;
d) Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – FUNABEM;
e) Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social – DATAPREV
(denominada de Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social,
a partir de 2001);
f) Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social –
IAPAS;
g) Central de Medicamentos – CEME.

O SINPAS, o qual se submetia à orientação, à coordenação e ao controle do Ministério


da Previdência e Assistência Social – MPAS, tinha a finalidade de integrar a concessão e

24
manutenção de benefícios, a prestação de serviços, o custeio de atividades e programas e a
gestão administrativa, financeira e patrimonial de seus componentes.
À época da criação do SINPAS, a legislação previdenciária vigente ainda era a LOPS,
que convivia com diversos outros diplomas legais previdenciários. Em razão da dificuldade de
tratamento da legislação, o art. 6º, da Lei 6.243/1975, determinou ao Poder Executivo a
expedição, por decreto, de Consolidação das Leis da Previdência Social – CLPS.
A primeira consolidação foi feita pelo Decreto 77.077/1976, posteriormente revista
pelo Decreto 89.312/1984, que só deixou de ser aplicada com o advento da Lei 8.213/91.
A Constituição de 1988 tratou, pela primeira vez, da Seguridade Social, entendida esta
como um conjunto de ações nas áreas da Saúde, Previdência e Assistência Social. É a marca
evidente do Estado do Bem-Estar Social.
O SINPAS foi extinto em 1990. A Lei 8.029/1990 criou o INSS – Instituto Nacional
do Seguro Social, autarquia federal, vinculada ao hoje MPS, por meio da fusão do INPS com
o IAPAS. Assim, foram unificadas as duas autarquias previdenciárias, reunindo custeio e
benefício em única entidade.
Atualmente, é o Decreto 5.513/2005 que prevê a estrutura regimental e o quadro
demonstrativo dos cargos em comissão e das funções gratificadas do INSS. Com a criação do
INSS, várias entidades que integravam o sistema previdenciário brasileira foram extintas,
restando apenas a DATAPREV – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência
Social.
Em 24 de julho de 1991, entraram em vigor os diplomas básicos da Seguridade Social:
a Lei 8.212 (Plano de Custeio e Organização da Seguridade Social) e a Lei 8.213 (Plano de
benefícios da Previdência Social).
As leis básicas da previdência têm sofrido diversas alterações, o que traz enorme
dificuldade aos profissionais da área. É muito provável que em um futuro breve venhamos a
ter novas consolidações da legislação previdenciária, como ocorriam no passado. Atualmente,
o Regulamento da Previdência Social é o aprovado pelo Decreto 3.048/99, que regulamente
disposições relativas ao custeio da seguridade e aos benefícios da previdência social.

6. Organização e princípios constitucionais da Seguridade Social

A atual Constituição trata, no Título VIII, a partir do art. 193, da Ordem Social, nesta
incluída a seguridade social, prevendo que “a ordem social tem como base o primado do

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trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. Evidencia-se a intenção do
constituinte de criar em solo pátrio o chamado Estado do Bem-Estar Social.
A regulamentação constitucional do assunto segue tradição dos países desenvolvidos,
especialmente europeus, na busca constante do bem-estar de seus nacionais, justificando,
inclusive, uma maior intervenção estatal para a consecução deste objetivo.
No que diz respeito à competência legal, cabe privativamente à União legislar sobre
seguridade social (art. 22, XXIII), enquanto a competência sobre previdência social (regimes
próprios), proteção e defesa da saúde é concorrente (art. 24, XII). Pode-se dizer que,
genericamente, as ações da seguridade social são regulamentadas pela União, a qual é dotada
de competência para estipular como será a ação estatal na construção da rede protetiva,
objetivo precípuo da seguridade social.
Ademais, a Constituição define as regras gerais do financiamento da seguridade social,
que serão debatidas em momento oportuno. Todavia, cabe ressaltar, desde já, que o custeio da
seguridade social é feito a partir das contribuições sociais, espécie distinta de tributo (RE
146.733, Rel. Min. Moreira Alves; RE 166.772, Rel. Min. Marco Aurélio; e ADin 1.659, Rel.
Min. Moreira Alves) prevista nos artigos 149 e 195, da CF/88.
Por outro lado, o Direito Previdenciário, como ramo didaticamente autônomo do
Direito, possui princípios próprios, os quais norteiam a aplicação e a interpretação das regras
constitucionais e legais relativas ao sistema protetivo. Alguns princípios são exclusivos da
seguridade social, o que revela sua autonomia didática, enquanto outros são genéricos,
aplicáveis a todos os ramos do Direito.
Entre os princípios gerais, merecem destaque no âmbito da seguridade social os da
igualdade, da legalidade e do direito adquirido. A igualdade aqui tratada não é a mera
isonomia formal, mas sim a material ou geométrica, na qual os iguais são tratados de modo
igual e os desiguais de modo desigual, dentro dos limites de suas desigualdades (Art. 5º, I, da
CF/88).
É a isonomia material que justifica, por exemplo, alíquotas diferenciadas de
contribuição para diferentes espécies de segurados e faixas distintas de remuneração. A
igualdade geométrica possibilita a restrição de benefícios de acordo com o status econômico
do beneficiário.
A legalidade encontra guarida em todos os ramos do Direito, inclusive no
Previdenciário (art. 5º, II, da CF/88). Qualquer nova obrigação, como um aumento de

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contribuição, somente poderá ser feito por meio de lei em sentido formal, isto é, aprovada
pelo Congresso Nacional ou, excepcionalmente, por medida provisória.
O direito adquirido também assume extrema importância no Direito Previdenciário,
em especial devido às constantes alterações da legislação e até da própria Constituição (art. 5º,
XXXVI, da CF/88). O direito adquirido é aquele que já se integrou ao patrimônio jurídico do
indivíduo, sendo defeso ao Estado sua exclusão por qualquer meio.
Por outro lado, como nenhum direito é absoluto, não seria razoável qualificar o direito
adquirido como tal. Em casos flagrantemente contrários à justiça social, como aposentadorias
de valores astronômicos, ainda que concedidas sob a guarida da lei, não seriam estas
sustentáveis perante a Constituição, que, apesar de resguardar o direito adquirido, também
determina a criação de uma sociedade justa e solidária (art. 3º, I, da CF/88).
Já os princípios particulares da seguridade social estão espalhados pela Constituição e
leis securitárias. Dentre os mais importantes, têm-se os abordados no parágrafo único do
artigo 194 da CF/88, que, apesar de serem denominados objetivos, são verdadeiros princípios,
descrevendo as normas elementares da seguridade, as quais direcionam toda a atividade
legislativa e interpretativa da seguridade social.
Dentre os princípios específicos temos:

a) Solidariedade (art. 3º, I, da CF/88):

Sem dúvida, é o princípio securitário de maior importância, pois traduz o verdadeiro


espírito da previdência social: a proteção coletiva, na qual as pequenas contribuições
individuais geram recursos suficientes para a criação de um manto protetor sobre todos,
viabilizando a concessão de prestações previdenciárias em decorrência de eventos
preestabelecidos (sistema de repartição simples).
Se as pessoas optassem pela proteção individual, sendo cada um responsável por si
mesmo, não teriam segurança alguma a curto e médio prazos, pois não haveria tempo
satisfatório para compor um fundo financeiro suficiente para seu sustento.
Mesmo a longo prazo, grande parte da sociedade também não atingiria um numerário
adequado, com evidente deterioração do padrão de vida. A solidariedade impede a adoção de
um sistema de capitalização pura em todos os segmentos da previdência social, em especial
no que diz respeito aos benefícios não programados, pois o mais afortunado deve contribuir
com mais, tendo em vista a escassez de recursos e contribuições de outros.

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É este princípio que permite e justifica uma pessoa poder ser aposentada por invalidez
em seu primeiro dia de trabalho, sem ter qualquer contribuição recolhida para o sistema.
Também é a solidariedade que justifica a cobrança de contribuições pelo aposentado que volta
a trabalhar, que deverá adimplir seus recolhimentos mensais, como qualquer trabalhador,
mesmo sabendo que não poderá obter nova aposentadoria (atualmente a desaposentação –
renúncia da aposentadoria para a concessão de uma mais vantajosa – é motivo de discussão no
Poder Legislativo, onde tramita um projeto de lei que visa regular a concessão de nova
aposentadoria aos inativos que continuam trabalhando). A razão é a solidariedade: a
contribuição de um não é exclusiva deste, mas sim para a manutenção de toda rede protetiva.
A solidariedade é a justificativa elementar para a compulsoriedade do sistema
previdenciário, pois os trabalhadores são coagidos a contribuir em razão de a cotização
individual ser necessária para a manutenção de toda a rede protetiva, e não para a tutela do
indivíduo considerado isoladamente. A solidariedade é também pressuposto para a ação
cooperativa da sociedade, sendo condição fundamental para a materialização do bem estar
social, com a necessária redução das desigualdades sociais. Ou seja, o princípio da
solidariedade, dentro da Seguridade Social, possui escopo de atuação mais amplo, além dos
ideais tradicionais do seguro social.
É certo afirmar que o grau de solidariedade de um modelo bismarckiano de
previdência social não é tão abrangente, devido às limitações do sistema, mas é certo que ela
existe, pois qualquer forma de seguro social funciona dentro de uma sistemática de
solidariedade forçada.

b) Universalidade de cobertura e atendimento (art. 194, parágrafo único, I, da CF/88):

Este princípio estabelece que qualquer pessoa pode participar da proteção social
patrocinada pelo Estado. Com relação à saúde e à assistência social, já foi visto que essa é a
regra. Porém, quanto à previdência social, por ser regime contributivo, é, a princípio, restrita
aos que exercem atividade remunerada, mas para atender ao mandamento constitucional, foi
criada a figura do segurado facultativo.
Este princípio possui dimensões objetiva e subjetiva, sendo a primeira voltada a
alcançar todos os riscos sociais que possam gerar o estado de necessidade (universalidade de
cobertura), enquanto a segunda busca tutelar toda a pessoa pertencente ao sistema protetivo
(universalidade de atendimento).

28
c) Uniformidade e equivalência de prestações entre as populações rural e urbana (art.
194, parágrafo único, II, da CF/88):

As prestações securitárias devem ser idênticas para trabalhadores rurais ou urbanos,


não sendo lícita a criação de benefícios diferenciados. A partir da CF/88, todos os segurados,
inclusive os rurais, têm direito à aposentadoria em valor nunca inferior ao salário-mínimo.

d) Seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços (art. 194,


parágrafo único, III, da CF/88):

É um reflexo do princípio da reserva do possível, que traz limitação à atuação estatal


dentro das possibilidades orçamentárias.
Os direitos sociais são rotulados como direitos positivos, ou seja, direitos que
demandam determinada ação do governo. Sendo assim, devem se submeter às limitações
orçamentárias do Estado. Desse modo, algumas prestações serão extensíveis somente a
algumas parcelas da população, como, por exemplo, o salário-família (seletividade) e, além,
disto, os benefícios e serviços devem buscar a otimização da distribuição de renda no país,
favorecendo as pessoas e regiões mais pobres (distributividade).

e) Irredutibilidade do valor dos benefícios (art. 194, parágrafo único, IV, da CF/88):

Diz respeito, na acepção ampla, à correção do benefício, o qual deve ter seu valor
atualizado de acordo com a inflação do período. Basicamente, esse princípio determina que o
órgão gestor da previdência social aplique corretamente a correção do benefício e se abstenha
de reduzi-lo indevidamente.
Cumpre ressaltar, todavia, que nem toda insuficiência de valor do benefício é resultado
da violação a esse princípio. Com efeito, os benefícios previdenciários têm estrita correlação
com o salário de contribuição, que é a base de cálculo da contribuição. Desse modo, se o
segurado recolheu contribuições durante toda a vida sobre um salário inadequado, de baixo
valor, não há como o sistema previdenciário garantir a ele uma remuneração adequada.

29
f) Equidade na forma de participação no custeio (art. 194, parágrafo único, V, da CF/88):

A equidade no custeio é um dos princípios de mais difícil compreensão. À primeira


vista, seria um mero eufemismo para a figura da capacidade contributiva aplicada às
contribuições sociais.
No entanto, deve-se lembrar que o fundamento da cobrança das cotizações sociais é a
solidariedade entre o grupo, o que impõe a participação de todos. Alguns até podem ser
dispensados, se comprovada a condição de miserabilidade, em razão da proteção ao mínimo
existência. De resto, todos devem participar do custeio do sistema, de modo direto ou indireto.
Em diversas contribuições, a sistemática será análoga aos impostos, havendo a fixação
de contribuição maior para aqueles que recebem maior remuneração, lucro ou receita. Em
outras situações, a fixação deste princípio implicará uma variação de contribuição de acordo
com o risco proporcionado para os segurados.
Como se verá, esta ideia é especialmente aplicada no custeio do seguro de acidentes
do trabalho, no qual há majoração de alíquota em razão do maior risco de acidentes de
trabalho e exposição de agentes nocivos. Quanto maiores os riscos ambientais, maior deverá
ser a contribuição.
Todavia, como boa parte dos benefícios da Seguridade Social (incluindo aí a
previdência social) não tem relação com o risco da atividade, justifica-se ainda a fixação de,
ao menos, parte das contribuições de modo desvinculado ao risco da atividade, mas com base
na maior receita de determinadas empresas e segurados. Não existe na previdência social a
mesma estrita correlação entre o sinistro e o premio encontrada no seguro privado.

g) Diversidade da base de financiamento (art. 194, parágrafo único, VI, da CF/88):

Atualmente, a base de financiamento da Seguridade Social vêm de várias fontes. No


entanto, o substrato desse financiamento ainda é mantido pela forma tríplice de custeio, que
envolve contribuições de trabalhadores, empresas e do governo.
No caso de eventual falta de recursos para o pagamento de benefícios, cabe à União
compor o saldo necessário, não sendo lícito reduzir ou excluir pagamentos dos segurados, por
ser o benefício direito subjetivo deles.
A ideia da diversidade da base de financiamento é apontar para um custeio da
seguridade social o mais variado possível, de modo que oscilações setoriais não venham a

30
comprometer a arrecadação de contribuições. Da mesma forma, com amplo leque de
contribuições, a seguridade social tem maior possibilidade de atingir sua principal meta, que é
a universalidade de cobertura e atendimento.
A diversidade da base de financiamento é que permitirá a evolução da Seguridade
Social no sentido de assegurar os mandamentos constitucionais, em especial, a garantia
efetiva do bem-estar e justiça sociais.

h) Caráter democrático e descentralizado da administração (art. 194, parágrafo único,


VII, da CF/88):

Visa à participação da sociedade na organização e no gerenciamento da Seguridade


Social, mediante gestão quadripartite, com participação de trabalhadores, empregadores,
aposentados (incluídos pela EC 20/98) e governo.
Essa participação da sociedade é prevista a partir do artigo 295 do Regulamento da
Previdência Social – Dec. 3.048/99.

i) Preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço (art. 195, § 5º, da CF/88):

Visa ao equilíbrio atuarial e financeiro do sistema securitário. A criação do benefício,


ou mesmo a mera extensão da prestação já existente, somente será feita com a previsão da
receita necessária. Na verdade, poder-se-ia dizer que tal princípio é inerente ao sistema
previdenciário, pois este deve sempre compatibilizar seus benefícios com a respectiva
arrecadação. Interessante mencionar que o STF tem posicionamento no sentido de que o
princípio da preexistência do custeio não se aplica à previdência privada (AgRg no RE
583.687/RS).
Importante destacar, por fim, o caráter humanitário da seguridade social. Com efeito, a
seguridade social tem um viés claramente solidarista, objetivando o bem-estar e a justiça
sociais, que são a finalidade fundamental da ordem social (art. 193 da CF/88). A proteção
social é, portanto, determinação fundamental do texto constitucional de 1988. Contudo, além
de direito fundamental, a proteção social é também reconhecida como um direito humano pela
comunidade internacional.
No Brasil, o caráter humanitário da seguridade social foi reforçado pela promulgação
do Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos), através

31
do Dec. 678/92. Desse modo, o descumprimento, por parte do Brasil, da implementação dos
direitos sociais, após o esgotamento de todos os recursos internos, permite denúncia à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Enfim, a proteção social é direito fundamental, já que reconhecido pela Constituição,
mas também direito humano, adotado em diversas declarações e pactos internacionais.
Merece destaque, ainda, a Convenção 102 da OIT, que trata especificamente sobre seguridade
social, ratificada pelo Brasil por meio do Dec. 269/2008.

7. A Seguridade Social na Constituição

A atual Constituição trata, no Título VIII, a partir do art. 193, da Ordem Social, nesta
incluída a seguridade social. Reza que “a ordem social tem como base o primado do trabalho,
e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. Evidencia-se a intenção do constituinte de
criar em solo pátrio o chamado Estado do Bem-Estar Social.
A regulamentação constitucional do assunto segue tradição dos países desenvolvidos,
especialmente europeus, na busca constante do bem-estar de seus nacionais, justificando,
inclusive, uma maior intervenção estatal para a consecução deste objetivo.
No que diz respeito à competência legal, cabe privativamente à União legislar sobre
seguridade social (art. 22, XXIII), enquanto a competência sobre previdência social (regimes
próprios), proteção e defesa da saúde é concorrente (art. 24, XII). Pode-se dizer que,
genericamente, as ações da seguridade social são regulamentadas pela União, a qual é dotada
de competência para estipular como será a ação estatal na construção da rede protetiva,
objetivo precípuo da seguridade social.
Ademais, a Constituição define as regras gerais do financiamento da seguridade social,
que serão debatidas em momento oportuno. Todavia, cabe ressaltar, desde já, que o custeio da
seguridade social é feito a partir das contribuições sociais, espécie distinta de tributo (RE
146.733, Rel. Min. Moreira Alves; RE 166.772, Rel. Min. Marco Aurélio; e ADin 1.659, Rel.
Min. Moreira Alves) prevista nos artigos 149 e 195, da CF/88.
Os principais dispositivos constitucionais que tratam da Seguridade Social são:

32
7.1 – Tríplice forma de custeio (artigo 195)

Efetivamente, a tríplice forma de custeio (Governo – Empregadores – Trabalhadores)


somente se aplica à Previdência Social, pois é o único dos ramos da seguridade onde a
contribuição é indispensável. Após a EC n. 41/03, foi instituída a contribuição dos
aposentados dos Regimes Próprios de Previdência dos Servidores Públicos, de modo o custeio
dos RPPS’s passou a ser feito de forma quadripartite (Governo – Empregadores –
Trabalhadores – Inativos). Desse modo, pode-se dizer que a forma tripartite de financiamento
é exclusividade do RGPS.

7.2 – Competência legislativa e administrativa (artigos 22, XXIII, 23, II, 24, XII, e 30,
I)

A competência para legislar sobre Seguridade Social é privativa da União. Já as


competências legislativas relativas à previdência social, proteção e defesa da saúde são
concorrentes entre a União, Estados e Distrito Federal, ou seja, a União edita as normas gerais
e os Estados e DF, as específicas. Os Municípios também possuem competência para legislar
sobre previdência e saúde em âmbito local (art. 30, I). Note-se que a competência concorrente
para legislar sobre previdência somente abrange os Regimes Próprios de Previdência, sendo
que a competência para legislar sobre o RGPS é privativa da União. Por fim, é de
competência administrativa comum da União, Estados, DF e Municípios cuidar da saúde e
assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência (art. 23, II).

7.3 – Financiamento da Seguridade Social (artigo 195)

O artigo 195 da Constituição dispõe que a Seguridade Social será financiada por toda a
sociedade de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais:

I.Do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada, na forma da lei,


incidentes sobre:

a. A folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a


qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício;
33
b. A receita ou faturamento;
c. O lucro.

II.Do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo


contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de
previdência social;
III.Sobre a receita de concursos de prognósticos;
IV.Do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

A sociedade financia a seguridade social de forma direta, a partir do pagamento das


contribuições sociais, e de forma indireta, a partir dos repasses governamentais, em caso de
insuficiência de recursos obtidos com as contribuições.
As contribuições previstas são destinadas ao financiamento dos três ramos da
Seguridade Social: Saúde, Previdência Social e Assistência Social.

7.3.1 – Contribuições sociais previdenciárias (artigo 195, I, ‘a’, e II)

São aquelas destinadas exclusivamente ao custeio das prestações pecuniárias da


previdência social. São arrecadadas, fiscalizadas, lançadas e regulamentadas pela Secretaria
da Receita Federal do Brasil.

7.3.2 – Contribuições sociais não previdenciárias

As demais contribuições previstas no artigo 195 não se destinam à previdência, sendo,


então, direcionadas à saúde e assistência social. Também são arrecadadas, fiscalizadas,
lançadas e regulamentadas pela SRFB.
As contribuições do empregador, da empresa e das entidades a ela equiparadas
incidentes sobre a receita ou o faturamento (art. 195, I, ‘b’) são o PIS – Programa de
Integração Social, e a COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
Estas contribuições incidem sobre a receita ou o faturamento. O conceito de receita é mais
abrangente que o de faturamento. Receita é todo o ganho obtido, já o faturamento está ligado
à emissão de notas fiscais.
As contribuições do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada incidente
sobre o lucro (art. 195, I, ‘c’) é a CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. As
alíquotas são aplicadas diretamente sobre o lucro das empresas, seja ele o real ou o
presumido, a depender da forma de tributação.

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As contribuições sobre a receita de concursos de prognósticos (art. 195, III) são
aquelas incidentes sobre todo e qualquer concurso de sorteio de números ou quaisquer outros
símbolos, loterias e apostas de qualquer natureza no âmbito federal, estadual, do DF ou
municípios, promovidos por órgãos do Poder Público ou por sociedades comerciais ou civis
(Loterias da Caixa, Tele Sena, etc.).
A contribuição incidente sobre a receita de concursos de prognóstico é:

a) A renda líquida dos concursos de prognóstico realizados pelos órgãos do


Poder Público, destinada à seguridade social de sua esfera de governo (renda
líquida é o total da arrecadação, deduzidos os valores destinados ao
pagamento de prêmios, impostos e despesas com administração, e os valores
destinados aos programas de crédito educativo FIES e INDESP, que
atualmente é definido em 30% da renda líquida);
b) 5% sobre o movimento global de apostas em prado de corridas;
c) 5% sobre o movimento global de sorteio de números ou de quaisquer
modalidades de símbolos, assim entendido o total da receita bruta, apurada
com a venda de cartelas, cartões ou quaisquer outras modalidades para sorteio
realizado em qualquer condição.

Por fim, as contribuições sociais do importador de bens ou serviços do exterior, ou de


quem a lei a ele equiparar (art. 195, IV) são o PIS importação e a COFINS importação.

7.4 – Contribuições Sociais (artigos 149 e 195, §§ 4º, 6º, 9º, e 11)

As contribuições sociais são uma espécie autônoma de tributo que tem como
finalidade, dentre outras, financiar a Seguridade Social. As contribuições sociais para a
Seguridade Social foram expostas no item anterior.
Em sentido amplo, as contribuições sociais são as mencionadas nos artigos 149 e 149-
A: Contribuições Sociais em Sentido Estrito, Contribuições de Intervenção no Domínio
Econômico (CIDE), Contribuições de Interesse de Categorias Profissionais ou Econômicas e
Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública.

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Cumpre destacar a disposição do artigo 195, § 4º, que autoriza a União, por intermédio
da utilização de sua competência residual, a criar fontes adicionais de custeio para a
Seguridade Social.
É importante mencionar, ainda, que as contribuições sociais não estão sujeitas ao
princípio da anterioridade, devendo respeitar apenas a noventena (art.195, § 6º). Com efeito,
pelo princípio da anterioridade (art. 155, III, ‘b’), a cobrança de tributo instituído ou majorado
somente será feita, em regra, no exercício financeiro seguinte, ou seja, a lei responsável pela
majoração ou instituição da exação tem sua eficácia suspensa durante este período. Este
princípio, todavia, não é aplicado às contribuições sociais, sendo a elas estipulado um lapso de
tempo distinto, fixo: 90 (noventa) dias.
Portanto, a cobrança da instituição ou modificação das contribuições sociais deve
respeitar o prazo de 90 dias, contados a partir da publicação do ato que as instituiu ou
modificou.

7.5 – Imunidade das entidades beneficentes de assistência social (artigo 195, § 7º)

Embora o texto constitucional traga a expressão “isenta”, trata-se de verdadeira


imunidade tributária. Para que as entidades beneficentes de assistência social recebam o
benefício da imunidade quanto às contribuições sociais, devem obedecer às exigências
previstas na Lei 12.101/09.

7.6 – Segurados Especiais (artigos 195, § 8º, e 201, § 12)

São os produtores rurais que trabalhem em regime de economia familiar. Eles


contribuirão para a previdência social com uma alíquota incidente sobre a venda de sua
produção, ao invés de seguirem a regra geral da contribuição sobre a remuneração. Isso se
justifica devido às grandes oscilações de caixa a que estes segurados são submetidos durante o
ano, inviabilizando a contribuição mensal para o sistema previdenciário. Note-se que a
produção está sujeita aos períodos de plantio, safra e entressafra. O ganho destes segurados
ocorre, exclusivamente, com a comercialização da sua produção.

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7.7 – Orçamento da Seguridade Social (artigos 195, §§ 1º e 2º, e 165, § 5º, III)

Existem três orçamentos que devem ser elaborados anualmente e aprovados por lei:

a) O orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e


entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público;
b) O orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou
indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto;
c) O orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a
ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e
fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.

O orçamento da Seguridade Social é específico, contendo as receitas da Seguridade


Social e os gastos com as áreas da saúde, assistência social e previdência social.
A proposta de orçamento da Seguridade Social será elaborada de forma integrada
pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as
metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a
gestão de seus recursos.
As receitas dos Estados, DF e dos Municípios destinadas à Seguridade Social
constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. Cada ente
federativo deve elaborar as previsões orçamentárias e incluí-las em seus orçamentos.
A contribuição da União é constituída de recursos adicionais do orçamento fiscal,
fixados obrigatoriamente na Lei Orçamentária Anual.
No caso de eventual falta de recursos para o pagamento dos benefícios do RGPS, cabe
à União efetuar a complementação mediante inclusão da destinação dos recursos em seu
orçamento fiscal na forma da Lei Orçamentária Anual (art. 16, Lei 8.212/91).

7.8 – Imunidade às exportações (artigo 149, § 2º)

A EC 33/01 ofereceu imunidade de contribuições sociais e de intervenção no domínio


econômico às receitas provenientes de operação de exportação.

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7.9 – Competência da Justiça do Trabalho para executar contribuições previdenciárias
(artigo 114, VIII)

Compete à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as contribuições previdenciárias


das empresas e dos segurados decorrentes das sentenças que proferir.
Em se tratando de uma reclamação trabalhista, o Juiz do Trabalho deve cobrar não
apenas a parte devida pelo empregador ao seu empregado, mas também a parcela de
contribuição previdenciária sobre ela incidente.
A execução das contribuições previdenciárias diretamente pela Justiça do Trabalho
deu celeridade ao processo de arrecadação destas. Antes da EC 20/98, a responsabilidade pela
cobrança dessas contribuições era do INSS, que deveria, em caso de inadimplemento das
obrigações tributárias, inscrever em dívida ativa e somente depois iniciar processo de
execução fiscal junto à Justiça Federal.
Na reclamação trabalhista, as contribuições sociais incidem sobre as verbas
remuneratórias a que tenha sido condenado o reclamado ou as devidas em virtude de acordo
homologado na Justiça do Trabalho.

7.10 - Contratação com o Poder Público (artigo 195, § 3º)

A pessoa jurídica em débito com o sistema da Seguridade Social, como estabelecido


em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios.
Considera-se a entidade em débito quando contra ela constar crédito da Seguridade
Social exigível decorrente de obrigação assumida como contribuinte ou responsável,
constituído por meio de notificação fiscal de lançamento, auto de infração, confissão ou
declaração, assim também entendido o que tenha sido objeto de informação na Guia de
Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência
Social.

7.11 – Aposentadoria especial (artigo 201, § 1º)

É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de


aposentadoria aos beneficiários do RGPS, ressalvados os casos de atividades exercidas sob

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condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidos em lei
complementar.
É a chamada aposentadoria especial, que reduz o tempo de contribuição necessário à
concessão do benefício para os segurados expostos a agentes nocivos prejudiciais à saúde e à
integridade física.
Existem, ainda, vários outros dispositivos constitucionais que tratam da Seguridade
Social. Todavia, não é possível tratar de todos esses dispositivos em tão curto espaço de
tempo. Até porque o assunto principal a ser tratado no Direito Previdenciário é a Previdência
Social e o seu funcionamento, havendo espaço apenas para disposições gerais acerca da
Seguridade Social como um todo.

8. O Direito Previdenciário brasileiro

A Legislação Previdenciária é o conjunto de normas que visam organizar a seguridade


social e o sistema protetivo. O Direito Previdenciário, de sua vez, objetiva a análise e o estudo
aprofundado dessas normas, com maior ênfase na previdência social.
Por outro lado, o estudo de qualquer ramo do Direito passa pela compreensão das
fontes utilizadas para sua formação. De acordo com Alice Monteiro de Barros (2013, p. 81),
entende-se como fonte o fundamento de validade da norma jurídica, bem como a
exteriorização do Direito.
A importância das fontes do ordenamento jurídico reside no fato de elas serem a
origem da formação das normas jurídicas e dos mecanismos concretos de exteriorização
dessas normas, de modo que a relevância de uma fonte em detrimento de outra influencia
diretamente a aplicação de uma norma em um caso concreto.
No estudo da Ciência do Direito, as fontes jurídicas são divididas em duas categorias:
as fontes materiais, que são os fatores que influenciam e transformam as normas jurídicas; e
as fontes formais, que abarcam os mecanismos e modalidades mediante os quais o Direito
transparece e se manifesta. As fontes materiais são divididas de acordo com os fatores que
influenciam as normas jurídicas (fontes econômicas, sociológicas, políticas, filosóficas). As
fontes formais, por sua vez, se dividem em heterônomas – regras de direta origem estatal,
como a Constituição -; e autônomas – regras produzidas com a participação direta de seus
destinatários, como os costumes.

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No Direito Previdenciário, as principais fontes formais são a Constituição, as Leis
8.212/91 e 8.213/91, e o Regulamento da Previdência Social (Dec. 3.048/99). São dignos de
nota, ainda, os atos administrativos (portarias, instruções normativas, etc.), que são de grande
importância na organização do sistema protetivo.
Há divergências doutrinárias sobre a origem do Direito Previdenciário. Para alguns,
ele surgiu a partir do Direito do Trabalho; para outros, surgiu do Direito Administrativo,
devido à organização estatal da proteção social; enquanto outros consideram que o Direito
Previdenciário sempre foi um ramo autônomo das Ciências Jurídicas.
Certo é que com o avanço da proteção social, abrangendo outros segmentos, como a
saúde e a assistência social, tornou-se necessário destacar do Direito os preceitos e princípios
ligados à seguridade social, que, atualmente, constam de ramo próprio: o Direito
Previdenciário.
Enfim, a autonomia do Direito Previdenciário é consequência do conjunto de
princípios jurídicos próprios deste ramo, além do complexo de normas aplicáveis a este
segmento.
Por fim, cumpre fazer algumas considerações acerca da interpretação das normas
relativas à seguridade social. Com efeito, a interpretação da lei, texto genérico e abstrato, visa
a determinar o sentido e a abrangência das normas jurídicas, de modo que seu aplicador
alcance a correta mens legis.
Aplicar a lei significa reconhecer a subsunção de determinado caso concreto à situação
genérica prevista em lei, ou seja, enquadrar determinado evento acontecido numa previsão
legal que o preceda.
Todavia, a aplicação do direito não pode reduzir-se a simples subsunções de normas,
pois o sistema lógico-axiomático é inadequado à abertura e mobilidade do sistema jurídico.
Por isso, muitas vezes, o intérprete irá se deparar com situações em que serão necessárias as
ponderações entre diversos valores em conflito, de modo a atender a justiça. A subsunção,
embora seja a regra no direito, não atende por completo todas as questões.
Ao interpretar um texto legal, o intérprete deve buscar, dentro das opções existentes no
mesmo, aquela que seja a mais compatível com o caso concreto, não se limitando às situações
previstas pelo legislador, quando da elaboração do texto.
É fundamental também a percepção da distinção entre a lei (preceito legal ou figura
literal legislativa) e a norma jurídica. A lei apenas reproduz, por meio de palavras, a norma
jurídica, figura abstrata, a qual deve ser alcançada pelo aplicador da lei. Daí a grande

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importância da hermenêutica jurídica. Somente saberá aplicar a lei de modo adequado quem
souber interpretá-la sabiamente.
Na busca da interpretação mais adequada, o intérprete utiliza-se de variados processos,
dentre eles:

a) Gramatical;
b) Finalístico ou Teleológico – é o método pelo qual se busca o fim almejado
pelo legislador. É o objetivo a ser atingido com o dispositivo legal. O Direito
não é um fim em si mesmo, e existe de modo a proporcionar o bem comum;
c) Sistemático – interpretação compatível com o ordenamento, verificando-se a
compatibilidade da lei a ser interpretada com outros diplomas legais e,
principalmente, com os princípios de direito envolvidos;
d) Histórico – momento de aprovação das leis;
e) Autentico – lei interpretativa;
f) Restritiva/Extensiva – busca-se a interpretação extensiva quando o legislador
disse menos do que queria. Já a interpretação restritiva é feita quando o
legislador diz mais do que queria. Em ambas as situações, o intérprete busca a
correta mens legis sem inovar no mundo jurídico.

Contudo, existem situações onde não é possível aplicar métodos de interpretação, por
inexistência ou omissão legislativa. Nesses casos, o intérprete deve aplicar o método de
integração, que visa o preenchimento de lacunas do ordenamento jurídico. Com efeito, o juiz
não pode deixar de resolver a lide proposta, alegando a inexistência de lei a respeito (art. 4º da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Portanto, quando impossibilitado de aplicar métodos de interpretação por omissão
legislativa, cabe ao aplicador do Direito utilizar-se de recursos integrativos, buscando a
solução adequada para a lide. As ferramentas para a integração são a analogia, a equidade, os
costumes e os princípios gerais do Direito.
Em derradeiro, é importante ressaltar, ainda, a questão da hierarquia das normas
jurídicas no Direito Previdenciário.
A hierarquia das normas é a ordem de graduação entre estas, segundo uma escala
decrescente, na qual a norma superior é substrato de validade da norma inferior: normas
constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias,

41
decretos legislativos e resoluções, decretos regulamentadores, normas internas (portarias,
despachos, etc.), e normas individuais (contratos, sentenças, etc.).
A legislação previdenciária é submetida a esta mesma hierarquia, prevalecendo as
normas constitucionais em detrimento das legais e estas, em detrimento das normas
complementares. A princípio, não há hierarquia entre as duas leis básicas da previdência (Leis
8.212/91 e 8.213/91), cabendo algumas regras de preferência em caso de conflitos de normas:
norma específica prevalece sobre a genérica e o in dubio pro misero.
De fato, o ordenamento jurídico busca algumas características elementares, entre elas,
ser completo e isento de contradições. Por óbvio, estas características não são absolutas, mas
impõem uma maneira de proceder que racionaliza o pensamento do profissional do direito e
permite a resolução de conflitos na imensa maioria dos casos.
A completude do Ordenamento busca trazer segurança jurídica, na acepção formal,
não podendo o juiz negar a jurisdição, em virtude de ausência de dispositivo legal. As normas
jurídicas também devem ser coerentes, despojadas de conflitos, garantindo a perenidade do
Direito, sendo as aparentes contradições resolvidas pelos critérios da hierarquia, da
especialidade e da cronologia.

42
A PREVIDÊNCIA SOCIAL

1. Regimes Previdenciários

Como dito, o sistema previdenciário brasileiro comporta os regimes básicos e os


complementares. Os regimes básicos, de filiação compulsória, são o RGPS (Regime Geral de
Previdência Social) e os RPPS (Regimes Próprios de Previdência de Servidores Públicos
Ocupantes de Cargos Efetivos). Já os regimes complementares, de ingresso facultativo,
comportam os segmentos privado (aberto e fechado), e público (exclusivamente fechado),
voltado apenas para servidores vinculados ao RPPS.

PREVIDÊNCIA SOCIAL
REGIMES COMPLEMENTARES
REGIMES BÁSICOS
(LC’s 108 e 109 de 2001)
Privado – paralelo ao RGPS
(art. 202 da CF/88)
RGPS (art. 201 da CF/88)
- Aberto
- Fechado
Público Fechado – paralelo ao RPPS
RPPS (art. 40 da CF/88) (art. 40, §§ 14-16, CF/88 – servidores efetivos)
(art. 142, X, CF/88 – militares)

O Regime Geral é o mais amplo, responsável pela proteção da grande massa de


trabalhadores brasileiros. É organizado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS,
autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência Social.
Os regimes próprios são mantidos pela União, pelos Estados e por alguns Municípios,
em favor de seus servidores públicos e militares. Nesses entes federativos, os servidores
ocupantes de cargos efetivos não são vinculados ao RGPS, mas sim ao Regime Próprio de
previdência. Somente com relação a esses regimes próprios é que Estados e Municípios
poderão legislar, sendo que a competência do RGPS é exclusiva da União.
A fiscalização dos RPPS’s, no que diz respeito ao cumprimento das normas gerais
fixadas em lei, é feita pelo Ministério da Previdência Social, que realiza esta incumbência de
acordo com as regras do Processo Administrativo Previdenciário – PAP.

43
Importante observar que o servidor público titular de cargo efetivo da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ou o militar dos Estados e do Distrito Federal,
filiado a regime próprio de previdência social, quando cedido a órgão ou entidade de outro
ente da federação, com ou sem ônus para o cessionário, permanecerá vinculado ao regime de
origem.
No que se refere aos regimes complementares, cumpre ressaltar que o regime
complementar ao RGPS é privado, enquanto o complementar ao RPPS é público (art. 40, §
15, CF/88), sendo em ambas as hipóteses o ingresso voluntário, tendo como escopo ampliar
rendimentos quando da aposentação. Cabe à União somente a fiscalização e regulamentação
de seu funcionamento. Não há obrigatoriedade em sua filiação; é opção individual do
beneficiário. Contudo, a adesão a este regime não exclui a obrigatoriedade de contribuir ao
RGPS ou regime próprio, no caso de servidor.
O regime complementar ao RGPS possui os segmentos aberto e fechado. O segmento
aberto de previdência complementar é mantido pelas entidades abertas, que são constituídas
sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios
de caráter previdenciário, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. Já as entidades fechadas de
previdência complementar, ao contrário das abertas, são somente acessíveis aos empregados
ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial (como a OAB).

44
O REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

1. Introdução

O Regime Geral de Previdência Social – RGPS é previsto no artigo 9º da Lei 8.213/91,


e no artigo 6º do Regulamento da Previdência Social (Dec. 3.048/99). O RGPS compõe, junto
com os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos e militares, e o sistema
complementar, a previdência social brasileira.
O RGPS visa a atender os beneficiários em todas as situações previstas no artigo 1º da
Lei 8.213/91, o qual dispõe que:

Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus
beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade,
desemprego involuntário2, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e
prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

Por se tratar de um plano básico, que visa assegurar aos beneficiários apenas os meios
indispensáveis de manutenção, o RGPS não objetiva pagar benefícios com valores altos,
tendo como teto atualmente o valor de R$ 5.189,82 (cinco mil cento e oitenta e nove reais e
oitenta e dois centavos).
O RGPS é administrado por uma autarquia federal, componente da Administração
Indireta federal, denominada Instituto Nacional do Seguro Social – INSS3. Na condição de
autarquia, o INSS é dotado de personalidade jurídica de direito público, vinculada ao
Ministério da Previdência Social – MPS.
A princípio, o INSS tem como incumbência precípua a organização da previdência
social, ficando de fora a assistência social e a saúde. Entretanto, por questões de ordem
prática, ainda que atualmente as ações de previdência e assistência social não mais estejam
vinculadas ao mesmo ministério, é comum observar-se o INSS administrando prestações de
natureza assistencial, como o benefício de prestação continuada, no valor de um salário-
mínimo.

2
Lembrando que o seguro-desemprego, embora possua natureza previdenciária, é administrado pelo
Ministério do Trabalho, que disponibiliza o seguro com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT.
3
O INSS, criado pela Lei 8.029/90, foi o resultado da fusão do IAPAS (Instituto de Administração Financeira da
Previdência e Assistência Social) com o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social)
45
O RGPS é o regime básico de previdência social, sendo de aplicação compulsória a
todos aqueles que exerçam algum tipo de atividade remunerada, exceto se esta atividade já
gera filiação a determinado regime próprio de previdência.
Mas não só quem trabalha poderá se filiar ao RGPS. As pessoas que não exercem uma
atividade remunerada poderão ingressar no regime na condição de segurados facultativos, a
exemplo do estagiário e da dona de casa.
As regras gerais do RGPS estão previstas no artigo 201 da CF/88, tendo seu Plano de
Custeio sido aprovado pela Lei 8.212/91, e o Plano de Benefícios pela Lei 8.213/91, ambos
regulamentados pelo Dec. 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social).
O RGPS é um sistema contributivo de repartição simples, pois restou instituído o
fundo único para o pagamento dos benefícios previdenciários (princípio da solidariedade),
sendo possível que determinados benefícios sejam concedidos mesmo que ainda não haja uma
contribuição sequer ao sistema, no interstício entre a filiação e o primeiro pagamento, a
exemplo da pensão por morte e do auxílio-acidente, prestações que dispensam a carência.
O fundo único do RGPS está previsto no artigo 250 da CF/88, e foi criado pelo artigo
68 da Lei Complementar 101/2000, estando vinculado ao Ministério da Previdência Social,
sendo gerido pelo INSS, cuja arrecadação está afetada exclusivamente ao pagamento dos
benefícios, na forma do artigo 167, XI, da Constituição, cabendo à União complementar os
recursos faltantes.
Atualmente, o RGPS funciona como o primeiro pilar do Sistema de Proteção Social no
Brasil, tendo como características gerais:

a) Público;
b) Contributivo;
c) Prima pelo equilíbrio financeiro e atuarial;
d) Filiação obrigatória para os trabalhadores em geral;
e) Repartição simples (fundo único);
f) Solidário;
g) Gestão quadripartite (Governo – Empregadores – Trabalhadores – Inativos);
h) Custeio tripartite (Governo – Empregadores – Trabalhadores).

46
2. Princípios específicos da Previdência Social

2.1 Princípio da contributividade (artigo 201 da CF/88)

A Previdência Social apenas concederá os seus benefícios e serviços aos segurados (e


seus dependentes) que se filiarem previamente ao regime previdenciário, sendo exigido o
pagamento de tributos classificados como contribuições sociais previdenciárias.
Importante ressaltar que a contributividade pode ser presumida, uma vez que em
muitas ocasiões a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições não é do segurado
beneficiário. O segurado empregado, por exemplo, não é o responsável tributário pelo
recolhimento das contribuições previdenciárias, e sim seu empregador.

2.2 Princípio da obrigatoriedade de filiação (artigo 201 da CF/88)

O RGPS é de caráter compulsório para os trabalhadores em geral, exceto se já


estiverem vinculados ao regime próprio dos servidores públicos e militares. Essa imposição
constitucional se justifica pelo princípio da solidariedade, pois lamentavelmente grande parte
das pessoas não programaria espontaneamente o seu futuro, de modo que, se a adesão ao
regime fosse facultativa, certamente poucos trabalhadores se filiariam.
Cabe ressaltar que esse princípio não se aplica aos segurados facultativos, pois eles
apenas se filiarão se manifestarem sua vontade e recolherem as contribuições respectivas.

2.3 Princípio do equilíbrio financeiro e atuarial (artigo 201 da CF/88)

Este princípio tem o objetivo de assegurar a incolumidade das contas previdenciárias


para as presentes e futuras gerações.
O equilíbrio financeiro tem direta ligação com a receita e as despesas do RGPS. Com
efeito, a arrecadação deverá cobrir o pagamento dos benefícios previdenciários, sob pena de
inexistência de equilíbrio financeiro.
Atualmente, o Regime Geral de Previdência Social tem um déficit bilionário, uma vez
que, somados os números urbanos e rurais, as receitas não fazem frente às despesas. Em 2009,
o prejuízo foi de R$ 36.400.000.000,00 (trinta e seis bilhões e quatrocentos milhões de reais).
Todavia, o grande desequilíbrio financeiro é observado na área rural, uma vez que as

47
contribuições dos segurados especiais rurais são bem inferiores às contribuições dos
segurados urbanos.
Já o equilíbrio atuarial diz respeito ao estudo estatístico da população brasileira, com o
objetivo de prevenir adversidades futuras, resguardando o equilíbrio financeiro. Por esse
motivo é que a legislação previdenciária deverá acompanhar a mutação dos fatos sociais a fim
de manter o equilíbrio das contas, como o estudo da expectativa de vida e da taxa de
natalidade.

2.4 Princípio da Universalidade de Participação nos Planos Previdenciários

Previsto expressamente no artigo 2º, I, da Lei 8.213/91, este princípio é corolário do


princípio da universalidade de cobertura e atendimento da Seguridade Social. Com efeito,
deverá o RGPS buscar sempre a sua expansão a fim de filiar cada vez mais segurados,
inclusive facultando a adesão ao plano das pessoas que não exercem atividade laboral
remunerada, na condição de segurados facultativos.
De fato, cada vez mais o Poder Público busca a inclusão previdenciária dos
trabalhadores informais, estimulando-os a verter contribuições ao RGPS, mesmo porque os
autônomos que conseguem acumular um salário mínimo mensal com o seu trabalho estão em
uma situação de clandestinidade previdenciária.

2.5 Princípio dos salários de contribuição corrigidos monetariamente

Previsto no artigo 2º IV, da Lei 8.213/91, este princípio dispõe que os salários de
contribuição utilizados como parâmetro para a incidência da contribuição social
previdenciária devem ser corrigidos monetariamente quando da concessão do benefício
previdenciário, evitando, assim, prejuízos aos beneficiários. A atualização é feita de acordo
com o índice legal (atualmente é o INPC)4.

4
O STJ firmou entendimento no sentido de que, desde que preservado o valor nominal do montante principal a
ser recebido pelo beneficiário, é possível a aplicação de índice inflacionário negativo sobre a correção
monetária de débitos previdenciários (EDcl no AgRg no Resp 1.142.014/RS, Relator Min. Teori Albino Zavascki,
11/10/2012)
48
2.6 Princípio da garantia do benefício não inferior ao salário mínimo

É assegurado constitucionalmente que nenhum benefício do RGPS que substitua o


rendimento do trabalho tenha valor inferior a um salário mínimo (art. 201, § 2º, CF/88). Nessa
trilha, o artigo 2º, VI, da Lei 8.213/91, elevou esta norma à categoria de princípio da
previdência social, fazendo com que apenas os benefícios que não venham a substituir a
remuneração do trabalhador possam ser inferiores a um salário mínimo, como ocorre com o
auxílio-acidente e o salário-família.
Todavia, essa garantia vem gerando uma situação inusitada e não isonômica para
muitos segurados e dependentes do RGPS, porquanto ao longo dos anos os benefícios
mínimos vêm sofrendo um reajuste maior que os demais, em decorrência dos maiores
reajustes do salário-mínimo ao longo das duas últimas décadas.
Para o ano de 2015, por exemplo, os benefícios acima de um salário-mínimo foram
corrigidos em 6,23% (variação do INPC de 2014), enquanto os benefícios no valor de um
salário-mínimo foram reajustados em 8,84%, percentual aplicado ao salário-mínimo.
Por essa razão a categoria inativa faz cada vez mais pressão política para a adoção de
um índice único para o salário-mínimo e todos os benefícios previdenciários do RGPS.

2.7 Princípio da previdência complementar facultativa

Além dos tradicionais planos básicos públicos (RGPS e RPPS), a previdência social
brasileira ainda contempla os planos complementares na área pública e na área privada. Em
todos os planos complementares, ao contrário dos planos básicos, a adesão será sempre
facultativa (artigo 2º, VII, da Lei 8.213/91).
A previdência complementar destina-se à manutenção do status social dos seus
beneficiários, tendo importante e crescente função social, mormente porque muitos gastos
pessoais são acentuados quando se chega à terceira idade.

2.8 Princípio da gestão quadripartite da previdência social

De acordo com o artigo 2º, VIII, da Lei 8.213/91, a previdência social deverá contar
com uma gestão democrática e descentralizada, com a participação de representantes do Poder
Público, empregadores, trabalhadores e aposentados nos órgãos colegiados.

49
Nesse sentido, a composição do CNPS – Conselho Nacional de Previdência Social,
órgão superior de deliberação colegiada, possui seis representantes do Governo Federal e
nove das demais categorias referidas.

2.9 Princípio da indisponibilidade dos benefícios previdenciários

Comumente, os benefícios da previdência social objetivam substituir a renda das


pessoas quando verificado em concreto um risco social previsto em lei como sua hipótese de
concessão, tendo nítida natureza alimentar.
De acordo com o artigo 114, da Lei 8.213/91, salvo quanto a valor devido à
previdência social e a desconto autorizado em Lei, ou derivado da obrigação de prestar
alimentos reconhecida em sentença judicial, o benefício não pode ser objeto de penhora,
arresto ou sequestro, sendo nula de pleno direito a sua venda ou cessão, ou a constituição de
qualquer ônus sobre ele, bem como a outorga de poderes irrevogáveis ou em causa própria
para o seu recebimento.

50
SEGURADOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Os beneficiários do RGPS são as pessoas naturais que fazem jus ao recebimento de


prestações previdenciárias, no caso de serem atingidas por algum dos riscos sociais previstos
em lei. São beneficiários do RGPS os segurados e seus dependentes.
Os segurados do Regime Geral dividem-se em dois grupos: os segurados obrigatórios
e facultativos.
Os segurados obrigatórios são os maiores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz
(caso em que é permitido o início das atividades a partir dos 14 anos), que exercem qualquer
tipo de atividade remunerada lícita que os vinculem, obrigatoriamente, ao sistema
previdenciário (princípio da compulsoriedade).
A legislação previdenciária subdivide os segurados obrigatórios em cinco categorias:

a) Empregado;
b) Empregado doméstico;
c) Trabalhador avulso;
d) Segurado especial;
e) Contribuinte individual.

Já o segurado facultativo é aquele que, mesmo não estando vinculado


obrigatoriamente à previdência social, por não exercer atividade remunerada, opta pela sua
inclusão no sistema protetivo. Ele deve ter, no mínimo, 16 anos de idade.
O segurado facultativo foi criado para atender ao princípio da universalidade de
cobertura e do atendimento, pois, desta forma, até mesmo os que não trabalham podem optar
pela sua inclusão no sistema previdenciário.

1. Segurados obrigatórios

1.1 Empregados (arts. 12, I, da Lei 8.212/91 e 11, I, da Lei 8.213/91)

A legislação previdenciária enuncia as hipóteses de enquadramento de um trabalhador


como segurado empregado da previdência social, ressaltando que é uma categoria de
segurados mais extensa do que os abarcados pela definição de relação de emprego fornecida

51
pela legislação trabalhista, que exige remuneração, pessoalidade, subordinação e
habitualidade para a configuração do vínculo de emprego.
Com efeito, a lei enquadra como segurado empregado as seguintes pessoas:

a) Aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter


não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como
diretor empregado;

O conceito de empregado aqui mencionado se assemelha àquele previsto na legislação


trabalhista (art. 3º da CLT), que prevê como requisitos para a caracterização da relação de
emprego a pessoa física, subordinação, habitualidade, onerosidade, e pessoalidade.
Quanto a esse segurado obrigatório, é interessante mencionar que devido à relevância
do enquadramento correto do trabalhador para o custeio e benefício previdenciário, a
fiscalização poderá reconhecer a existência de vínculo empregatício, sempre que observar a
existência dos requisitos legais, tendo autonomia, inclusive, para descaracterizar a pessoa
jurídica e impor os efeitos da relação de trabalho. Ou seja, em se tratando de obrigação
tributária, a fiscalização poderá reconhecer o vínculo de emprego, se presentes os requisitos
legais, não havendo necessidade de demanda na justiça especializada trabalhista para o
reconhecimento desse vínculo.5
Outrossim, a comprovação do trabalho rural será feita com base na Lei 11.718/08.

b) Aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, definida em


legislação específica, presta serviço para atender a necessidade transitória de
substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de
serviços de outras empresas;

Trata-se do trabalhador temporário regido pela Lei 6.019/74, sendo o trabalho


temporário definido como aquele prestado por pessoa física a uma empresa, para atender à
necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou a acréscimo
extraordinário de serviços, não se enquadrando nesse conceito os trabalhadores eventuais ou
empregados contratados por tempo determinado. Vale ressaltar que a contratação não poderá
ter prazo superior a três meses.

5
Nesse sentido, veja-se: STJ REsp 236.279/RJ, Relator Min. Garcia Vieira, 08/02/2000.
52
Entende-se por empresa de trabalho temporário a pessoa física ou jurídica urbana, cuja
atividade consiste em colocar à disposição de outras empresas, temporariamente,
trabalhadores, devidamente qualificados, por elas remunerados e assistidos.

c) O brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar


como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior;

Frise-se que o conceito de empresa brasileira foi alterado pela EC 06/95, de modo que
não há necessidade de a empresa ser nacional para a aplicação deste dispositivo, bastando que
a pessoa jurídica seja constituída sob a égide da legislação brasileira e conte com pelo menos
uma sucursal em solo nacional.

d) Aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição


consular de carreira estrangeira e a órgãos a ela subordinados, ou a membros
dessas missões e repartições, excluídos o não brasileiro sem residência
permanente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislação previdenciária
do país da respectiva missão diplomática ou repartição consular;

Trata-se de norma supletiva do RGPS, que visa conferir cobertura à pessoa que presta
serviços no Brasil à missão diplomática ou a consulado estrangeiro, que apenas incidirá se o
brasileiro não estiver coberto pela previdência estrangeira ou se cuidar de estrangeiro sem
residência permanente no Brasil.

e) O brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos


oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo,
ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da
legislação vigente do país do domicílio;

Organismos internacionais dos quais o Brasil seja membro: ONU, OEA, etc.
Organismos oficiais brasileiros: embaixadas e consulados.
Também é uma norma supletiva, aplicável apenas ao brasileiro civil que não esteja
coberto pela previdência estrangeira.

53
f) O brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar
como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital
votante pertença a empresa brasileira de capital nacional;

g) O servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vínculo efetivo com a


União, Autarquias, inclusive em regime especial, e Fundações Públicas
Federais;

Este dispositivo está em consonância com o artigo 40, §13, da CF/88, inserido pela EC
20/98, que enquadrou os servidores titulares exclusivamente de cargos em comissão,
empregos públicos ou outros vínculos temporários como segurados obrigatórios do RGPS.
Nesse rol estão insertos os ministros e secretários sem vínculo efetivo com a
Administração Pública (art. 12, §6º, da Lei 8.212/91). Importante notar que, embora o
dispositivo não mencione os servidores estaduais, distritais e municipais, a EC 20/98 incluiu-
os como segurados do RGPS.

h) O exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não


vinculado a regime próprio de previdência social;

Esta alínea foi declarada inconstitucional pelo STF, por meio do julgamento do RE
351.717, pois, de acordo com o entendimento dos ministros, restou instituída uma nova fonte
de custeio não prevista no artigo 195 da CF/88.
Todavia, a apreciação do STF tomou como parâmetro o texto do artigo 195
anteriormente à reforma da previdência social perpetrada pela EC 20/98. Com efeito, antes da
reforma, não poderia o titular de mandato eletivo ter sido inserido como segurado do RGPS
por lei ordinária, uma vez que inexistia essa fonte de custeio para o pagamento das
contribuições previdenciárias.
Contudo, após a EC 20/98, a questão foi regularizada, uma vez que estão consignados
como fonte de custeio o trabalhador e os demais segurados do RGPS, na forma da nova
redação do inciso II, do artigo 195, da CF/88. Ademais, com a atual redação do artigo 195, I,
‘a’, a contribuição previdenciária das empresas e equiparados não incidirá apenas sobre a
folha de salários, mas também sobre os demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,
a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício.

54
Como será visto, a situação foi resolvida com a edição da Lei 10.887/04, que inseriu
nova alínea aos artigos 12, I, da Lei 8.212/91, e 11, I, da Lei 8.213/91, reinserindo o exercente
de mandato eletivo como segurado do RGPS.

i) O empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em


funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por regime próprio de
previdência social;

j) O exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não


vinculado a regime próprio de previdência social.

Através da promulgação da Lei 10.887/04, foi repetida a redação da alínea ‘h’, pois,
com o advento da EC 20/98, que alterou a redação do artigo 195, II, da CF/88, o texto
constitucional agora se refere ao trabalhador e demais segurados da Previdência Social, não
cabendo mais se falar em inconstitucionalidade formal desta previsão por ser tema afeto à lei
complementar para a criação de nova fonte de custeio.
Desse modo, a partir da vigência da Lei 10.887/04, observada a noventena, o
exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal é segurado do RGPS, desde que
não esteja vinculado ao RPPS.6
Importante ressaltar que apenas será filiado ao RGPS, na condição de empregado, o
titular de mandato eletivo não vinculado a RPPS. Entretanto, na hipótese do vereador, que
poderá continuar a exercer a função no serviço público efetivo e a vereança, se houver
compatibilidade de horários, será obrigatoriamente filiado ao RGPS em razão do cargo
eletivo, devendo contribuir para o RGPS sobre a remuneração recebida pelo exercício do
mandato eletivo e para o RPPS sobre a remuneração recebida pelo exercício do cargo efetivo.
Por fim, cabe anotar que o congressista federal (Deputado Federal e Senador da
República) que optar em se filiar ao Plano de Seguridade Social dos Congressistas também
não será filiado ao RGPS.

6
É devida a restituição das contribuições previdenciárias descontadas dos titulares de mandato eletivo e das
respectivas entidades políticas até a data de 21/09/2004 (data de vigência da Lei 10.887/04 + 90 dias) – TRF 1ª
Região, 7ª Turma, AC 200738090011644, 11/05/2009.
55
k) Outras hipóteses de segurados empregados.

Além destas hipóteses genéricas de segurados empregados, outras são contempladas


em regulamentação específica no artigo 9º, I, do Dec. 3.048/99, tais como:

 Bolsista e estagiário que prestam serviços a empresa, em desacordo com a Lei


11.788/08;
 Servidor contratado pela União, Estado, DF ou Município, bem como pelas
respectivas autarquias e fundações, por tempo determinado, para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos do artigo
37, IX, da CF/88;
 Servidor da União, Estado, DF e Município, incluídas as suas autarquias e
fundações, ocupante de emprego público;
 Escrevente e auxiliar contratados por titular de serviços notariais e de registro
a partir de 21/11/94 (data em que os Serviços Notariais e de Registro foram
estabelecidos como atividade auxiliar de caráter privado), bem como aquele
que optou pelo RGPS, em conformidade com a Lei 8.935/94;
 Trabalhador rural contratado por produtor rural pessoa física, na forma do
artigo 14-A, da Lei 5.889/73, para o exercício de atividades de natureza
temporária por prazo não superior a dois meses dentro do período de um ano.

1.2 Empregado doméstico (arts. 11, II, Lei 8.213/91 e 12, II, Lei 8.212/91)

Empregado doméstico é aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou


família no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos, ou seja, é aquele
trabalhador que, além dos requisitos inerentes à relação de emprego, reúne mais dois: trabalho
em âmbito familiar e sem finalidade lucrativa.
Importante ressaltar que o conceito de ambiente familiar não se restringe ao ambiente
interno da casa da família, mas também ao jardim ou até atividades externas, desde que
direcionadas ao bem-estar familiar, sem a finalidade lucrativa, como o motorista particular, o
piloto de helicóptero e jato particular. São todos empregados domésticos.
Cabe ao empregador doméstico registrar a carteira de trabalho do empregado
doméstico, além de efetuar os recolhimentos previdenciários mensalmente, incluído neste

56
aporte a sua contribuição na condição de empregador doméstico e a parcela descontada do
empregado doméstico7.

1.3 Trabalhador avulso (arts. 12, VI, Lei 8.212/91 e 11, VI, Lei 8.213/91)

O trabalhador avulso, para efeitos previdenciários, é definido no Regulamento da


Previdência Social (art. 9º, VI, Dec. 3.048/99) como aquele que, sindicalizado ou não, presta
serviço de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a
intermediação obrigatória do órgão gestor de mão de obra, nos termos da Lei 8.630/93, ou do
sindicato da categoria, assim considerados:

a) O trabalhador que exerce atividade portuária de capatazia, estiva, conferência e


conserto de carga, vigilância de embarcações e bloco;
b) O trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvão e
minério;
c) O trabalhador em Alvarenga (embarcações para carga e descarga de navios);
d) O amarrador de embarcação;
e) O ensacador de café, cacau, sal e similares;
f) O trabalhador na indústria de extração de sal;
g) O carregador de bagagem em porto;
h) O pratico de barra em porto;
i) O guindasteiro; e
j) O classificador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos.

O avulso é o trabalhador sem vínculo empregatício; caso exista vínculo, ele é


empregado. Seu serviço pode ser prestado tanto na área rural como na urbana, na área
portuária ou terrestre.
Somente será segurado avulso aquele que presta serviço com a intermediação
obrigatória do sindicato, para os avulsos terrestres, ou o OGMO – Órgão Gestor de Mão de
Obra, para os avulsos portuários. Caso o serviço seja prestado diretamente pelo trabalhador,

7
A EC 72/2013 não trouxe maiores alterações no âmbito previdenciário. O empregador doméstico continua
obrigado a contribuir no percentual de 12% sob a remuneração do empregado, e o empregado continua
obrigado a contribuir no percentual progressivo de 8%, 9% ou 11%, a depender de sua remuneração.
57
não há a conformação à lei e, portanto, não se trata de trabalhador avulso, sendo um
contribuinte individual, desde que atue sem vínculo de emprego.

1.4 Segurado especial (arts. 12, VII, Lei 8.212/91 e 11, VII, Lei 8.213/91)

O segurado especial é o único segurado com definição no próprio texto constitucional,


o qual determina o tratamento diferenciado a lhe ser dado:

O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem


como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia
familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social
mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da
produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei (art. 195, §8º, CF/88)

O segurado especial se traduz, resumidamente, no pequeno produtor rural e no


pescador artesanal.
Com efeito, é considerado segurado especial a pessoa física residente no imóvel rural
ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de
economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua
colaboração, na condição de:

a) Produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou


meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:

1. Agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; ou


2. De seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos
termos do inciso XII do caput do art. 2º da Lei 9.985, de 18 de julho de
2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida;

b) Pescador artesanal ou a este assemelhado, que faça da pesca profissão habitual


ou principal meio de vida; e
c) Cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de
idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste
inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.

Ainda dispõe a Lei 11.718/08, que:


58
Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento
socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua
dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. (art. 9º)

No caso do produtor rural que explore atividade agrícola ou pecuária, apenas será
considerado como segurado especial aquele cujo prédio rústico tenha área equivalente a até 04
módulos fiscais, pois a exploração em terra com dimensão maior afasta a caracterização da
atividade familiar de subsistência. Por outro lado, caso se trate de atividade rural
agroextrativista, o enquadramento da pessoa natural como segurado especial independerá da
dimensão da área.
Importante ressaltar que não é necessária a comprovação da propriedade pelo segurado
especial, bastando até mesmo a simples posse precária do imóvel. Os integrantes do
Movimento Sem Terra, por exemplo, podem ser caracterizados como segurados especiais,
desde que cumpram os requisitos legais.
Para que sejam caracterizados como segurados especiais, o cônjuge, o companheiro ou
o filho deverão trabalhar comprovadamente nas atividades lavorais do grupo familiar.
Será possível que o segurado especial contrate temporariamente terceiros para
auxiliarem no trabalho no período de safra, desde que não ultrapasse 120 pessoas/dia ano
civil, ou seja, é possível que o segurado especial contrate uma pessoa para trabalhar durante
120 dias em um ano, ou duas pessoas para trabalhar durante 60 dias.
Ademais, a Lei 11.718/08 incluiu na legislação previdenciária (§§ 9º e 10, Lei
8.212/91) as hipóteses que não descaracterizam a condição de segurado especial, como a
possibilidade de utilização da propriedade para fins turísticos, e também as hipóteses em que
o segurado poderá aferir outra fonte de rendimento, como o benefício de pensão por morte.

1.5 Contribuinte individual (arts. 12, V, Lei 8.212/91 e 11, V, Lei 8.213/91)

O contribuinte individual é espécie de segurado bastante genérica, ampla,


comportando trabalhadores muito distintos entre si, mas com algo em comum: nenhum deles
se enquadra nas situações anteriores. Isto é, como contribuintes individuais temos todos
aqueles que fogem às regras já expostas.
São segurados na condição de contribuintes individuais:

59
a) A pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a
qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4
(quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro)
módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por
intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 10 e 11 deste artigo;

São aqueles que, embora exerçam as mesmas atividades, não se adéquam à classe dos
segurados especiais, por não cumprirem os requisitos necessários.

b) A pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral


- garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por
intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a
qualquer título, ainda que de forma não contínua;

c) O ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada,


de congregação ou de ordem religiosa;

d) O brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional


do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado,
salvo quando coberto por regime próprio de previdência social;

Se for contratado pela União, será segurado empregado (art. 12, I, ‘e’). Neste caso, é
preciso que a contratação se dê por organismo internacional que o Brasil seja membro efetivo,
salvo se coberto por regime próprio.

e) O titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o


membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio
solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam
remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o
associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade
de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador
eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam
remuneração;

60
São aqueles antigamente denominados de segurados empresários. Qualquer forma de
exercício de direção de sociedade, desde que remunerada, é obrigatoriamente vinculada ao
RGPS.

f) Quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma


ou mais empresas, sem relação de emprego;

Trata-se do trabalhador que presta serviços à pessoa jurídica sem relação de emprego,
ou seja, sem pessoalidade, subordinação ou habitualidade, que não se enquadram na condição
de segurado avulso.

g) A pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza
urbana, com fins lucrativos ou não.

São os antigos trabalhadores autônomos, que auferem remuneração ao trabalhar por


conta própria, mesmo sem finalidade lucrativa.
Além dessas hipóteses, o Regulamento da Previdência Social traz outras modalidades
de contribuintes individuais, como o Micro Empreendedor Individual, a Empresa Individual
de Responsabilidade Limitada (EIRELI), e o notário ou tabelião titular de cartório admitido a
partir de 21/11/1994.

2. Segurados facultativos (art. 14, Lei 8.212/91)

A regra básica do seguro social é a compulsoriedade de filiação e a consequente


contribuição. Entretanto, obedecendo ao princípio da universalidade de participação no
RGPS, criou-se figura atípica, cuja filiação ao RGPS decorre exclusivamente de ato de
vontade do interessado. Atualmente, qualquer pessoa que não exerça atividade remunerada
que deflagre a filiação automática pode filiar-se ao RGPS como segurado facultativo.
Ressalte-se que os servidores públicos e militares vinculados ao RPPS não podem
ingressar no RGPS com segurados facultativos, pois já exercem uma atividade remunerada
como servidores públicos.

61
Para uma pessoa se filiar como segurado facultativo, basta atender a dois requisitos
básicos: não ser segurado obrigatório e ser maior de 16 anos 8. São exemplos de segurados
facultativos a dona de casa e o estudante.

TABELA – SEGURADOS OBRIGATÓRIOS

- aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter


não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como
diretor empregado;
- aquele quem contratado por empresa de trabalho temporário, definida em
legislação específica, presta serviço para atender a necessidade transitória de
substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário
de serviços de outras empresas;
- o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para
trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no
exterior;
- aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição
consular de carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a
membros dessas missões e repartições, excluídos o não brasileiro sem
residência permanente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislação
previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou repartição
Empregados consular;
- o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos
oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo,
ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da
legislação vigente do país do domicílio;
- o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar
como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do
capital votante pertença a empresa brasileira de capital nacional;
- o servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vínculo efetivo
com a União, Estados, DF e Municípios, suas Autarquias, inclusive em
regime especial, e Fundações Públicas;
- o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em
funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por regime próprio de
previdência social;
- o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que
não vinculado a regime próprio de previdência social.
Empregados
- aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, em
domésticos atividades sem fins lucrativos.
Trabalhador - aquele que presta serviços a diversas empresas, sem vínculo empregatício,
de natureza urbana ou rural, sindicalizado ou não, por intermédio de órgão
avulso
gestor de mão de obra ou do sindicato da categoria.

8
O artigo 14 da Lei 8.212/91 prevê a idade de 14 anos. Todavia, o Regulamento de Previdência Social, em seu
artigo 11, dispõe que a idade mínima para se tornar segurado facultativo é de 16 anos, sendo esta a posição
correta.
62
- a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural
próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar,
ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de produtor rural,
que explora atividade agropecuária em área de até 4 módulos fiscais ou de
Segurados
seringueiro ou extrativista vegetal como principal meio de vida;
especiais - pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão
habitual ou principal meio de vida;
- cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 anos de idade ou a
este equiparado, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar
respectivo.
- a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a
qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4
módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 módulos fiscais ou
atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de
prepostos;
- a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração
mineral (garimpo), em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por
intermédio de prepostos, com ou sem auxílio de empregados, utilizados a
qualquer título, ainda que de forma não contínua;
- o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida
consagrada, de congregação ou de ordem religiosa;
- o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial
Contribuinte
internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e
individual contratado, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social;
- o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o
membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio
solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam
remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o
associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou
entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou
administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde
que recebam remuneração;
- quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a
uma ou mais empresas, sem relação de emprego;
- a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de
natureza urbana, com fins lucrativos ou não.

3. Filiação e inscrição no RGPS

FILIAÇÃO – é o ato jurídico que vincula o segurado ao RGPS, tendo como


consequências a obrigatoriedade de contribuição ao sistema e o direito à percepção dos
benefícios e serviços da previdência.
INSCRIÇÃO – é o ato pelo qual o segurado é cadastrado no RGPS, mediante
comprovação dos dados pessoais e de outros elementos necessários e úteis a sua
caracterização.

63
A filiação é o ato jurídico que se estabelece entre o segurado e o RGPS. Decorre
automaticamente da atividade remunerada, ou seja, no momento em que uma pessoa iniciar o
exercício de alguma atividade remunerada, estará filiada à previdência social, inclusive os
aposentados que retornam ao mercado de trabalho.
Cabe ressaltar que o inicio da atividade remunerada não coincide, necessariamente,
com o efetivo começo do trabalho, mas sim quando está pactuada a prestação de serviços,
ainda que iniciada em outro momento ou o pagamento seja em outra data. Assim, por
exemplo, para o empregado, a confirmação da contratação pelo empregador já efetiva a
filiação ao RGPS.
Outrossim, para os contribuintes individuais que trabalhem por conta própria, não
bastará o simples exercício de atividade laborativa remunerada para que ocorra a filiação, que
é condicionada ao efetivo recolhimento das contribuições previdenciárias, pois inexiste
empresa ou empregador para ser o responsável pela arrecadação, competindo aos próprios
contribuintes individuais fazê-lo, a não ser que prestem serviço à empresas sem caracterização
de vínculo de emprego, quando então a responsabilidade tributária será da empresa.
Ressalte-se que a atividade exercida deve ser lícita, isto é, o trabalho em atividades
ilegais, como o tráfico de drogas, evidentemente não geral qualquer vínculo com a
previdência social. Todavia, não se deve confundir esta situação com o trabalho proibido,
vedado por lei em virtude de certas características, mas sem ilegalidade na atividade em si
considerada. Por exemplo, menores de 18 anos laborando em atividades insalubres. Nestas
situações, ainda que a atividade seja proibida, não poderia o trabalhador ser prejudicado pela
irregularidade de seu empregador, cabendo aí a aplicação de todas as normas previdenciárias,
incluindo a filiação automática.
A consequência da filiação compulsória é a obrigatoriedade de verter contribuições ao
sistema. Como o sistema previdenciário brasileiro é necessariamente contributivo, aquele que
está filiado ao RGPS deve, obrigatoriamente, verter contribuições ao sistema, as quais
deverão ser pagas, em regra, mensalmente.
Para os segurados obrigatórios, a filiação dá-se com o exercício de atividade
remunerada, independentemente da inscrição. Isso permite que qualquer segurado obrigatório
efetue recolhimentos em atraso de períodos anteriores à inscrição, desde que comprove ter
exercido atividade remunerada.

64
Já para os segurados facultativos, a filiação só se concretiza após a inscrição e o
recolhimento da primeira contribuição, não podendo as contribuições retroagir a períodos
anteriores a sua inscrição.
A inscrição, por seu turno, é ato meramente formal, pelo qual o segurado fornece
dados necessários para sua identificação à autarquia previdenciária. É interessante observar
que, na prática, a inscrição acaba por assumir maior relevância que a filiação, pois esta é, em
geral, desconhecida da autarquia previdenciária, enquanto a inscrição fica registrada em seus
cadastros, dando a equivocada impressão do ato formal como gerador de direitos e deveres
dos segurados.
Como regra, a inscrição dos segurados empregados é feita diretamente na empresa e
no sindicato ou órgão gestor de mão de obra para os segurados avulsos. Obviamente, caso
aquela não seja realizada pela empresa, poderá ser feita pelo próprio segurado, desde que
comprove o exercício da atividade, como, por exemplo, o registro na CTPS.
Os demais segurados são responsáveis pela própria inscrição, por meio das agências
do INSS ou mesmo pela internet. A inscrição do dependente é efetuada no momento do
requerimento do benefício a que tiver direito, ou seja, não é necessário que o segurado indique
seus dependentes no momento da inscrição, uma vez que a relação de dependentes é prevista
em lei, e não decorre da vontade do segurado.
A inscrição do segurado é representada pela atribuição de um Número de Identificação
do Trabalhador – NIT, perante a Previdência Social. O NIT utilizado pode ser o número de
inscrição no próprio INSS, no Programa de Integração Social – PIS, Programa de Formação
do Patrimônio Público – PASEP, ou no Sistema Único de Saúde – SUS.
O gerenciamento dos dados dos segurados filiados e inscritos no RGPS é feito pela
DATAPREV - Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social, por meio do
CNIS, sistema que objetiva permitir o reconhecimento automático de direitos previdenciários,
dificultar a concessão de benefícios irregulares, permitir o melhor controle da arrecadação e
servir de subsídio ao planejamento de políticas públicas.
Por fim, cabe ressaltar que aquele que exercer, concomitantemente, mais de uma
atividade remunerada sujeita ao Regime Geral, será obrigatoriamente filiado e inscrito em
relação a cada uma delas.

65
4. Conceito de Tomadores de Serviço para o Direito Previdenciário

Como visto anteriormente, a Previdência Social é financiada pelo Governo, pelos


empregadores e pelos segurados. Os segurados foram especificados acima, restando, portanto,
uma breve explanação acerca dos empregadores, que tem um conceito diferenciado no Direito
Previdenciário.
Com efeito, os tomadores de serviço são as empresas e entidades a ela equiparadas e
os empregadores domésticos. O artigo 15 da Lei 8.212/91 traz o conceito de empresa e do
empregador doméstico no âmbito previdenciário:

I – empresa – a firma individual ou sociedade que assume o risco de atividade


econômica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e
entidades da administração pública direta, indireta e fundacional;
II – empregador doméstico – a pessoa ou família que admite a seu serviço, sem
finalidade lucrativa, empregado doméstico.

Ainda traz a lei a figura do equiparado à empresa, que é também sujeito passivo da
relação obrigacional previdenciária, como se empresa fosse. Reza a lei que se equipara à
empresa (art. 12 do Dec. 3.048/99):

I – o contribuinte individual, em relação a segurado que lhe presta serviço;


II – a cooperativa, a associação ou a entidade de qualquer natureza ou finalidade,
inclusive a missão diplomática e a repartição consular de carreiras estrangeiras;
III – o operador portuário e o órgão gestor de mão de obra de que trata a Lei
8.630/93; e
IV – o proprietário ou dono de obra de construção civil, quando pessoa física, em
relação a segurado que lhe presta serviço.

Tal previsão tem como objetivo evitar a elisão à contribuição previdenciária por
aspectos meramente formais de algumas figuras atípicas. Como se vê, o conceito é bastante
amplo, pois centra-se no quesito suficiente e necessário para a qualificação de sujeito passivo
da contribuição previdenciária: utilizar-se de trabalho remunerado na realização de alguma
atividade, ainda que não econômica.
Dentro da seara previdenciária, portanto, tem-se por empresa não só a entidade com o
objetivo de lucro, mas qualquer pessoa, inclusive a natural, que, no exercício de alguma
atividade, venha a remunerar o labor de outrem, realizado em auxílio de seu mister.
Ainda é de extrema importância a visualização da empresa na condição de
patrocinadora da proteção social de seus obreiros. Esta é a realidade existente, desde o

66
nascimento do seguro social, no modelo bismarckiano9, através do qual as cotizações também
eram impostas às entidades empregadoras. Com a evolução do seguro social para a
previdência social, a clientela protegida foi aumentada, e, por consequência, o conceito de
entidade empregadora, de modo a abarcar, inclusive, aquelas sem relação de emprego com os
segurados.
Para a efetivação do controle de arrecadação das contribuições, é necessário que a
empresa realize sua matrícula no sistema previdenciário, nos termo e condições estabelecidas
pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. De acordo com o disposto no art. 256 do Dec.
3.048/99, a matrícula da empresa será feita:

I – com a inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ;


II – perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil – SRFB, no prazo de 30
(trinta) dias, contados do início de suas atividades, quando não sujeita à inscrição no
CNPJ. Incluem-se neste item as obras de construção civil. As empresas ou obras
nesta situação receberão “Certificado de Matrícula” (CEI), com número cadastral
básico, de caráter permanente.

Caso a empresa não efetue a matrícula, no caso do inciso II, a SRFB a fará de ofício,
além de aplicar uma multa à empresa.
Por fim, cabe ressaltar as especificidades do empregador doméstico. Com efeito, o
empregador doméstico não se equipara à empresa, não estando sujeito a todas as obrigações
acessórias desta. Contudo, com a recente promulgação da EC 72/2013, o recolhimento do
FGTS do empregado doméstico se tornou obrigatório, de modo que até mesmo o empregador
doméstico deve providenciar sua matrícula no Cadastro Específico do INSS (CEI).
Importante ressaltar, todavia, que o empregador doméstico não é segurado obrigatório
do RGPS. Participa do sistema apenas como contribuinte por contratar serviço de trabalhador
filiado ao sistema. Pode, no entanto, ser filiado ao Regime Geral em função de sua atividade
profissional, ou, no caso de não a exercer, na qualidade de facultativo.

9
Modelo de previdência criado na Alemanha, em 1883, que deu origem à previdência social no mundo.
67
CUSTEIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

1. Disposições iniciais

O artigo 195 da Constituição Federal de 1988 dispõe que a Seguridade Social será
financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do DF e dos Municípios, e das contribuições sociais. O
financiamento direto é feito pelas contribuições sociais, enquanto o indireto é realizado por
meio de dotações orçamentárias fixadas no orçamento fiscal dos entes da federação.
A Saúde e a Assistência Social terão como principal fonte de custeio as contribuições
indiretas da sociedade, ou seja, os repasses do orçamento fiscal dos entes da federação. Já a
Previdência Social, como sistema contributivo, terá como principal fonte de custeio as
contribuições diretas da sociedade, obtidas por meio da arrecadação de tributo específico
(contribuições sociais).
É de ver-se, portanto, que o custeio da Previdência Social será feito a partir da
arrecadação das chamadas contribuições sociais, espécie distinta de tributo prevista nos
artigos 149 e 195 da Constituição. Tais contribuições tem o objetivo de cobrir o pagamento
dos benefícios do RGPS. Caso haja insuficiência de recursos, cabe à União cobrir o déficit, de
modo a garantir o direito de todos os segurados, nos termos do artigo 16, parágrafo único, da
Lei 8.212/91:

Art. 16. A contribuição da União é constituída de recursos adicionais do Orçamento


Fiscal, fixados obrigatoriamente na lei orçamentária anual.
Parágrafo único. A União é responsável pela cobertura de eventuais insuficiências
financeiras da Seguridade Social, quando decorrentes do pagamento de benefícios de
prestação continuada da Previdência Social, na forma da Lei Orçamentária Anual.

Entretanto, as contribuições sociais não se destinam unicamente ao financiamento da


Previdência, mas também da Saúde e Assistência Social. Assim, a própria Carta Magna
distingue as contribuições que serão utilizadas para o custeio da Previdência daquelas que
serão utilizadas para o custeio dos outros ramos da Seguridade Social.
Com efeito, segundo o disposto no artigo 167, XI, da CF/88:

Art. 167. São vedados:


(...)
XI – a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o
artigo 195, I, ‘a’, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de
benefícios do Regime Geral de Previdência Social de que trata o artigo 201.
68
Nota-se, portanto, que a própria Constituição define quais serão as contribuições
utilizadas para financiar a Previdência Social:

a) Do trabalhador e demais segurados da previdência social, não incidindo


contribuição sobre as aposentadorias e pensões do RGPS1011, na forma do
artigo 195, II, da CF/88;
b) Do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidente sobre a folha de salários, e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício, consoante previsão do artigo 195, I, ‘a’, da CF/88.

Ressalte-se que a União é a responsável pelo complemento dos recursos financeiros


para o pagamento dos benefícios previdenciários do RGPS, na hipótese de insuficiência de
fundos (competência residual).

Do trabalhador e demais
segurados do RGPS

Contribuições previdenciárias

Do empregador, empresa
ou equiparado

A competência para arrecadar, lançar e normatizar o recolhimento das contribuições


previdenciárias é da Secretaria da Receita Federal do Brasil – SRFB, nos termos da Lei
11.457/07.
A natureza jurídica das contribuições previdenciárias, de acordo com entendimento
majoritário, é tributária. No que se refere à contribuição vertida pelo segurado facultativo,
contudo, há certa controvérsia. Com efeito, na visão doutrinária, as contribuições
previdenciárias dos segurados facultativos não têm natureza fiscal, uma vez que o ingresso no

10
Importante anotar que a imunidade tributária se refere aos proventos do benefício previdenciário. Se um
aposentado pelo RGPS voltar a exercer atividade que o vincule ao Regime, deverá contribuir sobre os
rendimentos dessa atividade.
11
Os inativos e pensionistas do Regime Próprio dos Servidores Públicos, ao contrário do que ocorre no RGPS,
deverão contribuir para o Regime ao qual pertencem. Todavia, tal contribuição só terá efeito sobre os valores
que ultrapassarem o teto do RGPS.
69
RGPS não é compulsório para esses segurados. Tal interpretação afastaria a incidência do
regime jurídico tributário quanto ao segurado facultativo.
Todavia, o STF se posiciona no sentido de que as contribuições sociais, inclusive as
previdenciárias, têm natureza tributária e se submetem ao regime jurídico-tributário previsto
na Constituição12.
Já no que se refere ao fato gerador da obrigação previdenciária, o entendimento
jurisprudencial é pacífico no sentido de que se considera ocorrido o fato gerador das
contribuições sociais na data da prestação de serviços.
O que ocorre é que a legislação previdenciária concede um prazo para o pagamento da
contribuição previdenciária, após o nascimento da obrigação tributária verificado na data da
prestação do serviço, normalmente no mês subsequente ao da respectiva competência.
De se observar, contudo, que esse prazo não tem qualquer relação com a obrigação de
fato. O fato gerador é a situação que gera a obrigação tributária, não importando se o
pagamento da obrigação será feito em momento posterior. Nesse sentido é a posição do STF:

Aplica-se à tributação da pessoa jurídica, para as contribuições destinadas ao custeio


da seguridade social, calculadas com base na remuneração, o regime de
competência. Assim, o tributo incide no momento em que surge a obrigação legal de
pagamento, independentemente se este irá ocorrer em oportunidade posterior
(Segunda Turma - AgR no RE 419.612, Relator Min. Joaquim Barbosa, DJE
06/04/2011)

Desse modo, de acordo com a SRFB, constitui fato gerador da obrigação


previdenciária principal:

I – em relação ao segurado empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso e


contribuinte individual, o exercício de atividade remunerada;
II – em relação ao empregador doméstico, a prestação de serviços pelo segurado
empregado doméstico, a título oneroso;
III – em relação à empresa ou equiparado à empresa:
a) A prestação de serviços remunerados pelos segurados empregado,
trabalhador avulso, contribuinte individual e cooperado intermediado por
cooperativa de trabalho;
b) A comercialização da produção rural própria, se produtor rural pessoa
jurídica, ou a comercialização da produção própria ou da produção própria e da
adquirida de terceiros, se agroindústria;
c) A realização de espetáculo desportivo gerador de receita, no território
nacional, se associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional;
d) O licenciamento de uso de marcas e símbolos, patrocínio, publicidade,
propaganda e transmissão de espetáculos desportivos, a título oneroso, se associação
desportiva que mantém equipe de futebol profissional, inclusive para participar do
concurso de prognóstico de que trata a Lei 11.345/06;

12
RE 556.664, de 12/06/2008
70
IV – em relação ao segurado especial e ao produtor rural pessoa física, a
comercialização de sua produção rural;
V – em relação à obra de construção civil de responsabilidade de pessoa física, a
prestação de serviços remunerados por segurados que edificam a obra.

Por fim, para a compreensão do custeio da Previdência Social, é necessário o


entendimento de três pontos básicos:

a) Quem contribui;
b) Sobre o que contribui;
c) Quanto contribui.

Os contribuintes diretos da Previdência Social são os segurados e os tomadores de


serviço. Os segurados são divididos em dois grupos: os obrigatórios (empregado, empregado
doméstico, trabalhador avulso, segurado especial e contribuinte individual); e os facultativos
(aqueles que não exercem atividade remunerada). Já os tomadores de serviço são os
empregadores, os empregadores domésticos, as empresas e as entidades a ela equiparadas na
forma da lei.
Os segurados da Previdência Social já foram devidamente especificados, bem como
foi abordado o conceito dos tomadores de serviço para fins previdenciários. Portanto, resta o
estudo acerca da base de incidência das contribuições previdenciárias, e do percentual que
deverá incidir sobre essa base para determinar o valor da contribuição.

2. O Salário de Contribuição

O salário de contribuição, instituto exclusivo do Direito Previdenciário, é a expressão


que quantifica a base de cálculo da contribuição previdenciária dos segurados da previdência
social, configurando a tradução numérica do fato gerador. É, também, a base utilizada para a
fixação do salário de benefício e, por conseguinte, para o cálculo dos benefícios do RGPS. O
tema é tratado no artigo 28 da Lei 8.212/91, e no artigo 214 do RPS (Dec. 3.048/99).
É de ver-se, portanto, que o salário de contribuição tem uma importância estratégica
imprescindível no Direito Previdenciário: é importante para o estudo do Plano de Custeio, na
medida em que é utilizado como base de cálculo para se aferir o valor da contribuição
previdenciária; e é importante também para o estudo do Plano de Benefícios, na medida em

71
que é utilizado como referência para a fixação do salário de benefício do segurado,
responsável pela quantificação do benefício a ser concedido.
O salário de contribuição é base de cálculo utilizada para os segurados. Todavia,
excepcionalmente, é também utilizado como base da contribuição do empregador doméstico e
da cota patronal do microempreendedor individual – MEI. O salário de contribuição não é
aplicado ao segurado especial, uma vez que essa modalidade de segurado tem regra própria de
custeio, sobre a produção rural, salvo quando contribui facultativamente como contribuinte
individual.
Esse instituto é normalmente composto por verbas remuneratórias do trabalho,
podendo ser assim definido:

... é possível definir o salário de contribuição como a base de cálculo sobre a qual
incidirá a contribuição previdenciária do segurado empregado, doméstico, avulso,
contribuinte individual e facultativo, assim como da cota patronal do empregador
doméstico e do microempreendedor individual, normalmente formado por parcelas
remuneratórias do labor, ou, no caso do segurado facultativo, o valor por ele
declarado, observados os limites mínimos e máximos legais.13

Já o artigo 28 da Lei 8.212/91, dispõe acerca da amplitude da expressão


“remuneração” para o Direito Previdenciário, expondo que entende-se como salário de
contribuição:

I – para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais


empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou
creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho,
qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma
de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços
efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de
serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo
de trabalho ou sentença normativa;
II – para o empregado doméstico: a remuneração registrada na Carteira de Trabalho
e Previdência Social;
III – para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais
empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês;
IV - Para o segurado facultativo: o valor por ele declarado.

A remuneração, como no Direito do Trabalho, é vista como gênero, englobando como


espécies o salário, a gorjeta e comissões, além das chamadas conquistas sociais. O salário é a
parte fixa da remuneração, prevista contratualmente pela contraprestação do serviço. Gorjeta e
comissões dizem respeito à parte variável da remuneração, calculadas a partir da produção do

13
Frederico Amado, Direito e Processo Previdenciário Sistematizado, 2013.
72
trabalhador, da sua produtividade. Já as conquistas sociais são todos os acréscimos com
vinculação mediata à prestação de serviços, concedidos em virtude de lei, como, por exemplo,
férias, horas extras, gratificação natalina, descanso semanal remunerado, etc.

REMUNERAÇÃO
Salário Gorjetas
Complementos salariais
(parte fixa paga pelo (parte variável da
(férias, 13º, hora extra, etc)
contratante) remuneração)

Ficam excluídas da remuneração parcelas de natureza indenizatória ou ressarcitória, as


quais não têm vinculação direta com o labor, mas sim com alguma pena contratual, no caso da
indenização, ou o reembolso de despesas realizadas pelo trabalhador, no exercício de sua
atividade.
Desse modo, o salário de contribuição tem relação direta com a remuneração, sendo
delimitada de acordo com as especificidades de cada modalidade de segurado.

2.1 – Delimitação do Salário de Contribuição

2.1.1 – Segurado empregado e trabalhador avulso

Para o segurado empregado e o trabalhador avulso, considera-se salário de


contribuição a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade
dos rendimentos pagos, devidos ou creditados, a qualquer título, durante o mês, destinados a
retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais
sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos
serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de
serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa.
Para esses segurados, portanto, o salário de contribuição será formado pela
remuneração mensal total, devida ou creditada, incluindo-se na definição de remuneração as
gorjetas, tal qual o faz o artigo 457 da CLT, bem como as utilidades habituais pagas ao
trabalhador.
Na forma do artigo 458 da CLT, além do pagamento em dinheiro, compreende-se no
salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações
73
in natura que a empresa, por força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao
empregado, não sendo permitido em caso algum o pagamento com bebidas alcoólicas ou
drogas nocivas.
Com efeito, mesmo que a pessoa jurídica não pague a remuneração no mês, a quantia
devida será considerada como salário de contribuição e deverá ser paga a respectiva
contribuição previdenciária. Da mesma forma, o adiantamento da remuneração referente ao
mês subsequente também integrará o salário de contribuição, se creditado antecipadamente.
Importante ressaltar que em caso do exercício de mandato de dirigente sindical, o
salário de contribuição será a remuneração paga pela entidade sindical ou empresa de origem.
A lei também faz expressa menção à irrelevância do título do pagamento feito aos
segurados empregados e avulsos, ou seja, em sendo o valor pago retribuição pelo trabalho do
segurado, ter-se-á configurada a remuneração. É comum algumas empresas tentarem mascara
o salário de contribuição e, por consequência, sua própria base de cálculo, com denominações
criativas que induzem à conclusão de que tais valores são indenizatórios ou ressarcitórios. O
que vale é a realidade dos fatos, não a denominação adotada.
Ressalta a lei, ainda, que mesmo sem a prestação de serviço, mas existindo a
disponibilidade do trabalhador, há contribuição. Obviamente, na relação laboral, o empregado
e avulso submetem-se à determinação de seus contratantes, e, caso a determinação seja a
inércia, ainda que temporária, estes obreiros não poderiam ser prejudicados por este fato – a
remuneração é devida e, consequentemente, integra o salário de contribuição.
Por fim, cabe ressaltar que a presunção quanto ao desconto e recolhimento da
contribuição por parte da empresa é absoluta, descabendo aos segurados empregados e
avulsos qualquer comprovação de recolhimento (artigo 33, § 5º, da Lei 8.212/91).

2.1.2 Empregado doméstico

Para o empregado doméstico, considera-se salário de contribuição a remuneração


registrada na CTPS. Apesar da previsão legal, entende-se que no caso de a anotação feita pelo
empregador doméstico na CTPS constar um valor inferior ao realmente pago ao segurado,
deverá prevalecer a importância real.
Todavia, o recolhimento das contribuições relativas a essa diferença deverá ser
comprovada pelo segurado, a despeito da responsabilidade do empregador doméstico pelo
recolhimento das contribuições previdenciárias.

74
2.1.3 Contribuinte individual

Para o contribuinte individual, considera-se salário de contribuição a remuneração


auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria,
durante o mês.
Até a vigência da Lei 9.876/99, o contribuinte individual recolhia a sua contribuição
previdenciária sobre o salário-base, ficção legal desvinculada da remuneração real, dividido
em 10 classes, partindo de um salário mínimo, onde o segurado progredia com o transcorrer
do tempo, se estivesse em dia com as suas contribuições, até chegar à última classe.
A Lei 9.876/99 ainda manteve o salário-base para os antigos segurados como regra de
transição, tendo sido definitivamente extinto com o advento da Lei 10.666/03, pois hoje os
contribuintes individuais também recolherão sobre a sua remuneração real, sem a ficção legal
do salário-base.
Importante ressaltar uma particularidade quanto aos condutores autônomos de veículos
rodoviários (inclusive o taxista), auxiliares de condutores autônomos, operadores de máquinas
e cooperados filiados a cooperativa de transportadores autônomos. Segundo o artigo 201, § 4º,
do RPS (Dec. 3.048/99), o salário de contribuição desses contribuintes individuais
corresponde a 20% (vinte por cento) do valor bruto auferido pelo frete, carreto ou transporte,
não se admitindo a dedução de qualquer valor relativo aos dispêndios com combustível e
manutenção do veículo, ainda que parcelas a este título figurem discriminadas no documento.
Por exemplo, se o transportador recebeu, durante o mês, R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
em virtude dos fretes realizados, sua remuneração será de R$ 1.000,00 (mil reais) – 20% de
R$ 5.000,00 -, incidindo a contribuição sobre esta base.

2.1.4 Segurado facultativo

Para o segurado facultativo, considera-se salário de contribuição o valor por ele


declarado. As regras atinentes ao segurado contribuinte individual se aplicam ao segurado
facultativo, com a exceção da base de incidência da contribuição. Portanto, os segurados
facultativos também eram sujeitos ao salário-base até a vigência da Lei 9.876/99, bem como a
regra de transição, até a vigência da Lei 10.666/03.

75
Atualmente, contudo, a base de cálculo para a contribuição previdenciária do segurado
facultativo é aquela por ele declarada, estando sujeito apenas aos limites mínimo e máximo do
salário de contribuição.

2.2 Limites do salário de contribuição

2.2.1 Limite mínimo

O limite mínimo do salário de contribuição corresponde ao piso salarial14, legal ou


normativo, da categoria ou, inexistindo este, ao salário mínimo, tomado no seu valor mensal,
diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante o mês.
Como se observa, o limite mínimo do salário de contribuição, como regra, não é
necessariamente o salário mínimo, mas sim o piso salarial da categoria profissional.
Deveras, se determinada categoria de trabalhadores teve sua remuneração mínima
mensal fixada em R$ 900,00 por acordo coletivo, o menor salário de contribuição
corresponderá a esse valor. Somente no caso de não haver piso salarial definido é que o
salário mínimo será utilizado como salário de contribuição.
Outrossim, deve-se atentar para a quantificação do salário mínimo, que não é
necessariamente mensal. Se o trabalhador foi contratado no meio do mês, ou se trabalha
somente meio expediente, o valor percebido por mês pode ser inferior ao salário mínimo
mensal, já que a aferição da remuneração será feita por parâmetro horário ou diário. A
visualização do mínimo mensal é somente uma das expressões possíveis do salário mínimo,
que pode ser quantificado em dias ou em horas.
Assim, o segurado que não trabalhe todos os dias, ou cumpra expediente parcial,
contribuirá sobre valor inferior ao mínimo mensal, tendo este período de contribuição
computado, sendo-lhe, mesmo assim, assegurado o pagamento do mínimo mensal, quando da
ocorrência de algum evento determinante (princípio da garantia do benefício não inferior ao
salário mínimo).
Todavia, essa regra só se aplica aos segurados empregado e trabalhador avulso. Para o
segurado contribuinte individual e o segurado facultativo, o piso do salário de contribuição
equivalerá ao salário mínimo, obrigatoriamente.

14
Importante anotar que os Estados e o DF podem instituir piso salarial mediante iniciativa do Poder Executivo,
desde que não haja piso definido em lei federal (Lei Complementar 103/00).
76
Com efeito, de acordo com o artigo 5º da Lei 10.666/03, o contribuinte individual que
prestar serviços à pessoa jurídica é obrigado a complementar, diretamente, a contribuição até
o valor mínimo mensal do salário de contribuição, quando as remunerações percebidas no
mês foram inferiores a este, tendo em vista que o salário de contribuição desse segurado não
poderá ser inferior a um salário mínimo.
A despeito da expressa previsão legal, entende-se que esse dispositivo carece de
fundamento constitucional material, por violar o princípio da capacidade contributiva e da
isonomia tributária, ambos aplicáveis às contribuições destinadas ao custeio da Seguridade
Social.
Ora, apenas haverá a tributação sobre a riqueza que existe. Não é constitucional forçar
o contribuinte individual a complementar a sua contribuição previdenciária sobre um salário
de contribuição fictício, tributando uma renda mensal que não existe de fato.
Já no que se refere ao contribuinte individual que trabalha por conta própria, o artigo
28 da Lei 8.212/91 é omisso, pois não prevê a situação daquelas pessoas que trabalham de
maneira autônoma e sequer conseguem reunir um salário mínimo por mês. Contudo, neste
caso, entende-se da mesma forma, pois a lei não poderia obrigar o contribuinte individual a
recolher a contribuição previdenciária mensal sobre um salário mínimo, se esta não é a renda
mensal auferida pelo autônomo.
Desse modo, é possível sintetizar o limite mínimo do salário de contribuição da
seguinte maneira:

LIMITE MÍNIMO
- piso salarial legal ou normativo da categoria ou piso
estadual conforme definido na Lei Complementar 103/00, ou,
Segurados empregado e
inexistindo estes, o salário mínimo, tomados nos seus valores
trabalhador avulso
mensal, diário ou horário, conforme o ajustado, e o tempo de
trabalho efetivo durante o mês.
- piso estadual conforme definido na Lei Complementar
Segurado empregado 103/00, ou, inexistindo este, o salário mínimo, tomados nos
doméstico seus valores mensal, diário ou horário, conforme o ajustado,
e o tempo de trabalho efetivo durante o mês.
Segurados facultativo e
- salário mínimo.
contribuinte individual

77
2.2.2 Limite máximo

O limite máximo do salário de contribuição é fixado me lei, sofrendo as mesmas


atualizações dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social (art. 28, § 5º, da
Lei 8.212/91).
Desse modo, todo o segurado, ainda que receba remuneração muito superior ao teto
fixado, contribuirá somente sobre a base máxima, ficando o excesso salvo de qualquer
cobrança. Este limite não se aplica à contribuição patronal, que é desprovida de qualquer
limite máximo, como se verá.
O limite máximo tem uma aparente lógica, pois o benefício previdenciário também é
limitado ao mesmo teto.
Atualmente, o limite máximo do salário de contribuição é de R$ 5.189,82 (cinco mil
cento e oitenta e nove reais e oitenta e dois centavos), de acordo com a Portaria MPS/MF
01/2016.

2.3 Composição do salário de contribuição

2.3.1 Parcelas integrantes do salário de contribuição

Genericamente, a lei determina que o salário de contribuição seja composto pela


remuneração do segurado (exceto o segurado especial). Como se sabe, as parcelas meramente
ressarcitórias e indenizatórias são excluídas desta base.
Não há listagem de rubricas integrantes do salário de contribuição, pois quaisquer
valores dotados de natureza remuneratória, em regra, integrarão o salário de contribuição.
Algumas parcelas, contudo, devido às constantes dúvidas que provocam, são expressamente
previstas na legislação.
O 13º salário, por exemplo, integra o salário de contribuição, por força do §7º, do art.
28, da Lei 8.212/91, dispositivo referendado pela Súmula 688 do STF15. Inclusive, após a Lei
8.620/93, a incidência da contribuição previdenciária sobre a gratificação natalina deve ser
feita em separado, conforme entendimento pacificado pelo STJ16.

15
É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o 13º salário.
16
REsp 1066682, de 09/12/2009.
78
Também determina a lei que as diárias para viagem, desde que excedentes a 50% da
remuneração mensal do segurado, integrem o salário de contribuição (art. 28, §8º, ‘a’, da Lei
8.212/91).
Também integrará o salário de contribuição os valores recebidos do benefício de
salário-maternidade (art. 28, §2º, da Lei 8.212/91). De modo geral, nenhum benefício do
RGPS integra o salário de contribuição. A lógica é evidente, pois a razão de ser da
contribuição é o custeio do benefício a ser pago, substituto da remuneração, que vem a ser a
base de incidência. Não existe benefício para a substituição de outro benefício e, portanto, não
se deve cobrar qualquer contribuição sobre prestações securitárias.
Entretanto, a lei determina a incidência sobre o salário-maternidade, sendo o único
benefício que também compõe o salário de contribuição.
De acordo com a Secretaria da Receita Federal do Brasil, a remuneração adicional de
férias de que trata o inciso XVII, do art. 7º, da CF/88, referente ao gozo de férias anuais
remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal, também integra o
salário de contribuição. Todavia, o STJ17 e o STF18 têm se manifestado no sentido de que não
integra o salário de contribuição o adicional de 1/3 sobre as férias gozadas. Desse modo, a
incidência sobre essa parcela é controversa.
Outra controvérsia diz respeito ao aviso prévio indenizado. É devida a incidência da
contribuição previdenciária sobre o aviso prévio trabalhado, haja vista a natureza
remuneratória do serviço realizado no período. No entanto, a dúvida ainda permanece na
hipótese de o aviso prévio ser indenizado, isto é, pago integralmente pelo empregador na
hipótese de rescisão imediata da relação de emprego.
Atualmente, a SRFB determina a incidência da contribuição previdenciária sobre o
aviso prévio indenizado. Contudo, há precedentes do STF, STJ e TST no sentido contrário,
não havendo consentimento sobre o assunto. O tema deve assumir maior relevância com o
tempo, pois com o advento da Lei 10.506/11, o aviso prévio, trabalhado ou indenizado,
poderá chegar ao máximo de 90 dias, implicando maiores consequências na interpretação da
incidência de contribuição na modalidade indenizada.

17
STJ, Pet 7.296/PE, de 28/10/2009.
18
STF, AgR na AI 712.880, de 26/05/2009.
79
Parcelas incluídas na composição do salário de contribuição
- Parcelas remuneratórias do labor, a exemplo dos salários e abonos incorporados, do 13º
salário e da comissão paga ao corretor de seguros.
- Diárias de viagem, quando excedentes a 50% da remuneração mensal.
- Salário-maternidade.

2.3.2 Parcelas não integrantes do salário de contribuição

De modo geral, as parcelas não incluídas no salário de contribuição são aquelas que
não possuem natureza remuneratória. O artigo 28, §9º, da Lei 8.212/91, traz um rol
exemplificativo de parcelas excluídas da base de cálculo da contribuição previdenciária.
De toda forma, caso haja pagamento de alguma verba desvinculada da atividade
remunerada, sem caráter contraprestacional, a conclusão, a princípio, é pela exclusão do
salário de contribuição.
São parcelas expressamente excluídas do salário de contribuição, dentre outras (art.
28, §9º, da Lei 8.213/91):

a) Os benefícios da previdência social, nos termos e limites legais, salvo o


salário-maternidade;

b) A parcela in natura recebida de acordo com os programas de alimentação


aprovados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, nos termos da
Lei 6.321/76;

Trata-se do Programa de Alimentação ao Trabalhador – PAT. Somente será excluída


do salário de contribuição a parcela in natura, ou seja, a disponibilização da alimentação pela
empresa, nos termos definidos pelo PAT19.
Caso a parcela seja paga em dinheiro, haverá incidência de contribuição
previdenciária, de acordo com a súmula 67 da TNU: “O auxílio-alimentação recebido em
pecúnia por segurado filiado ao Regime Geral da Previdência Social integra o salário de
contribuição e sujeita-se à incidência de contribuição previdenciária”.

19
Há entendimento jurisprudencial no sentido de que a alimentação fornecida pela empresa, em refeitório,
não integrará o salário de contribuição, independentemente da inscrição no PAT.
80
Importante observar que a verba denominada intervalo intrajornada (intervalo para
alimentação) integrará o salário de contribuição, ante sua natureza remuneratória reconhecida
pelo STJ, uma vez que esse intervalo é equiparado à hora-extra pelo Direito do Trabalho.

c) As importâncias recebidas a título de férias indenizadas e respectivo adicional


constitucional, inclusive o valor correspondente à dobra da remuneração de
férias de que trata o artigo 137 da CLT;

Somente as férias indenizadas são excluídas do salário de contribuição, seja em


virtude de rescisão contratual, na qual as férias vencidas ou proporcionais são pagas, ou ainda
no caso da dobra, paga pela empresa. Inclui-se na parcela excluída o adicional constitucional.
As férias, quando pagas no período de vigência do contrato de trabalho, e o adicional
constitucional, sofrem incidência normalmente.
Observe que, no caso da dobra (art. 137 da CLT), a não incidência é exclusiva da
parcela indenizatória, pois as férias normais compõem o salário de contribuição. O abono
pecuniário, referente à conversão em pecúnia de 1/3 do período de férias a que tiver direito o
empregado (art. 143 da CLT), também é excluído da base de incidência. Idêntico tratamento
tem o abono de férias (art. 144 da CLT).
Regra geral, o terço constitucional, como obrigação acessória, segue a sorte da
obrigação principal20.

d) As importâncias recebidas a guisa de aviso prévio indenizado, licença prêmio


indenizada, incentivo à demissão e multa de 40% sobre o FGTS;

Tais parcelas são excluídas do salário de contribuição devido sua natureza


indenizatória.
Quanto ao aviso prévio indenizado, há controvérsia. O TST já apresentou várias
decisões reconhecendo a natureza remuneratória do aviso prévio indenizado, uma vez que
essa parcela, para o Direito do Trabalho, é considerada como tempo de serviço prestado,
havendo, inclusive, incidência do FGTS. Já o STJ tem posição sedimentada no sentido de que
o aviso prévio indenizado é parcela indenizatória, portanto, não integra o salário de
contribuição.
20
Todavia a jurisprudência diverge quanto à integração do terço de férias gozadas no salário de contribuição.
Há controvérsia.
81
e) A parcela recebida a título de vale-transporte, na forma da legislação própria
(Lei 7.418/85);

Note-se que mesmo o vale-transporte pago em dinheiro não está incluído no salário de
contribuição, de acordo com entendimento dominante no STF (RE 478.410 – informativo
578). Em dezembro de 2011, a AGU editou a súmula 60, que dispõe não haver incidência de
contribuição previdenciária sobre o vale-transporte pago em pecúnia, considerando o caráter
indenizatório da verba, vinculando toda a Administração Pública Federal no Poder Executivo
a esse entendimento.

f) A ajuda de custo, em parcela única, recebida exclusivamente em decorrência


de mudança de local de trabalho do empregado, na forma do artigo 470 da
CLT;

Diz respeito às despesas resultantes da transferência do empregado, que correrão por


conta do empregador. Somente estará excluída da base de incidência se paga em parcela
única. Do contrário, o total ingressará no salário de contribuição.

g) As diárias para viagens, desde que não excedam a 50% da remuneração


mensal;

Quando as diárias são superiores a 50%, presume-se que há omissão de remuneração.


Importante observar que se houver comprovação de que a despesa superior a 50% da
remuneração foi efetivamente gasta em diárias, esse valor não irá integrar o salário de
contribuição.

h) A participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada


de acordo com lei específica;

A participação nos lucros ou resultados da empresa, de que trata o artigo 7º, XI, da
CF/88, é prevista na Lei 10.101/00, a qual dispõe que esta participação será objeto de
negociação entre a empresa e seus empregados.

82
A lei também determina que a participação nos lucros não substitua ou complemente a
remuneração devida a qualquer empregado, nem constitua base de incidência de qualquer
encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. O texto legal também
expressa a vedação de pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores, a título
de participação nos lucros ou resultados da empresa, em periodicidade inferior a um semestre
civil ou mais de duas vezes no mesmo ano civil. Assim, se tais valores, ainda que decorrentes
de lucro, forem pagos em desacordo com a Lei, como, por exemplo, mensalmente, serão
desconsiderados como tal, sendo agregados ao salário de contribuição e gerando contribuição
do trabalhador e da empresa.

i) Os valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos


pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante
de sua residência , em canteiro de obras ou local que, por força da atividade,
exija deslocamento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas
pelo Ministério do Trabalho e Emprego;

Este dispositivo complementa a disposição acerca do vale-transporte. Muitas vezes, o


próprio empregador fornece o transporte, não concedendo o vale. Nestas condições, desde que
o transporte evidencie-se como realmente necessário e seja fornecido de acordo com as
normas do Ministério do Trabalho e Emprego, tais valores estarão excluídos do salário de
contribuição, não sendo considerados como salário indireto.

j) A importância paga ao empregado a título de complementação ao valor do


auxílio-doença, desde que este direito seja extensivo à totalidade dos
empregados da empresa;

De acordo com o artigo 63, parágrafo único, da Lei 8.213/91, a empresa que garantir
ao segurado licença remunerada ficará obrigada a pagar-lhe durante o período de auxílio-
doença a eventual diferença entre o valor deste e a importância garantida pela licença.
Os benefícios previdenciários estão sujeitos ao teto da Previdência Social, que
atualmente corresponde ao valor de R$ 5.189,82 (cinco mil cento e oitenta e nove reais e
oitenta e dois centavos). Todavia, alguns empregados possuem um salário superior a esse

83
limite. Desse modo, algumas empresas se comprometem a complementação dessa diferença
observada entre o auxílio-doença e a remuneração do trabalhador.
Essa diferença, por corresponder a uma complementação do benefício previdenciário,
não está sujeita à contribuição previdenciária. Importante observar, contudo, que só não
haverá incidência de contribuição previdenciária se a empresa assegurar esse benefício a
todos os seus empregados.

k) O valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a


programa de previdência complementar, aberto ou fechado, desde que
disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que
couber, os artigos 9º e 468, da CLT;

Da mesma forma da complementação do auxílio-doença, só não haverá incidência de


contribuição previdenciária se a vantagem for extensível a todos os empregados e dirigentes
da empresa.

l) O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico,


próprio da empresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas
com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médico-
hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos
empregados e dirigentes da empresa;

Devido ao caráter social da concessão de auxílio médico e medicamentos, ainda que


sejam uma espécie de remuneração indireta, o legislador achou por bem excluí-los do salário
de contribuição. Deve-se observar, novamente, que só não haverá incidência de contribuição
previdenciária se a vantagem for estendida a todos os empregados e dirigentes da empresa.
Segundo entendimento do STJ, a exclusão aqui prevista também se estende ao seguro
de vida em grupo.

m) O valor correspondente a vestuários, equipamentos e outros acessórios


fornecidos ao empregado e utilizado no local do trabalho para prestação dos
respectivos serviços;

84
A exclusão somente é válida para os itens fornecidos para a execução do trabalho, ou
seja, trata-se de material necessário para o bom andamento do serviço. Distinguem-se dos
materiais fornecidos pelo trabalho, isto é, aqueles concedidos em virtude de um trabalho
realizado, os quais são considerados remuneração indireta e, obrigatoriamente, integram o
salário de contribuição.

n) O ressarcimento de despesas pelo uso de veículo do empregado e o reembolso


creche pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite
máximo de seis anos de idade, quando devidamente comprovadas as despesas
realizadas;

Todavia, a EC 53/06 alterou o artigo 7º, XXV, da CF/88, reduzindo a idade da


assistência gratuita para os filhos até 05 anos de idade, havendo controvérsia sobre a recepção
desta hipótese que ainda prevê a idade de até 06 anos.
Vale ressaltar que, na forma da Súmula 310 do STJ, o auxílio-creche não integra o
salário de contribuição.

o) O valor relativo a plano educacional, ou bolsa de estudo, que vise à educação


básica21 de empregados e seus dependentes e, desde que vinculadas às
atividades desenvolvidas pela empresa, à educação profissional e tecnológica
de empregados, nos termos da Lei 9.394/96, desde que não seja utilizados em
substituição de parcela salarial;

De acordo com as alterações promovidas pela Lei 12.513/11, para ser excluído da
composição do salário de contribuição, o valor mensal do plano educacional ou bolsa de
estudo, considerado individualmente, não poderá ultrapassar 5% da remuneração do segurado
a que se destina ou o valor correspondente a uma vez e meia o valor do limite mínimo mensal
do salário de contribuição, valendo o que for maior.
Antes da Lei 12.513/11, não existia um valor máximo das despesas com o plano
educacional para a sua exclusão do cômputo do salário de contribuição, bastando que não
fosse utilizado como substituição de parcela salarial e acessível a todos os empregados e
dirigentes da empresa.

21
A educação básica compreende o ensino infantil, fundamental e médio.
85
Atualmente, também é desnecessária a extensão do plano educacional ou bolsa de
estudos a todos os empregados e dirigentes da empresa.
Ademais, com o novo regramento, passou a ser previsto expressamente que as
referidas despesas educacionais também podem aproveitar os dependentes dos segurados.
Outrossim, também as despesas com as bolsas de estudo passaram a ser excluídas da
composição do salário de contribuição, observadas as exigências acima referidas, vez que
anteriormente eram previstos apenas os gastos com o plano educacional.

p) A importância recebida a título de bolsa de aprendizagem garantida ao


adolescente até catorze anos de idade, de acordo com o disposto no art. 64 da
Lei 8.069/90;

Na verdade, de acordo com a Constituição, a idade mínima do menor aprendiz é de 14


anos de idade. Portanto, essa bolsa de aprendizagem não é garantida até catorze anos, e sim a
partir dos catorze anos de idade.
Antigamente, o ECA dispunha que a bolsa de aprendizagem era concedida ao
adolescente até 14 anos, contudo, a EC/98 alterou esse limite de idade, proibindo o trabalho
para menores de 16 anos, salvo a aprendizagem, a partir dos 14.

q) O valor da multa prevista no §8º do art. 477 da CLT;

Este dispositivo da CLT trata da multa a ser paga pelo empregador, para o trabalhador,
em caso de mora do pagamento das verbas rescisórias. O pagamento das parcelas constantes
do instrumento de rescisão ou recibo de quitação deverá ser efetuado nos seguintes prazos: até
o 1º dia útil imediato ao término do contrato; ou até o 10º dia, contado da data da notificação
da demissão, quando da ausência do aviso prévio, indenização do mesmo ou dispensa de seu
cumprimento.
O rol acima referenciado é meramente exemplificativo, podendo ser composto por
outras parcelas indenizatórias não previstas no §9º, do art. 28, da Lei 8.212/91, pois a
legislação não teria como prever todas as parcelas de cunho indenizatório percebidas pelos
segurados.
Também não se consideram remuneração direta ou indireta os valores despendidos
pelas entidades religiosas e instituições de ensino vocacional com ministro de confissão
religiosa, membros de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, em
86
face do seu mister religioso ou para sua subsistência, desde que fornecidos em condições que
independam da natureza e da quantidade do trabalho executado. Por isso, tais valores são
excluídos do salário de contribuição.
Contudo, o ministro de confissão religiosa ou pastor, como segurado obrigatório,
deverá efetuar seu recolhimento mensalmente, independente da exclusão do recolhimento da
instituição religiosa.

3. Contribuição dos segurados

O Plano de Custeio da Previdência Social tem como principal fonte financeira a


contribuição direta da sociedade, feita mediante o recolhimento das contribuições sociais.
Caso haja insuficiência de fundos, a União deve cobrir o déficit, detendo, portanto, a
competência residual do financiamento da previdência.
As contribuições sociais destinadas à previdência são feitas pelos segurados e pelos
tomadores de serviço, através da aplicação de alíquotas sobre o salário de contribuição.
A cobrança de contribuição social do próprio beneficiado pelo regime previdenciário é
consequência da natureza contributiva do sistema, além de expresso mandamento
constitucional:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:
(...)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo
contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de
previdência social de que trata o art. 201;

Contudo, embora todos os segurados da previdência devam verter suas contribuições


mensalmente, a forma de cálculo do quantum devido varia para alguns segurados.

3.1 A contribuição do segurado empregado, trabalhador avulso e empregado doméstico

De acordo com o disposto no artigo 20 da Lei 8.212/91, a contribuição previdenciária


desses segurados terá alíquotas progressivas, que variarão em faixas de acordo com o salário
de contribuição, de forma não cumulativa, conforme a seguinte tabela com valores atualizados
para o ano de 2014:
87
Salário de contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento
Até 1.556,94 8,00%
De 1.556,95 até 2.594,92 9,00%
De 2.594,93 até 5.189,82 11,00%

Em se tratando destes segurados, a responsabilidade tributária pelo recolhimento da


contribuição previdenciária será dos tomadores de serviço, que deverão perpetrar os descontos
e repassar os valores à Secretaria da Receita Federal do Brasil, caracterizando uma hipótese
de substituição tributária originária, na forma do art. 30, I e V, da Lei 8.212/9122.
Excepcionalmente, durante o período de licença-maternidade da segurada empregada e
da empregada doméstica, caberá ao empregador apenas recolher a parcela da contribuição a
seu cargo, pois será a segurada a responsável pelo recolhimento de sua cota.
Com relação ao segurado empregado e ao trabalhador avulso, haverá presunção
absoluta de desconto das suas contribuições previdenciárias pelo empregador, empresa ou
equiparado, que deverá responder exclusivamente pelo pagamento, caso não tenha retido os
valores ou não os repassado à União, na forma do artigo 33, §5º, da Lei 8.212/91:

Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar,


acompanhar e avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à
arrecadação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições sociais previstas no
parágrafo único do art. 11 desta Lei, das contribuições incidentes a título de
substituição e das devidas a outras entidades e fundos.
(...)
§ 5º O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se
presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo
lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente
responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com
o disposto nesta Lei.

Desse modo, caso o tomador de serviço não repasse a contribuição previdenciária ao


Fisco, os segurados empregados e os trabalhadores avulsos não sofrerão prejuízo na
concessão dos benefícios previdenciários nem poderão ser posteriormente cobrados pela
União, bastando aos segurados comprovar o vínculo laboral e o valor da remuneração
percebida.
Nos termos do artigo 35 da Lei 8.213/91, ao segurado empregado e ao trabalhador
avulso que tenham cumprido todas as condições para a concessão do benefício pleiteado, mas

22
Alguns autores entendem não se tratar de substituição tributária, mas simplesmente obrigação acessória,
uma vez que a contribuição previdenciária, embora feita pelo tomador de serviço, é realizada em nome do
segurado.
88
não possam comprovar o valor dos seus salários de contribuição no período básico de cálculo,
será concedido o benefício de valor mínimo, devendo esta renda ser recalculada, quando da
apresentação de prova dos salários de contribuição.
Todavia, o mesmo não ocorre com os empregados domésticos, que foram
discriminados pela legislação previdenciária.
Com efeito, quanto ao valor anotado na CTPS do empregado doméstico, a presunção
de recolhimento da contribuição previdenciária é absoluta, uma vez que é responsabilidade do
empregador doméstico o recolhimento das contribuições. Contudo, muitas vezes o valor real
recebido pelo trabalhador é superior àquele anotado em sua CTPS, de modo que o empregado
doméstico deve comprovar o recolhimento da contribuição relativa a essa diferença de
valores. Essa é a disposição do artigo 36 da Lei 8.213/91:

Art. 36. Para o segurado empregado doméstico que, tendo satisfeito as condições
exigidas para a concessão do benefício requerido, não comprovar o efetivo
recolhimento das contribuições devidas, será concedido o benefício de valor
mínimo, devendo sua renda ser recalculada quando da apresentação da prova do
recolhimento das contribuições.

A despeito da disposição legal, a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência


– TNU já apresentou entendimento no sentido de que o valor do salário de contribuição do
empregado doméstico deve ser aquele realmente pago pelo empregador em virtude dos
serviços prestados, e não aquele declarado pelo empregador23.
No caso dos segurados empregados e avulsos, as empresas deverão fazer o
recolhimento até o dia 20 do mês subsequente ao da competência ou, se não for dia útil
bancário, no imediatamente anterior, conforme prevê o artigo 30, I, da Lei 8.212/91. Já o
empregador doméstico terá até o dia 15 do mês seguinte ao da competência para recolher a
contribuição descontada do empregado doméstico, ou o dia útil imediatamente posterior.
Interessante notar, por oportuno, que o artigo 216, §1º-A, do RPS (Dec. 3.048/99),
autoriza o empregador doméstico a recolher a contribuição do segurado empregado a seu
serviço e a parcela a seu cargo relativas à competência de novembro até o dia 20 de
dezembro, juntamente com a contribuição referente à gratificação natalina (13º salário),
utilizando-se de um único documento de arrecadação.

23
PEDILEF 2002.61.84.001.529-8, de 10/02/2004.
89
3.2 A contribuição do segurado contribuinte individual e facultativo

No caso destes segurados, em regra, a alíquota da contribuição previdenciária foi


fixada em 20% sobre o salário de contribuição, cabendo ao próprio segurado promover
diretamente o recolhimento tempestivo do tributo, sob pena de não se filiar ao RGPS, até o
dia 15 do mês seguinte ao da competência, ou no dia útil imediatamente posterior.
Excepcionalmente, caso o salário de contribuição seja de um salário mínimo, será
possível o recolhimento trimestral das contribuições previdenciárias, com vencimento no dia
15 do mês seguinte ao de cada trimestre civil (artigo 216, §15, do RPS – Dec. 3.048/99).
De acordo com o artigo 30, §4º, da Lei 8.212/91, o contribuinte individual prestador
de serviços à pessoa jurídica poderá deduzir de sua contribuição mensal 45% da contribuição
paga pela empresa. Nesse caso, como há contribuição por parte da empresa, não há prejuízo
em reduzir a contribuição do segurado.
Com essa dedução, a contribuição do segurado passa a ser de 11% do salário de
contribuição. Vejamos: a contribuição da empresa é de 20% sobre a remuneração do
segurado; deduzido o percentual de 45% sobre o percentual de 20%, temos o resultado de 9%
(45% x 20% = 9%); portanto, o contribuinte individual poderá deduzir o percentual de 9% de
sua contribuição; como a regra é que a contribuição desse segurado será de 20% sobre o
salário de contribuição, temos que com a dedução a contribuição passará a ser de 11% (20% -
9% = 11%).
A partir de abril de 2003, por força da MP 83/2002 (convertida na Lei 10.666/03), o
contribuinte individual prestador de serviços à pessoa jurídica deixou de ser o responsável
tributário pelo recolhimento de sua contribuição previdenciária, que passou a ser de
responsabilidade da pessoa jurídica tomadora do serviço, à razão de 11% sobre o salário de
contribuição.
Desse modo, a regra de dedução de 45% somente se aplica nas competências
anteriores a abril de 2003, de modo que a partir deste momento, é responsabilidade da
empresa que contrata os serviços do contribuinte individual recolher a sua contribuição
previdenciária na razão de 11% sobre o salário de contribuição.
No caso de o contribuinte individual prestar serviço à pessoa jurídica, a presunção de
recolhimento da contribuição previdenciária é absoluta, da mesma forma dos segurados
empregado e trabalhador avulso, devendo a pessoa jurídica responder exclusivamente pelo

90
pagamento, caso não tenha retido os valores ou não os repassado à União (art. 33, §5º, Lei
8.212/91). Nos demais casos, não há presunção de recolhimento.
Importante observar que as disposições da Lee 10.666/03 não se aplicam ao
contribuinte individual quando contratado por outro contribuinte individual
equiparado a empresa, por produtor rural pessoa física, ou ainda por missão
diplomática e repartição consular de carreira estrangeiras, e nem ao brasileiro civil que
trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro
efetivo.
Logo, nestes casos, deverá o contribuinte individual continuar a se valer da
dedução de 45% prevista no art. 30, §4º, da Lei 8.212/91.
De acordo com o art. 5º, da Lei 10.666/03, caso o contribuinte individual contratado
por pessoa jurídica obrigada a proceder à arrecadação e ao recolhimento da contribuição por
ele devida, cuja remuneração recebida ou creditada no mês, por serviços prestados a ela, for
inferior ao limite mínimo do salário de contribuição, é obrigado a complementar sua
contribuição mensal, diretamente, à razão de 20% sobre o valor resultante da subtração do
valor das remunerações recebidas das pessoas jurídicas do valor mínimo do salário de
contribuição mensal.
Ou seja, se um contribuinte individual presta serviço a uma empresa e, ao final do
mês, recebe a quantia de R$ 500,00 (quinhentos reais), deverá contribuir na razão de 20%
sobre o valor faltante para se atingir o limite mínimo do salário de contribuição, que, nesse
caso, será o salário-mínimo. Assim, terá que recolher a contribuição previdenciária de 20%
sobre R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais) – R$ 500,00 + R$ 380,00 = R$ 880,00 –, sendo
que a empresa é responsável pelo recolhimento da contribuição previdenciária na razão de
11% sobre R$ 500,00 (quinhentos reais) recebidos pelo segurado.
Outrossim, se o contribuinte individual prestar serviços a entidade beneficente de
assistência social, a alíquota de retenção será de 20%, e não de 11%, ante a inexistência de
cota patronal pela incidência da imunidade (art. 216, §26, do RPS – Dec. 3.048/99).
Merece destaque o fato de que tanto a disposição do art. 5º da Lei 10.666/03, quanto a
do art. 216, §26, do RPS, são motivo de questionamento jurisprudencial, pois ferem o
princípio da isonomia tributária e trazem evidente prejuízo aos contribuintes individuais que
se enquadram nessas situações.
Uma importante inovação foi promovida pela Lei Complementar 123/06, que trata da
inclusão previdenciária dos trabalhadores de baixa renda. Com efeito, a contribuição

91
previdenciária do contribuinte individual que trabalhe por conta própria sem relação de
trabalho com empresa e equiparado, bem como do segurado facultativo, poderá ser de 11%
sobre o salário-mínimo, ao invés do tradicional desconto de 20%, mas esses segurados não
terão direito à aposentadoria por tempo de contribuição.
Nesta hipótese, caso queira se aposentar por tempo de contribuição posteriormente, ou
transferir o tempo de contribuição para algum Regime Próprio de Previdência, o contribuinte
individual e o segurado facultativo deverão fazer o recolhimento retroativo dos 9% faltantes
para integralizar os 20% sobre o salário de contribuição, com a incidência de juros legais,
sendo exigível o complemento a qualquer tempo (imprescritível).
Outras alterações legislativas importantes dizem respeito ao Microempreendedor
Individual – MEI, e ao segurado facultativo sem renda própria que se dedique exclusivamente
ao trabalho doméstico.
Segundo o art. 21 da Lei 8.212/91, a contribuição previdenciária do MEI será de
apenas 5% sobre o salário mínimo, também não possuindo o direito a aposentar-se por tempo
de contribuição, a não ser que faça o recolhimento retroativo.
Já a Lei 12.470/11, prevê que o segurado facultativo sem renda própria que se dedique
exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencente a
família de baixa renda, também contribua apenas com 5% do salário-mínimo. Nesse caso,
será considerada como família de baixa renda aquela inscrita no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal, cuja renda mensal seja de até dois salários-mínimos.

3.3 A contribuição do segurado especial

A contribuição do segurado especial é a única que não conta com o salário de


contribuição como base de cálculo. De acordo coma o disposto no artigo 195, §8º, da
Constituição de 1988:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:
(...)
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal,
bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de
economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade
social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da
produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.

92
Com efeito, o dispositivo constitucional acima transcrito foi regulamentado pelo artigo
25 da Lei 8.212/91, que determina que a contribuição previdenciária do segurado especial terá
a alíquota total de 2,1% sobre a receita proveniente da comercialização de sua produção,
sendo 2% de contribuição básica e 0,1% para o custeio dos benefícios decorrentes dos
acidentes de trabalho.
Ou seja, em regra, os segurados especiais não contribuem com base no salário de
contribuição e sim sobre a receita proveniente da comercialização de sua produção.
Em regra, não caberá ao segurado especial a responsabilidade pelo recolhimento da
sua contribuição previdenciária, e sim ao adquirente da produção, salvo se comercializada no
exterior, diretamente no varejo a pessoa física, a produtor rural pessoa física ou a outro
segurado especial, até o dia 20 do mês subsequente ao da competência ou no dia útil
imediatamente anterior se não houver expediente bancário.
Outrossim, será o segurado especial responsável pelo recolhimento da contribuição
previdenciária incidente sobre a receita bruta da comercialização dos artigos de artesanato
elaborados com matéria-prima produzida pelo respectivo grupo familiar, de atividade
artística, bem como de serviços prestados, de equipamentos utilizados e de produtos
comercializados no imóvel rural, desde que em atividades turística e de entretenimento
desenvolvidas no próprio imóvel, inclusive hospedagem, alimentação, recepção, recreação e
atividades pedagógicas, bem como taxa de visitação e serviços especiais.
Quando o grupo familiar do segurado especial não tiver obtido renda decorrente da
comercialização de seus produtos e serviços no ano, deverá proceder a comunicação à
Previdência Social.
Além da contribuição acima referida, o segurado especial também poderá contribuir
como contribuinte individual, sem perder o seu enquadramento como especial, na forma do
artigo 25, §1º, da Lei 8.212/91:

Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à


contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial,
referidos, respectivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta
Lei, destinada à Seguridade Social, é de:
I - 2% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção;
II - 0,1% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção para
financiamento das prestações por acidente do trabalho.
§ 1º O segurado especial de que trata este artigo, além da contribuição obrigatória
referida no caput, poderá contribuir, facultativamente, na forma do art. 21 desta Lei.

93
3.4 Tabela das contribuições previdenciárias dos segurados

Contribuição previdenciária dos trabalhadores


Presunção
Responsabilidad
Alíquot Base de de
Segurado e pelo Prazo
a cálculo recolhiment
recolhimento
o
Empregador, Até o dia 20
Empregado 8%, 9% Salário de
empresa ou Sim do mês
e avulso ou 11% contribuição
equiparado seguinte
Não, mas se
garante o
benefício Até o dia 15
Empregado 8%, 9% Salário de Empregador
mínimo se do mês
doméstico ou 11% contribuição doméstico
preenchidos seguinte
os requisitos
legais
Contribuint Até o dia 15
Salário de
e individual 20% O próprio Não do mês
contribuição
(regra) seguinte
Contribuint
e individual
Até o dia 20
que presta Salário de
11% Empresa Sim do mês
serviço à contribuição
seguinte
pessoa
jurídica

94
Contribuint
Não. Obs:
e individual
não terá
que Salário de
direito à Até o dia 15
trabalhe por contribuição no
11% O próprio aposentadori do mês
conta valor de um
a por tempo seguinte
própria e salário-mínimo
de
segurado
contribuição
facultativo
Contribuint
e individual
enquadrado
como MEI Não. Obs:
Até o dia 20
ou segurado não terá
Salário de (MEI)ou dia
facultativo direito à
contribuição no 15
de baixa 5% O próprio aposentadori
valor de um (facultativo)d
renda que a por tempo
salário-mínimo o mês
se dedique de
seguinte
ao trabalho contribuição
doméstico
em sua
residência
Receita do Até o dia 20
Segurado produto da Em regra, dos do mês
2,1% Sim
especial comercializaçã adquirentes seguinte ao da
o da produção operação
Segurado Até o dia 15
Salário de
facultativo 20% O próprio Não do mês
contribuição
(regra) seguinte

4. Contribuição dos tomadores de serviço

A contribuição dos tomadores de serviços é aquela prevista no artigo 195, I, ‘a’, da


Constituição Federal de 1988:

95
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a
qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício;

A base de cálculo da contribuição dos tomadores de serviço é a remuneração dos


segurados, incluindo-se todas as parcelas de cunho remuneratório e excluindo-se aquelas que
detenham natureza ressarcitória e indenizatória. Portanto, a composição da base de cálculo,
nesse caso, é idêntica à do salário de contribuição.
A principal diferença entre a base de cálculo da contribuição dos segurados,
denominada salário de contribuição, para a base de cálculo da contribuição dos tomadores de
serviço, é que no caso dos tomadores de serviço a base de cálculo não está sujeita ao teto
remuneratório do RGPS, de R$ 5.189,82 (cinco mil cento e oitenta e nove reais e oitenta e
dois centavos), de modo que as alíquotas para se aferir o valor da contribuição serão
aplicadas, em regra, sobre a totalidade dos rendimentos dos segurados.
Desse modo, vejamos como será calculada a cota patronal previdenciária, que terá
diferentes alíquotas de acordo com o tipo de segurado do Regime Geral de Previdência Social.

4.1 Contribuições previdenciárias da empresa e do equiparado a empresa

4.1.1 Incidente sobre a remuneração do segurado empregado e trabalhador avulso

De acordo com o artigo 22, I, da Lei 8.212/91:

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do


disposto no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a
qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos
que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua
forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os
adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente
prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos
termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho
ou sentença normativa.

Note-se que o dispositivo acima transcrito foi além da previsão constitucional,


prevendo não apenas a incidência da contribuição previdenciária patronal sobre as
remunerações pagas ou creditadas pelas empresas, mas também as devidas.

96
Ou seja, se a empresa não pagar as remunerações mensais ou adiantá-las, mesmo
assim incidirá a contribuição previdenciária patronal, uma vez que o fato gerador da
obrigação tributária, nesse caso, é a atividade remunerada, independentemente da
remuneração.
Outrossim, ao contrário do que ocorre com o salário de contribuição, que limita o
valor das contribuições previdenciárias dos segurados do RGPS, inexiste teto para o
pagamento das contribuições previdenciárias devidas pelas empresas e equiparadas.
Logo, se um empregado, por exemplo, recebe remuneração de R$ 8.000,00 (oito mil
reais), sua contribuição, na condição de segurado empregado, será de 11% sobre o limite
máximo do salário de contribuição (R$ 5.189,82), enquanto a contribuição da empresa será de
20% sobre o total, ou seja, 20% de R$ 8.000,00.
De acordo com a Lei 12.546/11, as contribuições previdenciárias sobre as
remunerações de empregados e trabalhadores avulsos pagas pelas empresas que prestam
exclusivamente os serviços de tecnologia da informação e tecnologia da informação e
comunicação, bem como pelas empresas que fabriquem os produtos classificados na Tabela
de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados, foram substituídas pela COFINS.
Desse modo, as empresas acima citadas não irão recolher a contribuição previdenciária
na razão de 20%. Entretanto, a União compensará o Fundo do Regime Geral de Previdência
Social no valor correspondente à estimativa de renúncia previdenciária decorrente da
desoneração, de forma a não afetar a apuração do resultado financeiro do regime
previdenciário.
Por outro lado, segundo dispõe o § 1º, do art. 22, da Lei 8.212/91, as instituições
financeiras deverão pagar um adicional de 2,5%, perfazendo um total de 22,5%, em razão do
maior lucro e automação do setor:

§ 1o No caso de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de


desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e
investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras
de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas
de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de
seguros privados e de crédito e entidades de previdência privada abertas e fechadas,
além das contribuições referidas neste artigo e no art. 23, é devida a contribuição
adicional de dois vírgula cinco por cento sobre a base de cálculo definida nos incisos
I e III deste artigo.

O prazo para o recolhimento da contribuição patronal dos segurados empregado e


trabalhador avulso é até o dia 20 do mês seguinte ao da competência, ou no dia útil

97
imediatamente anterior, se não houver expediente bancário, da mesma forma da
contribuição dos segurados.
Com base no inciso II, do art. 22, da Lei 8.212/91, sobre o total das remunerações
pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, ainda
incidirá um adicional de 1%, 2% ou 3% para o custeio da aposentadoria especial e dos
benefícios decorrentes de acidente de trabalho.
Esses percentuais variarão a depender do nível de risco de acidentes de trabalho cuja
atividade da empresa se enquadrar, sendo classificado em leve (1%), médio (2%) ou grave
(3%), o que atende ao princípio da equidade na forma de participação no custeio, pois o
percentual é proporcional à probabilidade de acidente de trabalho.
Embora esse adicional de contribuição não se destine unicamente ao custeio dos
benefícios decorrentes de acidente do trabalho, é conhecido como contribuição SAT (Seguro
de Acidente do Trabalho).
O enquadramento do risco será de acordo com a atividade preponderante da empresa,
assim considerada a que ocupa na empresa o maior numero de segurados empregados e
trabalhadores avulsos, devendo-se verificar os graus de risco constantes do anexo V, do RPS
(Dec. 3.048/99). Segundo a súmula 351 do STJ, a empresa, nesse caso, é considerada como
estabelecimento, ou seja, se uma empresa possuir várias filiais, a alíquota de contribuição para
o SAT será aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada filial, e não na empresa como um
todo.
Todavia, a Secretaria da Receita Federal do Brasil mantém posicionamento contrário
ao do STJ, pois estabelece que a empresa com mais de um estabelecimento e diversas
atividades econômicas deverá somar o número de segurados alocados na mesma atividade em
todos os estabelecimentos, prevalecendo como preponderante a atividade que ocupa o maior
número de segurados empregados e trabalhadores avulsos, considerados todos os
estabelecimentos.
A contribuição SAT poderá, ainda, sofrer redução ou majoração em razão do
desempenho da empresa em relação à respectiva atividade econômica, apurado em
conformidade com o Fator Acidentário de Prevenção – FAT, que consiste em um
multiplicador variável a ser aplicado à alíquota da contribuição SAT, utilizando como
variáveis os índices de frequência, gravidade e custo dos acidentes de trabalho ocorridos na
empresa. Assim, caso uma empresa invista em prevenção a acidentes de trabalho, terá direito

98
a uma redução da contribuição SAT. Por outro lado, caso uma empresa registre um elevado
número de acidentes de trabalho, sofrerá uma majoração em sua contribuição SAT.
Ainda com relação a esse adicional de contribuição, dispõe o artigo 57, § 6º, da Lei
8.213/91, que as alíquotas da contribuição SAT poderão ser acrescidas de 6%, 9% ou 12%, se
o segurado empregado ou trabalhador avulso desenvolver atividade enquadrada como
especial, que leva a uma aposentadoria diferenciada com apenas 25, 20 ou 15 anos de
contribuição, respectivamente.
Assim, se o empregado ou avulso se encontra exposto a agentes físicos, químicos,
biológicos ou outros prejudiciais à sua saúde ou integridade física, ele fará jus ao benefício
denominado de aposentadoria especial, que exige um menor tempo de contribuição para
aposentação, a depender do enquadramento regulamentar. O que justifica o acréscimo da
contribuição, uma vez que o segurado que se aposentar mais cedo, naturalmente, permanecerá
recebendo aposentadoria por mais tempo, o que gera um maior ônus à previdência.
Por fim, no que se refere à contribuição patronal dos segurados empregado e
trabalhador avulso, excepcionalmente, caso o empregador seja um microempreendedor
individual, que é equiparado à empresa para fins previdenciários, a sua cota previdenciária
será de apenas 3% sobre o salário de contribuição do empregado. Importante salientar que o
MEI apenas poderá ter um único empregado que receba exclusivamente um salário mínimo
ou o piso salarial da categoria profissional.
Vejamos um exemplo prático para melhor compreender a contribuição patronal dos
segurados empregado e trabalhador avulso:

Luana é dentista e possui um consultório para atendimento de seus pacientes, no qual


emprega duas funcionárias: uma telefonista, que recebe R$ 1.00,00, e uma auxiliar, com
remuneração de R$ 1.200,00. No final do mês, após pagar todos os custos do
consultório, Luana recebeu, como remuneração de seu trabalho, R$ 6.000,00. Sabendo
que o grau de risco desta atividade é médio e que o FAP é de 1,500, quanto ela deve
pagar em relação às contribuições previdenciárias?
Primeiramente, lembramos que os contribuintes individuais que contratam empregados
são equiparados à empresa. Luana, então, deve cumprir as suas obrigações com a
Previdência da mesma forma que uma empresa. Deve recolher contribuições relativas à
remuneração dos empregados (parte patronal) sobre o valor de R$ 2.200,00, no
percentual de 23% (20% parcela básica + 2% SAT + 1% do efeito multiplicador do
FAP), totalizando R$ 506,00 (23% x 2.200,00). Como a responsabilidade de
recolhimento das contribuições dos segurados empregados é do tomador de serviço,
Luana deverá reter e repassar à Previdência a contribuição de seus empregados, que,
neste caso, é de R$ 80,00 (8% x 1.000,00), relativos à telefonista, e R$ 96,00 (8% x
1.200,00), relativos à sua auxiliar. Por fim, Luana deverá pagar a sua contribuição como
99
segurada contribuinte individual, no valor de R$ 1.037,96 (20% x 5.189,82),
considerando o limite máximo do salário de contribuição.

Contribuição patronal sobre a remuneração dos segurados empregado e avulso


Discriminação da contribuição Alíquota
Regra geral 20%
Parcela básica
Financeiras 22,5%
Risco leve 1%
SAT (pode ser atenuado em 50% ou majorado
Risco médio 2%
em 100% a depender do FAP)
Risco alto 3%
25 anos 6%
Adicional SAT (apenas para os trabalhadores
20 anos 9%
com direito à aposentadoria especial)
15 anos 12%
Dia do
Descrição Responsável
recolhimento
Contribuição sobre a remuneração de Dia 20 ou dia útil Empresa tomadora
empregados e avulsos anterior de serviço
20/12 ou dia útil Empresa tomadora
13º salário
anterior de serviço

4.1.2 Incidente sobre a remuneração dos contribuintes individuais

Esta contribuição previdenciária dos tomadores de serviço será de 20% sobre o total
das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados
contribuintes individuais que lhe prestem serviços, na forma do artigo 22, III, da Lei 8.212/91,
devendo ser recolhida até o dia 20 do mês seguinte ao da competência, ou, se não for dia útil,
no imediatamente anterior.
Também nesse caso as instituições financeiras deverão pagar um adicional de 2,5%,
em razão do maior lucro e automação, com base no art. 22, §1º, da Lei 8.212/91.
A diferença desta contribuição para aquela prevista para os segurados empregado e
trabalhador avulso, é que no caso do contribuinte individual não há o adicional de acidente do
trabalho – SAT.

100
No caso de cooperativa de produção24, haverá contribuição adicional para o custeio de
aposentadoria especial (adicional SAT de 6%, 9% ou 12%), caso se trate de atividade
enquadrada como especial desenvolvida pelo cooperado.

4.1.3 Incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura da prestação de serviços das
cooperativas de trabalho

No caso das empresas que contratem trabalhadores cooperados por intermédio de


cooperativas de trabalho, a contribuição previdenciária patronal será de 15% sobre o valor
bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, na forma do artigo 22, IV, da Lei
8.212/91, disposição que afasta a regra geral da alíquota de 20% sobre o total das
remunerações pagas ou creditadas.
Entende-se como cooperativa de trabalho a sociedade formada por operários, artífices,
ou pessoas da mesma profissão ou ofício ou de vários ofícios de uma mesma classe, que, na
qualidade de associados, prestam serviços a terceiros por seu intermédio.
A empresa tomadora dos serviços será a responsável tributária pelo recolhimento da
contribuição, até o dia 20 do mês seguinte ao da competência, ou, se não for dia útil, o
imediatamente anterior.
Note-se que a base de cálculo desta contribuição é o valor bruto da nota fiscal ou
fatura de prestação de serviço, mas decorre da remuneração paga aos trabalhadores
cooperados, e não das cooperativas. Ou seja, a contribuição das empresas tomadoras de
serviço de cooperativas tem a finalidade de substituir as contribuições devidas pelas
cooperativas de trabalho sobre a remuneração dos seus cooperados.
A cooperativa de trabalho, assim como a cooperativa de produção, é considerada
empresa pela conceituação do Direito Previdenciário e, como tal, deveria contribuir com a
alíquota de 20% sobre a remuneração paga aos seus cooperados, que se enquadram na
categoria de contribuintes individuais. Nesse caso, a legislação previdenciária optou por
isentar as cooperativas de trabalho, no que tange às remunerações repassadas para os seus
filiados, criando uma contribuição a cargo das empresas que contratarem seus serviços.

24
Considera-se cooperativa de produção aquela em que seus associados contribuem com serviços laborativos
ou profissionais para a produção em comum de bens, quando a cooperativa detenha por qualquer forma os
meios de produção. A cooperativa de produção equipara-se à empresa, e seus cooperados são enquadrados na
categoria de contribuinte individual.
101
Esta contribuição poderá, ainda, sofrer um acréscimo de 5%, 7% ou 9%, para o custeio
da aposentadoria especial de 25, 20 ou 15 anos, respectivamente, no caso de cooperado
exposto a agentes nocivos à sua saúde, cuja atividade se enquadrar como especial.
Neste caso, será emitida nota fiscal ou fatura de prestação de serviços específica para a
atividade exercida pelo cooperado que permita a concessão de aposentadoria especial, exceto
se todos os cooperados desenvolverem atividade especial com mesmo período para a
aposentação.

4.2 Contribuição previdenciária do empregador doméstico

Será enquadrado como empregador doméstico a pessoa ou família que admite a seu
serviço, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico, na forma do artigo 15, II, da Lei
8.212/91.
Esta contribuição será de 12% sobre o salário de contribuição do empregado
doméstico, que deverá ser recolhida até o dia 15 do mês seguinte ao da competência, ou, se
não for dia útil, o imediatamente posterior, juntamente com a contribuição descontada do
salário do empregado, valendo ressaltar que se cuida da única contribuição patronal que
incidirá sobre o salário de contribuição, estando sujeita, portanto, ao limite máximo, assim
como ocorre com a empresa enquadrada como MEI.
Será possível o recolhimento trimestral das contribuições previdenciárias pelo
empregador doméstico, caso o salário de contribuição seja de um salário-mínimo.
O empregador doméstico poderá recolher a contribuição do segurado empregado a seu
serviço e a parcela a seu cargo relativas à competência de novembro até o dia 20 de
dezembro, juntamente com a contribuição referente ao 13º salário, utilizando-se de um único
documento de arrecadação.

Tabela exemplificativa
Alíquota Desconto Contribuição
Alíquota do
Atividade Remuneração do do do Total
empregador
empregado empregado empregador
R$
Cozinheira R$ 1.00,00 8% R$ 80,00 12% R$ 120,00
200,00
R$
Motorista R$ 2.000,00 9% R$ 180,00 12% R$ 240,00
420,00
R$
Piloto R$ 6.500,00 11% R$ 570,88 12% R$ 622,77
1.193,65

102
4.3 Tabela das contribuições previdenciárias patronais

Contribuições previdenciárias patronais


Contribuintes Alíquota Base de cálculo Prazo
Sobre o total das
20% + 1%, 2% ou 3%
remunerações pagas
da contribuição SAT
mensalmente, inclusive Até o dia 20 do
(pode ser atenuado em
as gorjetas e as utilidades mês seguinte ao da
50% ou majorado em
Empresas ou na forma de ganhos competência, ou,
100% a depender do
equiparados habituais, assim como se não for dia útil,
FAP) + adicional SAT
sobre as devidas ou no imediatamente
de 6%, 9% ou 12%, no
creditadas aos segurados anterior
caso de atividade
empregados e
especial
trabalhadores avulsos
20%, que poderá ser Sobre o total das
Até o dia 20 do
acrescida de 6%, 9% remunerações pagas ou
mês seguinte ao da
ou 12%, apenas no creditadas a qualquer
Empresas ou competência, ou,
caso da cooperativa de titulo, no decorrer do
equiparados se não for dia útil,
produção, para o mês, aos segurados
no imediatamente
custeio da contribuintes individuais
anterior
aposentadoria especial que lhe prestem serviços
Empresas que Até o dia 20 do
15%, que poderá ser
contratem mês seguinte ao da
acrescida de 5%, 7% Sobre o valor bruto da
trabalhadores competência, ou,
ou 9%, para o custeio nota fiscal ou fatura de
cooperados por se não for dia útil,
da aposentadoria prestação de serviços
intermédio de no imediatamente
especial
cooperativa anterior
Até o dia 15 do
mês seguinte ao da
Empregador competência, ou,
12% Salário de contribuição
doméstico se não for dia útil,
no imediatamente
posterior

103
Até o dia 20 do
mês seguinte ao da
competência, ou,
MEI 3% Salário de contribuição
se não for dia útil,
no imediatamente
posterior

5. Exemplo geral de custeio

A empresa Beta, no mês de fevereiro de 2016, teve as seguintes despesas:

a) João, empregado, recebeu R$ 1.000,00;


b) Maria, empregada, recebeu R$ 5.000,00;
c) José, empresário (contribuinte individual), recebeu R$ 6.000,00;
d) Antônio, trabalhador avulso contratado por intermédio de sindicato, recebeu
R$ 880,00.

João estava exposto a um agente nocivo, o que lhe daria direito à aposentadoria especial
após 15 anos de contribuição. Além disso, a empresa contratou cooperativa de trabalho
para a realização de serviço de limpeza, no valor de R$ 2.500,00. A atividade
desenvolvida pela empresa tem risco médio de acidente de trabalho. O FAP é 1,2.
Assim, o valor da contribuição devida será obtido da seguinte forma:

a) Da empresa:

1. Somatório das remunerações de João, Maria e Antônio (empregados e


avulso), totalizando R$ 6.880,00, valor sobre o qual incide a
contribuição de 20% mais 2,4% (2% relativo ao SAT – risco médio de
acidente do trabalho -, mais o fator 1,2 relativo ao FAP). Totalizando
22,4% de R$ 6.800,00 = R$ 1.541,12;
2. Remuneração de contribuinte individual: R$ 6.000,00, com incidência
de 20% = R$ 1.200,00;

104
3. Adicional de SAT de 12% (aposentadoria especial após 15 anos de
atividade) sobre a remuneração de João, de forma que 12% de R$
1.000,00 = R$ 120,00;
4. Contribuição sobre a fatura de cooperativa de trabalho: 15% de R$
2.500,00 = R$ 375,00. Esta contribuição é devida pela empresa, na
condição de tomadora de serviço. É recolhida em seu próprio nome.

Total parcial a recolher: R$ 3.236,12.

b) Dos segurados:

1. João – 8% de R$ 1.000,00 = R$ 80,00;


2. Maria – 11% de R$ 5.189,82 (limite máximo do salário de
contribuição) = R$ 570,88;
3. Antonio – 8% de R$ 880,00 = R$ 70,40;
4. José – pela regra estabelecida na Lei 10.666/03, a alíquota não será de
20%, uma vez que José é um contribuinte individual que presta serviço
à pessoa jurídica. Nesse caso, a alíquota será de 11% sobre o salário de
contribuição. Portanto, 11% de R$ 5.189,82 (limite máximo do salário
de contribuição) = R$ 570,88;

As contribuições dos empregados, avulsos e individuais, devem ser recolhidas pela


empresa, sendo descontadas das remunerações. O recolhimento é feito no mesmo prazo
estabelecido para a empresa: dia 20 do mês seguinte ao da competência (se não cair em
dia útil, o prazo será no dia útil imediatamente anterior).
O recolhimento do contribuinte individual, como visto, ao prestar serviço à pessoa
jurídica, não é mais competência do segurado, mas sim do tomador de serviço, sendo
essa contribuição recolhida junto com os descontos dos demais segurados.
Assim, o total a recolher pela empresa Beta será o parcial já apurado (R$ 3.236,12),
somado à parcela descontada dos segurados empregados, avulsos e contribuintes
individuais (R$ 1.212,16), perfazendo o total de R$ 4.448,28, a ser pago até o dia 20 do
mês de março de 2015.

105
6. Contribuição substitutiva da parte patronal

Já foi visto que a contribuição dos segurados, prevista no artigo 195, II, da CF/88, é
feita tomando como base de cálculo o salário de contribuição, que é composto pelas parcelas
remuneratórias recebidas pelos segurados obrigatórios (com a exceção do segurado especial),
estando excluídas do salário de contribuição as parcelas indenizatórias e ressarcitórias.
Outrossim, foi exposto que o salário de contribuição está sujeito à limites mínimo e
máximo, sendo o teto instituído por meio de ato do Poder Executivo, tomando como
parâmetro o reajuste anual aplicado aos benefícios pecuniários da Previdência Social, limite
hoje estabelecido em R$ 5.189,82. Já o limite mínimo é o piso salarial da categoria
profissional ou, inexistindo esse piso, o salário-mínimo.
Por outro lado, foi estudada também a cota patronal da contribuição previdenciária, na
forma do artigo 195, I, ‘a’, da CF/88. Essa cota, da mesma forma da contribuição dos
segurados, tem como base de cálculo a remuneração daquele que presta serviço. Todavia,
como regra geral, não está sujeita ao limite máximo previsto para o salário de contribuição, de
modo que a cota patronal incidirá sobre o total dos rendimentos auferidos pelo trabalhador
(excluídas as parcelas indenizatórias e ressarcitórias).
Temos, portanto, a base fundamental das contribuições sociais destinadas à
Previdência Social. Entretanto, tendo em vista a amplitude do Regime Geral de Previdência
Social, existem certos ramos que não se adéquam às regras gerais de tributação
previdenciária, necessitando de regramentos específicos.
Com efeito, segundo dispõe o §9º, do art. 195, da CF/88, a base de cálculo para a
contribuição patronal pode ser alterada em razão da atividade econômica desenvolvida pelo
contribuinte. Neste caso, a empresa passa a contribuir para o RGPS sobre uma base
diferenciada, em função das peculiaridades de sua atividade:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a
qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
(...)

106
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter
alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da
utilização intensiva de mão-deobra, do porte da empresa ou da condição estrutural
do mercado de trabalho.

De fato, determinados ramos possuem características singulares que dificultariam o


pagamento da contribuição convencional. Nesses casos, a opção do legislador foi substituir a
base de cálculo para adequar a contribuição previdenciária à capacidade de pagamento do
empregador.
As atividades que foram beneficiadas com este tratamento diferenciado são:

a) Associações desportivas que mantêm equipe de futebol profissional;


b) Produtores rurais pessoas físicas;
c) Produtores rurais pessoas jurídicas;
d) Agroindústrias.

6.1 Associações desportivas que mantêm equipe de futebol profissional

Em substituição à contribuição previdenciária de 20% incidente sobre o total das


remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e avulsos que lhe
prestam serviços, bem como à contribuição SAT de 1%, 2% ou 3%, a legislação instituiu em
favor das associações desportivas que mantém times de futebol profissional uma contribuição
substitutiva para beneficiá-las.
Com efeito, essa contribuição corresponderá à 5% da receita bruta decorrente dos
espetáculos desportivos de que participem em todo território nacional em qualquer
modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio,
licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e de transmissão de
espetáculos desportivos, na forma do § 6º, do art. 22, da Lei 8.212/91.
Contudo, esta forma diferenciada de contribuição previdenciária apenas será aplicada
às atividades diretamente relacionadas com a manutenção e administração de equipe
profissional de futebol, não se estendendo às outras associações desportivas, mas apenas no
que concerne aos empregados e avulsos.
Portanto, esta contribuição substitui apenas as devidas pela empresa sobre a
remuneração dos empregados e avulsos, ou seja, caso a associação desportiva contrate
contribuinte individual, deverá pagar 20% sobre sua remuneração, a título de contribuição
previdenciária. Da mesma forma, caso contrate serviços de cooperativa de trabalho, pagará
107
15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura. Fica mantida, também, a obrigação de
efetuar a retenção da contribuição dos segurados, repassando-as aos cofres previdenciários.
A responsabilidade tributária para o recolhimento dessa contribuição é da entidade
promotora do espetáculo, que deverá efetuar os descontos e repassar à União até 02 dias úteis
após a realização do evento esportivo. Caso a entidade descumpra a obrigação tributária, a
Confederação Brasileira de Futebol fica sujeita ao recolhimento na condição de responsável
subsidiária. Contudo, a responsabilidade subsidiária da CBF só se caracteriza em eventos
onde é imprescindível sua participação.
No caso de a associação desportiva receber recursos a título de patrocínio,
licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de
espetáculos, caberá à empresa pagadora a responsabilidade de reter e recolher o percentual de
5% da receita bruta decorrente do evento, inadmitida qualquer dedução, até o dia 20 do mês
subsequente ao da competência.
Importante destacar que a receita obtida com a venda de jogadores não é base de
cálculo para a Previdência. Da mesma forma, o patrocínio à seleção brasileira, contratado com
a CBF, não é fato gerador da contribuição substitutiva, pois a CBF não é uma associação
desportiva que mantém equipe de futebol profissional.

6.2 Produtor rural pessoa física

De início, cabe observar que o STF decidiu que a contribuição substitutiva da


parte patronal, paga pelo produtor rural pessoa física, é inconstitucional, por ensejar a
dupla tributação sobre uma mesma base de cálculo, no caso, o faturamento (RE 363.852
e RE 596.177 – Informativo 634).
Com efeito, o produtor rural pessoa física que contratar empregados estará
sujeito ao pagamento da COFINS, cuja base de cálculo é a sua receita bruta, bem como
a contribuição previdenciária de 2,1% sobre a receita decorrente de sua
comercialização.
Por essa razão, decidiu a Suprema Corte que foi caracterizada a ocorrência da
bitributação, sendo declarada inconstitucional a cobrança da contribuição
previdenciária substitutiva de 2,1% sobre a receita decorrente de sua comercialização.
Antes da declaração da inconstitucionalidade, a contribuição era feita de acordo com o
artigo 25 da Lei 8.212/91, onde em favor dos produtores rurais pessoas físicas, que são

108
equiparados a empresa para fins previdenciários, não iria incidir a regra geral de 20% sobre o
total das remunerações.
Com efeito, a alíquota da contribuição, nesse caso, seria de 2% sobre a receita bruta
proveniente da comercialização da sua produção, sofrendo um acréscimo de 0,1% para
financiamento das prestações por acidente do trabalho, o que perfaz um total de 2,1%.
Considera-se produtor rural pessoa física:

a) O segurado especial que, na condição de proprietário, parceiro, meeiro,


comodatário ou arrendatário, pescador artesanal ou a ele assemelhado, exerce
atividade individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com
o auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou
companheiros e filhos maiores de 16 anos ou a eles equiparados, desde que
trabalhem comprovadamente com o grupo familiar;
b) A pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou
pesqueira, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou pro
intermédio de prepostos e com auxílio de empregados, utilizados a qualquer
título, ainda que de forma não contínua.

Importante ressaltar que esta contribuição, assim como a das entidades desportivas que
mantêm equipe de futebol profissional, substitui apenas as devidas pela empresa sobre a
remuneração de empregados e avulsos, ou seja, caso o produtor rural contrate contribuinte
individual, deverá pagar 20% sobre a remuneração, a título de contribuição previdenciária. Da
mesma forma, caso contrate serviços de cooperativa do trabalho, pagará 15% sobre o valor
bruto da nota fiscal ou fatura. Fica mantida, também, a obrigação de efetuar a retenção da
contribuição dos segurados empregados, repassando-as ao INSS.

6.3 Produtor rural pessoa jurídica

De acordo com o artigo 25 da Lei 8.870/94, o empregador rural pessoa jurídica


também terá uma contribuição previdenciária patronal substitutiva à incidente sobre a
remuneração dos empregados e avulsos.
A alíquota da contribuição, nesse caso, será de 2,5% sobre a receita bruta proveniente
da comercialização da sua produção, sofrendo um acréscimo de 0,1% para financiamento das

109
prestações por acidente do trabalho, o que perfaz um total de 2,6%, sendo do próprio produtor
rural pessoa jurídica a responsabilidade pelo recolhimento.
Tal qual o produtor rural pessoa física, o empregador rural pessoa jurídica enquadra-se
como contribuinte individual, devendo também verter as suas contribuições previdenciárias
como segurado obrigatório do RGPS.
Importante ressaltar que esta substituição somente deve ocorrer quando se tratar de
pessoas jurídicas que tenham como fim apenas a atividade de produção rural. Logo, a empresa
que além da atividade rural explore também outra atividade econômica, contribuirá como
qualquer empresa.

6.4 Agroindústrias

A agroindústria é o produtor rural pessoa jurídica cuja atividade econômica é a


industrialização da produção própria, podendo, adicionalmente, industrializar também
produção adquirida de terceiros.
Esta contribuição substitutiva será idêntica àquela prevista para o produtor rural
pessoa jurídica, com a exceção de que nesse caso a substituição da contribuição ocorrerá
mesmo que a agroindústria, além da atividade rural, explore também outra atividade
econômica.
Ressalte-se que a validade constitucional desta contribuição previdenciária
substitutiva está sendo questionada no STF, por intermédio do RE 611.601.

7. Outras receitas da Seguridade Social

O Plano de Organização e Custeio da Seguridade Social (Lei 8.212/91) também traz as


chamadas outras fontes de custeio, as quais fornecem recursos adicionais ao caixa securitário.
Segundo o artigo 27 da Lei 8.212/91, são outras fontes de recursos que alimentam a
Seguridade Social:

a) As multas, a atualização monetária e os juros moratórios;


b) A remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e cobrança
prestados a terceiros;

110
c) As receitas provenientes de prestação de outros serviços e de fornecimento ou
arrecadamento de bens;
d) As demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras;
e) As doações, legados, e outras receitas eventuais;
f) 50% dos valores obtidos e aplicados na forma do parágrafo único do art. 243
da CF/8825;
g) 40% do resultado dos leilões dos bens apreendidos pela SRFB;
h) Outras receitas previstas em legislação específica.

Adicionalmente, as companhias seguradoras que mantêm o seguro obrigatório de


danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres (DPVAT) deverão
repassar à Seguridade Social 50% do valor total do prêmio recolhido para ser destinado ao
SUS, para custeio da assistência médico-hospitalar dos segurados vitimados em acidentes de
trânsito.

8. Retenção sobre a nota fiscal dos prestadores de serviço

Segundo dispõe o art. 31 da Lei 8.212/91, a empresa contratante de serviços


executados mediante cessão de mão de obra tem a obrigação de reter 11% do valor da nota
fiscal ou fatura de prestação de serviços e recolhê-los, em nome da prestadora, até o dia 20 do
mês seguinte ao da emissão da nota, antecipando-se o prazo quando não for dia útil.
A empresa prestadora de serviço, por sua vez, deve destacar, na nota fiscal, o valor da
retenção a ser efetuada pela contratante. Entretanto, independentemente do destaque, a
empresa que utilizar o serviço envolvendo cessão de mão de obra deve, de toda maneira,
efetuar a retenção.
Após a prestação do serviço, será feito um confronto entre o valor retido e o devido
pela empresa prestadora de serviço a guisa de contribuição previdenciária, operando-se uma
compensação, que poderá gerar o direito à restituição do que eventualmente exceder o valor
realmente devido, ou o pagamento do remanescente pela pessoa jurídica prestadora de
serviço.

25
“todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins será confiscado e revertido em benefício de instituições e pessoal especializados no tratamento e
recuperação de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção e
repressão do crime de tráfico dessas substâncias.”
111
Trata-se, portanto, de uma garantia à Previdência Social. A empresa contratante irá
reter o valor da contribuição patronal sobre a nota fiscal ou fatura da prestação de serviço e,
quando terminado o serviço ou contrato, será feita uma prestação de contas, de modo que, se o
valor retido não for suficiente para cobrir a contribuição previdenciária, a empresa prestadora
de serviços será responsável pelo complemento.

Exemplo:
A empresa Alfa contratou a empresa Gama, prestadora de serviços de limpeza,
por um período de dois anos, ajustando-se o pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
A contribuição a pagar da prestadora de serviço, apurada ao final de cada mês, com base
na folha de pagamento, foi de R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais. Qual o valor que
deve ser retido pela empresa Alfa e recolhido pela empresa Gama?
De início, independentemente do correto destaque na nota fiscal, a empresa Alfa
deve reter da Gama o valor de R$ 1.100,00 (11% x 10.000,00) em cada mês e recolhê-lo
em nome da prestadora. Assim, a empresa Alfa deve pagar à empresa Gama a diferença
entre o valor da nota e o retido, em compensação à prestação do serviço, o que totaliza
R$ 8.900,00.
Por outro lado, a empresa Gama deve pagar em cada mês o valor da diferença
entre as contribuições apuradas e as antecipadas mediante retenção, que totaliza R$
900,00 (R$ 2.000,00 – R$ 1.100,00).

Cumpre aqui estabelecer alguns comparativos quanto a esse tipo de contribuição.


Primeiramente, não se deve confundir essa retenção com a contribuição patronal de
11% dos contribuintes individuais que prestam serviços a empresas ou equiparadas. A
retenção de 11% aqui prevista objetiva evitar a inadimplência previdenciária, pois determina a
retenção da contribuição antes mesmo da prestação de serviço ser finalizada. Já a contribuição
patronal referente aos contribuintes individuais que prestam serviços a empresas, o objetivo,
além da garantia de pagamento, é a inclusão desses trabalhadores no Regime Previdenciário.
Por outro lado, também não se deve confundir a retenção aqui exposta com a
contribuição sobre notas fiscais de cooperativas de trabalho. Não há qualquer espécie de
retenção do valor da nota fiscal emitida pela cooperativa de trabalho, ao contrário, esse valor
será apenas a base de cálculo da contribuição a ser recolhida pela contratante dos serviços da
cooperativa. Já no caso de uma empresa contratar os serviços de uma prestadora de serviços,

112
haverá a retenção de 11% sobre o valor contratado, ou seja, quem vai arcar com a
contribuição será a prestadora de serviços, cabendo à tomadora apenas a obrigação de
retenção.

Exemplo:
O Banco Cheque Voador necessita contratar 100 vigilantes terceirizados, para
acompanhar o trânsito de valores entre suas agências. Adriano, Gerente de Contratos,
recebeu duas propostas de prestação de serviços: a primeira, da Cooperativa Olho Vivo,
que lhe enviou um orçamento, fixando o valor do serviço em R$ 100.000,00. A
segunda, da empresa Carro Forte, prestadora de serviço de vigilância, que lhe propôs o
mesmo serviço por R$ 110.000,00. Qual das empresas Adriano deve contratar?
Caso contrate a Cooperativa Olho Vivo, além do pagamento do valor do serviço
ajustado, o Banco Cheque Voador terá que recolher R$ 15.000,00 (15% x R$
100.000,00) para os cofres previdenciários. O custo mensal da contratação será de R$
115.000,00.
Caso contrate a empresa Carro Forte, deverá pagar-lhe, mensalmente, o valor de
R$ 97.900,00 (110.000,00 – 11%), retendo a título de contribuição previdenciária R$
12.100,00, que deve ser repassado à Previdência. O custo total da contratação será de
R$ 110.000,00.
Desse modo, contratar a empresa Carro Forte será mais vantajoso, uma vez que,
apesar de o valor proposto pela cooperativa ter sido menor, o Banco não terá qualquer
custo previdenciário com a empresa Carro Forte.

A retenção de 11% sobre a nota fiscal de prestadores de serviço pode ser aplicada
tanto em casos de cessão de mão de obra quanto em serviços de empreitada.
A cessão de mão de obra consiste na colocação à disposição do contratante, em suas
dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados
ou não com a atividade fim da empresa, quaisquer que sejam a natureza ou a forma de
contratação (art. 31, § 3º, da Lei 8.212/91).
Já a empreitada é a execução contratualmente estabelecida de tarefa, de obra ou de
serviço, por preço ajustado, com ou sem o fornecimento de materiais ou uso de equipamentos,
realizados nas suas dependências, nas da contratada ou nas de terceiros, tendo como objetivo
um fim específico ou de resultado pretendido (art. 116 da IN RFB 971/09).

113
A distinção desses conceitos é importante, pois a legislação estabelece em quais casos
haverá retenção, de modo que para alguns serviços, a retenção só será feita no caso de cessão
de mão de obra, já em outros, a retenção será feita em ambos os casos.
O rol de atividades sujeitas à retenção de contribuição previdenciária está previsto no
art. 219, §2º, do RPS (Dec. 3.048/99). Existem apenas três situações onde não será realizada a
retenção da contribuição previdenciária, mesmo que a atividade exercida esteja no rol do
artigo acima citado:

a) Caso o valor da retenção a ser efetuada seja inferior ao mínimo para


recolhimento das contribuições (que atualmente é de R$ 10,00);
b) Caso a contratada não possua empregados e o serviço seja prestado pelo titular
ou sócio da pessoa jurídica, devendo, ainda, o faturamento do mês anterior ser
igual ou inferior a duas vezes o limite máximo do salário de contribuição;
c) Caso a prestação de serviços seja realizada por profissionais de profissão
regulamentada ou de treinamento e ensino, desde que prestados pessoalmente
pelos sócios da empresa sem a participação de empregados ou outros
contribuintes individuais.

9. Arrecadação e recolhimento das contribuições previdenciárias

Desde o advento da Lei 11.457/2007, a tributação, fiscalização, arrecadação, cobrança


e o recolhimento de todas as contribuições para a Seguridade Social passaram a ser da
competência da Secretaria da Receita Federal do Brasil – SRFB, órgão da União, integrante
da estrutura do Ministério da Fazenda.
As regras gerais de tributação e arrecadação das contribuições previdenciárias foram
regulamentadas por intermédio da Instrução Normativa 971/2009 da SRFB.
Antes da vigência da citada lei, as contribuições previdenciárias eram arrecadadas pela
extinta Secretaria de Receita Previdenciária, em nome do INSS, integrando a divida ativa da
autarquia previdenciária. Com o novo regramento, a divida ativa passou a ser da União,
cabendo à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a representação judicial da União na
cobrança desses créditos.
Como já exposto anteriormente, para efeito de incidência das contribuições
previdenciárias, a fiscalização tributária tem autonomia para desconsiderar pessoa, ato ou

114
negócio jurídico que implique reconhecimento de relação de trabalho, com ou sem vínculo
empregatício, independentemente de decisão judicial.
Por outro lado, a Justiça do Trabalho detém competência para executar, de ofício, as
contribuições previdenciárias patronais e dos trabalhadores, inclusive os respectivos
acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir. Todavia, segundo entendimento do
STF, tal competência se restringe às decisões condenatórias, não alcançando as sentenças
meramente declaratórias do vínculo de emprego.
Caso a decisão proferida na Justiça do Trabalho tenha discriminado o recolhimento de
contribuições previdenciárias indevidas ou além do valor correto, a competência para julgar
eventual ação de repetição de indébito tributário será da Justiça Federal.
Importante ressaltar que a arrecadação feita mediante decisão judicial trabalhista não
vinculará o INSS a reconhecer o tempo de contribuição respectivo. Nesse caso, a coisa
julgada será ineficaz perante o ente autárquico, uma vez que o INSS não é parte em lide
trabalhista.
A decisão proferida na Justiça do Trabalho servirá apenas como início de prova
material para o INSS, e somente quando estiver fundada em prova documental, conforme o
disposto no art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91.
Como já exposto, as contribuições previdenciárias são feitas pelos segurados e pelos
tomadores de serviço. Quanto à arrecadação e o recolhimento dessas contribuições, a
responsabilidade pode ser do tomador de serviço, ou do próprio segurado.

9.1 Parcelamento

As regras de parcelamento das contribuições previdenciárias são previstas na Lei


10.522/2002 (arts. 10-16), sendo possível o parcelamento em até 60 parcelas mensais,
condicionado ao pagamento da primeira parcela, com previsão de garantia real ou fidejussória
caso o débito esteja inscrito em Dívida Ativa, sendo admitida a fiança bancária.
O pedido de parcelamento deferido constitui confissão de dívida e instrumento hábil e
suficiente para a exigência do crédito tributário, podendo a exatidão dos valores parcelados
ser objeto de verificação, cabendo ao devedor, enquanto o pedido estiver pendente de
deferimento, recolher, a cada mês, como antecipação, o valor correspondente a uma parcela.
O valor de cada prestação mensal, por ocasião do pagamento, será acrescido de juros
equivalentes à taxa referencial SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente,

115
calculados a partir do mês subsequente ao da consolidação, até o mês anterior ao do
pagamento, e de 1% ao mês em que o pagamento estiver sendo efetuado.
É proibido o parcelamento das contribuições previdenciárias passiveis de retenção na
fonte, de desconto de terceiros ou de sub-rogação, assim como os valores recebidos pelos
agentes arrecadadores não recolhidos aos cofres públicos. A massa falida e a pessoa com
insolvência civil decretada também não poderão parcelar o pagamento das contribuições
previdenciárias devidas à União.
Por fim, não poderão ser objeto de parcelamento as contribuições descontadas dos
empregados, inclusive os domésticos, dos trabalhadores avulsos, dos contribuintes
individuais, as decorrentes de sub-rogação e as demais importâncias descontadas na forma da
legislação previdenciária.
Implicará imediata rescisão do parcelamento e remessa do débito para inscrição em
Dívida Ativa da União ou prosseguimento da execução, conforme o caso, a falta de
pagamento de três parcelas, consecutivas ou não, ou de uma parcela, estando pagas todas as
demais.

9.2 Encargos decorrentes do atraso no pagamento

Os juros decorrentes do inadimplemento são previstos pelo artigo 30, da Lei


10.522/2002.
Sobre os débitos vencidos e não pagos incidirão juros de mora equivalentes à taxa
referencial SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente, até o último dia do mês
anterior ao do pagamento, e de 1% no mês de pagamento. Na hipótese de restituição judicial
mediante uma ação de repetição do indébito tributário, o termo inicial dos juros de mora será
a coisa julgada.
Por sua vez, as multas decorrentes do inadimplemento são fixadas pelo artigo 61, da
Lei 9.430/96, que prevê a multa de mora à razão de 0,33% por dia de atraso, limitada a 20%
ao mês.
Entretanto, nas hipóteses de lançamento de ofício, as multas serão mais graves,
devendo ser observado o regramento do art. 44, da Lei 9.430/96.

116
10. Responsabilidade solidária na tributação previdenciária

Com o objetivo de aumentar as possibilidades de arrecadação das contribuições


previdenciárias, alguns casos de responsabilidade solidária por seu adimplemento foram
instituídos pela legislação. A solidariedade tributária não comporta benefício de ordem,
respondendo cada devedor pela totalidade do débito perante a SRFB.
Assim como no Direito Tributário, a solidariedade somente existe no polo passivo da
relação, e decorre sempre de lei. O tema é tratado pela Lei 8.212/91 (arts. 30, VI-IX, e 31) e
pelo RPS – Dec. 3.048/99 (arts. 219-224-A).
A legislação previdenciária prevê que a retenção de 11% sobre o valor bruto da fatura
ou nota fiscal, nos casos de cessão de mão-de-obra ou empreitada, suprime a solidariedade.
São situações que geram solidariedade:

a) Construção civil

O proprietário, o incorporador, o dono da obra ou condômino da unidade imobiliária,


qualquer que seja a forma de contratação da construção, reforma ou acréscimo que não
envolva cessão de mão-de-obra, são responsáveis solidários com o construtor, e estes com a
subempreiteira, pelo cumprimento das obrigações para com a Seguridade Social, ressalvado o
seu direito regressivo contra o executor ou contratante da obra e admitida a retenção de
importância a este devida para garantia do cumprimento dessas obrigações.
Importante ressaltar que esta hipótese de responsabilidade solidária apenas será
aplicada quando não ocorrer cessão ou empreitada de mão-de-obra, pois nesses casos incidirá
a retenção de 11% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços em
nome da pessoa jurídica cedente da mão-de-obra.
Exclui-se desta hipótese de responsabilidade o adquirente do prédio ou unidade
imobiliária que realizar a operação com empresa de comercialização ou incorporador de
imóveis, ficando estes solidariamente responsáveis com o construtor.
Por fim, a legislação prevê uma hipótese de não incidência das contribuições
previdenciárias, no caso de construção residencial unifamiliar, desde que destinada ao uso
próprio, do tipo econômico, se executada sem mão de obra assalariada, e se a área total não
superar 70 metros quadrados.

117
b) Empresas do mesmo grupo econômico

As empresas que integram o mesmo grupo econômico são solidariamente responsáveis


pelo pagamento das contribuições para a Seguridade Social.

c) Gestores dos entes da Administração Pública

Os administradores das autarquias, fundações públicas, empresas públicas e


sociedades de economia mista de todas as esferas poderão ser responsabilizados
solidariamente pelo pagamento das contribuições para a Seguridade Social, caso se encontrem
em mora por mais de 30 dias no seu recolhimento, limitado ao período em que já tinham
poder de gestão. Esse tipo de responsabilidade solidaria é limitado à Administração Pública
Indireta.

d) Administração Pública

Segundo o art. 71, §2º, da Lei 8.666/93, a Administração Pública responde


solidariamente com o contratado pelos encargos previdenciários resultantes da execução do
contrato, nos termos do artigo 31 da Lei 8.212/91. Ou seja, a Administração Pública só
responderá solidariamente com o contratado no caso de cessão de mão-de-obra (o artigo 31 da
Lei 8.212/91 diz respeito à retenção de 11% sobre o valor bruto da fatura ou nota fiscal no
caso de cessão de mão-de-obra).

e) Operador portuário e órgão gestor de mão-de-obra (OGMO)

O art. 2º, §4º, da Lei 9.719/98, determina que o operador portuário e o OGMO são
responsáveis solidários pelo pagamento das contribuições para a Seguridade Social, relativas
à requisição de mão-de-obra dos trabalhadores avulsos. Ressalte-se que caso o OGMO não
elabore a escalação dos trabalhadores avulsos, o operador portuário será excluído da
responsabilização solidária.

118
f) Produtores rurais integrantes de consórcios simplificados

O artigo 25-A da Lei 8.212/91, prevê o consorcio simplificado de produtores rurais,


que é equiparado ao produtor rural pessoa física, formado pela união de produtores rurais
pessoas físicas, que outorgam a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores
para prestação de serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento
registrado em cartório de títulos e documentos. No caso, os integrantes do referido consórcio
serão responsáveis solidários em relação às obrigações previdenciárias.

11. Restituição, compensação e reembolso de contribuições previdenciárias

Ao se verificar o recolhimento indevido, a empresa ou o segurado tem direito à


compensação ou restituição, independente de prévio protesto. Basta a identificação do valor
pago a maior para efetuar a compensação na competência seguinte ou solicitar a restituição, a
critério do beneficiado.
Somente poderão ser restituídos ou compensados os valores indevidamente recolhidos
ou superiores ao que realmente era devido, sendo que o procedimento para a restituição ou
compensação será feito nos termos e condições estabelecidos pela SRFB.
O direito de pleitear a restituição ou compensação decai após cinco anos, nos termos
do art. 168 do CTN. O início do prazo decadencial é a data do pagamento, ou então a data em
que se tornar definitiva a decisão administrativa ou transitar em julgado a sentença judicial
que tenha reformado, anulado ou revogado a decisão condenatória.

11.1 Restituição

A restituição só costuma ser utilizada quando o montante recolhido indevidamente é


elevado, o que impediria sua rápida recuperação por compensação.
A quantia a ser restituída será acrescida de juros pela taxa SELIC acumulada
mensalmente até o mês anterior à restituição, bem como de 1% no mês da sua efetivação.
A restituição de contribuição indevidamente descontada do segurado somente poderá
ser feita ao próprio segurado, ou ao seu procurador, salvo se comprovado que o responsável
pelo recolhimento já lhe fez a devolução. Pode a empresa comprovar que reembolsou seu
empregado e solicitar diretamente o valor pago a maior.

119
Por fim, ressalte-se que a restituição somente pode ser feita quando se tratar de
recolhimento indevido, o que nem sempre é evidente em matéria previdenciária. Se, por
exemplo, um segurado facultativo recolhe contribuições previdenciárias por anos e,
subitamente, desiste de sua filiação, sem preencher os requisitos a qualquer benefício, não
poderia postular a repetição de tais valores, que foram devidos à época, em razão de sua
opção.
No entanto, o STJ já decidiu que, quando se trata de recolhimentos previdenciários,
como facultativo, somente para assegurar direitos previdenciários negados
administrativamente, mas posteriormente reconhecidos em juízo, a restituição é cabível, haja
vista a situação ter sido gerada por erro do INSS, que não poderia enriquecer-se em razão de
seu próprio equívoco no indeferimento.

11.2 Compensação

A compensação é o procedimento de ressarcimento de valores pagos a maior ou


indevidamente, por meio de dedução dos valores a pagar nas competências seguintes.
A Lei 8.212/91, previa que a compensação somente poderia ser feita com
contribuições da mesma espécie. Ou seja, só seria aceita a compensação entre as contribuições
com mesma destinação específica.
No entanto, a Lei 11.941/09 retirou tal previsão. Atualmente, o sujeito passivo que
apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou
contribuição administrado pela SRFB, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá
utilizá-lo na compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições
administrados pela SRFB, que são, hoje, praticamente todos.
Todavia, essa nova disposição é polêmica, havendo tribunais que aceitam a
compensação de tributos de natureza distinta, e outros tribunais que não aceitam tal
compensação.
Já no que se refere à possibilidade de cessão de créditos, para fins de compensação
tributária, não há vedação expressa na legislação, mas o tema também é polêmico. Isso porque
o conceito de contribuição da mesma espécie é aquela exação que tem o mesmo sujeito ativo,
o mesmo sujeito passivo e cuja arrecadação tenha a mesma destinação.

120
Como atualmente a compensação de créditos de natureza diversa é autorizado,
também não haveria problemas para a cessão de créditos, com a finalidade de compensação
tributária.
Por fim, ressalte-se que o valor a ser compensado deverá ser informado na Guia de
Recolhimento do FGTS e Informações a Previdência Social (GFIP), na competência de sua
efetivação.

11.3 Reembolso

O reembolso ocorre quando a empresa paga benefício diretamente ao segurado e


compensa estes valores com o total a pagar. É situação mais cômoda para o segurado, já que
recebe o benefício junto com sua remuneração, e favorável ao INSS, que diminui o número de
demandas em agências previdenciárias.
O reembolso tem conceito restrito, e é definido como hipóteses previstas em lei de
pagamento de benefício pela empresa e abatimento em guia de recolhimento. Essas hipóteses
se restringem aos benefícios previdenciários de salário-família e salário-maternidade.
Somente com previsão legal poderá a empresa fazer o reembolso. Em qualquer outra
hipótese, deverá o segurado obter o benefício frente ao INSS, sendo vedado à empresa
antecipar este valor. Existe a possibilidade de convênio com o INSS para que a empresa
realize o pagamento de benefícios diretamente, mas, nesses casos, o ente autárquico repassa
os valores à empresa, sem abatimento em guia de recolhimento.
Importante ressaltar que no caso de salário-maternidade da segurada adotante, o
pagamento será feito pelo INSS.

12. Obrigações acessórias

Além da previsão do cumprimento da obrigação tributária principal, consistente na


arrecadação das contribuições previdenciárias e respectivos consectários, a legislação
previdenciária cominou às empresas obrigações acessórias, cujo objeto são prestações
positivas e negativas em prol da arrecadação e fiscalização dos referidos tributos.
As obrigações acessórias, na maioria, são ligadas à área contábil, ou seja, lançamentos
de pagamentos na contabilidade, elaboração de folhas de pagamento, escrituração de todos os
livros contábeis obrigatórios, etc.

121
O descumprimento dessas obrigações caracteriza infração administrativa, sendo
lavrado auto de infração e aplicada multa pela auditoria da SRFB. O tema é tratado nos arts.
31 e 32, da Lei 8.212/91, e arts. 225-228, do RPS (Dec. 3.048/99).
São obrigações acessórias previdenciárias, dentre outras:

a) Elaboração de folhas de pagamento

b) Contabilização em títulos próprios

Excepcionalmente, estão dispensados da apresentação de escrituração contábil o


pequeno comerciante, a pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, bem como a
pessoa jurídica optante do sistema simplificado de arrecadação de tributos, desde que
mantenha a escrituração do Livro Caixa e do Livro de Registro de Inventário.

c) Guia de Recolhimento de FGTS e Informações à Previdência Social (GFIP)

A GFIP é o documento de declaração mensal de valores devidos à Previdência Social


e deve ser entregue, em meio digital, na Caixa Econômica Federal, ou pela internet, até o dia
07 do mês subsequente aos fatos geradores.
Na GFIP, devem estar declarados todos os fatos geradores de contribuição
previdenciária, como, por exemplo, a remuneração dos empregados, avulsos e contribuintes
individuais que prestam serviços à empresa durante o mês, a contratação de cooperativas do
trabalho, as compras de produtos rurais diretamente de pessoas físicas, os valores retidos dos
segurados, etc. Mesmo que não tenha se concretizado a hipótese de incidência de
contribuições previdenciárias em determinado mês, a empresa será obrigada a apresentar a
GFIP.
Por se tratar de uma confissão de débito, caso a empresa declare a ocorrência da
obrigação tributária principal, a GFIP equivale ao lançamento por homologação e constitui
instrumento hábil e suficiente para a exigência do crédito tributário. Ademais, as suas
informações comporão a base de dados para fins de cálculo e concessão dos benefícios
previdenciários do RGPS.
Estão desobrigados da apresentação da GFIP o contribuinte individual sem segurado
que lhe preste serviço; o segurado especial; os órgãos públicos em relação aos servidores
efetivos vinculados a regime próprio de previdência; e o segurado facultativo.
122
d) Comunicar aos empregados, por intermédio de documento a ser definido em
regulamento, os valores recolhidos sobre o total de sua remuneração ao INSS.

e) Os órgãos da administração direta, autarquias, fundações e empresas públicas


da União, Estados, DF e Municípios, na forma estabelecida pela SRFB, devem
apresentar a folha de pagamento até o dia 30 de abril do ano seguinte ao
encerramento do exercício.

13. Imunidade

A única hipótese de imunidade referente ao pagamento das contribuições sociais é a


das entidades beneficentes de assistência social, desde que preenchidos os requisitos legais, na
forma do artigo 195, §7º, da CF/88.
As condições para o gozo da imunidade estão previstas na Lei 12.101/2009.
Importante observar que essa imunidade é questionada no STF, por meio da ADI
2.02826, uma vez que foi instituída mediante lei ordinária, quando deveria ser criada por lei
complementar.
Outra hipótese de imunidade já ressaltada anteriormente, mas que não tem relação
com obrigações fiscais acessórias ou recolhimento, é a dos proventos de aposentadoria no
RGPS.

14. Anterioridade nonagesimal

Por fim, cabe ressaltar que as contribuições previdenciárias só poderão ser exigidas
depois de decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado.
Trata-se do princípio da anterioridade nonagesimal, previsto no artigo 195, §6º, da
CF/88.
O princípio da anterioridade anual, afeto aos tributos em geral, não é aplicável às
contribuições previdenciárias, de modo que uma contribuição para a seguridade social poderá
ser cobrada no mesmo ano da sua instituição ou majoração, desde que respeitada a noventena.

26
Veja-se, também, a ADI 3.330
123
PLANO DE BENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

1. Disposições iniciais

A Previdência Social brasileira compreende os regimes básicos (compulsórios) e os


regimes complementares (facultativos). Os regimes básicos são o Regime Geral de
Previdência Social e os Regimes Próprios de Previdência dos Servidores Públicos. Os regimes
complementares podem ser públicos ou privados (aberto ou fechado), mas não excluem os
regimes básicos, uma vez que a filiação a esses regimes é opcional.
O objeto de estudo do Direito Previdenciário é o Regime Geral de Previdência Social
– RGPS, uma vez que esse regime abrange a maior parte da população do país, de modo que
qualquer pessoa que exerça atividade remunerada, e não seja filiada a regime próprio de
previdência, é vinculada ao regime geral.
O estudo do RGPS é dividido em duas partes: de início, é feito o estudo acerca do
Plano de Custeio da Previdência; posteriormente, é realizado o estudo do Plano de Benefícios
da Previdência. Até então, estudamos as categorias de segurados, a definição de empresa e as
contribuições dos participantes do RGPS para o financiamento do sistema previdenciário.
Os segurados do regime geral são divididos em dois grupos:

a) Segurados facultativos – são aqueles que não exercem atividade remunerada e


optam por se filiar ao RGPS;
b) Segurados obrigatórios – são aqueles que exercem atividade remunerada e não
estão filiados a RPPS, sendo divididos em:

a. Segurados empregados;
b. Segurados empregados domésticos;
c. Segurados trabalhadores avulsos;
d. Segurados contribuintes individuais;
e. Segurados especiais.

Como sistema contributivo é de filiação compulsória, todo aquele que exerce atividade
remunerada e não é filiado a regime próprio de previdência, é obrigatoriamente vinculado ao

124
regime geral, estando, desse modo, sujeito às contribuições previdenciárias para o
financiamento do sistema.
O Plano de Custeio da Previdência Social tem como principal fonte financeira a
contribuição direta da sociedade, feita mediante o recolhimento das contribuições sociais.
Caso haja insuficiência de fundos, a União deve cobrir o déficit, detendo, portanto, a
competência residual do financiamento da previdência.
Como a contribuição social tem natureza tributária, é atribuição da Secretaria da
Receita Federal do Brasil – SRFB administrar o custeio da previdência, detendo competência
para a arrecadação, fiscalização, lançamento e regulamentação das contribuições sociais
previdenciárias.
As contribuições sociais destinadas à previdência são feitas pelos segurados e pelos
tomadores de serviço (empregador, empregador doméstico, empresa e entidade a ela
equiparada).
A cobrança de contribuição social do próprio beneficiado pelo regime previdenciário é
consequência da natureza contributiva do sistema, além de expresso mandamento
constitucional.
O fato gerador da contribuição previdenciária é a atividade remunerada, sendo o
mesmo evento deflagrador da filiação.
Já foi visto que a contribuição dos segurados, prevista no artigo 195, II, da CF/88, é
feita tomando como base de cálculo o salário de contribuição, que é composto pelas parcelas
remuneratórias recebidas pelos segurados obrigatórios (com a exceção do segurado especial),
estando excluídas do salário de contribuição as parcelas indenizatórias e ressarcitórias.
Outrossim, foi exposto que o salário de contribuição está sujeito à limites mínimo e
máximo, sendo o teto instituído por meio de ato do Poder Executivo, tomando como
parâmetro o reajuste anual aplicado aos benefícios pecuniários da Previdência Social, limite
hoje estabelecido em R$ 5.189,82. Já o limite mínimo é o piso salarial da categoria
profissional ou, inexistindo esse piso, o salário-mínimo.
Por outro lado, foi estudada também a cota patronal da contribuição previdenciária, na
forma do artigo 195, I, ‘a’, da CF/88. Essa cota, da mesma forma da contribuição dos
segurados, tem como base de cálculo a remuneração daquele que presta serviço. Todavia,
como regra geral, não está sujeita ao limite máximo previsto para o salário de contribuição, de
modo que a cota patronal incidirá sobre o total dos rendimentos auferidos pelo trabalhador
(excluídas as parcelas indenizatórias e ressarcitórias).

125
Ademais, estudamos as particularidades do Plano de Custeio da Previdência, como
regras especiais e obrigações acessórias.
A partir desse momento, portanto, passamos ao estudo do Plano de Benefícios da
Previdência.
O Plano de Benefícios da Previdência é administrado pelo Instituto Nacional do
Seguro Social – INSS, autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência Social –
MPS.
O RGPS é um regime de filiação e contribuição compulsórias. Em contrapartida a essa
compulsoriedade, disponibiliza uma série de benefícios e serviços aos seus beneficiários.
Esses serviços e benefícios são regulados pela Lei 8.213/91.

2. Beneficiários do RGPS

Beneficiário é gênero, que abarca os segurados obrigatórios e facultativos e seus


dependentes. É todo aquele que recebe ou possa vir a receber alguma prestação
previdenciária, seja pecuniária ou prestação de serviço.
Como já visto, são segurados obrigatórios do RGPS o empregado, o trabalhador
avulso, o segurado especial, o empregado doméstico e o contribuinte individual, nos termos
do artigo 11 da Lei 8.213/91. Integra, ainda, a categoria dos segurados, o segurado facultativo.
Já os dependentes são aqueles previstos no artigo 16 da Lei 8.213/91, que farão jus aos
benefícios previdenciários de pensão por morte e auxílio-reclusão, e aos serviços
previdenciários (serviço social e reabilitação profissional).
A inscrição do dependente ocorrerá no momento do requerimento da prestação
previdenciária, mediante a apresentação dos documentos listados no artigo 22 do RPS (Dec.
3.048/99).
A legislação previdenciária prevê três classes de dependentes dos segurados, de modo
que os arrolados na primeira classe terão prioridade de inscrição, seguidos pelos da segunda
classe e, por último, os da terceira classe, nos termos do artigo 16 da Lei 8.213/91:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de


dependentes do segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência
intelectual ou mental ou deficiência grave;
II - os pais;
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos
ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
126
A existência de um dependente de hierarquia superior exclui o direito dos dependentes
inferiores. Isto é, se o segurado falece, deixando uma viúva e sua mãe ainda viva, a pensão
por morte será exclusiva da viúva.
Após o falecimento do dependente superior, o benefício não se transfere para os
dependentes inferiores, só para os de mesma hierarquia. Desse modo se, no mesmo exemplo
anterior, a viúva vem a óbito, o benefício de pensão por morte será cessado, não sendo
transferido para a mãe do segurado.
Entretanto, se há dependentes da mesma categoria, o benefício é dividido em partes
iguais. Por exemplo, se o segurado deixa viúva e três filhos, a pensão será dividida em 1/4
para cada um. Se um dos filhos morre ou atinge 21 anos, sua parcela reverte para os demais,
que passam a receber 1/3 cada, e assim por diante. Isso ocorre devido ao fato de os
dependentes da mesma categoria concorrerem em igualdade de condições.
Por óbvio, para que uma pessoa seja dependente no RGPS, é preciso que o falecido ou
preso seja segurado da Previdência Social para instituir a pensão por morte ou o auxílio-
reclusão, respectivamente. Ou seja, é necessária a qualidade de segurado do instituidor do
benefício.
A única hipótese onde a qualidade de segurado será dispensada é aquela prevista na
súmula 416 do STJ27, que será estudada em momento oportuno, quando da análise do
benefício previdenciário de pensão por morte.

2.1 Dependentes de primeira classe

São dependentes de primeira classe:

a) O cônjuge (homem ou mulher);


b) A companheira e o companheiro que, embora não casados oficialmente, vivam
juntos com a intenção de constituir família, incluindo aqui a união
homoafetiva;
c) A ex-mulher e o ex-marido que recebam pensão alimentícia;
d) O filho menor de 21 anos, desde que não emancipado;
e) O filho inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência
grave;

27 “É devida a pensão por morte aos dependentes do segurado que, apesar de ter perdido essa qualidade,
preencheu os requisitos legais para a obtenção de aposentadoria até a data do seu óbito.”
127
f) Equiparados a filho, menor tutelado ou enteado.

Com exceção dos equiparados a filho, os dependentes de primeira classe gozam de


presunção de dependência econômica, ou seja, mesmo que o segurado instituidor da pensão
por morte ou do auxílio-reclusão não provesse seu sustento, farão jus ao recebimento desses
benefícios.
Destaque-se que os dependentes de primeira classe são preferenciais, afastando a
concorrência dos demais, não havendo posterior transferência de direito para as classes
inferiores.
Outrossim, interessante observar, no que se refere à alínea ‘c’ acima descrita, que não
serão dependentes somente o ex-marido e a ex-mulher que recebam prestação de alimentos.
Com efeito, de acordo com entendimento jurisprudencial, a pessoa que não exerceu o
direito à prestação alimentícia na separação judicial, no divórcio, na dissolução de união
estável ou de relação homoafetiva, terá direito à pensão por morte em decorrência do
falecimento do respectivo segurado, desde que demonstrada a necessidade econômica
superveniente, até a data do óbito, através da prestação de alimentos in natura ou de qualquer
outro auxílio substancial que conduzisse à dependência econômica.
Desse modo, em caso de prestação de alimentos definidos judicialmente, haverá
presunção de dependência. Por outro lado, caso não haja prestação de alimentos definidos
judicialmente, a dependência econômica deverá ser comprovada. Da mesma forma, em caso
de separação de fato sem percepção de pensão alimentícia, também deverá ser comprovada a
dependência econômica.
Para a legislação previdenciária, a união estável somente será reconhecida entre
pessoas que não são casadas (§3º, do art. 16, da Lei 8.213/91). Todavia, a prática vem
adotando o conceito do Direito Civil para o reconhecimento da união estável, onde mesmo as
pessoas casadas podem constituir união estável, desde que estejam separadas de fato.
Já no que se refere ao concubinato28, tanto o STF quanto o STJ vêm afastando
sumariamente a condição de dependente do(a) concubino(a). Entretanto, o tema é objeto de
repercussão geral no STF, que irá apreciar um caso onde uma concubina manteve relação
paralela ao casamento com um segurado por mais de 20 anos, inclusive com a geração de
prole29.

28
Relação que se desenvolve paralelamente ao casamento ou à união estável, sem a separação dos cônjuges
ou companheiros.
29
RE 669.465
128
Outrossim, por questões de isonomia, o parceiro homoafetivo também é considerado
como dependente de segurado, inclusive com presunção de dependência econômica, tendo em
conta que essa relação afetiva entre pessoas do mesmo sexo também é apta a instituir uma
entidade familiar.
O Ministério da Previdência Social, inclusive, já editou portaria para garantir o
reconhecimento da união homoafetiva como união estável no âmbito administrativo da
previdência (Portaria 513/2010).
Por outro lado, são também dependentes os filhos, de qualquer condição, menores de
21 anos de idade, salvo se emancipados. São hipóteses de emancipação, de acordo com o art.
5º do Código Civil:

a) A concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, independentemente de homologação judicial, ou a sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
b) O casamento;
c) O exercício de emprego público efetivo;
d) A colação de grau em curso de ensino superior;
e) O estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria.

Ressalte-se que a união estável não é causa de emancipação, sendo este, inclusive,
o entendimento administrativo do INSS.
Importante anotar também que, para a percepção de pensão por morte, o
dependente mantém a sua qualidade na hipótese de colar grau em curso superior antes
da maioridade previdenciária, alcançada aos 21 anos.
São considerados dependentes, ainda, os filhos, de qualquer condição, desde que
inválidos.
De acordo com a legislação previdenciária, para se enquadrar como dependente do
segurado, é imprescindível que a invalidez tenha ocorrido antes dos 21 anos de idade ou, se
houver, antes das causas de emancipação.
Nos casos de emancipação, a interpretação da legislação continua inalterada, ou seja,
se a invalidez é posterior às causas de emancipação, não haverá dependência. A não ser para

129
o caso de colação de grau, onde mesmo que a invalidez seja posterior à causa de
emancipação, a qualidade de dependente permanecerá.
A condição de dependente inválido independe de qualquer ato judicial de interdição,
bastando a manifestação positiva da perícia do INSS. Por outro lado, a interdição judicial não
afasta o exame médico a cargo da previdência.
Por força da inovação trazida pela Lei 13.146/2015, o filho do segurado que tenha
deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave, também manterá a sua qualidade
mesmo após completar os 21 anos de idade.
São absolutamente incapazes para a prática dos atos da vida civil aqueles que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a sua prática.
Já aqueles que, por deficiência mental, tiverem o discernimento reduzido, serão enquadrados
como relativamente incapazes.
Frise-se que é necessária a declaração judicial para o reconhecimento da incapacidade
civil, por meio de ação de interdição. Se a ação de interdição for proposta com a finalidade de
concessão de benefício previdenciário, o INSS deverá ser parte no processo.
Importante observar, ainda, que o exercício de labor remunerado pelo absoluta ou
relativamente incapaz com deficiência intelectual ou mental não fará cessar a sua condição de
dependente, uma vez que aqui é tratada a incapacidade civil, e não laboral.
Por fim, são considerados dependentes os equiparados a filhos, que, de acordo com o
§2º, do art. 16, da Lei 8.213/91, são os enteados e os menores tutelados. Nesses casos,
entretanto, não haverá presunção de dependência econômica, que deverá ser comprovada pelo
beneficiário.
O menor sob guarda não é equiparado a filho. Contudo, o tema é objeto de ADI no
STF, onde a PGR pede que menores sob guarda sejam beneficiários da previdência30. A OAB,
recentemente, também questionou a norma perante o STF.
Importante ressaltar que os benefícios pagos a dependentes até os 21 anos de idade não
se prorrogam pela dependência de curso universitário, a teor do que prescreve a súmula 37 da
TNU.

30
ADI 4.878
130
2.2 Dependentes de segunda classe

São os pais dos segurados, que apenas farão jus aos benefícios previdenciários caso
inexista algum dependente preferencial, e desde que demonstrem que dependiam
economicamente do filho falecido ou preso.
A dependência econômica não é mero auxílio financeiro. É preciso mais do que mera
colaboração financeira para a configuração da dependência econômica. De acordo com o
Enunciado 13, do Conselho de Recursos da Previdência Social, a dependência econômica
deve representar, no mínimo, um auxílio substancial, permanente e necessário, cuja falta
acarretaria desequilíbrio dos meios de subsistência do dependente.

2.3 Dependentes de terceira classe

São os irmãos não emancipados, de qualquer condição, menores de 21 anos ou


inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave.
Para receber o benefício, é imprescindível que não haja dependentes de classes
superiores, e que seja demonstrada a dependência econômica.
As regras concernentes à emancipação, invalidez e deficiência mental ou intelectual
são as mesmas aplicadas aos dependentes de primeira classe.

3. Prestações previdenciárias

As prestações previdenciárias abarcam os benefícios e os serviços devidos aos


beneficiários do RGPS, uma vez realizadas as hipóteses legais para a sua concessão. Enquanto
os benefícios previdenciários constituem obrigações de pagar quantia certa, os serviços são
obrigações de fazer devidas pela Previdência Social.
O Plano de Benefícios da Previdência, aprovado pela Lei 8.213/91, prevê atualmente
oito benefícios previdenciários em prol dos segurados, dois em prol dos dependentes dos
segurados, e duas modalidades de serviços sociais, conferidas tanto aos segurados como aos
dependentes:

a) Aposentadoria por invalidez;


b) Aposentadoria por idade;

131
c) Aposentadoria por tempo de contribuição;
d) Aposentadoria especial:

a. Por exposição a agente nocivo à saúde;


b. Do deficiente.

e) Auxílio-doença;
f) Auxílio-acidente;
g) Salário-família;
h) Salário-maternidade;
i) Pensão por morte;
j) Auxílio-reclusão;
k) Serviço social;
l) Reabilitação profissional.

Portanto, atualmente o Plano de Benefícios do RGPS é formado por 10 prestações


pecuniárias e dois serviços previdenciários.
O benefício concedido a segurado ou dependente tem natureza alimentar, logo, não
pode ser objeto de penhora, arresto ou sequestro, sendo nula, de pleno direito, a sua venda,
cessão ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a outorga de poderes
irrevogáveis ou em causa própria para seu recebimento.
As aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial são irreversíveis e
irrenunciáveis, de acordo com a legislação atual. Contudo, atualmente é discutido o instituto
da desaposentação, amplamente aceito na jurisprudência do STJ. Tal possibilidade está
pendente de julgamento no STF e é objeto de projeto de lei em trâmite no Congresso
Nacional. Anote-se, por oportuno, que as regras da irreversibilidade e renúncia não se
estendem aos demais benefícios previdenciários.

4. Tempo de contribuição e sua contagem recíproca

Até o advento da EC 20/98, a legislação previdenciária se referia a tempo de serviço,


assim considerado o período de exercício de atividade laborativa remunerada considerado
para a concessão dos benefícios previdenciários, em especial das aposentadorias.
Após a reforma previdenciária feita pela EC 20/98, foi extinto o tempo de serviço e
criado o tempo de contribuição, com o fundamento de que não basta o mero exercício do
132
trabalho, sendo necessária também a existência de contribuições previdenciárias efetivamente
pagas, ou, ao menos, com presunção de pagamento, nas hipóteses de responsabilização
tributária dos tomadores de serviço pelo recolhimento.
Desse modo, atualmente é considerado como tempo de contribuição o período em que
o segurado exerceu atividade abrangida pela previdência, desde que as contribuições
previdenciárias referentes ao período tenham sido efetivamente pagas, ou que haja presunção
de recolhimento.
Importante ressaltar, por oportuno, que o tempo de serviço realizado antes da vigência
da EC 20/98 será computado como tempo de contribuição.
A contagem recíproca de tempo de contribuição de regimes previdenciários distintos é
perfeitamente possível, sendo vedada apenas em ocasiões excepcionais, como:

a) A contagem de tempo de contribuição no serviço público com o de


contribuição na atividade privada, quando concomitantes (salvo nas hipóteses
constitucionais que admitem a acumulação de cargos, empregos ou funções
públicas);
b) A contagem por um regime do tempo de contribuição utilizado para a
concessão de aposentadoria por outro regime;
c) A contagem em dobro ou em outras condições especiais (salvo no caso de
atividades especiais que conduzam à aposentadoria com tempo de
contribuição reduzido).

Por outro lado, é plenamente possível a obtenção de mais de uma aposentadoria por
regimes diversos, desde que preenchidos os requisitos de cada uma e sem a utilização
simultânea de tempo de serviço ou de contribuição da mesma atividade.

5. Qualidade de segurado

É certo que a previdência social brasileira é essencialmente contributiva. Para fazer jus
a qualquer benefício previdenciário, é necessário, em regra, que o segurado seja filiado ao
sistema e, ao mesmo tempo, efetue as contribuições, sob pena da desfiliação do RGPS.

133
Entretanto, a legislação previdenciária permite que o segurado permaneça por certo
período de tempo sem realizar contribuições previdenciárias, mantendo, mesmo assim, a
condição de beneficiário do Regime Geral de Previdência Social.
O período em que o segurado pode deixar de recolher contribuições sem perder seus
direitos é chamado de “período de graça”, que objetiva dar proteção ao segurado filiado ao
sistema, em virtude de situações inesperadas, como o desemprego involuntário.
As situações que garantem a manutenção da qualidade de segurado,
independentemente de contribuições, estão previstas no artigo 15, da Lei 8.213/91:

Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:


I - sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;
II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de
exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso
ou licenciado sem remuneração;
III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença
de segregação compulsória;
IV - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças
Armadas para prestar serviço militar;
VI - até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.
§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o
segurado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem
interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.
§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o
segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão
próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
§ 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus direitos
perante a Previdência Social.
§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do
prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da
contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos
fixados neste artigo e seus parágrafos.

a) Sem limite de prazo, quem estiver em gozo de benefício

O segurado em gozo de benefício previdenciário mantém a qualidade de segurado


enquanto durar o benefício. Nesse caso, não há prazo determinado para a perda da qualidade
de segurado.
Importante ressaltar que a lei não especificou a modalidade de prestação
previdenciária, limitando-se à indicação genérica. Portanto, o recebimento de qualquer
benefício previdenciário vai sobrestar a perda da qualidade de segurado, até mesmo o
recebimento do benefício de auxílio-acidente, que não é uma prestação substitutiva de renda.

134
Cessado o benefício por incapacidade (auxílio-doença e aposentadoria por invalidez),
o beneficiário mantém a qualidade de segurado por mais 12 meses, contados a partir da
cessação do benefício.

b) Até 12 meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer
atividade remunerada abrangida pelo RGPS ou estiver suspenso ou licenciado sem
remuneração

Qualquer segurado obrigatório que cesse suas contribuições, terá a qualidade de


segurado garantida pelo período de 12 meses.
Caso o segurado já tenha efetuado mais de 120 contribuições mensais (10 anos), sem
interrupções que acarretem a perda da qualidade de segurado, o prazo poderá ser prorrogado
para até 24 meses.
Outrossim, se a interrupção das contribuições se deu em virtude de situação de
desemprego, o prazo será acrescido de mais 12 meses. Essa situação, por óbvio, se restringe
aos segurados empregado e empregado doméstico.
Nessa última situação, a lei exige que a situação de desemprego seja informada aos
órgãos do Ministério do Trabalho. Todavia, a súmula 27 da TNU aduz que a ausência de
registro em órgão do Ministério do Trabalho não impede a comprovação do desemprego por
outros meios admitidos em Direito.
Desse modo, o prazo aqui tratado pode chegar até 36 meses, na situação do segurado
desempregado que possua mais de 120 contribuições mensais sem interrupções que acarretem
na perda da qualidade de segurado.

c) Até 12 meses após a cessação da segregação, o segurado acometido de doença de


segregação compulsória

Essa situação abrange quem tenha sofrido doença epidemiológica para a qual a
vigilância sanitária obrigue o isolamento com o intuito de evitar a difusão da contaminação. É
utilizado apenas em relação a casos onde a enfermidade não enseje a concessão de benefício
por incapacidade.

135
d) Até 12 meses após o livramento, o segurado detido ou recluso

Aqui é importante observar que mesmo em caso de fuga o segurado terá direito à
manutenção da qualidade de segurado durante o período de graça. Todavia, segundo a
Instrução Normativa 45 do INSS, será descontado do prazo para a perda da qualidade de
segurado a partir da data da fuga, o período de graça já usufruído anteriormente ao
recolhimento.
Assim, se um segurado é preso cinco meses após o início de seu período de graça,
ocorrendo fuga, manterá a qualidade de segurado por apenas mais sete meses.

e) Até três meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para
prestar serviço militar; e até seis meses após a interrupção das contribuições, o
segurado facultativo

Importante observar que o segurado obrigatório que, durante o prazo de manutenção


de sua qualidade de segurado, se filiar ao RGPS como facultativo, ao deixar de contribuir
nesta última classe, terá o direito de usufruir o período de graça de sua condição anterior.

5.1 Disposições gerais a respeito da qualidade de segurado

O início do prazo para definir o momento da perda da qualidade de segurado ocorrerá


no dia seguinte ao do vencimento da contribuição relativa ao mês imediatamente posterior ao
término dos prazos fixados no art. 15, da Lei 8.213/91. O RPS, em seu artigo 14, fixou uma
data única para todos os segurados, que é o dia seguinte à data final de recolhimento da
contribuição do contribuinte individual, que se operará até o dia 15 do mês seguinte ao da
competência, ou, se não houver expediente bancário, no dia útil posterior.
Assim, suponha-se o caso de um segurado que tenha sido demitido em 01/01/2013,
após dois anos de trabalho. Nessa hipótese, partindo da premissa que a competência de janeiro
foi recolhida até o dia 20 de fevereiro, conforme determina a legislação previdenciária, o
prazo de 12 meses tem início a partir de fevereiro de 2013, cessando em fevereiro de 2014.
Como a competência de fevereiro de 2014 teria de ser recolhida apenas no mês de março de
2014, seria este o mês do término da qualidade de segurado, considerando-se como limite o
dia 15, de acordo com o RPS. Assim, a qualidade de segurado teria fim em 16/03/2014.

136
No caso apresentado, o segurado ainda teria direito ao acréscimo do prazo de 12 meses
ao seu período de graça, em virtude da condição de desemprego, de modo que a qualidade de
segurado só teria fim em 16/03/2015.
Como a lei prevê o termo a quo do prazo para perda da qualidade de segurado após a
cessação das contribuições, e o recolhimento é sempre feito no mês seguinte, isso tem o efeito
de postergar o início do período de graça, pois a contagem do prazo deve ser de acordo com o
regime de competência adotado para fins de recolhimento.
Como os prazos de recolhimentos são diferenciados, e por uma razão de isonomia,
adota-se o prazo de recolhimento dos contribuintes individuais e facultativos, o que, na
prática, acresce todos os prazos do período de graça em 01 mês e 15 dias.
Durante o período de graça, o segurado conservará todos os direitos perante a
Previdência Social, na forma do § 3º, do artigo 15, da Lei 8.213/91.
Importante ressaltar que há entendimento consolidado no sentido de que o período em
que o segurado estiver incapacitado será equivalente ao período de graça, desde que a
incapacidade tenha início enquanto o beneficiário ainda portar a qualidade de segurado. Por
exemplo, se um trabalhador é acometido por uma doença incapacitante quando ainda guarda a
condição de segurado, e permanece por vários anos incapacitado ao labor, sem realizar
contribuições, ainda assim guardará a qualidade de segurado.
Esse entendimento se baseia no fundamento de que o período em gozo de benefício
impede a perda da qualidade de segurado. Assim, se é dever da Seguridade Social dar
proteção a todos, o segurado incapacitado deveria receber a proteção social, não podendo ser
desconsiderado simplesmente pelo fato de não ter postulado seus direitos junto ao INSS.

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADOR


URBANO. PREENCHIMENTO SIMULTÂNEO DOS REQUISITOS.
IRRELEVÂNCIA. PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO. NÃO-
OCORRÊNCIA. BENEFÍCIO MANTIDO. PRECEDENTES. RECURSO
PROVIDO.
1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça uniformizou seu entendimento
no sentido de ser desnecessário o implemento simultâneo das condições para a
aposentadoria por idade, visto que não exigida esta característica no art. 102, § 1º, da
Lei 8.213/91. Assim, não há óbice à concessão do benefício previdenciário, mesmo
que, quando do implemento da idade, já se tenha perdido a qualidade de segurado.
2. "Não perde a qualidade de segurado aquele que deixa de contribuir para a
Previdência Social em razão de incapacidade legalmente comprovada" (REsp
418.373/SP, Sexta Turma, Rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, DJ 1º/7/02).
3. Recurso especial provido.
(STJ – Quinta Turma, REsp 800860/SP, relator Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe
18/05/2009)

137
6. Carência

Com o intuito de resguardar o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, bem como


prevenir a ocorrência de fraudes, a concessão de alguns benefícios previdenciários depende do
prévio pagamento de um número mínimo de contribuições previdenciárias, o que se intitula
carência.
O artigo 24, da Lei 8.213/91, conceitua carência como “o número mínimo de
contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício,
consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências”.
Deveras, note-se que o termo inicial da carência será o primeiro dia da competência
recolhida. Logo, se um contribuinte individual recolhe a competência de fevereiro até o dia 15
de março, será considerado o dia 1º de fevereiro como início do cálculo da carência, mesmo
que o exercício do labor tenha se operado no fim do mês.
Vale lembrar que o segurado empregado, trabalhador avulso e o contribuinte
individual que prestar serviços à pessoa jurídica têm em seu favor a presunção absoluta de
recolhimento das contribuições previdenciárias, a teor do artigo 33, §5º, da Lei 8.212/91, pois
a responsabilidade tributária é do tomador de serviço.
Por outro lado, não é computado para efeito de carência o tempo de atividade do
trabalhador rural anterior à competência novembro de 1991, por expressa vedação legal (art.
55, §2º, da Lei 8.213/91).
Importante salientar que não se confunde carência com tempo de contribuição. A
carência é contada mês a mês, enquanto o tempo de contribuição é contado por dia,
admitindo, ainda, recolhimentos em atraso.
O objetivo da carência é evitar que os segurados comecem a contribuir para o sistema
de proteção social com o único objetivo de obter a concessão de determinado benefício.
De acordo com o artigo 27, da Lei 8.213/91, será computado o período de carência das
contribuições mensais:

a) Referentes ao período a partir da data de filiação ao Regime Geral de


Previdência Social (RGPS), no caso dos segurados empregados, inclusive os
domésticos, e dos trabalhadores avulsos;
b) Realizadas a contar da data de efetivo pagamento da primeira contribuição
sem atraso, não sendo consideradas para este fim as contribuições recolhidas

138
com atraso referentes a competências anteriores, no caso dos segurados
contribuinte individual, especial e facultativo, referidos, respectivamente, nos
incisos V e VII do art. 11 e no art. 13.

Independem de carência a concessão das seguintes prestações (art. 26, da Lei


8.213/91):

a) Pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente de


qualquer natureza;
b) Salário-maternidade, para as seguradas empregada, empregada doméstica e
trabalhadora avulsa;
c) Auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de
qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como
nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma
das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da
Saúde e da Previdência Social, atualizada a cada 3 (três) anos, de acordo com
os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que
lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento
particularizado;
d) Serviço social e reabilitação profissional.

Atualmente, a Portaria Ministerial MPAS/MS n. 2.998/2001, lista as doenças graves


que dispensam a carência para a concessão da aposentadoria por invalidez e do auxílio-
doença:

Art. 1º As doenças ou afecções abaixo indicadas excluem a exigência de carência


para a concessão de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez aos segurados
do Regime Geral de Previdência Social – RGPS:
I – tuberculose ativa;
II – hanseníase;
III – alienação mental;
IV – neoplasia maligna;
V – cegueira;
VI – paralisia irreversível e incapacitante;
VII – cardiopatia grave;
VIII – doença de Parkinson;
IX – espondiloartrose anquilosante;
X – nefropatia grave;
XI – estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante);
XII – síndrome da deficiência imunológica adquirida – Aids;
139
XIII – contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina
especializada; e
XIV – hepatopatia grave.
Art. 2º O disposto no artigo 1º só é aplicável ao segurado que for acometido da
doença ou afecção após a sua filiação ao RGPS.

Por outro lado, depende de carência a concessão dos seguintes benefícios


previdenciários (art. 25, da Lei 8.213/91):

a) 10 contribuições mensais – salário-maternidade, para as seguradas


contribuinte individual, especial e facultativa;
b) 12 contribuições mensais – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez;
c) 180 contribuições mensais – aposentadoria por idade, tempo de contribuição e
especial.

Em caso de parto antecipado, o período de carência para o salário-maternidade será


reduzido em número de contribuições equivalente ao número de meses em que o parto foi
antecipado. Por exemplo, se uma segurada contribuinte individual tiver o bebê com apenas 07
meses de gestação, a carência será de 08 contribuições mensais, e não de 10 recolhimentos.
Já para a contagem do período de carência dos benefícios de aposentadoria por idade,
por tempo de contribuição e especial, deve ser observada uma regra de transição para os
segurados filiados ao RGPS até 24/07/1991, prevista no artigo 142, da Lei 8.213/91, pois
antes da entrada em vigor da mencionada lei, o período de carência exigido era de apenas 60
contribuições mensais.
Para a aplicação da regra de transição no benefício de aposentadoria por idade, é
considerada a data em que o segurado completou a idade mínima exigida para a concessão do
benefício. Por exemplo, se um segurado completou 65 anos de idade em 2005, de acordo com
a regra de transição, precisa preencher a carência de 144 contribuições mensais, mesmo que
essa carência seja preenchida em data posterior.
Isso se deve ao fato de que é desnecessário o cumprimento dos requisitos da idade e da
carência em conjunto, sendo também possível que um segurado complete o período de
carência antes de preencher o requisito da idade.
De acordo com o parágrafo único, do artigo 24, da Lei 8.213/91, havendo perda da
qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa perda somente serão computadas
para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação ao RGPS, com,

140
no mínimo, um terço do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência
definida para o benefício a ser requerido.
Suponha-se, por exemplo, que um trabalhador tenha 100 contribuições previdenciárias
pagas tempestivamente e que, posteriormente, tenha perdido a qualidade de segurado, pois
não mais contribuiu e deixou transcorrer em aberto o período de graça.
Neste caso, considerando que a carência do benefício de auxílio-doença é de 12
contribuições mensais, em regra, será preciso o recolhimento tempestivo de 04 novas
contribuições (valor equivalente a 1/3 de 12) para que as anteriores sejam consideradas e se
integralize a carência.

Carência Prestação
180
Aposentadorias por idade, especial e por tempo de contribuição
contribuições
12
Aposentadoria por invalidez e auxílio-doença, em regra
contribuições
10 Salário-maternidade da contribuinte individual, segurada especial e
contribuições facultativa
Salário-família; auxílio-acidente; pensão por morte; auxílio-reclusão; serviço
social; reabilitação profissional; salário-maternidade da empregada , avulsa e
Sem carência empregada doméstica; auxílio-doença e aposentadoria por invalidez
decorrentes de acidentes de qualquer natureza, moléstia ocupacional ou
doença grave listada pela Previdência Social

Por fim, cumpre ressaltar que há entendimento no sentido de que o período em gozo
de benefício por incapacidade será considerado para fins de carência, não havendo, contudo,
consentimento quanto ao tema.
Ressalte-se, ainda, que os benefícios de pensão por morte e auxílio-reclusão
continuam a independer do cumprimento de carência para sua concessão. As recentes
alterações legislativas não impuseram o cumprimento do período de carência para a concessão
destes benefícios, apenas alteraram as condições de duração do seu pagamento, como se verá
mais adiante.

141
7. Salário de benefício

O salário de benefício é um instituto exclusivo do Direito Previdenciário, regulado


pelos artigos 28 a 32 da Lei 8.213/91, sendo utilizado para o cálculo da maioria dos benefícios
do RGPS.
Com efeito, segundo dispõe o artigo 28 da Lei de Benefícios, “O valor do benefício de
prestação continuada, inclusive o regido por norma especial e o decorrente de acidente do
trabalho, exceto o salário-família e o salário-maternidade, será calculado com base no salário-
de-benefício.”.
Outrossim, de acordo com o artigo 29, da Lei 8.213/91, em regra, o salário de
benefício corresponderá à media aritmética simples dos maiores salários de contribuição
correspondentes a 80% de todo o período contributivo.
No caso do benefício de auxílio-doença, o salário-de-benefício não poderá exceder à
média aritmética simples dos últimos 12 salários de contribuição, ou, se não alcançando o
número de 12 contribuições, a média aritmética simples dos salários de contribuição
existentes (art. 29, §10, da Lei 8.213/91).
Nesse caso, o cálculo do salário-de-benefício do auxílio-doença passará por duas
etapas: primeiro, procede-se à média aritmética simples dos maiores salários de contribuição
correspondentes a 80% de todo o período contributivo; após, procede-se à média aritmética
simples dos últimos 12 salários de contribuição. Se o resultado do primeiro cálculo for
superior ao do segundo, prevalece o segundo.
No caso de aposentadorias por idade e por tempo de contribuição, respeitados os
requisitos legais, para o cálculo do salário de benefício, essa média dos 80% maiores salários
de contribuição ainda será facultativamente multiplicada pelo fator previdenciário (art. 29-C,
da Lei 8.213/91).
Os salários de contribuição considerados no cálculo do valor do benefício serão
corrigidos mês a mês de acordo com a variação integral do INPC, até o mês anterior ao do
início do benefício.
Com fulcro no artigo 29-A, da Lei 8.213/91, o INSS utilizará as informações
constantes no Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS sobre os vínculos e as
remunerações dos segurados, para fins de cálculo do salário de benefício, comprovação de
filiação ao RGPS, tempo de contribuição e relação de emprego.

142
O CNIS é um banco de dados previdenciários mantidos pela DATAPREV – Empresa
de Tecnologia e Informações da Previdência Social. Havendo dúvida sobre a regularidade do
vínculo incluído no CNIS ou inexistência de informações sobre remunerações e contribuições,
o INSS exigirá a apresentação dos documentos que serviram de base à anotação, sob pena de
exclusão do período.
O salário de benefício possui limites mínimos e máximos, não podendo ser inferior a
um salário mínimo, nem superior ao teto do salário de contribuição da data de início do
benefício, atualizada para R$ 5.189,82 (cinco mil cento e oitenta e nove reais e oitenta e dois
centavos) em janeiro de 2015.
Entretanto, essa regra comporta exceções, como os benefícios que não substituem a
remuneração, a exemplo do auxílio-acidente, que pode ter valores inferiores ao salário
mínimo.
No caso do segurado especial, o salário de benefício é fixado em um salário mínimo,
exceto se ele adotou o regime de recolhimento do contribuinte individual (art. 25, §1º, da Lei
8.212/91), ou ainda se recolheu durante o prazo de até 120 dias por ano que pôde trabalhar
durante a entressafra ou o defeso, ou sobre a remuneração que auferiu com o artesanato ou
atividade artística, na forma do artigo 11, §9º, da Lei 8.213/91.
O salário de benefício é composto das parcelas integrantes do salário de contribuição,
exceto o décimo terceiro salário, nos termos da súmula 60 da TNU: “O décimo terceiro
salário não integra o salário de contribuição para fins de cálculo do salário de benefício,
independentemente da data de concessão do benefício previdenciário”.
Frise-se, por oportuno, que o valor recebido a título de auxílio-acidente integrará o
salário de contribuição para fins de cálculo do salário de benefício das aposentadorias.
Já na hipótese do segurado que contribui em razão de atividades concomitantes, o
salário de benefício será calculado com base na soma dos salários de contribuição das
atividades exercidas até a data do requerimento ou do óbito ou no período básico de cálculo.
Nesse caso, se o segurado satisfez, em relação a cada atividade, as condições para
obtenção do benefício requerido, o salário de benefício será calculado com base na soma dos
respectivos salários de contribuição.
Por outro lado, caso o segurado satisfizer os requisitos para a concessão do benefício
em relação a apenas uma das atividades, o salário de benefício será calculado com base na
integralidade dos salários de contribuição da atividade que atendeu aos requisitos, mais um
percentual da média do salário de contribuição da atividade que não atendeu aos requisitos.

143
Logo, suponha-se que João tenha laborado em dois vínculos empregatícios durante
toda a vida, atingindo os 35 anos de contribuição em ambas as atividades. Nesse caso, o
salário de benefício será a soma do salário de contribuição das duas atividades. De outra
banda, se João completar 35 anos de atividade em um emprego, e apenas 17,5 em outro, seu
salário de benefício será calculado com base nos salários de contribuição da primeira
atividade, mais 50% do valor dos salários de contribuição da segunda atividade.
Importante ressaltar que em qualquer caso deverá ser observado o teto do salário de
contribuição.
Por fim, cabe registrar a mais importante regra de transição para o cálculo do salário
de benefício. Conforme dispõe o artigo 3º, da Lei 9.876/99, para o cálculo do salário de
benefício, apenas serão utilizados os salários de contribuição a partir da competência de julho
de 1994, ou seja, após a criação da atual moeda utilizada em nosso país.
Desse modo, se um segurado se filiou à Previdência em 1990, e preencheu os
requisitos para a concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição em
2007, o cálculo do salário de benefício será feito com base na média aritmética dos 80%
maiores salários de contribuição, a contar de julho de 1994, excluindo-se as contribuições
anteriores.
Se o segurado somente possuir contribuições no período anterior a julho de 1994, será
contemplado com o benefício no valor de um salário mínimo, desde que preencha todos os
requisitos necessários.

7.1 Fator previdenciário

A história do fator previdenciário é regada a contradições e absurdos.


Resumidamente, a iniciativa para a criação desse instituto surgiu após a histórica
votação da EC 20/98. O texto da emenda buscava extinguir a aposentadoria por tempo de
serviço e instituir a aposentadoria por tempo de contribuição, exigindo como requisitos para a
nova aposentadoria o tempo de contribuição e a idade mínima.
Todavia, no decorrer da votação, com o clamor de alguns setores da sociedade, o texto
que exigia o requisito da idade mínima para a aposentadoria por tempo de contribuição no
RGPS não foi aprovado (por apenas um voto!). Contrariamente, esse requisito foi aprovado
para a aposentadoria por tempo de contribuição nos Regimes Próprios de Previdência.

144
Tal fato contrariou a política do Governo, que buscava promover o saneamento do
RGPS, pois, sem o requisito da idade, a aposentadoria por tempo de contribuição poderia ser
concedida para pessoas que ainda possuíam plena capacidade laboral.
Buscando uma alternativa legal para se reduzir o benefício previdenciário concedido
pelo INSS nos casos de aposentadorias precoces, foi criado o fator previdenciário, que deveria
ser aplicado obrigatoriamente às aposentadorias por tempo de contribuição.
Entretanto, com as recentes modificações na legislação, o fator previdenciário passou
a ser utilizado facultativamente na aposentadoria por tempo de contribuição, desde que
preenchidos os requisitos constantes do artigo 29-C, da Lei 8.213/91:

Art. 29-C. O segurado que preencher o requisito para a aposentadoria por tempo de
contribuição poderá optar pela não incidência do fator previdenciário, no cálculo de
sua aposentadoria, quando o total resultante da soma de sua idade e de seu tempo de
contribuição, incluídas as frações, na data de requerimento da aposentadoria,
for:
I - igual ou superior a noventa e cinco pontos, se homem, observando o tempo
mínimo de contribuição de trinta e cinco anos; ou
II - igual ou superior a oitenta e cinco pontos, se mulher, observando o tempo
mínimo de contribuição de trinta anos.

Portanto, o fator previdenciário é utilizado como multiplicador da média aritmética


simples dos 80% maiores salários de contribuição, nas aposentadorias por idade e por tempo
de contribuição (facultativamente e respeitados os requisitos legais). O fator pode ter valor
maior ou menor que o número um. Sendo maior, elevará o valor do salário de benefício, caso
contrário, diminuirá o valor.
O fator previdenciário é influenciado pelo tempo de contribuição, pela idade do
segurado e pela expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria.
A idade e o tempo de contribuição encontram-se no numerador da fórmula de cálculo
do salário de benefício, ou seja, quanto maiores a idade e o tempo de contribuição, maior será
o valor do benefício. Já a expectativa de sobrevida, baseada na tabela do IBGE, está no
denominador da fórmula, logo, quanto maior a expectativa de sobrevida, menor será o valor
do benefício.
Para efeito de aplicação do fator previdenciário, serão acrescidos ao tempo de
contribuição os seguintes valores:

a) Cinco anos, quando se tratar de mulher;

145
b) Cinco anos, quando se tratar de professor que comprove exclusivamente
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil,
ensino fundamental e médio;
c) Dez anos, quando se tratar de professora que comprove os mesmos requisitos
do professor.

Isso se deve ao fato de que a fórmula foi concebida para 35 anos de contribuição, e as
hipóteses acima tratam de aposentadorias concedidas com tempo de contribuição reduzido.

FATOR PREVIDENCIÁRIO
F = Fator Previdenciário
F = Tc x a x [ 1 + (Id + Tc x a) ] Es = Expectativa de sobrevida
Es 100 Tc = Tempo de contribuição
Id = Idade no momento da aposentadoria
a = alíquota fixa correspondente a 0,31

Exemplo 1:
Josefina, 44 anos de idade, contribui para a previdência desde os 14 anos, contando com
30 anos de contribuição. A sua expectativa de sobrevida, de acordo com a tabela do
IBGE, é de mais 35,0 anos. Qual é o fator previdenciário?

Es = 35,0
Tc = 30 + 5 (acréscimo da mulher) F = 35 x 0,31 x [ 1 + (44 + 35
x 0,31) ]
Id = 44 35,0 100
a = 0,31

O resultado do fator previdenciário que deve ser utilizado para o cálculo da


aposentadoria de Josefina é de 0,48. Ou seja, o valor da aposentadoria de Josefina será
de 48% do valor obtido com a média aritmética dos 80% maiores salários de
contribuição de seu período contributivo posterior a julho de 1994.

146
Exemplo 2:
Carlos, 65 anos de idade, conta com 34 anos de contribuição. A sua expectativa de
sobrevida, de acordo com a tabela do IBGE, é de 18,1 anos. Qual é o fator
previdenciário?

Es = 18,1
Tc = 34 F = 34 x 0,31 x [ 1 + (65 + 34
x 0,31) ]
Id = 65 18,1 100
a = 0,31

O resultado do fator previdenciário que deve ser utilizado para o cálculo da


aposentadoria de Carlos é de 1,022. Ou seja, o valor da aposentadoria de Carlos será
acrescido de 2,2%.

8. Renda Mensal Inicial dos benefícios

A renda mensal do benefício é o valor que efetivamente será pago ao beneficiário.


Para o cálculo dessa renda inicial, será aplicado um percentual sobre o salário de
benefício, da seguinte forma:

a) Auxílio-doença – 91% do salário de benefício;


b) Aposentadoria por invalidez – 100% do salário de benefício;
c) Aposentadoria por idade – 70% do salário de benefício, mais 1% deste por
grupo de doze contribuições mensais, até o máximo de 30%;
d) Aposentadoria por tempo de contribuição:

a. Para a mulher – 100% do salário de benefício aos 30 anos de


contribuição;
b. Para o homem – 100% do salário de benefício aos 35 anos de
contribuição;
c. Para o professor aos 30 anos, e para a professora aos 25 anos de
contribuição e de efetivo exercício em função de magistério na

147
educação infantil, no ensino fundamental ou médio – 100% do salário
de contribuição;

e) Aposentadoria especial – 100% do salário de benefício; e


f) Auxílio-acidente – 50% do salário de benefício.

O valor mensal da pensão por morte e do auxílio-reclusão será de 100% do valor da


aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado
por invalidez, na data de seu falecimento.
A renda mensal do benefício que substituir o salário de contribuição ou o rendimento
do trabalho do segurado não terá valor inferior ao do salário mínimo, nem superior ao do
limite máximo do salário de contribuição, salvo nos casos de aposentadoria por invalidez
onde o segurado necessite da assistência permanente de outra pessoa, situação em que o
benefício será acrescido de 25%, podendo ultrapassar o teto do salário de contribuição.
Frise-se, por oportuno, que o limite máximo do salário de contribuição também poderá
ser superado por benefícios concedidos por legislação especial, a exemplo da pensão mensal
das vítimas de hanseníase. Esse limite poderá ser extrapolado, também, pelo benefício de
salário-maternidade das seguradas empregadas e trabalhadoras avulsas, por força do
julgamento da ADI 1946.
É devido o abono anual (13º salário) a todos os beneficiários que estão em gozo de
benefício, não importando a categoria de segurado. O abono anual será calculado da mesma
forma que a gratificação natalina dos trabalhadores, tendo por base a renda mensal do
benefício do mês de dezembro de cada ano.
Esse abono será pago juntamente com a última parcela do benefício de cada ano, ou,
em caso de cessação do benefício, será pago proporcionalmente quando do recebimento da
última parcela.

148
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
(artigos 42 a 47, da Lei 8.213/91)

A aposentadoria por invalidez será concedida ao segurado que for considerado incapaz
para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta
subsistência, sendo-lhe paga enquanto permanecer nessa condição.
A incapacidade será verificada através de exame médico pericial a cargo do INSS.
De acordo com a súmula 47 da TNU, “uma vez reconhecida a incapacidade parcial
para o trabalho, o juiz deve analisar as condições pessoais e sociais do segurado para a
concessão de aposentadoria por invalidez”.
Desse modo, mesmo que o segurado não seja considerado totalmente incapaz para o
trabalho, o benefício poderá ser concedido. As condições pessoais e sociais do segurado se
relacionam com a idade, histórico laboral, nível de instrução, meio familiar, etc.
Segundo o artigo 42, §2º, da Lei 8.213/91, a doença ou lesão de que o segurado já era
portador ao filiar-se ao RGPS não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo
quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou
lesão. A mesma disposição é encontrada no artigo 59, parágrafo único, da Lei 8.213/91, e na
súmula 53 da TNU.
A carência para a concessão desse benefício é de 12 contribuições mensais, sendo
dispensada nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa, doença profissional ou do
trabalho e doenças e afecções especificadas na Portaria Ministerial MPAS/MS n. 2.998/2001.
A concessão de aposentadoria por invalidez ao segurado especial também independe
de carência, desde que o segurado comprove o exercício de atividade rural no período
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, ainda que de forma descontínua,
durante o número de meses correspondente à carência do benefício.
A renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez será de 100% do salário de
benefício.
Já a renda mensal inicial da aposentadoria precedida de auxílio-doença será de 100%
do salário de benefício que serviu de base para o cálculo do auxílio-doença. Ou seja, a renda
mensal inicial será acrescida de 91% para 100%, com as devidas correções monetárias.
Importante ressaltar a regra insculpida no artigo 45, da Lei 8.213/91, que prevê a
majoração do benefício em 25% nos casos em que o segurado necessitar de assistência

149
permanente de terceiro. Tal acréscimo será concedido mesmo que o valor do benefício
ultrapasse o limite máximo do salário de contribuição.
Evidentemente, esse acréscimo não será incorporado à pensão por morte, cessando
com o falecimento do segurado.
O benefício de aposentadoria por invalidez será revisto a cada dois anos, estando o
segurado obrigado a se submeter a exame médico pericial. O segurado também deverá
participar de processo de reabilitação profissional ou se submeter a tratamento da moléstia,
desde que ofertados gratuitamente, salvo nos casos de tratamento cirúrgico ou transfusão de
sangue, que são facultativos.
Por fim, deve-se observar que o benefício de aposentadoria por invalidez é concedido
àqueles que não possuem capacidade laborativa. Logo, caso o segurado retorne ao mercado de
trabalho, o benefício será cessado. Entretanto, o artigo 47, da Lei 8.213/91, prevê a chamada
mensalidade de recuperação, quando o segurado continuará a receber a totalidade ou parcela
do benefício mesmo após a cessação da incapacidade.

APOSENTADORIA POR IDADE


(artigos 48 a 51, da Lei 8.213/91)

A aposentadoria por idade será devida ao segurado que completar 65 anos, se homem,
ou 60 anos, se mulher, reduzidos esses limites para 60 e 55 anos, respectivamente, para os
trabalhadores rurais, independentemente da categoria do segurado, bastando o efetivo
exercício de atividade tipicamente rural.
A carência para concessão desse benefício é de 180 contribuições mensais.
No caso do segurado especial que não conseguir comprovar a atividade rural no
período de 180 meses imediatamente anteriores ao requerimento ou ao complemento da idade
(súmula 54 da TNU), será possível computar o período de atividade exercida em outra
categoria de segurado, sendo garantido o direito à percepção do benefício com o
complemento da carência e da idade de 65, se homem, e 60 anos, se mulher (artigo 48, §3º, da
Lei 8.213/91).
A aposentadoria por idade pode ser requerida compulsoriamente pela empresa, desde
que o segurado tenha cumprido a carência quando completar 70 anos, se homem, e 65 anos, se
mulher. Nesse caso, será garantida ao empregado a indenização prevista na legislação

150
trabalhista, considerada como data da rescisão do contrato de trabalho a imediatamente
anterior à do início da aposentadoria.
A indenização em caso de aposentadoria compulsória é a mesma que deve ser paga
pelo empregador em caso de dispensa arbitrária.
Para aqueles que se inscreveram no RGPS antes de 24/07/1991, o período de carência
será aquele previsto pela tabela progressiva do artigo 142, da Lei 8.213/91. Trata-se de uma
regra de transição, pois a lei anterior previa o período de carência de apenas 60 meses de
contribuição.
Para a aplicação dessa regra, é considerado o momento em que o segurado alcançou a
idade prevista para a concessão do benefício. Desse modo, por exemplo, se um segurado
completou 65 anos de idade em 2005, deverá preencher o período de carência de apenas 144
contribuições mensais.
Outrossim, segundo disposição do artigo 55, §3º, da Lei 8.213/91, a comprovação do
período de carência do segurado especial não poderá ser fundada apenas em prova
testemunhal, sendo exigido início de prova material, mesmo que essa prova não corresponda a
todo o período equivalente à carência (súmulas 14, 34 e 54, da TNU e súmula 149 do STJ).
Por fim, cabe lembrar que a aplicação do fator previdenciário ao salário de benefício
da aposentadoria por idade é facultativa, sendo permitida somente se o fator for superior ao
número um, pois assim trará benefício ao segurado.
Importante lembrar, ainda, que a perda da qualidade de segurado não é óbice à
concessão da aposentadoria por idade, uma vez que não se exige o cumprimento dos
requisitos da idade e carência em conjunto.
A renda mensal inicial desse benefício é de 70% do salário de benefício, acrescido de
1% a cada grupo de 12 contribuições mensais perpetradas, até o limite máximo de 100%.
Suponha-se, por exemplo, que um segurado complete a idade de 65 anos com 180
contribuições mensais. Nesse caso, a renda mensal inicial de sua aposentadoria por idade será
de 70%, acrescido de 15% (180/12 = 15), resultando em 85% do salário de benefício.

APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO


(art. 201, §7º, I, da CF/88, arts. 52 a 56, da Lei 8.213/91 e arts. 56 a 63, do RPS)

Como já exposto anteriormente, a EC 20/98 extinguiu o beneficio de aposentadoria


por tempo de serviço, criando a aposentadoria por tempo de contribuição.

151
O estudo desse benefício deve ser iniciado pelos dispositivos constitucionais, uma vez
que vários artigos da Lei 8.213/91, não foram adaptados à reforma previdenciária feita pela
EC 20/98.
A aposentadoria por contribuição é devida aos segurados que tiverem contribuído
durante 35 anos, se homem, ou 30 anos, se mulher, cumprido o período de carência de 180
contribuições mensais (ressalvada a regra de transição prevista no artigo 142, da Lei
8.213/91).
Esse prazo será reduzido em 05 anos para o professor que comprove o tempo de
contribuição exclusivamente exercido nas funções de magistério na educação infantil, no
ensino fundamental e médio. Importante ressaltar que o professor universitário deixou de ter
direito à redução do tempo de contribuição a partir da EC 20/98.
Ressalte-se que esse benefício não é estendido a todos os segurados. Com efeito, o
segurado especial não terá direito ao recebimento de aposentadoria por tempo de contribuição
(salvo se contribuir como contribuinte individual – súmula 272 do STJ).
Outrossim, o contribuinte individual que trabalhe por conta própria sem vinculação a
pessoa jurídica e o segurado facultativo que optaram pelo regime simplificado de
recolhimento, ou seja, arrecadaram 11% sobre o salário mínimo (ou 5%, no caso do MEI e do
segurado facultativo de baixa renda), ao invés da regra geral de 20%, também não terão
direito ao recebimento da aposentadoria por tempo de contribuição (art. 21, §2º, da Lei
8.212/91).
Caso os segurados individual e facultativo que se enquadrem na situação acima
descrita queiram se aposentar por tempo de contribuição, poderão complementar o
recolhimento até alcançar os 20%, com os respectivos juros legais.
Não existe idade mínima para a concessão do benefício de aposentadoria por tempo de
contribuição31, é necessário apenas o preenchimento do tempo de contribuição e da carência
de 180 contribuições mensais.
As recentes alterações na legislação não modificaram esse entendimento.
Com efeito, apenas modificou-se a forma de cálculo da aposentadoria por tempo de
contribuição, mas seus requisitos de concessão permaneceram os mesmos.
Atualmente, a aplicação do fator previdenciário ao cálculo da renda mensal inicial do
benefício obedece às regras do artigo 29-C, da Lei 8.213/91:

31
A nível de informação, apenas quatro países no mundo permitem a aposentadoria sem o requisito da idade
mínima: Brasil, Irã, Iraque e Equador.
152
Art. 29-C. O segurado que preencher o requisito para a aposentadoria por tempo de
contribuição poderá optar pela não incidência do fator previdenciário, no cálculo de
sua aposentadoria, quando o total resultante da soma de sua idade e de seu tempo de
contribuição, incluídas as frações, na data de requerimento da aposentadoria,
for:
I - igual ou superior a noventa e cinco pontos, se homem, observando o tempo
mínimo de contribuição de trinta e cinco anos; ou
II - igual ou superior a oitenta e cinco pontos, se mulher, observando o tempo
mínimo de contribuição de trinta anos.
§ 1º As somas de idade e de tempo de contribuição previstas no caput serão
majoradas em um ponto em:
I - 1º de janeiro de 2017;
II - 1º de janeiro de 2019;
III - 1º de janeiro de 2020;
IV - 1º de janeiro de 2021; e
V - 1º de janeiro de 2022.
§ 2º Para efeito de aplicação do disposto no caput e no § 1º, serão acrescidos cinco
pontos à soma da idade com o tempo de contribuição do professor e da professora
que comprovarem exclusivamente tempo de efetivo exercício de magistério na
educação infantil e no ensino fundamental e médio.

Portanto, caso o segurado homem alcance a soma de 95 pontos através da somatória


de seu tempo de contribuição e idade, poderá optar pela aplicação do fator previdenciário no
cálculo do benefício, desde que tenha alcançado 35 anos de contribuição. Caso contrário, a
aplicação do fator previdenciário será obrigatória. Igual sistemática será adotada no cálculo do
benefício da mulher, caso alcance a soma de 85 pontos através da somatória de seu tempo de
contribuição e idade, desde que tenha alcançado 30 anos de contribuição.
No caso de professores da educação básica, serão aplicados 5 pontos na somatória,
uma vez que estes profissionais gozam de uma redução de 5 anos no tempo de contribuição
necessário à aposentação.
É de ver-se, pois, que a sistemática da somatória do tempo de contribuição com a
idade do segurado não foi implementada como requisito para a concessão do benefício, mas
somente para seu cálculo.
Com a intenção de diminuir os impactos desse novo sistema de cálculo da renda
mensal inicial da aposentadoria por tempo de contribuição no equilíbrio financeiro e atuarial
do Regime Previdenciário com o passar do tempo, o Governo inseriu o §1º, ao artigo 29-C, da
Lei 8.213/91, estabelecendo uma regra de progressão na contagem dos pontos para efeito de
cálculo do benefício. Assim, a regra estabelecida para a aplicação ou não do fator
previdenciário no cálculo do benefício acompanhará a evolução da tabula de mortalidade
elaborada pelo IBGE.
Considera-se tempo de contribuição o tempo, contado de data a data, desde o início,
até a data do requerimento ou do desligamento de atividade abrangida pela Previdência

153
Social, descontados os períodos legalmente estabelecidos, como o de suspensão do contrato
de trabalho.
Não será computado como tempo de contribuição o já considerado para concessão de
qualquer aposentadoria do RGPS ou de outro regime de previdência. Em relação à contagem
de tempo de contribuição por incapacidade, somente será computado o período de benefício
por incapacidade percebido entre períodos de atividade, ou seja, entre o afastamento e a volta
ao trabalho, salvo no caso de incapacidade oriunda de acidente do trabalho, quando o período
será computado intercalado ou não com a atividade.
Ressalte-se, contudo, que o período em gozo de benefício por incapacidade não será
computado para efeitos de carência.
Nesse ponto, é importante observar, também, que não será computado como carência
o período de contribuição feito em atraso.
O tempo de contribuição, em regra, é comprovado por meio do CNIS. O segurado
pode apresentar outros documentos, caso o vínculo não conste no CNIS, tal como a CTPS.
Todavia, tais documentos terão presunção relativa de veracidade, conforme entendimento
firmado pela súmula 225 do STF (também pela súmula 12 do TST).
Por outro lado, caso o INSS se recuse a computar o tempo de contribuição apresentado
pelo segurado, é possível o ajuizamento de ação declaratória para ver esse tempo de
contribuição reconhecido (súmula 242 do STJ).
Por fim, cabe ressaltar que a EC 20/98 assegurou, em seu artigo 3º, a concessão de
aposentadoria e pensão, a qualquer tempo, aos beneficiários do RGPS que, até a data de sua
publicação (16/12/1998), tenham cumprido os requisitos para a obtenção destes benefícios,
com base nos critérios da legislação então vigente.

1. Regra de transição (aposentadoria proporcional)

Segundo a regra de transição, tem direito à aposentadoria proporcional por tempo de


contribuição o segurado inscrito até 16/12/1998 que atenda aos seguintes requisitos
cumulativos:

1. Contar com 53 anos de idade, se homem, e 48 anos, se mulher;


2. Contar com tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:

154
a. 30 anos, se homem, e 25 anos, se mulher;
b. Um período adicional de contribuição (chamado de pedágio)
equivalente a, no mínimo, 40% do tempo que em 16/12/1998 faltava
para atingir o limite de 30 anos, se homem, ou de 25 anos, se mulher.

Cumpridos estes requisitos, o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a


70% do salário de benefício, acrescido de 5% a cada ano que supere a soma das alíneas ‘a’ e
‘b’.
Assim, suponha-se que uma mulher contava com 20 anos de serviço em 16/12/1998.
Para se beneficiar da regra de transição, além de atingir a idade mínima de 48 anos de idade
na data do requerimento do benefício, ela teria que pagar um “pedágio” de 02 anos de
contribuição, que equivale a 40% do que faltava para atingir 25 anos de serviço em
16/12/1998, totalizando 27 anos de contribuição, com renda mensal inicial de 70% do salário
de benefício. Logo, após o advento da EC 20/98, ela teria de contribuir por, no mínimo, mais
07 anos para garantir a aposentadoria proporcional.
Também existe uma regra de transição para a aposentadoria integral. Entretanto, tal
norma é mais rígida que a atual, não havendo espaço para sua aplicação.

APOSENTADORIA ESPECIAL POR EXPOSIÇÃO A AGENTE NOCIVO À SAÚDE


(arts. 57 e 58, da Lei 8.213/91, e arts. 64-70, do RPS – Decreto 3.048/99)

A aposentadoria especial será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e


contribuinte individual (somente quando filiado à cooperativa de trabalho ou de produção),
que tenha trabalhado durante 15, 20, ou 25 anos sujeito a condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física32.
Conforme já exposto, quando do estudo do Plano de Custeio da Previdência, as
empresas contribuem sobre a remuneração dos seus empregados e avulsos com o adicional de
6%, 9% ou 12%, para o custeio da aposentadoria especial. Contribuem, ainda, com o
adicional de 5%, 7% ou 9%, sobre o valor bruto da nota fiscal da cooperativa de trabalho,
quando seus associados são expostos a agentes nocivos. Já as cooperativas de produção
recolhem o adicional de 6%, 9% e 12%, em relação aos seus associados.

32
Nocividade: situação combinada ou não de substâncias, energias e demais fatores de riscos reconhecidos,
presentes no ambiente de trabalho, capazes de trazer ou ocasionar danos à saúde ou à integridade física do
trabalhador.
155
Portanto, somente faz jus ao recebimento desse benefício o segurado que contribuiu
especificamente para esse fim.
Todavia, há entendimento no sentido de que o contribuinte individual poderá receber o
benefício de aposentadoria especial, desde que comprove o exercício de atividade exposto a
agentes nocivos à saúde ou à integridade física (súmula 62 da TNU).
Para o recebimento do benefício de aposentadoria especial, o segurado deverá
comprovar que o período laborativo foi exercido permanentemente em condições especiais
que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Ou seja, a exposição ao agente nocivo deve
ser indissociável à produção do bem ou à prestação do serviço (como o frentista).33
Assim, o segurado deverá comprovar a efetiva exposição aos agentes nocivos
químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade
física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.
A relação de agentes nocivos considerados para fins de concessão de aposentadoria
especial consta no anexo IV do Decreto 3.048/99.
Importante observar que o rol de agentes nocivos é exaustivo, enquanto que as
atividades listadas, nas quais poderá haver a exposição, são exemplificativas. Logo, apenas a
exposição permanente a um agente nocivo à saúde previsto no anexo IV do RPS dá direito a
aposentadoria especial.34
Atualmente, para a comprovação do exercício de atividade especial, é imprescindível a
apresentação do Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP, documento que reúne
informações acerca da atividade exercida pelo segurado.
Até a entrada em vigor da Lei 9.032/95, a comprovação do tempo especial era feita
mediante o simples enquadramento da atividade exercida. Bastava que a categoria
profissional estivesse listada em regulamento (Decretos 53.831/64 e 83.080/79) para que o
trabalho fosse considerado como especial, com a presunção absoluta de exposição (a exemplo
do motorista).
A partir da citada lei, a comprovação do caráter especial do labor passou a ser feita
com base nos formulários SB-40 e DSS-8030, expedidos pelo INSS e preenchidos pelo
próprio empregador. A apresentação do PPP só passou a ser obrigatória a partir de janeiro de

33
Com a ressalva da súmula 49 da TNU: “Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de
29/04/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física não precisa ocorrer de forma
permanente.”.
34
Nesse ponto, anote-se que o STJ tem posicionamento diverso, admitindo que o rol de agentes nocivos
previsto no RPS é exemplificativo.
156
2004. Contudo, para as atividades exercidas até 31/12/2003, serão aceitos antigos formulários,
desde que emitidos até essa data.
Os formulários ou laudos periciais que atestem a exposição a agentes nocivos devem
ser contemporâneos ao período trabalhado, ou seja, devem ser emitidos quando da rescisão do
contrato de trabalho. Todavia, há entendimento no sentido de que os laudos periciais serão
aptos à comprovação da atividade especial, mesmo que não contemporâneos ao período
trabalhado (súmula 68 da TNU).
Os requisitos para a concessão da aposentadoria especial são o complemento do tempo
de contribuição de 15, 20 ou 25 anos, a depender da atividade desempenhada, e a carência de
180 contribuições mensais (respeitada a regra de transição do artigo 142, da Lei 8.213/91). O
salário de benefício será calculado sem a utilização do fator previdenciário, e a renda mensal
inicial é de 100% do salário de benefício.
O aposentado especial que retornar a atividade especial terá o benefício suspenso (art.
57, §8º, da Lei 8.213/91). Entretanto, não há óbice ao retorno à atividade comum.
Por outro lado, é importante ressaltar que o simples recebimento de adicional de
insalubridade (verba trabalhista), não gera necessariamente a contagem do tempo especial,
conforme entendimento do STJ35.
Outrossim, o simples fornecimento de EPI não exclui a hipótese de exposição do
trabalhador aos agentes nocivos à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho
(súmula 09 da TNU). Recente entendimento do STF estabeleceu que se a utilização do EPI
oferecer proteção completa ao trabalhador, de modo que ele não esteja sujeito a agentes
nocivos à saúde, o tempo de contribuição não será computado como especial (ARE 664335).

1. Conversão de tempo entre atividades especiais

Para o segurado que houver exercido sucessivamente duas ou mais atividades sujeitas
a condições especiais prejudiciais à saúde ou à integridade física, sem completar em qualquer
delas o prazo mínimo exigido para a aposentadoria especial, os respectivos períodos serão
somados após conversão, conforme tabela abaixo, considerada a atividade preponderante:

35
EAREsp 200702630250, de 17/02/2009.
157
Multiplicadores
Tempo a converter
Para 15 Para 20 Para 25
De 15 anos - 1,33 1,67
De 20 anos 0,75 - 1,25
De 25 anos 0,60 0,80 -

Ex.:
Suponha-se que João tenha trabalhado por 10 anos em uma atividade especial
sujeita à aposentadoria especial com 20 anos de contribuição. Posteriormente, ele se
desligou desse emprego e passou a trabalhar em atividade especial que conduz à
aposentação com 25 anos de contribuição.
Nesse caso, conforme a tabela acima, os 10 anos trabalhados serão multiplicados
pelo fator 1,25, sendo transformados em 12,5 anos. Logo, João precisará trabalhar mais
12,5 anos na atividade especial sujeita à aposentadoria com 25 anos de contribuição.

2. Conversão de tempo de atividade especial para comum

O tempo de trabalho nas atividades expostas a agentes nocivos prejudiciais à saúde e à


integridade física do trabalhador poderá ser convertido para fins de concessão de
aposentadoria comum, conforme a seguinte tabela:

Multiplicadores
Tempo a converter
Mulher (30 anos) Homem (35 anos)
De 15 anos 2,00 2,33
De 20 anos 1,50 1,75
De 25 anos 1,20 1,40

Ex.:
Suponha-se que Pedro tenha trabalhado por 10 anos em atividade sujeita à
aposentadoria especial de 25 anos de contribuição, tendo deixado o seu emprego. Em
seguida, passou a trabalhar em atividade comum, em que a aposentadoria por tempo de
contribuição ocorrerá em 35 anos.

158
Neste caso, observada a tabela, os 10 anos de contribuição deverão ser
multiplicados pelo fator 1,4, transformando-se em 14 anos de contribuição.
Consequentemente, Pedro deverá trabalhar em atividade comum por mais 21 anos.

Frise-se, por oportuno, que a súmula 50 da TNU pacificou o entendimento de que é


possível a conversão do tempo de serviço especial em comum do trabalho prestado em
qualquer período.
Por fim, vale salientar que não há previsão legal para a conversão do tempo de
contribuição comum em especial, que inclusive é proibida pelo artigo 267, da Instrução
Normativa INSS PRES 45/2010. Essa conversão só é admitida até o advento da Lei 9.032/95,
pois antes de sua vigência era permitida a conversão de tempo comum para especial.

APOSENTADORIA ESPECIAL DO DEFICIENTE


(art. 201, §1º, da CF/88 e art. 70-A a 70-I, do Dec. 3.048/99)

Em 09/05/2013, foi publicada a Lei Complementar 142, que regulamentou o §1º, do


art. 201, da CF/88, no tocante à aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime
Geral de Previdência Social. As regras entraram em vigor após seis meses da data da
publicação da lei, ou seja, em 09/11/2013. Esta lei complementar foi regulamentada pelo
Decreto 8.145, de 03/12/2013, que inseriu os artigos 70-A a 70-I, no RPS.
De acordo com a LC 142, para o reconhecimento do direito a esta aposentadoria
especial, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.
Ato conjunto do Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, dos Ministros de Estado da Previdência Social, da Fazenda, do
Planejamento, Orçamento e Gestão e do Advogado-Geral da União considera impedimento de
longo prazo aquele que produza efeitos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
pelo prazo mínimo de dois anos, contados de forma ininterrupta (art. 3º, da Portaria
Interministerial SDH/MPS/MF/MOG/AGU n. 1, de 27/01/2014).
Sendo, então, considerado deficiente, o segurado pode gozar desta aposentadoria
especial, nas seguintes condições (art. 3º, da LC 142):

159
I – aos 25 anos de tempo de contribuição, se homem, e 20 anos, se mulher, no caso
de segurado com deficiência grave;
II – aos 29 anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 anos, se mulher, no caso
de segurado com deficiência moderada;
III – aos 33 anos de tempo de contribuição, se homem, e 28 anos, se mulher, no caso
de segurado com deficiência leve; ou
IV – aos 60 anos de idade, se homem, ou 55 anos de idade, se mulher,
independentemente do grau de deficiência, desde que cumprido tempo mínimo de
contribuição de 15 anos e comprovada a existência de deficiência durante igual
período.

Percebe-se que a lei criou duas modalidades distintas de aposentadoria especial para o
portador de deficiência. A primeira, representada pelos incisos I, II e III, pode ser chamada de
aposentadoria por tempo de contribuição especial do deficiente, e a segunda, prevista no
inciso IV, é a aposentadoria por idade especial do deficiente.
A Portaria Interministerial SDH/MPS/MF/MOG/AGU n. 1, de 27/01/2014, dispõe que
compete à perícia própria do INSS, por meio de avaliação médica e funcional, avaliar o
segurado e fixar a data provável do início da deficiência e o respectivo grau, assim como
identificar a ocorrência de variação no grau de deficiência e indicar os respectivos períodos
em cada grau. Para tanto, a avaliação funcional deve ser realizada com base no conceito de
funcionalidade disposto na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde – CIF, da Organização Mundial de Saúde, e mediante a aplicação do Índice de
Funcionalidade Brasileiro Aplicado para Fins de Aposentadoria – IFBrA.
O artigo 70-D, do Dec. 3.048/99, dispõe que para efeito de concessão da aposentadoria
da pessoa com deficiência, compete à perícia própria do INSS:

I – avaliar o segurado e fixar a data provável do início da deficiência e o seu grau; e


II – identificar a ocorrência de variação no grau de deficiência e indicar os
respectivos períodos em cada grau.

A critério do INSS, o segurado deverá, a qualquer tempo, submeter-se a perícia


própria para avaliação ou reavaliação do grau de deficiência.
A data do início da deficiência deve ser comprovada para fins de contagem do temo de
atividade para concessão da aposentadoria especial do deficiente.
A existência de deficiência anterior à data da vigência da LC 142 deverá ser
certificada, inclusive quanto ao seu grau, por ocasião da primeira avaliação, sendo obrigatória
a fixação da data provável do início da deficiência. Assim, o médico perito do INSS tem a
árdua missão de identificar quando a deficiência se iniciou e qual era o seu grau desde o
início.

160
A comprovação de tempo de contribuição na condição de segurado com deficiência
em período anterior à entrada em vigor da LC 142 não será admitida por meio de prova
exclusivamente testemunhal.
Caso o segurado, após a filiação ao RGPS, torne-se pessoa com deficiência, ou tenha
seu grau de deficiência alterado, o tempo de atividade necessário para sua aposentadoria deve
ser proporcionalmente ajustado, considerando-se o número de anos em que o segurado
exerceu atividade laboral sem deficiência e com deficiência, observado o grau de deficiência
correspondente, conforme dispuser o regulamento.
O grau de deficiência preponderante será aquele em que o segurado cumpriu maior
tempo de contribuição, antes da conversão, e servirá como parâmetro para definir o tempo
mínimo necessário para a aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência
e para a conversão.
Saliente-se que de acordo com o art. 70-A, do Dec. 3.048/99, para o segurado ter
direito a aposentadoria especial do deficiente é necessário que cumpra 15 anos de
contribuição nessa condição.
A renda mensal inicial da aposentadoria devida ao segurado com deficiência será
calculada nos seguintes percentuais:

I – 100%, no caso da aposentadoria por tempo de atividade, conforme dispõe os


incisos I, II e III, do art. 3º, ou seja, aos 25, 29 ou 33 anos de atividade para os
homens, e aos 20, 24 ou 28 anos de atividade para as mulheres.
II – 70% mais 1% do salário de benefício por grupo de 12 contribuições mensais até
o máximo de 30%, no caso de aposentadoria por idade, aos 60 anos de idade, se
homem, e 55 anos de idade, se mulher.

O fator previdenciário poderá ser utilizado apenas se beneficiar o deficiente postulante


do benefício.
A redução do tempo de contribuição do segurado portador de deficiência não pode ser
acumulada, no tocante ao mesmo período contributivo, com a redução assegurada aos casos
de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física.
Qualquer modalidade de segurado tem direito a este benefício especial, até mesmo os
segurados facultativo e especial.
No tocante à carência, o artigo 70-A, do Dec. 3.048/99, prevê a exigência do mesmo
número de contribuições mensais que a aposentadoria comum para que o segurado faça jus ao
benefício, ou seja, 180 contribuições mensais.

161
SALÁRIO-FAMÍLIA
(arts. 65-70, da Lei 8.213/91)

Cuida-se de benefício previdenciário que não visa substituir a remuneração dos


segurados, mas apenas complementar as despesas domésticas com os filhos menores de 14
anos de idade ou inválidos de qualquer idade.
Também será devido o benefício se o segurado possuir como dependente um enteado
ou tutelado mentor de 14 anos ou inválido, pois equiparados a filho, sendo necessária,
entretanto, a comprovação de dependência econômica, na forma do artigo 16, §2º, da Lei
8.213/91.
Para o pagamento deste benefício em decorrência de filho ou equiparado inválido, esta
situação deve ser verificada em exame médico pericial a cargo da Previdência Social.
Por outro lado, não serão todos os segurados que farão jus ao salário-família, mas
apenas o empregado (incluindo o doméstico), o trabalhador avulso, o aposentado por
invalidez ou por idade e os demais aposentados com 65 anos ou mais, se do sexo masculino,
ou com 60 anos ou mais, se do feminino.
Ademais, por força da EC 20/98, apenas os segurados enquadrados como baixa renda
receberão o salário-família, conforme nova redação do artigo 201, IV, da CF/88. Atualmente,
são enquadrados como baixa renda os segurados que percebem até R$ 1.212,64 (mil duzentos
e doze reais e sessenta e quatro centavos) de remuneração bruta por mês, valor esse que é
atualizado anualmente de acordo com o índice do INPC.
O benefício de salário-família tem dois valores fixos, que serão pagos
proporcionalmente ao número de filhos menores de 14 anos ou inválidos.

Faixa de renda Valor do benefício (por filho)


Até R$ 806,80 R$ 41,37
De R$ 806,80 até R$ 1.212,64 R$ 29,16

A concessão do salário-família independe do cumprimento de carência, bastando a


comprovação da qualidade de segurado.
Importante observar, por outro lado, que é possível a percepção de dois salários-
família em razão do mesmo filho, desde que ambos os pais sejam responsáveis pelo menor ou
inválido e se enquadrem na situação de baixa renda.

162
A data de início do benefício será a data da apresentação da certidão de nascimento à
Previdência Social, empresa ou sindicato.
O pagamento do benefício será condicionado à apresentação anual de atestado de
vacinação obrigatória, no caso de crianças de até 06 anos de idade, e de comprovação
semestral de frequência escolar36, a partir dos 07 anos de idade, sob pena de suspensão, até
que a documentação seja apresentada.
Havendo divórcio, separação judicial ou de fato dos pais, ou em caso de abandono
legalmente caracterizado ou perda do poder familiar, o salário-família passará a ser pago
diretamente àquele a cujo cargo ficar o sustento do dependente, ou a outra pessoa, se houver
determinação judicial nesse sentido.
O salário-família será cessado nas seguintes hipóteses:

a) Por morte do filho ou equiparado, a contar do mês seguinte ao do óbito;


b) Quando o filho ou equiparado completar catorze anos de idade, salvo se
inválido, a contar do mês seguinte ao da data do aniversário;
c) Pela recuperação da capacidade do filho ou equiparado inválido, a contar do
mês seguinte ao da cessação da incapacidade.

SALÁRIO-MATERNIDADE
(arts. 71-73, da Lei 8.213/91)

O salário-maternidade é o benefício previdenciário devido a todas as seguradas do


RGPS que se encontrem afastadas de suas atividades laborais cotidianas por motivo de parto,
aborto não criminoso, adoção ou guarda judicial para fins de adoção.
Recentemente, a Lei 12.873, de 24 de outubro de 2013, modificou o artigo 71-A,
da Lei 8.213/91, e incluiu os artigos 71-B e 71-C37, na mesma lei, estendendo o benefício
de salário-maternidade também aos homens, com a seguinte redação:

Art. 71-A Ao segurado ou segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver


guarda judicial para fins de adoção de criança é devido salário-maternidade pelo
período de 120 (cento e vinte) dias.
§ 1o O salário-maternidade de que trata este artigo será pago diretamente pela
Previdência Social.

36
No caso do filho inválido, a apresentação de atestado semestral de frequência escolar não é imprescindível,
sendo necessário apenas quando for viável a matrícula em escola que atenda o dependente.
37
Os artigos 71-B e 71-C entrarão em vigor 90 dias após a publicação da lei, que ocorreu em 25/10/2013.
163
§ 2o Ressalvado o pagamento do salário-maternidade à mãe biológica e o disposto
no art. 71-B, não poderá ser concedido o benefício a mais de um segurado,
decorrente do mesmo processo de adoção ou guarda, ainda que os cônjuges ou
companheiros estejam submetidos a Regime Próprio de Previdência Social.

Art. 71-B No caso de falecimento da segurada ou segurado que fizer jus ao


recebimento do salário-maternidade, o benefício será pago, por todo o período ou
pelo tempo restante a que teria direito, ao cônjuge ou companheiro sobrevivente que
tenha a qualidade de segurado, exceto no caso do falecimento do filho ou de seu
abandono, observadas as normas aplicáveis ao salário-maternidade.
§ 1o O pagamento do benefício de que trata o caput deverá ser requerido até o último
dia do prazo previsto para o término do salário-maternidade originário.
§ 2o O benefício de que trata o caput será pago diretamente pela Previdência Social
durante o período entre a data do óbito e o último dia do término do salário-
maternidade originário e será calculado sobre:
I - a remuneração integral, para o empregado e trabalhador avulso;
II - o último salário-de-contribuição, para o empregado doméstico;
III - 1/12 (um doze avos) da soma dos 12 (doze) últimos salários de contribuição,
apurados em um período não superior a 15 (quinze) meses, para o contribuinte
individual, facultativo e desempregado; e
IV - o valor do salário mínimo, para o segurado especial.
§ 3o Aplica-se o disposto neste artigo ao segurado que adotar ou obtiver guarda
judicial para fins de adoção.

Art. 71-C A percepção do salário-maternidade, inclusive o previsto no art. 71-B, está


condicionada ao afastamento do segurado do trabalho ou da atividade
desempenhada, sob pena de suspensão do benefício.

Portanto, atualmente é possível a concessão do salário-maternidade ao homem, caso


preenchidos os requisitos necessários. Importante observar, contudo, que o benefício será
pago a apenas um dos responsáveis pelo filho, de modo que, se um casal adotar uma criança,
apenas um deles terá direito ao benefício.
Outrossim, caso não se trate de adoção ou guarda judicial, o homem só terá direito ao
recebimento do benefício se a mãe biológica do filho vier a óbito, recebendo as parcelas
restantes do salário-maternidade que era devido à genitora.
Como a lei é extremamente recente, ainda não há posição jurisprudencial ou
doutrinária a respeito, de modo que a interpretação é exclusivamente literal. Assim, a
princípio, todos os requisitos aplicáveis à mulher para a concessão do benefício, também
serão aplicados ao homem.
De acordo com o artigo 103, do RPS, a segurada aposentada que retornar à atividade
fará jus ao pagamento do salário-maternidade, o que é bem factível na hipótese de adoção.
Por outro lado, caso a segurada mantenha empregos concomitantes, fará jus ao
recebimento do salário-maternidade relativo a cada atividade.
Em regra, o salário-maternidade será pago pelo período de 120 dias, com data de
início no 28º dia que anteceda o parto, ou na data do parto. Em casos excepcionais, é possível

164
que o salário-maternidade seja pago por mais de 120 dias. Mediante atestado médico
específico, os períodos de repouso anterior e posterior ao parto podem ser aumentados de
mais duas semanas.
Cumpre ressaltar, contudo, que a prorrogação dos períodos de repouso anterior e
posterior ao parto consiste em excepcionalidade, compreendendo situações em que exista
algum risco para a vida do feto ou criança ou da mãe, devendo o atestado médico ser
apreciado pela perícia médica do INSS, exceto nos casos de segurada empregada, onde o
benefício será pago diretamente pela empresa.
Desse modo, o salário-maternidade pode alcançar o período de até 148 dias.
O benefício pode ser requerido no prazo de até cinco anos, a contar da data do parto,
haja vista a ausência de fixação de prazo máximo para o requerimento, de modo que a partir
do quinto ano começa a se operar a prescrição quinquenal progressiva das parcelas.
Com a publicação da Lei 12.873/2013, o salário-maternidade nas hipóteses de adoção
ou guarda judicial também será pago pelo período de 120 dias, independentemente da idade
do adotado. Antes da publicação da citada lei, o prazo do benefício era reduzido
progressivamente de acordo com a idade do adotado, sendo concedido nas adoções de
crianças apenas até 08 anos de idade.
O salário-maternidade poderá ou não exigir carência, a depender do enquadramento da
segurada. Para a empregada, empregada doméstica e trabalhadora avulsa, não haverá carência.
Ao contrário, a contribuinte individual, a segurada especial e a facultativa deverão comprovar
a carência de 10 contribuições mensais anteriormente ao parto, que se for antecipado será
reduzido em número de contribuições equivalente ao número de meses do nascimento
prematuro.
Destaque-se que a carência da segurada especial se realiza com o desenvolvimento da
atividade campesina ou pesqueira artesanal em regime de subsistência pelo prazo de 10 meses
antes do parto, ainda que de forma descontínua.
Considerando que o salário-maternidade é um benefício substitutivo da remuneração,
não poderá ter valor inferior a um salário mínimo. A renda mensal inicial do benefício será
calculada com base no salário de benefício, variando de acordo com o enquadramento da
segurada:

165
Segurada Fórmula de cálculo
Empregada e avulsa O valor da sua remuneração mensal
O valor correspondente ao do seu último salário de
Empregada doméstica
contribuição
1/12 do valor sobre o qual incidiu sua última contribuição
Segurada especial
anual
Contribuinte individual e 1/12 da soma dos doze últimos salários de contribuição,
segurada facultativa apurados em um período não superior a quinze meses

No caso da segurada empregada e trabalhadora avulsa, o valor do salário-maternidade


poderá superar o teto do RGPS, por força do julgamento da ADI 1946. Todavia, não poderá
superar o teto do funcionalismo público.
Para fins de percepção do benefício, considera-se parto o evento ocorrido a partir da
23ª semana de gestação, inclusive natimorto, salvo interrupção criminosa. Em caso de aborto
não criminoso (antes da 23ª semana), comprovado mediante atestado médico, a segurada terá
direito ao salário-maternidade correspondente a duas semanas.
Em caso de adoção, o salário-maternidade será devido independentemente de a mãe
biológica ter recebido o mesmo benefício quando do nascimento da criança. Outrossim, em
situação de adoção de mais de uma criança, simultaneamente, a segurada terá direito somente
ao pagamento de um salário-maternidade.
O pagamento do salário-maternidade das gestantes empregadas, exceto as domésticas,
é realizado diretamente pela empresa, que será ressarcida pela Previdência Social38. Já no caso
de adoção, independente da modalidade de segurado, o benefício será pago diretamente pelo
INSS.
O salário-maternidade não poderá ser acumulado com benefício por incapacidade,
devendo este último ser suspenso, ou então ter a sua data de início protelada, devendo ser
restabelecido no dia seguinte ao da cessação do salário-maternidade.
Por fim, nos termos da súmula 45, da TNU, “o salário-maternidade deve receber
correção monetária desde a época do parto, independentemente da data do requerimento
administrativo”.

38
Por força da Lei 12.470/2011, o salário-maternidade da segurada empregada do MEI será pago diretamente
pelo INSS.
166
Em derradeiro, cumpre anotar que a licença-maternidade não se confunde com o
benefício previdenciário de salário-maternidade. Como se sabe, a partir da Lei 11.770/2008,
foi criada a possibilidade de estender o prazo da licença-maternidade para até 180 dias,
cumpridos certos requisitos. Tal extensão, contudo, não tem qualquer relação com o benefício
previdenciário, de modo que o prazo máximo do salário-maternidade é de 120 dias, com a
possibilidade de prorrogação excepcional para até mais duas semanas.

AUXÍLIO-ACIDENTE
(art. 86, da Lei 8.213/91)

O auxílio-acidente é um benefício de natureza indenizatória, concedido ao segurado


empregado (com exceção do doméstico), ao trabalhador avulso e ao segurado especial
quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza39,
resultar sequela40 que implique redução da capacidade para o trabalho que habitualmente
exercia ou mesmo impossibilidade de desempenho dessa atividade, uma vez possível a
reabilitação profissional para outra que garanta a sua subsistência.
Assim, para o pagamento do auxílio-acidente, será preciso que:

a) Ocorra um acidente de qualquer natureza, independentemente de ser


decorrente do trabalho;
b) Haja sequela, definitiva ou não;
c) Ocorra perda funcional para o trabalho que o segurado habitualmente
desenvolvia ou impossibilidade de desempenho da atividade que exercia a
época do acidente, porém permita o desempenho de outra, após processo de
reabilitação profissional, nos casos indicados pela perícia médica do INSS.

A concessão desse benefício está condicionada à confirmação, pela perícia médica do


INSS, da redução da capacidade laborativa do segurado, em decorrência de acidente de
qualquer natureza.

39
Entende-se como acidente de qualquer natureza aquele de origem traumática e por exposição a agentes
exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause
morte, a perda, ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa.
40
Sequela é qualquer lesão anatômica ou funcional que permaneça depois de encerrada a evolução clínica de
uma doença, inclusive de um traumatismo.
167
Percebe-se, portanto, que o auxílio-acidente não é um benefício substitutivo da renda,
de modo que o segurado pode continuar a exercer suas atividades laboratícias normalmente,
ou ser reabilitado para outra, e mesmo assim receber o benefício.
Nesse ponto, a legislação previdenciária apresenta uma contradição sobre o que ocorre
com o segurado que exerce mais de uma atividade e fica incapacitado apenas para uma delas.
No que se refere ao benefício de auxílio-doença, caso um segurado exerça duas
atividades e esteja incapacitado apenas para uma delas, o benefício será concedido em relação
à atividade para a qual o segurado esteja incapacitado e mantido indefinidamente.
Já no que se refere ao benefício de auxílio-acidente, caso um segurado esteja
impossibilitado de desempenhar sua atividade habitual em decorrência de acidente de
qualquer natureza, mas haja possibilidade de reabilitação profissional, o auxílio-acidente
somente será concedido após o processo de reabilitação.
Entretanto, o INSS nunca concede benefício de auxílio-doença indefinidamente,
adotando o sistema de “alta programada”, muito criticado pela jurisprudência. Desse modo,
sempre que o segurado apresente sequelas decorrentes de acidente de qualquer natureza que
impliquem redução de capacidade de trabalho, o médico perito irá autorizar a concessão do
benefício de auxílio-acidente.
Por outro lado, a concessão do auxílio-acidente independe do cumprimento de
carência, sendo necessária apenas a qualidade de segurado. Esse benefício será devido a
contar do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, sendo vedada sua acumulação com
qualquer aposentadoria.
A acumulação com aposentadorias passou a ser vedada a partir da vigência da Lei
9.528/97, quando o auxílio-acidente passou a integrar o salário de benefício para o cálculo das
aposentadorias.
Apesar de a legislação pressupor o pagamento do auxílio-doença antes do auxílio-
acidente, caso o segurado não tenha requerido o auxílio-doença, e ingressado com ação
judicial para postular o auxílio-acidente, não haverá óbice à concessão do benefício, que será
devido somente a partir da citação do INSS, conforme entendimento do STJ.
É possível, também, que a incapacidade que preceda o auxílio-acidente não ultrapasse
15 dias seguidos, não fazendo nascer o direito ao auxílio-doença. Nesse caso, será possível a
concessão do auxílio-acidente, desde que preenchidos os demais requisistos.

168
Como já visto, a renda mensal inicial desse benefício corresponderá a 50% do salário
de benefício, de modo que não há qualquer óbice para que o auxílio-acidente seja pago em
valor inferior ao do salário mínimo, uma vez que não substitui a remuneração do trabalho.
Quando o segurado que estiver em gozo de auxílio-acidente fizer jus a um novo
auxílio-acidente, em decorrência de ouro acidente de qualquer natureza, serão comparadas as
rendas mensais dos dois benefícios e mantido o mais vantajoso. Logo, não é permitida a
cumulação de dois auxílios-acidente.
Outrossim, o auxílio-acidente será suspenso quando da concessão ou reabertura do
auxílio-doença em razão do mesmo acidente ou doença que lhe tenha dado origem, sendo
restabelecido após a cessação do auxílio-doença.
Observe-se que o INSS entende que para os segurados fazerem jus ao auxílio-acidente
é necessário que a lesão sofrida em decorrência de acidente de qualquer natureza esteja
prevista no anexo III do Decreto 3.048/99. Todavia, para a jurisprudência esse é um rol
exemplificativo.
Por fim, cumpre anotar que a jurisprudência tem entendido que esse beneficio deve ser
concedido mesmo que a sequela não seja definitiva.41

AUXÍLIO-DOENÇA
(arts. 59-63, da Lei 8.213/91)

Trata-se de benefício não programado devido ao segurado que ficar incapacitado para
o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias consecutivos.
O segurado em gozo de auxílio-doença, insusceptível de recuperação para sua
atividade habitual, se possível, deverá submeter-se a processo de reabilitação profissional para
o exercício de outra atividade, exceto o tratamento cirúrgico e a transfusão de sangue, que são
facultativos.
O benefício somente será cessado quando o segurado estiver recuperado, for habilitado
para o desempenho de outra atividade que lhe garanta o sustento ou, quando considerado não
recuperável, for aposentado por invalidez.
A despeito dessas considerações, o INSS adota uma prática muito criticada pela
jurisprudência, a chamada “alta programada”, onde o benefício de auxílio-doença é concedido
já com data de cessação definida. Caso o prazo concedido para a recuperação se revele

41
REsp 1112886
169
insuficiente, o segurado deverá solicitar a realização de nova perícia médica, perpetrando
pedido de prorrogação do benefício, nos 15 dias anteriores a alta programada.
Para a aferição da incapacidade, é utilizado um sistema de classificação, onde será
possível averiguar a extensão da incapacidade do segurado, da seguinte forma:

a) Quanto ao grau: incapacidade total ou parcial;


b) Quanto à duração: incapacidade permanente ou provisória;

Poderá ser utilizada, ainda, uma classificação da incapacidade de acordo com a


profissão desenvolvida:

a) Uniprofissional: incapacidade em que o impedimento alcança apenas uma


atividade específica;
b) Multiprofissional: incapacidade em que o impedimento abrange diversas
atividades profissionais;
c) Omniprofissional: incapacidade que implica a impossibilidade do desempenho
de toda e qualquer atividade laborativa.

O auxílio-doença somente será devido ao segurado que estiver incapacitado por mais
de 15 dias, pois esse período não é um risco social coberto pela previdência.
Por outro lado, não será devido o auxílio-doença ao segurado que se filiar ao RGPS já
portador da doença ou lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a
incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento da doença ou lesão.
Para a concessão do benefício é necessário o preenchimento de três requisitos: a) a
incapacidade por mais de 15 dias; b) a qualidade de segurado; e c) o cumprimento da carência
de 12 contribuições mensais.
No que se refere à qualidade de segurado, o período de graça não correrá ou, se já
iniciado, será suspenso durante o período de incapacidade laboral do segurado (súmula 26 da
AGU). Já no que se refere à carência, ela será dispensada nas hipóteses de invalidez
decorrente de acidente de qualquer natureza, doença profissional, do trabalho ou das moléstias
graves listadas na Portaria Ministerial MPAS/MS n. 2.998/2001.

170
Importante observar que ao segurado que exercer mais de uma atividade abrangida
pelo RGPS, e estando incapacitado para uma ou mais atividades, inclusive em decorrência de
acidente do trabalho, será concedido um único benefício.
O auxílio-doença poderá ser comum ou acidentário, se decorrer de acidente de
trabalho ou doença profissional, uma vez emitida a Comunicação de Acidente do Trabalho ou
reconhecido o nexo técnico epidemiológico entre a enfermidade e o exercício do labor.
Nesse caso, após a cessação do benefício acidentário, o segurado terá garantido, pelo
prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa,
independentemente de percepção de auxílio-acidente, na forma do artigo 118, da Lei 8.213/91
(também a súmula 378 do TST).
Anote-se que, do ponto de vista previdenciário, as únicas diferenças entre estas duas
modalidades de auxílios-doença é que o acidentário dispensa a carência e, se for ocasionado
por acidente de trabalho ou doença ocupacional, exige a emissão da Comunicação de
Acidente do Trabalho ou o reconhecimento do nexo técnico epidemiológico entre a
enfermidade e o exercício do labor. Já o comum somente dispensará a carência se for oriundo
de acidente de qualquer natureza, ou das doenças constantes em lista específica. Todas as
demais regras são equivalentes.
Logo, é necessária uma breve conceituação para diferir as possibilidades de concessão
do auxílio-doença:

a) Acidente de qualquer natureza: aquele de origem traumática e por exposição a


agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarrete lesão corporal
ou perturbação funcional que cause morte, a perda, ou a redução permanente
ou temporária da capacidade laborativa.

b) Acidente do trabalho: aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço


da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. As
doenças ocupacionais equiparam-se a acidente do trabalho.

171
c) Doenças ocupacionais: são as doenças ocorridas em virtude da atividade do
trabalhador. São equiparadas ao acidente do trabalho, dividindo-se em doença
profissional e do trabalho, conforme a seguinte conceituação legal:

a. Doença profissional: é a produzida ou desencadeada pelo exercício do


trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva
relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social;
b. Doença do trabalho: é a adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado, e com ele se
relaciona diretamente.

Não são consideradas doenças do trabalho:

a) A doença degenerativa;
b) A inerente a grupo etário;
c) A que não produza incapacidade para o trabalho;
d) A doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato
direto determinado pela natureza do trabalho.

O auxílio-doença do segurado que exercer mais de uma atividade abrangida pela


previdência social será devido mesmo no caso de incapacidade apenas para o exercício de
uma delas. Nesse caso, o valor do benefício poderá ser inferior a um salário mínimo, desde
que a soma do benefício com as demais remunerações recebidas resulte em valor superior ao
do piso salarial.
Quando o segurado que exercer mais de uma atividade se incapacitar definitivamente
para uma delas, deverá o auxílio-doença ser mantido indefinidamente, não cabendo sua
transformação em aposentadoria por invalidez enquanto essa incapacidade não se estender às
demais atividades.
Por fim, cumpre anotar que o segurado empregado em gozo de auxílio-doença é
considerado como licenciado, sendo o seu contrato de trabalho suspenso.

172
PENSÃO POR MORTE
(arts. 74-79, da Lei 8.213/91)

A pensão por morte é um benefício concedido aos dependentes do segurado, assim


consideradas as pessoas listadas nos artigo 16, da Lei 8.213/91, devendo a condição de
dependente ser aferida no momento do óbito do instituidor do benefício.
Qualquer segurado poderá instituir pensão por morte, se deixar dependentes, sendo
que a concessão do beneficio independe do cumprimento de carência.
A pensão por morte será paga no mesmo valor da aposentadoria que o segurado
recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu
falecimento (100% do salário de benefício).
Essa forma de cálculo é muito criticada pela doutrina, sob o fundamento de ameaça ao
equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social. Uma das principais críticas se relaciona
com a concessão de pensão por morte para viúvas muito novas, fato que inspirou a criação da
teoria do “efeito Viagra”, onde foi realizado um estudo estatístico demonstrando que vários
homens, quando da aposentadoria, se envolviam com mulheres muito mais novas, gerando o
direito à pensão por morte para essas dependentes no momento de seu óbito.
Segundo grande parte da doutrina, o benefício de pensão por morte deveria ser
concedido com uma fórmula de cálculo alternativa, onde seriam levados em consideração
aspectos sociais e financeiros dos dependentes.
Em regra, a pensão por morte será paga a partir do óbito do segurado. Contudo, se
postulada administrativamente após 30 dias do falecimento, apenas serão pagas as parcelas a
partir da data de entrada do requerimento administrativo.
No caso de absolutamente incapazes, a jurisprudência e o próprio INSS entendem que
o benefício será devido desde a data do falecimento, mesmo que requerido após 30 dias do
óbito, pois contra eles não correrá a prescrição.
Na hipótese de morte presumida, a pensão por morte será devida desde a prolação da
respectiva decisão judicial, valendo ressaltar que o reconhecimento da morte presumida, com
o fito de concessão de pensão previdenciária, não se confunde com a declaração de ausência
regida pelos diplomas cível e processual cível. In casu, deve-se obedecer ao disposto no artigo
78, da Lei 8.213/91.

173
Essa determinação também é criticada pela doutrina, uma vez que o processo para a
declaração da morte presumida pode levar vários anos. Nesse sentido, inclusive, há decisões
que determinaram a retroação das parcelas vencidas desde a data da propositura da ação.42
Vale ressaltar que a ação judicial para reconhecer a morte presumida para fins de
percepção de pensão por morte será de competência de Justiça Federal.
A morte presumida será declarada depois de 06 meses de ausência, sendo concedida
pensão provisória e pago o benefício a contar da data de prolação da sentença declaratória.
Contudo, se o desaparecimento do segurado decorrer de acidente, desastre ou
catástrofe, seus dependentes farão jus à pensão provisória independentemente da declaração, a
partir da data do desaparecimento.
Caso os segurado reapareça, o pagamento da pensão cessará imediatamente,
desobrigados os dependentes da reposição dos valores recebidos, salvo se comprovada má-fé.
A habilitação dos dependentes é feita no momento do requerimento administrativo
para a concessão do benefício, de modo que a concessão da pensão não será protelada pela
falta de habilitação de outro possível dependente.
Outrossim, caso o segurado, na época do falecimento, já preenchesse os requisitos
para se aposentar, é desnecessária a comprovação da qualidade de segurado para a concessão
da pensão por morte, a teor do que dispõe a súmula 416, do STJ.
Por outro lado, somente caberá a concessão da pensão por morte no caso de débito
decorrente do exercício de atividade do segurado contribuinte individual, se comprovada a
manutenção da qualidade de segurado na data do óbito.
Logo, se o contribuinte individual que trabalha por conta própria não contava com a
qualidade de segurado na época do falecimento, não haverá direito à percepção da pensão por
morte pelos dependentes, uma vez não ser possível o recolhimento em atraso após o
falecimento nesse caso.
Todavia, esse entendimento não se aplica aos contribuintes individuais que prestam
serviços para pessoas jurídicas, pois nesse caso há presunção de recolhimento em favor do
segurado (súmula 52 da TNU).
Por fim, existem questões polêmicas a respeito do benefício de pensão por morte.
A primeira diz respeito ao direito ao recebimento do benefício nos casos em que o
segurado instituidor não exercia atividade laborativa, mas recebia o benefício de auxílio-
acidente. Nesse caso, como já exposto anteriormente, a legislação previdenciária não

42
TRF 2ª Região, Apelação Cível 453.052, de 28/06/2011
174
apresentou restrição à manutenção da qualidade de segurado daqueles que estão em gozo de
benefício. Desse modo, mesmo que o auxílio-acidente não seja substitutivo da renda, sua
percepção manterá a qualidade de segurado do contribuinte, gerando, consequentemente, o
direito à pensão por morte pelos dependentes.
Outra questão curiosa é a possibilidade do deferimento da pensão por morte a
dependente que praticou delito de homicídio contra o instituidor. As alterações legislativas
recentes resolveram essa questão, ao alterar a redação do artigo 74, §1º, da Lei 8.213/91:

Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado
que falecer, aposentado ou não, a contar da data:
(...)
§ 1o Perde o direito à pensão por morte, após o trânsito em julgado, o condenado
pela prática de crime de que tenha dolosamente resultado a morte do segurado.

Ressalte-se que é necessária a condenação penal transitada em julgado para obstar a


percepção da pensão.
Outra questão polêmica diz respeito ao suicídio do instituidor da pensão. Nesse caso,
há entendimento no sentido de que os dependentes não podem ser prejudicados pelo ato do
segurado, sendo a legislação silente a respeito.
Em derradeiro, cumpre repetir o que já exposto quando da explanação acerca dos
beneficiários dependentes no que diz respeito ao concubinato43, questão mais polêmica acerca
desse benefício.
Atualmente, tanto o STF quanto o STJ vêm afastando sumariamente a condição de
dependente do(a) concubino(a). Entretanto, o tema é objeto de repercussão geral no STF, que
irá apreciar um caso onde uma concubina manteve relação paralela ao casamento com um
segurado por mais de 20 anos, inclusive com a geração de prole44.
Assim, tendo em vista o caráter garantista da Suprema Corte brasileira, é possível que
seja reconhecido o direito à percepção do benefício de pensão por morte pelo(a) concubino(a),
em conjunto com os demais dependentes de primeira classe.
Diante das recentes alterações legislativas, foi estabelecido um prazo de duração à
pensão por morte, a depender da quantidade de contribuições vertidas ao sistema pelo
segurado.

43
Relação que se desenvolve paralelamente ao casamento ou à união estável, sem a separação dos cônjuges
ou companheiros.
44
RE 669.465
175
Com efeito, o legislador instituiu um prazo de duração da pensão por morte devida aos
cônjuges ou companheiros, escalonado em função de suas idades, desde que o segurado tenha
recolhido, ao menos, 18 contribuições mensais. Garantiu, também, para os cônjuges ou
companheiros de segurados que não efetuaram as 18 contribuições mensais, um benefício por
apenas 4 meses de duração. Já para os demais dependentes (filhos ou equiparados, pais e
irmãos), o número de contribuições vertidas pelo segurado não influencia o prazo de duração
da pensão pro morte. Assim, caso um filho de um ano de idade perca o pai que contribuía há
apenas um mês para o INSS, este terá direito à pensão por morte até completar 21 anos de
idade.
A Lei 13.135/2015, exigiu que para que o cônjuge, o companheiro ou a companheira
faça jus à pensão pro morte escalonada em função da idade, o casamento ou o início da união
estável tenha ocorrido há, ao menos, dois anos da data do falecimento do instituidor do
benefício, excetuando-se os casos em que o óbito do segurado tenha sido decorrente de
acidente de qualquer natureza ou doença profissional ou do trabalho. Caso não conte com os
24 meses de união ou casamento, e o óbito não seja decorrente de acidente, a pensão por
morte será concedida por um prazo de apenas 4 meses.
Portanto, atualmente, é necessário que o segurado já tenha efetuado 18 contribuições
mensais para garantir o direito do cônjuge ou companheiro de gozar a pensão por morte, por
prazo superior a 4 meses.
Já se o segurado falecer sem ter cumprido as 18 contribuições mensais, deixará o
benefício de pensão por morte para os seus dependentes pelo período de apenas 4 meses. No
entanto, se o segurado tiver cumprido as 18 contribuições ou se o óbito for decorrente de
acidente de qualquer natureza ou de doença profissional ou do trabalho, mesmo que o
segurado não tenha cumprido as 18 contribuições necessárias, deixará a pensão por morte por
período variável a depender da idade do cônjuge sobrevivente, de acordo com a seguinte
tabela:

Idade do companheiro ou companheira Duração do benefício


Menores de 21 anos 3 anos
A partir de 21 anos até 26 anos 6 anos
A partir de 27 anos até 29 anos 10 anos
A partir de 30 anos até 40 anos 15 anos
A partir de 41 anos até 43 anos 20 anos
A partir de 44 anos Vitalícia

176
A pensão por morte, então, não exige carência, pois o prazo de 18 contribuições
mensais não se confunde com este instituto, vez que não impede a concessão do benefício,
mas apenas reduz a duração do benefício do cônjuge ou companheiro para quatro meses. Para
os demais dependentes, o escalonamento não é aplicável, ou seja, um filho de um ano de
idade que perde o pai que contribuía há apenas um mês para o INSS, terá direito à pensão por
morte até completar os 21 anos de idade.

AUXÍLIO-RECLUSÃO
(art. 80, da Lei 8.213/91)

Trata-se de benefício previdenciário devido aos dependentes do segurado recolhido à


prisão, desde que o segregado não esteja recebendo remuneração da empresa, aposentadoria
de qualquer espécie, ou auxílio-doença.
Logo, caso o segurado recolhido receber auxílio-acidente ou pensão por morte, bem
como no caso de segurada recolhida receber salário-maternidade, não haverá óbice à
concessão do auxílio-reclusão aos dependentes, uma vez não haver vedação legal.
Para a concessão do benefício, é imprescindível que o segurado instituidor seja
enquadrado como baixa renda. Atualmente, enquadram-se como baixa renda os segurados que
têm remuneração mensal de até R$ 1.212,64 (mil duzentos e doze reais e sessenta e quatro
centavos).
Ademais, o auxílio-reclusão será devido apenas nas condenações impostas sob os
regimes fechado ou semi-aberto. Apesar da omissão regulamentar, será cabível o benefício
nos casos de prisão cautelar (temporária, em flagrante ou preventiva), pois o segurado baixa
renda não poderá exercer atividade laborativa para sustentar seus dependentes.
Também deverá ser pago o benefício na hipótese de medida sócio-educativa de
internação do adolescente enquadrado como segurado baixa renda.
Por outro lado, na hipótese de prisão civil decorrente da prestação de alimentos, não
será devido o auxílio-reclusão, uma vez que esta segregação é um meio de coerção para o
pagamento dos alimentos, não sendo punitiva.
A renda mensal inicial será a mesma da pensão por morte, e este benefício independe
de carência para a concessão.
O requerimento do auxílio deverá ser instruído com a certidão de efetivo recolhimento
à prisão, sendo obrigatória, para a manutenção do pagamento do benefício, a apresentação de

177
declaração de permanência na condição de presidiário (atestado trimestral), sob pena de
suspensão.
Para que os dependentes do segurado façam jus ao benefício, será naturalmente
preciso que o preso ostente a qualidade de segurado na época do recolhimento.
Na hipótese de fuga, o benefício será suspenso e, se houver recaptura do segurado,
será restabelecido a contar da data em que esta ocorrer, desde que ainda esteja mantida a
qualidade de segurado.
Caso o segurado contrair matrimônio durante o período de reclusão, o auxílio-reclusão
não será devido ao cônjuge que não está preso, pois a dependência foi superveniente ao fato
gerador do benefício.
Outrossim, em caso de filho nascido durante o recolhimento do segurado à prisão,
haverá direito á percepção do benefício a partir da data do nascimento.
Por fim, anote-se que em caso de falecimento do segurado na constância do
recolhimento à prisão, o benefício de auxílio-reclusão deverá ser automaticamente convertido
em pensão por morte, assim que for apresentada a respectiva certidão de óbito.
Em derradeiro, embora a legislação não traga previsão expressa sobre o assunto,
entende a doutrina que a limitação na duração do benefício de pensão por morte é também
aplicada ao benefício de auxílio-reclusão, uma vez que a Lei 8.213/91, determina que o
auxílio-reclusão deverá ser concedido nas mesmas condições que a pensão por morte.
Portanto, mesmo com as alterações legais, não há carência para a concessão do
benefício de auxílio-reclusão. Todavia, existe prazo de duração para o benefício concedido ao
cônjuge ou companheiro, nos termos da regulamentação prevista para a pensão por morte.
Da mesma forma, o valor dos benefícios de auxílio-reclusão e pensão por morte não
foram alterados pela novel legislação, seguindo a regra de 100% do valor da aposentadoria a
que o segurado faria jus no momento de seu falecimento ou reclusão.

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA


(Lei 8.742/93)

Dispõe o artigo 203, V, da Constituição Federal que:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
(...)

178
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Trata-se do benefício assistencial de prestação continuada, instituído pela Lei


8.742/93.

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo


mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais
que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la
provida por sua família.
§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o
cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o
padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados,
desde que vivam sob o mesmo teto.
§ 2o Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência
aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas.
§ 3o Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou
idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do
salário-mínimo.

O benefício assistencial não tem qualquer vínculo com a Previdência Social, é um


benefício concedido pela Assistência Social. Seu estudo é realizado em virtude do alcance
dessa prestação, e também devido ao fato de ser o INSS o responsável por sua administração.
O benefício de prestação continuada da assistência social corresponde à garantia de
um salário mínimo, devido à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais
que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família.
Atualmente considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de
longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas (art. 20, §2º, da Lei 8.742/93).
A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de
impedimento mediante avaliação médica e avaliação social realizadas por médicos peritos e
por assistentes sociais do INSS.
Ressalte-se que, a teor da súmula 29 da TNU, para os efeitos do artigo 20, §2º, da Lei
8.742/93, incapacidade para a vida independente não é só aquela que impede as atividades
mais elementares da pessoa, mas também a impossibilita de prover ao próprio sustento.

179
Também a súmula 48 da TNU dispõe em sentido semelhante que “A incapacidade não precisa
ser permanente para fins de concessão do benefício assistencial de prestação continuada”.
Esse benefício destina-se aos brasileiros natos e aos estrangeiros naturalizados e
domiciliados no Brasil, desde que não estejam amparados por sistema previdenciário.
Já quanto ao requisito financeiro, considera-se família incapacitada de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa, aquela cujo cálculo da renda per
capta seja inferior a ¼ do salário mínimo (art. 20, §3º).
A composição de família aqui apresentada difere do conceito previdenciário. Para a
Assistência Social, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais
e, na ausência de uma deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e
enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto (art. 20, §1º).
O requisito da renda familiar, todavia, não deve ser levado ao pé da letra. Cabe ao
julgador sempre analisar o aspecto social do grupo familiar. Nesse sentido, o STF vem
consolidando entendimento no sentido de que é possível flexibilizar o critério estabelecido em
lei, se restar comprovado no processo a falta de condição de sustento. O STJ apresenta o
mesmo entendimento.
O benefício poderá ser pago a mais de um membro da família, desde que comprovadas
todas as condições exigidas.
Atualmente, o benefício concedido ao idoso não será computado para os fins do
cálculo da renda familiar per capta para a concessão de novos benefícios assistenciais. Essa é
uma disposição contida no Estatuto do Idoso que vem gerando grande controvérsia. Isso
porque muitos cidadãos estão ingressando com pedidos de concessão de benefício assistencial
adotando a disposição do Estatuto do Idoso por analogia, alegando que em qualquer situação
onde um membro do grupo familiar receba benefício no valor de um salário mínimo
(assistencial ou não), tal valor não deve integrar o cálculo da renda familiar per capta.
A jurisprudência não é uníssona, havendo decisões admitindo tal interpretação, bem
como decisões contrárias.
O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada dois anos, para avaliação
da continuidade das condições que lhe deram origem.
A cessação do pagamento do benefício ocorrerá nas seguintes situações:

a) Superação das condições que lhe deram origem;


b) Morte do beneficiário;

180
c) Morte presumida do beneficiário, declarada em juízo;
d) Ausência declarada do beneficiário;
e) Falta de comparecimento do beneficiário portador de deficiência ao exame
médico-pericial, por ocasião de revisão de benefício;
f) Falta de apresentação pelo idoso ou pela pessoa portadora de deficiência da
declaração de composição do grupo e renda familiar, por ocasião de revisão de
benefício.

O benefício assistencial é intransferível, não gerando direito à pensão. É devido,


entretanto, pagamento de resíduo aos herdeiros ou sucessores, na forma da lei civil.
Por fim, o benefício assistencial não pode ser cumulado com qualquer outro no âmbito
da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial
de natureza indenizatória.

ACUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS

Aposentador
ias por Salári Auxíli Auxíli
Aposentado Salário- Auxíli Pensã
idade, tempo o- o- o-
ria por maternida o- o por
de famíli aciden reclusã
invalidez de doença morte
contribuição a te o
e especial
Aposentador
ias por
idade, tempo
Não Não Sim1 Sim Não Não5 Sim2 Sim2
de
contribuição
e especial
Aposentador
ia por Não Não Sim4 Não Não Não5 Sim2 Sim2
invalidez
Salário-
Sim1 Sim Sim3 Sim Sim4 Sim Sim2 Sim2
família
Salário-
Sim Não Sim Não Não Sim Sim2 Sim2
maternidade
Auxílio-
Não Não Sim4 Não Não Sim6 Sim2 Sim2
doença
Auxílio-
Não5 Não5 Sim Sim Sim6 Não7 Sim2 Sim2
acidente
Pensão por
Sim2 Sim2 Sim2 Sim2 Sim2 Sim2 Não8 Não
morte
Auxílio-
Sim2 Sim2 Sim2 Sim2 Sim2 Sim2 Não Não
reclusão
Benefício Não Não Não Não Não Não Não Não
181
assistencial
de prestação
continuada
Seguro
Não Não Não Não Não Sim Sim Sim
desemprego
Pensão
Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
talidomida
Pensão
Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
hanseníase
Legenda:
1. Somente os aposentados por idade e os aposentados das demais categorias a partir de 65 anos, se homens, e 60
anos, se mulheres.
2. Não há impedimento para que o dependente que recebe cota de pensão ou de auxílio-reclusão obtenha seus
benefícios como segurados.
3. O segurado pode receber mais de uma cota do salário-família.
4. A previdência paga o salário-família em caso de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez.
5. O valor do auxílio-acidente é somado ao salário de contribuição para o cálculo do salário de benefício da
aposentadoria.
6. O auxílio-acidente não pode ser acumulado com o auxílio-doença decorrente da mesma doença que o
originou.
7. Em caso de o segurado fazer jus a dois auxílios-acidente, pode ele optar pelo mais benéfico.
8. Somente é permitida a acumulação de duas pensões, quando uma é relativa a companheiro(a) e a outra aos
pais. Também é possível a acumulação de duas pensões por morte recebidas pelo filho relativas às mortes do pai
e da mãe (é um tema controverso).

9. Cumulação de aposentadorias de regimes previdenciários diversos

A percepção de mais de uma aposentadoria é permitida pelo ordenamento pátrio.


Todavia, existem certas limitações a esse direito, principalmente na seara dos Regimes
Próprios de Previdência dos Servidores Públicos – RPPS.
Quanto à percepção de duas aposentadorias de Regimes Previdenciários diversos, não
há maiores complicações. Um médico, por exemplo, que seja proprietário de uma clinica
particular e, ao mesmo tempo, lecione em uma universidade federal, estará obrigatoriamente
vinculado ao RGPS e ao RPPS, contribuindo aos dois regimes. Nesse caso, poderá receber os
benefícios relativos aos dois regimes.
Nesse sentido, veja-se o entendimento firmado pelo STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA.


TEMPO NÃO UTILIZADO NO INSTITUTO DA CONTAGEM RECÍPROCA.
POSSIBILIDADE, NO CASO DOS AUTOS.
1. O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão segundo a qual: "A norma
previdenciária não cria óbice à percepção de duas aposentadorias em regimes
distintos, quando os tempos de serviços realizados em atividades concomitantes
sejam computados em cada sistema de previdência, havendo a respectiva
contribuição para cada um deles." (REsp 687.479/RS, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, Quinta Turma, DJ de 30/5/2005).

182
2. Na espécie, tendo a segurada se aposentado pelo regime estatutário, sem
utilização do instituto da contagem recíproca, não há impedimento para que obtenha
novo benefício, agora pelo RGPS, desde que cumpridos os requisitos necessários.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ – Sexta Turma, AgRg no REsp 1063054/RS, Relator Min. Og Fernandes, DJe
29/11/2010)

Da mesma forma, não há maiores complicações na acumulação de benefícios de


regimes públicos e privados. Um empresário, por exemplo, é obrigado a contribuir ao RGPS,
tendo em vista a compulsoriedade de filiação característica desse regime público. Ao mesmo
tempo, pode ingressar em um Regime Complementar Privado de Previdência Aberta, que não
tem qualquer ligação com os regimes públicos.
Por outro lado, a Constituição apresenta restrições à percepção de mais de uma
aposentadoria no serviço público.
Com efeito, dispõe o artigo 37, XVI, da CF/88, que:

XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando


houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
a) a de dois cargos de professor; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
de 1998)
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 2001)

Percebe-se, portanto, que a acumulação de cargos públicos é extremamente restrita, e a


acumulação de aposentadorias do serviço público segue a mesma lógica apresentada pelo
artigo acima citado, conforme dispõe o artigo 40 da Carta Magna:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é
assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos
pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e
o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41,
19.12.2003)
(...)
§ 2º - Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua concessão, não
poderão exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que se
deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão da pensão.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
§ 6º - Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis na forma
desta Constituição, é vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do
regime de previdência previsto neste artigo. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 15/12/98)
(...)
183
§ 13 - Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em
lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de
emprego público, aplica-se o regime geral de previdência social. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
(...)
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social
para os servidores titulares de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do
respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

Desse modo, os servidores públicos só poderão acumular aposentadorias se os cargos


ocupados forem compatíveis. Assim, por exemplo, um médico que acumule licitamente dois
cargos públicos, no âmbito federal e estadual, e ainda tenha uma clínica particular, poderá
adquirir até três aposentadorias: da União, do Estado e do RGPS, e ainda poderá contratar um
Regime de Previdência Complementar Privado.
Importante ressaltar, outrossim, a disposição do § 20, do artigo acima transcrito, que
proíbe a instituição de mais de um regime próprio de previdência em cada ente estatal. Desse
modo, um servidor que ocupe licitamente dois cargos públicos federais estará vinculado ao
mesmo Regime Previdenciário, contribuindo para um único fundo.
Por outro lado, o artigo 11, da EC n. 20/98, apresenta uma exceção à vedação imposta
pela própria Constituição. Veja-se:

Art. 11 - A vedação prevista no art. 37, § 10, da Constituição Federal, não se aplica
aos membros de poder e aos inativos, servidores e militares, que, até a publicação
desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público por concurso
público de provas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na
Constituição Federal, sendo-lhes proibida a percepção de mais de uma aposentadoria
pelo regime de previdência a que se refere o art. 40 da Constituição Federal,
aplicando-se-lhes, em qualquer hipótese, o limite de que trata o § 11 deste mesmo
artigo.

É de ver-se, portanto, que o servidor público que já era aposentado à época da


promulgação da referida emenda constitucional pode receber os proventos de um novo cargo
público ao qual tenha ingressado posteriormente, mesmo que esse cargo seja inacumulável
com aquele que exercia.
Tal permissão, contudo, se extingue no momento em que o funcionário público
preencher os requisitos para aposentadoria no novo cargo, uma vez que é proibida a percepção
de mais de uma aposentadoria de cargos inacumuláveis pelo regime próprio de previdência.
Nesse sentido é a jurisprudência do STJ:

184
RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTITUCIONAL
E ADMINISTRATIVO. DOIS PROVENTOS DE APOSENTADORIA.
CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
1. O art. 11 da EC n.º 20/98 autorizou a cumulação de proventos de aposentadoria
com vencimentos de cargo público, fora das hipóteses já autorizadas
constitucionalmente, desde que o inativo tenha regressado ao serviço público antes
da EC n.º 20/98.
2. Todavia, a autorização não se estendeu à acumulação de duas aposentadorias.
Assim, ainda que o reingresso no serviço público tenha ocorrido antes da EC 20/98,
somente é possível acumular os proventos com os vencimentos do novo cargo. A
partir do momento em que se aposenta novamente, já não poderá o servidor
acumular as duas aposentadorias, por expressa vedação constitucional.
3. Assim, a Emenda Constitucional n.º 20/98 vedou a cumulação de mais de uma
aposentadoria à conta do regime previdenciário do art. 40 da CF/88, ressalvadas as
aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis expressamente previstos, dos
cargos eletivos e dos cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e
exoneração. Precedentes do STF e do STJ.
4. No caso, o impetrante aposentou-se como procurador judicial da Assembleia
Legislativa do Estado de Pernambuco no ano de 1995 e nesse mesmo ano
reingressou no serviço público, no cargo de juiz de direito, cargo no qual veio a se
aposentar compulsoriamente após a EC 20/98. Portanto, não é legítima sua
pretensão de cumular dois proventos de aposentadoria ligados ao regime do art. 40
da CF/88, ainda que o reingresso no serviço público tenha se dado antes da EC n.º
20/98. Essa vedação, estampada expressamente em norma constitucional, não viola
o ato jurídico perfeito nem o direito adquirido.
5. Recurso ordinário não provido.
(STJ – Segunda Turma, RMS 32756/PE, Relator Min. Castro Meira, DJe
06/12/2012)

Todavia, se o servidor público exercia dois cargos inacumuláveis, e preencheu os


requisitos necessários à concessão das aposentadorias relativas aos dois cargos antes da
emenda constitucional, estará coberto pelo direito adquirido, conforme entendimento
sedimentado na jurisprudência:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO.


DECADÊNCIA NÃO CONFIGURADA. ACUMULAÇÃO DE DOIS
PROVENTOS ANTES DA EC N. 20/98. ART. 11 EXCEÇÃO. POSSIBILIDADE.
CUSTAS E HONORÁRIOS.
1. A Corte Especial do C. STJ, em 16/02/2005 (MS 9.112/DF, 9.115/DF e
9.157/DF), decidiu que a aplicação da Lei 9.784, de 29 de janeiro de 1999, não
poderá ser retroativa. O termo "a quo" do quinquênio decadencial, estabelecido no
art. 54 da mencionada lei, conta-se da data de sua vigência. Precedentes.
2. Não verificada a decadência no caso concreto, pois que em outubro de 2000, ou
seja, há menos de 05 anos após a edição da Lei 9.784/99, o TCU determinou o
cancelamento da aposentadoria por invalidez concedida ao autor.
3. A Emenda Constitucional n. 20/98 expressamente proibiu a acumulação de
proventos e vencimentos, ressalvando, contudo, em seu art. 11, o direito dos
servidores que percebessem aposentadoria e tivessem ingressado novamente no
serviço público, até a data de sua edição.
4. Sendo possível a percepção de uma aposentadoria cumulada com vencimentos de
um cargo efetivo cujo ingresso tenha sido antes da EC n. 20/98, deve ser permitida,
por simetria, a percepção de duas aposentadorias, desde que o novo ingresso no
serviço público e a nova aposentadoria tenham ocorrido também antes da EC n.
20/98. A vedação de nova aposentadoria no mesmo regime deve ser considerada
para aquelas obtidas em data posterior à EC n. 20/98, não devendo a norma
185
transitória retroagir para proibir a cumulação de aposentadorias, já deferidas no
regime anterior, decorrentes de dois cargos públicos exercidos cumulativamente.
Precedentes.
5. No caso concreto é possível a percepção de dois proventos de aposentadoria, que
tiveram os seus requisitos implementados antes da publicação da EC 20, de
15.12.98. Precedentes.
6. A União é isenta de custas processuais, devendo apenas reembolsar os valores
adiantados pelo autor. Honorários em 10% do valor da condenação, limitados à data
de prolação da sentença.
7. Apelação não provida e remessa oficial parcialmente provida. (TRF1 – 3ª Turma
Suplementar, AC 2002.34.00.033667-8, Relator Juiz Federal Miguel Ângelo de
Alvarenga Lopes, 28/11/2012 e-DJF1 p. 128)

186
DISPOSIÇÕES GERAIS ACERCA DO PLANO DE BENEFÍCIOS DO RGPS

1. Benefícios especiais

Além dos benefícios previstos na Lei 8.213/91, devidos genericamente aos segurados
e seus dependentes, existem benefícios previdenciários instituídos por legislação especial.
Todos estes benefícios são administrados pelo INSS.

a) Aposentadoria do ex-combatente da 2ª Guerra Mundial

É uma pensão especial devida aos ex-combatentes do Exército, Marinha e


Aeronáutica. Essa pensão deve respeitar as regras gerais do Regime Geral de Previdência
Social, principalmente aquelas relativas ao teto previdenciário e a forma de cálculo.
O artigo 535, da Instrução Normativa INSS PRES 45/2010, especifica os ex-
combatentes que têm direito à percepção do benefício.

b) Pensão especial vitalícia para as vítimas da Talidomida

A Lei 7.070/82 instituiu este benefício especial a ser pago pelo INSS aos portadores da
deficiência física conhecida como “Síndrome da Talidomida”, valendo ressaltar que a
substância Talidomida passou a ser comercializada no Brasil a partir de 1º de janeiro de 1957.
Será devida a pensão desde o requerimento administrativo, com renda mensal
calculada mediante a multiplicação do número total de pontos indicadores da natureza e do
grau de dependência resultante da deformidade física, constante do processo de concessão.
A pontuação dependerá da incapacidade para o trabalho, para a ambulação, para a
higiene pessoal e para a própria alimentação, podendo chegar ao total de 08 pontos. Cada
ponto, segunda atualização monetária perpetrada em janeiro de 2013, corresponde a R$
320,71 (trezentos e vinte reais e setenta e um centavos).
De acordo com a Lei 10.877/04, poderá haver um acréscimo de 35% no valor do
benefício desde que o beneficiário seja contribuinte do RGPS. O benefício poderá ser
acrescido ainda em 25%, se o beneficiário for maior de 35 anos de idade e necessitar de
assistência permanente de terceiro, desde que a pontuação seja igual ou superior a seis.

187
c) Pensão mensal vitalícia dos seringueiros

Regulamentada pela Lei 7.986/89, será devida aos seringueiros recrutados nos termos
do Decreto-Lei 5.813/64, e que tenham trabalhado durante a Segunda Guerra Mundial nos
seringais da Região Amazônica, amparados pelo Decreto-Lei 9.882/46, e que não possuam
meios para a sua subsistência e da sua família.
Trata-se dos seringueiros que, atendendo ao chamado do governo brasileiro,
trabalharam na produção de borracha na Região Amazônica, contribuindo para o esforço de
guerra.
O benefício terá o valor de dois salários mínimos, e será devido desde a entrada do
requerimento administrativo.
Inexiste idade mínima para a sua percepção, sendo transferível aos dependentes dos
beneficiários que comprovem o estado de carência.

d) Pensão mensal das vítimas de Hanseníase

Foi instituída pela Lei 11.520/07, a título de indenização especial, no valor de R$


750,00 (setecentos e cinquenta reais), reajustável pelo índice legal, às pessoas atingidas pela
hanseníase e que foram submetidas a isolamento e internação compulsórios em hospitais-
colônia até 31 de dezembro de 1986.
É um benefício personalíssimo e, portanto, intransferível. Sua concessão é autorizada
pelo Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, após parecer da
Comissão Interministerial de Avaliação, sendo o pagamento administrado pelo INSS.

e) Pensão vitalícia do Césio 137

Instituída pela Lei 9.425/96, trata-se de uma pensão devida àqueles que sofreram
incapacidade decorrente do acidente ocorrido no município de Goiânia – GO, com a
substância radioativa Césio 137.
É uma pensão personalíssima e, portanto, intransferível. Sua concessão depende de
perícia médica, a cargo da Fundação Leide das Neves Ferreira, com sede em Goiânia, que
deverá ser acompanhada pelo MPF.

188
Caso a vítima tenha postulado indenização pelo mesmo fato em face da União, o valor
da indenização será abatido do valor da pensão.
Todos os benefícios acima tratados possuem natureza indenizatória e/ou assistencial,
de modo que não se enquadram na definição exata de benefício previdenciário (que depende
de contribuição para concessão). Assim, embora sejam concedidos e administrados pelo
INSS, a União deve repassar os valores pagos à autarquia previdenciária, quando da prestação
de contas anual.

2. Hipóteses de suspensão e cancelamento dos benéficos

A legislação previdenciária prevê hipóteses específicas que autorizam o INSS a


suspender ou mesmo cancelar benefícios previdenciários, uma vez observado o devido
processo legal administrativo.
Os segurados em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez ou pensão na
condição de inválido estão obrigados, sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a
exame médico a cargo da Previdência Social, processo de reabilitação profissional por ela
prescrito e custeado e tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão
de sangue, que são facultativos.
O aposentado especial que retornar à atividade especial também terá o benefício
suspenso. Já o aposentado por invalidez que voltar a desempenhar trabalho remunerado terá
seu benefício cancelado.
O benefício de auxílio-reclusão será suspenso caso os dependentes não apresentem o
atestado trimestral de encarceramento, ou no caso de fuga do instituidor. Nessa situação, caso
o segurado seja recapturado e ainda conte com a qualidade de segurado, o benefício será
reativado.
Também será suspenso o pagamento do salário-família se o segurado não apresentar o
atestado de vacinação (anual) ou de frequência escolar (semestral) do filho ou menor
equiparado menor de 14 anos ou inválido.
Por fim, deverá ser cancelada a pensão por morte concedida aos dependentes do
segurado desaparecido (morte presumida) em caso de reaparecimento deste, ocasião em que
os valores já recebidos não deverão ser devolvidos à previdência, salvo se comprovada a má-
fé.

189
3. Descontos legalmente autorizados

Dada a natureza alimentar das prestações previdenciárias, somente é possível


descontar valores de benefícios se o desconto estiver previsto em lei.
De acordo com o artigo 115 da Lei 8.213/91, poderão ser descontados:

a) Contribuições devidas pelo segurado à Previdência Social;


b) Pagamento de benefício além do devido, a ser feito em parcelas, salvo
comprovada má-fé;
c) Imposto de Renda retido na fonte;
d) Pensão de alimentos decretada em sentença judicial;
e) Mensalidades de associações e demais entidades de aposentados legalmente
reconhecidas, desde que autorizadas por seus filiados;
f) Pagamento de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento
mercantil concedidos por instituições financeiras e sociedades de
arrendamento mercantil, públicas e privadas, quando expressamente
autorizado pelo beneficiário, até o limite de 30% do valor do benefício, assim
considerado o valor líquido após o abatimento das parcelas anteriores, restrito
às aposentadorias e pensões, sendo irrevogável e irretratável a autorização de
desconto efetuada pelo titular do benefício.

Interessante mencionar que o entendimento majoritário da jurisprudência atual é de


que as parcelas recebidas em processo judicial, a título de benefício previdenciário, em
decorrência de antecipação dos efeitos da tutela posteriormente revogada, são irrepetíveis, em
virtude do princípio da segurança jurídica e da boa-fé, além da natureza jurídica de alimentos
das prestações previdenciárias.
Outrossim, há entendimento no sentido de que os valores recebidos a mais em virtude
de erro administrativo do INSS não devem ser devolvidos, uma vez terem sido recebidos de
boa-fé. A legislação, contudo, ressalta que esses valores devem ser devolvidos de modo
parcelado pelo beneficiário, a partir de descontos no benefício.
Importante anotar, ainda, que o STJ já decidiu que a restituição de benefícios
previdenciários não constitui dívida ativa não tributária, não podendo ser inscrita em Dívida
Ativa, sendo necessária uma ação específica para constituir o título executivo.

190
4. Débito de contribuições previdenciárias e a concessão de benefícios

Segundo entendimento firmado pelo próprio INSS45, caso o segurado esteja


inadimplente com a previdência, mas tenha preenchido os requisitos para a concessão do
benefício, não há óbice para o deferimento da prestação postulada, uma vez que a legislação
não prevê a inexistência de débitos previdenciários como condição para a concessão dos
benefícios.
Assim, deverá o INSS pagar o benefício e, se regularmente constituído e não prescrito
o débito, descontar mensalmente de sua renda os valores devidos a guisa de contribuições
previdenciárias inadimplidas.

5. Desaposentação

A desaposentação é a renúncia da aposentadoria por requerimento do segurado, com o


intuito de obter alguma vantagem previdenciária.
Com efeito, de acordo com o artigo 11, §3º, da Lei 8.213/91, o aposentado que
desenvolver atividade remunerada será filiado obrigatório no que concerne a essa atividade,
devendo pagar as respectivas contribuições previdenciárias.
Essa disposição foi incluída pela Lei 9.032/95, em decorrência do princípio da
solidariedade, em que pese ser proibida a acumulação de duas aposentadorias dentro do
Regime Geral de Previdência Social.
A desaposentação pode ser extremamente útil ao segurado. Como exemplo, é possível
que o pagamento de novas contribuições previdenciárias após a aposentadoria eleve a renda
mensal inicial do benefício, a depender do seu valor, com a incidência mais tênue do fator
previdenciário.
Por outro lado, pode ser extremamente onerosa para a Previdência Social. Como
exemplo, é possível que um segurado aposentado precocemente por tempo de contribuição,
com renda mensal reduzida pelo fator previdenciário, trabalhe por um curto período de tempo
para, após anos, requerer a desaposentação e posterior concessão de nova aposentadoria, com
melhor incidência do fator previdenciário.
Nesse caso, as novas contribuições não iriam custear a nova aposentadoria, uma vez
que o segurado se valeu da avançada idade para melhorar a incidência do fator previdenciário.

45
Artigo 463, da IN INSS PRES 20/2007; artigo 328, da IN INSS PRES 45/2010.
191
Não existe previsão legal para a aplicação da desaposentação, de modo que o INSS
não defere tal requerimento, uma vez que a Administração Pública apenas poderá agir quando
exista autorização legal (princípio da legalidade).
Entretanto, a jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a desaposentação é
possível, inclusive sem devolução das parcelas já recebidas pelo segurado.
No meio doutrinário, o tema é controverso, havendo posicionamentos favoráveis e
contrários.
Atualmente, existe um projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional46 que tem por
objeto a regulamentação da desaposentação. O tema também é objeto de repercussão geral no
STF47. Portanto, em breve teremos uma posição definitiva sobre a possibilidade ou não da
desaposentação.

46
PLS 91/2010
47
RE 381.367; RE 661.256
192
NOÇÕES GERAIS DE PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL
PREVIDENCIÁRIO

1. Processo administrativo previdenciário

De acordo com o INSS, considera-se processo administrativo previdenciário o


conjunto de atos administrativos praticados através dos Canais de Atendimento da
Previdência Social, iniciado em razão de requerimento formulado pelo interessado, de ofício
pela Administração ou por terceiro legitimado, e concluído com a decisão definitiva no
âmbito administrativo.
O processo administrativo previdenciário será dividido nas seguintes fases:

a) Fase inicial;
b) Fase instrutória;
c) Fase decisória;
d) Fase recursal;
e) Fase de cumprimento das decisões administrativas.

1.1 Fase inicial

Em regra, caberá ao segurado ou ao seu dependente requerer ao INSS a concessão da


prestação previdenciária que entenda fazer jus, juntando a respectiva documentação
pertinente, bem como prestando todos os esclarecimentos solicitados pela Previdência Social.
Também poderão deflagrar o processo o procurador legalmente constituído do
segurado ou de seu dependente, assim como o representante legal, tutor, curador ou
administrador provisório do interessado.
O requerimento administrativo poderá ser feito diretamente em uma das agencias do
INSS, pela internet ou por telefone, quando será feito um agendamento para o atendimento,
sendo considerada como data de entrada do requerimento a data do agendamento.
Pela internet (www.previdencia.gov.br) poderão ser requeridos os seguintes
benefícios:

a) Auxílio-doença;

193
b) Salário-maternidade, exceto para as seguradas empregadas, salvo no caso de
adoção ou guarda judicial para fins de adoção; e
c) Pensão por morte de segurado que falecer em gozo de aposentadoria, auxílio-
doença, previdenciária ou acidentária, ou auxílio-reclusão.

Para a concessão dos demais benefícios, deverá ser feito agendamento, por telefone ou
pela internet.
Estes são os benefícios/serviços disponíveis para agendamento:

a) Aposentadoria Especial;
b) Aposentadoria por Idade - Rural;
c) Aposentadoria por Idade - Urbana;
d) Aposentadoria por Tempo de Contribuição Previdenciária;
e) Auxílio-reclusão;
f) Auxílio-doença Previdenciário;
g) Pedido de Reconsideração de Benefício Previdenciário por Incapacidade;
h) Pedido de Prorrogação de Benefício Previdenciário por Incapacidade;
i) Benefício Assistencial ao Idoso;
j) Benefício Assistencial ao Portador de Deficiência;
k) Certidão de Tempo de Contribuição;
l) Pecúlio Previdenciário;
m) Pensão por Morte - Urbana e Rural;
n) Salário Maternidade - Urbano e Rural;
o) Recurso de Benefício Previdenciário;
p) Acerto de Recolhimento para fins Previdenciários;
q) Acerto de Vínculos e Remunerações para fins Previdenciários;
r) Atualização de dados para fins Previdenciários - Pessoa Física;
s) Atualização de Atividade para fins Previdenciários;
t) Atualização de Endereço de Beneficiários da Previdência Social;
u) Cadastro de senha – CADsenha;
v) Inscrição junto à Previdência Social;
w) Carga para advogado constituído;
x) Devolução de documentos do segurado;

194
y) Devolução de carga de processo;
z) Solicitação de cópia processo de benefícios;
aa) Vistas de processo de benefícios.

A documentação exigida varia de acordo com a modalidade de segurado e o tipo de


benefício. Todavia, é de exigência comum a todos os segurados, independente do benefício ou
serviço postulado:

a) Documentos pessoais (RG, CPF);


b) Comprovante de endereço;
c) NIT (CPF/PIS/PASEP/SUS/Número de inscrição no próprio INSS);
d) OAB, CPF e procuração – no caso de advogado.

1.2 Fase instrutória

As atividades de instrução são destinadas a averiguação e comprovação dos requisitos


legais para a concessão dos benefícios e serviços da Previdência Social, e serão realizadas por
provocação do requerente ou por iniciativa do próprio servidor responsável pela condução do
processo.
Importante ressaltar que é dever da autarquia previdenciária atender o segurado ou seu
dependente da melhor forma possível, de modo que, caso o requerente tenha postulado
benefício inadequado à sua situação, cabe ao servidor responsável pela condução do processo
enquadrar o beneficiário no benefício ou serviço que melhor lhe atenda.
Caso se trate de benefício por incapacidade (auxílio-doença ou aposentadoria por
invalidez), o requerente deve se submeter ao exame médico pericial, a ser promovido por
médico habilitado.
O laudo médico pericial deverá conter o máximo de informações possíveis a respeito
da situação do beneficiário, trazendo, inclusive, a descrição dos documentos pessoais e
histórico laboral do requerente.
Por outro lado, o médico perito não deve se limitar a análise dos requisitos necessários
à concessão do benefício requerido, mas sim deve realizar uma análise circunstanciada do
quadro clínico e social do requerente.

195
Se for necessária, será perpetrada uma entrevista com o requerente, o que é comum
nos benefícios requeridos por segurados especiais, em que serão esclarecidos fatos pertinentes
ao pedido ofertado, especialmente sobre o efetivo exercício da atividade campesina ou
pesqueira artesanal para fins de subsistência.
Poderá o INSS também se valer da pesquisa externa, quando enviará agentes para
avaliar a veracidade das informações apresentadas pelo requerente ou coletar outras.
Para o cálculo do salário de benefício, da comprovação de filiação ao RGPS, do tempo
de contribuição e da relação de emprego, o INSS utilizará as informações constantes no
Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS sobre os vínculos e as remunerações dos
segurados.
O CNIS é um banco de dados que contém as informações previdenciárias dos
segurados, sendo abastecido principalmente pelas declarações prestadas através da Guia de
Recolhimento do FGTS e de Informações Previdenciárias – GFIP.
O CNIS é a principal fonte de informações da autarquia previdenciária. Contudo,
mesmo na hipótese de informações registradas no CNIS, se houver fundada dúvida sobre a
sua veracidade, o ente autárquico exigirá a apresentação dos documentos que serviram de
base à anotação.
Caso não seja apresentada toda a documentação indispensável ao processamento do
benefício ou do serviço, o servidor responsável deverá emitir uma carta de exigências, com
prazo mínimo de trinta dias para o cumprimento, com o registro da exigência no sistema
corporativo de benefícios, devendo ser proferida a decisão pela autoridade administrativa com
ou sem o atendimento da determinação.
De sua vez, quando for necessária a prestação de informações ou a apresentação de
documentos por terceiros, poderá ser expedida comunicação para esse fim, mencionando-se
data, prazo, forma e condições de atendimento, que, se frustrada, poderá ser substituída pela
pesquisa externa.
Por fim, o sítio virtual da Previdência Social (www.previdencia.gov.br) apresenta a
descrição pormenorizada de toda a documentação necessária para a concessão dos benefícios
e serviços da Seguridade Social.

196
1.3 Fase decisória

De acordo com entendimento firmado pelo próprio INSS, a previdência social deve
conceder o melhor benefício a que o segurado fizer jus, cabendo ao servidor responsável
orientá-lo nesse sentido.
Logo, se um segurado requereu a concessão do benefício de aposentadoria por idade,
mas, durante a instrução, seja também caracterizado o seu direito à aposentadoria por tempo
de contribuição com uma melhor renda mensal, o INSS deverá conceder este último
benefício.
A decisão administrativa, em qualquer hipótese, deverá conter despacho sucinto do
objeto do requerimento administrativo, fundamentação com análise das provas constantes nos
autos, bem como conclusão deferindo ou indeferindo o pedido formulado, sendo insuficiente
a mera justificativa do indeferimento constante no sistema corporativo da previdência social.
Caberá ao Chefe da Agência da Previdência Social encaminhar uma Carta de
Deferimento ou de Indeferimento do benefício, conforme o caso, ao endereço do beneficiário,
onde constará a espécie de prestação previdenciária, o número do benefício, a data de entrada
do requerimento e as razões da decisão.
No caso de deferimento, a carta deverá indicar o benefício concedido com seu
respectivo código, o número do benefício, a renda mensal inicial, a data de entrada do
requerimento, o início da vigência e o dia em que o beneficiário deverá comparecer à agência
bancária.
Ademais, a carta de concessão deverá apresentar a memória de cálculo da renda
mensal inicial do benefício.

1.4 Fase recursal

Da decisão tomada pelo INSS nos processos de interesse dos beneficiários, caberá
recurso ordinário no prazo de 30 dias ao Conselho de Recursos da Previdência Social –
CRPS, órgão colegiado integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social, na forma
do artigo 126, da Lei 8.213/91, que o julgará através de uma das suas 29 Juntas de Recursos,
com eficácia suspensiva e devolutiva, se tempestivo.
Após a interposição do recurso pelo beneficiário, o INSS apresentará razões de
contrariedade, também no prazo de 30 dias.

197
O juízo de admissão será feito pelo CRPS, de modo que é vedado a qualquer órgão do
INSS recusar o recebimento de recurso ou sustar-lhe o andamento.
Em determinadas hipóteses, as decisões tomadas pelas Juntas de Recursos poderão ser
impugnadas através de recurso especial dirigido a uma das 04 Câmaras de Julgamento do
CRPS, que funcionará como órgão de 3ª instância.

1ª instância INSS
2ª instância Juntas de Recursos do CRPS
3ª instância Câmaras de Julgamento do CRPS

As Juntas e as Câmaras, presididas por representante do Governo, são compostas por


quatro membros, denominados conselheiros, nomeados pelo Ministério da Previdência Social,
sendo dois representantes do Governo, um das empresas e um dos trabalhadores, com
mandato de dois anos, permitida a recondução.
A sessão de julgamento será pública, ressalvado o exame reservado de matéria
protegida por sigilo, exigindo o quórum mínimo de três membros. Até a proclamação do
resultado final, os conselheiros, inclusive o relator, poderão modificar seu voto.
Não poderão ser revistas pelas Câmaras de Julgamento as decisões das Juntas de
Recursos:

a) Fundamentadas exclusivamente em matéria médica, quando os laudos ou


pareceres emitidos pela Assessoria Técnico-Médica da Junta de Recursos e
pelos Médicos Peritos do INSS apresentarem resultados convergentes;
b) Proferidas sobre reajustamento de benefício em manutenção, em consonância
com os índices estabelecidos em lei, exceto quando a diferença na renda
Mensal Atual decorrer de alteração da Renda Mensal Inicial.

Ainda são previstos no regimento interno do CRPS os embargos declaratórios,


cabíveis quando existir no acórdão obscuridade, ambiguidade ou contradição entre a decisão e
os seus fundamentos, ou quando for omitido ponto sobre o qual deveria pronunciar-se o órgão
julgador.
Os embargos poderão ser interpostos no prazo de 30 dias, interrompendo o prazo para
cumprimento do acórdão.

198
Importante observar que o INSS poderá, em qualquer fase do processo, reconhecer
expressamente o direito do interessado e reformar sua decisão. Ademais, em qualquer fase do
processo, o recorrente poderá voluntariamente desistir do recurso interposto.
Na forma do artigo 126, §3º, da Lei 8.213/91, a propositura, pelo beneficiário, de ação
que tenha por objeto idêntico pedido sobre o qual versa o processo administrativo, importa em
renúncia ao direito de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso interposto.
Outrossim, se houver decisão judicial transitada em julgado com o mesmo objeto do
processo administrativo, a coisa julgada prevalecerá sobre a decisão administrativa.

1.5 Fase de cumprimento das decisões

Em regra, o benefício será pago diretamente ao beneficiário, salvo em caso de


ausência, moléstia contagiosa ou impossibilidade de locomoção, quando será pago a
procurador legalmente constituído, cujo mandato não terá prazo superior a 12 meses, podendo
ser renovado.
O INSS deverá fornecer ao beneficiário demonstrativo minucioso das importâncias
pagas, discriminando o valor da mensalidade, as diferenças eventualmente pagas com o
período a que se referem e os descontos efetuados.
Por cautela, na hipótese de conta criada apenas para a percepção de benefício
previdenciário, a falta de movimentação por mais de 60 dias fará com que os valores
consignados sejam estornados, cabendo ao segurado ou dependente requerer novamente o
crédito, se ainda vivo.

2. Processo judicial previdenciário

2.1 Competência jurisdicional

O INSS é uma autarquia federal, portanto, em regra, as ações propostas contra esse
ente autárquico serão de competência da Justiça Federal, por força do artigo 109, I, da
Constituição Federal de 1988.
Segundo a súmula 689 do STF, a ação contra a instituição previdenciária pode ser
ajuizada perante o juízo federal do domicilio do autor ou nas varas federais da Capital do
Estado, cabendo ao segurado ou ao seu dependente a escolha.

199
Em se tratando de jurisdição voluntária, como o pedido de expedição de alvará, o STJ
tem entendido que a competência será da Justiça Estadual, mesmo que a ação seja proposta
em face do INSS.
Outrossim, em se tratando de demanda onde a causa de pedir consista em acidente do
trabalho, moléstia ocupacional ou evento equiparado, a competência será da Justiça Estadual.
Isso porque a parte final do inciso I, do artigo 109, da CF/88, excluiu expressamente as ações
decorrentes de acidente de trabalho da competência da Justiça Federal, inclusive as ações
revisionais de benefícios acidentários.
Logo, se a postulação da aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, auxílio-acidente
ou pensão por morte decorrer de acidente de trabalho ou eventos equiparados, a competência
material para processar e julgar a causa será da Justiça Estadual.
Importante ressaltar que a competência, nesse caso, é absoluta. Ou seja, cabe ao juiz
pronunciá-la a qualquer tempo, sob pena de nulidade dos atos decisórios. Frise-se, ainda, que,
caso seja proposta uma demanda fundada em acidente do trabalho na Justiça Federal, o juiz
deverá extinguir o processo sem resolução do mérito por falta de pressupostos processuais,
justamente por se tratar de competência absoluta da Justiça Estadual.
Por outro lado, a Justiça Estadual também poderá julgar causas previdenciárias não
acidentárias por delegação de competência, sendo investida de jurisdição federal, quando for
conveniente ao segurado ou ao seu dependente.
Com efeito, de acordo com o artigo 109, §3º, da CF/88, serão processadas e julgadas
na Justiça Estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que for
parte instituição de previdência social, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo
federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também
processadas e julgadas pela Justiça Estadual.
Como não se trata de competência originária, mas de mera delegação, os recursos
serão direcionados ao Tribunal Regional Federal ou Turma Recursal da respectiva Região.
Destaque-se, ainda, que a Justiça Estadual não poderá adotar o rito dos Juizados Especiais
Federais, nem poderá delegar os processos aos Juizados Estaduais.
Importante observar, por oportuno, que essa exceção constitucional não é obrigatória.
Isto é, se houver uma vara federal em alguma cidade próxima que abranja a jurisdição da
comarca do domicilio do segurado ou seu dependente, eles poderão optar por ingressar com o
feito na Justiça Federal.

200
2.2 Questões processuais do rito dos Juizados Especiais Federais

A grande maioria das ações que tramitam contra o INSS na Justiça Federal é de
competência dos Juizados Especiais Federais, que possuem regramento específico dado pela
Lei 10.259/2001, aplicando-se supletivamente, no que for compatível, a Lei 9.099/95.
O principal critério de competência dos Juizados Federais é o valor da causa, fixado
em até 60 salários mínimos, assim considerado o valor do salário mínimo em vigor na data da
propositura da ação.
Logo, quando o valor da causa for superior a 60 salários mínimos, os Juizados
Federais serão absolutamente incompetentes para o julgamento do feito. Se o autor pretende
que seu processo tramite nesse rito, deverá renunciar expressamente ao excedente ao valor de
alçada, sob pena de extinção do processo sem o julgamento do mérito, com fundamento no
art. 51, III, da Lei 9.099/95.
Ressalte-se que, de acordo com a súmula 17 da TNU, não há renúncia tácita no
Juizado Especial Federal, para fins de competência. Ou seja, a renúncia deve ser expressa.
Na hipótese de benefícios previdenciários, em que normalmente são postuladas
parcelas vencidas e vincendas por tempo indeterminado, o valor da causa deverá ser calculado
de acordo com o artigo 260, do CPC, sendo somadas as parcelas vencidas com doze
vincendas.
No caso de litisconsórcio ativo, o valor da causa para fixação de competência é
calculado dividindo-se o valor total pelo número de litisconsortes.
Caso o autor opte por não renunciar o valor excedente aos 60 salários mínimos, deverá
ingressar com o pedido pelo rito ordinário.
Independentemente do valor, não será de competência dos Juizados Federais julgar as
causas arroladas no artigo 3º, §1º, da Lei 10.259/2001, das quais destacam-se o mandado de
segurança e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos.
No rito dos Juizados Federais não haverá prazos diferenciados em favor do Poder
Público, nem reexame necessários das decisões proferidas contra as pessoas jurídicas de
direito público.
O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no
curso do processo, para evitar dano de difícil reparação. Na prática, normalmente são
concedidas liminares satisfativas (tutela antecipada), inclusive de ofício.

201
Os representantes judiciais da União, autarquias, fundações e empresas públicas
federais, ficam autorizados a conciliar, transigir ou desistir, nos processos de competência dos
Juizados Especiais Federais, nos termos do artigo 10, da Lei 10.259/2001. Desse modo, caso
um Procurador Federal representante do INSS verificar, de maneira indubitável, após a
análise processual, a falha administrativa da autarquia federal, poderá propor conciliação ou
não interpor recurso contra a decisão.
Importante salientar que a apresentação de proposta de acordo pelo réu não induz em
confissão.
A sentença proferida no âmbito dos Juizados Federais poderá ser impugnada por meio
de recurso inominado, quando antes não for cabível os embargos de declaração, nas hipóteses
de omissão, obscuridade ou contradição, cuja interposição suspende o prazo de interposição
do recurso inominado.
O prazo para o recurso inominado é de 10 dias. Já o prazo para os embargos de
declaração é de 05 dias.
Ademais, as sentenças serão necessariamente líquidas, conforme exige o artigo 52, I,
da Lei 9.099/95, sob pena de nulidade do julgado.
Em razão da celeridade do procedimento, não será cabível a intervenção de terceiros
ou a assistência.
Os recursos contra a sentença serão julgados pela Turma Recursal respectiva,
composta por três juízes federais, que poderão manter a sentença, reformá-la ou anulá-la, total
ou parcialmente.
Caso a decisão tomada pelo colegiado referente a direito material divirja de outra
Turma Recursal, poderá a parte prejudicada oferecer pedido de uniformização de
jurisprudência para a Turma Regional de Uniformização, ou para a Turma Nacional de
Uniformização.
Caso a decisão da Turma Nacional contrarie súmula ou jurisprudência consolidada do
STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.
As decisões tomadas pelas Turmas Recursais também poderão ser vergastadas através
do recurso extraordinário, uma vez demonstrados todos os requisitos para tanto. Todavia, não
é cabível recurso especial ao STJ, por carência de previsão constitucional para tanto.

202
2.3 Necessidade de prévio requerimento administrativo para a concessão de benefícios
previdenciários

A necessidade de prévio requerimento administrativo para a concessão de benefícios


previdenciários é um tema extremamente polêmico. Todavia, na prática jurisdicional o
assunto se encontra praticamente encerrado.
Se é certo que não se afastará lesão ou ameaça a direito do crivo do Judiciário,
também existe a premissa de que é curial que a Previdência Social se manifeste previamente
sobre o deferimento ou não de um benefício previdenciário, a fim de configurar uma lide.
Com efeito, compete ao Poder Judiciário controlar a legalidade dos atos comissivos e
omissivos da Administração Pública, excluída a margem discricionária, nos atos não
vinculados, em que existe conveniência e oportunidade na valoração do melhor caminho e
momento da prática do ato administrativo.
Logo, a partir do momento que os beneficiários da previdência social passam a
requerer diretamente os benefícios ao Poder Judiciário, de mero controlador de legitimidade
dos atos administrativos, os juízes passam a exercer diretamente a função administrativa, o
que não se coaduna com o Princípio da Separação dos Poderes.
De acordo com o artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal de 1988 “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Entretanto, quando um
beneficiário da previdência social intenta uma ação judicial contra o INSS, sem provocar
previamente a autarquia previdenciária, inexiste lesão ou ameaça de lesão ao suposto direito
subjetivo do proponente.
Assim sendo, a exigência do prévio requerimento administrativo de benefício não
viola o Princípio do Monopólio da Jurisdição, vez que não se está defendendo o afastamento
do Poder Judiciário do exercício da sua atividade política, tendo em vista a não configuração
de um litígio.
Essa é a instrução emanada do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais –
FONAJEF, em seu enunciado 77, o qual dispõe que “O ajuizamento da ação de concessão de
benefício da seguridade social reclama prévio requerimento administrativo”.
Por outro lado, não é necessário que o segurado ou seu dependente esgotem a via
administrativa, mas apenas que provoquem e aguardem o posicionamento inicial do ente
autárquico previdenciário.

203
Outrossim, nos casos em que inexista dilação probatória, onde o segurado ou seu
dependente é previamente sabedor do indeferimento do pedido pelo INSS, o requerimento
administrativo deverá ser dispensado para a propositura da ação judicial, a exemplo do pedido
de desaposentação.
Da mesma forma, nos casos de revisão de benefício da seguridade social que não
envolvam matéria de fato, também é dispensado o prévio requerimento administrativo, a teor
do que dispõe o enunciado 78 do FONAJEF: “O ajuizamento da ação revisional de benefício
da seguridade social que não envolva matéria de fato dispensa o prévio requerimento
administrativo”.
Cumpre ressaltar, ainda, que o segurado ou seu dependente não devem aguardar
eternamente o posicionamento do INSS. Considera-se ser razoável o prazo de 60 dias para a
deliberação da autarquia previdenciária sobre os pedidos de concessão de benefícios, de modo
que, ultrapassado esse prazo sem qualquer posicionamento do ente autárquico, a omissão da
Administração Pública faz nascer o interesse de agir.
Caso o segurado ou seu dependente intentem ação judicial para a concessão de
benefício da seguridade social, sem o prévio requerimento administrativo, a demanda deve ser
extinta sem resolução do mérito, por ausência de interesse de agir, na forma do art. 267, VI,
do CPC.
Para o exercício regular do direito de ação, a fim de obter um provimento de mérito,
deverão os jurisdicionados atender as condições da ação, que são a legitimidade, o interesse
de agir e a possibilidade jurídica do pedido. Por óbvio, para ter interesse processual, é curial
que o autor comprove a utilidade e a necessidade do processo judicial, sob pena de extinção
terminativa da demanda.
Ora, se o autor não perpetrou o prévio requerimento administrativo, por certo será
carecedor de ação, tendo em vista inexistir interesse/necessidade, pois havia real possibilidade
de seu pedido ter sido atendido na via administrativa.
Por fim, é importante observar que o posicionamento jurisprudencial quanto a esse
tema é extremamente controverso.
Atualmente, o STJ tem entendimento de que é desnecessário o prévio requerimento
administrativo. Contudo, há entendimento da 2ª Turma em sentido contrário à decisão do
plenário.
O tema é objeto de repercussão geral no STF, por meio do RE 631.240, e deve ser
resolvido brevemente. Inclusive, o recurso extraordinário em tela foi interposto pelo INSS em

204
face de decisão do TRF da 1ª Região, que considerou ser desnecessário o prévio requerimento
administrativo.

2.4 Data de início dos benefícios

Em regra, a data de início dos benefícios será o dia em que se efetivar o risco social a
ser coberto pela previdência, ou a data de entrada do requerimento administrativo.
Contudo, em caso de benefícios por incapacidade laborativa, é possível que não seja
possível se identificar a data de início da incapacidade, como nos casos de doença
degenerativa. Nesses casos, a jurisprudência tem entendido que a data de início do benefício
será a data em que o laudo médico pericial for juntado ao processo.

2.5 Honorários advocatícios nas ações previdenciárias

A base de cálculo dos honorários advocatícios fixados pelo julgador deverá se limitar
às parcelas devidas até a data de prolação da decisão, com exclusão das parcelas vincendas
após a sentença, a teor da súmula 111 do STJ.
Importante lembrar que as condenações perpetradas em 1º grau nos Juizados Federais
não abarcarão os honorários advocatícios, mas apenas as de 2º grau, por força do art. 55, da
Lei 9.099/95.
Já os honorários contratuais devem se limitar em até 50% do valor das parcelas
devidas até a data de prolação da decisão, também com exclusão das parcelas vincendas após
a sentença, segundo previsão da Seção Goiana da OAB.

2.6 Intervenção do Ministério Público

Em regra, o Ministério Público não terá competência para intervir em processo judicial
previdenciário, pois se trata de direito patrimonial disponível. Entretanto, o órgão ministerial
deverá intervir quando for parte processual uma pessoa absoluta ou relativamente incapaz, na
condição de custos legis (fiscal da lei), nos termos do artigo 82, I, do CPC.
Outrossim, na forma da Súmula 226 do STJ, “o Ministério Público tem legitimidade
para recorrer na ação de acidente do trabalho, ainda que o segurado esteja assistido por
advogado”.

205
2.7 Coisa julgada nas lides previdenciárias

A coisa julgada, em síntese, é uma característica alcançada pela decisão judicial que
não pode mais ser modificada por meio de recurso. É um instituto que decore do Princípio da
Segurança Jurídica, a fim de não eternizar os litígios, não se permitindo a propositura de ação
idêntica, assim considerada a que possui as mesmas partes, causa de pedir e pedido.
No Direito Previdenciário, há certa dificuldade na identificação da coisa julgada,
principalmente nas causas onde se discute a concessão de um benefício por incapacidade
laborativa, em razão da possibilidade de alteração da causa de pedir.
Vejamos um exemplo ilustrativo:

Carlos alega estar com uma lesão na coluna que o impede de desenvolver o seu
trabalho. Designada a perícia judicial, o expert atesta uma leve lesão, mas afirma que
inexiste incapacidade para o trabalho.
O magistrado, por sua vez, acolhe os argumentos do laudo médico pericial e
julga improcedente o pedido. Transitada em julgado a decisão, Carlos ingressa com
novo feito, requerendo a concessão do mesmo benefício, mas alegando evolução de sua
incapacidade.
Pergunta-se: a demanda deverá ser extinta devido a caracterização da coisa
julgada?

O caso narrado apresenta duas respostas.


De um lado, caso seja constatado que a lesão de Carlos não evoluiu, o processo deverá
ser extinto sem resolução do mérito, na forma do art. 267, V, do CPC, uma vez que ficou
caracterizada a coisa julgada, pois a nova demanda possui as mesmas partes, causa de pedir e
pedido.
De outro lado, caso seja constatado que a lesão de Carlos evoluiu, ou ele desenvolveu
outro tipo de moléstia, a causa de pedir do benefício será outra, não havendo a caracterização
da coisa julgada.
Portanto, não ofende a coisa julgada a propositura de nova ação postulando o mesmo
benefício, desde que a causa de pedir seja diversa.
Da mesma forma, não ofende a coisa julgada o ato administrativo que cessa o
benefício quando constatado o fim da incapacidade do segurado.

206
Não ofende a coisa julgada, ainda, o ato administrativo que concede o benefício
postulado após a negativa judicial.

2.8 Juros de Mora nos Processos Previdenciários

A condenação do INSS para pagar as parcelas vencidas do benefício previdenciário


alvo do processo judicial deve ser acompanhada da correção monetária e dos juros de mora,
estes a contar da citação da autarquia previdenciária.
Até o advento da Lei 11.960/2009, o INSS era condenado nos juros de mora à razão de
1% ao mês. Sucede que a referida norma jurídica alterou o artigo 1º-F, da Lei 9.494/97, que
passou a contar com a seguinte redação:

Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua


natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e
compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento,
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança.

Logo, a contar de 30/06/2009, data da publicação da Lei 11.960/2009, passaram a ser


utilizados os índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança
a título de juros e correção monetária nas condenações contra a autarquia previdenciária.

2.9 Forma de pagamento

Em caso de condenação do INSS ao pagamento de benefícios previdenciários, os


valores correspondentes às parcelas em atraso (aquelas vencidas até a data de prolação da
sentença), serão pagos mediante Requisição de Pequeno Valor.
A RPV é a espécie de requisição de pagamento de quantia a que a Fazenda Pública foi
condenada em processo judicial, para valores totais de até 60 salários mínimos por
beneficiário, sendo encaminhada ao Tribunal, quando a entidade devedora for sujeita ao
Orçamento Geral da União.
Chegando ao Tribunal, a RPV é autuada, sendo atualizada no último dia do mês em
que foi apresentada para inclusão em proposta orçamentária mensal.
A RPV autuada dentro do mês terá seu valor depositado no TRF no final do mês
seguinte e será disponibilizado para levantamento pelo beneficiário até o dia 15 do mês

207
subsequente. Exemplo: uma requisição autuada em outubro/2010 terá seu valor
disponibilizado para levantamento até 15/dezembro/2010.
No caso de RPV expedida por vara federal e com pagamento liberado, o saque do
numerário depositado será feito diretamente pelo beneficiário na instituição financeira
correspondente, independentemente da expedição de alvará judicial.
Já no caso de RPV expedida por juízo estadual ou com pagamento bloqueado, a verba
será disponibilizada ao Juízo requisitante, a quem caberá expedir o respectivo alvará de
levantamento para a liberação do numerário ao beneficiário.

2.10 Prescrição e decadência

É de 10 anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou


beneficiário para a revisão do ato de concessão de beneficio, a contar (art. 103, da Lei
8.213/91):

a) Do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação;


b) Do dia em que tomar conhecimento da decisão de indeferimento definitiva, no
âmbito administrativo.

Da mesma forma, é também de 10 anos o prazo decadencial para revisão de ato que
indeferiu o benefício (súmula 64 da TNU).
É vedado ao INSS cessar ou suspender o benefício, ou reduzir o seu valor, se
concedido ou revisto há mais de 10 anos, salvo comprovada a má-fé, situação em que o
benefício poderá ser cancelado, a qualquer tempo.
Nos casos de direito adquirido, não correrá prescrição ou decadência.
Já quanto à prescrição, prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriam ter
sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou
diferenças devidas pela Previdência Social, salvo o direito dos menores, dos incapazes e dos
ausentes, na forma do Código Civil.
Já no que se refere à prescrição das prestações por acidente do trabalho, dispõe o
artigo 104, da Lei 8.213/91, que a prescrição ocorrerá em cinco anos, contados da data:

208
a) Do acidente, quando dele resultar a morte ou a incapacidade temporária,
verificada esta em perícia médica a cargo da Previdência Social; ou
b) Em que for reconhecida pela Previdência Social, a incapacidade permanente
ou o agravamento das sequelas do acidente.

Note-se que, em se tratando de benefícios previdenciários, ocorre a prescrição


progressiva e não a do fundo do direito, pois apenas as parcelas vencidas antes do quinquênio
anterior ao ajuizamento da demanda ou do pedido administrativo restarão fulminadas pelo
lustro prescricional (súmula 85 do STJ).

209
CRIMES PREVIDENCIÁRIOS

Com o objetivo de coagir as empresas a efetuarem suas contribuições corretamente, o


legislador ordinário instituiu tipos penais, visando àqueles que não cumprem as obrigações
previdenciárias.
A tipificação penal visa apenas às pessoas físicas encarregadas pelo adimplemento das
obrigações, e não a empresa. O Direito Previdenciário não abarca a responsabilização penal
da empresa, mas somente de seus responsáveis.

5.1 – Apropriação indébita previdenciária

Tem previsão no artigo 168-A do Código Penal.

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos


contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a
terceiros ou arrecadada do público;
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de
serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já
tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e
efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento,
antes do início da ação fiscal.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o
agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o
pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

No caput, a previsão típica busca proteger o patrimônio da previdência social, e tem


como sujeito ativo o responsável tributário. Também é sujeito passivo o contribuinte que tem
sua contribuição apropriada.
Prevalece ser crime omissivo material, ou seja, o tipo exige resultado para a
consumação. A consumação ocorre quando, após o recolhimento, o sujeito deixa de repassar
os valores à autarquia no prazo e forma legal.

210
É necessário que a contribuição seja recolhida e, após, que se omita o repasse para a
autarquia previdenciária. É indispensável, portanto, a apropriação de valores, com inversão da
respectiva posse.
É necessário dolo, com a consciência de que houve o recolhimento e que está sendo
omitido o repasse à previdência. Todavia, prevalece o entendimento de que é desnecessária a
especial intenção de fraudar a previdência.
Não é passível de tentativa, por se tratar de crime unissubsistente, ou seja, o início da
execução coincide com o momento consumativo.
O esgotamento da via administrativa, onde se discute a exigibilidade do tributo, é
condição de procedibilidade para a instauração de Inquérito Policial para a apuração deste
delito. Ou seja, a ação penal só tem início após o exaurimento da via administrativa. Ressalte-
se que, durante o procedimento administrativo, o prazo prescricional da pretensão punitiva é
suspenso.
Por se tratar de tributo federal, a competência para processar e julgar a apropriação
indébita previdenciária é da Justiça Federal.
Se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das
contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social,
na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal, é extinta a
punibilidade.
Se o agente realiza o pagamento à vista, ou parcela o débito e quita o parcelamento
antes do recebimento da denúncia, é extinta a punibilidade. O STJ tem entendimento no
sentido de que o pagamento à vista, mesmo quando feito após o recebimento da denúncia,
extingue a punibilidade.
Se o agente parcela o débito antes do recebimento da denúncia, é suspensa a pretensão
punitiva, até que o parcelamento seja devidamente quitado. Frise-se que, durante o período do
parcelamento, o prazo prescricional será suspenso.
Segundo entendimento do STJ, débitos inferiores à R$ 10.000,00 (dez mil reais) são
insignificantes, por força do art. 20 da Lei 10.522/02, o qual determina que só serão objeto de
execução fiscal os débitos superiores a esse valor. Portanto, para o STJ, a apropriação indébita
previdenciária de valores inferiores à R$ 10.000,00 é atípica, aplicando-se o princípio da
insignificância.

211
Todavia, o STF tem posicionamento contrário, ressaltando que esse tipo penal não
comporta o princípio da insignificância, tendo em vista a gravidade de sua consumação para a
sociedade.
É possível a alegação do estado de necessidade para que seja extinta a ilicitude do tipo
penal. Ou seja, se uma empresa alegar dificuldades financeiras incontornáveis, poderá
requerer a exclusão da ilicitude da apropriação indébita previdenciária.

5.2 – Sonegação de contribuição previdenciária

Previsto no artigo 337-A do Código Penal, também é um crime material, pois exige
resultado para a sua consumação.

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer


acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações
previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário,
trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem
serviços;
II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa
as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo
tomador de serviços;
III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas
ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as
contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência
social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o
agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I - (VETADO)
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não
ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena
de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa.
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e
nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social.

Para que haja conduta que constitua crime, é preciso que ocorra a supressão ou
redução no pagamento de contribuição previdenciária ou acessórios, mediante as seguintes
condutas alternativas:

212
a) Omitir em folha de pagamento ou em outro documento previdenciário (a
exemplo da GFIP) a existência de segurados empregados, trabalhadores
avulsos ou contribuintes individuais prestadores de serviço à empresa;
b) Deixar de lançar mensalmente nos títulos das empresas as contribuições
previdenciárias descontadas dos empregados, avulsos e contribuintes
individuais;
c) Omitir receita, faturamento ou remunerações pagas ou creditadas aos
segurados que prestam serviços à empresa, bem como qualquer outro fato
gerador de contribuição previdenciária.

Importante ressaltar que a redução ou supressão de outras contribuições sociais que


não são destinadas à previdência não integram esse tipo penal, mas sim aquele previsto no
artigo 1º da Lei 8.137/97.
O esgotamento da via administrativa, onde se discute a exigibilidade do tributo, é
condição de procedibilidade para a instauração de Inquérito Policial para a apuração deste
delito. Ou seja, a ação penal só tem início após o exaurimento da via administrativa. Ressalte-
se que, durante o procedimento administrativo, o prazo prescricional da pretensão punitiva é
suspenso.
Por se tratar de tributo federal, a competência para processar e julgar a apropriação
indébita previdenciária é da Justiça Federal.
Da mesma forma que no crime de apropriação indébita previdenciária, se o agente,
espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou
valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal, é extinta a punibilidade.
Se o agente realiza o pagamento à vista, ou parcela o débito e quita o parcelamento
antes do recebimento da denúncia, é extinta a punibilidade. O STJ tem entendimento no
sentido de que o pagamento à vista, mesmo quando feito após o recebimento da denúncia,
extingue a punibilidade.
Se o agente parcela o débito antes do recebimento da denúncia, é suspensa a pretensão
punitiva, até que o parcelamento seja devidamente quitado. Frise-se que, durante o período do
parcelamento, o prazo prescricional será suspenso.
Segundo entendimento do STJ, débitos inferiores à R$ 10.000,00 (dez mil reais) são
insignificantes, por força do art. 20 da Lei 10.522/02, o qual determina que só serão objeto de

213
execução fiscal os débitos superiores a esse valor. Portanto, para o STJ, a apropriação indébita
previdenciária de valores inferiores à R$ 10.000,00 é atípica, aplicando-se o princípio da
insignificância.
Todavia, o STF tem posicionamento contrário, ressaltando que esse tipo penal não
comporta o princípio da insignificância, tendo em vista a gravidade de sua consumação para a
sociedade.
É possível a alegação do estado de necessidade para que seja extinta a ilicitude do tipo
penal. Ou seja, se uma empresa alegar dificuldades financeiras incontornáveis, poderá
requerer a exclusão da ilicitude da apropriação indébita previdenciária.
Há uma hipótese de redução de pena de 1/3 a 1/2 ou a aplicação só de multa se o
empregador não for pessoa jurídica, desde que o valor de sua folha mensal seja de até R$
3.671,73 (valor atualizado para 2013).

5.3 – Falsificação ou alteração de documento público contra a Previdência Social

Previsto no artigo 297 do Código Penal.

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento


público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de
entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado
a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade
de segurado obrigatório;
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em
documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração
falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com
as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou
diversa da que deveria ter constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no §
3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Falsificar é criar algo que não existia
materialmente, fabricar, montar documento que não existia, ainda que a falsificação seja em
parte.

214
A conduta deve ser suficiente a lesar o bem jurídico, ou seja, idônea a enganar. Se a
falsificação é grosseira, incapaz de enganar, não há crime, a conduta é atípica. É preciso,
ainda, que o documento tenha alguma relevância jurídica, pois se o documento não tem
qualquer potencialidade para lesar, ainda que falso, não há crime.
Os parágrafos 3º e 4º foram acrescentados pela Lei 9.983/2000, com o intuito de
proteger a Previdência Social contra as falsificações e alterações de documentos públicos. Na
verdade, esses parágrafos descrevem condutas de falsidade ideológica, pois não se trata da
criação ou modificação de documentos, mas sim da inserção ou omissão de informações.
A norma de equiparação do §3º é comissiva e formal, se consumando com a simples
inserção. Não há necessidade de efetivo prejuízo à previdência social ou ao segurado. A
consumação se dá mediante as seguintes condutas alternativas:

a) Incluir em folha de pagamento ou outro documento a ser apresentado à


Previdência Social pessoa que não é segurado obrigatório do RGPS.
b) Inserir na CTPS do empregado ou outro documento para fins previdenciários,
declaração falsa ou diversa da que deveria ser aposta.
c) For feita declaração falsa ou diversa da que deveria ser anotada em documento
contábil ou qualquer outro a ser apresentado à Previdência.

Já a norma de equiparação do §4º é omissiva e formal, se consumando quando são


omitidos nos citados documentos o nome do segurado, os seus dados pessoais, a sua
remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviço.
O tipo exige o dolo, a intenção de fraudar.
Em regra, a falsificação de documentos públicos emitidos por órgãos federais será de
competência da Justiça Federal. Todavia, o critério de determinação da competência não é o
local de onde emana o documento, mas sim se o interesse protegido é da União. Assim, é
possível que esse delito seja processado e julgado pela Justiça Estadual, mesmo que o
documento seja emitido por órgão federal.
Assim, caso a fraude objetive a lesão aos recursos da Previdência Social, o delito será
de competência da Justiça Federal. Caso contrário, a competência será da Justiça Estadual.
Nesse sentido é a súmula 62 do STJ: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar o
crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído a empresa
privada.”.

215
5.4 – Inserção de dados falsos em Sistema de Informações

Previsto no artigo 313-A do Código Penal.

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos,


alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou
bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida
para si ou para outrem ou para causar dano:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Trata-se de crime próprio, formal e comissivo. É próprio, pois somente o funcionário48


autorizado poderá praticá-lo. É formal, pois não depende de resultado para consumação. E é
comissivo, pois depende de ação do sujeito passivo.
É crime de dolo específico, já que o fim visado pelo agente deve ser vantagem
indevida para si ou para outrem, ou ainda para causar dano.
Ao mencionar não somente a efetiva inserção, mas também a facilitação, a regra legal
pode abranger outras pessoas com participação indireta.

5.5 – Modificação ou alteração não autorizada em Sistema de Informações

Previsto no artigo 313-B do Código Penal.

Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa


de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da
modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o
administrado.

Também é um delito próprio, comissivo e formal.


A diferença para o crime anterior é a ausência de dolo específico, já que a mera
modificação ou alteração dolosa, com qualquer fim, caracteriza o ilícito penal. O resultado da

48
Art. 327 CP: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

216
conduta do agente somente se mostra relevante para a aplicação da qualificadora do parágrafo
único, caso haja efetivo prejuízo para o Estado ou beneficiácio.

5.6 – Estelionato previdenciário

Previsto no artigo 171 do Código Penal.

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de
réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar
a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como
própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável,
gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante
pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a
alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou
a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver
indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de
entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.

Trata-se de crime material, pois exige resultado para a consumação. A tentativa é


possível, quando o sujeito, enganando a vítima, não obtém a vantagem ilícita ou, obtendo-a,
não causa prejuízo a ela ou a terceiro.
O delito é consumado quando o agente obtém para si ou outrem vantagem ilícita,
induzindo ou mantendo alguém em erro, através do manejo de algum meio fraudulento, sendo
necessariamente doloso.
Portanto, há várias elementares a considerar no crime de estelionato.

217
É necessário que a vítima seja determinada, que tenha capacidade de compreensão. É
preciso que haja obtenção de vantagem indevida mediante prejuízo alheio. Se não houver
vantagem, ou se inexistente o prejuízo, não há que se falar em estelionato. Da mesma forma
se a vantagem for devida. O meio escolhido deve ser fraudulento, para que a vítima recaia ou
permaneça em erro, ou seja, iludida, com uma equivocada percepção da realidade.
A apuração do estelionato previdenciário independe da instauração de processo
administrativo, que não é condição de procedibilidade da ação penal, conforme entendimento
do STF.
Ocorrerá o crime contra a Previdência, por exemplo, quando um segurado frauda
documento que registra tempo de serviço, ampliando o período de trabalho, logrando êxito na
concessão de benefício de aposentadoria, sendo o delito de falsificação de documento
absorvido pelo estelionato, se não restar mais nenhuma potencialidade lesiva.
Neste caso, o delito será consumado no momento da percepção da primeira parcela do
benefício previdenciário pago indevidamente.
Há grande polêmica na classificação deste crime, se permanente ou instantâneo de
efeitos permanentes.
Crime permanente é aquele cujo momento consumativo perdura no tempo, como no
caso do sequestro. Crime instantâneo é aquele cujo momento não perdura no tempo,
aperfeiçoando-se em um único instante, como o homicídio. Crime instantâneo com efeitos
permanentes é aquele que, embora se consume em um único instante, tem efeitos perenes e
não controláveis pela vontade do agente.
Segundo entendimento recente da 3ª Seção do STJ, sendo o objetivo do estelionato a
obtenção de vantagem ilícita em prejuízo alheio, nos casos de prática contra a Previdência
Social, a ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma é reiterada, mês a mês, enquanto não há
a descoberta da aplicação do ardil, artifício ou meio fraudulento. Tratando-se, portanto, de
crime permanente, iniciando-se a contagem do prazo prescricional com a supressão do
recebimento do benefício indevido.
Esse entendimento também foi manifestado recentemente pela 2ª Turma do STF,
ressaltando que, se a natureza do crime é permanente, o prazo prescricional começa a fluir a
partir da cessação da permanência.

218
PREVIDÊNCIA SOCIAL E CONTRATO DE TRABALHO

1. Disposições iniciais

Inicialmente, cabe ressaltar que não será objeto de estudo o contrato de trabalho em
sentido amplo, mas tão somente o contrato de emprego, aqui entendido como o acordo pelo
qual uma pessoa física se obriga, mediante remuneração, a prestar serviço não eventual a
outra pessoa, sob sua subordinação.
Isso se deve ao fato de que as obrigações previdenciárias mais usuais são àquelas
provenientes da relação de emprego, de modo que as demais relações de trabalho sempre
observam as regras atinentes à relação de emprego, com as devidas adequações.
A Previdência tem relação histórica com o contrato individual de trabalho. Com efeito,
o sistema previdenciário foi criado para proteger as pessoas que realizavam labor
subordinado. Muito embora o seguro social tenha se expandido às demais relações laborais,
não há duvidas de que quando a figura protegida é o trabalhador subordinado, haverá estreita
ligação entre a estática e a dinâmica de ambas as relações jurídicas: a resultante do contrato de
trabalho e a procedente da previdência social.

2. Relações de gênese

Com o nascimento do contrato de trabalho, as partes se vinculam automaticamente ao


sistema previdenciário, surgindo, de imediato, diversas relações jurídicas entre as partes
envolvidas:

a) Relação entre o empregador e o empregado: há apenas o contrato de trabalho,


de onde derivam as mais diversas obrigações trabalhistas. Quanto à
previdência, surge a obrigação do empregador de descontar a contribuição
previdenciária do empregado;
b) Relação entre o empregador e a Previdência: há a obrigação de o empregador
repassar aos cofres previdenciários as contribuições descontadas de seus
empregados, bem como a sua cota na condição de tomador de serviço. A
princípio, a previdência não faz parte dessa relação jurídico-tributária, uma
vez que a competência para arrecadar e fiscalizar as contribuições

219
previdenciárias é da SRFB. Todavia, considerando que a única destinatária
dessas contribuições é a Previdência, ela tem vinculação direta com essa
relação originada com o contrato de trabalho;
c) Relação entre o empregado e a Previdência: há o direito subjetivo do
empregado às prestações pecuniárias ou serviços previdenciários;
d) Relação entre a Previdência e a União: a União detém a competência residual
para o custeio do sistema previdenciário, estando também diretamente
vinculada a relação jurídica que nasce com o contrato de trabalho.

É de ver-se, portanto, que o contrato de trabalho é o ponto de partida para as relações


jurídicas previdenciárias entre empregado, empregador, Previdência e Estado.
De fato, é a partir da celebração do contrato de trabalho que o segurado é filiado à
previdência; que tem início o cômputo do período de carência; bem como é o momento em
que ocorre o fato gerador da obrigação tributária previdenciária.

2.1 – A Previdência e os contratos de trabalho nulos ou anuláveis

No ordenamento jurídico trabalhista brasileiro, o contrato de trabalho não exige a


formalidade como requisito imprescindível, bastando o exercício de fato de atividade laboral.
Portanto, somente pode ser considerado nulo ou anulável aquele contrato que não atenda a
dois requisitos básicos: agente capaz e objeto lícito.
A capacidade do agente se relaciona com a proibição ou não ao trabalho. Já o objeto se
relaciona com a licitude ou ilicitude do trabalho.
Sendo o agente incapaz, por exemplo, o menor de 14 anos de idade, o contrato de
trabalho terá efeitos no âmbito previdenciário, uma vez que houve a efetiva prestação de
serviço, devendo ser garantidos os direitos do trabalhador. Portanto, o contrato será anulável,
com efeitos ex nunc.
Por outro lado, sendo o objeto do trabalho ilícito, por exemplo, o tráfico de drogas, o
contrato de trabalho não terá efeitos no âmbito previdenciário, uma vez que a própria
prestação de serviço caracteriza atividade ilícita. Portanto, o contrato de trabalho será nulo,
com efeitos ex tunc.

220
3. Relações de coexistência e de extinção

Não obstante o pacto laboral seja o elemento a que a lei atribua força propulsora para
o surgimento das relações com a Previdência Social, no decorrer da prestação de serviços
também podem nascer novas relações jurídicas com a previdência.
É o caso, por exemplo, do segurado que fica incapacitado para suas atividades
habituais por mais de 15 dias consecutivos, situação que faz nascer o direito ao recebimento
do benefício de auxílio-doença, havendo a suspensão do contrato de trabalho.
Nesse ponto, também se encontram as situações onde o contrato de trabalho é extinto,
mas ainda assim garante a permanência de certos direitos ao segurado. É o caso, por exemplo,
da manutenção da qualidade de segurado pelos períodos indicados no artigo 15, da Lei
8.213/91.
Cumpre destacar, ainda, as hipóteses de reconhecimento judicial ou administrativo de
tempo de serviço ou contribuição.
Com efeito, a relação de emprego reconhecida no Juízo trabalhista terá presunção
relativa de veracidade no âmbito previdenciário, servindo apenas como início de prova
material, de modo que o segurado deverá comprovar o recolhimento das contribuições
previdenciárias provenientes do vínculo reconhecido.
Já o tempo de contribuição declarado pela Justiça Federal possui presunção absoluta
de veracidade, uma vez que a ação declaratória tem como objetivo apenas o reconhecimento
do período laborado, não se relacionando com o Direito do Trabalho. Aqui, inclusive, o INSS
será parte do processo.
Por fim, a relação de emprego reconhecida pela SRFB também vinculará a autarquia
previdenciária, não havendo necessidade de comprovação pelo segurado do recolhimento das
contribuições.
As relações de coexistência entre o contrato de trabalho e a previdência ainda se
relacionam com os atos cotidianos do pacto laboral, como a responsabilidade do empregador
pelo recolhimento mensal das contribuições, ou a necessidade de controle contábil dos
tomadores de serviço, com a obrigatoriedade do cumprimento de obrigações fiscais
acessórias, como a elaboração da GFIP.
Em derradeiro, cumpre observar que, em regra, a percepção de benefícios
previdenciários não extingue o contrato de trabalho.

221
Com efeito, o contrato será extinto apenas no caso da percepção de benefício
definitivo, como as aposentadorias por idade voluntária ou compulsória, especial e por tempo
de contribuição, ressalvado, ainda, o direito de o aposentado retornar voluntariamente ao
mercado de trabalho.
Já no que se refere aos benefícios por incapacidade que demandem o afastamento do
labor, o contrato de trabalho será apenas suspenso, mesmo no caso de aposentadoria por
invalidez (súmula 160 do TST). Inclusive, no caso da percepção de auxílio-doença por
acidente do trabalho, o segurado ainda terá garantida uma estabilidade de 12 meses após a
cessação do benefício.
Tratamento semelhante recebe o benefício de salário-maternidade, que exige o
afastamento da atividade laborativa. Nesse caso, o pacto laboral será suspenso, sendo ainda
garantida a estabilidade gestacional à segurada empregada.

222
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMADO, Frederico. Direito e Processo Previdenciário Sistematizado. Salvador: Jus


Podivm, 2015.

______. Legislação Previdenciária para concursos: Doutrina, Jurisprudência e Questões de


Concursos. 3ª Ed. Salvador: Jus Podivm, 2015.

BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito Previdenciário. 11ª Ed. São Paulo:
Método, 2015.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Congresso Nacional. D. O. U. 191-A de 05/10/1988, p. 1.

BRASIL. Decreto do Executivo 3.048/1999. Aprova regulamento da Previdência Social e dá


outras providências. Brasília, DF: Executivo. D. O. de 07/05/1999, p. 50.

BRASIL. Lei Ordinária 8.212/1991. Dispõe sobre a organização da Previdência Social,


Institui Plano de Custeio e dá outras providências. Brasília, DF: Executivo. D. O. de
25/07/1991, p. 14.801.

BRASIL. Lei Ordinária 8.213/1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência


Social e dá outras providências. Brasília, DF: Executivo. D. O. de 25/07/1991, p. 14.809.

CARDONE, Marly A.. Previdência Social e Contrato de Trabalho: relações. 2ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.

KERTZMAN, Ivan Mascarenhas. Curso prático de direito previdenciário. Bahia:


Juspodivm, 2015.

KERTZMAN, Ivan; CYRINO, Sinésio. Salário-de-contribuição: A base de cálculo


previdenciária das empresas e dos segurados. 2ª Ed. Salvador: Jus Podivm, 2010.

MARTINEZ, Wladimir Novaes; BALERA, Wagner; MARTINS, Ives Gandra da. História,
custeio e constitucionalidade da previdência social: homenagem a Armando Casimiro
Costa. São Paulo: LTr, 2015.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 32ª ed. São Paulo: Atlas, 2015.
223
______. Fundamentos da seguridade social. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. 159p.

224
ANEXO I – PLANO DE CURSO (MATUTINO)

Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior


Centro Universitário de Mineiros
Unidade Básica das Humanidades
Curso de Direito
Plano de Curso: 2016-2

Disciplina: Direito da Seguridade Social


Período: 10º (Matutino)
Carga Horária Semanal: 04 Carga Horária Total: 72
Professor (a): Guilherme Sousa Borges
Formação: Bacharel em Direito
Titulação: Especialista

1.0. EMENTA

Histórico da Previdência Social. A Previdência Social no Brasil. Benefícios. Custeio. Prestações.


Noções de Acidentes do Trabalho. Repercussões no Contrato de Trabalho. Noções de Segurança e
Medicina do Trabalho.

2.0. OBJETIVOS DA DISCIPLINA

Propiciar uma visão geral e crítica acerca do Sistema de Seguridade Social Brasileiro, e qualificar
profissionais para a atuação, no campo administrativo e judicial, em defesa da sociedade e dos
cidadãos nas questões previdenciárias.

3.0. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO TEÓRICO-PRÁTICO


3.1. DISCRIMINAÇÃO DO CONTEÚDO

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P


01 Aula inaugural: apresentação do plano de curso e dos critérios de avaliação. 2
05 Disposições iniciais sobre a matéria: conceito; contexto 2
político/histórico/social; breve histórico mundial.
08 Disposições iniciais sobre a matéria: A Seguridade Social no Brasil: contexto 2
político/histórico/social; organização e princípios constitucionais.
12 Disposições iniciais sobre a matéria: A Seguridade Social na Constituição 2
Agosto

(principais dispositivos); o Direito Previdenciário brasileiro: objeto de estudo


e divisão didática do conteúdo.
15 Disposições iniciais sobre o Regime Geral de Previdência Social - RGPS;
2
princípios específicos.
19 Segurados do RGPS: segurados obrigatórios e segurados facultativos. 2
22 Segurados do RGPS: filiação e inscrição; tomadores de serviço. 2
26 Exercícios de fixação; revisão do conteúdo. 2
29 Correção dos exercícios; revisão do conteúdo. 2

T = Teoria P = Prática
Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P
Setem

02 Plano de Custeio da Seguridade Social: disposições iniciais. 2


bro

05 Salário de contribuição: noções iniciais e definição; delimitação; limites; 2


225
composição.
09 Contribuição dos segurados. 2
12 Contribuição dos tomadores de serviço. 2
16 Contribuições substitutivas da parte patronal; outras receitas da Seguridade 2
Social.
19 Atividade em grupo: estudo de casos concretos sobre o conteúdo apresentado. 2
23 Atividade em grupo: discussão sobre os casos concretos estudados. 2
26 Disposições finais acerca do Plano de Custeio da Seguridade Social. 2
30 Plano de benefícios da Previdência Social: disposições iniciais (beneficiários 2
da Previdência Social; prestações previdenciárias).

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P


03 Qualidade de segurado; carência; salário de benefício; fator previdenciário;
2
renda mensal inicial.
07 Aposentadorias por invalidez, por idade, por tempo de contribuição e especial. 2
10 Salário-família, salário-maternidade. 2
Outubro

14 Auxílio-doença (noções de acidente do trabalho, moléstias ocupacionais e 2


eventos equiparados), auxílio-acidente.
17 Pensão por morte, auxílio-reclusão, benefício de prestação continuada 2
(LOAS).
21 Disposições gerais acerca do plano de benefícios. 2
24 Exercícios de fixação; revisão do conteúdo. 2
28 Correção dos exercícios; revisão do conteúdo. 2

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático. T P


07 Discussão sobre as alterações legislativas no âmbito da Seguridade Social. 2
11 Repercussões do RGPS no contrato de trabalho. 2
Novembro

18 Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos. 2


21 Crimes previdenciários. 2
25 Processos Administrativo e Judicial previdenciários. 2
28 Disposições finais sobre a disciplina e discussão sobre o conteúdo ministrado 2

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P


02 Revisão do conteúdo. 2
Dezembro

05 Exercícios em sala de aula sobre o conteúdo ministrado. 2


09 Correção e entrega dos exercícios. 2
12 Revisão final do conteúdo ministrado. 2

4.0. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS TEÓRICO-PRÁTICOS

Aulas teóricas expositivas e dialogadas.


Aulas práticas com aplicação de exercícios, estudo dirigido, estudo de casos concretos, etc.

226
5.0. ESTRATÉGIAS DE ENSINO
5.1. DESCRIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS

Adotar um método de ensino coordenado e sequencial em relação ao conteúdo programático, de modo


a possibilitar um entendimento globalizado da disciplina por parte do aluno.
Provocar a participação dos alunos em relação aos temas abordados em sala de aula, como método de
facilitar a memorização do acadêmico sobre os referidos temas.

6.0. RECURSOS DIDÁTICOS


6.1. DESCRIÇÃO DOS RECURSOS

Anotações no quadro de sala de aula; utilização de recursos tecnológicos; utilização de material de


apoio (apostila) para o acompanhamento das aulas.

7.0. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO


7.1. DESCRIÇÃO DOS CRITÉRIOS

O sistema de avaliação será dividido em duas etapas em cada bimestre, a saber:

a) Aplicação de trabalhos e atividades em sala de aula, que corresponderão a 30 % (trinta por


cento) do valor da nota de cada bimestre.
b) Aplicação de uma avaliação individual ou em grupo sobre o conteúdo acumulado, que
corresponderá a 70% (setenta por cento) do valor da nota de cada bimestre.

8.0. BIBLIOGRAFIA
8.1. BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. Organização: Odete Medauar. 15ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
1116p.
BRASIL. Legislação previdenciária. Organização: VIEIRA, Vinícius; TANACA, Priscila. São Paulo:
Quatier Latin, 2015.
KERTZMAN, Ivan Mascarenhas. Curso prático de direito previdenciário. Bahia: Juspodivm, 2015.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 32ª ed. São Paulo: Atlas, 2015.
MARTINS, Sérgio Pinto. Fundamentos da seguridade social. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. 159p.
AMADO, Frederico. Direito e Processo Previdenciário Sistematizado. Salvador, Jus Podivm. 2015.

8.2. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Publicações científicas atualizadas na área da disciplina, por exemplo: livros, legislações, artigo e/ou
matéria de revista científica, periódicos especializados, publicações de eventos científicos anuais,
biblioteca on-line (link da UNIFIMES) e acervo virtual: Capes, Google Acadêmico, SciELO, entre
outros.

8.3. BIBLIOGRAFIA ADICIONAL


AMADO, Frederico. Legislação Previdenciária para concursos: Doutrina, Jurisprudência e Questões
de Concursos. 3ª Ed. Salvador: Jus Podivm, 2015.
KERTZMAN, Ivan; CYRINO, Sinésio. Salário-de-contribuição: A base de cálculo previdenciária das
empresas e dos segurados. 2ª Ed. Salvador: Jus Podivm, 2010.
CARDONE, Marly A.. Previdência Social e Contrato de Trabalho: relações. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito Previdenciário. 11ª Ed. São Paulo: Método,
2015.

227
MARTINEZ, Wladimir Novaes; BALERA, Wagner; MARTINS, Ives Gandra da. História, custeio e
constitucionalidade da previdência social: homenagem a Armando Casimiro Costa. São Paulo: LTr,
2015.
Mineiros - GO, 01 de agosto de 2016.

Guilherme Sousa Borges Rômulo Renato Cruz Santana


Professor Coordenador do Curso de Direito

228
ANEXO II – PLANO DE CURSO (NOTURNO)

Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior


Centro Universitário de Mineiros
Unidade Básica das Humanidades
Curso de Direito
Plano de Curso: 2016-2

Disciplina: Direito da Seguridade Social


Período: 10º (Noturno)
Carga Horária Semanal: 04 Carga Horária Total: 72
Professor (a): Guilherme Sousa Borges
Formação: Bacharel em Direito
Titulação: Especialista

3.0. EMENTA

Histórico da Previdência Social. A Previdência Social no Brasil. Benefícios. Custeio. Prestações.


Noções de Acidentes do Trabalho. Repercussões no Contrato de Trabalho. Noções de Segurança e
Medicina do Trabalho.

4.0. OBJETIVOS DA DISCIPLINA

Propiciar uma visão geral e crítica acerca do Sistema de Seguridade Social Brasileiro, e qualificar
profissionais para a atuação, no campo administrativo e judicial, em defesa da sociedade e dos
cidadãos nas questões previdenciárias.

3.0. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO TEÓRICO-PRÁTICO


3.1. DISCRIMINAÇÃO DO CONTEÚDO

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P


04 Aula inaugural: apresentação do plano de curso e dos critérios de avaliação. 2
05 Disposições iniciais sobre a matéria: conceito; contexto 2
político/histórico/social; breve histórico mundial.
11 Disposições iniciais sobre a matéria: A Seguridade Social no Brasil: contexto 2
político/histórico/social; organização e princípios constitucionais.
12 Disposições iniciais sobre a matéria: A Seguridade Social na Constituição 2
Agosto

(principais dispositivos); o Direito Previdenciário brasileiro: objeto de estudo


e divisão didática do conteúdo.
18 Disposições iniciais sobre o Regime Geral de Previdência Social - RGPS;
2
princípios específicos.
19 Segurados do RGPS: segurados obrigatórios e segurados facultativos. 2
25 Segurados do RGPS: filiação e inscrição; tomadores de serviço. 2
26 Exercícios de fixação; revisão do conteúdo. 2

T = Teoria P = Prática
Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P
Setembro

01 Correção dos exercícios; revisão do conteúdo. 2


02 Plano de Custeio da Seguridade Social: disposições iniciais. 2
08 Salário de contribuição: noções iniciais e definição; delimitação; limites; 2
229
composição.
09 Contribuição dos segurados. 2
15 Contribuição dos tomadores de serviço. 2
16 Contribuições substitutivas da parte patronal; outras receitas da Seguridade 2
Social.
22 Atividade em grupo: estudo de casos concretos sobre o conteúdo apresentado. 2
23 Atividade em grupo: discussão sobre os casos concretos estudados. 2
29 Disposições finais acerca do Plano de Custeio da Seguridade Social. 2
30 Plano de benefícios da Previdência Social: disposições iniciais (beneficiários 2
da Previdência Social; prestações previdenciárias).

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P


06 Qualidade de segurado; carência; salário de benefício; fator previdenciário;
2
renda mensal inicial.
07 Aposentadorias por invalidez, por idade, por tempo de contribuição e especial. 2
13 Salário-família, salário-maternidade. 2
Outubro

14 Auxílio-doença (noções de acidente do trabalho, moléstias ocupacionais e 2


eventos equiparados), auxílio-acidente.
20 Pensão por morte, auxílio-reclusão, benefício de prestação continuada 2
(LOAS).
21 Disposições gerais acerca do plano de benefícios. 2
27 Exercícios de fixação; revisão do conteúdo. 2
28 Correção dos exercícios; revisão do conteúdo. 2

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático. T P


10 Discussão sobre as alterações legislativas no âmbito da Seguridade Social. 2
11 Repercussões do RGPS no contrato de trabalho. 2
Novembro

17 Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos. 2


18 Crimes previdenciários. 2
24 Processos Administrativo e Judicial previdenciários. 2
25 Disposições finais sobre a disciplina e discussão sobre o conteúdo ministrado. 2

Mês Dia Cronograma do Conteúdo Programático T P


01 Revisão do conteúdo. 2
Dezembro

02 Exercícios em sala de aula sobre o conteúdo ministrado. 2


08 Correção e entrega dos exercícios. 2
09 Revisão final do conteúdo ministrado. 2

5.0. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS TEÓRICO-PRÁTICOS

Aulas teóricas expositivas e dialogadas.


Aulas práticas com aplicação de exercícios, estudo dirigido, estudo de casos concretos, etc.

230
5.0. ESTRATÉGIAS DE ENSINO
5.1. DESCRIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS

Adotar um método de ensino coordenado e sequencial em relação ao conteúdo programático, de modo


a possibilitar um entendimento globalizado da disciplina por parte do aluno.
Provocar a participação dos alunos em relação aos temas abordados em sala de aula, como método de
facilitar a memorização do acadêmico sobre os referidos temas.

6.0. RECURSOS DIDÁTICOS


6.1. DESCRIÇÃO DOS RECURSOS

Anotações no quadro de sala de aula; utilização de recursos tecnológicos; utilização de material de


apoio (apostila) para o acompanhamento das aulas.

7.0. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO


7.1. DESCRIÇÃO DOS CRITÉRIOS

O sistema de avaliação será dividido em duas etapas em cada bimestre, a saber:

c) Aplicação de trabalhos e atividades em sala de aula, que corresponderão a 30 % (trinta por


cento) do valor da nota de cada bimestre.
d) Aplicação de uma avaliação individual ou em grupo sobre o conteúdo acumulado, que
corresponderá a 70% (setenta por cento) do valor da nota de cada bimestre.

8.0. BIBLIOGRAFIA
8.1. BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. Organização: Odete Medauar. 15ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
1116p.
BRASIL. Legislação previdenciária. Organização: VIEIRA, Vinícius; TANACA, Priscila. São Paulo:
Quatier Latin, 2015.
KERTZMAN, Ivan Mascarenhas. Curso prático de direito previdenciário. Bahia: Juspodivm, 2015.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 32ª ed. São Paulo: Atlas, 2015.
MARTINS, Sérgio Pinto. Fundamentos da seguridade social. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. 159p.
AMADO, Frederico. Direito e Processo Previdenciário Sistematizado. Salvador, Jus Podivm. 2015.

8.2. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Publicações científicas atualizadas na área da disciplina, por exemplo: livros, legislações, artigo e/ou
matéria de revista científica, periódicos especializados, publicações de eventos científicos anuais,
biblioteca on-line (link da UNIFIMES) e acervo virtual: Capes, Google Acadêmico, SciELO, entre
outros.

8.3. BIBLIOGRAFIA ADICIONAL


AMADO, Frederico. Legislação Previdenciária para concursos: Doutrina, Jurisprudência e Questões
de Concursos. 3ª Ed. Salvador: Jus Podivm, 2015.
KERTZMAN, Ivan; CYRINO, Sinésio. Salário-de-contribuição: A base de cálculo previdenciária das
empresas e dos segurados. 2ª Ed. Salvador: Jus Podivm, 2010.
CARDONE, Marly A.. Previdência Social e Contrato de Trabalho: relações. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito Previdenciário. 11ª Ed. São Paulo: Método,
2015.

231
MARTINEZ, Wladimir Novaes; BALERA, Wagner; MARTINS, Ives Gandra da. História, custeio e
constitucionalidade da previdência social: homenagem a Armando Casimiro Costa. São Paulo: LTr,
2015.
Mineiros - GO, 01 de agosto de 2016.

Guilherme Sousa Borges Rômulo Renato Cruz Santana


Professor Coordenador do Curso de Direito

232

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