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TEXTO
Definição:
A definição de texto é bastante complexa. Até mesmo aqueles que lidam constantemente com esse
objeto têm dificuldades em elaborar uma boa definição. Grosso modo, podemos dizer que um texto
consiste em qualquer manifestação da capacidade textual de um ser humano, como romances,
poemas, crônicas, notícias, manuais; englobando aí, também, músicas, esculturas, pinturas, filmes;
pois estes últimos são entendidos como manifestações comunicativas realizadas através de signos
linguísticos.
Outra definição:
Um texto é uma unidade linguística e semântica compreendida por um leitor em dada
situação.
Vamos entender cada um dos termos utilizados nesse conceito? Em primeiro lugar, por ser uma
unidade, o texto apresenta-se como um todo que pode ou não ser dividido em partes (introdução,
desenvolvimento, conclusão; parágrafos, estrofes, versos, períodos). Isso já confirma, de certa
maneira, a necessidade de lembrarmos, sempre, que qualquer fala depende de um todo no qual está
inserida, certo? Além disso, por ser uma unidade linguística e semântica, trabalha com a linguagem
e o sentido, ou seja, toda e qualquer unidade, para ser texto, precisa produzir sentido, precisa ter
conteúdo. Por fim, um texto pode ser entendido como tal se o leitor levar em consideração o contexto,
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ou seja, a situação em que a mensagem estiver sendo passada, contexto é imprescindível na


interpretação.
A palavra texto provém do latim textum, que significa tecido, entrelaçamento. Essa origem deixa
clara a ideia de que texto resulta de um trabalho de tecer, de entrelaçar várias partes menores, a fim
de se obter um todo inter-relacionado, um todo coeso e coerente.
O conjunto de frases que compõem os parágrafos e estes o texto seguem um raciocínio lógico,
produzindo significados de acordo com o contexto em que estão inseridas. Todo texto é expressão de
algum propósito, não se escreve um texto sem uma função comunicativa. Torna-se, assim, necessário
sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto.
É claro que não se trata de ignorar os elementos linguísticos, indícios e partes que compõem o
texto. Trata-se de analisar e compreender todos os níveis estruturais da língua para apreender
informações por trás do texto, as inferências a que ele remete, descortinar a postura ideológica do
autor diante da temática, enfim, buscar um sentido amplo e unificado que compõem a lógica do texto.
ESTUDO DO PARÁGRAFO
1. Definição e características do parágrafo
O texto escrito normalmente é dividido em parágrafos, os quais representam blocos relacionados
progressivamente uns com os outros. Nesse sentido, o parágrafo seguinte mantém determinada
relação com o anterior, garantindo a coesão e a coerência do texto. Cada parágrafo é constituído por
um ou vários períodos, orientados por uma ideia central, em torno da qual giram ideias secundárias
relacionadas pelo sentido. O tamanho de cada parágrafo varia de acordo com as circunstâncias, isto
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é, depende da ideia central desenvolvida pelo escritor, dos leitores e do suporte, ou seja, o local em
que o texto é publicado (FIGUEIREDO, 1999).
De acordo com Köche, Boff e Pavani (2009), o parágrafo deve apresentar as seguintes
características:
a) unidade: ideia central, em torno da qual girarão as secundárias;
b) coerência: ideias ordenadas de maneira lógica;
c) concisão: desdobramentos da ideia central apresentadas sem redundância;
d) clareza: palavras escolhidas adequadas ao contexto.
Não é o número de linhas que determina a abertura de um novo parágrafo, mas o encerramento
de um grupo de informações e o início de outro grupo, relacionado com o primeiro. Além disso, o
parágrafo possui aspecto visual, visto que a suspensão de certa sequência de linhas já cria um
significado, e a divisão do texto em parágrafos alivia a vista do leitor (FARACO; TEZZA, 2009).
Ao compararmos as formas a seguir, percebemos que o exemplo “a” é pouco convidativo à leitura,
ao passo que o “b” apresenta uma divisão mais agradável, contribuindo para uma boa leitura.
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a) b)
XXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXX.
XXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXX.
XXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXX.

(FARACO; TEZZA, 2009)


2. Organização das ideias no parágrafo
Não existe parágrafo-padrão, ou seja, uma estrutura que sirva para todos os tipos de texto, uma
vez que a construção do parágrafo depende da finalidade, dos interlocutores e do assunto, em suma,
das condições de produção do gênero. Porém, Garcia (2010) descreve uma organização que pode
orientar os escritores na produção de seus textos.
O escritor, ao organizar as ideias em parágrafos, deve apresentar a ideia central (por meio de um
período) e construir ideias secundárias (por meio de outros períodos) direcionadas para a ideia
central. Enquanto a ideia central guia o parágrafo, as ideias secundárias detalham, explicam ou
desenvolvem a ideia central (FIGUEIREDO, 1999).
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A ideia central do parágrafo é enunciada por meio do tópico frasal1, o qual orienta o restante do
parágrafo, servindo como um guia para o autor e dirigindo a atenção do leitor para o tema central. O
tópico frasal normalmente situa-se no início do parágrafo, entretanto também pode se apresentar no
final ou no meio (FIGUEIREDO, 1999).
3. A coesão no parágrafo
As ideias secundárias podem ser conectadas entre si e com a ideia central e a conclusão por meio
de conectivos, os quais ajudam a estabelecer a coesão do parágrafo.
4. Estrutura do parágrafo
Há diferentes formas de se estruturar um parágrafo, entretanto Garcia (2010) propõe uma estrutura
que pode ser explicada por meio do texto abaixo, apresentado por Köche, Boff e Pavani (2009, p. 50).

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Tópico frasal: também chamado de frase-síntese ou período tópico.
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Pode-se transformar o sistema imunológico, ao


Tópico frasal mudar a forma de pensar./
Para isso, é preciso desenvolver uma autoimagem
positiva, amando a si mesmo e dispondo-se a abandonar
o passado e a perdoar. O corpo sempre reflete o estado
Desenvolvimento da consciência em determinado momento. À medida que
as crenças são mudadas, o ser humano transforma-se
tanto física como emocionalmente. Ao mudar, muitas
vezes, não precisa mais da antiga doença.//
Conclusão Tudo isso contribui para que as pessoas se tornem
completas e se curem de seus males.

O parágrafo está estruturado em três partes:


 introdução: expressa o tópico frasal, ou seja, a ideia-núcleo, a ideia central, a ideia mais
importante do parágrafo.
 desenvolvimento: desenvolve o tópico frasal, expondo as ideias;
 conclusão: encerra a ideia central do parágrafo.
4.1. Tipos de tópico frasal
a) Declaração inicial:
O autor afirma ou nega uma ideia, para, depois, justificá-la ou fundamentá-la, por meio de
argumentos, exemplos, confrontos, razões, restrições, etc.
Exemplo:
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“É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do consumo.


O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas
instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda.”
Exemplo:
“Não há limites para o imaginário humano. Mesmo em condições adversas, o homem é capaz de
criar representações da realidade, seja com a intenção de mudar uma situação vigente, seja para sair
da rotina monótona do cotidiano ou fugir de uma realidade hostil à vida. Essas imagens exercem um
importante papel na alma humana, aos quais vão muito além da conotação recreativa, elas fomentam
a esperança e em alguns casos, podem determinar a sobrevivência de um indivíduo.”
b) Definição:
O tópico frasal assume a forma de uma definição, que será seguida, no desenvolvimento, de um
comentário ou de exemplificação. É um método didático, denotativo ou científico.
Exemplo:
“O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu
lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e
não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou
mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana.”
c) Divisão:
Processo também quase que exclusivamente didático, é o que consiste em apresentar o tópico
frasal sob a forma de divisão ou discriminação das ideias a serem desenvolvidas.
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É a enumeração explícita dos aspectos que serão tratados. É fácil e deixa o texto mais organizado.
Além disso, facilita o uso de elementos de coesão: em relação ao primeiro item, já quanto ao
segundo...
Ex.:
O problema das chuvas tem recebido bastante destaque na mídia, em grandes debates sobre quem
seria o responsável. Há dois fatores principais nesse contexto: a omissão do governo e a ação dos
cidadãos.
Parágrafo 1: A omissão do governo pode ser observada em casos como...
Parágrafo 2: Já a ação dos cidadãos também influencia nesse resultado porque...
Ex.:
No Brasil, a tradição política no tocante à representação gira em torno de três ideias fundamentais.
A primeira é a do mandato livre e independente, isto é, os representantes, ao serem eleitos, não têm
nenhuma obrigação, necessariamente, para com as reivindicações e os interesses de seus eleitores. O
representante deve exercer seu papel com base no exercício autônomo de sua atividade, na medida
em que é ele quem tem a capacidade de discernimento para deliberar sobre os verdadeiros interesses
dos seus constituintes. A segunda ideia é a de que os representantes devem exprimir interesses gerais,
e não interesses locais ou regionais. Os interesses nacionais seriam os únicos e legítimos a serem
representados. A terceira ideia refere-se ao princípio de que o sistema democrático representativo
deve basear-se no governo da maioria. Praticamente todas as leis eleitorais que vigoraram no Brasil
buscaram a formação de maiorias compactas que pudessem governar.
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d) Interrogação:
É o uso de uma pergunta para captar a curiosidade do leitor ou para sinalizar o tema. Essa pergunta
pode ser respondida na conclusão ou no desenvolvimento, com os argumentos. Pode também ser só
uma tônica para o assunto.
Exemplo:
“Tudo é discurso", adverte Ferdinad de Saussure, e temos que reconhecê-lo. Tanto a imagem mais
enganosa do sabonete que transforma você numa estrela de cinema até a notícia mais direta e evidente
do último atentado terrorista no Oriente Médio, tudo é discurso. Mas o que diferencia, então uma
imagem falaciosa e outra de presença real? Os processos de significação se utilizam de expedientes
de recriação e falseamento do mundo dos fatos concretos?”.
Exemplo:
“Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão
cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim. (…)”.
e) Alusão histórica/literária:
É uma técnica de intertextualidade. A alusão serve para ressaltar semelhanças ou diferenças entre
fenômenos atuais e passados, servindo como argumento para corroborar uma mudança ou uma
estagnação.
Ex.:
“A representação da realidade por meio de imagens constituiu um elemento básico no estudo da
história da humanidade. Usadas pelo homem como forma de expressão desde a Pré-história, com as
pinturas nas cavernas, as imagens servem até hoje como fonte de pesquisa para que os historiadores
reúnam mais informações a respeito da realidade de cada período vivido pelo ser humano. Entretanto,
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no decorrer dos séculos, a representação de fatos por meio de imagens também foi utilizada como
forma de distorcer situações reais, fazendo com que essas situações fossem sufocadas por uma
atmosfera de heroísmo que nem sempre condiz com a realidade”.
Ex.:
Na tarde do Yom Kipur de 1973, sábado, 6 de outubro, Egito e Síria atacam Israel. Surpreendido
e tendo de lutar em duas frentes, num primeiro momento o país enfrenta dificuldades, mas menos de
três semanas depois, em uma das mais impressionantes reviravoltas da história militar, seus exércitos
estavam a caminho do Cairo e Damasco. Todo esse tempo depois, ainda há resquícios desse conflito
no dia a dia do povo palestino...
Ex:
Na mitologia grega, Prometeu é o titã que rouba o fogo dos deuses e é por eles condenado a um
suplício eterno. Preso a uma rocha, uma águia devora-lhe constantemente o fígado. Trata-se de uma
lenda altamente simbólica e aplicável à época atual.
f) Citação:
É a reprodução literal ou indireta da fala de alguém cuja opinião seja relevante no contexto daquela
dissertação. Essa técnica também pode ser usada para introduzir logo na introdução um argumento
de autoridade.
Ex.:
Como afirma Foucault, a verdade jurídica é uma relação construída a partir de um paradigma de
poder social que manipula o instrumental legal, de um poder-saber que estrutura discursos de
dominação. Assim, não basta proteger o cidadão do poder com o simples contraditório processual e
a ampla defesa, abstratamente assegurados na Constituição. Deve haver um tratamento crítico e uma
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posição política sobre o discurso jurídico, com a possibilidade de revelar possíveis contradições e
complexidades das tábuas de valor que orientam o direito.
Ex.:
“O poeta é um fingidor e finge tão completamente que chega fingir que é dor, a dor que deveras
sente”. Ao escrever tais versos, o poeta Fernando Pessoa coloca a humanidade no papel dos poetas.
Estes, fingem os verdadeiros sentimentos para a construção de um poema, assim como os indivíduos
escondem a verdadeira essência para a construção de uma imagem. Esta, funciona como um verniz
social e é essencial, desde que haja um equilíbrio entre o verdadeiro e o representado.
g) Frases nominais:
É o uso de uma frase seguida de uma explicação. A frase será o elemento de curiosidade, a frase
seguinte será uma explicação.
Ex:
Calamidade pública. Assim se referiu o secretário estadual de saúde ao atual estado dos hospitais
do Rio de Janeiro...
Ex:
Ditador, louco e genocida. Após baixar a fumaça das explosões, essas palavras podem ser lidas
em muralhas rachadas da maior capital do mundo árabe...
h) Narração:
É trazer uma sequência de ações, ou um relato, que vai servir de insinuação do tema.
Ex.:
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No livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, o cavalo Sansão abdica da própria saúde
para trabalhar na construção de um moinho que beneficiaria a comunidade. No entanto, o peso da
idade e seu frágil pulmão debilitaram-no e ele foi entregue ao matadouro pelos líderes porcos. Tal
metáfora ilustra o descaso não só das autoridades, como também da sociedade em geral frente ao
sacrifício alheio em prol da coletividade. Portanto, o abandono do altruísmo na idade contemporânea
tem sua origem na inversão de valores trazida pelos ideais capitalistas.
i) Contraste:
Apresentação de elementos que formam uma oposição.
Ex.:
“De um lado, professores mal pagos, desestimulados, esquecidos pelo governo. De outro, gastos
excessivos com computadores, antenas parabólicas, aparelhos de videocassete. É este o paradoxo que
vive hoje a educação no Brasil.”
j) Tópico frasal implícito ou diluído no parágrafo:
A maioria dos parágrafos se estabelece no modelo dedutivo, partindo-se de uma declaração de
ordem geral (tese), seguindo-se para as especificações, os dados particulares; porém, pode-se também
fazer caminho diferente, partindo-se de casos específicos para se chegar a uma observação geral.
Nesse caso, temos o modelo indutivo em que a tese estará implícita ou diluída no parágrafo.
Ex.:
“O Grande São Paulo – isto é, a capital paulista e as cidades que a circundam – já anda em torno
da décima parte da população brasileira. Apesar da alta arrecadação do município e das obras
custosas, que se multiplicam a olhos vistos, apenas um terço da cidade tem esgotos. Metade da capital
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paulista serve-se de água proveniente de poços domiciliares. A rede de hospitais é notoriamente


deficiente para a população, ameaçada por uma taxa de poluição que técnicos internacionais
consideram superior à de Chicago. O trânsito é um tormento, pois o acréscimo de novos veículos
supera a capacidade de dar solução de urbanismo ao problema. Em média, o paulista perde três horas
do seu dia para ir e voltar, entre a casa e o trabalho.”
(Editorial do Jornal do Brasil)
→ Muito bem! Essas são algumas das principais fórmulas de introdução. Elas podem ser
mescladas e adaptadas aos seus argumentos. Observem o exemplo (de prova):
Tem saído nos jornais: chuvas deixam São Paulo no caos. É verdade que os moradores estão
sofrendo além da conta, quer estejam circulando pela cidade com seus carros ou nos ônibus e metrô,
quer estejam em casa ou no trabalho. Três fatores criam a confusão: semáforos desligados;
alagamentos nas ruas; falta de energia. Então, tudo culpa da chuva, certo? Errado.
Nessa introdução constam uma declaração inicial, uma divisão e uma indagação. Pura habilidade
do autor!
4.2. Tipos de desenvolvimento
Desenvolvimento é a explanação da ideia principal do parágrafo. Há diversos processos, que
variam conforme a natureza do assunto e a finalidade da exposição; mas, qualquer que seja ele, a
preocupação maior do autor deve ser sempre a de fundamentar de maneira clara e convincente as
ideias que defende ou expõe, servindo-se de recursos costumeiros tais como a enumeração de
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detalhes, comparações, analogias, contrastes, aplicação de um princípio, regra ou teoria, definições


precisas, exemplos, ilustrações, apelo ao testemunho autorizado, e outros. (Garcia, Othon Maria)
a) Desenvolvimento por enumeração ou descrição de detalhes:
Esse tipo de desenvolvimento é utilizado para enumerar ou especificar situações ou características
de um fato mencionado no tópico frasal. Pode ser organizado por meio dos seguintes articuladores:
primeiro, segundo, em primeiro lugar, em segundo lugar, inicialmente, a seguir, depois, em seguida,
mais adiante, por fim, ainda, além, também, etc. (DUTRA; BIAZOTTO, 2007).
Ex.:
A vida agitada das grandes cidades aumenta os índices de doenças do coração. O tráfego, as
preocupações geradas pela pressa, o almoço corrido, o horário de entrar no trabalho, tudo isso abala
as pessoas, produzindo o stress que ataca o coração (ABREU, 1994, p. 58).
Ex.:
Faltam leitos, faltam profissionais de saúde, faltam medicamentos e insumos hospitalares, faltam
equipamentos - e, quando há, podem estar obsoletos ou sem manutenção -, a estrutura física muitas
vezes é inadequada e os recursos de tecnologia de informação são insuficientes. Estes são alguns dos
"problemas graves, complexos e recorrentes" detectados por uma auditoria inédita do Tribunal de
Contas da União (TCU) sobre a assistência hospitalar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os brasileiros que precisaram recorrer aos serviços do SUS conhecem alguns desses problemas, mas
o levantamento feito por auditores do TCU mostra com precisão numérica a real situação desses
hospitais.
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b) Desenvolvimento por comparação (analogia ou contraste):


Consiste em estabelecer comparações entre ideias, seres, coisas ou fatos, apresentando seus pontos
comuns (semelhanças) ou seus contrastes (diferenças). Nas semelhanças, podem ser utilizadas as
seguintes expressões articulatórias: assim como... também, tanto quanto, de igual modo, em ambos
os casos, como, do que, tal qual, etc.; e verbos, como lembrar, dar uma ideia, assemelhar-se. Nos
contrastes, podem ser utilizadas estas expressões: de um lado... de outro lado, por um lado... por outro
lado, este... aquele, ao contrário..., em oposição..., enquanto..., já..., ao passo que..., mas..., etc.
(DUTRA; BIAZOTTO, 2007).
Ex.:
A vida agitada das grandes cidades aumenta os índices de doenças do coração. Imagine o leitor,
por exemplo, um automóvel dirigido suavemente, com trocas de marcha em tempo exato, sem freadas
bruscas ou curvas violentas. A vida útil desse veículo tende a prolongar-se bastante. Imagine agora o
contrário: um automóvel cujo proprietário se compraz em arrancadas de “cantar pneus”, curvas no
limite de aderência, marchas esticadas e freadas violentas. A vida útil deste último tende a decair
miseravelmente. O mesmo podemos fazer com o nosso coração. Podemos conduzi-lo com doçura,
em ritmo de alegria e de festa, ou podemos tratá-lo agressivamente, exigindo-o fora de seu ritmo e de
seu tempo de recuperação (ABREU, 1994, p. 59).
c) Desenvolvimento por definição:
Esse tipo de desenvolvimento mostra características ou propriedades de um objeto por meio de
sua definição, sendo muito utilizado em textos expositivos. Nesse caso, podem ser utilizados verbos
como: ser, chamar-se, denominar-se, considerar-se, tratar-se de, etc. (DUTRA; BIAZOTTO, 2007).
Ex.:
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A vida agitada das grandes cidades aumenta os índices de doenças do coração. Vida agitada é
aquela em que o indivíduo não tem tempo para cuidar de si próprio, mercê dos compromissos
assumidos e do tempo exíguo para cumpri-los. Entre as doenças do coração, a mais comum é a que
ataca as artérias coronárias, assim chamadas porque envolvem o coração, como uma coroa, para
irrigá-lo em toda a sua topologia (ABREU, 1994, p. 58).
d) Desenvolvimento por causas e consequências:
Neste modelo, o aluno normalmente deverá apresentar um parágrafo para as causas e um para as
consequências, porém também é possível reunir causa e consequência num único parágrafo.
Ex.:
Em geral, as drogas não são recentes entre os humanos. Elas sempre existiram em inúmeras
culturas. Um aspecto relevante é que, hoje, tem-se a ênfase dada pela lei, diferenciando as drogas
lícitas (cigarro, álcool, medicamentos), que pagam impostos, das ilícitas (maconha, cocaína, crack,
ecstasy, entre outras). Do ponto de vista médico, porém, esta diferença não existe. Equivocadamente,
o Estado tem adotado instrumental e conceitos na interpretação das causas e consequências das
violências associadas às drogas – tanto lícitas quanto ilícitas. Tais violências têm uma relação com a
globalização do crime. A militarização e a adoção de políticas sociais imediatistas, movidas pela
comoção midiática, apenas mascaram a realidade.
e) Desenvolvimento por exemplificação:
Destacar alguns casos dentre um universo de fenômenos, para ratificar uma tese.
Ex.:
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Episódios como o das babás discriminadas em clubes sociais e o da criança negra que foi
destratada e quase expulsa de uma concessionária da BMW no Rio demonstram que o racismo, apesar
de resolvido legalmente, já que é crime, ainda constitui um problema no dia a dia das relações
interpessoais, onde às vezes se manifesta explicitamente.
Ex:
Os investimentos diretos realizados por brasileiros no exterior têm aumentado muito nos últimos
anos. Em 2011, somaram US$ 202,6 bilhões, com crescimento de 7,4% em relação ao ano anterior,
conforme pesquisa divulgada em abril de 2012 pelo Banco Central.
→ Os investimentos têm aumentado (tópico frasal). Por exemplo, em 2011 cresceram em 7,4%.
f) Desenvolvimento por dados estatísticos:
Os dados estatísticos por serem de natureza objetiva, dão credibilidade ao argumento e são
grandes recursos de convencimento.
Ex.:
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ajudam a traçar o perfil do eleitor brasileiro da última
eleição. A inclusão política dos brasileiros vem, a cada eleição, consolidando-se e os dados são
irrefutáveis quanto a isso. A cada cinco pessoas aptas a votar nas eleições de 2010, uma era analfabeta
ou nunca havia frequentado uma escola. São, ao todo, 27 milhões de eleitores nessa situação no
cadastro do TSE. Desses, oito milhões se declararam analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e
escrever, sem, entretanto, nunca terem estado em uma sala de aula. No total, havia 135,8 milhões de
eleitores no país em 2010.
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→ Tópico frasal: A inclusão política dos brasileiros vem, a cada eleição. Em seguida as estatísticas
fornecidas fundamentam essa tese.
g) Desenvolvimento por citação (discurso de autoridade/testemunho de autoridade):
Testemunho de autoridade é utilizado para dar credibilidade a uma tese, traz a opinião respeitada
de um especialista que se alinha ou se opõe a ela. Serve como argumento e como contra-argumento.
Ex.:
Entusiasta do sistema, o supervisor do Posto Fiscal Virtual, em Porto Alegre define o processo
como seletivo, econômico e inteligente. “Esse é o futuro. No mundo, cada vez mais, a tecnologia
substitui a ação humana, que, por mais atuante que possa ser, tem limitações de tempo, esforço e
capacidade pessoal”, afirma o auditor-fiscal. O processamento eletrônico, destaca, veio para ficar, e
isso está ocorrendo em todo o mundo. “No Chile, temos a fatura eletrônica, que é muito bem-sucedida.
Aqui temos a Nota Fiscal Eletrônica, um sucesso crescente, que quase todos os Estados do país já
adotam. E um rumo sem volta. Este é o caminho”, garante.
→ Tópico frasal: o processamento eletrônico é vantajoso e veio para ficar. A opinião do supervisor
do posto fiscal, um auditor-fiscal, permeada por exemplos, reforça essa tese.
h) Desenvolvimento por alusão histórica:
Como visto na técnica de introdução, consiste em trazer um evento do passado e relacioná-lo ao
presente, geralmente para indicar mudança ou manutenção de tendências.
Ex.:
O movimento feminista começou a florescer no Brasil na virada do século 20. Diante da omissão
da Constituinte de 1891 acerca do voto feminino, a baiana Leolinda de Figueiredo Daltro deu entrada
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no requerimento de seu alistamento eleitoral. Não obteve sucesso, mas também não entregou os
pontos.
Menciona o evento histórico da omissão da constituinte acerca do voto feminino e indica mudança
nesse cenário. Atualmente as mulheres votam.

→ Ressalto que, assim como ocorrem nas fórmulas de introdução, os textos trazem diversos
argumentos desenvolvidos conjugando uma ou mais dessas técnicas, como veremos nesse exemplo
de prova:
Entre 1990 e 2010, mais de 96 milhões de pessoas foram afetadas por desastres no Brasil, como
demonstra o Atlas dos Desastres Naturais do Brasil. Destas, mais de 6 milhões tiveram de deixar suas
moradias, cerca de 480 mil sofreram algum agravo ou doença e quase 3,5 mil morreram
imediatamente após os mesmos. Desastres como o de Petrópolis, que resultaram em dezenas de
óbitos, não existem em um vácuo. Se por um lado exigem a presença de ameaças naturais, como
chuvas fortes, por outro não se realizam sem condições de vulnerabilidade, constituídas através dos
processos sociais relacionados à dinâmica do desenvolvimento econômico e da proteção social e
ambiental. Isto significa que os debates em torno do desastre devem ir além das cobranças que ano
após ano ficam restritas à Defesa Civil.
→ Nesse parágrafo argumentativo, o autor traz dados e depois monta uma divisão: por um lado...
por outro.
20

4.3. A conclusão do parágrafo


A conclusão do parágrafo retoma o objetivo expresso no tópico frasal, sintetizando os principais
aspectos discutidos no desenvolvimento em uma frase final, que fecha o parágrafo. O encerramento
poderá conter também, de maneira concisa, as consequências do que foi informado no tópico frasal e
no desenvolvimento. É possível, além disso, sugerir uma solução. A passagem entre o
desenvolvimento e a conclusão pode ser feita por meio dos seguintes conectivos: assim, logo, dessa
forma, então, etc. (DUTRA; BIAZOTTO, 2007).
A LINGUAGEM NO TEXTO
 Linguagem verbal: é o uso da escrita ou da fala como meio de comunicação.
 Linguagem não verbal: é outra forma de comunicação em que o código utilizado é a
simbologia. Utiliza de outros meios comunicativos, como placas, figuras, gestos, cores, sons, ou seja,
através dos signos visuais e sensoriais.
 Linguagem mista (ou híbrida): utiliza linguagem verbal e não verbal simultaneamente para
produzir a mensagem, por exemplo, nas histórias em quadrinhos, em que acompanhamos a história
por meio dos desenhos e das falas das personagens.
TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO LITERÁRIO
O texto literário tem uma função estética, destina-se ao entretenimento, ao belo, à arte, à ficção.
Recorre à função poética e emotiva da linguagem, visando criar expressividade e despertar
sentimentos e emoções no leitor. Apresenta uma linguagem conotativa e polissêmica, gerando uma
multiplicidade de interpretações. Há uma reflexão sobre a realidade, que leva a uma recriação pessoal
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e subjetiva da realidade. Utiliza figuras de linguagem e outros recursos estilísticos, apresentado


simbologia, beleza, musicalidade e harmonia.
Podemos citar como exemplo o conto, o poema, o romance, peças de teatro, novelas e crônicas,
etc.
O texto não literário tem uma função utilitária (seu objetivo é informar, convencer, explicar,
comunicar), com um único significado. Há o predomínio da função referencial da linguagem.
Apresenta uma linguagem denotativa, objetiva, real e impessoal (escrita em 3ª pessoa).
Como exemplo temos as notícias, os artigos jornalísticos, os textos didáticos, os verbetes de
dicionários e enciclopédias, as propagandas publicitárias, os textos científicos, as receitas culinárias,
os manuais etc.
LEITURA: CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS
A leitura consiste em perceber e compreender as relações existentes no mundo. Ler é atribuir
sentido ao texto, e também relacioná-lo com o contexto e com as experiências vivenciadas pelo leitor.
A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de signos linguísticos que
compõem a linguagem escrita convencional. A leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido
do texto, por meio da capacidade de interação com o mundo que o cerca. Sendo assim, nesta
perspectiva Freire e Shor (1986, p. 22.):
[...] “ler não é só caminhar sobre as palavras, e também não é voar sobre as palavras. Ler é
reescrever o que estamos lendo. É descobrir a conexão entre o texto e o contexto, e também
como vincular o texto / contexto com meu contexto, o contexto do leitor”.
22

O ato de ler, nesse ponto de vista, não é concebido meramente como capacidade individual, mas
compreendido como prática de linguagem que possibilita formas específicas de o sujeito estabelecer
relações sociais e construir sua identidade. Compreender a relação do sujeito com a palavra escrita
demanda a compreensão da relação que esse indivíduo estabelece com os outros e com a própria
linguagem.
De fato, a leitura é um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo de construção do
significado do texto. Os nossos alunos precisam se atentar para o trabalho com a leitura em um sentido
de construir significados e não somente buscar significados. Por isso, é importante utilizar uma
metodologia de ensino mais eficiente e que esteja de acordo com as necessidades do aluno, em que é
preciso apoiar-se em diferentes estratégias, ligadas aos conhecimentos prévios do leitor: os
linguísticos, que correspondem ao vocabulário e regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam
o conjunto de noções e conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal
do leitor.
Assim, para se ter uma leitura satisfatória, na qual a compreensão do que se lê é alcançada, esses
diversos tipos de conhecimento precisam estar em interação. O caráter subjetivo que essa atividade
assume leva o teólogo e filósofo Leonardo Boff (1997, p. 9.) afirmar:
Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta
a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como
alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da
leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender
é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem
convive, que experiência tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas
da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma
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interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é coautor. Porque cada um lê e relê
com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.
A afirmação de Boff conceitua a partir de uma metáfora a noção de leitura como interação entre
mim e o(s) outro(s), uma atividade social. Podemos, pois, concluir que a leitura é um processo
dinâmico, social; resultado da interação da informação presente no texto e os conhecimentos prévios
do leitor. É nesta relação que a construção do sentido presente no texto sé dá.
A leitura, como prática social, exige um leitor crítico que seja capaz de mobilizar seus
conhecimentos prévios, quer linguísticos e textuais, quer de mundo, para preencher os vazios do texto,
construindo novos significados. Esse leitor parte do já sabido/conhecido, mas, superando esse limite,
incorpora, de forma reflexiva, novos significados a seu universo de conhecimento para melhor
entender a realidade em que vive.
A ideia que nos é passada nos bancos escolares é a de que o texto é completo, contém todas as
informações dentro de si. No entanto, de acordo com a perspectiva dialógica da linguagem em que
nos embasamos, o sentido do texto é incompleto. O sentido dele só se produz no ato da leitura, na
interação leitor-texto. Nas palavras de Brandão (1994),
A concepção de leitura como um processo de enunciação se inscreve num quadro teórico
mais amplo que considera como fundamental o caráter dialógico da linguagem e,
consequentemente, sua dimensão social e histórica. A leitura como atividade de linguagem é
uma prática social de alcance político. Ao promover a interação entre indivíduos, a feitura,
compreendida não só como leitura da palavra, mas também como leitura de mundo, deve ser
atividade constitutiva de sujeitos capazes de interligar o mundo e nele atuar como cidadãos.
(BRANDAO, 1994, p. 89.)
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Dessa maneira, a compreensão e a interpretação de um texto não se constituem em atos passivos,


pois, se quem escreve sempre pressupõe o outro, “[...] quem lê é produtivo, na medida em que,
refazendo o percurso do autor, trabalha o texto e se institui em um coenunciador”. (Brandão, 1994,
p. 87.) O texto é, portanto, refeito em cada leitura pelo leitor, o qual não é um objeto, mas sim sujeito
do processo de ler, receptáculo de informações.
Muitos alunos classificam-se como incompetentes para leitura, dizem ter dificuldades de
compreender e interpretar o que está posto nas linhas e entrelinhas. Cria-se, a partir disso, um
imaginário de que é preciso ter competência para ler. Como já dito, “cada um lê com os olhos que
tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto”, assim,
para ser um leitor ‘competente’, é preciso criar situações de reflexão sobre o uso da língua, as quais
poderão ser propiciadas por atividades de análise linguística, que permitem ao leitor compreender e
interpretar textos de forma mais eficaz e segura. Assim, quando surgirem questões como — por que
se escreveu de tal forma nesse texto? Qual o efeito de sentido provocado por determinada palavra
naquela situação de uso? Qual a intenção do enunciador ao inserir determinadas informações? Qual
a orientação argumentativa do texto? - as respostas somente serão encontradas quando a prática de
leitura não atender só a critérios de decodificação, mas um processo de reflexão sobre a organização
textual e o contexto de produção. O texto, portanto, não traz tudo pronto para o leitor receber de modo
passivo, já que usando seu conhecimento de mundo, o leitor interage com a informação presente no
texto para tentar chegar a uma compreensão. O texto, nessa perspectiva, não carrega sentido em si
mesmo, apenas fornece direções para que o leitor o construa.
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A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E ESCRITA NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO


A invenção da escrita representa um grande marco na história da humanidade, porque antes do
seu surgimento, as informações eram passadas de pai para filho de forma oral. Notadamente, na
tradição oral, com o passar do tempo, as palavras se modificam, muitas informações são perdidas, há
uma interferência social, política e cultural sobre a importância das informações, fazendo com que
algumas não sejam repassadas.
A escrita proporciona a permanência da informação. Ela perdura no tempo. Desse modo, a
memória coletiva dos povos passou a ter outros meios de materialização: os hieróglifos, os papiros.
Na modernidade, jornais, revistas, livros e internet. Vale dizer que a escrita se constitui como um
divisor de águas na história da humanidade. “As palavras determinam nosso pensamento porque não
pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma genialidade ou
inteligência, mas a partir de nossas palavras” (LARROSA, 2002, p.21).
A atividade da escrita, na maioria das escolas, ainda é priorizada em detrimento da leitura, que é
considerada como atividade fundamental a ser desenvolvida na escola. Convém destacar que a escrita
tem como finalidade precípua a leitura e não o contrário. É a escola a instituição responsável pela
sistematização do saber, por isso precisa ter a leitura como atividade básica que pode dar ao aluno o
devido suporte para uma produção de texto bem elaborada.
Nessa perspectiva, é pertinente destacar o dizer de Cagliari (2009, p.148-149): “A leitura é a
extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser
conseguido através da leitura fora da escola”. Ocorre que a maioria das escolas tem a escrita como
prioridade e, ainda assim, escreve-se pouco e, muitas das vezes, com incidentes. Devemos considerar
que a escrita, como atividade interativa, implica relação cooperativa entre duas ou mais pessoas.
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Sendo assim, toda atividade interativa deve pressupor um possível interlocutor, para que haja esmero.
Quem escreve deve naturalmente escrever para alguém ou com alguma finalidade e não simplesmente
como atividade para correção.
Para Rocha e Ferro (2016), o ato de escrever implica ter o que dizer. Quem escreve, escreve
pensando no outro, que, por sua vez, se constitui enquanto leitor. A capacidade de saber, de poder, de
liberdade é essencial à realização do interlocutor enquanto pessoa e, consequentemente, como ser
social, que precisa do outro para interagir. É a leitura que serve como base para o êxito na escrita. Já
a escrita, no entendimento de Antunes (2005, p.45), é
A atividade da escrita é então uma atividade interativa de expressão, (ex: ‘para fora’), de
manifestação verbal das ideias, informações, intenções, crenças ou dos sentimentos que
queremos partilhar com alguém, para, de algum modo interagir com ele. Ter o que dizer é,
portanto, uma condição prévia para o êxito da atividade de escrever.
Na produção de um texto, as frases e as palavras não funcionam isoladamente, uma a uma, mas
estabelecem uma conexão de sentido. O texto é um jogo de perguntas e respostas entre os termos.
Aliado a isso, o uso da escrita serve justamente para estabelecer esse processo de comunicar de forma
coerente e coesa. Quem escreve, escreve para ser lido, e a palavra escrita serve como um elo/laço
entre quem fala e quem ouve; entre quem escreve e quem lê.
O texto serve como ponte entre os interlocutores do processo de comunicação, por isso, ao
escrevermos, é imprescindível levarmos em conta esse interlocutor, como sujeito do processo da
interação verbal, para que ele possa entender o que foi escrito. No que se refere à escrita enquanto o
processo de interação, é válido destacar o que afirma Bakhtin (1995, p.113):
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Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que
procede de alguém como pelo fato de que se dirige para alguém. [...] A palavra é uma espécie
de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia (sic) sobre mim numa extremidade,
na outra se apóia (sic) sobre o meu interlocutor.
Na escrita textual, é necessário considerar as normas que regem a produção de um bom texto e,
sobretudo, entender o que é um texto. Do ponto de vista de Koch (2014, p.30),
[...] para que uma manifestação linguística constitua um texto, é necessário que haja a
intenção do produtor de apresentá-la – e a dos parceiros de aceitá-la como tal -, em uma
situação de comunicação determinada. Pode, inclusive, acontecer que, em certas
circunstâncias, se afrouxe ou elimine deliberadamente a coesão e/ ou coerência semântica do
texto com o objetivo de produzir efeitos específicos. Aliás, nunca é demais lembrar que a
coerência não constitui uma propriedade ou qualidade do texto em si: um texto é coerente
para alguém, em dada situação de comunicação específica. [...]. Este alguém, para construir
a coerência, deverá levar em conta não só os elementos linguísticos que compõem o texto,
mas também seu conhecimento enciclopédico, conhecimentos e imagens mútuas, crenças,
convicções, atitudes, pressuposições, intenções explícitas ou veladas, situação comunicativa
imediata, contexto sociocultural e assim por diante.

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