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Planos de desenvolvimento sustentável no

Nordeste: uma análise comparativa.

Ilza Araújo Leão de Andrade


Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

O padrão de desenvolvimento predominante nos últimos 50 anos no mundo capitalista,


como um todo, foi marcado pela preponderância do referencial tecnológico. A idéia dominante era
que o avanço da tecnologia propiciaria uma maior produtividade e conseqüentemente a garantia de
maiores taxas de lucro e de investimento. O desenvolvimento era visto, sobretudo, como um
processo econômico, sendo o bem estar social uma decorrência natural deste. Esta foi a visão que
prevaleceu no mundo capitalista, como um todo, e que na América Latina foi adotada como modelo
que deu sustentação à intervenção do chamado Estado desenvolvimentista, correspondente
deformado do Estado de Bem Estar Social europeu.

No entanto, no final da década de 80 a Comissão Mundial de Meio Ambiente e


Desenvolvimento (Comissão Brundtland), preocupada com os efeitos devastadores do processo de
avanço das novas tecnologias sobre o meio ambiente, publicou um relatório intitulado Nosso futuro
comum, onde levantou importantes questões sobre a relação negativa desenvolvimento/natureza,
chamando a atenção para a necessidade de se transformar a visão dominante acerca do
desenvolvimento. É nesse relatório que se utiliza pela primeira vez a expressão desenvolvimento
sustentável, numa alusão a um modelo de desenvolvimento que ... satisfaz as necessidades do
presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias
necessidades (CMMDA, 1987).

Os anos 90 trouxeram ao centro do debate esse tipo de visão. A globalização da economia,


a fragmentação política e o conseqüente enfraquecimento do Estado, adicionados ao desemprego
em massa, à devastação ambiental e ao aguçamento da desigualdade social e da miséria, levaram,
diferentes organizações internacionais a repensar o desenvolvimento e as estratégias para a sua
produção. É nesse contexto que a Organização das Nações Unidas – ONU elabora uma agenda
social, com o intuito de incentivar o debate internacional sobre temas tão importantes. Compõem a
agenda da ONU diversas conferências, realizadas a partir de 1992, cada uma delas chamando a
atenção dos governantes de todo o mundo sobre questões como: o meio ambiente e o
desenvolvimento (Rio de Janeiro/1992), os direitos humanos (Viena/1993), o crescimento
populacional (Cairo/1994), o desenvolvimento social (Copenhague/1995), a situação das mulheres
(Pequim/1995).

A conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como a Eco-
92 ou Rio-92, foi um momento significativo no debate internacional sobre o padrão de
desenvolvimento prevalecente até então, principalmente pelas conseqüências desastrosas deste
para o meio ambiente. Convocada ... em meio a campanha internacional preservacionista que
atribuía a degradação do ecossistema planetário particularmente à devastação de reservas
florestais no Terceiro Mundo – em especial na Amazônia brasileira (Alves, 1996:66), a Eco-92 foi
muito além dessa discussão, graças a uma massiva participação de ONGs internacionais e
nacionais dispostas a colocar em cheque o padrão de desenvolvimento responsável pela questão
ambiental. Ao seu final, a conferência divulgou ao mundo a ... correta percepção de que, se, por
um lado, a superpopulação é voraz, a pobreza é predatória e a miséria, poluidora, por outro, a
maior responsabilidade pela destruição ambiental advém dos padrões insustentáveis de produção
e consumo do Primeiro Mundo – importados, (...) até por experiência própria, pelos setores
avançados dos países em desenvolvimento.

E que: Face à conjugação desses diferentes fatores destrutivos, a verdadeira batalha pela
conservação ambiental não se pode dar pela simples abstenção, ou pela renúncia do Terceiro
Mundo, a perseguir seus objetivos de desenvolvimento, mas sim pela realização de esforços
cooperativos e generalizados para se promover, nacional e internacionalmente, um modelo de
desenvolvimento sustentável ( Alves, 1996:66-67).

A definição mais precisa da substância dessa nova idéia de desenvolvimento está contida
na Agenda 21, o documento elaborado, ao final da conferência, que expõe os princípios e a pauta
de ação necessária à configuração do novo padrão de desenvolvimento, baseado na
sustentabilidade. Esse documento inova a preocupação com a insustentabilidade do padrão
anterior, chamando a atenção para o aumento da desigualdade social decorrente daquele padrão.

A idéia de desenvolvimento sustentável passa a ser veiculada por diferentes organizações


internacionais, dentre elas o Banco Mundial, e a fazer parte do discurso, principalmente dos
governantes dos países do Terceiro Mundo. No Brasil, a afirmação dos princípios da Eco-92
passaram a ser elementos importantes da retórica dos governantes, tendo o desenvolvimento
sustentável se transformado em fator significante dos discursos reformistas. Isso porque o novo
tipo de desenvolvimento combinava com a descentralização das ações governamentais em curso a
partir do início dos anos 90, que transferia para os governos locais a responsabilidade de
formulação e implementação de políticas públicas, inclusive aquelas direcionadas à promoção do
desenvolvimento econômico.
O que é desenvolvimento sustentável?

Antes de iniciarmos a análise dos planos elaborados no Nordeste, é importante fazermos


uma reflexão acerca dos princípios inovadores desse padrão de desenvolvimento e das bases que
garantem a sua sustentabilidade.

Há muitas formas de definir o desenvolvimento sustentável (mais de 100 definições


identificadas na literatura), sendo a grande maioria centrada na questão ambiental, que deu origem
à proposta. A visão que prepondera na América Latina e, em especial, no Brasil, no entanto, está
ancorada nos pressupostos da Agenda 21, que aprofunda o sentido da sustentabilidade do
desenvolvimento para além da dimensão ambiental. Para Ignacy Sachs (um dos mais ardorosos
defensores desse modelo), o desenvolvimento sustentável deveria estar ancorado em três
princípios básicos: a prudência ecológica, a eficiência econômica e a justiça social. Mais
recentemente foi incorporada a essa tríade o princípio político da democracia e a preocupação com
o componente cultural da realidade. Dessa forma, o desenvolvimento deixa de ser um problema
econômico para ser um problema de múltiplas dimensões, o que torna mais complexo o seu
planejamento e a sua realização.

Para alguns autores o desenvolvimento sustentável tem que estar cimentado em uma nova
base ética, por demandar uma solidariedade social e a necessidade de subordinação da dinâmica
econômica aos interesses da sociedade e às condições do meio ambiente. Essa solidariedade que
deveria ser intergeracional e interespacial, supõe uma mudança radical nos valores, práticas e
atitudes dos agentes do desenvolvimento, mas também da sociedade como um todo.

Essa chamada visão holística do desenvolvimento requer, assim, um suporte muito forte
que lhe dê sustentação, o que talvez explique o aprofundamento, no tempo, da idéia de
sustentabilidade para dimensões mais amplas como a política e a cultura.

A primeira grande questão que se levanta diante do desafio do desenvolvimento


sustentável diz respeito aos atores sociais promotores desse desenvolvimento. Na medida em que
supõe uma mudança de prioridades em relação ao modelo economicista-tecnológico, ele
representa uma quebra de interesses e práticas, fortemente sedimentados nas instituições públicas
e privadas. Em interessante artigo sobre o tema, RICH (1994) chama atenção para o paradoxo
presente, por exemplo, na atuação do Banco Mundial, que é hoje o principal gestor financeiro
internacional de estratégias de desenvolvimento sustentável. Estudos realizados mostram que este
Banco, enquanto destina 2 milhões de dólares para financiar programas de redução de dióxido de
carbono na China, se propõe a destinar 310 milhões para a construção de centrais geradoras de
energia com base no carvão. Segundo o autor, dos 46 projetos financiados pelo Banco na área de
produção de energia entre os anos 90-94, somente dois incorporaram critérios de conservação
ambiental, numa visível quebra do princípio da sustentabilidade.

Este exemplo do Banco Mundial pode ser facilmente estendido aos governos. Atuando
geralmente sobre um campo de pressões, os governos costumam incorporar às suas agendas
pontos muitas vezes conflitantes, num processo típico de acomodação de interesses. Além disso,
as coalizões governistas para chegar ao poder assumem compromissos diversos, que vão desde
os assumidos publicamente com o seu eleitorado até os assumidos privadamente com os
financiadores e apoiadores de campanha. Assim, quanto mais extenso esse leque maior a
dificuldade de estabelecer agendas.

Se sairmos do Estado para o campo do mercado, fica ainda mais distante a identificação
de possíveis atores sociais promotores do desenvolvimento sustentável. Os representantes do
capital, que estiveram sempre na dianteira dos processos de desenvolvimento, costumam não
reconhecer a validez das questões da sustentabilidade, pois são movidos por interesses puramente
econômicos (privados) e muito raramente se identificam com questões de natureza social e
ambiental (públicas). O desenvolvimento sustentável procura corrigir as distorções de um modelo
que priorizou os seus interesses e supõe uma redefinição de prioridades e formas de atuação que
muitas vezes lhes parece exdrúxula.

Diante de todas essas dificuldades, a adesão ao padrão do desenvolvimento sustentável é


uma decisão extremamente difícil, principalmente para o Estado, principal ator no processo de
alavancagem do desenvolvimento na América Latina, tradicionalmente atrelado aos padrões
anteriores de intervenção. É por essa razão que, na nossa concepção, o desenvolvimento
sustentável para ocorrer precisa estar atrelado a uma reforma do Estado. Não uma reforma restrita
ao aparato burocrático das organizações públicas, mas uma reforma que englobe a própria
sociedade1. Isso porque não será o Estado sozinho ou somente as leis de mercado que serão
capazes de regular os mecanismos de funcionamento de um padrão de desenvolvimento baseado
na sustentabilidade. A sociedade, através de suas organizações, será uma força propulsora
indispensável para fazer valer a nova realidade.

As várias dimensões da sustentabilidade

A multiplicidade de requerimentos necessários à produção do desenvolvimento sustentável


pode ser melhor compreendida se fizermos referência àqueles elementos que, de fato, podem
garantir sustentabilidade a esse modelo. O elemento diferencial do desenvolvimento sustentável,
em relação ao padrão tradicional de desenvolvimento, é justamente o fato de que a sua base não é
somente econômica, mas também ambiental, social, cultural e política. Do ponto de vista
1
A esse respeito ver: KILSKSBERG; NOGUEIRA
econômico, a sustentabilidade do desenvolvimento será dada pela eficiência do modelo em garantir
um crescimento econômico que atenda ao dinamismo do mercado e possibilite a incorporação do
maior número possível de beneficiários diretos e indiretos aos produtos desse crescimento, de
forma a reverter as disparidades no padrão de distribuição de renda. Na dimensão econômica é
mister que seja dada atenção ao potencial do setor público para assegurar as condições
necessárias para que o processo de desenvolvimento seja viabilizado, principalmente no tocante a
fontes de financiamento e respaldo institucional.

A dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável, por sua vez, será dada pela
preocupação com a utilização de técnicas e processos de produção comprometidos com a
preservação e a recuperação da natureza, o que significa um controle sobre ações poluentes e
devastadoras do meio ambiente. É preciso não esquecer que o princípio orientador do
desenvolvimento sustentável está justamente numa relação com a natureza que não prejudique a
vida das gerações futuras. Isso supõe uma atenção cuidadosa com a manutenção do estoque de
recursos naturais incorporados a atividade produtiva, atenção que deverá se realizar através de
políticas públicas que possibilitem um controle do tipo proposto por Daly (1990). Para ele, era
necessário controlar o uso dos recursos naturais tanto renováveis quanto não renováveis. Para o
caso dos recursos renováveis a taxa de utilização deveria ser equivalente à taxa de recomposição
do recurso. Em relação aos recursos não renováveis, seria necessário limitar seu ritmo de
utilização ao ritmo de desenvolvimento e descoberta de substitutos.

Um ponto importante na discussão levantada pelas organizações não-governamentais na


Eco-92, estava centrado na desigualdade social produzida pelo processo de desenvolvimento
concebido na perspectiva do crescimento econômico. Assim, um modelo de desenvolvimento que
se propõe alternativo deveria estar fundamentado também em uma dimensão social, concebida
como a capacidade de promover maior eqüidade, principalmente do ponto de vista da satisfação
das necessidades básicas de todos os indivíduos. Assim, a prioridade do ponto de vista do
desenvolvimento sustentável deve ser a grande maioria da população que vive em estado de
miséria, excluída dos benefícios gerados pela produção. No caso ... específico dos países do Sul,
com graves problemas de desigualdade e de exclusão sociais, os critérios básicos deveriam ser: os
da justiça distributiva, para o caso da distribuição de bens e serviços; e da universalização da
cobertura, para as políticas globais de educação, saúde, habitação e seguridade social
(GUIMARÃES, 1995:128). Do ponto de vista da dinâmica da economia, a sustentabilidade social
deveria estar assegurada por uma política que privilegiasse o mercado nacional, a sua
complementariedade em nível regional, orientada para a diminuição das disparidades na
distribuição de riquezas.

É preciso não esquecer que a desigualdade social na América Latina tem sua face mais
visível na precariedade do acesso ao mercado de trabalho. E, como lembra GUIMARÃES (1995),
essa questão deveria ser enfrentada através do ... privilegiamento das pequenas e médias
empresas, mediante assessoria técnica e financeira e instrumentos creditícios, fiscais e tributários,
que permitam uma maior formalização do emprego urbano. Do ponto de vista tributário esse
processo não pode deixar de contemplar a redistribuição de recursos do centro para a periferia, de
forma a propiciar a descentralização de recursos públicos, assim como a desconcentração
industrial.

Em relação ao meio rural, é urgente pensar o desenvolvimento agropecuário em uma nova


perspectiva, abrindo espaços para a realização da reforma agrária, único mecanismo possível de
democratização do acesso à terra e de diminuição da desigualdade social no campo. Ao mesmo
tempo, torna-se necessário ... reverter a tendência de modernização agrícola com base
exclusivamente na grande empresa capitalista com demanda intensiva de maquinaria e de
fertilizantes químicos...(GUIMARÃES, 1995:129). Este modelo, além de inacessível ao pequeno
produtor, compromete a sustentabilidade ambiental, preocupação inicial do desenvolvimento
sustentável.

Vendo-se da perspectiva dessas três dimensões ressaltadas até aqui, fica patente a
magnitude das mudanças requeridas para implantação desse novo padrão de desenvolvimento, e
as dificuldades que se colocam para a sua realização. Volta, assim, a questão acerca de quais os
atores sociais que promoverão esse tipo de desenvolvimento? E ainda: quem terá capacidade e
interesse real na sua promoção? A pergunta nos leva a entrar no terreno de uma outra dimensão
do desenvolvimento sustentável que parece fundamental para a manutenção de sua
sustentabilidade: a dimensão política.

O grande desafio para os pensadores do desenvolvimento sustentável hoje é, basicamente,


torná-lo real. Ultrapassar o nível da retórica, que caracteriza a sua produção, no plano discursivo,
para torná-lo um caminho na construção de uma sociedade mais justa. Aí encontra-se o ponto
fulcral de toda a nossa discussão. A construção de uma sociedade mais justa não pode ser a obra
de um só ator social e político (o Estado, por exemplo), ela precisa ser uma construção
verdadeiramente social, principalmente daqueles que estiveram alijados dos processos anteriores
de desenvolvimento. É nesse sentido que Guimarães afirma que ... a sustentabilidade política do
desenvolvimento encontra-se estreitamente vinculada ao processo de construção da cidadania
(GUIMARÃES). É esse o grande desafio do desenvolvimento sustentável na América Latina. Aqui,
mais do que em outras partes do mundo, a possibilidade do desenvolvimento sustentável está
intimamente ligada à consolidação da democracia. O Estado continua a ser o único ator capaz de
enfrentar esse desafio, mas não um Estado autoritário, contaminado pelos interesses dos setores
economicamente mais fortes, e sim um Estado comprometido com um projeto social baseado na
eqüidade. É nesse sentido que vemos a possibilidade do desenvolvimento sustentável dentro do
projeto mais amplo de reforma do Estado, mas não uma reforma resumida ao reordenamento
institucional das organizações públicas, e sim uma reforma que contemple a própria sociedade.

Nesse sentido, é preciso pensar a eqüidade não apenas como a divisão justa de riquezas,
mas também como divisão de poder. E essa divisão se dará no contexto da descentralização das
ações, do controle social e da participação efetiva dos cidadãos no processo decisório. Para que
isso realmente ocorra é necessário democratizar o Estado e democratizar a própria sociedade. A
democratização da sociedade supõe o ... fortalecimento das organizações sociais e comunitárias, a
redistribuição dos recursos e da informação para o setores subordinados, o aumento da
capacidade de análise de suas organizações e a capacitação pare a tomada de decisões. E a
democratização do Estado requer ... a abertura do aparato estatal para o controle cidadão, a
reatualização dos partidos políticos e dos processos eleitorais e (...) a incorporação do conceito de
responsabilidade política na atividade pública ( GUIMARÃES, 1995:130)

Todo esse processo de mudança expressa um rompimento radical com as práticas


políticas tradicionais, e define novos padrões de compromisso entre o Estado e a sociedade nunca
antes observados na política latino-americana e, em especial, na brasileira. E este é o grande
desafio político do desenvolvimento sustentável. Sem ele será impossível sair do plano da
formulação discursiva para o enfrentamento dos obstáculos para a construção de uma nova
realidade.

A quinta e última dimensão do desenvolvimento sustentável situa-se no plano da cultura. A


reorientação dos processos de desenvolvimento, na direção de um modelo socialmente produzido,
precisa estar ancorado no respeito aos padrões culturais vigentes, nas práticas historicamente
produzidas que se constituem parte importante da identidade de um povo e de uma sociedade. O
desenvolvimento que destrói tradições e histórias é um desenvolvimento sem futuro, porque
baseado somente no presente. É um desenvolvimento que se esgota em uma geração e que não
possui assim bases de sustentabilidade.

Essas cinco dimensões explicitadas acima dão conta da complexidade do novo padrão de
desenvolvimento, cuja concretização só se torna possível com um equilíbrio entre as mesmas, num
processo de crescente complementaridade e de forte participação social. Disso resulta a
importância que terá, para esse tipo de desenvolvimento, um outro tipo de capital, o capital social
(PUTNAM, 1993).

A visão de desenvolvimento sustentável no Nordeste

Em 1994 foi realizado no Nordeste um grande estudo coordenado pela Secretaria de


Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República, com apoio dos governos
estaduais, com o intuito de mapear as condições para a formulação e implementação de políticas
de desenvolvimento sustentável no Nordeste semi-árido. O projeto, que ficou conhecido como
PROJETO ÁRIDAS, foi realizado a partir da formação de vários grupos temáticos, cada um deles
referente a uma dimensão da realidade local. O diagnóstico feito pelos pesquisadores a partir da
investigação apontava para a importância da mudança do padrão de planejamento e gestão do
desenvolvimento local no Nordeste, o que motivou a formulação de planos de desenvolvimento
para os estados, dentro da concepção do desenvolvimento sustentável.

Para os formuladores dessas propostas, com essas iniciativas ... o Nordeste do Brasil
assume mais uma vez e paradoxalmente (...) uma posição de liderança no processo de
planejamento nacional (...) e inicia mais cedo que o restante do país a tentativa de incorporação do
conceito de desenvolvimento sustentável no planejamento governamental (MIRANDA et alii,
s/d:24).

O presente trabalho objetiva analisar os Planos de Desenvolvimento Sustentável dos


estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, tentando mapear neles os sinais de mudança
necessários a produção de um desenvolvimento realmente sustentável e adequado aos princípios
da reforma do Estado, ora em andamento: a descentralização, a integração das ações e a
participação da sociedade.

A - O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará

Partindo da idéia de desenvolvimento a longo que caracteriza o desenvolvimento


sustentável, o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará orienta políticas e define objetivos
para um espaço temporal de uma geração. No entanto, pretende servir como fonte de dados e
orientações para o governo do estado na gestão que se inicia em 1994, objetivando a superação de
uma pesada herança negativa, que se expressa nos seguintes problemas:
 degradação do meio ambiente;
 concentração espacial;
 exclusão social;
 vulnerabilidade econômica;
 atraso cultural, científico e tecnológico;
 política de clientela e Estado patrimonialista.

Em termos gerais o plano visa construir uma visão do futuro identificando o governo com as
diretrizes da descentralização, da sustentabilidade e de uma administração participativa.
Entendendo a necessidade de aprofundar as mudanças ocorridas no estado, nos últimos
anos, o documento destaca os seguintes tópicos como identificadores das mudanças que quer
promover:
 uma sociedade em harmonia com a natureza;
 uma sociedade espacialmente equilibrada;
 uma sociedade democrática;
 uma sociedade justa;
 uma economia estável;
 uma sociedade avançada quanto à cultura, ciência e tecnologia;
 um Estado a serviço da sociedade.

O objetivo síntese do plano é a melhoria de qualidade de vida dos cearenses em uma


geração, o que supõe:
 proteção do meio ambiente;
 reordenamento do espaço;
 capacitação da população;
 crescimento da economia, geração de empregos e redução das desigualdades;
 desenvolvimento cultural, científico, técnico e inovador;
 melhoria da gestão pública.

Programa de Ação

A cada objetivo se direcionam vetores que reúnem programas estruturantes e/ou diretrizes
e prioridades para a elaboração destes programas.

 Programas estruturantes na área de proteção do meio ambiente:


 Florestamento, reflorestamento e proteção da biodiversidade;
 Combate à poluição;
 Desenvolvimento e gestão dos recursos hídricos:
 ampliação da oferta hídrica;
 o desenvolvimento da infra-estrutra hidroagrícola;
 águas subterrâneas para o desenvolvimento;
 o desenvolvimento da infra-estrutra hídrica estratégica: açude Castanhão e
transposição de águas do rio São Francisco.

 Programas estruturantes na área de reordenamento do espaço:


 Estruturação da rede urbana;
 Organização fundiária.
 Programas estruturantes na área de capacitação da população:
 Educação para todos:
 todos pela educação (a escola, o município, o estado);
 educação de qualidade;
 educação para todos.
 Direito à saúde:
 equidade;
 descentralização;
 intersetorialidade;
 participação social;
 valorização e motivação dos profissionais de saúde.
 Saneamento básico:
 Atendimento às necessidades da população com: água de quantidade
suficiente e qualidade satisfatória; esgotamento sanitário abrangente
em municípios com mais de 50 mil habitantes.
 Habitação:
Segmento I (famílias com renda inferior à três salários mínimos):
- mutirão habitacional
- urbanização de favelas;
Segmento II (famílias com renda entre três e dez salários mínimos):
- financiamento a pessoas físicas;
- produção habitacional: financiamento para construção
conclusão e melhoria da moradia do financiado;
- financiamento para conjuntos habitacionais;
Segmento III (famílias com renda superior a dez salários mínimos):
- atender à demanda do mercado, elevando a oferta, reduzindo o custo e
melhorando a qualidade; incrementar a participação do setor na
formação do PIB do Ceará;
- Contribuir para a consolidação das empresas que atuam no mercado
imobiliário;
 Segurança pública e defesa social:
 Criação de um sistema integrado de defesa social (SINDES):
 obter a parceria da sociedade;
 estreitar a cooperação de instituições públicas e privadas.
 Desenvolvimento social, redução das desigualdades e promoção de
Empregos:
 uma ação para transformar o social;
 um programa de combate à pobreza rural;
 um programa de apoio às reformas sociais.

 Programas estruturantes na área de geração de emprego e desenvolvimento


sustentável da economia:
 Desenvolvimento rural:
 irrigação e pólos agroindustriais;
 desenvolvimento da agricultura de sequeiro;
 fortalecimento da pecuária;
 desenvolvimento da pesca e aquicultura.
 Desenvolvimento da indústria e mineração:
 promoção e incentivo à atividade industrial;
 desenvolvimento da mineração;
 capacitação de recursos humanos para a indústria.
 Desenvolvimento do comércio, dos serviços e do turismo:
 dinamização do setor comércio;
 promoção às exportações;
 promoção do setor de serviços:
 interiorização do setor de serviços;
 capacitação empresarial no setor de serviços;
 desenvolvimento do turismo:
 ação territorial :
- PRODETURIS
- PRODETUR
- macro-planos de desenvolvimento;
- centros turísticos integrados.
 ação institucional:
- marketing e promoção do turismo;
- informação turística;
- gestão institucional;
- capacitação de recursos humanos para o setor de turismo.
 ação comercial:
- captação de oportunidades de negócios e comercialização;
- financiamento, incentivo e crédito;
- gestão de equipamentos turísticos;
 Desenvolvimento da infra-estrutura física:
 transporte metropolitano;
 manutenção de rodovias;
 restauração de rodovias;
 implantação do plano de transporte intermunicipal de passageiros;
 construção de terminais rodoviários;
 construção da nova área terminal do Aeroporto Pinto Martins, em
Fortaleza;
 ampliação do Porto do Mucuripe;
 construção do complexo industrial-portuário do Pecém;
 recuperação e aumento de capacidade do setor terciário;
 disseminação de energias renováveis;
 desenvolvimento de uso de energias alternativas;
 conservação de energia;
 expansão da ofertas de gás natural (construção do gasoduto Guamaré/RN
a Fortaleza);
 construção e reforma de redes de distribuição urbana;
 reforma e/ou construção de redes de distribuição rural;
 expansão de novas centrais telefônicas;
 interiorização da telefonia.

 Programas estruturantes na área de desenvolvimento da cultura, ciência,


tecnologia e inovação:
 Desenvolvimento da cultura:
 descentralização e ampliação das ações da Secretaria da Cultura e
Desporto;
 ampliação e engajamento da sociedade;
 criação de um núcleo de formação de gestores, agentes culturais e arte-
educadores;
 ênfase nas áreas da infância e adolescência;
 capacitação e multiplicação de espaços de convivência cultural;
 captação de recursos para o financiamento de projetos culturais.
 Ciência, tecnologia e inovação:
 programa de extensão tecnológica e difusão tecnológica;
 programa de assistência tecnológica;
 programa de pesquisa aplicada;
 programa de capacitação laboratorial;
 programa de capacitação de recursos humanos;
 implantação de centros tecnológicos de ensino superior;
 implantação de centros de estudos para a formação de instrutores de
ensino tecnológico, reciclagem de professores e de apoio a alunos
superdotados;
 implantação de centros vocacionais tecnológicos;
 bolsas para a pós-graduação;
 educação tecnológica à distância;
 redes de informação tecnológica e videotecas profissionalizantes;
 programa de estudos avançados:
 instituto software;
 instituto do semi-árido;
 instituto de química fina e fisioterapia;
 Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho do
Nordeste (CENAPAD-CE).

Para a execução de todos estes vetores ligados a cada objetivo do plano, o PDS apresenta
um modelo de gestão com as seguintes características e estrutura.

Estratégias de administração, execução e capacitação de recursos.

Modelo de gestão

Do ponto de vista do modelo de gestão, elemento fundamental da nova idéia de


sustentabilidade, o PDS-CE apresenta as seguintes diretrizes:

 Planejamento e desenvolvimento institucional:


 Planejamento participativo com visão de longo prazo;
 Aperfeiçoamento da administração pública na ótica da população:
 em prol da excelência no serviço público;
 capacitação do serviço público;
 ordenação da infra-estrutura;
 motivação;
 Sistema de informações para o planejamento e a gestão governamental;
 Atenção para a operacionalização, acompanhamento e avaliação.

 Comunicação política e institucional:


 Difundir amplamente a filosofia e o conteúdo programático do Plano de
governo;
 Obter a integração e harmonização dos órgãos e servidores ;
 Motivar o servidor público para atuar como agente no processo de
mudanças.

 Modelo de gestão participativa - Objetivos e princípios gerais:


 Objetivos:
 aumentar a eficácia do governo através de uma administração pública
orientada pelo âmbito do desenvolvimento sustentável;
 aumentar a eficiência no uso dos recursos públicos através de técnicas
adequadas e da mobilização da sociedade.
 Princípios gerais:
 manter e consolidar os fundamentos do equilíbrio fiscal do estado;
 potencializar o papel do estado mediante a mobilização da sociedade, do
setor público, municípios, comunidades, ONGs e cidadãos;
 aproveitar adequadamente o funcionamento dos mecanismos de mercado;
 estimular a competição no serviço público;
 orientar a ação do governo para a obtenção de resultados;
 identificar a necessidade dos usuários dos serviços do Estado e atendê-
los;
 buscar antecipar-se ao surgimento de problemas através do planejamento;
 promover a descentralização e a participação, como forma de potencializar
a ação do governo;
 motivar o funcionalismo público;
 identificar com clareza a missão do Governo como um todo, de cada
Secretaria, órgão e mesmo de cada servidor.

 Modelo de gestão participativa – estrutura.

O modelo de gestão proposto no plano do Ceará é fruto de um processo de mudanças


na administração pública, em curso desde 1987. Ele tem como base mecanismos de
coordenação e de participação a serem exercidos de forma complementar, na busca de
maior eficiência e eficácia das ações governamentais. Os principais componentes desse
sistema de coordenação e participação são os seguintes:
1. Governo:
 coordenação geral (governador),
 coordenação executiva ( Secretaria de Planejamento) e
 conselhos de secretários.
2. Grupos de trabalho interinstitucionais (com participação do governo e de
representantes de algumas instituições da sociedade envolvidas com os temas):
- GTI 1  Proteção do meio ambiente e reordenação do espaço;

- GTI 2  Capacitação da população;

- GTI 3  Segurança pública;


- GTI 4  Desenvolvimento da cultura, ciência, tecnologia e
inovação;
- GTI 5  Promoção do emprego e desenvolvimento econômico
sustentável;
- GTI 6  Gestão pública.
3. Articulação externa:
- Governo Federal,
- demais estados brasileiros e
- órgãos nacionais e internacionais.
4. Mediação governo-sociedade:
4.1.Conselhos de participação da sociedade:
 Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável;
 Conselho de Desenvolvimento da Família e da Sociedade;
 Conselho de Desenvolvimento Cultural.
4.2. Conselhos regionais de desenvolvimento sustentável;
4.3. Conselhos de descentralização:
 Conselhos municipais;

 Conselhos comunitários.

 Fontes de financiamento e estratégias de capacitação de recursos.


 Recursos públicos e privados:
 poupança pública estadual;
 transferências intergovernamentais;
 recursos privados.
 Recursos externos.
 Financiamentos oficiais e incentivos fiscais e creditícios.
 Estratégias para a captação de recursos e a atração de investimentos:
 promoção do Ceará no exterior,
 fortalecimento do mercado de capitais,
 incentivo à captação de recursos privados,
 captação de recursos externos ao estado e
 parceria com instituições não-governamentais e estrangeiras.

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará (PDS/CE) alinha-se, como muitos


outros planos estaduais do Nordeste, na expectativa de continuação de estratégias de
desenvolvimento apontadas no Projeto Áridas. Enfoca como orientações: a descentralização, a
sustentabilidade (possibilidade de obtenção de resultados permanentes no processo de
desenvolvimento, preservando a capacidade produtiva dos recursos naturais, maximizando os seus
efeitos sobre a criação de renda e de emprego e assegurando apoio político capaz de garantir a
continuidade das políticas.2 ) e um modelo de gestão participativo.

Como plano de sustentabilidade, o PDS/CE se utiliza de um esquema comum. Apresenta,


em primeiro lugar, uma ampla análise da conjuntura e da estrutura estadual, seguida de um estudo
de potencialidades e estrangulamentos. Em segundo lugar, formula grandes cenários
macroeconômicos – geralmente abordados de duas formas limites, uma positiva e outra negativa –
onde se direcionam objetivos de desenvolvimento.

Algumas observações preliminares podem ser feitas ao plano.

O plano não deixa dúvidas quanto à focalização da descentralização como alternativa de


gestão mais viável para o planejamento e execução das propostas. A descentralização é
apresentada não como um projeto em separado, mas como parte essencial da reforma do Estado,
como bem demonstra este princípio geral do modelo de gestão participativo: promover a
descentralização e a participação, como forma de potencializar a ação do governo, sendo os
municípios convidados a fazerem parte da elaboração de vários programas de ação e da sua
execução.

O modelo de gestão não deixa dúvidas quanto à importância da sociedade organizada na


implementação do plano, assim como com relação à necessidade de integração entre os níveis de
governo internos ao estado, numa resposta clara aos princípios orientadores da reforma.

Outras observações que merecem destaque.

Destacando as prioridades do governo (meio ambiente, educação, saúde, saneamento,


segurança, agricultura, emprego) o plano atrela a execução destas à promoção de mudanças
culturais significativas e ao avanço científico e tecnológico.

Fato interessante também é ter sido o plano elaborado já durante a campanha, como
projeto de governo para a futura gestão, sendo alegado amplo processo participativo, e não
consumindo, portanto, anos de administração.

B - Plano de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte

2
(PDS/, p.35)
O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte está calcado na
definição das seguintes opções estratégicas:
 investimento massivo na educação fundamental e na qualificação
para o trabalho,
 ampliação de oferta do saneamento básico,
 consolidação de atividades competitivas,
 reestruturação da base agropecuária,
 ampliação e modernização da infra-estrutura (hídrica e energética)
e
 capacitação tecnológica em áreas estratégicas.

Os objetivos gerais do PDS/RN estão voltados para a dinamização econômica do


estado, orientada pelo ideal de sustentabilidade ambiental, e para uma política de melhoria da
qualidade de vida, redução de desigualdades e fortalecimento da participação social. Estes dois
grandes objetivos conformam as grandes áreas de políticas do plano:

1. Desenvolvimento integrado e equilibrado do espaço


2. Política ambiental
3. Desenvolvimento humano
4. Dinamização e reestruturação da base econômica
5. Desenvolvimento da base científica e tecnológica
6. Reestruturação e democratização do Estado

Em termos específicos, a política de Desenvolvimento integrado e equilibrado


do espaço visa à diminuição das diferenças entre áreas e regiões do estado, buscando
desenvolver em cada uma delas, ações que visem:
a) o desenvolvimento agropecuário em áreas propícias a isto e
b) a desconcentração urbana no fortalecimento de centros e pólos médios do
espaço interurbano.

A política ambiental está compreendida na conservação e uso dos recursos


naturais orientada pelo ideal de sustentabilidade, presente nos objetivos gerais do plano. As
principais ações previstas nessa vertente são:
 a preservação e a utilização consciente e renovável dos recursos naturais,
sob normatizações punitivas e
 a disseminação da sustentabilidade como prioridade nas instâncias
municipais e privadas.
Faça-se alusão a um programa de RBMA/RN (Reserva da Biosfera da Mata Atlântica)
priorizando atenção nas seguintes áreas pilotos: a mata atlântica (Baía Formosa), Parque Estadual
Dunas de Natal (Natal) e o complexo Laguna Nísia-Floresta-Papebo e Guaraíra (Nísia-Floresta/
Arês/ Senador Georgino Avelino e Tibau do Sul).

O programa de desenvolvimento humano está ancorado em duas das opções


estratégicas do plano em geral, descritas acima: educação fundamental e qualificação para o
trabalho e ampliação da oferta de saneamento básico. As ações se estruturam na:
 universalização do ensino fundamental,
 ampliação do ensino de segundo grau,
 valorização e qualificação dos profissionais de educação,

 melhorias dos níveis de qualificação profissional3,


 abrangência de serviços de abastecimento de água e de esgotamento
sanitário em todo o estado,
 melhoria e ampliação do sistema hospitalar e ambulatorial,
 redução da mortalidade infantil,
 atendimento à demanda de habitação popular,
 promoção de segurança pública,
 assistencialismo efetivo às maiores carências e

 valorização da cultura e do patrimônio histórico4.

O programa de dinamização e reestruturação da base econômica tem como


fundamento outras três das opções estratégicas gerais do plano: consolidação das atividades
competitivas, reestruturação da base agropecuária e ampliação e modernização da infra-estrutura
(com prioridade para os setores hídrico e energético). Esse programa se desdobra em várias linhas
de ação, dentre as quais merecem relevo:
a)expansão e diversificação industrial5:
 recuperação do parque têxtil e de confecções,
 dinamização e integração do parque cerâmico,
 implementação da indústria de alimentos,

3
As observações se referem à visualização de agentes sociais na instrumentalização dos programas prioritários.
Obs.: este programa intenciona ação integrada com as seguintes instituições em destaque: SINE, UFRN,
ESAM, UNIPEC, FACEX e ETFRN, das quais só as duas primeiras contaram com representantes na
elaboração do plano.
4
Obs.: Instituições citadas como parceiras desse projeto: Fundação Roberto Marinho, Trade Turístico,
Academia Norte-rio-grandense de Letras, IHG/RN. A FJA, presente como elaboradora do PDS, encontra-se
aqui ausente e, das demais associações culturais, apenas a Academia de Letras acompanha a FJA na
participação da elaboração.
5
Obs.: A articulação institucional deste projeto se dá com estas instituições descritas: UFRN, FIERN,
SESI/SENAI, SINE e SEBRAE, entre outras.
 implementação do parque fabril de couros, derivados e artesanato em
geral,
 implementação da industrialização de pescados,
 implementação do parque eletro-eletrônico e informática e
 implementação de atividades artesanais permanentes;
b)programa de desenvolvimento do turismo6:
 ampliação e melhoria da infra-estrutura turística,
 marketing do turismo do estado,
 capacitação de recursos humanos,
 municipalização do turismo e
 turismo para terceira idade;
c)programa de revitalização do setor mineral:
 reestruturação do setor mineral do estado,
 industrialização mineral estratégica (parque industrial de scheelita,
industrialização mineral e de rochas ornamentais-gemas-feldspato) e
 criação do pólo petroquímico potiguar (projeto Alcanorte, projeto gás/sal,
projeto águas mães);
d) programa de apoio ao desenvolvimento comercial integrado:
 dinamização comercial inter-regional e
 apoio ao comércio exterior;
e) programa de desenvolvimento da agropecuária:
 em pequenas e médias produções, reforma agrária,
 segurança alimentar,
 pequena irrigação,
 pecuária bovina,
 caprinovinocultura,
 sericicultura,
 aquicultura de águas marinhas e águas interiores,
 em grandes produções, fruticultura irrigada,
 culturas industriais e
 pecuária;
f)programa de ampliação e otimização da infra-estrutura hídrica:
 ampliação da capacidade de acumulação e oferta d'água,
 captação de água de subsolo,
 desobstrução de leitos de rios,
6
Obs.: A articulação institucional deste projeto se dá com estas instituições descritas: FACEX, UNIPEC,
UFRN, SEBRAE, ETFRN e SES, entre outras.
 ampliação da irrigação,
 abastecimento d'água de comunidades e
 perenização de rios;
g) programa e consolidação e ampliação da infra-estrutura econômica:
 melhoria da infra-estrutura de transportes,
 melhoria do sistema rodoviário,
 melhoria do sistema portuário,
 melhoria do sistema aeroviário,
 melhoria do sistema ferroviário,
 adequação da infra-estrutura energética,
 consolidação do sistema de transmissão e de distribuição de energia
elétrica,
 produção de energia geofísica,
 aproveitamento dos energéticos fósseis,
 exploração racional da biomassa energética e
 ampliação da infra-estrutura de telecomunicações (telefonia fixa e celular
móvel).

O programa de desenvolvimento da base científica e tecnológica, orientando-se para a


geração de conhecimentos e de tecnologia, expressa os seguintes objetivos:
 programa de geração e difusão de tecnologias apropriadas,
 programa de criação de centros de incubadoras de empresas,
 programa de capacitação em ciência e tecnologia e
 programa de qualidade e produtividade na área de ciência e tecnologia.

E, finalizando, o programa de reestruturação e democratização do Estado compreende


as bases para a implementação do modelo de gestão, manifesta-se num conjunto de programas
que implementam as mudanças institucionais no estado, como, por exemplo:
 flexibilização e dinamização das organizações públicas,
 privatização das atividades publicas,
 qualificação de gestores públicos,
 formação e capacitação de recursos humanos,
 concepção e implementação do sistema estadual de recursos humanos,
 criação e implementação de planos de cargos, carreiras e salários para os
servidores do estado,
 implantação do plano de informatização dos serviços do estado,
 estabelecimento de sistemas de integração da rede de informática,
 execução de obras e serviços e aquisição de equipamentos,
 sistematização do planejamento do estado,
 estabelecimento do sistema de interação: estado/sociedade,
 estabelecimento do sistema de interação inter/intra-governamental ( união,
estado e municípios),
 estímulo ao funcionamento das organizações da sociedade e
 dinamização de programas educacionais e de politização para o exercício
da cidadania.

Os principais componentes do sistema de gestão, segundo o plano, são a sociedade e o


Estado, através das seguintes instâncias de participação:
1. Conselho de desenvolvimento sustentável do estado (órgão do poder executivo);
2. Conselhos estaduais (com participação do poder legislativo e de representantes da
sociedade) de:
Desenvolvimento econômico
Desenvolvimento humano
Meio ambiente
Ciência e tecnologia;
3. Conselhos regionais de desenvolvimento sustentável (formados a partir do
executivo e de representantes da sociedade) e
4. Conselhos municipais de desenvolvimento sustentável (com a participação do
executivo estadual, do legislativo e de representação da sociedade).

A análise do PDS-RN demonstra a utilização da metodologia comum que serviu de base à


elaboração dos planos em todos os estados, sendo, no entanto, visível a pouca importância dada
ao modelo de gestão como elemento estratégico para a construção das bases da sustentabilidade.
No plano do RN, a despeito da inclusão de uma política de reestruturação e democratização do
Estado, esta aparece de forma separada das demais diretrizes e ações do plano. A lógica que
preside esta política é dominada pela visão da reforma administrativa (enxugamento da máquina,
reestruturação de carreira, modernização do sistema, privatização), num claro viés gerencial, sem o
componente democratizante que caracteriza a visão do desenvolvimento sustentável.

É, no entanto, do ponto de vista de sua adequação aos princípios reformadores de


descentralização das políticas públicas – descentralização, integração e participação – que o plano
mais deixa a desejar. É bastante forte a centralidade do executivo estadual, como ator principal das
ações de desenvolvimento, e quase inexistentes as referências às formas de integração com as
unidades de governo menores. As referências mais importantes em termos de relações
intergovernamentais referem-se ao Governo Federal e ao Congresso Nacional, através da bancada
parlamentar do estado, numa clara demonstração da manutenção de um padrão de governo que a
reforma do Estado pretende superar, padrão esse identificado com o clientelismo, com o
autoritarismo e com a exclusão da sociedade do processo decisório.

Na explicitação do modelo fica bem claro, por exemplo, a total falta de responsabilidade do
governo estadual na montagem dos arranjos institucionais responsáveis pela base do sistema:
Conselhos Regionais e Municipais de Desenvolvimento Sustentável. O próprio plano deixa claro
que esses instrumentos serão criados na medida em que os municípios sintam necessidade dessa
instância de articulação, jogando para os municípios, a responsabilidade de responder pela
montagem dos instrumentos mais importantes da base de sustentabilidade do novo padrão de
desenvolvimento.

C - A operacionalização dos Planos de Desenvolvimento Sustentável nos dois


estados

Os estudos sobre governo e gestão pública chamam atenção para a importância de se


analisar pelos menos três importantes dimensões da ação governamental para compreender
melhor a dinâmica política que rege as experiências governamentais: os planos de governo, as
ações de governo e as estratégias para a manutenção da governabilidade.

Um dos dados mais significativos de nossa investigação até o momento é a diferença de


articulação entre o planejamento e ação de governo propriamente dita nos dois estados analisados.
Embora em ambos os estados o plano de desenvolvimento esteja de acordo com o padrão de
desenvolvimento sustentável, resultado de uma orientação comum dos organismos envolvidos no
projeto ÁRIDAS (principalmente o Banco Mundial), o que leva a muitas similitudes entre ambos, o
papel que o plano teve, na prática dos governos, foi extremamente diferente.

Enquanto no estado do Ceará o PDS foi iniciado logo após a finalização do projeto
ÁRIDAS, ainda durante a campanha eleitoral para o governo do estado, em 1994, o plano do Rio
Grande do Norte foi concluído em 1997, um ano antes do fim da gestão do governador. Disso
decorre o fato de que no Ceará o Plano de Desenvolvimento Sustentável assume o papel de plano
de governo, a despeito de ser formulado para o período de uma geração (1994-2020). No Rio
Grande do Norte, o descompasso entre a formulação do plano e a gestão governamental retiraram
do plano qualquer capacidade de influir nas ações governamentais durante o período. A reeleição
do governador para a gestão 1999/2002, que poderia criar as condições de efetivação do modelo
proposto no plano, não tem conseguido até o momento imprimir um ritmo e um desenho de
governance requerido pela natureza do PDS.

Na mensagem apresentada pelo governador ao final de sua gestão, em 1998, é chamada a


atenção para os 04 eixos orientadores das ações de governo:
 adequação da estrutura do Estado à nova realidade do país,
 racionalização administrativa e financeira,
 investimentos para o desenvolvimento e
 desenvolvimento de políticas sociais.

Nos dois primeiros eixos foram englobados programas direcionados à modernização do


Estado, através de reformas administrativas, do saneamento financeiro e da racionalização da
ação governamental (?), com destaque para o Programa de privatizações, que teve o seu momento
maior com a privatização da Companhia de energia do estado, a COSERN.

Nos investimentos para o desenvolvimento destaca-se a criação do PROADI – Programa


de Apoio ao Desenvolvimento Industrial, importante instrumento de financiamento das empresas
que se instalam no estado. Na gestão 94-98, 21 novas empresas se beneficiaram desse programa
e 50 empresas já instaladas renovaram o financiamento. Uma outra ação significativa nessa área
foi a criação do Centro Industrial Avançado – CIA, situado na área metropolitana de Natal, onde
foram implantadas novas empresas.

Importantes investimentos foram feitos também na área do turismo, ganhando destaque


aqueles realizados com a divulgação das potencialidades turísticas do estado no exterior e com a
criação de infra-estrutura (estradas, saneamento básico, equipamentos de lazer, limpeza pública e
segurança).

Ainda em termos de investimentos para o desenvolvimento, foram realizadas ações que


contemplam recursos hídricos e melhorias nas condições de desempenho da economia rural,
principalmente aquelas destinadas à geração de tecnologias agropecuárias ligadas à produção
animal, aqüicultura, fruticulrua e fitossanidade. Mas, no tocante a água o ponto alto do governo foi o
programa de adutoras, cuja função primordial é levar água de boa qualidade para o consumo das
populações interioranas.

Do ponto de vista das políticas sociais mereceram destaque no Rio Grande do Norte os
programas abaixo relacionados:
 programa do leite,
 programa de apoio ao pequeno produtor – PAPP,
 Balcão de Ferramentas,
 escolarização da merenda escolar,
 construção, ampliação e recuperação de escolas,
 chamada escolar 97,
 construção e equipamento de novos hospitais,
 ampliação dos sistemas de abastecimento de água e esgoto de cerca de 20
municípios,
 programa da sopa,
 SINE/PROGER e
 programa de segurança (reaparelhamento policial).

No entanto, de todas essas ações relacionadas acima pudemos verificar que os quatro
programas prioritários para o governo foram: o programa de adutoras, o PROADI, o programa do
leite e o PRODETUR.

Uma análise detalhada desses programas e das estratégias de ação revelam a


predominância de uma visão tradicional de desenvolvimento não compatível com o ideal de
sustentabilidade. Um exemplo claro da falta de conexão entre o plano e as ações governamentais,
do ponto de vista da sustentabilidade , pode ser encontrado, por exemplo, na concentração de “
investimentos para o desenvolvimento” na área da chamada Grande Natal, contrariando uma das
diretrizes do plano que seria de desenvolvimento integrado e equilibrado do espaço. Tanto o
PROADI quanto o Centro Industrial Avançado privilegiam a região no entorno de Natal,
aumentando a concentração de população e as disparidades de desenvolvimento em nível interno.

No que diz respeito ao Ceará, é visível a relação das ações governamentais com as
diretrizes propostas no PDS. Dentre os programas considerados prioritários pelo governo Jereissati
na gestão 94-98 encontram-se: o programa de recursos hídricos, o programa escola de qualidade
para todos, programa saúde da família e o programa de desenvolvimento industrial, dentro da
perspectiva de formação de cadeias produtivas e de criação de novos pólos industriais. Todos
esses programas, além de espelharem preocupações presentes na concepção de sustentabilidade
social, econômica e ambiental, assumem uma conotação nova, principalmente do ponto de vista da
sua forma de gestão. Os conselhos de desenvolvimento sustentável, os conselhos de Bacias e os
conselhos de escolas têm sido mecanismos importantes na mudança do padrão de gestão,
contribuindo para um processo de democratização do processo decisório e de controle social sobre
as ações governamentais.

Balanço final

A análise dos planos de desenvolvimento sustentável dos estados do Ceará e do Rio


Grande do Norte realizados nesse trabalho apontam elementos interessantes nessas experiências
pioneiras de planejamento realizadas no Nordeste durante a década de 90. Não há dúvidas acerca da
importância do projeto ARIDAS para o enfrentamento desse desafio, tanto do ponto de vista da
formação de um corpo técnico que repensou o desenvolvimento da região, aprofundando a discussão
sobre a sustentabilidade do desenvolvimento no Nordeste, quanto do ponto de vista da criação e
aperfeiçoamento de uma metodologia de trabalho baseada no princípio da descentralização e da
participação da sociedade na formulação de planos e programas de ação.

O processo de elaboração dos planos em cada um dos estados teve muito de novo, na
medida em que saiu da discussão limitada dos gabinetes para discussões abrangendo diversos
setores da sociedade interessados e comprometidos com as estratégias de desenvolvimento a serem
adotadas. Não há dúvidas sobre um certo elitismo ainda predominante nesse processo de discussão,
e sobre a ausência dos chamados setores “subalternos” da sociedade local. Chamou a atenção,
também, a não participação das unidades municipais de governo, principalmente no Rio Grande do
Norte, onde o governo do estado era o grande protagonista e onde a necessidade de
descentralização das ações ainda não havia sido introduzida no projeto de reforma do Estado. No
entanto o espaço de discussão foi, certamente, ampliado.

A comparação dos dois documentos oficiais e a análise das mensagens apresentadas


pelos governadores nos fins de sua gestão nos dão pistas para levantar algumas considerações
sobre o papel desses planos em cada um dos estados analisados.

Enquanto o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará tem um papel na condução


das ações de governo, sendo o Estado o grande protagonista de todo o processo de mudança, no
Rio Grande do Norte, a formulação do plano parece não ter passado de um exercício de
planejamento, orientado por organismos externos, sem qualquer utilidade prática nas ações de
governo.

É preciso entender, no entanto, que para o governo do Ceará (gestão Tasso Jereissati) a
adoção de uma nova perspectiva de desenvolvimento é parte de um processo de renovação das
práticas e das estruturas políticos locais, que se inicia antes da realização do projeto ÁRIDAS. O novo
modelo de desenvolvimento proposto a partir dali, ganha uma dimensão estratégica para o processo
de renovação dos chamados “governos da mudança”. A dimensão política do plano é assegurada
com a introdução de novos parceiros e com um intenso processo de organização da sociedade que
favorece e dá sustentação ao projeto defendido pela coalizão governista. É visível no Ceará uma
inversão de prioridades e uma focalização na área social, com destaque para ações estruturantes em
educação e saúde, assim como o enfrentamento de velhas questões como a da água, dentro de um
padrão adequado do ponto de vista ambiental e social.

No Rio Grande do Norte, ao contrário do Ceará, a coalizão governista é uma coalizão de


base conservadora, que, por isso mesmo, não rompe com os modelos tradicionais de gestão e com
os mecanismos de centralização que alimentam o clientelismo político. Ali é clara a prioridade para
os investimentos econômicos (tanto do ponto de vista do discurso quanto da prática), assim como a
predominância de um modelo tradicional de intervenção, baseado sobretudo nos incentivos fiscais.

A análise comparativa das duas realidades ofereceu-nos argumentos para concordar com
Guimarães quando este afirma que o desafio da sustentabilidade constitui um desafio eminentemente
político. E que: Antes de buscar os argumentos técnicos para decisões racionais, deve-se encontrar
a aliança política correta (Guimarães, 1995: 134). Isso porque, a despeito da existência de um forte
consenso em favor do desenvolvimento sustentável, não há indícios políticos suficientes apontando
para a sua concretização, e a tendência pode ser a transformação dos planos em simples peças da
retórica mudancista dos governantes, sem qualquer utilidade prática do ponto de vista do
direcionamento de um padrão de desenvolvimento que seja realmente novo.

[Notas]
A esse respeito ver: KILSKSBERG; NOGUEIRA
2
(PDS/, p.35)
AS observações se referem 'a visualização de agentes sociais na instrumentalização dos programas
prioritários.
3
Obs.: este programa intenciona ação integrada com as seguintes instituições em destaque: SINE, UFRN,
ESAM, UNIPEC, FACEX, ETFRN, das quais só as duas primeiras contaram com representantes na
elaboração do plano.
4
Obs.: Instituições citadas como parceiras desse projeto: Fundação Roberto Marinho, Trade turístico,
Academia norte-rio-grandense de Letras, IHG-RN. A FJA, presente como elaboradora do PDS encontra-se
aqui ausente e das demais associações culturais, apenas a Academia de Letras acompanha a FJA na
participação da elaboração.
5
Obs.: A articulação institucional deste projeto se dá com estas instituições descritas: UFRN, FIERN,
SESI/SENAI, SINE, SEBRAE, entre outras.
6
Obs.: A articulação institucional deste projeto se dá com estas instituições descritas: FACEX, UNIPEC,
UFRN, SEBRAE, ETFRN, SES, entre outras.

[Bibliografia]

GUIMARÃES, Roberto P. O desafio político do desenvolvimento sustentável. Lua Nova (35), 1995,
págs 113-136.
__________________ Da oposição entre desenvolvimento e meio ambiente ao desenvolvimento
sustentável: uma perspectiva do sul. In: CASTRO, Sérgio H. Nabuco de (org.). Temas de política
externa brasileira-II. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1994.

JARÁ, J.C. A sustentabilidade do desenvolvimento local. Brasília: IICA e Recife: SEPLAN, 1998.
MIRANDA, Carlos; GUIMARÃES NETO, Leonardo; BUARQUE, Sérgio C.; ARAÚJO, Tânia Bacelar.
Planejando o desenvolvimento sustentável. A experiência recente do Nordeste do Brasil. Brasília,
IICA, s/d.

RICH, Bruce. Mortgaging the Eaarth: the World Bank, environmental impoverishment and tue crisis of
development. Boston, Beacon Press, 1994.

SACHS, Ignacy. Recursos, emprego e financiamento do desenvolvimento: produzir sem destruir. O


caso do Brasil. Revista de Economia Política (10), jan/mar.1990.

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