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Caracteriza-se por uma nefrite (síndrome nefrítica), ou seja, um processo inflamatório, que acarreta uma queda da TFG. O que pode causar essa inflamação?
- Processo infeccioso: Vírus ou bactérias, mas >90% é pós-infecção por Streptococos B-hemolíticos do grupo A de Lancefield. A nefrite causada por infecção viral é
autolimitada e produz pouca sintomatologia.
- LES: Em crianças não é tão comum como em adultos.
- Doença do soro
- Púrpura atrombocitopênica (Henoch-Schonlein)
Definição
É uma doença de início abrupto (diagnóstico diferencial com síndrome nefrótica, cujo início é lento), caracterizada pelo surgimento de hematúria, edema, HAS (tríade
clássica), oligúria, proteinúria leve e queda da TFG.
Características:
- Pode surgir após infecção por Streptococcus β-hemolítico grupo A (S. pyogenes): 1-2 semanas – faringite (sorotipo 12 e outros); 3-4 semanas – pele (sorotipo 49 e
outros).
[ Para fazer uma glomerulonefrite a cepa tem que ser nefritogênica; para fazer febre reumática, tem que ter infecções repetidas]
- É rara em crianças < 3 anos (antes dessa idade geralmente é secundária à infecção de pele-impetigo)
- Tem pico de incidência aos 7 anos (igual à Febre Reumática)
- Proporção de 3 meninos para 2 meninas
- Tem apresentação e curso clínico variáveis: Depende do número de glomérulos afetados
Patologia
A morfologia na glomerulonefrite aguda é bem característica. Ao microscópio óptico, os glomérulos aparecem isquêmicos e aumentados de volume, com redução do
espaço de Bowmann. Há grande proliferação de células mesangiais e endoteliais, podendo-se notar, nos estágios iniciais, presença de polimorfonucleares. Os túbulos,
vasos e interstícios podem estar comprometidos, mas sempre em menor intensidade que os glomérulos. A microscopia eletrônica revela diminuição da luz dos
capilares por proliferação de células intracapilares, alterações de espessura da membrana basal glomerular e depósitos eletrodensos ( humps) na parte subepitelial da
membrana basal. Estudos por imunofluorescência revelam depósitos granulares de IgG e sobretudo C3.
[Aula: Os anticorpos se acoplam aos antígenos presentes na membrana basal dos glomérulos. Isso causa estímulo à chegada de complemento, que também se acopla,
formando um imunocomplexo. Isso causa uma reação inflamatória, com proliferação de células mesangiais, endoteliais e epiteliais, além de acúmulo de
polimorfonucleados.
O dano renal se dá por:
- Ativação do complemento
- Infiltração celular
- Ativação dos fatores de coagulação
- Produção de linfocinas
- Produção de radicais livres de O2
Esse processo inflamatório causa obliteração dos capilares, reduzindo a TFG (A inflamação vai dificultar tanto a filtração de proteínas, quanto de água e sódio). Isso
causa uma hipervolemia e acúmulo de metabólitos do metabolismo protéico (uréia), que acarreta HAS, edema, alteração da pressão hidrostática dos capilares,
rompendo-os e levando à hematúria e cilindros hemáticos no EAS.
Complicações:
- TFG -> Anúria -> IRA
- TFG + IRA -> Insuficiência cardíaca
- HAS -> Convulsão -> Encefalopatia hipertensiva
Quadro clínico
Caracteriza-se pelo aparecimento súbito de edema, hipertensão arterial, e hematúria macroscópica ou microscópica (a macroscópica indica mais glomérulos
acometidos). Reforça o diagnóstico história de infecção, principalmente amigdalite ou piodermite, de acordo com seu respectivo período de latência. Nem todos os
casos, entretanto, apresentam esta tríade clássica completa. Não são raros os casos em que a criança deixa de apresentar hipertensão ou hematúria macroscópica e
até mesmo edema. A criança pode também apresentar outros sintomas como oligúria ou anúria, cefaléia, mal estar, dor em flanco e febre. O edema facial é
periorbitário pela manhã, tendendo, por ação da gravidade, a redistribuir-se no decorrer do dia, podendo aparecer de novo no outro dia pela manhã. É o sintoma
mais freqüente e que geralmente leva a família a procurar o médico. [Pelo edema dá para saber se é uma síndrome nefrítica ou nefrótica: na nefrítica, tem esse
caráter mais abrupto. Na nefrótica, aparece mais lentamente]
Diagnóstico Laboratorial
EAS!!! (É o principal exame)
- Densidade
- Hematúria variada (Hematúria microscópica= >3-5 hemácias por campo)
- Proteinúria de branda a moderada (até ++, normalmente)
- Leucocitúria (PMN)
- Cilindros hemáticos: indicam origem glomerular e é patognomônico de nefrite.
- Cilindros hialinos
- Cilindros leucocitários
Exame de Sangue:
- Anemia (principalmente por hemodiluição)
- Leucocitose
- VHS
- Uréia e Creatinina
- Na+ normal ou diluído
- K+
- Complemento (Dosa-se C3 e CH50)
- ASLO, Anti-DNAse, Anti-Hialuronidase e outros anticorpos (os dois últimos falam a favor de uma infecção de pele prévia por strepto, como impetigo)
Diagnóstico Diferencial
GNDA pós-infecciosa não estreptocócica
Síndrome Nefrótica por lesão mínima <3ª, s/ hematúria e HAS, proteinúria maciça
Nefropatia por IgA (Berger) Hematúria após infecção do TRS, s/ edema e HAS, é benigna, níveis de complemento normais
Púrp. Henoch-Schonlein Apresenta exantema purpúrico em abdome, nádegas e MMII, pode haver sangramento interno
Nefrite Hereditária (Doença de Alport) Associada a surdez bilateral, insuf. Renal progressiva e história familiar +
GN secundária a LES Sinais/Sintomas do LES, lesões de pele, febre, pode ter síndr. nefrótica
Agudização da GN de evolução crônica
GN rapidamente progressiva (crescêntica) Evolui de forma muito grave, necessidade de hemodiálise
IRA
Litíase Causa rara em crianças, c/ cólica, s/ edema e HAS
Tumores renais
Pielonefrite aguda Febre
Hipertensão maligna
Proteinúria febril Famílias que fazem proteinúria quando fazem febre
Proteinúria/Hematúria/Cilindrúria por esforço
Kwashiokor Redução de proteínas, sobretudo, albumina
Tratamento
- Restrição de líquido (máximo de 400ml/m2/dia ou 20mL/Kg, somados ao volume de urina emitido na véspera)
- Restrição de Na e K se houver redução da diurese: Orientar a mãe quanto a alimentos que a criança deverá comer, como arroz doce, macarrão sem sal, gelatina,
maçã cozida, etc.
- Restrição de proteínas e K se uréia>100 (IRA oligúrica)
- Repouso devido à HAS e congestão circulatória
- Penicilina Benzatina dose única para erradicar o estreptococo:
<25Kg- 600.000UI
>25Kg- 1.200.000UI
[Se a bactéria é proveniente de uma lesão de pele que não existe mais, não é necessário fazer o antibiótico]
Alérgicos: Macrolídeos – Eritromicina ou Claritromicina por 10 dias ou Azitromicina por 6 dias.
- Furosemida 1-2mg/Kg/dose 6/6h devido ao edema, à congestão circulatória e à HAS
Nos casos de HAS leve: Fazer as medidas citadas (restrição, repouso e Furosemida)
HAS moderada: Além da Furosemida, pode-se utilizar Nifedipina VO (0,25-5mg/Kg/dia 2-3X/dia), Captopril sublingual ou VO ou Hidralazina (0,1-0,2mg/Kg de 6/6h),
vasodilatador de efeito mais rápido.
HAS grave (criança com convulsão, torporosa...): Internar no CTI. Pode-se baixar a PA com Diazóxido, Nitroprussiato ou Nifedipina de ação rápida.
Indicações de diálise:
- ICC - EAP
- HAS refratária - Hipercalemia
- Acidose com hipercalemia - Uremia sintomática
Indicações de Biópsia:
- Proteinúria maciça persistente - Redução de complemento após 3 semanas
- Hematúria macrosc.>3 semanas - HAS>3 semanas
- Piora da função renal
Prognóstico
A GNDAPE é uma doença relativamente benigna nas crianças. C3 normaliza em 2 – 3 meses, Edema e hipertensão regridem em 10 – 14 dias, Hematúria macro
regride em 2 meses e a hematúria micro em 1 ano. Fazer acompanhamento de 2 anos.