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Requalificação urbana e turismo

O Papel do Plano de Urbanização da baixa como modelo de gestão


João T. Tique, Director da Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico da UEM (04-12-17),
Maputo – Intervenção para o Forum do Turismo

Começo por agradecer em nome da Universidade Eduardo Mondlane e particularmente da Faculdade


de Arquitetura, o convite para participar e intervir neste importante evento que trata do turismo, sector
que é sem duvida uma das áreas de maior destaque nos esforços de dinamização da economia nacional
na direção de um futuro melhor para todos.

Quero realçar e saudar os intervenientes que me antecederam. A temática escolhida para o lançamento
do fórum do turismo foi profunda e largamente explicitadas nas suas intervenções. Estamos
elucidados sobre a visão e estratégias estabelecidas por diferentes entidades para as intervenções de
revitalização da baixa de Maputo em prol de mais turismo.

Os conteúdos já apresentados chamam-nos a atenção para o deficit evidente no que diz respeito a
divulgação e a apropriação pelos cidadãos, dos planos e programas já assumidos pelo poder público.
O Plano de Urbanização da Baixa de iniciativa do Conselho Municipal de Maputo, onde tivemos o
privilégio de participar como a contraparte moçambicana em nome do Centro de Estudos da
Faculdade de Arquitectura, é um instrumento valioso de grande qualidade e uma base eficiente para
orientar a revitalização da baixa.

Temos a consciência das insuficiências em recursos que abalam todos os sectores no país. Frustra-nos
igualmente a não apropriação pelos Municípios dos planos urbanísticos que tem sido realizado um
pouco por todo o país. Percebemos que esta apropriação passa por reforçar a capacidade de gestão e
de operação dos sectores responsáveis pelo ordenamento e transformação do território nas zonas
urbanas do país.

As intenções do Plano de Urbanização da Baixa e do Porto de Maputo merecem estar na agenda


permanente dos responsáveis pela revitalização e requalificação daquela zona que constitui a génese
desta cidade.

Na literatura consultada é recorrente a ilação de que, para que o turismo promova o desenvolvimento
de uma dada região, faz-se necessária a adoção de uma série de medidas de (re) estruturação dos

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destinos no que diz respeito a equipamentos básicos e de apoio, infraestrutura urbana e de turismo,
atrativos turísticos, serviços e produtos, envolvimento da comunidade local na atividade em todos os
níveis de decisões e operações referentes à atividade.

Reforçando o que já foi dito e socorrendo-me no diagnóstico do Plano de Urbanização, a Baixa é um


centro de múltiplos usos, funcionando ainda como a principal centralidade desta cidade, destino
principal de parte considerável da população da área metropolitana, daí esta zona constituir um pólo
de actividades geradoras de grandes deslocações.

A Baixa está saturada e congestionada por fraco transporte público, excesso de veículos particulares e
falta de espaco de estacionamento.

A Baixa tem poucas residências, tem muito uso industrial, tem a principal actividade logística da região.

O Plano de Urbanização indica que Maputo começou na Baixa/a Baixa é o registo físico da história e
da memória da cidade.

São destacáveis os edifícios em Colunata 1895-1960 caracterizados por uma série de colunas sobre o
passeio público, com varandas por cima, uma forma arquitectónica de grande importância para
utilizadores da Baixa durante muitos anos, com colunas em ferro fundido ou betão, algumas com
excepcionais detalhes construtivos; Os edifícios de Inspiração Art Decô (aprox 1930-1955) Entre as
melhores, possivelmente a melhor, colecção de edifícios Art Deco em África, os edifícios modernistas
(aprox 1930-1970) edifícios altos em estilo modernista desenhados por arquitectos portugueses, entre
os quais o mais conhecido foi Pancho Guedes.

Espaços Públicos com papel chave na história da cidade, e na vida social e cultural actual, cuja
importância é por vezes não reconhecida, acabando dominados por trânsito e estacionamento. Estes
espaços têm um grande potencial para desempenhar papel chave num futuro sustentável para Baixa.
Temos também Estatuas e Monumentos que comemoram eventos importantes da história, servindo
de lembrança diária ao povo da sua herança passada

O Património histórico e cultural da Baixa é importante para Maputo por razões intangíveis (história
da cidade, uso quotidiano) e tangíveis (qualidade da forma urbana e arquitectura, qualidade dos espaços
públicos). O Património é fundamental para criar a identidade da cidade e dos cidadãos, e para a
consolidação de Maputo como uma cidade de referência na África Sub-sahariana. A conservação,
valorização e boa gestão do Património podem trazer grandes benefícios económicos e sociais a longo

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prazo a todos os cidadãos, incluindo a criação de oportunidades de trabalho, de negócios e de turismo,
e o melhoramento da qualidade do espaço urbano.

É importante reter que o carácter histórico da Baixa é o que torna Maputo uma cidade única. Os
edifícios patrimoniais são partes vivas da cidade. É fundamental proteger bens históricos de serem
demolidos e especificar como os edifícios podem ser reutilizados. O Plano de Urbanização do
Município de Maputo bem como o Ministério de Cultura e Turismo possuem informação
sistematizada e directivas claras sobre o Patrimônio Histórico cultural.

Em termos de Infraestrutura, a cobertura da rede de agua dentro da Baixa é quase 100%. Nos
próximos 5-10 anos a taxa de crescimento será superior da capacidade de distribuição da rede de agua.
A cobertura do sistema de drenagem é alta, mas a capacidade de gestão das águas pluviais é baixa. Isto
frequentemente resulta em inundações durante as fortes chuvas. O sistema de saneamento é o mais
antigo da cidade. É composto por fossas sépticas para as águas residuais, que descarregam na Baía de
Maputo.

A malha urbana é boa; 40% da área é espaço livre. Problemas de congestionamento são devidos a
gestão, não na falta de espaço. Não há necessidade de investimento em novas estradas.

Os novos projetos de desenvolvimento devem considerar a capacidade existente da rede de água e


determinar o tamanho de expansão da rede necessária.

Os Projectos de Transporte Público (Metro, BRT) são bons e a conexão com Matola irá aumentar a
actividade económica e acesso a serviços, mas pode não resolver os problemas de transporte na sua
totalidade.

O estacionamento deve ser contemplado desde uma perspectiva estratégica, em conjunto com uso do
solo. Deve ser consolidado em pontos de alta actividade.

Espaço público, comércio informal e estações de transporte público devem ser abordados em
conjunto.

Outro tema de destaque no Plano de Urbanização é o Comercio Informal. Estima-se que a economia
informal empregue na Baixa entre 2,000 – 5,000 vendedores de rua. O sector informal em Maputo e
na Baixa é um elemento fundamental para a subsistência e a segurança das classes de renda mais baixa.
Existe uma estreita relação entre transporte público, circulação pedonal e comércio informal. A
contribuição anual estimada da economia informal ao GDP da Baixa é de quase US $ 60 milhões.

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O Plano insiste que o Comercio Informal deve ser organizado, não eliminado. Existe uma estreita
relação entre transporte público, circulação pedonal e comércio informal. Organizar comércio
informal articulando-o com terminais de transporte e fluxos de circulação de pessoas. Mercados
requerem espaço público; as receitas dos vendedores informais dependem dos peões transeuntes.

O Plano tem igualmente directrizes de controlo do desenvolvimento que perspectivam a coerência às


alturas dos edifícios, à densidade de ocupação do solo e a outros parâmetros da forma urbana. O plano
permite aos investidores informação sobre como o solo pode ser utilizado habilitando oportunidades
numa perspectiva integrada.

Caros participantes
O disgnóstico está feito. Temos estratégia de intervenção para as transformações multissectorial,
temos um regulamento assumido pelo Município, Carecemos da institucionalização da sua
operacionalização.
Necessitamos de reforçar a clareza sobre o papel de cada um dos agentes responsáveis pela gestão e
transformação da baixa

O processo de apropriação da baixa pelo turismo exige dos gestores públicos e promotores do turismo
o desenvolvimento de medidas relacionadas à readequação e revalorização do patrimônio cultural dos
espaços centrais urbanos das cidades de forma a proporcionar o consumo globalizado de espaços
eleitos pelas suas singularidades.

Exige medidas enérgicas para trazer a segurança para a zona. A baixa não pode ser somente diurna,
ela precisa da noite com a mesma exuberância baseada em actividades apropriadas. A vida cultural e
lúdica deve regressar a baixa. A baixa tem de atrair muito mais residentes. O desenvolvimento
imobiliário deve ter em conta não só a oferta de escritórios e espaços comerciais. Ela deve apostar
seriamente na habitação.

Termino apelando para uma maior divulgação do Plano de Urbanização e de outras iniciativas
existentes de modo a sua apropriação abrangente dos utentes desta cidade.

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