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201372014
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Fontes de Direito
As normas de direito encontram a sua fonte regularmente na lei. Consideram-se leis todas
as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes. As leis, escritas, são as
fontes imediatas do direito (art. 1º nº 1). Fonte imediata do direito é também, embora de uma
maneira muito limitada, o direito consuetudinário costume, contudo este não é mencionado
nos arts. 1º e ss do Código Civil.
Além das fontes imediatas do direito, existem também as fontes mediatas, nos termos dos
arts. 2º, 3º e 4º do Código Civil, isto é, os assentos (do Tribunal pleno, estes assentos são
proferidos em recurso para o mesmo Tribunal, ou seja, quando há dois acórdãos do Supremo
Tribunal de Justiça, que relativamente à mesma questão de Direito tenham estabelecido
relações diametralmente opostas- revogado pelo acórdão do Tribunal Constitucional 810/93
de 7 de Dezembro em que declarou inconstitucional a emissão de doutrina com força
obrigatória geral), os usos (só valem quando a Lei o determinar. Por si só não são fonte de
Direito Civil) e a equidade (os tribunais podem decidir os casos que lhe sejam presentes
segundo o princípio da equidade- igualdade-, sendo que a mesma só é admitida quando haja
uma disposição legal que o permita e quando ainda as partes assim o convencionarem),
respetivamente. Por outro lado é necessário ter em conta certas decisões do Tribunal
Constitucional, que ao declararem inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma ou de
uma lei, têm força obrigatória geral, nos teros dos arts. 281º e 282º da C.R.P., conduzindo á
revogação “ex tunc”, isto quer dizer, desde a sua entrada em vigor , das normas ou leis em
causa.
O Código Civil, ao enunciar nos seus artigos 1º a 4º as fontes do direito, parece querer
afastar o direito consuetudinário. No entanto, isto seria uma solução positivista, que a própria
lei (art. 10º C.C.) exclui pois não está nas mãos do legislador proibir de todo a formação do
costume. Uma lei que admite a existência de lacunas, não pode ter querido que fosse excluída,
a priori toda a formação de lacunas de direito consuetudinário. Contudo a formação de direito
consuetudinário é limitada. Incontestavelmente, o Código Civil admite o direito
consuetudinário estrangeiro e local, cabendo a prova da sua existência àquele que o invocar
(art. 348º C.C.).
Resumo:
Fontes mediatas
Assentos (art. 2º C.C.)
Usos (art. 3º C.C.)
Equidade (art. 4º C.C.)
Constitucionalidade ou Ilegalidade leis ou normas (arts. 281º e 282º C.R.P.)
Catarina Baptista
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Existem oito, diferentes, princípios base para as normas do Direito Civil, são os
mesmos:
1. O reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade
2. O princípio da autonomia privada
3. O princípio da boa-fé
4. A Responsabilidade Civil
5. A concessão de personalidade jurídica às pessoas coletivas
6. A propriedade privada
7. A família
8. O fenómeno sucessório ou sucessão por morte
Nascimento
(art. 66º nº 1 C.C.)
Personalidade (art. 70º a 81º C.C.)
O princípio da boa fé
Responsabilidade Civil.
“Nunca ninguém tem culpa, nunca ninguém é responsável, (…) ”. Parece que
podemos concordar com esta observação. Sempre que ocorre um facto causador de um dano
não há ninguém que se sinta responsável por ele e, de modo igual, também não há ninguém
que aceite arcar com o prejuízo sofrido. Portanto, o que é que importa é sacudir a
responsabilidade ou o prejuízo, fazendo ombrear outros com eles.
Sofrer um dano significa ter sido violado, em princípio, num direito subjetivo. Um
direito subjetivo é a expressão do facto de a ordem jurídica, designadamente o direito privado,
ter reconhecido a uma pessoa um “domínio” sobre um bem. Todavia, na medida em que a
pessoa tem o “domínio” sobre o bem é precisamente ela quem assume os riscos que lhe são
inerentes, inclusive o de se verificar um dano ou um prejuízo. Apenas nos precisos casos em
que a ordem jurídica prevê que a violação de um direito subjetivo acarreta o dever de
indemnizar, o prejuízo acaba por ser afastado de quem o sofreu.
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O direito privado considera a pessoa humana um ser responsável, melhor dizendo:
auto-responsável, e, por conseguinte, o Código Civil diz no seu artigo 130º: “Aquele que
perfizer dezoito anos de idade adquire plena capacidade de exercício de direitos, ficando
habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.” Com esta disposição a lei civil
reconhece autonomia à pessoa humana. Isto significa que uma pessoa pode, de acordo com a
sua vontade, tratar em princípio de si própria e dos seus bens com todo o cuidado mas
também com o descuido que achar por bem, podendo ser diligente ou negligente, como lhe
convém ou como corresponde à sua maneira de ser.
De facto, o homem possui capacidade para, conforme a sua vontade autónoma,
determinar as suas condutas, estabelecer metas, criar ou conformar relações sociais ou
jurídicas, escolher e estabelecer o seu modo de vida, aceitar desafios ou assumir
responsabilidades. A possibilidade de agir neste sentido significa ter liberdade. Contudo, antes
de agir, o homem deve ponderar os efeitos e os riscos da sua ação (para ele próprio, para
familiares, para terceiros ou até para a comunidade), refletir sobre as consequências e
procurar antever os resultados de acordo com a experiência, os conhecimentos, as
informações e os aconselhamentos de que dispõe e dentro do humanamente previsível. De
facto, a consciência de incluir na sua decisão de agir (ou a consciência de assumir ou de se
identificar com) os efeitos e as consequências dos atos que vierem a ser praticados modera e
limita a liberdade de decisão do agente no sentido de evitar voluntarismos, arbitrariedades ou
abusos ou de correr riscos de modo irrefletido. Agir livremente significa por isso assumir os
riscos e as consequências dos atos praticados, ou seja, ser responsável. É precisamente este
modo de agir que representa uma prerrogativa e um ónus do homem. Por outro lado, é
também precisamente este modo de agir que muitas vezes não é seguido.
Acresce que o homem há-de assumir também riscos independentemente da sua
vontade. Porque viver significa arcar com os riscos próprios da vida. Estes riscos são vários,
mudando com a evolução dos tempos, e podem afetar tanto a pessoa como os seus bens. Há
riscos cuja concretização pode mesmo arruinar a existência privada da pessoa (a doença, a
invalidez, a morte, a dissolução do casamento/da união de facto e a responsabilidade civil).
Estes riscos da vida não podem ser eliminados por ninguém, embora possa-se tentar evitá-los
ou, em parte, atenuá-los ou adiá-los.
Todavia, casos há – e são muitos – em que a concretização do risco e, com ele, a
ocorrência do dano, não se conseguem prevenir ou são até o preciso resultado da conduta
negligente da pessoa prejudicada. Nestes casos a verdade é a de que a pessoa prejudicada
assume todos os efeitos danosos. Ela arca com os prejuízos sofridos na sua pessoa ou nos seus
bens (“Casum sentit dominus”). De facto, uma pessoa não se pode subtrair de todo aos riscos
que a ameaçam na sua vida ou nos seus bens. Esta é a realidade. E é desta realidade que parte
a lei civil: o prejuízo é suportado por quem o sofrer – como já constatámos. Contudo, a justeza
do princípio de que o prejuízo é de suportar por parte de quem o tiver sofrido gere logo
dúvidas quando olharmos para as circunstâncias concretas em que ele pode ter surgido.
Contudo, nem sempre o princípio “casum sentit dominus” parece adequado ou justo.
É neste contexto que surge a responsabilidade civil. A sua razão de ser e função
fundam-se na necessidade de deslocar um dano ocorrido de quem o sofreu, o lesado, para
aquele que o causou, o lesante, e isto de acordo com determinados critérios legais, iguais para
todos. A responsabilidade civil pressupõe assim a ocorrência de um dano e o dever de
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indemnizar este dano, precisamente por parte do lesante, na medida em que o dano vai para
além do risco geral de vida que o lesado deve assumir (em sintonia com as conceções
reinantes e o estado de evolução social). Nestes termos, deve indemnizar aquele a quem o
facto causador do dano é imputado por lei.
Segundo o art. 562º C.C. “quem estiver obrigado a reparar um dano deve
reconstituir a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à
reparação.” Vale o princípio da reconstituição natural. Neste contexto “o dever de indemnizar
compreende não só o prejuízo causado, como os benefícios que o lesado deixou de obter em
consequência da lesão” (art. 564º nº1 C.C.), ou seja, a indemnização abrange ainda os
chamados lucros cessantes. Todavia, “a indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a
reconstituição natural não seja possível, não repare integralmente os danos ou seja
excessivamente onerosa para o devedor” (art. 566º nº 1 C.C.).
Os danos e a correspondente responsabilidade civil poderão encontrar o seu
fundamento num contrato, um negócio jurídico, ou fora dele. Daí que se distingue a
responsabilidade contratual da responsabilidade extracontratual, ambos compreendidos pelo
conceito da “responsabilidade civil em sentido amplo”. Contudo, a responsabilidade contratual
e extracontratual têm origens bem distintas. Na primeira, a razão última para a
responsabilidade resulta sempre de vínculos criados por uma vontade autónomo-privada,
sendo de avaliar, por isso, o resultado danoso em função desta vontade privada. Na segunda,
bem pelo contrário, não se trata de ajuizar vontades autónomo-privadas e os resultados dela
decorrentes mas são de avaliar, isso sim, condutas ilícitas, ou seja, condutas desconformes
com a lei, às quais esta reage normalmente com efeitos sancionatórios.
A sistematização do C.C., ao regular a matéria da responsabilidade civil, diferencia
entre as duas modalidades referidas, atendendo às suas origens distintas, e trata-as em
contextos diferentes. A responsabilidade contratual aparece, deste modo, inserida na matéria
do não cumprimento do contrato (arts. 790.º e ss.). A responsabilidade extracontratual, por
seu lado, ocupa o seu lugar entre as fontes das obrigações, sendo precisamente a última
destas (arts. 483º e ss.). O C.C. equipara na sua terminologia a responsabilidade
extracontratual à responsabilidade civil, utilizando assim um conceito de “responsabilidade
civil em sentido restrito”. Esta diferenciação corresponde, de resto, também ao facto de a
responsabilidade contratual atender à violação de direitos relativos, que obrigam apenas as
partes entre si (art. 406º nº 1- 1ª parte: “pacta sunt servanda- C.C.), enquanto a
responsabilidade extracontratual respeita à violação de direitos absolutos, cuja observância se
impõe a todos.
Por via de regra, a responsabilidade do lesante é individual e respeita a atos
próprios. O princípio-base em que assenta é o facto de o lesante ter agido com culpa o que
exprime, por isso mesmo, uma censura ao seu comportamento. É na culpa, e não tanto na
necessidade de reparar os danos causados ao lesado, que reside a justificação originária da
responsabilidade. Visto nestes termos, a responsabilidade tem um fundamento ético,
decorrente da conceção do homem como um ser auto-responsável.
Quanto à responsabilidade contratual, o art. 798º C.C. determina: "O devedor que
falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo prejuízo que
causa ao credor." Em ordem a fortalecer a posição do credor, e ainda tendo em conta a origem
autónomo-privada do vínculo obrigacional, o art. 799º nº 1 C.C., acrescenta: "Incumbe ao
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devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não
procede de culpa sua." Quer dizer, a lei presume a culpa do devedor, cabendo a este o ónus de
provar que não a teve. A intenção da lei é a de não permitir ao devedor uma "saída" fácil e de
contribuir para que obrigações assumidas sejam também cumpridas. A culpa é apreciada nos
termos aplicáveis à responsabilidade civil (art. 799º nº 2 C.C.). No que toca à responsabilidade
civil encontramos a regra fundamental no art. 483º nº 1 C.C.. Aqui lê-se: "Aquele que, com
dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal
destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos
resultantes da violação." A responsabilidade aqui consagrada é uma responsabilidade por
factos ilícitos, baseada na culpa e, por isso mesmo, subjetiva. O art. 483º nº 1 C.C., estabelece
uma sanção: O lesante que culposamente, de maneira propositada ou negligente, violar de
modo ilícito, ou seja, em desrespeito à lei, um direito, mais precisamente um direito absoluto,
de outrem fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos, quer dizer, todos os danos
sofridos. Estes podem ser danos patrimoniais, morais e não patrimoniais (art. 496º C.C.).
Todavia, o lesado, querendo ver os seus danos reparados, não se encontra numa situação
muito cómoda. Ao contrário do que sucede ao credor na responsabilidade contratual, é a ele
que incumbe provar a culpa do autor da lesão (art. 487º, nº 1 - 1ª parte- C.C.). O lesado arca,
portanto, com o ónus da prova.
A culpa é apreciada pela diligência de um bom pai de família, em face das
circunstâncias de cada caso (art. 487º nº 2 C.C.), de acordo com os cuidados necessários no
tráfico jurídico. Além de provar a culpa do lesante, que há-de individualizar para o efeito, o
lesado deve provar ainda que existe, entre o dano que sofreu e o facto danoso, um nexo de
causalidade adequada. Isto é, o facto danoso era, dentro do razoável e humanamente
previsível, susceptível de provocar o dano sofrido. A ocorrência do dano nestes termos indicia
regularmente a ilicitude do facto.
Obviamente, a atribuição do ónus da prova pode dificultar ou mesmo obstar à
obtenção de uma indemnização, em princípio devida, se o lesado não consegue provar os
pressupostos enunciados no art. 483º nº 1 C.C., designadamente o da culpa. Por isso, em
determinadas situações, a própria lei procedeu a uma redistribuição, melhor dizendo, a uma
inversão do ónus da prova ao presumir a culpa do lesante, sendo certo que isto não significa o
abandono do princípio da culpa. Temos aqui os casos da responsabilidade das pessoas
obrigadas à vigilância de outrem (art. 491º C.C.), dos danos causados por edifícios ou outras
obras (art. 492º C.C.) e dos danos causados por coisas, animais ou atividades perigosas (art.
493º C.C.). Se nas situações referidas tiver ocorrido um facto danoso, as pessoas respondem
pelos danos causados, salvo se provarem que cumpriram os seus deveres e que nenhuma
culpa houve da sua parte. Também não respondem se os danos eram inevitáveis de todo, visto
a culpa, eventualmente existente, não ter sido decisiva, de modo que não há razão para uma
censura.
Em certas constelações danosas típicas, os tribunais, ao apreciar os factos de
acordo com a experiência da vida, procedem à uma prova "prima facie" e, presumem, deste
modo, a culpa do lesante. Também estas presunções judiciais (art. 351º C.C.) acabam por
facilitar o ónus da prova que incumbe ao lesado.
Atendendo ao princípio da culpa, não responde pelas consequências do facto
danoso quem, no momento em que o facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado
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de entender ou querer (art. 488º nº 1- 1ª parte- C.C.). Nestas circunstâncias, uma pessoa não
pode agir culposamente e é, por isso mesmo, inimputável. A falta de imputabilidade é
presumida nos menores de sete anos e nos interditos por anomalia psíquica (art. 488º nº 2
C.C.). Esta presunção é ilidível mediante prova em contrário (art. 350º nº 2 C.C.). Todavia, a lei
não ignora que a incapacidade de querer e entender pode resultar, ela mesma, de um agir
culposo do lesante. Se este se colocou culposamente nesse estado, sendo este transitório,
responde (art. 488º nº 1- parte final- C.C.).
Do ponto de vista do lesado, que vê preenchidos todos os pressupostos da
responsabilidade por factos ilícitos menos o da culpa, devido à falta da imputabilidade do
autor da lesão, a situação não é confortante. É difícil argumentar que tal situação faz parte do
risco geral de vida do lesado. A lei sentiu o problema e dispõe, quanto à indemnização por
pessoa não imputável, "se o ato causador dos danos tiver sido praticado por pessoa não
imputável, pode esta, por motivo de equidade, ser condenada a repará-los, total ou
parcialmente" (art. 489º nº 1- 1ª parte- C.C.). Todavia, esta solução da lei é subsidiária: apenas
se aplica desde que não seja possível obter a devida reparação das pessoas a quem incumbe a
vigilância do não imputável (art. 489º nº 1- 2ª parte- C.C.), de acordo com o previsto no art.
491º C.C.. Mas sempre que estas pessoas não respondem será o não imputável a reparar os
danos nos termos definidos pelo artigo 489º nº1- 1ª parte- e nº 2 C.C.).
Por outro lado, também o lesante pode sentir que a aplicação rigorosa do
princípio da culpa o atinge de uma maneira não merecida. Na verdade, o lesante pode ter
agido apenas com culpa leve, houve da parte dele simples negligência, como tantas vezes
acontece na vida, mas o prejuízo causado é muito elevado. Todavia, segundo a regra-base do
art. 483º C.C., em caso de culpa, o dever de indemnizar abrange todos os danos causados ao
lesado. Neste contexto, em situações de culpa leve, o art. 484º C.C. permite uma limitação da
indemnização. Aqui, a lei atenua os efeitos sancionatórios da responsabilidade por factos
ilícitos a favor do lesante e à custa do lesado. Mas este deve aceitar o resultado, uma vez que
não pode contar, em todas as situações, com a diligência dos outros.
A responsabilidade por factos ilícitos, baseada no princípio da culpa, não tem
resposta para os casos em que surgem danos independentemente de culpa mas em que não é
de aceitar como justo que sejam suportados pelo lesado que os sofreu. Para estes casos há um
tipo de responsabilidade civil independentemente de culpa, ou seja, a responsabilidade pelo
risco, como responsabilidade objetiva. Contudo, de acordo com o art. 483º nº 2 C.C., "só existe
obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei", o que
significa que há, a seu respeito, uma tipicidade ou "numerus clausus".
A responsabilidade pelo risco constitui, ao lado da responsabilidade por factos
ilícitos, uma modalidade autónoma com fundamentos próprios para a deslocação do dano de
quem o sofreu para quem o causou, imputando-o desta maneira ao lesante. O seu
fundamento reside no raciocínio que os danos resultantes de atividades lícitas, úteis e
socialmente aceites por serem indispensáveis, mas com riscos inerentes e nem sempre de
evitar, devem ser assumidos, caso o risco se concretize, por quem exercer esta atividade,
tirando dela os seus proveitos, mas não por quem ficar prejudicado por elas. Aplica-se ao
agente a velha máxima "ubi commoda, ibi incommoda".
O C.C. regula a responsabilidade pelo risco nos arts. 499º C.C. e seguintes, sendo
de realçar aqui os arts. 502º C.C. (danos causados por animais que resultem do perigo especial
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da sua utilização), 503º C.C. (danos provenientes dos riscos próprios de veículos de circulação
terrestre) e 509º C.C. (danos causados por instalações de energia elétrica ou gás), sendo certo
que este último caso se distingue um pouco dos dois primeiros, dado que a responsabilidade
não resulta de uma atividade mas é inerente à instalação. Há, além do C.C., muitas leis
especiais que vieram a contemplar novos casos da responsabilidade pelo risco.
Além da responsabilidade por factos ilícitos e da responsabilidade pelo risco, o
C.C. conhece ainda uma outra modalidade de responsabilidade civil que é a responsabilidade
por factos lícitos. Esta última não encontra, porém, no C.C. um regime geral. Os casos, todos
excecionais, estão regulados de maneira dispersa na lei (ver os arts. 339º nº2; 1322º nº 1;
1347º nº 3; 1348º nº 2; 1349º nº 3; e 1367º C.C.). Nestes casos, o titular de um direito é
obrigado a tolerar determinadas intervenções mas obtém, em contrapartida, um direito de ser
indemnizado pelos danos sofridos. Pode ser referido como paradigmático o caso do estado de
necessidade previsto no art. 339º C.C..
Segundo o art. 339º n.º 1 C.C. "é lícita a ação daquele que destruir ou danificar
coisa alheia com o fim de remover o perigo atual de um dano manifestamente superior, quer
do agente, quer de terceiro." Trata-se de uma situação de emergência. É esta que justifica e
torna lícita a ação danosa, destrutiva ou danificadora de uma coisa, da parte do lesante.
Todavia, "o autor da destruição ou do dano é obrigado a indemnizar o lesado pelo prejuízo
sofrido, se o perigo for provocado por sua culpa exclusiva; em qualquer outro caso, o tribunal
pode fixar uma indemnização equitativa e condenar nela não só o agente, como aqueles que
tiraram proveito do ato ou contribuíram para o estado de necessidade."
Acontece que todas as modalidades de responsabilidade civil que foram
mencionadas e que têm o seu regime no C.C. se mostram insuficientes quando a
responsabilidade individual não pode ser apurada. De facto, o funcionamento de instalações
técnicas sofisticadas, a informatização de muitos processos, o fabrico robotizado em grandes
séries, a automatização da produção acompanhada por uma cadeia anónima de atos isolados e
especializados, os meios de transporte e de distribuição modernos, etc. impossibilitam
praticamente sempre a individualização de um lesante e, além disso, impedem de todo o
apuramento de culpas pessoais que possam existir. Nas condições referidas aparece indicado
que os danos causados sejam imputados a quem utilizar estes modos de produção e tirar deles
os seus lucros. Para este efeito, foi introduzido pelo DL n.º 383/89, de 6 de Novembro, um
regime especial que regula a responsabilidade do produtor como mais uma forma de
responsabilidade objetiva que não pressupõe nem culpa nem ilicitude. Em princípio, o produto
deve ter sido corretamente utilizado.
Em muitas circunstâncias sucede que a causação de um dano resulta de atos
praticados por vários autores. Se assim for, todos eles respondem civilmente por atos próprios
pelos danos que hajam causado (art. 490º C.C.). De acordo com o disposto no art.497º nº 1
C.C., a sua responsabilidade perante o lesado é solidária. Como explica o art. 512º nº 1- 1ª
parte- C.C., "a obrigação é solidária, quando cada um dos devedores responde pela prestação
integral e esta a todos libera." Por isso, "o credor tem o direito de exigir de qualquer dos
devedores toda a prestação" (art. 519º nº 1- 1ª parte- C.C.). Este regime de responsabilidade
solidária coloca o lesado numa posição muito vantajosa: ele pode, de entre os vários autores
do facto danoso, escolher aquele onde lhe é mais fácil obter a indemnização pelo prejuízo
sofrido. Obviamente, o lesado pode receber a sua indemnização apenas uma vez. Na verdade,
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a satisfação do seu direito por um dos lesantes responsáveis (art. 490º C.C.) produz a extinção,
em relação ao lesado, das obrigações dos restantes devedores da indemnização (art. 523º
C.C.). Estes hão-de acertar, agora, as contas entre si, o que sucede com o recurso ao direito de
regresso regulado no art. 524º C.C.. "O devedor que satisfizer o direito do credor além da parte
que lhe competir tem direito de regresso contra cada um dos condevedores, na parte que a
estes compete."
Em todos os casos de responsabilidade regulados pelo C.C., descritos até agora, o
lesante, ao qual incumbe ressarcir o lesado dos danos sofridos, responde por atos próprios.
Contudo, há casos em que alguém tem de responder por atos de outrem. Esta
responsabilidade por atos de outrem verifica-se tanto na responsabilidade contratual com na
extracontratual.
Na responsabilidade contratual compete ao devedor o cumprimento da sua
obrigação para com o credor. "O devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a
que está vinculado" (art. 762º nº1 C.C.) ao credor certo (art. 769º C.C.), no lugar certo (art.
772º nº 1 C.C.) e dentro do prazo certo (art. 777º nº 1 C.C.). Mas com frequência o devedor
não pode ou não precisa de cumprir em pessoa. Nestes casos serve-se de um auxiliar no
cumprimento e, consequentemente há-de assumir a responsabilidade pelos atos deste. Para o
efeito, o C.C. prevê no art. 800º nº 1 C.C.: "O devedor é responsável perante o credor pelos
atos ... das pessoas que utilize para o cumprimento da obrigação, como se tais atos fossem
praticados pelo próprio devedor." Estamos aqui em face de uma responsabilidade muito
severa destinada a assegurar que obrigações uma vez assumidas por efeito de uma vinculação
autónomo-privada são também cumpridas. Vale, de novo, o princípio "pacta sunt servanda",
consagrado no art. 406º nº1- 1ª parte- C.C..
Mas também na responsabilidade extracontratual, na responsabilidade civil em
sentido restrito, encontramos, à parte o art. 491º C.C. já referido, um exemplo, aliás
importante, em que alguém responde por atos praticados por outrem. É o caso da
responsabilidade do comitente pelos atos do seu comissário, regulado no art. 500º C.C..
"Aquele que encarrega outrem de qualquer comissão responde, independentemente de culpa,
pelos danos que o comissário causar, desde que sobre este recaia também a obrigação de
indemnizar" (art. 500º nº 1 C.C.).
O art. 500º C.C. é um caso da responsabilidade pelo risco no que respeita ao
comitente. Este assume, independentemente de culpa sua, o risco de o seu comissário causar
danos ao incorrer em responsabilidade civil – ou por factos ilícitos, ou pelo risco, ou por factos
lícitos – e ao ficar obrigado de indemnizar, por causa disso, o lesado. Apenas quando a
obrigação de indemnizar, por efeito da responsabilidade civil, se tiver concretizado, primeiro,
na pessoa do comissário, esta obrigação é assumida, a seguir, pelo comitente em relação ao
lesado. Para o lesado esta solução da lei significa uma melhoria considerável quanto às suas
possibilidades de vir a ser indemnizado. Comitente e comissário respondem-lhe solidariamente
(art. 497º nº 1 C.C.) de modo que o lesado pode pedir a indemnização a quem lhe parece mais
oportuno. Normalmente será o comitente que se vê obrigado a indemnizar o lesado, mas pode
não ser assim. O comitente que indemnizar o lesado tem o direito de exigir do comissário o
reembolso de tudo quanto haja pago, exceto se houver também culpa da sua parte (art. 500º
nº 3- 1ª parte- C.C.). Quer dizer, o direito de reembolso apenas existe se só o comissário tiver
agido com culpa. Esta solução da lei está perfeitamente correta, uma vez que não
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corresponderia às suas decisões valorativas se o autor de uma lesão, causada culposamente,
ficasse isento da sua responsabilidade unicamente em virtude do facto de ter havido um
terceiro que se viu obrigado, por lei, a indemnizar o lesado. Porém, se houver culpa
igualmente do lado do comitente aplicam-se as regras do art. 497º nº 2 C.C., que determina
que "o direito de regresso entre vários responsáveis existe na medida das respectivas culpas e
das consequências que delas advieram, presumindo-se iguais as culpas das pessoas
responsáveis." Acrescenta-se que do disposto nos arts. 500º nº 3 C.C., e 497º nº 2 C.C., resulta
ainda que não há direito de reembolso ou de regresso contra o comissário quando este tiver
incorrido em responsabilidade civil por facto não culposo.
De qualquer maneira, "a responsabilidade do comitente só existe se o facto
danoso for praticado pelo comissário no exercício das suas funções" (art. 500º nº 2 C.C.), mas
não por ocasião das mesmas. Significa isto que o comitente pode afastar a sua
responsabilidade para com o lesado se provar que o comissário agira fora das suas funções,
uma possibilidade que um devedor que no cumprimento da sua obrigação se servir de um
auxiliar (art. 800º C.C.) não tem nem pode ter. Trata-se de situações de interesse não
comparáveis, visto na responsabilidade contratual existir uma vinculação prévia a ato lesivo,
vinculação essa em relação à qual há uma estrita obrigação do cumprimento.
O lesante que for chamado a cumprir a sua obrigação de indemnizar o lesado,
responde para o efeito com todos os seus bens susceptíveis de penhora (art. 601º- 1ª parte-
C.C.), ou seja, com os ativos do seu património. Ora, como referimos, a responsabilidade civil é
susceptível de destruir uma pessoa, na medida em que o seu património pode ficar
completamente arruinado sob o peso das indemnizações. Por isso mesmo devem existir
caminhos em ordem a limitar a responsabilidade. E, de facto, estas limitações existem, quer
por via negocial quer por via legal, mas apresentam uma grande heterogeneidade que dificulta
qualquer esforço de sistematização.
É logo o art. 602º C.C. que nos diz ser possível negociar uma limitação da
responsabilidade por convenção na medida em que permite, salvo quando se trate de matéria
subtraída à disponibilidade das partes, limitar a responsabilidade do devedor a alguns dos seus
bens no caso de a obrigação não ser voluntariamente cumprida. E também o nº 2 do art. 800º
C.C., prevê, face à responsabilidade severa estabelecida no seu nº 1, que esta pode ser
convencionalmente excluída ou limitada, mediante acordo prévio dos interessados, desde que
a exclusão ou limitação não compreenda atos que representem a violação de deveres
impostos por normas de ordem pública. As partes têm, portanto, um espaço negocial bastante
amplo para compor os seus interesses nesta matéria.
Cláusulas limitativas ou exclusivas da responsabilidade podem ser estabelecidas
também por via de declarações negociais unilaterais sempre que a lei não as proíba. De
qualquer maneira, a lei encara as cláusulas limitativas com reserva ao determinar, no art. 809º
C.C., que "é nula a cláusula pela qual o credor renuncia antecipadamente a qualquer dos
direitos que lhe são facultados nos casos de não cumprimento ou mora do devedor, salvo o
disposto no nº 2 do artigo 800º C.C.." Há quem entenda que a norma do art. 809º C.C. deve ser
interpretada restritivamente.
Um outro meio negocial, mas já fora do C.C., com vista a circunscrever a
responsabilidade a apenas uma parte do património consiste na adoção de uma forma jurídica,
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adequada para efeito desejado. Contudo, existem também limitações da responsabilidade por
força da lei, já previstas no próprio C.C..
Temos neste contexto, em primeiro lugar, a culpa do lesado. "Quando um facto
culposo do lesado tiver concorrido para a produção ou agravamento dos danos, cabe ao
tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas
consequências que delas resultaram, se a indemnização deve ser totalmente concedida,
reduzida ou mesmo excluída" (art. 570º nº 1 C.C.). Se a responsabilidade do lesante se basear
numa simples presunção de culpa, a culpa do lesado, na falta de disposição legal em contrário,
até exclui o dever de indemnizar da parte do lesante (art. 570º nº 2 C.C.). Também no caso
previsto no art. 505º C.C., a responsabilidade do lesante com base no art. 503º C.C. é excluída
pela culpa do lesado. De resto, ao facto culposo do lesado é equiparado o facto culposo dos
seus representantes legais e das pessoas de quem ele se tenha utilizado (art. 571º C.C.), uma
disposição, aliás, em sintonia com o disposto no art. 800º C.C..
Além das duas situações já referidas, há mais casos de exclusão da
responsabilidade que encontramos nos arts. 505º C.C. e 509º nº 2 C.C., nomeadamente
quanto a danos devidos à força maior. Em todos os casos de exclusão da responsabilidade o
lesante fica isento da indemnização. Noutras situações, o C.C., como de resto já vimos várias
vezes, recorre a critérios, nem sempre infalíveis, de equidade para limitar o montante da
responsabilidade. São de lembrar os arts. 339º nº 2; 489º nº 1; 494º; 496º nº3, ou 503º nº 2
C.C.. A lei procura aqui permitir que venha a ser estabelecido um justo equilíbrio entre os
interesses e expectativas em causa. Repetidas vezes, o C.C. recorre à fixação de limites
máximos como sucede, por exemplo, nos casos previstos nos arts. 504º nº 2 e 3; 508º e 510º
C.C..
Por fim podem ser mencionados os casos em que a lei se serve da figura da
separação dos patrimónios, prevista no art. 601º- 2ª parte- C.C.. Surgem-nos como exemplos a
responsabilidade limitada do menor, nos termos dos arts. 127º nº 1 alínea c) e 1649º nº 2- 2ª
parte- C.C.; a responsabilidade do herdeiro limitada aos bens da herança (art. 2071º C.C.); a
responsabilidade dos cônjuges pelas dívidas contraídas, limitada ou aos bens comuns ou aos
bens próprios de cada um deles (arts. 1695º e 1696º C.C.) ou a responsabilidade por dívidas da
associação sem personalidade jurídica, limitada em princípio ao património que constitui o seu
fundo comum (art. 198º C.C.). Porém, todas estas limitações da responsabilidade, nas suas
várias configurações e constelações, muitas vezes não satisfazem. Uma proteção eficaz contra
as consequências patrimoniais ruinosas que podem decorrer da responsabilidade são os
seguros. Os seguros são quase sempre indicados em casos de responsabilidade civil objetiva,
onde a concretização dos riscos danosos pode dar origem a prejuízos muito avultados ou
mesmo incalculáveis que ultrapassam as capacidades económicas do lesante, de qualquer
lesante. Por isso, é a lei que em muitas situações deste tipo – e com o objetivo de proteger o
lesante e também a sociedade – impõe um seguro obrigatório. Mas também para os riscos
gerais de vida (doença, invalidez, desemprego, etc.) e os casos da responsabilidade civil
subjetiva ou da responsabilidade contratual, um seguro, mesmo não obrigatório, pode ser
vantajoso em atenção às circunstâncias concretas, embora possa não abranger os danos
causados com dolo ou culpa grave. O recurso ao seguro não significa, todavia, a eliminação dos
riscos. Os riscos subsistem, uma vez que não podem ser eliminados. Apenas as consequências
da sua concretização são deslocados para o seguro. A proteção patrimonial por meio do
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seguro, por seu lado, leva a uma coletivização dos danos bem como da responsabilidade, que
deixa de ser individual. Esta conclusão põe em causa o sistema valorativo em que assenta a
responsabilidade. Sendo porém indiscutível a necessidade social do seguro, a coletivização daí
resultante deve ser atenuada por meio de um sistema de individualização dos prémios de
seguro, que beneficia quem não causar danos e onera quem os produzir. O sentimento da
responsabilidade individual deve ser preservado e, na medida em que a obrigação de
indemnizar constitui uma sanção, o efeito sancionatório não pode ser iludido por completo.
Em contrapartida, também deve ser mencionado que a existência do seguro torna possível
correr riscos económicos que, doutra maneira, talvez não fossem assumidos. Sob este aspeto o
seguro constitui um apoio a atividades dinâmicas e empreendedoras.
Responsabilidade Civil
Subjetiva: indeminização
depende da culpa do lesante
Objetiva: indeminização é
feita independentemente da
culpa do lesante
Modalidades:
Factos lícitos (exceção – art.339º, 1349º nº3, 1367º C.C.)
Riscos (exceção/sem culpa – art.499º e ss C.C. - Responsabilidade
exceção, pois só existe nos casos previstos na lei.
Responsabilidade civil que uma pessoa tem sem culpa ou
independentemente da culpa. Desenvolve uma atividade geradora
de risco para os outros)
Factos ilícitos (regra geral [5 pressupostos] – responsabilidade civil
subjetiva porque assenta na culpa do agente – art.483º C.C.)
5 Pressupostos:
• Ilicitude (violação do direito de outrem ou qualquer
Necessários para a
disposição destinada a proteger interesses alheios)
indeminização (base legal art.
• Facto voluntário do agente (comportamento
483º C.C.):
dominado pela vontade do agente- que não é
Restauração “in natura”:
hipnotizado, instrumentalizado, coagido, manietado)
art. 562º C.C.
• Culpa (dolo [intenção de causar danos]; mera culpa
Restauração por
ou negligencia (art. 494º C.C.) [omissão do dever de
equivalente pecuniário:
cuidado e de diligencia])
art. 566º C.C.
• Dano (patrimonial [danos cessantes – art.564º C.C. e
Compensação
danos emergentes – art.564º C.C.]; moral e Não
monetária: art. 496º
Patrimoniais)
C.C.
• Nexo causalidade (ligação causal entre o facto
gerador do dano e o próprio dano.)
•
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Ilegitimidades conjugais
Domicílio
Ausência
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Utiliza-se o termo ausência para significar o facto de certa pessoa se não encontrar
na sua residência habitual. O sentido técnico, rigoroso, de “ausência”, traduzido num
desaparecimento sem notícias, ou nos termos da lei, do desaparecimento de alguém “sem que
dele de saiba parte” (art. 89º/1 CC), que o termo ausência é tomado, para o efeito de
providenciar pelos bens da pessoa ausente, carecidos de Administração, em virtude de não ter
deixado representante legal ou voluntário (procurador).
Para o Direito este facto só é preocupante quando ele determina a impossibilidade
ou a dificuldade de atuação jurídica do ausente no seu relacionamento com matérias que
exigem a intervenção dessa pessoa. Nomeadamente quando essa ausência determina a
impossibilidade do ausente gerir o seu próprio património, fala-se em ausência simples ou
ausência qualificada.
As consequências da ausência
· A ausência de um cônjuge, por um período não inferior a três anos, dá direito ao outro
cônjuge pedir o divórcio litigioso (art. 1781º CC, alterado pelo DL 47/98).
· A ausência de um cônjuge, admite ao outro o poder administrar os bens próprios do
ausente.
· A ausência de um dos progenitores, é causa de concentração do exercício paternal no
outro cônjuge.
· A ausência de ambos os cônjuges, pode determinar a aplicação do regime da tutela, se
essa ausência for superior a seis meses.
· A ausência de uma pessoa, pode dar lugar a aplicação de medidas cautelares ou
conservatoriais dos seus bens.
· A ausência dos membros, do órgão de gestão de uma sociedade, pode constituir
fundamento para ser requerida falência de uma empresa.
. Para que se verifique a ausência é necessária uma decisão judicial.
Elementos que integram o conceito de ausência qualificada
1. Não presença da pessoa;
2. Em determinado lugar (lugar este de residência habitual);
3. Ignorância geral do seu paradeiro por parte das pessoas com quem o ausente mantém
contactos sociais mais próximos.
Esta ignorância tem como consequência a impossibilidade de contactar essa
pessoa, para obter certas providências no sentido da gestão dos seus bens.
A ideia chave do regime da ausência, é a de estabelecer meios destinados a assegurar a
Administração do ausente, dado que não é possível contactar com ele para providenciar tal
respeito.
Os pressupostos de que a lei faz depender a nomeação de um curador provisório,
são o desaparecimento de alguém sem notícia, a necessidade de prover acerca da
Administração dos seus bens e a falta de representante legal ou de procurador (art. 89º CC).
A presunção da lei, nesta fase, é de um possível regresso do ausente; tanto o Ministério
Público como qualquer interessado, têm legitimidade para requerer a curadoria provisória e as
providências cautelares indispensáveis (art. 91º CC), a qual deve ser definida a uma das
seguintes pessoas: (1) cônjuge; (2) algum ou alguns dos herdeiros presumidos; (3) ou alguns
dos interessados na conservação dos bens (art. 92º CC). O curador funciona como um simples
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administrador (art. 94º CC), devendo prestar caução (art. 93º CC) e apresentar anualmente ou
quando o Tribunal o exigir (art. 95º CC).
A curadoria provisória termina quando, nos termos da lei (art. 98º CC):
a) Pelo regresso do ausente;
b) Se o ausente providenciar acerca da Administração dos bens;
c) Pela comparência da pessoa que legalmente represente o ausente ou de procurador
bastante;
d) Pela entrega dos bens aos curadores definitivos ou ao cabeça-de-casal, nos termos do art.
103º CC.
e) Pela certeza do ausente.
Para a ausência presumida a lei prevê como forma de suprimento a curadoria provisória.
A probabilidade de a pessoa ausente não regressar é nessa fase maior, visto que a
lei a possibilita o recurso à justificação da ausência no caso de ele ter deixado representante
legal ou procurador bastante art. 99º CC).
Como requisitos é necessário:
a) Ausência qualificada
b) Existência de bens carecidos de Administração;
c) Certo período da ausência.
A legitimidade para o pedido de instauração da curadoria definitiva pertence
também aqui ao Ministério Público ou a algum dos interessados, sendo estes, contudo, além
do cônjuge, os herdeiros do ausente e todos os que tiverem sobre os seus bens qualquer
direito dependente da sua morte.
A curadoria definitiva termina (art. 112º CC).
a)Pelo regresso do ausente;
b) Pela notícia da sua existência e do lugar onde reside;
c) Pela certeza da sua morte;
Para a ausência justificada. A lei prevê como forma de suprimento a curadoria definitiva.
Morte presumida
Pessoas Singulares
Incapacidade casamento (art. 1601º C.C.) Menoridade (art. 122º a 129º C.C.)
Incapacidade perfilhação (art. 1805º nº1 C.C.) Interdição (art. 138º a 151º C.C.)
São organizações constituídas por uma colectividade de pessoas ou por uma massa de
bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou colectivos, às quais a ordem jurídica
atribui a Personalidade Jurídica.
É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a susceptibilidade de
direitos e vinculações.
Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por
bens, que constituem centros autónomos de relações jurídicas.
Há, duas espécies fundamentais de Pessoas coletivas: as Corporações e as Fundações.
As Corporações, têm um substracto integrado por um agrupamento de pessoas singulares
que visam um interesse comum, egoístico ou altruístico. Essas pessoas ou associados
organizam a corporação, dão-lhe assistência e cabe-lhe a sua vida e destino.
As Fundações, têm um substracto integrado por um conjunto de bens adstrito pelo
fundador a um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a atribuição
patrimonial a favor da nova Fundação, as directivas ou normas de regulamentação do ente
fundacional da sua existência, funcionamento e destino.
A função economico-social do instituto da personalidade coletiva liga-se à realização de
interesses comuns ou colectivos, de carácter duradouro.
Os interesses respeitantes a uma pluralidade de pessoas, eventualmente a uma
comunidade regional, nacional ou a género humano, são uma realidade inegável: são os
referidos interesses colectivos ou comuns. Alguns desses interesses são duradouros,
excedendo a vida dos homens ou, em todo o caso, justificando a criação de uma organização
estável.
Tanto as corporações como as fundações necessitam do substrato para adquirem a
persoalidade jurídica. Este é o conjunto de elementos da realidade extra-jurídica, elevado à
qualidade de sujeito jurídico pelo reconhecimento.
O substracto é imprescindível para a existência da Pessoa Coletiva:
a) Elemento Pessoal, verifica-se nas Corporações. É a colectividade de indivíduos que se
agrupam para a realização através de actividades pessoais e meios materiais de um escopo ou
finalidade comum. É o conjunto dos associados. E o Elemento Patrimonial, intervém nas
Fundações. É o complexo de bens que o fundador afectou à consecução do fim fundacional.
Tal massa de bens designa-se habitualmente por dotação. Nas Corporações só o Elemento
Pessoal é relevante, só ele sendo um componente necessário do substracto da Pessoa
Coletiva. Pode existir a corporação, sem que lhe pertença património. Por sua vez nas
Fundações só o Elemento Patrimonial assume relevo no interior da Pessoa Coletiva, estando a
actividade pessoal – necessária à prossecução do escopo fundacional – ao serviço da afectação
patrimonial – estando subordinada a esta, em segundo plano ou até, rigorosamente, fora do
substracto da Fundação. Parece portanto, que: 1) Nas Corporações, é fundamental apenas o
Elemento Pessoal, sendo possível, embora seja uma hipótese rara, a inexistência de um
património; este, quando existe, está subordinado ao elemento pessoal; 2) Nas Fundações, é
fundamental o Elemento Patrimonial, sendo a actividade pessoal dos administradores
subordinada à afectação patrimonial feita pelo fundador e estando ao serviço dela;
beneficiários e fundadores estão, respectivamente, além e aquém da Fundação.
b) Elemento Teleológico: a Pessoa Coletiva deve prosseguir uma certa finalidade,
justamente a fim ou causa determinante da formação da colectividade social ou da dotação
fundacional. Torna-se necessário que o escopo visado pela Pessoa Coletiva satisfaça a certos
requisitos, assim: 1) Deve revestir os requisitos gerais do objectivo de qualquer negócio
jurídico (art. 280º CC). Assim, deve o escopo da Pessoa Coletiva ser determinável, física ou
legalmente, não contrária à lei ou à ordem pública, nem ofensivo aos bons costumes (art. 280º
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CC); 2) Deve se comum ou colectivo. Manifesta-se a sua exigência quanto às sociedades.
Quanto às Associações que não tenham por fim o lucro económico dos associados não há
preceito expresso, formulando a sua exigência, mas esta deriva da razão de ser do instituto da
personalidade coletiva. Quanto às Fundações a exigência deste requisito não oferece dúvidas
estando excluída a admissibilidade duma Fundação dirigida a um fim privado do fundador ou
da sua família; com efeito, dos arts. 157º e 188º/1 CC, resulta a necessidade de o escopo
fundacional de ser de interesse social; 3) Põe-se, por vezes, o problema de saber se o escopo
das Pessoas coletivas deve ser duradouro ou permanente. Não é legítima a exigência deste
requisito em termos da sua falta impedir forçosamente a constituição de uma Pessoa Coletiva.
c) Elemento Intencional: trata-se do intento de constituir uma nova pessoa jurídica,
distinta dos associados, do fundador ou dos beneficiários. A existência deste elemento radica
na circunstância de a constituição de uma Pessoa Coletiva ter na origem um negócio jurídico: o
ato da constituição nas Associações (art. 167º CC), o contracto de sociedade para as
sociedades (art. 980º CC) e o ato de instituição nas Fundações (art. 186º CC). Ora nos negócios
jurídicos os efeitos determinados pela ordem jurídica dependem, em termos que
posteriormente serão explicitados, da existência e do conteúdo duma vontade
correspondente. Falta também o elemento intencional nas Fundações de facto e nas
Fundações fiduciárias. Estamos perante a primeira figura (Fundação de facto) quando um
indivíduo pretende criar ou manter uma obra de utilidade pública, financiando-a com uma
certa parte do seu património, mas sem contrair um vínculo jurídico correspondente,
podendo, em qualquer momento, pôr termo à afectação desses bens àquele fim. Estamos
perante a segunda figura (Fundação fiduciária) quando se dispõe a favor de uma certa Pessoa
Coletiva já existente, para que ela prossiga um certo fim de utilidade pública, compatível com
o seu próprio escopo. São uma manifestação típica de liberdades com cláusula modal.
d) Elemento organizatório: a Pessoa Coletiva é, igualmente, por uma organização
destinada a introduzir na pluralidade de pessoas e de bens existente uma ordenação
unificadora.
Ambas as pessoas coletivas necessitam de órgãos para reger a mesma.Esses órgãos
são um conjunto de poderes organizados e ordenados com vista à prossecução de um certo
fim que se procede à formulação e manifestação da vontade da Pessoa Coletiva, sendo assim
que a Pessoa Coletiva consegue exteriorizar a sua vontade (coletiva).
É o instrumento jurídico através do qual se organizam as vontades individuais que formam
e manifestam a vontade coletiva e final da associação. São o elemento estrutural, não tendo
realidade física. (“É através dos órgãos que a Pessoa Coletiva, conhece, pensa e quer”
(Marcello Caetano)).
Os atos dos órgãos da Pessoa Coletiva têm efeito meramente internos para a satisfação
dos fins dessa Pessoa Coletiva.
É o centro de imputação de poderes funcionais com vista à formação e manifestação da
vontade juridicamente imputável à Pessoa Coletiva, para o exercício de direitos e para o
cumprimento das obrigações que lhe cabem. Não tem todos os poderes e nem todos os
direitos que cabem à Pessoa Singular, só tem Capacidade de Exercício para aquilo que lhe é
especificamente imposto.
A cada órgão são atribuídos poderes específicos segundo uma certa organização interna,
que envolve a determinação das pessoas que os vão exercer. Os titulares são os suportes
funcionais atribuídos a cada órgão, o qual denomina-se competência do órgão. O orgão
individual – decide e o orgão deliberativo – delibera.
Os órgãos podem ser singulares ou colegiais. Esta distinção resulta do suporte do órgão ser
constituído por uma (singular) ou várias (colegial) pessoas.
Há duas classificações quanto á competência: 1) Órgãos Activos: atende-se ao facto de os
órgãos exprimirem uma vontade juridicamente imputável à Pessoa Coletiva. Que se subdivide
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em órgãos internos e órgãos externos. Cabe ao órgão formar a vontade da Pessoa Coletiva ou
projectar para o exterior a vontade da Pessoa Coletiva; 2) Órgãos Consultivos: limita-se a
preparar elementos informadores necessários à formação da deliberação ou decisão final.
A modalidade de atribuição da Personalidade Jurídica à Pessoa Coletiva, varia consoante a
categoria da mesma. O reconhecimento pode ser:
a) Normativo: a Personalidade Jurídica da Pessoa Coletiva é atribuída por uma norma
jurídica a todas as entidades que preenchem certos requisitos inseridos nessa norma
jurídica. Este pode ainda ser:
· Incondicionado: quando a atribuição da Personalidade Jurídica só depende da
existência de um substracto completo. Não são necessárias mais exigências.
· Condicionado: quando a ordem jurídica, já pressupõe certos requisitos de
personificação.
b) Individual, por Concessão ou Específico: verifica-se quando esse reconhecimento
resulta de um certo ato de autoridade, ato esse que é da Personalidade Jurídica uma
entidade concreta.
c) Explícito: quando a norma legal ou o ato de autoridade contém específica ou
diretamente a atribuição da personalidade. Art. 158º/1 CC, de acordo com este artigo
relativamente às Associações, o princípio do reconhecimento da Personalidade Jurídica
por concessão. De acordo com este princípio, só o reconhecimento especial, concedido
caso a caso, pelo Governo ou seus representantes, converte o conjunto de pessoas
(associadas) ou a massas de bens, num centro autónomo de direitos e obrigações,
elevando-os juridicamente à condição de Pessoas coletivas.
O reconhecimento das Fundações é da competência da autoridade administrativa, sem
indicar concretamente qual seja essa autoridade. Haver que recorrer, pois, para este efeito, às
leis que delimitam a competência dos órgãos da Administração estadual.
O fim das pessoas coléticas é um elemento exterior à estrutura desta.
O fim, traduz-se na prossecução dos interesses humanos que são definidos quando se
decide da criação da Pessoa Coletiva.
O fim tem de: a) Estar determinado: a exigência desta característica decorre da essência
dasua existência; b) Ser comum ou colectivo: daqui resulta a possibilidade de se constituir uma
Pessoa Coletiva com fins egoísticos; c) Ser lícito: o fim da Pessoa Coletiva tem de satisfazer os
requisitos legalmente definidos.
As Pessoas coletivas têm de ter uma certa permanência e um caracter duradouro. É
possível perante o sistema jurídico português constituir-se uma Pessoa Coletiva para um único
fim, no entanto, tem de ter uma determinada durabilidade.
Estas tem por critério a composição do substracto quanto ao primeiro dos elementos
integradores: as Corporações são colectividades de pessoas, as Fundações são massas de bens.
As Corporações são constituídas e governadas por um agrupamento de pessoas (os
associados), que subscrevem originariamente os estatutos e outorgam no ato constitutivo ou
aderem posteriormente à organização. Os associados dominam através dos órgãos da
corporação, podendo mesmo alterar os estatutos.
As Fundações são instituídas por um ato unilateral do fundador de afectação de uma
massa de bens a um dado escopo de interesse social. O fundador, além de indicar no ato da
instituição o fim da Fundação e de especificar os bens que lhe são destinados, estabelecerá de
uma vez para sempre as normas disciplinadoras da sua vida e destino.
As Corporações visam um fim próprio dos associados, podendo ser altruístico, e são
governadas pela vontade dos associados. São regidas por uma vontade imanente, por uma
vontade própria, que vem de dentro e, por isso, pode dizer-se que têm órgãos dominantes.
As Fundações visam um interesse estranho às pessoas que entram na organização
fundacional; viam um interesse do fundador de natureza social e são governadas pela vontade
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inalterável do fundador, que deu o impulso inicial à Fundação e, desse modo, a animou com a
vontade necessária à sua vida. São reguladas, pois, por uma vontade transcendente, por uma
vontade de outrem, que vem de fora e, por isso, pode dizer-se que têm organização
servientes.
Esta classificação – Associações, Fundações, Sociedades – não tem um carácter unitário,
porque as Associações e sociedades são Pessoas coletivas de tipo corporativo e por isso
impõem-se as Fundações.
Por outro lado, as Associações e Fundações, integram uma mesma categoria oposta às
sociedades, porque estas visam fins económicos e aquelas não.
A tipificação legal das Associações, Fundações e sociedades é notória no Código Civil. Este
regula a matéria das Associações e Fundações no cap. II, dedicado às Pessoas coletivas, arts.
167º seg. - Associações; arts. 185º seg. - Fundações.
O art. 157º (as disposições do presente capítulo são aplicáveis às Associações que não
tenham por fim o lucro económico dos associados, às Fundações de interesse social, e ainda às
sociedades, quando a analogia das situações o justifique.), é o primeiro artigo do Código Civil
onde se estabelece o regime das Pessoas coletivas. Esclarece este artigo, que se aplica
diretamente às Fundações sem fim lucrativo; às Fundações de interesse social e também às
sociedades sempre que a analogia das situações o justifique.
No art. 157º CC, o legislador entendeu que há três tipos de Pessoas coletivas.
No ordenamento jurídico português, há em termos legais uma separação de Pessoas
coletivas de Direito Público em Associações e Fundações.
Os arts. 167º a 184º CC, visam regular as Associações em sentido restrito.
O legislador faz distinções entre Pessoas coletivas e sociedades (art. 2033º/2 CC. Na
sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade: b) As pessoas colectivas e as
sociedades).
No entanto, quando se fala de Pessoas coletivas, não se quer excluir as sociedades. A
Pessoa Coletiva abrange sempre as sociedades.
Na ordem jurídica portuguesa há sociedades comerciais e as sociedades civis sob a forma
comercial.
O legislador usa palavra Pessoa Coletiva num sentido amplo (encontram-se abrangidas as
entidades susceptíveis de personificação) e restrito (as sociedades).
Sociedade, é uma associação privada com fim económico lucrativo. Nos termos do art. 1º
nº2 do Código das Sociedades Comerciais, a sociedade é comercial quando tenha por objecto a
prática de atos de comércio e adopte um dos diversos tipos regulados nesse código.
A sua caracterização faz-se em, função do seu objecto e da sua organização formal.
Podem revestir quatro formas: 1 Sociedades em nome colectivo: nestas sociedades cada
sócio responde individualmente pela sua entrada e responde ainda solidariamente e
subsidiariamente pelas organizações sociais (art. 175º nº1 CSC). Neste caso, se um dos sócios
satisfizer do passivo social mais que aquilo que lhe competia, tem direito de regresso sobre os
demais sócios (art. 175º/3 CSC); 2. Sociedade por quotas de responsabilidade limitada: cada
sócio responde apenas pela realização da sua quota e solidariamente pela dos demais sócios
até à completa realização do capital social. No entanto não responde em geral pelas dívidas
sociais (art. 197º/1/3 CSC); 3. Sociedades anónimas: cada sócio responde apenas pela
realização das acções que subscreveu. Uma vez realizado o seu capital, o sócio não responde
nem pela realização da quota dos demais sócios, nem pelas dívidas sociais; 4. Sociedades em
Comandita: nestas sociedades o regime de responsabilidade dos sócios é misto: há sócios
comanditados que são aqueles que respondem como sócios das sociedades em nome
colectivo e há os sócios comanditários, estes respondem apenas pela sua entrada na sociedade
(art. 477 seg. CSC).
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Caracterizam-se pela circunstância de não terem por objecto a prática de atos de comércio
nem o exercício de quaisquer actividades previstas no Código Comercial. No entanto, a lei
comercial portuguesa admite a possibilidade dessas sociedades civis adoptarem as formas
comerciais para efeito de estruturação das quatro formas que pode revestir a sociedade
comercial. Neste caso, passam a chamar-se sociedades civis sob forma comercial e ficam,
sujeitas às disposições do Código das Sociedades Comerciais. No entanto, não ficam sujeitas a
um conjunto de obrigações específicas das sociedades comerciais. São Pessoas coletivas com
Personalidade Jurídica.
São aquelas que não têm por objecto a prática de atos comerciais e estão sujeitas ao
regime do Código Civil. Aplicam-se-lhes as disposições do art. 980º seg. CC. Estas sociedades
civis simples, distinguem-se das sociedades civis sob forma comercial, dada a forma que
revestem, que está relacionada com a sua organização formal.
Tem ainda uma outra característica que é o facto de ficarem subordinadas ao regime da lei
civil.
No que toca à responsabilidade dos sócios destas sociedades, segue-se o modelo de
responsabilidade dos sócios das sociedades em nome colectivo.
Para além da responsabilidade dos bens de entrada, diz o art. 997º CC, que eles também
têm ainda a responsabilidade pessoal e solidariamente pelas dívidas sociais.
As pessoas coletivas para inicarem a sua personalidade e se constituírem necessitam de
três distintos: 1. Organização do substracto da Pessoa Coletiva; 2. Reconhecimento da Pessoa
Coletiva; e 3. Registo da Pessoa Coletiva.
No que toca à organização do substracto da pessoa coletiva, tem de se ter em atenção os
requisitos e formalidades comuns à constituição da Pessoa Coletiva.
A existência de um conjunto de pessoas ou existência de um conjunto de bens
organizados, por forma a assegurarem a prossecução de certos fins tutelados pelo Direito
(substracto).
A personalidade coletiva assenta numa realidade social que implica a reunião de pessoas
determinadas, pessoas essas que prosseguem um certo fim que lhes é comum e que também,
criam um património que é determinado à realização de certos objectivos colectivos, que essas
pessoas entendem como socialmente relevantes.
Depois, segue-se o negócio jurídico. Negócio esse que se manifesta numa vontade
adequada à realização dos objectivos que nos propusermos e através deste regime jurídico do
Código das Sociedades Comerciais, adequamos o tal substracto à realização de um fim.
À formação do substracto das Associações referem-se os arts. 167º e 168º CC. A primeira
destas disposições, no seu n.º 1, refere-se ao chamado ato de constituição da associação,
enunciando as especificações que o mesmo deve conter; o n.º 2 refere-se aos chamados
estatutos.
O ato de constituição da associação, os estatutos e as suas alterações estão sujeitos a
exigências de forma e publicidade.
Devem constar de escritura pública, verificando-se, em casos de inobservância desta
exigência, a sanção correspondente ao vício de forma: nulidade. Deve-se, além disso, o ato de
constituição e os estatutos ser publicados no Diário da República, só pena de ineficácia em
relação a terceiros, cabendo oficiosamente ao notário remeter o respectivo extracto para a
publicação, bem como à autoridade administrativa e ao Ministério Público a constituição e
estatutos, bem como a alteração destes (art. 168º/2 CC).
Note-se que a falta de escritura pública, provocando a nulidade do ato de constituição e
dos estatutos, impede o reconhecimento da associação, a qual figurará por falta deste
requisito legal (art. 158º CC), como associação sem Personalidade Jurídica (art. 195º e segs.).
A formação do substracto da sociedade pressupõe um contracto de sociedade.
Catarina Baptista
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A lei estabelece ainda para as sociedades comerciais e para as civis sob forma comercial a
escritura pública, que tem de abranger o pacto social.
A natureza do ato constitutivo varia em função do seu tipo. Há no entanto dois pontos de
contacto: denominação (Relaciona-se com um requisito prévio comum à constituição das
Pessoas coletivas. O chamado certificado de admissibilidade da firma ou denominação.
A denominação social acaba por desempenhar uma função correspondente à do nome nas
pessoas individuais. Constitui o momento de individualidade das Pessoas coletivas.
O Código Civil, apenas se refere à denominação no art. 167º/1 (quanto a Associações). Esta
matéria veio a ser regulamentada no DL n.º 42/89 de 3 de Fevereiro (de forma genérica)) e a
sede (Havendo uma sede fixada nos estatutos é irrelevante uma sede de facto, ou seja, o lugar
onde funciona normalmente a Administração principal (art. 159º CC). A fixação da sede nos
estatutos é obrigatória quanto às Associações (art. 167º/1 CC); pode alargar à sede das
Pessoas coletivas a distinção entre domicílio voluntário e legal. O papel da vontade é
extremamente amplo na escolha do lugar da sede.).
Todas as Pessoas coletivas necessitam de ser registadas. Assim, existem dois tipos: há o
registo geral e os vários registos especiais. O que mais interessa é o regime geral, visto que ser
feito no ficheiro central da Pessoa Coletiva, que existe no Registo Nacional da Pessoa Coletiva
(arts. 29º e 36º-a, DL 42/89). Além do registo geral há alguns registos especiais de Pessoa
Coletiva.
O regime de constituição de Associações é o dos arts. 167º e 168º CC.
Este ato sobre a sua natureza jurídica, distingue o ato constitutivo das Associações e das
sociedades, num distingue contracto, noutro distingue ato constitutivo. Quase toda a doutrina
vê o ato como equiparado.
O ato de constituição é plurilateral e de fim comum. O contracto seria fundamentalmente
um negócio ou contracto de terceiros. O ato de constituição tem natureza contratual.
Deve conter escritura pública. É necessário que nessa escritura pública se satisfaçam um
conjunto de exigências mínimas de conteúdo (art. 167º nº1 C.C).
No entanto, para o ato ter eficácia plena, é necessário que haja publicidade da associação
e dos seus estatutos (art. 168º nº2 e 3 C.C.).
A publicidade faz-se pela remessa do estrato de escritura de constituição ao Ministério
Público; à entidade administrativa (Governo Civil) e ao jornal oficial (Diário da República).
Para assegurar devidamente a publicidade, a lei impõe que o próprio notário promova essa
publicidade oficiosamente, a expensas da associação.
O DL 42/89, no seu art. 46º nº1 obriga que os notários comuniquem ao RNPC todos os atos
respeitantes à constituição de Associações que fizeram no mês anterior, sendo este prazo de
15 dias do mês subsequente. Sem estatutos não se pode dar forma à associação.
Além das menções obrigatórias do art. 167º/1 CC, os associados podem especificar nos
estatutos um certo número de matérias, tal como refere o art. 167º nº2 C.C..
No entanto, o Código Civil, prevenindo o caso dos associados serem mais distraídos, vem
supletivamente estabelecer um conjunto de normas que vigorarão e se aplicarão às
Associações caso os associados não especifiquem as matérias (arts. 159º, 162º, 163º, 164º,
166º C.C.).
O estatuto deve ainda constar de escritura pública (art. 168º CC), e estar sujeito ao regime
da publicidade.
Ao reconhecimento da associação refere-se o art. 158º nº1 C.C., ressalta claramente que o
reconhecimento das Associações resulta de um normativo explícito.
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Assim, hoje, uma associação constituída por escritura pública e com a observância de
todos os requisitos do art. 167º C.C., adquire automaticamente Personalidade Jurídica.
Estamos aqui perante o reconhecimento explícito, (normativo explícito) embora a lei possa
fazer depender Associações de outras formalidade.
Quanto ao reconhecimento das sociedades civis, este é normativo implícito. No plano
geral, pode-se dizer que o registo não é um elemento da aquisição de Personalidade Jurídica
das Associações. Não é um ato que confere Personalidade Jurídica a essas entidades.
Para as sociedades civis simples, pode-se dizer que o seu registo não é requisito da sua
personificação jurídica
As sociedades civis simples seguem um regime muito próximo da constituição da
Associações.
A constituição de uma sociedade simples, para que obtenha personificação, é necessário
que haja constituída por escritura pública, embora esta forma não seja imposta pelo regime
específico do contracto de sociedade que vem previsto no art. 980º C.C..
Por analogia ao art. 158º CC, deve-se constituir uma sociedade simples por escritura
pública, mas esta não é imposta.
O art. 981º nº1 C.C., só impõe escritura pública para o contracto da sociedade, quando tal
seja exigido pela natureza dos bens com que os sócios entram para a sociedade.
Se os sócios entrarem com bens imóveis nessa afectação de bens, a escritura é exigida. Se
essa forma legal não for observada quando imposta pelas razões do regime consagrado no art.
981º C.C., diversas ocorrências poderá surgir.
No caso da personificação, a primeira consequência da não escritura é a não aquisição de
Personalidade Jurídica. O ato constitutivo de uma sociedade simples é válido, no entanto essa
sociedade não tem Personalidade Jurídica.
Se houver preterição do disposto no art. 981º/1 CC, as coisas passam de modo diferente.
As consequências da inobservância da escritura pública são diversas, a da não escritura pública
é a do art. 981º C.C..
O art. 981º nº1 C.C., não ficam dúvidas de que a razão determinante da exigência de forma
legal, está ligada ao facto de poderem ser imóveis os bens com que os sócios entram para a
sociedade.
Segundo o regime estabelecido no art. 291º C.C., a inobservância de forma legal deveria
determinar a nulidade do contracto. Contudo, o art. 981º nº2 C.C., estatui que esse contracto
só é totalmente nulo se não poder converter-se segundo o disposto no art. 293º C.C.. De
acordo com o art. 981º nº2 C.C., há aqui a aplicação alternativa do regime de conversão e de
redução.
A constituição das Fundações conduz-se ao esquema geral de constituição de
Associações, e não se afasta muito desses aspectos gerais.
O facto do substracto das Associações ter natureza patrimonial, coloca o acento tónico da
organização desse próprio substracto, tenha de ser colocado em todo o conjunto de bens.
Este conjunto de bens que são afectos aos fins da Fundação, chama-se dotação ou
instituição.
Marcello Caetano, diz que é a manifestação de vontade pela qual o instituidor afecta o
património à realização de certo fim duradouro.
O art. 185º C.C., é expresso em permitir a instituição de Fundações por testamento ou por
ato inter vivos, devendo o instituidor indicar no ato de instituição o fim da Fundação e
especificar os bens que lhe são destinados e podendo ainda providenciar sobre a sede,
organização, funcionamento e eventual transformação ou extinção do ente fundacional. Em
qualquer destes casos estamos sempre perante um negócio jurídico formal, unilateral e
gratuito.
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A instituição por testamento, tem características diferentes da instituição de herdeiro ou
legatário. Todavia este ato, quando contido num testamento, tem características diferentes
das que lhe cabem quando praticado entre vivos. Assim, é livremente revogável até ao
momento da morte do testador, mas torna-se irrevogável quando o testador faleça.
Por outro lado, se os bens destinados à Fundação consistem na totalidade ou numa quota
do património do falecido, aplicam-se à instituição certas normas privativas da instituição de
herdeiro (por ex. arts. 2301º, 2068º C.C.). Têm que ser observados os requisitos dos arts.
2204º a 2210º ss. C.C..
A instituição entre vivos,trata-se de um negócio unilateral, o Código Civil (art. 457º)
reconhece a eficácia vinculativa da promessa unilateral de uma prestação, embora só nos
casos previstos na lei (art. 185º C.C.).
A instituição só se torna irrevogável quando for requerido o reconhecimento ou principiar
o respectivo processo oficioso. Portanto, até esse momento, pode o fundador revogar a
disposição (art. 185º nº3 C.C.).
O art. 185º nº4 C.C., segundo o qual os herdeiros do instituidor não é permitido revogar a
instituição por força das normas sobre a sucessão legitimária. Tal solução está aliás em
conformidade com a regra do art. 226º C.C..
Resulta igualmente do mesmo art. 185º/3/4, que o ato de instituição não pode ser
revogado com fundamento em supereminência de filhos legítimos ou outra causa própria da
revogação das doações.
As formalidades inerentes à instituição das Fundações, são determinadas pela natureza do
respectivo negócio ou ato subjacente à própria instituição.
Há também lugar a cumprimento de certas formalidades para a publicação do ato de
instituição (art. 185º nº5 e 168º nº2 e 3 C.C. - sempre que a constituição da Fundação conste
de escritura pública).
Esta forma de publicidade é observada no caso da instituição por ato entre vivos e
também tem de ser observada quando se trate de instituição mortis causa (art. 2205º C.C.).
O princípio dominante do regime de elaboração dos estatutos das fundações, é que o
instituidor pode elaborar os estatutos. Se não os elaborou, neste caso temos de distinguir se a
Fundação foi instituída por ato entre vivos, ou por testamento.
No entanto, em qualquer dos casos, ao elaborar esses estatutos, temos de ter sempre em
conta e na medida do possível a vontade real ou presumível do fundador (art. 187º/3 CC). Se
se trata de instituição de Fundação de ato inter vivos, a elaboração parcial ou total dos
estatutos cabe à entidade competente para o reconhecimento da Fundação (art. 187º CC).
Se a instituição for feita por testamento, na falta ou insuficiência dos estatutos compete
aos executores do testamento elabora-los e completá-los e têm o prazo de um ano
posteriormente à abertura da sucessão (art. 187º nº1 - parte final- nº 2 - 2ª parte- C.C.).
Se os executores do testamento não elaboraram ou completaram os estatutos desse
prazo, a incumbência passa para a entidade competente para o reconhecimento da Fundação
(art. 187º nº2 C.C.).
Independentemente da sua forma de elaboração, os estatutos de uma Fundação estão
sempre sujeitos aos formalismos da publicidade estipulados para o ato constitutivo.
O reconhecimento da Fundação é sempre um reconhecimento individual e da
competência da autoridade administrativa. Este reconhecimento é mais complexo que o das
Associações. Pode ser requerido pelo próprio instituidor como pelos herdeiros ou executores
testamentários (art. 185ºnº2 C.C.). Pode ainda ser requerido oficiosamente pela entidade
competente para reconhecer a sociedade.
O reconheciemnot das fundações só pode ser concebido quando a Fundação tenha
presente dois requisitos: um fim de interesse social; e os bens que foram afectados a essa
Fundação sejam considerados suficientes para prossecução do fim da Fundação, ou quando
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esses bens embora insuficientes no ato da instituição, a entidade administrativa entenda que o
suprimento dessa insuficiência seja fundamentalmente possível.
Quando a Administração Pública reconhece a Fundação, esse ato de reconhecimento faz
com que por esse efeito adquira de imediato Personalidade Jurídica e este mesmo ato de
reconhecimento, envolve a aceitação dos bens que são atribuídos pelo instituidor à Fundação.
Quando a Administração nega o reconhecimento da Fundação, é preciso saber o que fazer
aos bens afectados à Fundação.
O art. 158º nº2 C.C., aplicável às Fundações, prescreve o reconhecimento por concessão
ou individual, da competência da autoridade administrativa.
Já são porém, discricionários os poderes de apreciação resultantes, no que toca ao
reconhecimento das Fundações do art. 188º C.C.: deve ser negado o reconhecimento no caso
de o fim da Fundação não ser considerado de interesse social, bem como no caso de
insuficiência do património à Fundação.
Dos dois requisitos atrás focados, a lei só contempla o segundo.
O reconhecimento só pode ser negado quando não haja fundadas expectativas do
suprimento da insuficiência. Havendo essas expectativas, a insuficiência patrimonial que se
verifique no momento do reconhecimento não é por si causa impeditiva desse
reconhecimento (art. 188º nº2 C.C.).
Se essas expectativas se não vierem a verificar, tem de se entender que a Fundação pode
ser extinta pela própria entidade que é competente para fazer o reconhecimento. Isto por
analogia do art. 192º nº2 alínea a) C.C..
Se o património da afectação for definitivamente insuficiente, há que distinguir a situação
do instituidor ser vivo ou se ele já faleceu no ato da negação do reconhecimento. Se ele for
vivo, os bens ficam para o instituidor; se já tiver falecido, também se tem de fazer uma nova
distinção com base no facto do instituidor ter ou não deixado uma disposição a tal respeito; se
o instituidor tiver previsto o facto do não reconhecimento, segue-se o que ele estabeleceu; ou
se o instituidor nada previu, a entidade competente para o reconhecimento da Fundação,
deverá designar uma Fundação de fim análogo à qual esses bens deverão ser entregues, sem
que essa Fundação os possa rejeitar.
A cessação da personalidade da Pessoa Coletiva, resulta da sua extinção. Esta tem três
momentos:
1. Dissolução: opera pela verificação de um facto, que é capaz de determinar a extinção
da Pessoa Coletiva. É um facto dissolutivo, ocorrido este, inicia-se o processo de extinção.
Continua a ter Personalidade Jurídica, porque enquanto não for extinta não está
impossibilitada de retomar a sua actividade normal (art. 1019º CC). Não é um fenómeno
irreversível.
2. Liquidação: consiste na ultimação dos assuntos em que a Pessoa Coletiva estava
envolvida, e no apuramento total dos bens desta. Para isso é necessário realizar o activo
patrimonial (liquidez) e pagar o passivo da sociedade. Feito isso, apuramos o acervo.
3. Sucessão: o destino a dar ao património da Pessoa Coletiva, mediante a atribuição a
outras pessoas, sejam colectivas ou privadas (art. 166º C.C.).
As associações dissolvem-se ou extinguem-se, através de três causas:
a) Pela vontade dos associados (art. 182º/1-a CC): essa vontade tem de ser expressa em
Assembleia-geral e a deliberação tem de ser tomada por voto conforme de 3/4 de
associados. A menos que o estatuto exija um número de votos superior (art. 172º CC -
art. 175º/4/5 CC).
b) Por disposição da lei (art. 182º/1-e/2 CC): (a) pelo decurso do prazo das Associações
temporárias; (b) facto essencialmente previsto no estatuto ou no pacto social; (c) pelo
falecimento ou desaparecimento de todos os associados; (d) pela declaração de falência
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ou de insolvência (arts. 181º e 182º CC). Em (a) e (b) é licito aos associados deliberarem
no sentido da continuação da Pessoa Coletiva.
c) Por decisão Tribunal (art. 182º/2 CC): esta reporta-se sempre a situações relacionadas
com o fim da Pessoa Coletiva, ocorridos após a sua constituição. Estas situações
reduzem-se aos seguintes fins:
- Realização plena do fim, art. 182º/2-a (1ª parte);
- Verificação de causas que impliquem defeitos no fim, nomeadamente causas que
impliquem inidoneidade do objecto negociável ou fim ilícito e contrário à ordem
pública, art. 182º-a (2ª parte) -c- d CC).
- Quando a prossecução do fim não seja coincidente com o fim fixado no ato de
constituição (art. 182º/2-d CC).
A ação pode ser proposta por qualquer interessado ou pelo Ministério Público, se verificar-
se algumas destas causas.