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Em uma época em que as explicações e os anseios de tudo que

envolvia a sociedade tinham um cunho sobrenatural, Kant surge


como uma voz que começa a transferir para a ação humana a
capacidade de transformação no mundo. Seus pensamentos,
fundamentados na idéia que o homem só vai conseguir ser pleno se
suas decisões forem fundamentadas na razão. É interessante
perceber que suas idéias vêm de encontro à grande revolução
científica que acontecia no mundo à época e, como os avanços
científicos, permanecem até hoje.

No Direito, Kant traz à tona um pensamento completamente


novo, abraçado depois por Carnelutti e Beccaria, de que “o fim
do direito não é a justiça, mas a manutenção da paz. A paz não é
somente uma parte, mas todo o fim último da teoria do direito
dentro dos limites da pura razão. A paz, com efeito, assegura a
regra certa e permanente das ações humanas, de modo que o homem
possa realizar as suas exigências de autonomia dirigida ao seu
ser individual”. Saindo de um pensamento ainda dominante do
Direito Consuetudinário, a herança do Direito romano, Kant
enxerga além, ampliando o objeto do Direito para a manutenção da
Paz. No entanto para se manter algo é preciso antes conquistar
esse algo, em sua obra o filósofo irá mostrar caminhos e propor
atitudes que devem ser tomadas pelas sociedades para alcançar
esse objetivo.
A sua contribuição para o Direito Internacional começa com
a proposta de que não será possível existir paz se essa não se
tornar um pensamento livre de pressupostos teológicos e que
norteie uma ordem a partir da qual os Estados devem tratar a
questão jurídica da mesma maneira. Para se pensar em um Direito
Internacional é preciso que os Direitos fundamentais defendidos
pelos Estados coincidam, ou seja, a dignidade da pessoa humana,
o direito à liberdade e à igualdade, devem ser entendidos sob um
mesmo prisma. Dessa forma, enquanto os Estados continuarem
desprovidos de uma ordem jurídica internacional fundada nestes
critérios, os propósitos expansionistas voltados exclusivamente
para a busca de poder e de dominação dos Estados mais fracos,
determinarão suas condutas externas, de forma a estimular a
continuidade das violações seqüenciais perpetradas aos direitos
dos cidadãos.
Nessa obra Kant estabelece dois planos para a busca da paz
entre os Estados, ambos ancorados no Direito público, um plano
nacional e um plano internacional. O primeiro trata da relação
entre indivíduos e grupos. O segundo refere-se à relação entre
Estados. O pensamento de Kant assemelha-se ao pensamento de
Hobbes quando ele nos diz que o homem deve passar do estado de
natureza para a construção de um Estado de Direito
Internacional, ou seja, a questão da paz entre os Estados está
relacionada também à existência de um direito internacional
legítimo.
Em seu primeiro artigo ele nos diz que nenhum tratado entre
os Estados deve ser motivado pela Guerra, sob o risco de que a
partir desse tratado venha outra guerra, como vimos no tratado
da Primeira Guerra Mundial. Os tratados entre os Estados devem
ser fundados sob a honesta intenção de trazer paz continuamente
e, ainda que pareça estranho, em um tempo de paz. O segundo
artigo nos diz que sob nenhum pretexto um Estado pode ser
adquirido por outro. Kant ressalta a importância de entendermos
que um Estado não existe por si só, ele é formado por pessoas e
pessoas não são coisas passíveis de negociação.
O terceiro e o quarto artigo revelam a desnecessária
preocupação do Estado em se preparar para a Guerra, mantendo
exércitos numerosos e realizando gastos astronômicos com
conflitos com outros Estados. Todos esses recursos deveriam ser
usados para promover a paz e a dignidade das pessoas desses
Estados, dando-lhes verdadeira autonomia e tornando-as seus
próprios senhores.
Contextualizando o pensamento Kantiano, os Estados Unidos
da América não deviam interferir na constituição do Estado do
Iraque, isso viola a autonomia e a dignidade daquele povo e,
ainda, nenhum Estado deve propor situações que violem a
dignidade do outro Estado transformando-os em eternos inimigos.
Na segunda parte do livro percebemos claramente a idéia de
que naturalmente o homem anseia pela guerra e não pela paz ainda
que não exista uma guerra constante há, no entanto, uma
hostilidade constante. Por isso as constituições dos países
devem ser republicanas, fundadas nos direitos à dignidade
humana, o que implicaria na participação das pessoas nas
decisões relativas ao futuro do Estado. Ao mesmo tempo, os
direitos das gentes devem ser fundamentados em Estados livres,
que mantém a sua individualidade, mas que mantém os direitos
recíprocos garantidos. Da mesma forma deve ser entendido o
direito à posse da terra.
Do argumento de Kant, de que a paz não é um estado natural,
nasce também a esperança de alcançá-la, buscando na Educação o
fio condutor para a mudança de atitudes das pessoas. Em todos os
cenários de convivência humana existe a possibilidade de um
conflito, com uma dimensão bem menor do que aquela de uma
guerra, mas que pode se generalizar para toda uma sociedade.
Para mim o livro reforça a necessidade de exercer a cidadania
como uma forma de desencorajar a desigualdade e promover o
compromisso com a causa da paz, duas condições para instituir a
paz, por meio de uma liga de nações. O educador deve entender
que pode cumprir com sua responsabilidade social, na instituição
da paz no cenário escolar, como um micro-cosmo da nação. Como
educador, entendo que é papel fundamental das escolas, mais do
que ensinar conteúdos, formar pessoas conscientes do seu papel
no mundo, conscientes de que não devem agir pensando somente no
seu próprio bem, mas no bem comum que, segundo João XXIII,
“Compreende o conjunto das condições sociais, que permitem e
favorecem nos homens o desenvolvimento integral da
personalidade”.

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