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Pequeno catecismo do noivado

Pe. Ricardo Olmedo Professor de Moral no Seminário


Internacional Nossa Senhora Corredentora

Todo jovem, num determinado momento da vida, coloca-se a questão


do caminho a escolher para o futuro. Há perguntas que a natureza e o
próprio Deus impõem à alma e esta deve responder: Que rumo tomará
minha vida amanhã? De que maneira concreta vou servir a Deus?
Qual será de fato o caminho pelo qual vou me salvar?

Perguntas obrigatórias, às quais cada um – homem ou mulher – deve


responder sozinho, diante de Deus, em certo momento da vida.
Decisão muito pessoal em que está em jogo sua vida, sua salvação.

Ninguém pode substituí-lo nessa tarefa, nem pais, nem irmãos, nem
amigos, nem psicólogos ou psiquiatras, nem sequer seu confessor.

Claro que ele pode e deve pedir conselhos. Mas a decisão é pessoal,
perante Deus. Por isso é bom fazer um retiro, para descobrir o estado
de vida ao qual Deus nos chama.

Não se trata de escolher uma profissão: advogado, médico,


comerciante, empresário, desportista ou costureira…

O estado de vida é algo muito maior, mais delicado, porque implica


uma certa imobilidade, é algo permanente, dificilmente passível de
mudança, que implica um modo determinado de viver as coisas que
são fundamentais na vida. E de certo modo algo definitivo em termos
pessoais, diante da sociedade e perante Deus.

Por isso, a decisão precisa ser sincera, generosa, tomada com


seriedade.

Os caminhos que se apresentam antes dessa decisão são vários:


formar uma família, isto é, o matrimônio; entrar em um convento,
abraçando a vida religiosa; fazer-se sacerdote, ou seja, seguir a
vocação sacerdotal se for homem; enfim, permanecer como está, isto
é, solteiro, que também pode vir a ser uma verdadeira vocação.

Nestas palestras não se trata de considerar nenhuma dessas


hipóteses; vamos nos ocupar de outro assunto, também muito
importante por tudo o que acarreta: o noivado.

Certamente, o noivado não é um estado de vida, porque não é algo


permanente (apesar de sempre terem existido e continuarem a existir
os “noivos eternos”). Noivar não é escolher uma vocação (mesmo que
pareça haver pessoas que o considerem como uma vocação e nunca
se decidam a passar do noivado às responsabilidades do matrimônio).

O noivado supõe que a escolha do estado de vida já tenha sido feita:


ou seja, que já se tenha escolhido o casamento depois de um exame
sério e maduro, numa decisão muitíssimo pessoal (mesmo tendo sido
necessário pedir conselhos aos pais, ao confessor…) diante de Deus,
da família e da própria sociedade, ainda que a decisão permaneça no
íntimo do coração.

Antes de penetrarmos no nosso tema, acrescentemos algumas


considerações sobre a escolha do estado de vida para que vejamos
que se trata de algo importante, que deve ser obrigatoriamente
pensado com seriedade por todos os jovens.

A vocação para um estado de vida (qualquer um dos que


mencionamos: matrimônio, vida religiosa, sacerdócio, inclusive o
celibato) é um chamado de Deus, é uma graça.

Se Deus chama, tem suas razões e concederá as graças necessárias.


Além disso, uma vez dada a vocação, Deus jamais vai retirá-la, a
menos que sejamos incapazes ou indignos dela.

Para conhecer a vocação deve-se consultar a Deus, ao confessor, a si


próprio, considerar suas inclinações e capacidades. A escolha do
estado necessita de muita oração, e uma vez que se viu claramente o
que Deus quer, uma decisão irrevogável deve ser tomada.
Aqui estamos em nosso assunto. Alguém pode dizer-me: “Padre, eu
estou certa de que Deus me chama ao matrimônio, mas não aparece
o noivo…”.

Cabe aqui uma primeira advertência, um primeiro princípio por assim


dizer, sobre o noivado: dizendo que estou seguro de que Deus me
chama ao matrimônio porque meditei, consultei, rezei e considerei as
diferentes possibilidades, isso significa que já tenho idade suficiente e
que decidi meu estado de vida.

É absurdo e antinatural o namoro em tenra idade. Isso só causa danos


à alma, muitas vezes irreparáveis. Quantos pais felicitam seus filhos
ainda em idade escolar porque já estão namorando, sem dar-se conta
da responsabilidade que têm e dos pecados que fomentam ao
permitirem nessa idade namoros tão fáceis.

Retomaremos o assunto da idade mais à frente.

Façamos aqui uma advertência: em geral, a mulher “espera” o noivo e


não sai para “buscá-lo” e há quem espera por muitos anos, como as
“senhoritas” de oitenta e poucos…

Algumas jovens têm verdadeira fobia de permanecerem solteiras. O


conselho é não desesperar, não cair em inquietudes excessivas, nem
angústias. Vivendo nesse medo contínuo de não encontrar noivo,
acabam afastando de si, sem querer, aquele que poderia ser o esposo
destinado por Deus para elas: por que? Porque quando se encontram
com um possível “candidato” manifestam tanta excitação e dão tantas
manifestações de “querer” casar-se, que os jovens acabam julgando-
as superficiais, fingidas, afetadas ou meio levianas. Resumindo, a
única coisa que conseguem é fazerem-se menos respeitadas, menos
capazes de despertar um verdadeiro amor.

Uma conduta mais discreta, mais prudente, mais cristã favorecerá com
mais êxito o cumprimento de suas expectativas, de seus desejos.

Mas às vezes, a juventude vai passando e começam a aparecer os


cabelos brancos da velhice e continua-se esperando…
Em todo caso, a “espera”, que termina em matrimônio ou decepção, é
um período crítico que algumas mulheres devem atravessar.

A mulher, nesse caso, deve pensar, cristãmente, que não está nesta
vida para “casar-se” mas para ganhar o céu, para conseguir a
felicidade eterna.

Por que então se preocupar e talvez fazer loucuras em relação ao que


é somente uma maneira, um meio, uma vida entre tantas que Deus
oferece para chegarmos a Ele?

O que quero dizer é que Deus talvez queira prová-las neste estado de
“espera” durante toda a vida…

O Cardeal Goma, primado da Espanha durante a guerra civil


espanhola, dizia sobre o tema: “consulte, interrogue, reze a Deus,
espere: o noivo chegará a seu tempo. Se não chegar, não sofra: é que
talvez a senhorita sofreria mais se ele viesse. E Deus e seu anjo da
guarda querem livrá-la de uma vida amarga”.

Se entendermos estas verdades, abraçaremos com entusiasmo a vida


escolhida por Deus, que pode até vir a ser o sacrifício da “vocação
matrimonial” e nos preocuparemos em cumprir a “vontade divina do
momento presente”, até o dia em que, cedo ou tarde, um novo
chamado nos encaminhe para uma nova vida…, a verdadeira vida, a
vida eterna.

Vamos então entrar em nosso tema, o noivado: sua natureza,


condições, duração, etc.

Vamos nos casar. Deus nos chama para colaborar em sua obra
criadora por meio deste sacramento tão grande, por meio deste estado
de vida que é o matrimônio.

Vamos nos casar com o primeiro que se apresentar a nós? O primeiro


homem que nos diga coisas lindas será nosso marido, nosso esposo
por toda a vida? Meu futuro marido deve ser um bom moço,
endinheirado e capaz de satisfazer todos os meus gostos? Ou quem
sabe não seria melhor experimentar, namorar um tempo com um,
depois com outro e outro?

Essas perguntas, em geral muito mal respondidas, indicam que pouco


ou nada sabemos sobre o que é o noivado, que pouco ou nada
sabemos sobre o que diz a Igreja sobre isso: o noivado deve ser
sempre santo…

Em tempos passados, o assunto “noivado” era considerado com mais


severidade. Os costumes de nossos avós e tataravós não são mais os
de nossa época: a preparação para o matrimônio, a própria escolha do
futuro esposo(a), dependiam mais dos pais do que dos próprios
interessados, tornando desnecessário o encontro freqüente entre os
noivos…

Hoje em dia, esses costumes desapareceram, mas os princípios


morais que devem ser respeitados, não.

Vejamos então o que é o noivado, com quem se pode noivar, como


deve ser o noivado, quando noivar, quanto tempo…

O que é o noivado?

Certo autor, querendo explicar em que consistia o noivado, começou


por dizer o que ele não era:

* não é o recurso mais eficaz contra a monotonia, a chateação, porque


para isso existem remédios especiais mais baratos, com mais garantis
e mais agradáveis. E sobre esse ponto acrescentava: “se te
aborreces, pelo amor de Deus, não recorras ao amor artificial porque,
como o cristal, o aço e o alcantil artificiais, é tudo mentira e se acaba
logo…”

* tampouco é o prêmio que se dá aos jovens aprovados no


vestibulares. Esta aprovação dá o direito ao novo universitário de
reclamar do irmãozinho que chateia porque quer jogar com ele, – “que
praga que você é, não te metas com os grandes”, ou para a avó que o
olha abobada e orgulhosa – “a Faculdade é uma chateação”, porém
não concede o direito de ter uma noiva no sentido verdadeiro da
palavra. Normalmente o que acontece é que ele ou ela se
“estupidificam” pensando o dia inteiro um no outro, respondendo à
mãe com monossílabos quando esta lhes pergunta algo. Ah! Humm!
Riem às gargalhadas com as palavras do príncipe encantado que lhes
chegam por meio daquele aparelhinho chamado telefone que
concentra sua atenção durante muito de seu tempo.

O noivado também não é um castigo de Deus para os que não


conseguem passar no primeiro ano de faculdade. Deus castiga os
vadios, mas nunca tão duramente. Se não foi aprovado no primeiro
ano, tenha piedade de si e recorra ao estudo…, dizia o autor.

O noivado, concluía ele, é algo como um contrato entre um rapaz e


uma moça que pretendem fazer uma sociedade,
edificar/comprar/alugar uma casinha/apartamento, enchê-las de filhos
e complementar-se como as duas metades de uma laranja (em São
Paulo: como a panela e sua tampa; como a mão e a luva) por
“secula/seculorum“.

A coisa é séria. Podemos dizer que o noivado é um estado preliminar


ao matrimônio, uma familiaridade e conversação contínua entre um
homem e uma mulher a fim de preparar-se para um futuro casamento.

Etapas prévias

As coisas grandiosas não acontecem num só dia. Precisam de tempo,


de preparação, de etapas. A vida conjugal é uma dessas coisas
grandiosas; portanto, é preciso chegar a ela passo a passo.

Esta preparação começa na adolescência. Não é ainda o noivado,


mas a maneira com que se tratam jovens de um e outro sexo…

Este contato é natural e necessário não somente para conhecer o


outro sexo, mas para conhecer-se a si mesmo, para estudar suas
próprias reações e atitudes com os demais.
Uma evolução normal de qualquer jovem necessita desse contato. A
partir de que idade? Desde os dezessete anos aproximadamente.

Este contato, especialmente no início, deve ser em grupos, não em


particular, a sós.

“Se não queres fazer-te desgraçada – afirmava um sacerdote num


livro dedicado às adolescentes – até que atinjas a idade conveniente…
segue este conselho: “todas com todos e com ninguém”. E
acrescentava: “E não te esqueças: que tua mãe sempre saiba de tudo
e conta tudo a ela“.

Além disso, para que essas reuniões sejam efetivas, para que ajudem
à própria formação e evitem perigos, não devem ser motivadas pelo
simples encontro ou entretenimento mútuo. É melhor que tenham
outro fim, como cultural, beneficente, etc.

Por que? Porque em tais circunstâncias, os jovens deixam


transparecer facetas de sua personalidade e surgem mais motivos
para conhecer-se. Caso contrário, pode se tratar somente de “causar
boa impressão” e para isso “camuflar” elementos importantes de sua
maneira de ser…

Em grupo, é inevitável que se dê a conhecer os aspectos de seu modo


de ser. As intervenções, responsabilidades, pequenas colaborações e
demais circunstâncias, permitem que se vá conhecendo a
personalidade, o caráter, capacidades de cada um, pois essas
atividades fazem com que esteja ali para algo além de “ser visto”…

Encontrando-se

Mais tarde, um jovem e uma jovem começam a encontrar-se.


Encontrar-se não é o noivado, mas pode ser um prelúdio…

Aqueles que começam a encontrar-se, só como amigos, devem estar


convencidos de que isso não lhes dá nenhum direito a nada e que,
além disso, não se trata de uma diversão ou de uma brincadeira, mas
de algo mais sério.
Esta etapa é lícita contanto que haja motivos honestos e dignos e não
se trate de pura “diversão”, passatempo ou namoricos. Essa intenção
desvirtuada transformaria as saídas num “jogo falso”, que além de
graves conseqüências morais, pode acarretar graves conseqüências
psicológicas.

A reta intenção permite que seja um período de muita formação, pois


dá ocasião para exercitar a sinceridade, a nobreza, a generosidade, a
delicadeza. Também é ocasião de prova de moralidade e força de
vontade…

Permite um conhecimento mútuo em vista de uma futura relação mais


duradoura, o noivado. Mas isso deve ser feito com prudência: não é
bom passar tão depressa a esse estado mais formal e próximo ao
casamento.

Também é importante saber que, se tais encontros começaram com


nobreza, sinceridade, lealdade e valor, também devem terminar com a
mesma nobreza, sinceridade, lealdade e prontidão, separando-se caso
vejam que esse relacionamento não deva continuar… Inclusive é um
dever “romper” antes que o coração se tenha entregado demais ou
possa causar em um dos dois, ou em ambos, feridas consideráveis.

Está subentendido que a lealdade, a delicadeza, obrigam a uma


especial discrição e segredo recíproco acerca das confidências
mútuas que se possa haver…

Brincar de amor

As brincadeiras de amor, os “namoricos” como se chamavam


antigamente essas relações superficiais, sem profundidade, sem
intenção alguma de casar-se, puramente sensuais e sentimentais, são
sempre condenáveis. A vida não pode queimar-se no fogo de um amor
por passatempo.

É o amor sem compromissos nem responsabilidades; é o tobogã para


os pecados graves contra a pureza; é abrir as portas para as ocasiões
mais abomináveis e afastadas do verdadeiro amor cristão que diz
respeito a compromissos definitivos, sacrifícios, renúncias, dom
verdadeiro de si mesmo.

Esse tipo de namoro sem compromissos é a caricatura do amor de


acarreta os piores males, destrói a verdadeira capacidade de amar e
deixa suas feridas psicológicas de frustração, desencanto e amargura.

Muitas vezes também danos morais irreparáveis, ou talvez, a


“surpresa” de um filho, fruto de aventuras que nunca deveria ter sido
imaginadas.

E as mais prejudicadas são as mulheres, não os homens.

Os homens, levados por suas paixões, gostam desses namoros. Mas


na hora da verdade, quando encontram uma moça enérgica que se
recusa a estas “brincadeiras”, mesmo que no momento fiquem
aborrecidos, passam a ter particular respeito, admiração por ela e as
apreciam muito mais.

A mulher, por sua natureza, por sua sensibilidade, se crê amada,


sonhou ilusões e tudo termina em uma brincadeira que destroça seu
coração. E se isso acontece não só uma, mas várias vezes, além de
tornar-se incapaz de amores superiores, seu caráter se crispa, seu
humor se modifica e ela se torna triste e insegura.

Deve-se fugir então deste tipo de relações, muito fáceis hoje em dia
nos ambientes de estudo, de trabalho nos escritórios, nas empresas,
como secretárias, empregadas, etc., que colocam a jovem em contato
permanente com rapazes, na maioria das vezes, pouco dados a
cumprir com seus deveres de cristão e quase sempre mal
intencionados!

Um bom conselho: nada de conversações sentimentais, nada de


intimidades e confidências de nenhum tipo, nada de carinhos com
homens com quem mais tarde não poderá se casar. Não tenha
intimidades a não ser com aquele jovem com o qual pensa e pode
casar-se.
Saíram juntos… e então…

O noivado

Não é feminino tomar a iniciativa nas declarações de amor…

Fazê-lo descaradamente provoca no homem o complexo de ter sido


“fisgado”. A arte da mulher é fazer-se escolher. Insinuar, oferecer-se
descaradamente, rebaixa o valor da mulher. O homem gosta de
conquistar e não de ser conquistado, agarrado como um passarinho.
Está na natureza das coisas…

Mas isso não quer dizer que a jovem deva ficar em casa esperando
pelo príncipe encantado…

Deve-se fugir dos dois extremos: do oferecimento explícito que mais


parece o de uma mulher mundana, e da permanência doentia em
casa, como um fungo na sombra… A naturalidade de uma vida cristã
oferece múltiplas ocasiões para conhecer e encontrar jovens com
quem se casar.

Para casar-se, é indispensável amar-se; para amar é preciso


conhecer-se; para conhecer-se é necessário conversar; para
conversar há primeiro que se encontrar.

O autor que citávamos acima, que falava de um contrato bilateral entre


o rapaz e a moça, dizia que a verdadeira moça se distingue por duas
características: a primeira, é que ri somente a metade de quanto riem
as outras e a segunda é que diz “não” às cinco primeiras declarações
de um rapaz.

Onde encontrar um noivo

Surge então o assunto de onde encontrar, onde conseguir um noivo.


Isto parece algo que provoca riso, mas tem muita importância e é
coisa séria.

Lembro-me de que no colégio dos irmãos maristas, onde cursamos


nossos estudos primários e secundários, quando o último ano estava
terminando, um velho e experiente irmão nos deu um conselho para
nos ajudar em nossa vida futura: “não busquem noiva na rua…”

Esse é o lugar onde se abordam facilmente as mulheres que hoje


estão nos braços de um e amanhã nos de outro.

A jovem que aceira as insinuações de um desconhecido que lhe fala


na rua, por mais interessante ou sério que pareça, não vale nada, não
tem apreço por si mesma, nem por sua alma…

As reuniões familiares onde estão presentes amigos dos irmãos, os


encontros na paróquia, nos priorados, nas casas de famílias católicas,
hoje as tradicionalistas, podem ser boa ocasião para conhecer-se
mutuamente.

Cuidado com os “amigos” do trabalho, da universidade, que estão em


busca de aventuras e não pensam e não são tradicionalistas!

Com quem “noivar”

Surge aqui um assunto da escolha pessoal do(a) noivo(a).

Não nos deixemos seduzir pela habilidade do rapaz em cumprimentar,


em pronunciar palavras que nos agradem. Raciocinemos, busquemos
as condições que deve possuir aquele que será nosso futuro esposo,
pai de nossos filhos. Condições sem as quais não se pode aceitar um
compromisso matrimonial e portanto, um noivado.

O Papa Pio XII dizia com razão “Um afeto mútuo, nascido da simples
inclinação de um para o outro, ou de um mero apreço pelos dons
humanos que se descobre num e noutro, tal afeto, por mais belo e
profundo que se mostre, … não é suficiente nem pode garantir a união
das almas. Somente a caridade sobrenatural, vínculo de amizade
entre Deus e o homem, pode fazer laços que resistam a todas as
sacudidas, a todas as vicissitudes, a todas as provas inevitáveis de
uma longa vida conjugal. Somente a graça divina pode elevar-nos
acima de todas as pequenas misérias quotidianas, de todos os
contrastes ou desigualdades de gostos, de idéias, que crescem como
erva daninha nas raízes da pobre natureza humana“.

Devem ser exigidas outras condições que não sejam a beleza física,
as qualidades humanas.

Estas condições pessoais devem ser descobertas durante o noivado.


Por isso é lícito, e mesmo necessário que os noivos falem entre si, se
encontrem sozinhos para se conhecerem melhor. Mas a prudência e a
conveniência reprovam as longas conversas a sós e fora da casa
paterna. Um sábio conselho cristão diz aos noivos: “Fale com seu
noivo onde não os ouças, mas onde os vejam”.

Nestas conversas, cada um deve ir formando uma idéia mais completa


do caráter, dos dons morais, psíquicos e mesmo físicos do futuro
consorte e deve também provar com a prática – por meio das
conversas, do tratamento recíproco – a possibilidade de adaptar-se a
seu modo de ser.

“Por acaso não é de suma importância para dois noivos assegurarem-


se de que seus modos de vida são tais que possibilitam estar de
acordo e chegar a uma harmonia?” (Pio XII, discurso de 12/11/1941).

O Pe. José M. de Llanos, falando sobre o noivado, ressalta que essas


relações são cristãs quando “projetam, isto é, quando atendem mais
ao dia de amanhã do que ao de hoje. Os noivos não só devem se
divertir, mas devem projetar como se divertirão no futuro; que não só
conversem, mas pretendam conversar sempre; não apenas se amem,
mas queiram amar-se durante toda a vida. A esperança do amanhã é
sua preocupação e seu alimento e, nas ocasiões perigosas, “esfria” os
possíveis calores ameaçadores”.

O matrimônio requer em ambos os esposos um propósito de


colaboração. O propósito que não se aprende nos livros, mas é
ensinado pelo coração, que ama a concordância das vontades e o
concerto no governo e no andamento do lar; propósito que é afeição
recíproca, atenção e solicitude mútua em relação ao lar comum;
propósito que observa para aprender, que aprende para fazer, que faz
de tudo para ajudar o outro (ou a outra). Isso existe uma mútua e lenta
educação e formação conjugal, necessária para que duas almas que
se amam reciprocamente cheguem à realização de uma verdadeira e
íntima colaboração.

Esta harmonia que se deve alcançar no matrimônio e durante a vida


conjugal, nos mostra, antes de mais nada, que, para permanecerem
de acordo, é imprescindível que durante o tempo do noivado, os
noivos se conheçam o melhor possível. É claro, pois as pessoas que
provêm de famílias que, mesmo sendo semelhantes, não são
idênticas, possuem maneiras diferentes de pensar, de atuar, e de
tratar-se.

O Papa Pio XII dizia: “[É necessário], durante o tempo do noivado,


investigar, discernir, de circunstância em circunstância, as virtudes e
defeitos, as capacidades e as deficiências, não para criticar e brigar ou
para dar preferência a seu modo de ser, (…) mas para dar-se conta do
que se pode esperar, do que um cônjuge talvez terá de compensar ou
suprir” (Discurso de 18/03/1942).

Em outra ocasião acrescenta: “Como os fogos de artifício encantam a


vista nas noites de verão, o amor nascido de uma explosão pode
facilmente extinguir-se com ela, reduzindo-se a vã fumaça. Pelo
contrário, o amor verdadeiro e durável, como o fogo doméstico,
afunda-se em minuciosas atenções e constantes vigilâncias e se
sustenta não somente com as grossas lenhas que se consomem
silenciosa e lentamente sob a cinza quente, mas também com os
raminhos miúdos que crepitam alegremente com seu estalido e suas
centelhas” (Discurso em 24/01/1940).

“Os noivos não podem se deixar levar por entusiasmos passageiros,


porque logo aparecem os desenganos que já não têm mais remédio. A
coincidência de crenças, sentimentos e tradições valem mais do que o
amor à primeira vista, a repentina emoção do coração” continua Pio
XII.

Conformidade de crenças e tradições! (entre o noivo e a noiva).


Quão importante é prestar atenção neste sábio conselho do Sumo
Pontífice!

O essencial, o primeiro a se levar em conta, é que nosso futuro


esposo seja católico e convicto, praticante. E católico tradicionalista. E
se for piedoso, melhor ainda.

Estas condições não são fáceis, com certeza, mas nossa fé está em
jogo e, quem sabe, nossa salvação eterna também. Vocês são jovens,
casadoiras, (prontas para se casar e desejosas) e tradicionalistas.
Creio não ser necessário discorrer sobre o que isso significa, mas
consideremos a hipótese de noivar com um rapaz não tradicionalista.

Entra em jogo a prática da fé, a assistência à missa tradicional, o


batismo, a educação católica dos filhos, etc. Em suma, está em jogo a
própria salvação por fidelidade ao dever de estado.

Ele pode dizer: “vou deixar-te em liberdade para praticar tua religião,
mas te advirto de antemão que eu não te seguirei na prática”.

Existem duas possibilidade: ou ele cumprirá ou ele não cumprirá sua


promessa.

Suponhamos que o marido seja fiel à palavra dada durante o noivado:


ver-te-á rezar o terço e ele não rezará; ver-te-á ir à missa e ele não irá
ou irá à missa nova; poderão falar de tudo, menos sobre o mais
importante e interessante para ambos… Quantos sofrimentos! E além
disso, quantos perigos!

Pouco a pouco pode acontecer que a senhora se vá contagiando com


seu espírito, com seu catolicismo liberal, sem dar-se conta, insensível,
paulatinamente. Talvez a fé de ambos resista, mas perderá vigor,
energia e fervor, até cair na indiferença. Não morrerá, mas decairá
como uma chama que não é alimentada ou que carece do ar
necessário para se manter e crescer… Hoje por um motivo, amanhã
para evitar uma discussão. Desse modo, logo os filhos
insensivelmente se colocam do lado paterno…
E caso aconteça o contrário? E se ele não cumprir a promessa? Não é
uma hipótese que devamos desconsiderar. Ao contrário! É uma
realidade mais freqüente e pior que a primeira!

E nesse estado, quem poderá nos assegurar de que não perderemos


a fé?

No começo deixar-te-á assistir à missa, comungar, mas um dia virá a


proibição… E então, poderão talvez, por um tempo, continuar
assistindo à missa às escondidas, mas esse caminho é muito difícil de
percorrer, de se permanecer nele: o medo, o incômodo, a
impossibilidade, a falta de ocasião irão sufocando a fé na alma, até
que se abandona Deis para obedecer aos caprichos de um homem.

E, tratando-se de um homem que não pratica, maiores são os perigos


e dificuldades!

Quando as senhoras descobrirem num rapaz esta condição essencial


de jovem católico tradicionalista e praticante, não deixem de procurar
também as demais qualidades necessárias para um bom esposo: suas
qualidades morais, sua seriedade e sobriedade, seu espírito de
trabalho, suas idéias, seu caráter e gostos, seu modo de ser,
costumes, educação e até a posição social, quem são os que
constituem “sua família”…

Por isso, com muita razão, o Catecismo Romano ensina que não se
deve reprovar aqueles que, para escolher o esposo(a), acrescentam
às causas primeiras – a procriação dos filhos – outras, que induzem os
homens a preferir uma mulher a outra (ou vice-versa: a mulher preferir
um homem a outro). Que se tenha em conta: “… as riquezas, a
beleza, a nobreza de linhagem ou a igualdade de costumes. Nada
disso repugna à santidade do matrimônio“.

Durante esta etapa de conhecimento mútuo, devem trocar idéias sobre


diversos aspectos da vida, sobre os filhos, a família, a moral conjugal
e até posições políticas, sociais. Se no noivado houver discórdia sobre
isso, no matrimônio haverá desgostos muito mais graves…
A falta de harmonia e os defeitos do caráter devem ser compensados
por um lado com um espírito de mortificação e tolerância e por outro
com o desejo sincero de corrigir-se: estou disposta a isso; está ele
disposto também?

Há graus nessa busca da harmonia, é claro. Mas quanto maior for a


harmonia, mais probabilidade há de se constituir um casamento feliz.

O ideal é que esta harmonia alcance detalhes como gostos, afeições,


diversões, hábitos de vida, educação, limpeza, ordem, costumes,
linguagem, etc.

Uma advertência importante: devido a uma tendência psicológica,


muito natural e ingênua, pelo desejo de obter o objeto amado, antes
do matrimônio, acontece que todos os seres, tanto eles como elas, em
maior ou menor grau, arredondam suas arestas, se dobram à
exigências do outro, dissimulam seus defeitos. Mas uma vez
alcançado o ser amado, os caracteres se apresentam tal como são na
realidade. Deve-se levar isto sempre em conta para não cair em
engano.

Ajudados pela graça, pela oração e conselho do confessor, os noivos


devem buscar pois, durante esse tempo de preparação que é o
noivado, um no outro, as virtudes que serão as bases da vida do lar.

Algumas perguntas podem ser úteis nesta tarefa:

A senhora tem certeza de que o casamento com este jovem não será
obstáculo para que viva na graça de Deus e cumpra todos seus
deveres para com Ele, que é a suprema aspiração que a senhora deve
ter?

A senhora e ele têm os mesmos princípios morais nos assuntos


fundamentais da vida matrimonial, familiar, pessoal; os mesmos
desejos e afetos?
Têm centros de interesse comum, ou os gostos de cada um são
absurdamente opostos e se chateiam mutuamente com as coisas que
interessam ao outro?

Acha que nunca e por ninguém mais – a não ser Deus – a senhora
poderá sentir um amor maior do que o que sente agora por ele?

Acha que a firmeza do amor que sente agora não diminuirá com o
tempo à medida que vá conhecendo a pessoa amada? Pelo contrário,
aumentará cada vez mais à medida que o conhece melhor?

Está disposta a entregar-se totalmente, tem o desejo de fazer feliz a


pessoa que ama ou vai casar-se buscando a sua própria felicidade?

A senhora possui paciência suficiente para compensar as


suscetibilidades, para superar os possíveis defeitos de seu futuro
cônjuge?

Depois de casada, terá necessidade da presença de outros amigos


para não se chatear ou a presença de seu marido bastará para
contentá-la?

Acha que se o matrimônio passar por uma tribulação (pobreza,


enfermidade) ele lhe ajudará a aceitar a situação com resignação
cristã?

Encontra nele virtudes e qualidades que lhe despertam admiração e


lhe dão ânimo para ser melhor?

Domina seu gênio? Tem espírito de trabalho?

Simpatiza com sua família?

Tem modos ou expressões que lhe atacam os nervos?

Está disposta a tolerar suas faltas? E ele, as reconhece e demonstra


boa vontade em corrigir-se?

Aceita seus erros ou se empenha sempre em ter a última palavra?

É compreensivo com o próximo ou sempre faz questão de brilhar?


Nada é perfeito neste mundo. Porém todos devem ter grandes desejos
de se superar, de chegar à santidade. E o esforço mútuo, o apoio de
um para o outro nesta tarefa, cheia de compreensão e caridade, é
uma das maiores alegrias da vida conjugal.

O noivado deve santificar mutuamente os noivos, como tudo na vida


cristã, porque se não, não serve…

Por isso, nem tudo é permitido no noivado.

O que é permitido, o que é proibido

Entramos aqui num tema delicado, no qual deve-se prestar muita


atenção.

Em um mundo que permite tudo, que tudo consente, a jovem católica


deve ter bem claro o que se pode e o que não se pode fazer com o
noivo durante o noivado.

Um princípio geral que esclareceremos aos poucos, nos diz que: “são
lícitos aqueles atos que segundo os costumes católicos de uma região
são comuns entre os noivos”.

Um primeiro aviso é que os noivos têm, durante seu noivado, os


mesmos direitos que todos os solteiros, particularmente no que toca à
pureza.

Podem ver-se com freqüência e falar-se sozinhos, mas sempre onde


sejam vistos.

Podem dar-se mostras de amizade fraterna: os noivos não são duas


pessoas desconhecidas e certas demonstrações de afeto e amor são
permitidas.

Quais? “Aquelas que uma irmã tem com um irmão, e mesmo assim,
com maior reserva”, nos diz um autor que fala sobre o assunto.

Que haja prudência, dignidade, respeito e nobreza no trato mútuo.


Ser como um anjo da guarda para o noivo; tenham certeza de que se
o noivo é católico e ama verdadeiramente a sua noiva, agradecer-lhe-
á que se mantenha a certa distância.

Rezar e comungar juntos é uma grande ajuda para conservarem-se


puros, para vencer as tentações. Os noivos verdadeiramente católicos
devem dar sempre contas a Deus de todos os atos de sua vida,
particularmente naqueles momentos, naquelas horas solenes que
pretendem construir, fundar as bases de um futuro lar.

Conhecer-se, tratar-se intimamente com plena confiança não significa


que são permitidas certas “confianças e intimidades”. A graça de Deus
não pode estar ausente da relação entre os noivos; o noivado só pode
existir na graça de Deus. Isso é entesourar bênçãos do céu para o
matrimônio.

Os noivos podem dar-se demonstrações de carinho, de afeto, mas


sempre castas.

A noiva deve estar convencida de que quanto mais pura e respeitosa


seja sua conduta durante o noivado, maiores serão as garantias de ter
um casamento indissolúvel, tranqüilo e amoroso.

Por isso é preciso ter muito cuidado nas demonstrações de afeto e de


amor que nem de longe podem ser comparadas ao que acontece hoje,
ao que nos mostram os romances, as novelas, filmes e inclusive a vida
quotidiana que vemos na rua e até mesmo entre nossos conhecidos…

Os noivos ainda não são esposos. Muitas coisas que entre os esposos
são permitidas, são pecados graves entre os noivos ou pelo menos
ocasiões voluntárias de pecado, perigo de pecados graves, dos quais
estão estritamente obrigados a afastar-se.

É muito difícil que os noivos que não são prudentes em suas


manifestações de afeto permaneçam no limite das intimidades lícitas:
uma carícia leva a outra maior; um beijo leva a outro mais prolongado,
apaixonado…
Sobre este assunto dos beijos: eles são indiferentes em si; portanto,
tudo depende da intenção ou influência que tenham no instinto sexual
e o perigo em consentir em excessos desse instinto. Por isso, quando
o beijo é uma demonstração lícita de afeto casto, ele é permitido como
sinal de amor cristão, segundo S. Afonso. Quando se busca o deleite
sensível que o beijo produz, o beijo torna-se um pecado – e grave, nos
ensina o Magistério da Igreja -, mesmo que se exclua o perigo de
consentimento.

É por isso mesmo que a moral católica ensina que os beijos na boca
são pecado mortal por ser lugar sumamente excitante, e que os beijos
demorados, repetidos com freqüência, dados entre pessoas de sexos
distintos, ordinariamente são pecados graves porque levam consigo
grande perturbação. Além disso, procedem de um afeto libidinoso
(entre solteiros raramente têm outro motivo). Assim sendo, estão
proibidos aos noivos.

O próprio Santo Afonso Maria de Ligório acrescenta que “aos noivos


não são permitidos contatos impudicos”, isto é, quando se busca o
deleite sensual ou é feito nas partes menos honestas ou desonestas
(torpes) do corpo do outro.

Assim, fica claro que os noivos que queiram conduzir a bom porto seu
noivado, só lhes é permitido, com reta intenção, as demonstrações de
afeto nas partes honestas no corpo (naquelas que segundo um são
costume, sem ofensa do pudor, se expõem à vista de todos (o rosto,
as mãos, etc.) E mesmo assim, se houver perigo de consentimento em
deleites impuros, devem abster-se até destes.

“Muitas vezes é preferível renunciar às lícitas que arriscar-se a cair


nas que são pecado“.

Para que as carícias sejam inofensivas, convém que sejam breves,


delicadas, e “dos ombros para cima”.

Insistimos: se as carícias ou demonstrações de afeto levarem


voluntariamente a um deleite carnal ou levarem voluntariamente e sem
necessidade a um perigo próximo de provocar tal deleite, serão
sempre pecado grave.

E haverá sempre a obrigação de resistir aos deleites que venham


involuntariamente.

Na mulher, normalmente, as demonstrações de ternura só provocam


doces afetos; porém, nos homens, muitas vezes se desencadeiam
grandes paixões.

Certas familiaridades, certas concessões que para a jovem ou entre


mulheres são inofensivas, freqüentemente podem perturbar mais ou
menos gravemente os homens.

Por isso, em tudo o que é demonstração de afeto entre noivos, é


principalmente a noiva quem deve orientar, pôr limites, ser recatada,
recusando toda familiaridade que exceda o que permitiria a um irmão,
… a um amigo.

Existe essa diferença e as jovens católicas devem sabê-lo.

Devem saber também que certas atitudes (como postura, modas,


vestidos), tatos (beijos e abraços), certas familiaridades que nelas
produzem somente doces afetos e sensações lícitas, normalmente são
para os homens fonte de violentos desejos, emoções, sensações,
tentações e às vezes provocam graves quedas.

É claro que há modos, posturas, linguagem, atitudes e vestidos


femininos que são permanentemente provocação à impureza dos
homens.

“Por isso, a castidade da mulher exige um cuidado permanente com a


castidade dos demais“.

Quando uma jovem encontrar o homem que Deus lhe destinou, vão
ambos à Igreja, ao Priorado e, de joelhos, ofereçam a Cristo
sacramentado o desejo de manter um noivado casto, com relações
puras, santas, pedindo as graças necessárias para preparar um lar
feliz e católico. Que os dois cheguem ao altar sem ter que se
envergonhar de nada durante este tempo de preparação para o
matrimônio, comprometendo-se a ajudar-se mutuamente, a frear as
tentações do outro com severidade e decisão, com firmeza…

Para que Deus lhes ajude há que ser prudente: quando se virem, que
não seja em lugares solitários, mesmo na própria casa quando não
houver ninguém; não freqüentem lugares inconvenientes, nunca saiam
sozinhos de férias, para caminhadas, acampamentos, longos trajetos
de carro. Os passeios solitários não devem ser permitidos. Nada de
lugares solitários e escuros. Tudo isso é colocar-se voluntariamente
em ocasião de pecado.

Sempre ver-se em lugares visíveis. A obscuridade e a solidão são


sempre perigosas. As longas despedidas na escuridão dos saguões
são ocasiões de graves quedas.

Umas das melhores defesas morais para o comportamento dos noivos


são os olhos alheios que os estejam vigiando. O comportamento dos
noivos deve ser tal que a qualquer momento possam ser vistos por
seus pais.

Os projetos dos quais falávamos devem ser preparados e estudados


em “sociedade”, isto é, à luz do sol… uma mão da noiva na sua
família, uma mão do noivo na dele, ambos juntos com seus bons
amigos…

O Pe. de Llanos dizia sobre o assunto:” como a fruta da árvore, o


matrimônio é um banquete em perspectiva. Se arrancamos a fruta
antes que ela caia, estará verde; dessa cor estará o noivado que
rompe as amarras sociais e busca a solidão antes do tempo. As
amarras sociais que hoje parecem correntes, farão o amor
amadurecer, assim como o cabo da fruta preso à árvore amadurece a
sobremesa de amanhã. Espera. O noivado não é um estado perene,
não é banquete que já pode ser saboreado”. Quem come uma fruta
que ainda não amadureceu, que está verde, sobre em seguida as
conseqüências…
Mas muitas vezes o argumento que o demônio inspira é o de pedir
uma “prova de amor”.

Ele dirá que nos ama, que somos seu único e total amor, mas
acrescenta: “você não me quer; parece que não lhe interesso, é tão
fria comigo”. Ataca os sentimentos para vencer a noiva; exige uma
prova de verdadeiro amor…, de fazer o que só está permitido no
casamento e para o qual Deus o instituiu. E muitas caem porque
temem um dua serem abandonadas pelo noivo. Se ele lhes pedir essa
“prova” tenham certeza absoluta que o sujeito não presta e que devem
romper o noivado imediatamente.

Amor é sacrifício, renúncia, exercício constante e perfeito da virtude


que por nada exige provas que ofendam a Deus e a vocês mesmas e
que são somente demonstrações de egoísmo, paixão desordenada e
sem freio. Quem não sabe colocar limites para si, dominar as paixões
agora, não o fará depois. E então, quem sabe o quê pedirá e exigirá
de vocês quando estiverem submissas pelo sagrado vínculo do
sacramento?

Pois bem, querem uma prova certa do amor do noivo? Não lhe permita
nenhuma demonstração que não permitiriam diante de seus pais, de
seu irmão.

Se o amor do noivo dor verdadeiro, esta condição, esta prova, leva-lo-


á a respeitar mais a noiva, a amá-la mais, a continuar o noivado. Se
seu amor não é verdadeiro, é melhor perdê-lo: suas intenções não são
retas nem honestas.

“Jovem católica – dizia um sacerdote – considere vagarosamente


essas idéias:

Se lhe atrai sua beleza física: só isso não é amor, é admiração…

Se sente palpitar seu coração em sua presença: só isso não é amor, é


sensibilidade.
Se deseja uma carícia, um beijo, um abraço…: só isso não é amor, é
sensualidade.

Se o que deseja é o bem de seu noivo, mesmo às custas de


sacrifícios, mortificações, quando ocasiões difíceis se apresentarem:
encontrou o verdadeiro amor.

Deve-se conhecer o noivo, a noiva, mas isso é muito mais do que


freqüentar sua casa, é muito mais difícil que querê-la… Precisa-se de
um exame de consciência pessoas; examinar-se diante dele, ele
diante dela, diante de Deus, de seus mandamentos. O esposo deve
ser algo de Deus para a esposa; a esposa, algo de Deus para o
esposo…

Quando esse pensamento conduz à paz, a uma harmonia, a um


complemento mútuo de compreensão, de satisfação intelectual, é sinal
de que se está indo por bom caminho… Mas cuidado, há obstáculos a
serem superados, inimigos a serem vencidos: a paixão que nubla, a
tendência da carne que nos torna como animais, o egoísmo sutil que
subjetiviza, a importância intelectual que nos impede de raciocinar e
que faz plebeus a mais de 80% dos cérebros juvenis…

Uma jovem que havia guardado imaculada sua pureza escrevia o


seguinte: “Exigirei que meu futuro marido se tenha guardado intacto
como eu para nosso lar”.

Também vocês têm o direito, a obrigação de reclamar a pureza de seu


futuro marido, apesar do que o mundo de hoje nos mostra. Sejam
firmes nesse assunto e terão fundamentos santos e inabaláveis para o
lar ao qual Deus as chama.

Tudo isso nos mostra com que seriedade devemos enfrentar um


noivado. Não é coisa para crianças; requer juízo, maturidade,
inúmeras condições num e noutro, impossível de se existirem em
crianças ou adolescentes.

Idade conveniente
Aparece aqui então a questão da idade. Em que idade pode-se
começar um noivado entre jovens católicos?

O noivado só é lícito quando se tem idade suficiente para contrair


casamento, porque seu objetivo é preparar-se para tal. Mas não se
trata de considerar a “idade canônica”, a idade estabelecida pela Igreja
para a “validade” do casamento.

Geralmente, não há idade determinada para que haja um noivado


formal. É preciso uma maturidade emocional, uma preparação moral
suficiente para sustentar com capacidade suficiente as obrigações e
os deveres de pai e/ou mãe.

Conhecemos pela história casamentos de adolescentes, quase


crianças, formalizados mais pelos pais do que pelos próprios esposos.
Porém, mesmo assim, alguns foram felizes e santos.

Hoje em dia não é assim. Dadas as circunstâncias do mundo em que


vivemos, é totalmente desaconselhável o casamento e o noivado entre
adolescentes.

Se tivéssemos que estabelecer uma idade mínima, assinalar com


quantos anos convém uma jovem começar a namorar, diríamos que
aos vinte anos aproximadamente. Não antes. E para o homem, um
pouco mais…

Um autor nos diz que é a idade quando “a vida já deu às pessoas uma
sensatez, uma prudência e uma visão da realidade que não se pode
ter em tenra idade”. Querer “ter um noivo” antes dessa idade é como
comer fruta verde; e todos sabem o que acontece quando se come
fruta verde… produz dores e mal estar.

Poucas vezes os amores prematuros, que não são amor e sim


namoricos, tornam-se amor maduro e casto.

O que acontece é que esse primeiro fogo se apaga e acaba deixando


o coração ferido, com amarguras.

É o amargor da desilusão, da acidez da fruta verde.


Ao “amor em tenra idade” seguem-se uma carreira de namoricos que
só deixa velhas solteironas, amargas, tristes e desencantadas da
vida… ou, … ou acontecem os matrimônios “às pressas” … e em
seguida a separação, o divórcio com todas as suas seqüelas.

E já que falamos de idade, é bom falar de algo suplementar, porém


importante: as diferenças de idade.

O melhor é que ele seja um pouco mais velho do que ela, alguns anos,
não muitos, no máximo de quatro a seis anos.

Se for muito mais velho, não será fácil a acomodação mútua; talvez já
tenha algumas “manias de solteirão” difíceis de serem vencidas por
ele e suportadas por ela. Além disso, há o risco de tornar-se viúva,
jovem ainda, prejudicando a educação dos filhos.

Se é ela quem “leva grande vantagem na idade”, as dificuldades de


acomodação à vida em comum são maiores… Mais que esposa, ela
será sogra; mais que submissa, será a “chefa” de seu marido…

É necessário considerar neste assunto os costumes do lugar e lembrar


que também já houve exceções e sempre haverá. Mas quatro a seis
anos é a diferença de idades que a ordem da natureza parece exigir
no amor humano, no matrimônio cristão.

Tempo do noivado

Por último, convém falar algo sobre o tempo do noivado, ou melhor,


quanto tempo deve durar normalmente o noivado?

Já se pode imaginar dois extremos antinaturais. Existem aquelas que


“para não perdê-lo”, falam logo “sim” ao noivo e se casam três meses
depois de tê-lo conhecido. Nem sequer se lembram da cor de seu
cabelo, não têm consciência do que ele pensa e quando muito, sabem
apenas o dia de seu aniversário…

Os sofrimentos que os esperam são indizíveis, os tropeços na vida


conjugal, sem falar do risco que correm de que tudo termine em
fracasso.
Nosso conhecido Pe. Castellani falava sobre isso: “no noivado os
futuros esposos aprendem a conhecer-se. Isso faz com que não
convém que seja curto, muito mais em nossos dias, onde há uma
grande confusão social que faz com que às vezes os que se casam
sejam desconhecidos entre si. Antes, as famílias se conheciam desde
muito tempo e a sociedade não estava mesclada e agitada como está
agora. É claro que o noivado não é o casamento. Cada um dos noivos
arruma para si uma máscara de ótima aparência; mas se o noivado for
mais longo, essa máscara cairá”.

O outro extremo são os “eternos noivos”, que perpetuam o noivado por


tantos anos que já se perde a conta, não sabem mais quando se
conheceram, nem como, talvez sejam noivos desde a infância…

Nada mais os atrai; não há nada de novo. Estão juntos, com um


incentivo, a ilusão de um futuro lar. Ele conhece tudo sobre ela, ela
conhece tudo sobre ele. Mais do que noivos, parecem dois seres que
vivem para ter uma “companhia, alguém com quem sair, o noivo, a
noiva “seguros” de que não ficarão pasmados em casa enquanto há
uma festa que lhes interessa.

O normal, o natural, é um noivado de um ano ou dois, um máximo de


dois anos e meio ou pouco mais.

Com menos tempo é muito difícil conhecer o futuro noivo


suficientemente e é possível que depois de casados apareçam
defeitos não suspeitados e que põem em perigo a vida conjugal.

Com mais tempo, facilmente se perde o respeito, o interesse em


formar um lar, uma família católica e se cai no que já dissemos: um
relacionamento cuja razão de ser é ter uma boa companhia sempre à
disposição para o que se necessite.

É claro que existem exceções e que também deve-se ter em conta os


costumes locais e outras circunstâncias que venham a ser razões
suficientes para encurtar ou alongar esse tempo: conhecimento prévio,
qualidades excepcionais, situações econômicas, de trabalho, estudo,
etc.
Como palavras finais sobre esse tempo, repetimos o Pe. Llanos: “A
escola do noivado tem por único sentido ser um meio de cultivo de um
amor que brotou num primeiro dia feliz quando os dois se
conheceram. O noivado é como uma estufa, um sulco na terra onde
cresce em ritmo lento e misterioso a semente que Deus plantou
quando quis e porque quis – eis aqui a interpretação mais simpática
do que seja o noivado. Nele há algo que não está diretamente na
vontade das duas partes, há um processo substancial em si que
cresce arraigado nos dois corações. Ele e ela podem e devem
fomentar o desenvolvimento lento e misterioso da “planta” interior que
os aproxima e os une, mas nunca serão os donos absolutos deste
crescimento. Impõe-se, antes de tudo, o respeito ao processo e a suas
leis, que no fundo é o respeito à mão que dirige esse processo.
Falando com mais profundidade: esse respeito é um ato de culto, um
presente, um ato de submissão a Deus, pai e criador, que semeou o
amor entre os dois jovens e o conduz. E porque esse processo tem
sua lei cronológica e de crescimento, acelerá-lo é um disparate e um
delito. Acelerá-lo é querer tirar dele suas conseqüências mais
agradáveis, ou as mais definitivas, buscando uma floração de
plenitudes antes de chegar a primavera. Eis um modelo para o modo
de aprender a amar e ser amado no noivado: façam como o lavrador
que sabe suas e esperar, que coordena o esforço de seu músculo com
o olhar para os céus, observando se chegou o momento da chuva.
Cultivar não é precipitar; cultivar tem tanto de serenidade quanto de
afã, tanto de ritmo quanto de vigilância, tanto de esperança quanto de
caridade. Cultivar, nesse caso, não é apenas conhecer e ser
conhecido, é, além disso, sacrificar e saber ser sacrificado. Todas as
relações têm de conceder ao sacrifício mútuo o dobro de força de
alma que se concede à santificação mútua. O sacrifício mais fecundo
do noivado é o de adaptar-se um ao outro uma vez que se percebeu
os defeitos mútuos e combater em si defeitos que desagradam ao
futuro cônjuge. Encarar os defeitos e superá-los com o afeto, expô-las
com compreensão, ajudar o outro a combatê-los com a mais rigorosa
ascética. Não há peça de solda que una mais os dois corações e as
duas vidas do que esse “encaixe” cristão dos defeitos mútuos. Não há
tarefa mais digna e mais prática do processo do amor cristão do que
essa cumplicidade no combate dos defeitos mútuos. Em vez de
desunir, torna-se o mais forte braço de união”.

Parece-nos importante também uma advertência final: o dever mútuo


de fidelidade durante o noivado, ou seja, ser noivo de só um jovem,
exclusivamente. Um com uma.

A que me refiro eu? A que a jovem que está noiva deve ser fiel a seu
noivo e não entrar em jogos perigosos com outros jovens com quem
poderá, sim, conservar a amizade, mas nunca entrar em intimidades,
confidências, conversações ou insinuações que despertem neles
sentimentos perigosos, alimentem expectativas ou provoquem
situações que não correspondem a sua atual condição de noiva
católica que se prepara para o casamento.

Para finalizar, recordemos um provérbio russo: “antes de partir para a


guerra, reze uma vez; antes de embarcar, reze duas vezes; reze três
vezes antes de se casar“.

É necessário rezar sempre, mas particularmente, de modo especial,


antes do matrimônio. Durante o noivado, individualmente, juntos,
ambos os noivos, um pelo outro, por si próprio, pelo noivado, pelo lar
que vão formar.

Transcrevemos uma oração que os noivos devem aprender a rezar


juntos, para que seu noivado seja realmente santo, os santifique e lhes
permita alcançar um santo matrimônio:

“Senhor Todo Poderoso e cheio de bondade, Vós permitistes nosso


encontro. Vós sois a fonte de toda luz e de todo amor. Dignai-vos por
Vosso Espírito Santo preparar-nos para o sacramento do matrimônio.
Ensinai-nos a conhecermo-nos verdadeiramente; fazei que nosso
amor seja cada dia mais profundo, mais leal e mais puro.

Que sob vosso olhar nos respeitemos até o momento em que, pelo
matrimônio, nos pertençamos mutuamente e desde então até o fim de
nossas vidas. Por Jesus Cristo Nosso Senhor, Amém“.
Outra oração que poderiam rezar juntos aqueles que queiram ter um
noivado católico é a seguinte:

“Senhor Jesus, Vós que dissestes que onde dois ou três se reunirem
em vosso nome, ali estaríeis Vós, e o que pedissem ao Pai, Ele o
concederia, acercai-vos de nós e escutai nossa prece. Em vosso
nome unimos nossos corações e nossos desejos; em vosso nome,
porque consideramos nosso amor como dádiva vossa. Cremos que
vós nos unistes, cremos que vós presidis nossa afeição, cremos que
vós nos protegereis da ilusão. Vinda, Senhor, elevai ao Pai nossa
oração. Vós conheceis nosso desejo mais íntimo: queremos que essa
unidade que estreitastes entre nós seja duradoura e santa, que imite
de algum modo aquela Unidade que Vós, com o Pai e o Espírito
Santo, possuís e possuireis eternamente. E nesta unidade, Vós o
sabeis, o sonho de um novo lar, de um Nazaré com a pureza e
humildade de Maria, o trabalho e o esforço de José e vossa presença
e imagem com nossos filhos, nascidos para Vós, e quantos Vós
quiserdes nos enviar. Senhor Jesus, nossa gratidão só vos pode
oferecer esses pobres corações de terra, cheios da ilusão mais pura, a
fim de que Vós os bendigais com aquela bênção milagrosa de Caná.
Convertei, Senhor, nosso amor de hoje, limpo e simples, em fecundo e
doce vínculo matrimonial. A Mãe do Belo Amor intercede por nós. Ela
se compadece de nós e nos ama. Vós fareis o milagre. Para que
creiamos mais em Vós, na glória de vosso Pai e nosso, que convosco
e o Espírito Santo vive e reina por todos os séculos dos séculos.
Amém“.

Como síntese da doutrina católica sobre o noivado, podemos dizer


que não se pode viver cristãmente no matrimônio se não se viver
cristãmente antes de chegar ao matrimônio.

A receita é a de toda vida cristã: a vida de oração, a freqüência aos


sacramentos, a mortificação cristã, o desejo de cumprir sempre e em
tudo a vontade de Deus, a devoção à Santíssima Virgem, a São José,
ao Menino Jesus (a Sagrada Família, paradigma de toda a família
católica), ao Anjo da Guarda. Não são coisas de uso facultativo,
somente para aqueles que as desejam.

Manter-se na presença de Deus a cada instante, manter a vida interior


e de piedade é o que permitirá à jovem ver com olhos sobrenaturais o
que deve, o que é permitido e o que não é durante seu noivado para
chegar pura ao casamento.

O que todos fazem, o que se vê sempre nos filmes, o que foi lido em
algum livro, o que fala algum teólogo famoso, não justifica nunca
atitudes contrárias às normas da moral católica.

Conhecer-se intimamente em vista de um matrimônio, vivendo


castamente todo o tempo que dure o noivado, sempre na graça de
Deus, é parte essencial dessa escola de amor cristão, inspirada não
por um espírito egoísta e de possessão, mas por um espírito de
renúncia, compreensão, respeito, delicadeza, verdadeira caridade.

O noivado será conveniente e lícito se a convivência com a outra parte


provocar uma maior santidade, se a vida interior, o amor de Deus e a
graça na alma crescem e se tornam mais nítidos conduzindo a uma
vida exemplar.

LAUS DEO

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