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Pró-Reitoria Acadêmica
Escola de Saúde
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia

A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL


E/OU OUTRAS DROGAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE
ATENÇÃO E TRATAMENTO ATÉ A COMUNIDADE
TERAPÊUTICA

Autora: Ana Dóris da Silva


Orientadora: Profª. Drª. Maria Aparecida Penso

Brasília - DF
2015
ANA DÓRIS DA SILVA

A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS


DROGAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E TRATAMENTO ATÉ A
COMUNIDADE TERAPÊUTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do Título de
Mestre em Psicologia.

Orientadora: Profª Drª Maria Aparecida Penso

Brasília
2015
Silva, Ana Dóris
A Trajetória de Mulheres Usuárias de Álcool e/ou Outras
Drogas dentro dos Serviços de Atenção e Tratamento até a
Comunidade Terapêutica/Ana Dóris da Silva. 2015.
162 páginas

Dissertação (Mestrado) Universidade Católica de Brasília, 2015.


Orientação:Profª. Drª. Maria Aparecida Penso

1. Mulheres. 2. Álcool. 3. Drogas. 4. Comunidade Terapêutica.


5. Trajetória I. Penso, Maria Aparecida. II. Título

CDU Classificação

Ficha Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UCB


Dissertação de autoria de Ana Dóris da Silva, intitulada “A TRAJETÓRIA DE
MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS DENTRO DOS
SERVIÇOS DE ATENÇÃO E TRATAMENTO ATÉ A COMUNIDADE TERAPÊUTICA”,
apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília, em ____/____/____, defendida e aprovada pela banca
examinadora abaixo assinada:

_________________________________________

Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Penso


Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia - UCB
Orientadora

_________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Alexina Ribeiro
Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia - UCB
Examinadora Interna

_________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Novais Gondim
Escola Superior de Ciências da Saúde
Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS
Examinadora Externa

_________________________________________
Prof.ª Drª Cláudia Cristina Fukuda
Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia - UCB
Suplente

Brasília
2015
Dedico este trabalho a todas crianças que
perderam suas mães e/ou suas vidas para o
álcool e/ou para as outras drogas.
AGRADECIMENTO

Ao chegar ao final desta etapa de minha vida, senti em meu coração um desejo intenso de
agradecer a Deus por todas as coisas boas que consegui realizar. Decidi fazer uma prece, mas
meu coração sentiu que esse agradecimento não foi completo, pois para isso seria necessário e
importante também agradecer aos humanos.
Assim, agradeço a todos - mãe, irmã, cunhado, sobrinha-afilhada, marido, filhas, genro, neto,
amigos, irmãos do Centro Espírita Casa do Caminho, colegas de trabalho da Comunidade
Terapêutica, colegas e professores do mestrado, alunos da turma de supervisão no curso de
graduação em psicologia da UCB - pelo carinho e pela confiança que a mim dedicaram
durante esses dois anos de mestrado.
Agradeço a todas as mulheres que, ao longo dos 08 (oito) anos de existência e funcionamento
da comunidade terapêutica, passaram pela instituição permitindo que a cada dia e a cada
contato eu aprendesse um pouco com cada uma.
Agradeço a todos pela paciência e tolerância com minhas fraquezas e imperfeições e pela boa
vontade ao atender meus pedidos de auxílio.
Agradeço a todos que me ajudaram a tentar aproveitar nesta terra, as oportunidades que a vida
me deu para ser uma pequenina chama que ilumina as trevas em que jazem muitas criaturas.
Agradeço a todos que me ajudaram a ser, ainda que minimamente, a água benéfica que
minimizou a sede daqueles que cruzaram meu caminho, sequiosos de carinho e amor.
Agradeço a todos que me ajudaram a ser, embora com muita dificuldade, um pouco de
alimento para os que me procuraram, famintos de compreensão e de incentivo.
Agradeço a todos que me ajudaram a manter-me firme na busca constante que tenho, no
sentido de trilhar o caminho do amor e da caridade.
Agradeço à minha orientadora, que pacientemente ouviu meus pedidos de auxílio, que
tolerantemente, relevou meus momentos de pouca sociabilidade, que humildemente ignorou
as minhas grosserias, que generosamente, durante esse dois anos, aceitou-me como sou:
imperfeita; e que, amorosamente conduziu-me até o final desta caminhada.
Em especial quero agradecer às minhas filhas que compreensiva e resignadamente fingem que
não percebem minhas constantes ausências para atender outros necessitados e/ou para estudar;
ao meu marido que corajosamente convive com minha impaciência e pouca atenção; a minha
mãe que orgulhosamente fala de minhas poucas qualidades acadêmicas a todos que tem
paciência para escutá-la, e a todos os irmãos de fé que com paciência e humildade
permanecem ao meu lado no trabalho assistencial, apesar das minhas constantes exigências de
trabalho incessante.
Enfim... muitíssimo obrigada a todos que durante este processo de construção de
conhecimento, de alguma forma, ajudaram-me a aprender a amar e a servir.
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não
tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que
tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos
os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de
maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor,
nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para
sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O
Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata
com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com
indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não
suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a
verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O
Amor nunca falha. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e
o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.
Coríntios 1: 13
RESUMO

Referência: Silva, Ana Dóris da. A trajetória de mulheres usuárias de álcool e/ou outras
drogas dentro dos serviços de atenção e tratamento até a comunidade terapêutica. 2015.
162 folhas. (Dissertação de Mestrado em Psicologia). Universidade Católica de Brasília,
Brasília.2015

Este trabalho consiste de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa que tem
como objetivo conhecer a trajetória de mulheres adultas usuárias de álcool e/ou outras drogas
e de suas famílias, dentro dos serviços de atenção e tratamento ao uso abusivo de álcool e/ou
outras drogas, até chegarem ao tratamento em regime de internação, em instituições
denominadas Comunidades Terapêuticas, tendo como referência teórica a abordagem
sistêmica que compreende o uso de álcool e/ou outras drogas como um sintoma, que envolve
toda a família e o contexto social, o qual não pode ser compreendido isoladamente; bem
como algumas referencias teóricas relacionadas ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas,
oriundas de literatura específica sobre comunidades terapêuticas. Os principais conceitos que
nortearam este trabalho foram: o uso de álcool e/ou outras drogas por mulheres, as diretrizes e
determinações das políticas públicas sobre álcool e/ou outras drogas, as várias modalidades de
tratamento preconizadas pela política pública, a família da mulher usuária de álcool e/ou
outras drogas e a importância de sua participação no tratamento. O local da coleta foi uma
instituição de tratamento para uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, denominada
Comunidade Terapêutica, localizada no entorno do Distrito Federal. As participantes desta
pesquisa foram 05 (cinco) mulheres adultas que se encontravam internadas para tratamento
do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, na Comunidade Terapêutica, e 04 (quatro)
familiares, visto que o familiar de uma das mulheres internadas não participou da pesquisa por
não estar acompanhando o tratamento dela. Para conhecer a trajetória das mulheres
pesquisadas e de seus familiares foram utilizados dois roteiros de entrevista semi-estruturada,
um para as mulheres internadas para tratamento e outro para os familiares. Ambos os roteiros
privilegiaram o conhecimento das trajetórias das mulheres internadas tanto no que se refere ao
uso de drogas quanto às ações na busca por tratamento, visando conhecer os caminhos por
elas percorridos a partir do início do consumo de álcool e/ou outras drogas, até a busca por
tratamento em regime de internação na modalidade de Comunidade Terapêutica. Foram
realizadas 09 (nove) entrevistas semi-estruturadas, sendo 05 (cinco) com as mulheres
internadas e 04 (quatro) com familiares dessas mulheres, com duração média de 90 (noventa)
minutos, utilizando os roteiros específicos descritos anteriormente. Todas as entrevistas
realizadas foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra. Para análise dos dados foi
utilizada a epistemologia construtivo-interpretativa, de Gonzalez Rey, onde partindo da leitura
geral de todas as informações foram identificados indicadores que permitiram a construção de
03 (três) zonas de sentido:1) a trajetória, os motivos, as expectativas e a percepção dos
resultados alcançados nos tratamentos já realizados ; 2) expectativas e resultados com relação
ao tratamento em comunidade terapêutica; e 3) expectativas referentes a saída da comunidade
terapêutica após a conclusão do tratamento. Os principais resultados dizem respeito aos
seguintes aspectos: a busca por tratamento pode estar relacionada com a vivência de
situações difíceis nos vários contextos da vida da mulher; o desejo de parar de usar drogas
embora genuíno, em algumas situações pode não ser forte o suficiente para resistir aos apelos
do contexto; a sociedade ainda carece de maiores informações sobre os vários modelos de
tratamento previstos e disponibilizados a partir da política pública; o usuário de drogas é um
ser complexo que não está isolado do contexto sóciofamiliar, o que remete para a importância
de se realizar estudo mais aprofundado para viabilizar atenção específica para estas famílias; a
expectativa sobre o tratamento e percepção dos resultados podem ser diferentes para as
pessoas em tratamento e para seus familiares; diante da iminência de sair da comunidade
terapêutica após a conclusão do tratamento, as mulheres se percebem amedrontadas e
inseguras enquanto que seus familiares encontram-se divididos entre o medo e a confiança nas
mudanças demonstradas pelas mulheres tratadas. Considerando a relação entre família,
política pública e uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, este estudo procurou estabelecer
um diálogo entre estas instâncias, trazendo a reflexão sobre a importância de que as mesmas
sejam tratadas ou estudadas em conjunto, visto que inegavelmente estão inter-relacionadas.

Palavras-chave: Mulheres. Álcool. Abuso de Drogas. Comunidades Terapêuticas.


Trajetória.
ABSTRACT

Reference: Silva, Ana Doris's. The trajectory of women who use alcohol and / or other
drugs within the care and treatment services to the therapeutic community. 2015. 162
sheets. (Dissertation in Psychology). Catholic University of Brasilia, Brasília.2015

This work is an exploratory qualitative research that aims to know the trajectory of adult
women who use alcohol and / or drugs and their families within the care and treatment of the
abuse of alcohol and / or other drugs until they reach the treatment in detention regime in
institutions known as Therapeutic Communities, having as theoretical reference the systemic
approach that includes the use of alcohol and / or other drugs as a symptom, which involves
the whole family and the social context, which cannot be understood separately; as well as
some theoretical references related to the abuse of alcohol and / or other drugs, derived from
the literature on therapeutic communities. The main concepts that guided this study were: the
use of alcohol and / or other drugs by women, the guidelines and decisions of public policies
on alcohol and / or drugs, the various treatment modalities recommended by public policy, the
woman's family user of alcohol and / or drugs and the importance of their participation in
treatment. The location of the collection was an institution of treatment for alcohol abuse and
/ or other drugs, called Therapeutic Community, located in the vicinity of the Federal District.
The participants in this study were five (05) adult women who were hospitalized for treatment
of alcohol abuse and / or other drugs in the therapeutic community, and 04 (four) family, as
the family of one of the women hospitalized did not participate the research not be following
her treatment. To know the trajectory of the surveyed women and their families were using
two semistructured interview scripts, one for women hospitalized for treatment and another
for the family. Both itineraries privileged knowledge of the trajectories of women admitted as
much when it comes to drug use as the actions in seeking treatment, to know the paths they
traveled from the beginning of the consumption of alcohol and / or other drugs, to the search
for treatment in detention regime in the form of therapeutic community. They were held nine
(09) semi-structured interviews with 05 (five) with women hospitalized and 04 (four) with
relatives of women with a mean duration of 90 (ninety) minutes using the specific routes
described above. All interviews were audio-recorded and transcribed. For data analysis we
used the constructive-interpretative epistemology, Gonzalez Rey, where starting from the
general reading all the information indicators have been identified that allowed the
construction of three (03) towards areas: 1) the trajectory, the reasons, expectations and the
perception of the results achieved in the treatments already carried out; 2) expectations and
results regarding the treatment in therapeutic community; and 3) the output expectations
regarding the therapeutic community after completion of treatment. The main results relate to:
the search for treatment may be related to the experience of difficult situations in the various
contexts of women's lives; the desire to stop using drugs while genuine, in some situations
may not be strong enough to withstand the context of appeals; society still lacks more
information on the various models of treatment provided and made available from public
policy; drug users is a complex being that is not isolated from the social-family context,
which refers to the importance of conducting further study to enable specific attention to these
families; expectations about the treatment and perception of the results may be different for
people undergoing treatment and their families; on the verge of leaving the therapeutic
community after completion of treatment, women perceive themselves frightened and
insecure while their families are divided between fear and confidence in the changes
demonstrated by treated women. Considering the relationship between family, public policy
and abuse of alcohol and / or other drugs, this study sought to establish a dialogue between
these bodies, bringing the reflection of the importance that they be treated or studied together,
as they undeniably are interrelated.

Keywords: Women. Alcohol. Drug abuse. Therapeutic Communities. Trajectory.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 15

2 OBJETIVOS DA PESQUISA ......................................................................................... 22


2.1 GERAL ......................................................................................................................... 22
2.2 ESPECÍFICOS ................................................................................................................ 22

3 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 23


3.1. A MULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS .......................................... 23
3.1.1 Ser Mulher ............................................................................................................ 23
3.1.2 Ser Usuária de Álcool e/ou Outras Drogas ........................................................ 25
3.2 A FAMÍLIA DA MULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS ........................ 29
3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS ...................................... 33
3.4 MODELOS DE TRATAMENTO PARA O USO DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS ........... 40
3.4.1 O Tratamento no Modelo de Comunidade Terapêutica .................................... 51
3.4.2 A Família e sua Participação no Tratamento ...................................................... 57

4 MÉTODO ......................................................................................................................... 63
4.1 O CONTEXTO DA REALIZAÇÃO DA PESQUISA .............................................................. 63
4.1.1 A Instituição ........................................................................................................ 64
4.2. PARTICIPANTES ........................................................................................................... 66
4.3 INSTRUMENTOS............................................................................................................ 67
4.3.1 Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada ........................................................... 67
4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS .................................................................. 67
4.4.1 Aproximação do Contexto ..................................................................................... 67
4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ................................................................... 68

5 RESULTADOS ................................................................................................................ 71
5.1 PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DAS MULHERES INTERNADAS ......................................... 71
5.2 PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DOS FAMILIARES DAS MULHERES INTERNADAS ............... 71
5.3 CONHECENDO AS HISTORIAS ........................................................................................... 72
5.3.1 A História de I ......................................................................................................... 72
5.3.1.1 A História Contatada pela Mulher ...................................................................... 72
5.3.1.2 A História Contata pela Família ....................................................................... 75
5.3.2 A História de T. .................................................................................................... 76
5.3.2.1 A História Contatada pela Mulher ................................................................... 76
5.3.2.2 A História Contata pela Família ...................................................................... 79
5.3.3 A História de M. ................................................................................................. 79
5.3.3.1 A História Contatada pela Mulher .................................................................... 79
5.3.3.2 A História Contata pela Família ...................................................................... 83
5.3.4 A História de C. ....................................................................................................... 86
5.3.4.1 A História Contatada pela Mulher ................................................................... 86
5.3.4.2 A História Contata pela Família ...................................................................... 88
5.3.5 A História de M. F. .............................................................................................. 88
5.3.5.1 A História Contatada pela Mulher ................................................................... 88
5.3.5.2 A História Contata pela Família ...................................................................... 92

6 DISCUSSÃO..................................................................................................................... 95
6.1 ZONA DE SENTIDO 1 – A TRAJETÓRIA, OS MOTIVOS, AS EXPECTATIVAS E
A PERCEPÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................................ 95
6.2 ZONA DE SENTIDO 2 – EXPECTATIVAS E RESULTADOS EM RELAÇÃO AO
TRATAMENTO NA COMUNIDADE TERAPÊUTICA .................................................. 112
6.3 ZONA DE SENTIDO 3 – ESTRATÉGIAS PARA SAÍDA DA COMUNIDADE
TERAPÊUTICA APÓS A CONCLUSÃO DO TRATAMENTO ....................................... 127

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 134

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 140

ANEXO A .............................................................................................................................. 154


ANEXO B .............................................................................................................................. 156

APÊNDICE A ....................................................................................................................... 158


APÊNDICE B........................................................................................................................ 161
15

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho consistiu de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa que,


considerando a complexidade das relações familiares, sociais e de poder, experienciadas no
nosso cotidiano, foi baseada na abordagem sistêmica associada a algumas referências teóricas
relacionadas ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, na tentativa de fazer um diálogo
com os constructos oriundos das diversas pesquisas relacionadas com as comunidades
terapêuticas.
Tem como tema a trajetória de mulheres adultas usuárias de álcool e/ou outras drogas
e de suas famílias, dentro dos serviços de atenção e tratamento ao uso abusivo dessas
substâncias, até chegar ao tratamento em regime de internação, em instituições denominadas
Comunidades Terapêuticas.
O uso abusivo de álcool e outras drogas tem despertado interesse nos mais variados
segmentos da sociedade, em especial no que se refere à população economicamente ativa,
visto que o problema acarreta o afastamento do trabalho de pessoas ainda muito jovens;
mobilizando, por conseqüência, várias instituições governamentais e não governamentais para
o desenvolvimento de ações e estudos nas áreas da medicina, psicologia, serviço social, entre
outras, com o objetivo de identificar alternativas para a prevenção e o tratamento (Aguena,
2006).
De acordo com a Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy as
características essenciais de um organismo as quais surgem das interações e relações entre as
partes, estão presentes também no todo, o que significa dizer que o todo é sempre maior do
que a soma de suas partes (Nichols & Schwartz, 2007). Quando as concepções sistêmicas são
aplicadas aos organismos humanos é necessário também levar em consideração a presença de
subsistemas e o fato de que os sistemas passam por fases de estabilidades e mudanças. Outro
aspecto importante refere-se ao fato de que cada subsistema tem função determinada, está
relacionado com os demais subsistemas existentes no contexto em que está inserido e seu
funcionamento é regulamentado pelas normas da instituição a qual pertence (Minuchin,
Colapinto & Minuchin, 1999).
O pensamento sistêmico viabiliza reflexões com foco nas relações, envolvendo o
sistema familiar e social, percebendo as implicações estabelecidas entre estes sistemas. Nesta
perspectiva considera-se que as partes de um sistema estão relacionadas entre si e, portanto,
afetam-se mutuamente (Vasconcellos, 2013; Aun & Coelho, 2005; e Penso, Costa &
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Sudbrack, 2008). A abordagem sistêmica familiar, descrita por Minuchin (2009), define a
família como um sistema aberto que funciona como a matriz de identidade dos seus membros.
Na perspectiva sistêmica a família é vista como uma rede de relacionamentos em que
seus membros influenciam e são influenciados entre si, pelas atitudes e comportamentos de
cada um individualmente, sendo que além das interações que acontecem entre seus membros,
ocorrem também interações com o ambiente externo (Nichols & Schwartz, 2007). Assim, a
abordagem sistêmica tem como foco o estudo dos acontecimentos, das pessoas e da dinâmica
relacional dessas pessoas diante dos acontecimentos, razão pela qual a família é considerada
um sistema interativo. Partindo da premissa de que a família é um sistema entre outros
sistemas, o conhecimento acerca das relações interpessoais e das normas que regulam o grupo
familiar, permite compreender o comportamento de seus membros (Andolfi, 1996).
O uso abusivo de álcool e/ou outras drogas ou a dependência química é considerado
atualmente como um grande e grave problema de saúde pública em todo o mundo. O
Relatório Mundial sobre Drogas – 2012, registra a estimativa de que 230 milhões de pessoas,
ou seja, um em cada 20 adultos – o que representa 5% da população - usaram alguma droga
ilícita pelo menos uma vez em 2010, sendo que o numero de pessoas com problemas
relacionados ao uso de drogas é da ordem de 27 milhoes de pessoas com idade entre 15 e 64
anos, ou seja, 0,6 % da população adulta mundial (United Nations Office on Druges and
Crime [UNODC], 2012). De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, o uso
prejudicial do álcool resulta na morte de 2,5 milhões de pessoas anualmente. Existem 60 tipos
diferentes de doenças, em que o álcool tem um papel causal significativo. A OMS, alerta
ainda para o fato de que o consumo de alcool, também causa danos ao bem-estar e à saúde das
pessoas que convivem com o usuário da substância. Em 2005, o consumo mundial total foi
igual a 6,13 litros de álcool puro por pessoa com 15 anos ou mais velhos (Organização
Mundial de Saúde [OMS], 2012).
O Relatório Mundial sobre Álcool e Saúde, que aponta evidências sobre o consumo de
alcool em mais de 100 paises, registra que o uso prejudicial do álcool além de resultar na
morte de 2,5 milhões de pessoas anualmente, provoca doenças e lesões em muitas outras
pessoas além destas, e cada vez mais afeta gerações mais jovens nos países em
desenvolvimento, o que leva a concluir que o uso nocivo do álcool tem muitas implicações na
saúde pública. Além disso, 4% de todas as mortes registradas em nivel mundial, estão
relacionadas ao álcool, sendo que dessas 6,2 % são pessoas do sexo masculino e 1,1 % são
pessoas do sexo feminino. Também consta do relatório que 320.000 jovens com idades entre
17

15 e 29 anos morrem anualmente por causas relacionadas ao consumo de álcool , resultando


em 9 % do total de mortes nessa faixa etária (OMS, 2011).
De modo geral a situação mundial de consumo de drogas, assim como as
consequências sanitárias do uso de drogas ilícitas, não sofreu alteração nos últimos cinco
anos. Entre 10 e 13 % dos usuários de drogas continuam sendo consumidores que apresentam
comportamentos relacionados à dependência quimica e/ou outro transtorno relacionado ao
consumo de drogas, sendo que uma em cada cem mortes entre aldultos se deve ao consumo
de drogas ilícitas (UNODC, 2012).
Pesquisas apontam para diferenças no consumo de drogas ilícitas, no que tange ao
sexo, sendo que atualmente o maior número de usuários de drogas ilícitas são jovens do sexo
masculino e esta diferença é mais pronunciada nos paises em desenvolvimento. O I
Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira,
apontou para a prevalência de consumo de 65% para os homens e 41 % para as mulheres
(Brasil, 2007c). No geral, o uso de drogas ilícitas entre os homens é muito maior do que entre
mulheres, mas uma exceção à essa regra é o uso não médico de tranqüilizantes e sedativos. Na
América do Sul e América Central, a prevalência de uso dessas substâncias em algum
momento da vida foi de 6,6% entre as mulheres e 3,8% entre os homens (UNODC, 2012). Na
maioria dos países em desenvolvimento, as diferenças de consumo de drogas entre sexos são
ainda mais pronunciadas. Pesquisas de prevalência realizadas no Brasil em 2005 e na
Argentina em 2010, indicam que o uso drogas entre as mulheres, é da ordem de
aproximadamente dois terços abaixo das taxas de consumo de homens na população geral.
Por outro lado, pesquisas realizadas em escolas, nesses paises, apresentam diferenças muito
menores de consumo entre gêneros (UNODC, 2012).
De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, quanto ao uso do
crack e/ou similares, a estimativa da população das capitais do país e do Distrito Federal, que
consomem esta droga é na proporção de 0,81%, o que representa cerca de 470 mil usuários,
sendo que 21,4% dessa população é do sexo feminino. A pesquisa aponta ainda que com
relação ao número de pedras ou similares usadas em um mesmo dia, as mulheres relataram
consumir 21 pedras ou similares, enquanto que os homens relataram consumir 14 pedras ou
similares. No que diz respeito ao tempo médio de uso da droga entre os homens o tempo
médio de consumo foi de 84,9 meses e entre as mulheres o tempo médio foi de 72,8 meses.
Quanto à troca de sexo por dinheiro ou drogas, o percentual de mulheres é de 29,9% enquanto
entre os homens esse índice é de 1,4%. Além disso, 44,5% das mulheres relatam já ter sofrido
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violência sexual na vida, enquanto entre os homens esse percentual foi de 7,0%. Em relação
ao comportamento sexual 49,5% das mulheres informaram não ter usado preservativo em
nenhuma relação sexual vaginal no mês anterior à entrevista, e apesar de ter conhecimento da
exposição ao risco, 54.9% afirmaram nunca ter realizado teste para HIV (Brasil, 2011d).
Um estudo realizado em um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS – Ad, em
Caçador/SC, constatou que os motivos que mais levam as mulheres ao uso de álcool e
outras drogas são: ter pais e/ou companheiros usuários (25,64%) e serem portadoras de
transtorno de humor da depressão (23,07%). No caso da depressão, algumas mulheres não
conseguiam identificar se esta ocorreu antes ou depois da dependência da substância. Além
disso, a maioria das mulheres atendidas nesse serviço apresentava histórico de uso abusivo de
álcool e outras drogas, além de violência doméstica e/ou psicológica, estigma social,
abandono, desemprego, perda dos filhos judicialmente por conseqüência do uso da substância,
entre outros (Almeida & Santos, 2013).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, publicada em 2007, ao
apresentar breve diagnóstico da situação da saúde da mulher no Brasil aponta que, no período
de três anos – entre 2000 e 2002, as internações psiquiátricas de mulheres decorrentes do uso
de álcool, mantiveram-se como a 5ª causa. Entretanto, foi observado um aumento no período,
passando de 4,4 % em 2000 para 4,6% em 2001 e para 4,8% em 2002. Outro aumento
observado no período foram as internações devido ao uso de substâncias psicoativas que em
2000 e 2001 eram da ordem de 0,9% do total de internações em mulheres e passaram para
1,4% das internações em 2002 (Brasil, 2007a). Entretanto, apesar desse aumento, não consta
da mencionada Política, objetivos específicos para o atendimento às peculiaridades de
mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas (Brasil, 2008b; Brasil, 2013b; Brasil, 2013c).
Os dispositivos de atenção, criados pela Portaria MS nº 3.088/2011 com o objetivo de
ampliar o acesso, fortalecer a rede de tratamento SUS e responder às novas demandas dos
usuários de álcool e/ou outras drogas, em especial ao desafio relacionado à mudança de perfil
do consumo de crack no Brasil, também não fazem referência específica ao público
constituído pelas mulheres (Brasil, 2011a).
A falta de acesso à educação, à saude, moradia, lazer, entre outros, são considerados
fatores de risco para o início e manutenção do uso de álcool e/ou outras drogas. Ao ser
identificado pela sociedade como marginal ou inadequado social, reduzindo as possibilidades
de acesso ao mercado de trabalho, ocasionando dificuldades para adaptar-se ao convívio na
sociedade, o usuário de álcool e/ou outras drogas torna-se um excluido dessa sociedade, o que
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passa a ser uma fonte de estímulo para a manutenção do uso de drogas. O prazer decorrente o
uso da substância – seja o álcool ou seja outra droga - vem preencher a lacuna deixada pelas
carências decorrentes das relações sociais e familiares vivenciadas pelo sujeito (Cardona,
2013).
Para Wanderlei (2001), o fenômeno da exclusão social, é composto por várias
trajetórias onde a desvinculação está presente, sendo que essas trajetórias passam por vários
contextos como a fragilização dos vínculos sociais e familiares, causando rupturas que levam
o indivíduo ao isolamento social, ocasionando a vinculação desses indivíduos junto a outros
contextos sociais que apresentem a perspectiva de aprovação e inclusão a estes indivíduos.
Neste contexto, Cardona (2013), observa que o uso de álcool e/ou outras drogas é estimulado
pela exclusão social, na medida em que a repressão policial é utilizada como recurso para o
trabalho com o usuário.
Estima-se que 20% das pessoas com problemas relacionados ao uso abusivo de alcool
e outras drogas, receberam tratamento em 2010. Também é estimado que a proporção de
homens e mulheres em tratamento deve ser semelhante à proporção entre homens e mulheres
em uso de drogas. Mas existem poucos estudos que analisem as diferenças de gênero, em
relação ao acesso aos serviços de tratamento (UNODC, 2012).
Em países em desenvolvimento, os serviços de tratamento e cuidados para os usuários
de drogas são limitados. Além disso, a existência de preconceitos decorrentes do estigma de
ser usuário do sexo feminino, podem tornar mais difícil o acesso aos serviços de atenção e
tratamento (UNODC, 2012).
Em 2008, o número médio de leitos para o tratamento de transtornos por uso de álcool
e drogas em todo o mundo foi de 1,7 por 100 000 habitantes, enquanto que na Europa, este
número foi 10,3 camas por 100.000 habitantes. No Brasil, ainda não estão relacionadas na
tabela disponibilizada pela Organização Mundial de Saúde, as informações sobre o numero de
leitos existentes para tratamento (OMS, 2012).
O Brasil vem implantando com base nas diretrizes da Política Nacional sobre Drogas e
das portarias específicas da saúde uma rede de serviços que abrangem desde a atenção
primária, até serviços de alta complexidade, sendo que a participação das famílias é
considerada como muito importante no tratamento ao usuário de drogas, nos diferentes níveis
de complexidade. O Relatório do Mapeamento das instituições Governamentais e Não-
Governamentais de atenção às questões relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas no
Brasil - 2006/2007, constatou que entre as instituições governamentais 59,4 % oferecem
20

tratamento na modalidade de terapia familiar, enquanto que entre as instituições não


governamentais, 44,1 % oferecem esse tipo de tratamento. Além disso, no âmbito das
instituições governamentais a importância da participação da família no tratamento está
prevista em 88,2%, enquanto que 93,9 das instituições não governamentais prevêem esta
participação no tratamento (Brasil, 2007b).
As instituições que compõem a rede de serviços de atenção ao usuário de álcool e/ou
outras drogas, sejam governamentais ou não governamentais, fazem parte de um cadastro
único que foi mapeado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD em
parceria com a Universidade de Brasília – UnB, com o apoio do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e da Comissão Interamericana do Controle de Abuso de Drogas,
da Organização dos Estados Americanos (CICAD/OEA). Na ocasião existiam 695
instituições governamentais e não governamentais cadastradas pela SENAD/MJ, sendo que
38,5% foram classificadas pelos dirigentes destas como Comunidades Terapêuticas
(Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas [OBID], 2007).
O Distrito Federal possui 13 instituições que se classificam como Comunidades
Terapêuticas (Governo do Distrito Federal - GDF, 2013). De modo geral, a pessoa que busca
tratamento na modalidade de comunidade terapêutica, já fracassou em muitas outras
modalidades de tratamento e está em uma fase em que acredita e espera alcançar estabilidade
na abstinência (Fracasso & Landre, 2012).
A respeito da inserção das mulheres nos serviços de tratamento, no Distrito Federal em
2013 existiam apenas 03 instituições não governamentais específicas para o atendimento de
mulheres. Quanto às instituições governamentais, que eram restritas a CAPS-ad II, todas eram
mistas, atendendo homens e mulheres (GDF, 2013).
Meu interesse por este tema nasceu a partir do trabalho social que desenvolvo, desde
1994, junto a famílias de baixa renda, na cidade satélite de Santa Maria-DF, quando, ao longo
desses anos tenho tido a oportunidade de acompanhar várias famílias, em especial aquelas
onde se encontram pessoas com problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas.
Além das minhas atividades no atendimento e acompanhamento a essas famílias,
iniciei em 2007, atividade voluntária de orientação e acompanhamento das ações de atenção e
tratamento em uma instituição de tratamento de mulheres, com problemas relacionados ao uso
abusivo de álcool e/ou outras drogas, denominada Comunidade Terapêutica. Neste local,
21

tenho tido a oportunidade de acompanhar vários casos de mulheres usuárias de álcool e/ou
outras drogas, juntamente com suas famílias.
Tendo como referência teórica a abordagem sistêmica associada a algumas referências
teóricas relativas ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, em articulação com as políticas
públicas sobre álcool e outras drogas, em especial no que se refere ao tratamento para o uso
abusivo dessas substâncias, e considerando as colocações até aqui registradas, surge a
reflexão sobre a importância da realização de pesquisa acerca da necessidade de conhecer a
trajetória percorrida por mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas e suas famílias, em
busca dos serviços de atenção e de tratamento para o uso abusivo dessas substâncias
existentes na rede de saúde pública e/ou privada, no Distrito Federal até a chegada ao
tratamento no regime de internação, em instituições denominadas Comunidades Terapêuticas.
22

2 OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1 GERAL

Compreender a trajetória de mulheres adultas usuárias de álcool e/ou outras drogas e


suas famílias, na busca por serviços de atenção e tratamento públicos e/ou privados, no
Distrito Federal, até chegar à Comunidade Terapêutica.

2.2 ESPECÍFICOS

Conhecer a trajetória de uso de álcool e/ou outras drogas de mulheres internadas para
tratamento em comunidade terapêutica, assim como a percepção de sua família acerca
desse uso.
Identificar em quais serviços de atenção e tratamento, existentes na rede de saúde,
pública e/ou privada, no Distrito Federal, a mulher usuária de álcool e/ou outras
drogas e sua família, já foi atendida até chegar à Comunidade Terapêutica.
Identificar a que outros serviços, além daqueles de atenção à saúde, tais como:
assistência social, educação, trabalho, segurança, etc., existentes na rede pública e/ou
privada, a mulher usuária de álcool e/ou outras drogas e sua família, teve acesso.
Conhecer os resultados atribuídos pela mulher usuária de álcool e/ou outras drogas e
sua família, aos serviços de atenção e tratamento, existentes na rede de saúde, pública
e/ou privada, no Distrito Federal, que freqüentaram.
Conhecer as expectativas de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas, e suas
famílias com relação ao tratamento realizado na modalidade de Comunidade
Terapêutica.
Conhecer as estratégias de saída da comunidade terapêutica, das mulheres que estão
em tratamento, e suas famílias, com relação à reorganização de suas vidas após o
tratamento.
23

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. A MULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS

3.1.1 Ser mulher

De acordo com Farah (2004), nos últimos anos, a ampliação identificada na


formulação de políticas públicas tem sido permeada pela inclusão de novos temas, dentre os
quais está a questão de gênero. Para esta autora, o conceito de gênero, ao ser incorporado pelo
movimento feminista na década de 70, vem sendo interpretado de maneiras distintas pelas
diferentes correntes do feminismo. Ao enfatizar as relações sociais entre os sexos, este
conceito oportuniza a caracterização de desigualdades entre homens e mulheres. Baseando-se
nos pressupostos do feminismo da igualdade, o conceito de gênero afirma que as únicas
diferenças entre homens e mulheres são biológicas e sexuais, sendo que as demais diferenças,
passiveis de serem observadas, dizem respeito aos aspectos culturais, oriundos da relação de
opressão.
A palavra gênero, quando utilizada em discussões sobre igualdade e/ou diferença
entre homes e mulheres, vai além dos aspectos abordados, sejam eles relativos à igualdade ou
a diferenças, uma vez que atinge aspecto mais amplo do tema, oportunizando a compreensão
acerca do “ser homem” e do “ser mulher”, os quais estão inseridos em contexto social,
histórico, econômico e cultural. O desenvolvimento de um conceito de gênero, remete a uma
categoria social, uma vez que diz respeito as relações sociais onde estão presentes o poder –
por parte dos homens - e a subordinação, por parte das mulheres (Leal, 2009).
Esse pensamento, vai ao encontro do pensamento de Engels (2009, p. 66):
“ uma das idéias mais absurdas transmitidas pela filosofia do século XVII é a de
que, nos inícios da sociedade, a mulher teria sido escrava do homem. Entre todos
os selvagens e em todas as tribos que se encontram-nas fases inferiores, média e até
em parte da superior de barbárie, a mulher não só é livre, mas também muito
considerada”.

Isto porque, segundo este autor, as mulheres constituíam o grande poder dentro dos
clãs, não hesitando, se fosse o caso, em destituir um chefe, rebaixando-o à condição de
simples guerreiro. Entretanto, o autor ressalta que a derrota do sexo feminino na história da
humanidade, ocorreu em virtude da derrota do direito materno, que foi estabelecido na
formação da família pré-monogâmica, quando o homem tomou posse também da direção da
casa convertendo/rebaixando a mulher para a condição de servidora. Esse rebaixamento tem
24

sido revestido de algumas formas mais suaves, tem recebido alguns retoques visando
dissimulá-lo, mas ainda não foi eliminado.
Movida pela questão dos tempos sociais femininos, no contexto da mediação das
relações de poder de gênero, Duque-Arrazola (2008), realizou estudo com o objetivo de
identificar a condição do sujeito feminino nos programas de assistência social, enfocada a
partir da divisão social e sexual do trabalho. Neste trabalho, a autora registra que nos países
de capitalismo avançado, onde se observam profundas transformações na organização da
produção e do trabalho, para as mulheres, ainda predominam os contratos de trabalho
temporários, terceirizados e informais, sem garantia de direitos trabalhistas. Essas relações de
serviço, marcam o dia-a-dia das mulheres, as quais estão na constante condição de entrega,
doação e disponibilidade para com o outro.
Para Pinheiro (2006), apesar de observar algum avanço político e social que, de certa
forma altera o curso da visão acerca da mulher e das relações de gênero, ainda é notória a
ocorrência de referências e atitudes que colocam a mulher numa situação desconfortável e
subordinada. Isso pode ser constatado a partir de expressões populares como: “ ‘mulher é para
cuidar dos filhos, do marido e da casa'; 'a mulher não precisa estudar muito'; 'mulher só para
pilotar fogão'; 'mulher tem que ficar em casa'; 'só podia ser uma mulher’ ” (Pinheiro, 2006 - p
37). Dessa forma, na medida em que se reforça a subordinação feminina delegando às
mulheres papéis específicos que são caracterizados por fragilidade, meiguice, vulnerabilidade,
incapacidade, vem à tona a desigualdade em relação ao homem.
Para Diniz (2011) as relações entre homens e mulheres, assim como as relações dos
homens e das mulheres entre si, são organizadas em função das regras estabelecidas a partir
da construção sócio-histórico-cultural do ser. Nesse contexto, a autora observa que o
assujeitamento das mulheres às necessidades dos homens produzida pela estrutura patriarcal
da sociedade acarretam para as mulheres a perda da sua autonomia. Sem autonomia as
mulheres passam a servir e obedecer aos homens e à família.
A partir da plataforma de ação definida na Conferência Mundial sobre a Mulher,
realizada em Beijing em 1995, e baseada na trajetória do movimento de mulheres no Brasil,
construiu-se em nosso país, a agenda relacionada à questão de gênero, que possui entre suas
diretrizes a “incorporação da perspectiva de gênero por toda política pública
(transversalidade)”, garantindo que a problemática das mulheres seja contemplada todas as
vezes que uma política pública for formulada e implementada. Neste contexto, uma constante
25

demanda dos movimentos sociais no Brasil, nos quais a mulher tem exercido papel relevante,
está centrada na saúde da mulher (Farah, 2004).
Levando em consideração as atuais alterações nas dinâmicas de gênero e papeis
sexuais decorrentes do movimento feminista, a compreensão das causas, assim como dos
dados epidemiológicos relacionados ao alcoolismo feminino, é objeto de estudos e ainda está
sendo construída. Ainda são poucas as pesquisas envolvendo somente mulheres, entretanto,
quando se trata do alcoolismo feminino, há que se considerar alguns aspectos culturais como
o menor padrão de consumo e a marginalização vivenciada tanto na família como na
sociedade e nos serviços de saúde (Mendes, Cunha & Nogueira, 2011).

3.1.2 Ser usuária de álcool e/ou outras drogas

A mulher usuária de álcool e/ou outras drogas, assim como qualquer outra pessoa, é
produto de uma história complexa que diz respeito a sua existência singular, isto é, ao seu
desenvolvimento psíquico consolidado dentro de uma dinâmica familiar, e à sua existência
social. Dessa forma, de acordo com Payá (2010) as influências culturais, exercem impacto
sobre os padrões de uso e abuso de substâncias tanto em homens quanto em mulheres, sendo
que fatores sociais que poderiam proteger a mulher no contexto da iniciação no uso de
substâncias estão sendo enfraquecidos a cada dia.
Para Takeuti (2009), nos últimos 20 anos, a participação social da população
brasileira, que teve início a partir do processo de redemocratização do Estado, vem revelando
indivíduos que, anteriormente relegados à “cultura do silêncio”, passam a constituir-se em
sujeitos detentores de expressão e ação. Entretanto, é importante considerar que essa visão de
abertura à participação social, ainda não eliminou o grande contingente populacional,
especialmente os pobres, que apesar do desejo de tornarem-se participante, ainda permanece
fora dessa dinâmica participativa na sociedade, devido à sua condição “subcidadã”. E é esse
mesmo contingente que, a despeito de todas as dificuldades enfrentadas, gradativamente vem
apresentando à sociedade de maneira singular, suas demandas expondo suas necessidades de
entendimento dos seus problemas e suas expectativas sociais. A autora afirma ainda, que
“diante da insensatez do mundo, o homem se vê compelido a produzir e construir sentido para
si”, (p. 87), o que o remete para a esfera privada, tornando-o solitário e único responsável pelo
seu destino, não existindo nesse contexto um tema coletivo que o remetesse para a esfera
pública, e conseqüentemente para a dimensão política.
26

Em se tratando de contingente de pessoas passíveis de tornarem-se objeto de


intervenções sociológicas, não podemos deixar de considerar que em determinados lugares
sociais, os direitos mais básicos ainda não foram conquistados, o que remete essas populações
para localizar suas preocupações na luta pela sobrevivência, em especial por tratar-se de
indivíduos submetidos a processos de estigmatização, segregação e/ou rejeição social, fato
que dificulta a construção de uma identidade social que seja aceita e reconhecida pela
sociedade (Takeuti, 2009).
Acolhendo a idéia de Takeuti (2009) no sentido de que cada vez mais surgem
diferentes formas de manifestação do desejo de construção de novos significados em diversos
segmentos sociais, nos quais é possível identificar populações com déficits no que tange aos
seus direitos fundamentais, é que me atrevo a abordar para fins de estudo e compreensão,
temas sociais como as políticas públicas e os serviços de atenção voltados para o tratamento
do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas por mulheres.
Para Pereira (2012), por tratar-se de substância de abuso que a maioria dos adultos já
experimentou, além de ser usado periodicamente durante a vida dessas pessoas, os dados de
comparação acerca das taxas de uso de álcool na vida em diferentes faixas etárias e sexo, não
são esclarecedores. Entretanto, a autora afirma que o uso de álcool por mulheres ocorre como
forma destas se livrarem dos sintomas associados a quadros de depressão, além do fato de que
mulheres usuárias de álcool tentam suicídio quatro vezes mais que aquelas que não fazem uso
da substância.
O início do uso do álcool por mulheres, pode ocorrer em idades variáveis e em
circunstâncias diversas, sendo que as motivações para esse início são, entre outras: família,
amigos, pressão do grupo social, violência doméstica, fuga dos problemas, prazer, etc. além
do fato de que as pessoas fazem uso de bebidas alcoólicas para vários fins, em especial nas
celebrações como: nascimentos, casamentos, bodas, ritos de passagem (Assis & Castro,
2010).
Há alguns anos o consumo de álcool era mais elevado entre os homens. Os transtornos
relacionados ao uso de álcool, afetam cinco vezes mais homens que mulheres. Essa diferença
de consumo entre homens e mulheres vem diminuindo, o que passa a ser um fator
preocupante, tendo em vista que o metabolismo feminino para álcool e/ou outras drogas, por
ser mais lento que o masculino, torna as mulheres mais vulneráveis aos prejuízos causados
pelo consumo de álcool e/ou outras drogas, ainda que a ingestão seja realizada em níveis mais
baixos que nos homens, sendo que a ocorrência de transtornos psiquiátricos conseqüentes da
27

ingestão de álcool e/ou outras drogas são exemplos dessa fragilidade feminina. O uso abusivo
de bebidas alcoólicas é uma doença crônica; influenciada por fatores genéticos, psicossociais
e ambientais, que apresenta uma progressão mais rápida nas mulheres (Elbreder, Laranjeira,
Siqueira, & Barbosa, (2008).
As diferenças de gênero em fontes de referência de tratamento têm sido
documentadas, destacando a diferença entre as vias pelas quais mulheres e os homens entram
em tratamento para o uso abusivo de substância. Por exemplo, significativamente mais
homens que mulheres são encaminhados para tratamento através do sistema de justiça
criminal (40% de homens versus 28% de mulheres). Aproximadamente duas vezes mais
mulheres do que homens (15% de mulheres contra 6% de homens) são referenciadas de outras
agências comunitárias: tais como bem-estar, saúde mental, e outros prestadores de cuidados
de saúde (Greenfield, Back, Lawson, & Brady, 2010).
Estudo exploratório de abordagem qualitativa realizado no Centro de Atenção
psicossocial – CAPS-Ad em Teresina – PI, com o objetivo de analisar o motivo de mulheres
para o primeiro contato com álcool e/ou outras drogas revelou a maconha, o álcool e o crack
como sendo as substâncias de primeiro contato e a idade de maior prevalência para o uso das
substâncias ocorreu partir dos 19 anos. Dentre os motivos para o primeiro contato, destacou-
se o relato de problemas familiares, seguido por curiosidade e influência de amigos. No que
tange às sensações após o uso, as mulheres relataram que tinham sensação boa e ruim ao
mesmo tempo (Guimarães et al., 2014).
Pinheiro (2006), ao se referir ao alcoolismo feminino afirma que este deve ser visto
como uma questão social que se encontra inserida numa sociedade extremamente
contraditória e dinâmica, preconceituosa, machista e estigmatizante. Esses aspectos dificultam
o reconhecimento tanto pela sociedade quanto pela mulher usuária, da enfermidade –
alcoolismo – em virtude da dor, vergonha e medo, vivenciados por ela, os quais são oriundos
de uma sociedade desigual e competitiva que tradicionalmente camufla e limita as
potencialidades da figura feminina.
Quanto aos prejuízos físicos, sociais e emocionais do uso de álcool pela população
feminina, Esper, Corradi-Webster, Carvalho e Furtado (2013), em estudo realizado com
mulheres atendidas em ambulatório psiquiátrico, relatam que: a) com relação aos danos
físicos 81 % sofrem danos em sua maioria hepáticos seguidos pelos sintomas de síndrome de
abstinência; b) com relação aos danos sociais, 66,7% registram conflitos familiares, e 33,3%
dificuldades relacionadas à dificuldade de cumprir os papéis sociais esperados da mulher, tais
28

como: mãe e dona de casa; c) no que tange aos danos emocionais, 76,2% referem-se a
desânimo e tristeza, seguidos de irritação, sentimento de culpa e vergonha.
No que diz respeito ao perfil das dependentes químicas, Santos e Almeida (2013),
após estudo realizado com 17 usuárias do CAPS-ad do município de Caçador/SC, no ano de
2010, relatam que entre as pesquisadas a maioria eram mulheres entre 25 e 44 anos, não
completaram o ensino fundamental, eram casadas ou amasiadas. Quase todas tinham filhos,
variando entre 4 a 1 filho, estavam desempregadas, não tinham renda fixa, estavam em
tratamento a menos de um ano, faziam uso de álcool isolado ou associado a outras drogas, em
algum momento pensaram em suicídio, tinham ou tiveram alguma doença ou seqüela em
função do uso, usavam medicamento para auxiliar no tratamento, sendo que os motivos que as
levaram ao uso está relacionado com pais e/ou companheiros usuários e com a depressão.
Estudo exploratório realizado com pacientes internados em programa de tratamento
residencial, não encontrou diferenças demográficas significativas, entre homens e mulheres,
com relação aos transtornos e/ou comorbidades psiquiátricas relacionadas ao uso de
substâncias. Entretanto, foi observado que as mulheres eram mais propensas a ter problemas
com outras drogas além do álcool, inclusive com a possibilidade de ter “overdose” de drogas,
assim como foram identificados parentes maternos que também apresentavam problemas com
o uso de álcool e/ou outras drogas. Além disso, o estudo identificou que as mulheres
apresentavam maiores perturbações decorrentes de problemas sociais e familiares,
necessitando de aconselhamento e tratamento psiquiátrico de maior intensidade (Zilberman,
Tavares, Blume, & el-Guebaly, 2003)
Roig, Ajzemberg e Tissot (2001), por sua vez, apontam ainda que o preconceito social
estigmatiza a mulher usuária de álcool e outras drogas, como sendo alguém amoral e
promíscua, num estereótipo de alguém frágil e débil e com dificuldades sexuais.
Uma revisão da literatura realizada entre 1975 e 2005 concluiu que as mulheres são
menos propensas a entrar em tratamento de abuso de substâncias do que os homens. No
entanto, gênero não é um preditor de adesão ao tratamento, conclusão ou resultado, uma vez
que vários preditores e características específicos de gênero, podem afetar os resultados do
tratamento. Algumas características como recursos financeiros, problemas de saúde mental, e
menor gravidade dos problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, têm
sido associados com resultados mais positivos para mulheres. Um estudo com usuários de
metadona, registra que as mulheres que residiam com seus filhos, estavam significativamente
29

mais propensas a entrarem em tratamento, do que aquelas que não residiam com seus filhos.
(Greenfield, Back, Lawson & Brady, 2010).
Entre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na busca por tratamento estão o local,
o acolhimento os profissionais que a recebem e a proposta de tratamento. Dessa forma diante
do aumento do consumo de álcool pelas mulheres, há que se obter mais conhecimento acerca
do universo feminino na disponibilização de serviços de atenção, sejam eles públicos ou
privados (Assis & Castro, 2010).
O consumo de álcool e/ou outras drogas é um fenômeno universal e quase tão antigo
quanto à própria humanidade. O uso ocasional de álcool é relatado mencionando datas de até
250 mil anos atrás e da mesma forma, o consumo de cânhamo remonta à Antiguidade. Desde
3000 a. C., derivados de opióides são utilizados e há pelo menos 5 mil anos, as folhas de coca
têm sido utilizadas com diversas finalidades. Por outro lado, alguns autores já consideravam o
alcoolismo como doença, desde metade do século XVIII. Dessa forma, Brasiliano e Hochgraf
(2006), fazem uma reflexão, no sentido de que o consumo de álcool e outras álcool e/ou
outras drogas em vários momentos da história da sociedade possivelmente não limitava-se ao
sexo masculino.
Considerando que as mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas não são criaturas
isoladas, é importante lembrar que essas mulheres possuem características peculiares e
importantes e que devem ser observadas por aqueles que dedicarem seu olhar a elas. Suas
trajetórias precisam ser compreendidas sob um olhar cuidadoso, que permita conhecer como
percorrem o caminho até a comunidade terapêutica.

3.2 A FAMÍLIA DA MULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS

É por meio da vida em família que se aprende a ser indivíduo, tornando-se assim
membro da sociedade. É na família que se dá a constituição da identidade das pessoas, tendo
em vista que são os pais que ensinam o indivíduo, representando assim a base da formação da
sua personalidade (Minuchin, 1982; Penso & Sudbrack, 2004). A família constitui-se de um
grupo onde são desenvolvidos padrões de interação, os quais constituem a estrutura familiar,
que por sua vez, determina o funcionamento dos membros da família, definindo seus
comportamentos. Para que o individuo encontre sentido de pertencimento em um grupo
familiar, é necessário que esse grupo possua uma estrutura viável que permita aos membros o
desempenho das tarefas essenciais para manutenção do grupo (Minuchin & Fishman, 2003).
30

Quando a vida em família não permite a interiorização de regras e conceitos que


fundamentam a identidade, o resultado serão indivíduos que devido a precariedade de sua
constituição estarão mais vulneráveis ao desenvolvimento de um padrão de comportamento
que dificulte a aceitação e assunção das regras sociais, assim como viver a realidade de forma
que não acarrete impacto ao próprio desenvolvimento (Stempliuk & Bursztein, 1999).
De acordo com Miermont et al., (1994), o sintoma apresentado por pelo menos um dos
membros da família, deve ser entendido como sendo um fenômeno relacional. Isto significa
que, os problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, estão situados na
relação estabelecida entre a pessoa, o ambiente em que ela se encontra e as demais pessoas
com as quais ela convive. Assim sendo, considerando o uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas com um sintoma, este denuncia disfunção e/ou desequilíbrios no sistema familiar, os
quais aparecem no momento em que a família encontra dificuldades no seu processo de
desenvolvimento, ao longo do ciclo de vida familiar (Penso, 2003; Trindade & Bucher-
Maluschke, 2008; Penso, Costa & Sudbrack, 2008).
Numa perspectiva sistêmica, o uso de drogas é compreendido como um “sintoma” que
pode, além de desempenhar papel importante na regulação da dinâmica familiar, apresentar-se
como “sinal de alerta” para denunciar a ocorrência de situações extremas que necessitam ser
mudadas (Kalina, 1999; Penso, Costa & Sudbrack, 2008). As famílias de usuários de drogas
caracterizam-se como sistemas fechados que limitam a evolução e autonomia da pessoa em
tratamento, mantendo o estado de dependência entre os membros do grupo, que se expressa
mediante padrões de interação inadequados entre esses (Moreira, 2004).
Isto significa que onde encontramos usuários de drogas, existem famílias ou grupo
equivalente, nos quais estão presentes o fenômeno do uso de álcool e/ou outras drogas ou
modelos de comportamento que indiquem a ocorrência desse fenômeno (Kalina, 1988). Para
este autor, (p. 27), "a família, ou seus equivalentes, é co-geradora do fenômeno adictivo". A
família do usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas possui estrutura psicopatológica com
características patogênicas. O autor registra ainda que, em sua experiência, o comportamento
de uso abusivo pode surgir em determinados grupos familiares e em outros não, concluindo
que existe um certo tipo de estrutura familiar que gera patologias, sendo que em alguns casos
o modelo de recorrer ao uso de drogas para enfrentar problemas tem uma história com
significados particulares e de intensidade diferenciada para cada família.
Para Orth e Moré (2008), o uso abusivo de drogas pode ser observado nos indivíduos
por intermédio de sua conduta dependente que é reforçada pelo uso constante, o que afeta
31

diretamente as relações interpessoais, sendo que as conseqüências são observadas


principalmente na família, tanto no que diz respeito à saúde de seus membros como na
fragilização das relações familiares. Para as autoras as famílias são "co-autoras" tanto do
surgimento do uso de álcool e/ou outras drogas, como da evolução desse uso,
Analisando o uso de drogas como um sintoma de toda a família, que caracteriza uma
forma de lidar com os conflitos, Penso e Sudbrack (2004) observam que a função desse
sintoma é trazer à luz, a informação de que o sistema familiar e social apresenta falhas que
necessitam ser observadas, visando a promoção de mudanças no funcionamento dessa família.
Além disso, as autoras consideram que o uso de drogas caracteriza uma tentativa inadequada e
um membro da família buscar sua emancipação do sistema familiar.
O comportamento dependente pode ser observado quando familiares se dedicam
excessivamente aos membros do grupo familiar com problemas relacionados ao uso abusivo
de álcool e/ou outras drogas, e é caracterizado pela atitude de suportar heroicamente os
comportamentos problemáticos de seus entes queridos. Esses familiares, em geral vivem em
função da pessoa problemática, transformando essa forma de cuidado na razão de suas vidas,
uma vez que com isso sentem-se úteis. Em geral são pessoas que têm baixa auto-estima,
intenso sentimento de culpa e não conseguem se desvencilhar da pessoa dependente
(Zampieri, 2004; Ballone, 2008).
Minuchin (2009), a partir de encontros terapêuticos realizados com uma família em
uma instituição para dependentes de drogas na Flórida - Estados Unidos, onde atuava como
consultor, observa que seu primeiro desafio foi mudar a percepção dos pais no sentido de que
a dependência química é um problema individual que deve ser tratado individualmente. Nesse
momento tem início um debate oral acerca do processo terapêutico, no qual o autor insiste em
considerar a família como um sistema social onde as pessoas afetam umas às outras, e os
membros da família respondem com uma narrativa das dinâmicas intrapsíquicas dos filhos.
De acordo com o Levantamento Nacional de Familias dos Dependentes Químicos -
LENAD FAMILIA, apesar de poucos, os estudos que avaliam as familias dos dependentes de
álcoole e/ou outras drogas demonstram evidências consistentes do impacto causado
particularmente aos familiares mais próximos tais como conjuges, pais e filhos. Neste
contexto, os processos e relações familiares são, da mesma forma afetados, ocasionando
problemas que incluem, entre outros, violência doméstica e abuso infantil. Assim, a exposição
dos familiares mais próximos a esse tipo de experiência pode ocasionar o aparecimento de
manifestações na forma de sintomas físicos e/ou psicológicos caracterizando a
32

vulnerabilidade dessa população, acarretando a necessidade de atenção e cuidados específicos


(Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (INPAD, 2013).
Ribeiro, Galli e Amorim (2006), em pesquisa realizada com o objetivo de conhecer as
condições em que a terapia conjugal e familiar é desenvolvida em Brasília, apontam que
dentre as queixas apresentadas pelas famílias, o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas
encontra-se entre os problemas mais freqüentes.
Tomando como base o modelo familiar do dependente químico do sexo masculino
desenvolvido por Eduardo Kalina os pesquisadores Roig, Ajzemberg e Tissot (2001),
efetuando algumas modificações descreveram um modelo que se ajustasse as características
das famílias das mulheres. Os autores apontam semelhanças entre as características da
estrutura familiar masculina e a estrutura familiar de mulheres usuárias de álcool e outras
drogas, entre outros, fatores como: 1) os filhos são as drogas de cada um dos pais - co-
dependentes; 2) o álcool ou as drogas funciona como anestésico, diluindo a função do
superego; 3) ocorre um funcionamento imediatista pela falta da introjeção conceitual do
“não”; 4) o pai está ausente de forma perversa; 5) a mãe é descartada ou se descarta a si
mesma, 6) ocorre dificuldade para lidar com a posição depressiva. Por outro lado, a droga
exerce a função de aplacar a culpa no que tange aos impulsos de agressividade em relação á
mãe, além de caracterizar uma realização autodestrutiva.
Penso e Sudbrack (2004) ao estudar a função do uso de drogas na regulação do
equilíbrio relacional das famílias de adolescentes do sexo masculino, afirmam que no
contexto do uso de drogas, os usuários encontram importantes oportunidades ou alternativas
de vinculação. Para as autoras, é necessário ampliar o conceito de dependência química para
incluir aquelas pessoas da família que durante o tratamento acompanharam os usuários, tendo
em vista a importância da manutenção do dependente para algumas organizações familiares.
Este raciocínio pode ser ampliado para o caso das mulheres usuárias de álcool e outras drogas
e suas famílias.
Dessa forma, considerando que a família é a primeira instância da formação do sujeito,
o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas por um ou mais de seus membros, pode estar
relacionado a vários aspectos inerentes ao modo de funcionamento dessa família, que ao
reconhecer esse uso possivelmente irá mobilizar-se na busca por mudanças que restabeleçam
a harmonia do grupo familiar.
33

3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS

O Brasil é signatário das principais convenções internacionais sobre drogas. Pesquisa


realizada por Chagas e Ventura (2010) apontou que até aquela data, existiam 25 acordos
internacionais bilaterais em vigor e 13 projetos com cooperação internacional. Ao longo do
tempo o Brasil vem mudando a sua abordagem do fenômeno das drogas, passando para uma
posição mais equilibrada entre segurança e saúde.
A referência mundial para o estabelecimento de políticas públicas na área da saúde e
assistência, criação de ambientes propícios, fortalecimento de ação comunitária,
desenvolvimento de habilidades pessoais e reorientação de serviços sanitários, é a Carta de
Ottawa (1986). Este documento define a promoção da saúde como sendo o processo de
empoderamento da comunidade para atuar não só na melhoria de sua qualidade de vida como
também no controle social desse processo (Tinoco, Leite & Baldini, 2009).
No Brasil, o tema da saúde foi referenciado na Constituição de 1988, que em seu Art.
196 estabeleceu a saúde como “Direito de todos e dever do Estado”, estabelecendo as bases
conceituais e organizacionais do Sistema Único de Saúde – SUS (Tinoco, et al., 2009). Nesse
contexto as necessidades individuais e coletivas passaram a ser consideradas de interesse
público e o atendimento a essas necessidades um dever do Estado; a assistência médico-
sanitária integral passou a ter caráter universal e destinando-se a assegurar a todos, o acesso
aos serviços (Brasil, 2012a).
Para dar forma ao dispositivo constituicional estabelecido no Art. 196, foi criado, por
intermédio da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, o Sistema Único de Saúde – SUS,
que tem por finalidade, regular, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde,
executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas
naturais ou jurídicas de direito público ou privado, visando a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes (Brasil,
1990).
No entanto, antes mesmo da Constituição Federal (Brasil, 2012) o Governo Brasileiro,
já demonstrava sua preocupação com a problematica do uso de drogas pela população,
preocupação esta, que se refletiu no estabelecimento de legislação específica para o assunto,
a Lei 6.368 de 21 de outubro de 1976, e que, naquele momento, estava voltada para a adoção
de medidas visando a prevenção e a repressão ao tráfico ilícito de drogas no país, assim
como o uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinavam dependência física
ou psíquica (Brasil, 1976).
34

O Brasil vem empreendendo ações no sentido de estabelecer regulamentação e


mecanismos de controle, acompanhamento, orientação, supervisão, no âmbito de políticas
públicas relacionadas ao uso de álcool e/ou outras drogas, há muitos anos. Em 20 de
dezembro de 1993, foi publicada a Lei nº 8.764, que criou a Secretaria Nacional de
Entorpecentes e dá outras providências e posteriormente, com edição da Medida Provisória nº
1.689, de 29 de junho de 1998 que criou a Secretaria Nacional Antidrogas (Brasil, 2013).
Com a criação da Secretaria Nacional Antidrogas – SENAD, o Brasil alinhou-se à luta global
de combate às drogas (Chagas & Ventura, 2010).
Após a criação da Secretaria Nacional Antidrogas, foram estabelecidos ainda outros
instrumentos visando fortalecer a Política sobre Drogas no país, assim como a regulamentação
de dispositivos legais de maior abrangência, quais sejam:
Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996 - legislava sobre as restrições ao uso e à
propaganda de bebidas alcoólicas, medicamentos, entre outros, sendo alterada pela Lei nº
11.705 de 19 de junho de 2008 (Brasil, 2010a);
Decreto nº 3.696, de 21 de dezembro de 2000 – Dispõe sobre o Sistema Nacional
Antidroga, sendo revogado pelo Decreto 5.912 de 27 de setembro de 2006 (Brasil,
2010a);
Lei nº 10.409, de 11 de janeiro de 2002 - Dispõe sobre a Prevenção, o Tratamento, a
Fiscalização, o Controle e a Repressão à produção, ao uso e Tráfico Ilícito de Produtos,
Substâncias ou Drogas ilícitas que causem dependência física ou psíquica assim
elencados pelo Ministério da Saúde, e dá outras providências; Revogada pela Lei nº
11.343/2006 (Brasil, 2010a);
Resolução nº 01 e nº 02, de 06 de outubro de 2003 do Conselho Nacional de Políticas
sobre Drogas - CONAD - Estabelece orientações estratégicas e diretrizes para o Sistema
Nacional Antidrogas e estabelece orientações sobre a organização interna do Conselho
Nacional Antidrogas (Brasil, 2003);
Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 - Institui o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas - SISNAD; prescreve medidas para prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá
outras providências. Neste contexto, no que se refere às políticas para atendimento aos
usuários de álcool e/ou outras drogas no Brasil, com o advento da lei nº 11.343/2006, foi
possível observar algum avanço no sentido de que ao reconhecer o usuário como
35

personagem diferente do traficante, esta lei oportuniza espaço para discutir novas
possibilidades de atendimento a essa população (Brasil, 2006);
Decreto nº 5.912, de 27 de setembro de 2006 - Regulamenta a Lei nº. 11.343, de 23 de
agosto de 2006, que trata das políticas públicas sobre drogas e da instituição do Sistema
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD, e dá outras providências (Brasil,
2010a);
Decreto nº 6.117, de 22 de maio de 2007 - Aprova a Política Nacional sobre o Álcool,
dispõe sobre as medidas para redução do uso indevido de álcool e sua associação com a
violência e criminalidade, e dá outras providências (Brasil, 2010a);
Medida Provisória nº 415, de 21 de janeiro de 2008 - Proíbe a comercialização de
bebidas alcoólicas em rodovias federais e acresce dispositivo à Lei no 9.503, de 23 de
setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro; convertida na Lei nº 11.705/2008
(Brasil, 2010b);
Lei nº 11.754, de 23 de Julho de 2008 - Acresce, altera e revoga dispositivos da Lei nº
10.683, de 28 de maio de 2003, cria a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência
da República, cria cargos em comissão; revoga dispositivos das Leis nº 10.869, de 13 de
maio de 2004, e nº 11.204, de 5 de dezembro de 2005; e dá outras providências. Vale
observar que esta foi a Lei que alterou para Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas, o nome da SENAD, que até então, em decorrência da Lei nº 10.683 de
28/5/2003, era identificada como Secretaria Nacional Antidroga (Brasil, 2008a);
Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010 - Institui o Plano Integrado de Enfrentamento
ao Crack e outras Drogas, cria o seu Comitê Gestor, e dá outras providências (Brasil,
2010c).
Além dos dispositivos estabelecidos visando de modo geral a regulamentação e
criação de mecanismos de controle, acompanhamento, orientação e supervisão, no âmbito de
políticas públicas relacionadas ao uso de álcool e/ou outras drogas, foram publicadas portarias
específicas no que diz respeito à saúde, quais sejam:
Portaria nº 816 de 30 de outubro de 2002, que instituiu no âmbito do Sistema Único de
Saúde – SUS, o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada a Usuários de
Álcool e Outras Drogas, a ser desenvolvido de forma articulada entre o Ministério da
Saúde e as Secretarias de Saúde dos estados Distrito Federal e municípios (Brasil,
2002a);
36

Portaria GM/MS nº 336 de 19 de fevereiro de 2002, que disciplina o funcionamento


dos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS, ao estabelecer que os Centros de Atenção
Psicossocial poderão constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS
II e CAPS III, definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência
populacional (Brasil, 2002b);
Portaria nº 2.197/GM de 14 de outubro de 2004, que redefiniu e ampliou a atenção
integral para usuários de álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde –
SUS. Com esta Portaria, foi ampliada para os usuários abusivos de álcool e/ou outras
drogas as possibilidades de acesso aos serviços de atenção , estabelecendo que o
Programa de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas tenha como seus
principais componentes, a atenção básica; a atenção nos CAPS-AD, ambulatórios e outras
unidades extra-hospitalares especializadas; a atenção hospitalar de referência; e a rede de
suporte social (associações de ajuda mútua e entidades da sociedade civil), complementar
à rede de serviços disponibilizados pelo SUS. Esta ampliação vem ao encontro das
determinações da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001; das recomendações da Portaria nº
816/GM, de 30 de abril de 2002; da prioridade estabelecida pela Política de Atenção
Integral ao usuário, no sentido de que as ações de caráter terapêutico, preventivo,
educativo e reabilitador, direcionadas a pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas
(e seus familiares) sejam realizadas na comunidade; assim como vem ao encontro da
Política Nacional de Humanização do SUS, que preconiza a ampliação da atenção
integral à saúde, assim como que o SUS ofereça respostas articuladas e integrais, nos
diferentes níveis de complexidade e de acordo com a demanda apresentada pelos seus
usuários. (Brasil, 2004a).
Vale ressaltar que a Lei 10.216 de abril de 2001 que trata dos direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona, a nível nacional, o modelo assistencial em
saúde mental, também já menciona a questão das pessoas usuárias de álcool e/ou outras
drogas (Brasil, 2001).
Dando seqüência no processo de humanização e fortalecimento das ações direcionadas
aos usuários de álcool e/ou outras drogas, o Ministério da Saúde, considerando a necessidade
da oferta de suporte hospitalar estratégico para a rede de atenção psicossocial, no que tange a
situações de urgência decorrentes do uso de álcool e de outras drogas, por intermédio da
Portaria GM/MS nº 1.612, de 09 de setembro de 2005, aprova as Normas de
Funcionamento e Credenciamento/Habilitação dos Serviços Hospitalares de Referência para a
37

Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras Drogas - SHR-ad. Com o advento desta
Portaria, a expectativa foi de disponibilizar aos usuários de álcool e/ou outras drogas, acesso
a rede hospitalar de retaguarda e a rede de atenção integral; suporte à demanda assistencial
caracterizada por situações de urgência/emergência; suporte hospitalar, por meio de
internações de curta duração; abordagem, suporte e encaminhamento adequado aos usuários
que, mediante avaliação geral, evidenciarem indicativos de ocorrência de comorbidades de
ordem clínica e/ou psíquica; e evitar a internação de usuários de álcool e outras drogas em
hospitais psiquiátricos (Brasil, 2005).
Em 2011, o Ministério da Saúde, diante das recomendações contidas no Relatório
Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial, realizada em 2010;
considerando a necessidade de oferecer uma rede de serviços de saúde mental integrada,
articulada e efetiva nos diferentes pontos de atenção para atender as pessoas com demandas
decorrentes do consumo de álcool, crack e outras drogas; e considerando ainda a necessidade
de ampliar e diversificar os serviços do SUS para a atenção às pessoas com necessidades
decorrentes do consumo de álcool, crack e outras drogas e suas famílias, institui, por
intermédio da Portaria GM/MS nº 3.088 de 23 de dezembro de 2011, a Rede de Atenção
Psicossocial - RAPS, cuja finalidade é a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção
à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do
uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Esta portaria, estabelece as seguintes diretrizes:
"I - respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das
pessoas; II - promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da
saúde; III - combate a estigmas e preconceitos; IV - garantia do acesso e da
qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional,
sob a lógica interdisciplinar; V - atenção humanizada e centrada nas necessidades
das pessoas; VI - diversificação das estratégias de cuidado; VII - desenvolvimento
de atividades no território, que favoreça a inclusão social com vistas à promoção de
autonomia e ao exercício da cidadania; VIII - desenvolvimento de estratégias de
Redução de Danos; IX - ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com
participação e controle social dos usuários e de seus familiares; X - organização
dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de
ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado; XI - promoção de
estratégias de educação permanente; e XII - desenvolvimento da lógica do cuidado
para pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de
crack, álcool e outras drogas, tendo como eixo central a construção do projeto
terapêutico singular" (Brasil, 2011a).

Neste contexto e, para dar forma aos avanços obtidos, foi instituído, por intermédio da
portaria GM/MS nº 132 de 26 de janeiro de 2012, incentivo financeiro para o custeio das
despesas decorrentes do desenvolvimento do componente “Reabilitação Psicossocial”
38

previsto para integrar a Rede de Atenção psicossocial instituída pela Portaria nº 3.088/2011 já
mencionada (Brasil, 2012a).
No âmbito do Distrito Federal a Política Distrital sobre Drogas, fundamenta-se na
Política Nacional sobre Drogas, na Política Nacional sobre o Álcool e nas resoluções
aprovadas pelo Conselho de Política sobre Drogas do Distrito Federal. Neste contexto, um
dos objetivos da mencionada política é garantir a implantação, efetivação e melhoria dos
programas, ações e atividades de redução da demanda por drogas, nas áreas de prevenção,
tratamento e reinserção social, respeitando-se a individualidade e a dignidade da pessoa
humana. Além disso, encontra-se entre as diretrizes da Política Distrital sobre Drogas, nas
Áreas de Tratamento, Recuperação e Reinserção Social dos usuários ou dependentes de álcool
e ou outras drogas, a expectativa de que o Estado: 1) promova a atenção e o acompanhamento
dos usuários de álcool ou outras drogas, extensivo aos seus familiares, após sua alta, por uma
equipe multidisciplinar, preferencialmente na sua região administrativa de origem, por no
mínimo dois anos; 2) defina políticas de fiscalização do cumprimento dos protocolos de
tratamento ao usuário de álcool ou outras drogas na rede de assistência do Sistema Único de
Saúde – SUS; 3) fortaleça o atendimento dos serviços hospitalares de desintoxicação nos
hospitais gerais; 4) fortaleça o atendimento social ao usuário de álcool ou outras drogas,
especialmente daqueles em situação de maior vulnerabilidade social e em condição de
reintegração familiar; 4) garanta adequado atendimento e acesso ao tratamento a todo cidadão,
sem distinção de crença, orientação sexual, raça, idade ou condição de saúde (GDF, 2010).
Por intermédio do Decreto Distrital nº 32.901 de 03 de maio de 2011, foi instituído, no
âmbito do Distrito Federal, o Comitê de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, com vistas
à prevenção do uso, ao tratamento e à reinserção social de usuários de crack e outras drogas.
O referido Decreto estabeleceu que as ações de enfrentamento ao crack e outras drogas tem
como fundamento a integração e a articulação permanente entre as políticas e ações de saúde,
assistência social, segurança pública, educação, direitos humanos, juventude, criança, justiça,
entre outras, em consonância com os pressupostos, diretrizes e objetivos da Política Nacional
sobre Drogas, da Política Nacional sobre o Álcool e da Política Distrital sobre Drogas (GDF,
2011a)
Um dos objetivos do Comitê de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, consiste em
estruturar, integrar, articular e ampliar as ações voltadas à prevenção ao uso, tratamento,
redução de danos e reinserção social de usuários de crack e outras drogas, contemplando a
participação dos familiares e a atenção aos públicos vulneráveis, entre outros, crianças,
39

adolescentes e população em situação de rua. Além disso, o decreto estabelece que é de


competência deste Comitê, acompanhar e avaliar a implantação do Plano Distrital de
Enfrentamento ao Crack e outras Drogas (GDF, 2011a).
No Distrito Federal o Plano Distrital de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas,
instituído pelo Decreto nº 33.164 de 31 de agosto de 2011 propõe a integração e a articulação
permanente entre as políticas e ações de saúde, assistência social, segurança pública,
educação, desporto, cultura, direitos humanos, juventude, entre outras, em consonância com
os pressupostos, diretrizes e objetivos da Política Distrital sobre Drogas. Além disso, dentre
as ações a serem desenvolvidas no âmbito do DF, está a previsão de implantação do Projeto
Lua Nova para atenção às mulheres grávidas ou às mães usuárias de crack e outras drogas
(GDF, 2011b).
A legislação avançou muito no que diz respeito a forma de compreender e tratar o
usuário de álcool e/ou outras drogas, no entanto, de acordo com a Organização dos Estados
Americanos - OEA, apesar das leis, políticas e decretos visando oferecer um tratamento
humanizado e digno aos usuários de álcool e/ou outras drogas, em geral, aqueles que
consomem tais substâncias são portadores de uma característica que os condena e os fazem
não merecedores de políticas estatais que lhes contemplem com uma melhora em sua
qualidade de vida, por se pensar que estes apresentam “tendências autodestrutivas”, “cometem
atos suicidas”, ou adotam “comportamento promíscuo”. É importante modificar este
pressuposto para entender que a questão está em descobrir a relação do sujeito com as drogas,
sua posição frente a elas e sua posição diante dos riscos associados ao uso, em relação a vida e
a morte (Organização dos Estados Americanos [OEA], 2012)
Diante do exposto, observa-se que o usuário de álcool e/ou outras drogas apresentam-
se com a necessidade de serem auxiliados no sentido de terem acesso a unidades públicas de
apoio que oportunizem a essa população, atenção e atendimento que efetivamente seja
integral. Para tanto, é imperioso que as estratégias, diretrizes, recomendações, orientação, e
ações estabelecidas em cada um dos dispositivos legais publicados pelo Estado, estejam
sintonizadas e articuladas entre si.
Kruk, e Sandberg, (2013), ao apresentarem os resultados de pesquisa realizada com
mulheres de baixa renda residentes em Vancouver, nos Estados Unidos da América, que
buscou conhecer as necessidades e lutas diárias dessas mulheres usuárias de substâncias
psicoativas, incluindo álcool, heroína, metadona, cocaína e crack, em busca de recuperação,
observam que o termo redução de danos não foi necessariamente utilizado nas respostas
40

apresentadas, bem como foi enfatizado o baixo limiar de acesso a programas de recuperação
com base na abstinência, ressaltando que a abstinência nunca deve ser uma barreira para a
entrada em programas de recuperação. Além disso, na perspectiva dessas mulheres, entre os
componentes principais de um programa de recuperação devem estar incluídos os seguintes
aspectos: normalização/estrutura, segurança e conexão social.

3.4 MODELOS DE TRATAMENTO PARA O USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

São poucos os países que adotam políticas eficazes para evitar morte, doenças e
ferimentos causados por uso de álcool e outras drogas. A partir de 1999, quando a OMS
começou a informar sobre políticas de álcool, pelo menos 34 países adotaram algum tipo de
política formal para reduzir o uso nocivo do álcool, tais como restrições à comercialização de
álcool e penalização pelo uso de álcool ao volante. No entanto, ainda não existem ações
específicas no que tange a medidas preventivas que permitam reduzir o consumo de álcool
e/ou outras drogas de modo geral (OMS, 2011).
As respostas sócio-sanitaristas para o consumo problemático de drogas podem ser
agrupadas do seguinte modo: tratamento ambulatorial para abandonar o consumo;
consultórios de rua, hospital dia, grupos semanais, grupos de auto-ajuda como NA e AA,
unidades móveis de saúde, unidades residências – comunidades terapêuticas, e clínicas
psiquiátricas. Os tratamentos podem incluir terapias comportamentais, medicamentos, ou a
combinação destes, além de desintoxicação com ou sem internação, baseados na modificação
de comportamentos e atitudes prejudiciais dos usuários com vistas à ressocialização do
indivíduo (OEA, 2012).
De acordo com Holder (2010), na atualidade existem muitos órgãos públicos, agências
e organizações, em vários países, que oferecem serviços e programas relacionados ao uso
abusivo de álcool e/ou outras drogas, sendo que o tratamento do abuso de substâncias é
muitas vezes separado de outras ações sociais e de saúde. Entretanto, os programas de atenção
ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas não são organizados de forma a proporcionar
acompanhamento e avaliação clínica da saúde global dos beneficiários desses programas.
Além disso, os esforços visando atividades de prevenção, são realizados separadamente das
ações relacionadas com o tratamento.
O Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas - NIDA (National Institute on Drug
Abuse) orienta que o tratamento para o abuso de substâncias deve abordar as diversas
41

necessidades de uma pessoa, e não apenas o seu abuso de drogas. Isso que dizer que, o
tratamento para ser abrangente, deve ter em conta idade, gênero, etnia e cultura, além da
gravidade da dependência e os esforços anteriores de parar de usar drogas, que também
podem influenciar no tratamento. Além disso, o NIDA ressalta que a combinação entre
ambiente de tratamento, programa e serviços, específicos para o nivel de necessidade da
pessoa é a chave para o seu sucesso no momento de voltar a uma vida produtiva (National
Institute on Drug Abuse [NIDA], 2012)
Nesta mesma linha de raciocinio, para Kalina e Kovadloff (1988) o tratamento ao
usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas, deve estar ligado à transformação das estruturas
do sistema social em que a pessoa está inserida e onde teve início o uso de drogas. Dessa
forma, para tornar possível o tratamento dessa pessoa, assim como a apoiá-la no processo de
mudança de comportamento em busca por uma vida sem o uso de álcool e/ou outras drogas, é
necessário realizar-se um processo de mudança não apenas para o usuário, mas também no
contexto no qual ele está inserido, eliminando, até onde seja possível, a possibilidade de
proliferação do uso de drogas.
Para Colle (2001) a dificuldade em realizar tratamentos para o uso abusivo de álcool
e/ou outras drogas, em instituições especializadas, é contemporânea ao surgimento da
psiquiatria e da psicanálise. No entanto, psicoterapias clássicas recentes, sejam individuais ou
familiares, ainda estão distantes dos resultados esperados, tendo em vista que o
comportamento das pessoas usuárias abusivas de álcool e/ou outras drogas, após serem
submetidas ao tratamento é descrito como imprevisível. Dessa forma, o autor esclarece que
para uma pessoa gravemente intoxicada, deve-se tentar desde o início do tratamento controlar
o consumo excessivo de drogas, ao tempo em que a pessoa em tratamento deve aceitar a
presença constante de profissional especializado em seu domicilio, ou ser internado em casa
de saúde ou hospital especializado.
Eslabão et al. (2013), por sua vez, afirmam que nos serviços de atenção a usuárias de
álcool e outras drogas, o processo de reabilitação psicossocial deve estar voltado para o
restabelecimento da subjetividade do sujeito, possibilitando trocas sociais que promoverão
melhores resultados em seu tratamento e por conseqüência em suas relações familiares e
sociais.
A rede nacional de instituições para tratamento da dependência química, prevista nas
diretrizes da Política Nacional sobre Drogas e nas portarias específicas da saúde, deve ser
composta por Unidade Básica de Saúde, Ambulatórios, Centro de Atenção Psicossocial -
42

CAPS, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS-AD, Comunidades


Terapêuticas, Grupos de Auto-ajuda e Ajuda Mútua, Hospitais Gerais e Psiquiátricos,
Hospital-dia, Serviços de Emergências, Corpo de Bombeiros, Clínicas Especializadas, Casas
de Apoio e Convivência e Moradias assistidas (Brasil, 2011b).
Por tratar-se de assunto relativamente novo, uma vez que até meados do século XX ao
utilizar o termo “dependência”, os profissionais estavam se referindo às complicações clínicas
e não ao comportamento decorrente do uso de álcool e/ou outras drogas, e considerando que o
conceito de dependência deixou de estar relacionado ao desvio de caráter ou a sintomas que
possibilitassem a caracterização de transtorno mental somente a partir da segunda metade do
século, Ribeiro (2004) observa que a organização de serviços para tratamento de dependentes
químicos se apresenta como uma atividade que, por envolver grande número de variáveis, é
de grande complexidade.
Para Diehl, Cordeiro e Laranjeira, (2011) no que se refere ao tratamento da
dependência química, no Brasil é possível observar uma expressiva carência de modelos
específicos e mais eficientes de atendimento, sendo que nos últimos anos houve crescimento
do interesse dos pesquisadores acerca do assunto, emanado da necessidade de estabelecer
metodologias mais efetivas para o tratamento do usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas.
O tratamento da dependência de álcool e/ou outras drogas, tem recebido atenção da
comunidade científica, com vista a atender a demanda existente. Para tanto, dentro da
perspectiva da atenção básica, existe uma variedade de opções de modelos de tratamento, os
quais diferem no que tange à abordagem utilizada e quanto á intensidade de atenção oferecida
ao usuário do serviço. Neste contexto, é possível citar como opções, além do modelo de
tratamento ambulatorial, os seguintes modelos: internação (para além da desintoxicação),
internação-dia, residência terapêutica, serviços de intervenção em crise, tratamento
farmacológico, e participação em grupos de mútua ajuda para usuários de álcool e/ou outras
drogas e para seus familiares (Zanelatto, 2011).
Diante desses apontamentos, e considerando a perspectiva de ampliação do olhar sobre
o atendimento ao usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas, e ainda com vistas a mudança
na maneira de ver os usuários como pessoas de direito, a seguir são apresentadas algumas das
possibilidades de serviços de atendimento, que se apresentam como alternativas estabelecidas
pela Política no sentido de garantir o direto ao tratamento humanizado e participativo aos
usuários e suas famílias (Cortes, et al.2014).
43

Com relação à atenção básica em saúde, a Unidade Básica de Saúde – UBS, devido ao
seu caráter longitudinal de acompanhamento dos indivíduos, é um ambiente importante para
as ações de saúde. Além disso, a UBS é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde
representando o primeiro contato com o paciente que busca tratamento para problemas
relacionados ao uso de álcool e/ou outras drogas. Nesse contexto, as intervenções breves
podem auxiliar na identificação desses problemas ou de riscos associados ao mesmo, além do
fato de que a atenção primária é uma boa oportunidade para a realização de ações preventivas.
Por outro lado, é neste ambiente que o monitoramento, o acompanhamento clínico e
psicossocial e a repetição de intervenções realizadas são identificadas como estratégias
possíveis na rede de atenção primária (Favaro, 2011).
Ainda de acordo com Favaro (2011), a atenção primária traz consigo quatro grandes
princípios: 1. Primeiro contato: identificada pela população como primeiro recurso; 2.
Longitudinalidade: responsabilidade pelo individuo ao longo do tempo; 3. Integralidade:
atendimento a todas as necessidades de saúde; e 4. Coordenação: coordenar os cuidados as
necessidades do indivíduo, das suas famílias e da comunidade. Por outro lado, a UBS é um
ambiente no qual a resistência do indivíduo à mudança pode ser menor, tendo em vista que a
presença do estigma é menor. Entretanto, quando o agente comunitário de saúde identifica
indivíduos com problemas relacionados ao uso de álcool e/ou outras drogas, e o orienta a
procurar o serviço de saúde para tratamento, é comum que o paciente minimize ou negue o
uso de álcool e/ou outras drogas.
Dessa forma, segundo Favaro (2011) aqueles pacientes que não obtêm melhora
valendo-se dos recursos da comunidade ou que já tiveram várias tentativas de se manter
abstinentes, devem ser encaminhados para serviço de referência na rede ou para especialista.
Nesse contexto, o autor registra os seguintes indicativos para internação:
“1 – paciente não consegue manter-se abstinente apesar de realizar
acompanhamento ambulatorial;
2 – falta continência familiar ou psicossocial e presença de situação de risco;
3 – condições graves clínicas ou psiquiátricas que necessitem cuidados constantes,
tais como: síndrome de abstinência grave, complicações clínicas de uso, ideação
suicida e sintomas psicóticos graves”. (p. 3-9)

No que diz respeito ao tratamento ambulatorial, Penso (2001) observa que trata-se de
modelo adequado para atender usuários de álcool e/ou outras drogas que não estão
comprometidos gravemente; para orientação e acompanhamento de familiares, em especial
nas fases de pós-internação e reinserção social, profissional e familiar. Além disso, esta
modalidade atende aqueles usuários que apresentam forte motivação para o tratamento.
44

Por outro lado, Zanelatto (2011) observa que resultados positivos têm sido
apresentados por vários estudos sobre o custo e a efetividade desta modalidade de tratamento.
Essa modalidade apresenta, entre outras as seguintes vantagens: a) custo inferior às
internações hospitalares; b) atendimento a maior número de pacientes; c) maior tempo de
permanência do paciente aderido ao serviço, oportunizando maior participação no programa
de tratamento de maneira geral; d) atenção às diferenças de cultura e regionalidade; e)
redução de prejuízos à rotina do paciente, no que tange aos papéis familiares, profissionais,
sociais ou acadêmicos. Além disso, quando o tratamento é realizado em grupo, pode ocorrer
criação de vínculos entre os participantes, ajudando na reconstrução da autoestima o que
facilita o desempenho das habilidades sociais. Ainda de acordo com a autora, neste modelo, é
importante observar os seguintes aspectos:
1 - o plano de tratamento deve ser maleável, atendendo as necessidades do indivíduo,
sem perder de vista a previsão de um período mínimo de permanência no serviço, visando
garantir maior aproveitamento;
2 – é importante a combinação de várias abordagens psicoterápicas aliadas, quando
necessário, ao tratamento farmacológico em especial no caso de outras morbidades
associadas;
3 – por ser a desintoxicação apenas parte do tratamento, o uso de drogas deve ser
monitorado de forma contínua; e
4 – deve ser dada atenção especial a outros possíveis comprometimentos como
presença de HIV/AIDS e/ou outras doenças físicas.
Para Penso (2001), devido ao fato de a dependência química estar inserida em
contexto de enorme complexidade, as diferentes modalidades de tratamento estão baseadas
em abordagens que podem ser divididas em dois grupos: 1) abordagens repressivas e 2)
abordagens compreensivas. Além disso, a forma de intervenção com o indivíduo está
relacionada com a concepção que o profissional tem sobre este. Assim, diferentes tipos de
serviços de atendimento e de assistência têm sido propostos com o objetivo de tratar os
dependentes químicos.
Outro aspecto importante, é que a completude do plano de recuperação do uso de
álcool e/ou outras drogas pode ser de longa duração, tendo em vista que nem sempre o
paciente vem ao serviço por vontade própria, sendo necessário algum tempo para que este se
estruture interna e externamente para a manutenção do estágio de mudança (Zanelatto, 2011).
No que se refere ao tratamento de mulheres dependentes de álcool e/ou outras drogas, a autora
45

observa ainda que estas beneficiam-se mais de serviços voltados especificamente para elas,
sendo que os tratamentos mais longos com contatos mais freqüentes, apresentam melhores
resultados, assim como quando pelo menos um dos terapeutas é do gênero feminino.
De acordo com Ranieri e Marques (2011), o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS é
uma unidade do sistema de saúde pública que tem como finalidade acolher pessoas com
transtornos mentais, estimulando sua integração familiar e social, apoiar suas iniciativas de
busca por autonomia, além de oferecer atendimento médico e psicológico. O Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS-AD, é uma unidade se diferencia dos demais
CAPS, pelo porte, pela capacidade de atendimento e em especial pela clientela atendida. Este
serviço, instituído pela Portaria Ministerial nº 336/2002, possui de maneira geral, as seguintes
características:
1 – serviço ambulatorial de atenção diária e de referência para a área de abrangência;
2 – responsabilidade pela organização da demanda e da rede de instituições de atenção
a usuários de álcool e/ou outras drogas;
3 – desempenho do papel de regulador da “porta de entrada” da rede de assistência
local e/ou do módulo assistencial definido na Norma operacional de Assistência à Saúde
(NOAS);
4 – coordenação as atividades de supervisão dos serviços de atenção a usuários de
álcool e/ou outras drogas, em articulação com o Conselho Municipal de Entorpecentes;
5 – supervisão e capacita equipes de atenção básica, serviços e programas de saúde
mental no âmbito de seu território;
6 - realização e manutenção do cadastramento de pacientes que utilizam medicamentos
essenciais para a área de saúde mental, devidamente atualizado;
7 – funcionamento em horário acessível, das 08:00 às 18:00 horas, durante 05 dias
úteis por semana, podendo comportar turno de funcionamento até as 21:00 horas;
8 – manutenção de 2 a 4 leitos para desintoxicação e repouso.
Ainda segundo as autoras, os pacientes atendidos nesse serviço, devem ser alvo das
seguintes atividades: atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação,
entre outros); atendimento em grupo (psicoterapia, grupo operativo, atividades de apoio
social, entre outras); oficinas terapêuticas; visitas e atendimentos domiciliares; atendimento à
família; atividades comunitárias visando a integração e inserção familiar e social do
dependente na comunidade; acolhimento noturno, nos finais de semana e feriados com leitos
46

para eventual observação, sendo que a permanência de um mesmo paciente é restrita a sete
dias corridos ou 10 dias intercalados em 30 dias.
De acordo com Azevedo (2011), a internação em hospital geral pode oportunizar a
detecção, a abordagem e o encaminhamento para tratamento de pessoas com uso abusivo de
álcool e/ou outras drogas, devido ao fato de que os pacientes no momento da internação em
geral encontram-se mais receptivos ás orientações de saúde, em especial se o motivo da
internação estiver relacionado ao consumo dessas substâncias. Neste contexto, o autor destaca
que estudos revelam que as intervenções com usuários abusivos de álcool e/ou outras drogas
internados em hospital geral, podem ocasionar mudanças positivas com relação ao
comportamento de consumo, razão pela qual recomenda que intervenções breves devem ser
incluídas na abordagem cotidiana destes pacientes.
Para Cordeiro e Baldaçara (2011), considerando que o consumo de álcool e drogas
está intimamente ligado ao serviço de emergência, e tendo em vista que para o dependente de
álcool uma das principais formas de obter atendimento médico é por intermédio do serviço de
emergência ou pronto socorro, é importante que os profissionais que atuam nesse contexto
estejam atentos e familiarizados com a identificação e o manejo das principais emergências
relacionadas ao uso de substâncias, em especial devido ao fato de que o pronto socorro pode
ser também local para o encaminhamento mais adequado ou para iniciar algum tipo de
intervenção para os que não se encontram recebendo qualquer tipo de cuidado. Os autores
ressaltam ainda, que os melhores prognósticos estão relacionados com o diagnóstico correto
uma vez que a possibilidade de ocorrer dificuldade na comunicação entre o paciente e o
profissional pode comprometer o processo diagnóstico. Dessa forma, no que se refere aos
transtornos relacionados ao uso de drogas, a função do pronto socorro consiste em esclarecer
e motivar para o tratamento ambulatorial.
Segundo Diehl, Elbreder e Laranjeira (2011), uma opção de baixo custo e que
apresenta resultados efetivos, são as moradias assistidas para usuários de álcool e/ou outras
drogas. Apesar de se apresentarem como recursos essenciais à rede de serviços destinados ao
tratamento da população usuária de álcool e/ou drogas, no Brasil essa modalidade de
tratamento ainda é pouco utilizada. Caracterizada como um momento de transição entre a
hospitalização e o convívio em comunidade, a moradia assistida possibilita ao usuário de
álcool e/ou outras drogas a oportunidade de exercitar o novo modo de vida de acordo com as
suas peculiaridades, sejam elas relacionadas a gênero ou aos vínculos familiares. Os
programas de tratamento desse serviço, abrangem tanto o atendimento individual quanto em
47

grupo, sendo que em alguns também está inserido o modelo de 12 passos baseados nos
Alcóolicos Anônimos e Narcóticos Anônimos.
Mesmo não estando previsto na atual política de álcool e drogas, o tratamento na
modalidade de hospital dia, pode ser uma opção tanto para pacientes com quadros agudos
como para pacientes com quadros crônicos e tem demonstrado ser um importante recurso no
tratamento de usuários abusivos de álcool e/ou outras drogas. Como uma alternativa à
hospitalização integral, o hospital dia tem o custo reduzido em relação ao hospital integral e
apresentam resultados eficazes. Para a escolha desta alternativa de tratamento é necessário
considerar a estabilidade – ainda que relativa – das condições clínicas e psiquiátricas do
paciente além de observar se o paciente está inserido em um sistema social que lhe ofereça o
apoio necessário à manutenção do tratamento, uma vez que um dos objetivos dessa
modalidade é encorajar a independência e a responsabilidade do paciente (Pinheiro & Ratto,
2011).
Outra alternativa de tratamento são os grupos de auto-ajuda. Em estudo realizado em
um grupo de Alcoólicos Anônimos localizado em Fortaleza – CE, Lima e Braga (2012)
afirmam que, por não terem sido criados pelo Estado, tais grupos voltados para usuários de
álcool e/ou outras drogas não estão inseridos no contexto das políticas públicas, Entretanto,
esses grupos são uma fonte importante de apoio as pessoas com problemas relacionados ao
uso abusivo de álcool e outras drogas, assim como para suas famílias. Representando uma
das formas de atuação da sociedade civil diante do grande desafio social que é estabelecer
uma política saudável, sustentável e efetiva na prática, desafio este que se apresenta a partir
do constante aumento do consumo de álcool e drogas, os grupos de auto-ajuda oferecem um
ambiente que estimula e encoraja as interações sociais com o objetivo específico de auxiliar
no processo de reabilitação dos indivíduos ao tempo em que apóia pessoas com problemas
similares.
Para Cafruni, Brolese e Lopes (2014), os grupos de mútua ajuda, se caracterizam por
buscar a realização de alguma meta comum, além de ajudar mutuamente seus participantes.
No que se refere ao tratamento do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, os grupos de
ajuda mutua mais conhecidos são os Alcoólicos Anônimos – AA e Narcóticos Anônimos –
NA, sendo que a eficácia do Programa dos 12 Passos, que é utilizado por esses grupos, tem
sido objeto de vários estudos, onde são registrados os benefícios alcançados e a eficácia deste
recurso terapêutico informal. Por outro lado, Penso (2001) esclarece que os grupos de auto
48

ajuda, atuam como suporte em fases de pós internação e na reinserção profissional, social e
familiar.
No Distrito Federal em 2013, foram pesquisadas 25 instituições de tratamento e
reinserção social de usuários de drogas, sendo que 18 eram não governamentais e 07 eram
governamentais. Estas últimas funcionavam todas no formato de Centros de Atenção
Psicossocial especializados em Álcool e outras drogas – CAPS-ad, mostrando a fragilidade da
rede de atendimento a usuários de álcool e outras drogas na cidade. De acordo com as
respostas dos dirigentes, quando foi perguntado como eles classificariam as instituições nas
quais trabalhavam, em pesquisa realizada pela CODEPLAN (GDF, 2013, p. 26):
“... 13 entidades se classificavam como comunidades terapêuticas, sete eram Caps-
ad e uma se classificava como clínica particular e hospital dia. As outras preferiram
outras designações como “centro de recuperação”, “centro de reintegração”,
“clínica social” e “centro de tratamento”, embora apresentassem características que
as classificariam como comunidades terapêuticas ...”.

A quantidade de instituições citada acima demonstra que muitas são as formas de


tratamento para pessoas com problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas previstas na Política Nacional sobre Drogas e também nas portarias mencionadas
anteriormente. Dentre as diretrizes da Política, encontra-se a recomendação no sentido de que
as instituições – governamentais ou não governamentais – que realizam tratamento,
recuperação, reinserção social e ocupacional, garantam e assegurem que suas atividades sejam
oferecidas para os usuários de drogas e seus familiares, além de serem articuladas e integradas
em rede nacional com o SUS – Sistema Único de Saúde e com o SUAS – Sistema Único de
Assistência Social. O mecanismo político-administrativo utilizado para assegurar a
observância dessa diretriz, é a distribuição descentralizada de recursos técnicos e financeiros,
e a conseqüente e necessária fiscalização de sua correta aplicação (Brasil, 2011c).
No que se refere a abordagem terapêutica, o Mapeamento e Identificação das
Metodologias das Instituições de Tratamento e Reinserção Social de Usuários de Álcool,
Crack e outras Drogas no Distrito Federal, realizado pela CODEPLAN (GDF,2013), aponta
para o quadro a seguir:
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Abordagem terapêutica Não Governamentais Caps-ad Total


Psicoterapia individual 12 5 17
Psicoterapia em grupo 13 7 20
Terapia familiar 11 5 16
Assistência médica clínica 6 4 10
Assistência médica psiquiátrica 5 7 12
Assistência farmacológica 5 4 9
Método Minnesota (12 passos) 11 0 11
Grupo de prevenção da recaída 11 5 16
Aconselhamento motivacional 16 5 21
Terapia ocupacional 9 6 15
Oficinas terapêuticas 10 6 16
Redução de danos 2 6 8
Terapia comunitária 7 5 12
Orientação moral e/ou religiosa 15 0 15
Laborterapia ou recuperação pelo trabalho 15 0 15
Quadro 01 - Quantidade de Instituições por Tipo por Abordagem Terapêutica adotada - Fonte: CODEPLAN, 2013, P. 29

Analisando as informações deste quadro, é possível observar que, Entretanto os


esforços realizados no âmbito governamental, os quais encontram-se sustentados pela política
sobre drogas vigente em nosso país, as instituições não governamentais de atenção, cuidado e
tratamento para o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, encontram-se em maior número.
Outro aspecto a ser observado é que, ao compararmos as Metodologias das Instituições de
Tratamento e Reinserção Social de Usuários de Álcool, Crack e outras Drogas no Distrito
Federal, é possível verificar nas unidades do governo, a total ausência de laborterapia e
orientação moral e/ou religiosa, enquanto que as unidades de tratamento não governamentais,
além dos recursos terapêuticos de contexto psicológico, como o aconselhamento motivacional
utilizam também abordagens terapêuticas que enfatizam aspectos morais, éticos e de
espiritualidade, quais sejam: Método Minesotta, e orientação moral e religiosa.
Diante desses apontamentos, observa-se que os modelos de tratamento dessas
instituições estão baseados em paradigmas diferentes. As instituições governamentais,
atuando segundo as diretrizes da política nacional sobre drogas, não oferecem atividades
relacionadas a abordagens que encontram-se presentes no modelo terapêutico adotado pela
maioria das instituições não governamentais pesquisadas. Além desses aspectos, vale ressaltar
que, Entretanto tratar-se de recurso previsto nas políticas públicas sobre álcool e/ou outras
drogas, nem todas as unidades governamentais utilizam todas as abordagens terapêuticas
previstas na política, tais como: assistência médica clínica, assistência farmacológica,
psicoterapia individual, terapia familiar, grupo de prevenção da recaída, entre outros.
Ainda com relação ao quadro mencionado, observa-se que nem todas as instituições
pesquisadas utilizam a terapia familiar como recurso terapêutico. Sobre este recurso,
Minuchin e Nichols (1995), afirmam que a terapia familiar como abordagem de tratamento
50

dos problemas humanos, promove a reconciliação das famílias ajudando-as a trabalhar seus
conflitos em sua fonte. Além disso, os autores afirmam que por tratar-se de abordagem que
compreende o comportamento do indivíduo como sendo formado por seu contexto social, a
terapia familiar tem o objetivo de promover mudança na organização familiar, e por
conseqüência, promover mudança em cada um de seus membros.
Mesmo com a disponibilização de diferentes instituições com diferentes formas de
tratamento, pesquisa realizada pela Fiocruz, em parceria com a SENAD, constatou um baixo
índice de acesso aos equipamentos públicos de atenção e tratamento, apesar de 78,9% dos
usuários afirmarem desejar tratamento para o uso de drogas. Por outro lado, observou-se
também que entre os serviços ofertados pela rede pública, os mais procurados foram aqueles
de cunho social, além dos serviços de atenção à saúde, não necessariamente voltados para o
tratamento da dependência química. No que diz respeito aos serviços para tratamento de
problemas relacionados ao uso de drogas, a pesquisa revela que apenas 6,4% tiveram acesso
ao tratamento ambulatorial, por intermédio do CAPS-ad e quando foram considerados os
equipamentos de atenção em regime residencial ou internação, 4,2% tiveram acesso as
Comunidades Terapêuticas para tratamento (Brasil, 2011d).
Outra pesquisa realizada em 2011 já apresentava resultados preocupantes,
principalmente no que diz respeito a eficácia do tratamento realizado nos CAPS ad. Nesta
pesquisa. 69% dos Coordenadores dos CAPS-ad, consideram o uso de drogas muito grave,
com baixa capacidade de resposta da rede pública (Brasil, 2011c).
Conforme descrito anteriormente, uma das formas de tratamento prevista na Política
Brasileira sobre Drogas é a internação em Comunidades Terapêuticas, sendo que neste caso a
eficácia do tratamento está muito associada à participação da família no processo terapêutico.
Nestas instituições, os tipos de tratamento oferecidos são: psicoterapia individual, psicoterapia
de grupo e psicoterapia familiar, sendo que a psicoterapia familiar é mencionada por 48,8 %
da amostra (Brasil, 2007b).
Para Kruk, e Sandberg, (2013), a partir dos resultados de pesquisa realizada com
mulheres de baixa renda residentes em Vancouver, nos Estados Unidos da América, um
programa de recuperação eficaz, voltado para mulheres, deve em primeiro lugar observar
aspectos relacionados a normalização/estrutura, segurança e conexão social, sendo que um
programa de recuperação residencial é essencial para aquelas que escolherem uma abordagem
baseada na abstinência. Além disso, programas de tratamento devem oferecer uma variedade
de experiências e formação bio-psico-social-espiritual, que auxiliem as mulheres na
51

descoberta, desenvolvimento e/ou lembrança de aspectos internos e externos fundamentais na


organização, e processo de construção de crenças, comportamentos e atividades que
holisticamente possam facilitar a normalização da saúde.
Ainda para esses autores, há que se pensar em programas de tratamento sob medida
para as necessidades específicas de cada, constituído de um menu de opções no que diz
respeito às estratégias de intervenção. Além disso, os autores identificaram que quando o uso
de álcool e/ou outras drogas torna-se problemático, as mulheres apontam para a necessidade
de programas residenciais de longo prazo, onde a segurança no tratamento e a exigência de
abstinência sejam vistos como fatores fundamentais.
A figura abaixo ilustra o formato de rede de atendimento ao usuário abusivo de álcool
e/ou outras drogas e a sua família:

Figura 01: Rede de Atenção Psicossocial ao Usuário e à Família (Brasil, 2012b)

3.4.1 - O tratamento no Modelo de Comunidade Terapêutica

A idéia de Comunidade Terapêutica vem ao longo da história se repetindo com


diferentes formatos. Na modernidade, são identificados dois tipos de Comunidade
Terapêutica. O primeiro é encontrado no campo da psiquiatria social, destinado ao tratamento
psicológico e à guarda de pacientes psiquiátricos. O outro formato, que está relacionado com
52

programas de tratamento residencial para dependentes de álcool e/ou outras drogas, tem como
precursores o grupo de Oxford, a associação Alcoólicos Anônimos e a Synanon (De Leon,
2003).
O grupo de Oxford, uma organização religiosa que foi fundada na segunda década do
século XX, que trazia em sua mensagem o direcionamento para o renascimento espiritual,
acomodava em seu contexto, de modo bastante amplo, as mais variadas formas de sofrimento
humano. A mensagem do grupo de Oxford não deve ser confundida com a mensagem trazida
pela Associação Alcoólicos Anônimos - AA, fundada em 1935, a partir da conversa entre dois
homens alcoólicos. A Associação AA, apesar de refletir em sua metodologia alguns dos
princípios do grupo de Oxford, enfatiza a perda do controle pessoal com relação ao uso da
substância, a entrega a um “poder superior”, a busca de ajuda para mudança do próprio eu, a
reparação dos males porventura causados, a oração na luta pessoal pela sobriedade e o apoio a
outras pessoas que passam por situação semelhante (De Leon, 2003).
A instituição denominada Synanon, primeiro formato de instituição para tratamento
com modelo semelhante àquele utilizado em comunidade terapêutica, fundada em 1958 na
Califórnia trouxe, com sua criação, os elementos essenciais – conceitos, modelo de programa
de tratamento e principais práticas - do segundo formato de Comunidades Terapêuticas: as
Comunidades Terapêuticas de tratamento da dependência química, as quais em grande parte
estavam em sintonia com as premissas da associação AA (De Leon, 2003).
O tratamento da dependência química no modelo de Comunidade Terapêutica, tem a
meta de obtenção da sobriedade, sendo realizado com base na convivência entre os pares,
visando a mudança dos padrões de comportamento anteriores à internação e o
desenvolvimento de hábitos e valores que permitam a experiência de uma nova forma de vida
para o dependente químico, visando auxiliá-lo na manutenção da sobriedade após o período
de internação (Fracasso & Landre, 2012).
Na perspectiva da Comunidade Terapêutica, o uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas é um transtorno que se apresenta na pessoa, que por ser única e integral, é afetada por
ele em algumas ou todas as áreas de sua vida. Isto é percebido pela equipe de profissionais
que trabalham em Comunidade Terapêutica, uma vez que de modo geral o quadro que os
indivíduos apresentam ao ingressar no tratamento, caracteriza-se por: apresentar risco para a
saúde; crises sociais importantes no contexto; o uso de drogas há algum tempo fora de
controle; e pouca ou nenhuma capacidade de manter abstinência por si só. Dessa forma esses
indivíduos buscam o tratamento em Comunidade Terapêutica, para interromper um estilo de
53

vida que promove a autodestruição, para estabilizar sua vida social e psicológica e para iniciar
um processo de mudança pessoal e de estilo de vida de longo prazo (De Leon, 2003).
O objetivo específico da comunidade terapêutica é tratar o transtorno individual,
transformando estilos de vida e identidades pessoais. O processo de recuperação começa
quando os indivíduos aceitam a responsabilidade por suas ações, independentemente do tipo
de substância psicoativa utilizada. A internação é estabelecida com uma duração planejada
para a permanência residencial, a qual é orientada por um plano e por um protocolo de
tratamento. Apesar dessa modalidade apresentar-se apropriada e eficaz para qualquer perfil de
usuário que possua diagnóstico de uso de drogas de forma abusiva ou nociva ou de
dependência, em geral a pessoa que busca esse tipo de tratamento o faz em decorrência do
fracasso de resultados positivos em outras modalidades de tratamento visando alcançar
estabilidade na abstinência. Além disso, está enfrentando muitos outros problemas nas demais
áreas de sua vida: social afetiva, laborativa e familiar (Fracasso & Landre, 2012).
Pesquisa realizada por Kubiak, Alvez e Costa (2007), com indivíduos em tratamento
por consumo de drogas lícitas e/ou ilícitas, juntamente com profissionais que os
acompanhavam, em duas Comunidades Terapêuticas, investigou os principais fatores que
contribuíam para permanência de dependentes químicos no tratamento. O autor verificou que,
de uma forma geral, estes fatores eram: manutenção da abstinência e mudança de hábitos;
reconstrução da vida familiar e profissional; recuperação da auto-estima e cuidados com a
saúde física e mental; valorização da vida espiritual e social; e capacitação para projetar o
futuro. Além disso, constatou que as relações de responsabilidade e limites exigidas e
apoiadas no tratamento visando a adoção de comportamento de responsabilidade consigo
mesmo e com aqueles de seu convívio, impulsionava a pessoa para o processo decisório de
busca pelo tratamento.
Ao discutir o contexto de comunidade terapêutica, como sendo uma instituição de
natureza sócio-educativa, Gomes (2010) registra preliminarmente, que o dependente químico
é um ser humano que, da forma mais negativa possível, carrega em si o condicionamento
cultural de seu contexto social. Isso se dá devido ao fato de que os indivíduos possuem
diferentes níveis de sensibilidade diante das dificuldades vivenciadas ao longo de suas vidas.
Dessa forma, ressalta a importância de que os serviços de atenção e tratamento, estejam
atentos para proporcionar a esse sujeito singular, não apenas oportunidade de abstinência, mas
um reposicionamento em face de sua existência. O autor identifica o indivíduo que se socorre
do conjunto de opções oferecido por instituições que atuam na modalidade de comunidade
54

terapêutica, como aquele que é usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas, e que em
decorrência desse uso, torna-se incapaz de, por si mesmo/a, administrar esse uso abusivo,
tendo em vista o desenvolvimento da compulsão.
De acordo com Penso (2001), para que uma instituição seja reconhecida como uma
Comunidade Terapêutica, é necessário que esta possua, além de um programa terapêutico, um
critério para admissão, um período composto por fases, critério(s) de alta e um objetivo final,
que deve ser a reinserção social, profissional e familiar do sujeito.
Elucidando alguns aspectos acerca das Comunidades Terapêuticas contemporâneas,
Fracasso (2011) apresenta as principais características da abordagem de comunidade
terapêutica, quais sejam:
“1) Deve ser aceita voluntariamente; 2) Não se destina a todo tipo de dependente (isto
ressalta a importância fundamental da Triagem como início do processo terapêutico); 3) Deve
reproduzir, o melhor possível, a realidade exterior para facilitar a reinserção; 4) Deve fornecer
um Modelo de Tratamento residencial estruturado; 5) Atua através de um sistema de pressões
artificialmente provocadas; 6) Estimula a explicitação da patologia do residente, frente a seus
pares; 7) Os pares servem de espelho da conseqüência social de seus atos; 8) Há um clima de
tensão afetiva; e 9) O residente é o principal ator de seu tratamento. A equipe oferece, apenas,
apoio e ajuda” (Fracasso, 2011, p. 63).
Em pesquisa realizada em seis Comunidades Terapêuticas no Estado de Santa
Catarina, que buscou fazer uma reflexão crítica sobre a complexidade do funcionamento e as
ações deste tipo de serviço no contexto da rede de Atenção psicossocial do SUS, Silva (2013)
observa que as Comunidades Terapêuticas dispõem de proposta assistencial provida de
sustentação teórica, técnica e ética e que a articulação das mesmas com a Rede de Atenção
Psicossocial do SUS ainda é modesta. Estas comunidades têm investido em ações de
promoção, prevenção, tratamento, assistência e reinserção social, sendo que a ação estratégica
que subsidia a terapêutica está voltada para a preparação para a vida, para a construção de
redes sociais de apoio e para o estímulo à alteridade, no contexto de um modelo de
atendimento menos hierarquizado e mais democrático. O tratamento é construído com a
participação dos residentes e o afastamento do convívio social é tido como fator de proteção e
de continência para situações de crise. São instituições que trabalham sob orientações
humanistas e têm contemplado aspectos éticos e morais no tratamento, favorecendo a inclusão
social, autonomia, emancipação e integração sociocultural de seus residentes. Utilizam
abordagem centrada no sujeito e não na doença preocupando-se com a dimensão subjetiva e
55

com a integridade da própria comunidade de companheiros, o que contribui para o


enfrentamento de recaídas. Investem em estratégias de desinstitucionalização, no despertar de
valores sociais e na ampliação da consciência sanitária, servindo como interlocutoras na
relação entre residentes, familiares e sociedade.
Para Gomes (2010), o modelo de tratamento da Comunidade Terapêutica, que como já
foi dito, tem o objetivo da superação do uso, em geral está baseado nos seguintes princípios:
honestidade; compartilhar; horizontalidade das relações entre equipe técnica e pacientes e
espiritualidade. A honestidade estabelece a importância da convivência social baseada na
transparência total das próprias ações, o que permite ao usuário de álcool e/ou outras drogas,
tornar-se consciente de seus erros e dificuldades, assim como das condições que a
Comunidade Terapêutica oferece para oportunizar a cada paciente a superação desse quadro.
O compartilhar permite que o indivíduo passe a ser responsável por si e pelo grupo. Isso faz
com que o paciente possa exercitar uma nova realidade onde o reconhecimento das
necessidades do outro está presente, diferentemente da realidade vivida durante o uso de
drogas, onde o indivíduo se encontrava preocupado somente com os próprios desejos e
necessidades, independentemente dos custos familiares e sociais decorrentes da realização
desses desejos. No que tange a horizontalidade, esse modelo exige que o indivíduo participe
ativamente de todas as etapas que determinam o programa de tratamento, tornando-se
“sujeito” do processo de recuperação. Complementarmente a esses aspectos, a espiritualidade
permite ao indivíduo revitalizar sua capacidade de “acreditar”, para além da sua capacidade
racional. Esta capacidade é estimulada a partir da formação de uma consciência
espiritualizada, que está centrada em um “poder superior”, que é desvinculada de
denominações (evangélicos, católicos, espíritas, etc.) e independente do “modus adorandi”.
Por tratar-se de uma metodologia de tratamento que estabelece a internação como
recurso, na qual o paciente é o principal responsável pelo seu processo terapêutico, o
tratamento em Comunidade Terapêutica atua mediante intervenções sociais, atribuindo
funções, direitos e responsabilidades ao indivíduo em tratamento (Sabino & Cazenave, 2005).
Dessa forma, baseado nos princípios de ajuda mútua, responsabilidade e
voluntariedade, Jatobá, Calheiros e Lins Júnior (2012) fazem a reflexão acerca da relação
desses princípios com os conceitos de cidadania e de respeito ao ser humano, que norteiam o
que modernamente é denominado tratamento humanizado. Para esses autores, o respeito e o
interesse pelo ser humano, está relacionado ao reconhecimento de seus limites. Esse
pensamento, vai ao encontro do fato de que a manutenção do usuário em ambiente fechado,
56

conforme propõe o modelo de Comunidade Terapêutica, representa a consciência da equipe


de profissionais, da família e do próprio dependente de álcool e/ou outras drogas, quanto a
situação de limitação momentânea em que este último se encontra.
Outro aspecto importante relaciona-se à necessidade de fazer uma reflexão acerca do
estresse e do sofrimento a que são expostos os dependentes do uso de álcool e/ou outras
drogas, quando submetidos a tratamentos sem afastamento do convívio em especial com os
pares (companheiros de ativa), tendo em vista o alto nível de compulsividade presente nesses
indivíduos, os quais não conseguem ficar sem o uso do seu “anestésico” (droga) de
preferência, diante das dificuldades para lidar com suas dores e angústias, ou mesmo com os
sintomas da dependência, ou ainda nos momentos de maior confronto consigo mesmo
provocado pelo tratamento. Essa preocupação, vem ao encontro das recomendações do
National Institute on Drug Abuse – NIDA (2010), que orienta no seu 11º princípio, que o
tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz, além da orientação contida em seu 12º
princípio, referente ao fato de que inicialmente o indivíduo em tratamento deve ser
supervisionado para evitar o uso concomitante de drogas durante o tratamento e possíveis
recaídas, o que aponta para a importância do indivíduo manter-se distante dos hábitos,
lugares e pessoas aos quais estava acostumado no período em que esteve usando drogas
(Jatobá, Calheiros & Junior (2012).
Para refletir sobre o tratamento do sujeito que é usuário abusivo de álcool e/ou outras
drogas e que, em decorrência desse uso, torna-se incapaz de, por si mesmo, administrar esse
uso abusivo, tendo em vista o desenvolvimento da compulsão, é importante considerar o
pensamento de Gaulejac (2001) no sentido de que não podemos pensar no tema “sujeito”, sem
inscrever esse sujeito em uma dupla determinação - psíquica e social, tendo em vista que o
indivíduo é produto de uma história que condensa, por um lado, o conjunto de fatores sociais
e históricos que interferem no seu processo de socialização, e por outro lado o conjunto de
fatores intrapsíquicos que determinam sua personalidade. Para este autor, considerar essa
subjetividade é aceitar como inevitáveis os questionamentos acerca da dimensão existencial
do sujeito, para poder compreender suas condutas, seus comportamentos, suas atitudes e suas
relações sociais.
A essa recomendação, junta-se a reflexão sobre a importância de analisar os
sentimentos, as emoções, as representações que o indivíduo produz acerca de sua existência e
do contexto social no qual se encontra inserido, para compreender suas condutas, em especial
por considerar que os indivíduos são sujeitos ativos que podem interferir na construção de sua
57

existência, sua trajetória, sua identidade social e promover mudança e sua história. (Gaulejac,
2001).

3.4.2 A família e sua participação no tratamento

A família é o local para receber auxílio, tendo em vista constituir-se do contexto


natural para oportunizar o crescimento do indivíduo, garantir o pertencimento e promover a
individuação (Sanches, 2012; Penso, Costa & Sudbrack, 2008).
De acordo com Penso, Costa e Sudbrack (2008), problemas relacionados ao uso de
drogas estão localizados na esfera da relação do indivíduo com o meio, decorrentes da
interação entre variáveis individuais e contextuais. Mulheres usuárias de álcool e/ou outras
drogas, são pessoas que se desenvolveram no contexto de um grupo familiar que possui
características próprias as quais definem as interações que ocorrem entre seus membros.
Partindo dessa afirmação, o uso de drogas passa a ser visto não mais como um problema
individual, mas como um sintoma da família, que tem como função denunciar falhas no
sistema familiar e social. As interações acima mencionadas estão presentes também nas ações
desenvolvidas tanto pelas mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas quanto por seus
familiares, no trajeto percorrido em busca de tratamento.
Comportamentos disfuncionais como o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas
inicialmente negados pelo indivíduo, em geral são mantidos em segredo, primeiramente pelo
próprio indivíduo e em segundo nível, pelo grupo familiar. Esconder da família o uso abusivo
de álcool e/ou outras drogas, caracteriza uma estrutura defensiva do adicto, que tem por
objetivo auxiliá-lo a evitar intimidade com os problemas vivenciados no contexto familiar,
assim como com seus próprios sentimentos. Esses comportamentos cedo ou tarde apresentam-
se de forma clara diante dos olhos do indivíduo e do grupo familiar que costuma estar
paralisado em decorrência do segredo mantido (Krestan, & Bepko, 1994).
Para Silva (2011), levando em consideração que o uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas é uma problemática complexa, a oferta de atendimento e suporte ao dependente
químico, deve ser realizado por intermédio de uma “rede saudável” que tem seu início na
família, passando pela comunidade na qual essa família está inserida, além de englobar o
contexto social do indivíduo, de forma a atender as demandas que surgem no ciclo da
drogadição, algumas dessas imprevisíveis.
Levando em conta esses aspectos, e em especial para vencer a paralisação, é
importante que o grupo familiar reconheça a necessidade de sua inclusão no processo
58

terapêutico. Assim, conhecer a trajetória de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas,
dentro dos serviços de atenção e tratamento, implica em conhecer também a participação da
família dessas mulheres tanto na busca pelo tratamento como no tratamento em si.
Segundo Moreira (2004), em algumas famílias ocorre a alternância do comportamento
de uso abusivo de álcool e/ou outras drogas entre a pessoa em tratamento e outros membros
do grupo familiar. É importante que o tratamento do uso abusivo de álcool e/outras drogas
seja necessariamente sob a perspectiva da integralidade, confirmando a impossibilidade de
tratar somente o usuário, sem incluir o sistema familiar no tratamento, tendo em vista que
todos são atingidos pelos efeitos e conseqüência do uso de drogas por qualquer de seus
membros (Orth & Moré, 2008; Penso, 2001)
Figlie, Milagres e Crowe (2009), ao apresentarem sua experiência de prevenção
realizada na periferia de São Paulo, consideram que a capacidade de lidar com a dependência
química, assim como a responsabilidade pela estabilidade familiar, está relacionada com o
nível de informação que a família possui sobre a dependência química e com o grau de
fortalecimento dessa família para o convívio com o usuário de álcool e/ou outras drogas.
Ao investigar a percepção dos familiares de usuários de álcool e/ou outras drogas em
relação ao tratamento em comunidade terapêutica, Silva, Pinto e Machineski (2013) relatam
que, em muitas das vezes, é importante esclarecer aos familiares o compromisso que eles tem
com a pessoa em tratamento tendo em vista que os familiares demonstram acomodação
diante da realidade denotando falta de interação para as mudanças no ambiente familiar
necessárias para o sucesso da recuperação da pessoa em tratamento. Por outro lado, a família
muitas vezes desconhece as mudanças ocorridas na pessoa durante, e em conseqüência do
tratamento, devido a falta de seu envolvimento efetivo. Neste contexto a família apresenta-se
temerosa diante do retorno da pessoa ao convívio familiar.
Da mesma forma Figlie, Payá, Krulikowski, e Laranjeira (2002), observam que a
terapia familiar deve ser considerada como parte do tratamento - sem prescindir de um
programa de prevenção de recaídas - tendo em vista que durante o tratamento é esperado que
a família aprenda novas formas de lidar com a problemática do uso abusivo de álcool e/ou
outras drogas.
Partindo do princípio que o usuário de álcool e/ou outras drogas é um ser em relação,
Zampieri (2004) afirma que trabalhos na área de tratamento ou prevenção não podem
prescindir da família. Essa afirmação está ancorada na observação da autora de que pessoas
que convivem de forma direta ou indireta com alguém que apresenta algum tipo de
59

dependência de álcool e/ou outras drogas, em geral, apresentam comportamentos mal


adaptativos e compulsivos aprendidos e desenvolvidos na convivência familiar, com o
objetivo de sobreviver quando se encontrarem em situações de grande estresse ou dor
prolongada. Além disso, a autora ressalta que muitas vezes comportamentos aprendidos são
repassados no convívio familiar e tendem a manter-se, mesmo quando já destoam das
demandas mais recentes, como comportamentos resistentes à mudança.
Para Moreira (2004), a família é foco de atenção em diversas modalidades de
tratamento de saúde. No que tange ao tratamento de usuários de álcool e/ou outras drogas, a
autora ressalta a importância da participação da família nesse tratamento tendo em vista a
concepção de que a dependência atinge todo o sistema familiar onde se encontram pessoas
usuárias de álcool e/ou outras drogas. Em estudo realizado com familiares de usuários
abusivos de drogas internados em hospital do Município de São José dos Campos, Wenzel e
Paula (2010) observaram que diante da importância da família na vida do dependente químico
e ainda, das interações que se estabelecem entre família e dependente, é importante estar
atento para os sinais e sintomas da co-dependência, tornando necessário que o tratamento
dispensado a este seja extensivo aos familiares.
Stempliuk e Bursztein (1999), também vão ressaltar a importância da participação da
família no tratamento para provocar uma mudança efetiva no comportamento do dependente
químico. Para o autor conhecer “quem é essa família” é tão esclarecedor sobre os usuários em
tratamento quanto as entrevistas e anamneses clínicas realizadas com os próprios usuários.
Acerca da abordagem da família no tratamento da dependência química, Aleluia
(2010) observa que é fundamental incluir a família desde a abordagem inicial do problema até
a manutenção do tratamento e a prevenção da recaída. Nesse contexto, a abordagem
terapêutica para essa clientela, deve levar em conta:1) a ausência de informação da família
acerca do problema e sobre o adoecimento familiar, 2) a necessidade imediata da mudança
dos padrões do relacionamento familiar disfuncional e 3) a importância da manutenção das
mudanças efetivadas, geradoras de padrões mais saudáveis para o grupo familiar.
Para Seadi e Oliveira (2009), a família é uma instância protetora no caso de uso e/ou
abuso de substâncias. Deste modo, recomendam que, o quanto antes, deve ser oportunizado
tratamento para o usuário e para sua família, em especial quando a dependência química já for
um fato. Moreira (2004) ao discutir a participação dos familiares no tratamento de
dependentes químicos, assim como a eficácia de instrumentos grupais para intervenção no
grupo familiar, conclui que considerando a complexidade da dependência familiar, esta
60

também merece atenção na busca constante de aprimoramento. Assim sendo, a participação


da família no tratamento é fundamental (Kalina, 1999; Penso, Costa & Sudbrack, 2008).
Kalina e Kovadloff (1988), consideram que o processo de tratamento do usuário
abusivo de álcool e/ou outras drogas, está ligado à transformação das estruturas do sistema
social em que ele está inserido e onde teve início o uso de drogas. Dessa forma, para tornar
possível o tratamento dessa pessoa, assim como para apoiá-la no processo de mudança de
comportamento na busca por uma vida sem o uso de álcool e/ou outras drogas, é necessário
que aconteça mudanças não apenas para o usuário, mas também no contexto no qual ele está
inserido, que elimine, até onde seja possível, a possibilidade de proliferação do uso de drogas.
Como afirma Kalina (1991) os grupos de orientação dos familiares e amigos, podem ajudá-los
a modificarem-se e por conseqüência, colaborarem com o membro da família em tratamento.
Desde modo, o autor, em sua pratica clínica recomenda sessões de terapia familiar para todos.
Esta postura de valorização da inclusão da família no tratamento não é apenas de
pesquisadores e autores individuais, mas também de organizações que tratam do assunto
como o National Institute of Drug Abuse - NIDA. A orientação do referido instituto é que o
tratamento a usuários de drogas deve abordar as diversas necessidades de uma pessoa, e não
apenas o seu abuso de drogas. Isso que dizer que, o tratamento para ser abrangente, deve ter
em conta idade, gênero, etnia e cultura, além da gravidade da dependência e os esforços
anteriores de parar de usar drogas, que também podem influenciar no tratamento. Além disso,
o NIDA ressalta que a combinação entre ambiente de tratamento, programa e serviços,
específicos para o nivel de necessidade da pessoa é a chave para o seu sucesso no momento de
voltar a uma vida produtiva (NIDA, 2012).
Silva, Macedo, Derntl e Bergami (2007), também afirmam que as famílias necessitam
de tratamento multi e interdisciplinar muitas vezes de urgência clínica, por vivenciarem
situações consideradas pelos autores como muito graves. Essa conclusão é reforçada pela
constatação dos autores de que o dependente de drogas muitas vezes assume, no contexto
familiar, a posição de elo entre os membros, assim como o papel de algoz do grupo.
Para Moraes, Braga, Souza, e Oriá, (2009), é importante considerar, além do
adoecimento, as dificuldades e necessidades do grupo familiar, tendo em vista que esses
aspectos podem influenciar diretamente na evolução do problema vivenciado pelo grupo. Na
vivência do grupo familiar, os membros influenciam e são influenciados entre si. O co-
dependente exerce influência sobre a pessoa em tratamento, razão pela qual deve ser chamado
61

a participar desse tratamento. Dessa forma, integrar a família na dinâmica de atenção a


pessoa em tratamento pode facilitar sua recuperação.
Neste sentido, Magalhães e Féres-Carneiro, (2005), afirmam que a organização da
família ocorre a partir do material psíquico transmitido coletivamente, transformando-o a
partir de sua própria herança geracional, ou seja, cada indivíduo acrescenta sua marca ao
tempo em que recebe as transmissões dos demais. Surgindo a partir da sua inscrição no
contexto familiar e no social, o indivíduo é alvo do investimento do grupo tanto para protegê-
lo quanto para apoiá-lo nas dificuldades decorrentes da imaturidade humana.
No que diz respeito especificamente ao tratamento de mulheres usuárias de álcool e
outras drogas, um estudo realizado por Nóbrega e Oliveira (2005) com mulheres usuárias de
álcool em instituição de tratamento especializada, registra que as mulheres raramente
comparecem para o atendimento, seja individual ou em atividades grupais, acompanhadas por
algum familiar. Além disso, o estudo registra que essas mulheres em geral solicitam que seus
familiares não sejam informados sobre a busca pelo tratamento, devido ao medo de
fracassarem nessa busca e à vergonha caso isso ocorra.
Durante o processo de resgate do indivíduo, a família pode ser uma grande aliada.
Entretanto, no desempenho dos papéis de co-dependentes, os familiares podem, por vezes,
colocar a pessoa que está em tratamento em situações consideradas de risco, mediante
comportamentos não adequados à recuperação da pessoa, tais como existência de um
contexto familiar caótico, monitoramento parental ineficiente, falta de vinculação mútua,
entre outros. (Seadi, 2007). Para a autora, não são raros os casos em que os familiares
boicotam o tratamento mediante atitudes extremistas ou com comportamentos negativos
para a pessoa em tratamento, evidenciando assim a importância da participação da família,
inclusive no processo terapêutico sob a forma de terapia sistêmica.
De acordo com Aleluia (2010), a abordagem da família pode ser realizada de várias
formas, sendo importante conhecer os motivos que levaram a família a buscar ajuda ou
tratamento, assim como observar como essa família está se relacionando com a problemática
do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, uma vez que essas informações podem sugerir
pistas importantes acerca das dificuldades e/ou entraves sistêmicos que atuam como
mantenedores da dependência química.
Mesmo sendo muito importante o envolvimento da família no tratamento, Seadi e
Oliveira (2009) afirmam que apesar de nossa sociedade estar convivendo com o aumento de
problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e outras drogas, acarretando o
62

envolvimento de muitas famílias, ainda existem poucas pesquisas que tratem de


intervenções focadas na família.
Na tentativa de melhor compreender as famílias de usuários abusivos de álcool e/ou
outras drogas, Matos, Pinto, e Jorge (2008), realizaram pesquisa com o objetivo de analisar a
percepção dos familiares de um grupo de orientação familiar em dependência química,
comparando o comportamento dos participantes antes e após o término das sessões, no que se
refere a: conduta familiar, expectativas, sentimentos, motivos e conceitos acerca do problema.
Como resultado dessa pesquisa, os autores observam que a família deve ser vista e tratada
como um dos fatores considerados “peças-chave” no processo de recuperação do dependente
químico, sendo que a realização de grupos de orientação familiar com caráter informativo e
educativo pode apresentar bons resultados não apenas por responder às demandas dos
familiares com relação ao uso de álcool e/ou outras drogas, mas também como recurso que
poderá contribuir para a melhoria das relações familiares influenciando na possibilidade do
usuário motivar-se para iniciar e/ou manter-se em tratamento. Para estes autores apesar de
estar sendo bastante estudada, as várias propostas para a inclusão da família no tratamento de
usuários abusivos de álcool e/ou outras drogas, ainda não apresentam consenso sobre o tipo
de abordagem a ser utilizado.
63

4 MÉTODO

Esta foi uma pesquisa exploratória, sendo a metodologia qualitativa escolhida para sua
realização. Nela foram investigadas as trajetórias de mulheres adultas usuárias de álcool e/ou
outras drogas, e suas famílias dentro dos serviços de atenção e tratamento na rede de saúde,
pública e/ou privada, no Distrito Federal, até chegar à Comunidade Terapêutica.
A pesquisa qualitativa é uma metodologia interpretativa onde o pesquisador encontra-
se envolvido em uma experiência sustentada e intensiva com os participantes da pesquisa, e
que apresenta algumas questões estratégicas, éticas e pessoais. Diante dessas questões, o
pesquisador irá identificar explicitamente seus vieses, valores, origens pessoais – tais como
gênero, história, cultura e status sócio-econômico que podem moldar suas interpretações
durante um estudo. É caracterizada como um método por meio do qual é possível conhecer
uma realidade complexa com vistas a compreende-la intensa e profundamente. (Creswel,
2010; Demo, 2001).
Dentro dessa mesma linha de raciocínio, Gonzalez Rey (2012), defende o caráter
construtivo e interpretativo do conhecimento, ressaltando a necessidade de que o pesquisador
esteja atento para o fato de que o processo de construção do conhecimento acerca de uma
realidade, seja ela qual for, não é linear. Assim, o autor afirma que devido ao inevitável e
necessário envolvimento e participação do pesquisador, a realidade deste se cruza com a
realidade do sujeito pesquisado, gerando um novo campo, que ele denomina “realidade inter-
relacionada”. Além disso, o autor afirma que pesquisas dessa natureza oportunizam ao
pesquisador, construir o conhecimento científico a partir de uma experiência individual. Isto
quer dizer que dentro de um contexto teórico bem definido, é possível validar uma maneira
diferente de compreender um determinado campo do conhecimento, de forma a legitimar a
construção do conhecimento científico.
O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Curso de
Pós-graduação em Psicologia, da Universidade Católica de Brasília, em Brasília, no dia 20 de
junho de 2014, sob o nº 692.955.

4.1 O CONTEXTO DA REALIZAÇÃO DA PESQUISA

O local da coleta foi uma instituição de tratamento para uso abusivo de álcool e/ou
outras drogas, denominada Comunidade Terapêutica, localizada no entorno do Distrito
Federal.
64

A filosofia do trabalho no modelo de comunidade terapêutica está embasada em


declaração feita, pelo jornalista Richar Beauvais, após internação na Comunidade Terapêutica
Daytop Village, localizada nos Estados Unidos, a qual está em sintonia com a premissa de
Alcóolicos Anônimos, na qual o jornalista admite que está internado devido a sua
incapacidade de esconder-se de si mesmo, ao tempo em que reconhece a importância do
convívio com seus pares para se conhecer e reconhecer por intermédio desses pares e no
convívio com eles (Serrat, 2001).
De acordo com o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID, 2007),
a Comunidade Terapêutica DAYTOP VILLAGE é o exemplo mais significativo deste tipo de
abordagem. Fundada em 1963 pelo Monsenhor William O`Brien e David Deitch, tornou-se
um programa terapêutico muito articulado.
Como conceitos norteadores do tratamento, são os Doze Passos de Alcoólicos
Anônimos – seguidos nas tarefas diárias realizada por cada residente – os Doze Princípios de
Amor Exigente e os Doze Passos da Co-Dependência – aplicados também na abordagem dos
familiares.

4.1.1 A Instituição

A Comunidade Terapêutica onde foi realizada a pesquisa, é uma das unidades de uma
ONG, fundada em abril de 1993, a qual é uma sociedade civil de caráter filantrópico, sem fins
lucrativos, cujo trabalho tem como uma de suas principais metas, a realização de projetos
educativos, visando auxiliar a comunidade a descobrir e vivenciar os valores relativos à
cidadania e qualidade de vida além de encontrar alternativas de solução para o problema do
comprometimento com as drogas lícitas e ilícitas. Para isso, optou por viabilizar um espaço
diferenciado, onde a humanização fosse priorizada, e que estivesse em consonância com as
mais recentes perspectivas de acolhimento e assistência a pessoas do sexo feminino usuárias
de álcool e/ou outras drogas. Para desenvolver o trabalho na recuperação e reinserção sócio-
familiar dessas pessoas psicossocialmente comprometidas com uso abusivo de álcool e/ou
outras drogas, criou-se, em 2007, a comunidade terapêutica que tem como finalidade o
tratamento de pessoas com essa problemática.
Desde então, a instituição, busca auxiliar as pessoas que buscam tratamento a
encontrar dentro de si razões suficientemente fortes para lutar por um mundo melhor. Na
medida em que oferece a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo, o trabalho da
instituição busca evitar que o mundo das drogas, da prostituição e da marginalidade as
65

envolva de forma definitiva. Neste contexto, no período de agosto de 2007 a março de 2015,
foram internadas para tratamento na Comunidade Terapêutica, 290 (duzentos e noventa)
mulheres.
A proposta de tratamento da instituição tem como objetivo promover a tutela
terapêutica das mulheres internadas e a sua reabilitação psicossocial, com base na adoção de
parâmetros que permitam desencadear o processo de reestruturação de sua vida psíquica e
social. Respeitando as necessidades de cada pessoa, a proposta busca atingir todas as variáveis
que, de alguma maneira, interferem na vida das mulheres internadas por meio de uma
dinâmica terapêutica baseada no atendimento multidisciplinar. Para isto, a instituição conta
com equipe de profissionais atuantes dentro das seguintes áreas: Psicologia, Pedagogia,
Técnico em Oficinas Ocupacionais, Homeopata Não-Médico, Acupunturista, Educador
Social, Análise Junguiana, Yoga, Terapeuta Especialista - 12 Passos, entre outros
profissionais.
Esses profissionais desenvolvem as atividades que constituem o plano terapêutico
estabelecido pela instituição, visto que o atendimento na modalidade de internação é
desenvolvido e realizado de acordo com o desenvolvimento individual, e é composto pelas
seguintes etapas:
Adaptação: período destinado à desintoxicação e integração da mulher
internada no ambiente e nas atividades da Comunidade, com o objetivo de modificar o
estilo de vida, restabelecer a confiança, o equilíbrio e despertar a esperança de que é
possível vencer a compulsão para viver em sobriedade na família e na sociedade.
Auto-conhecimento: período em que a mulher internada vivencia a troca de
experiência com as demais mulheres em tratamento, buscando comprometer-se com os
objetivos do tratamento participando consciente e voluntariamente das atividades de
rotina da Comunidade, quando então tem a oportunidade de errar, acertar e
experimentar as conseqüências de seu comportamento.
Ressocialização – após a fase de auto-conhecimento, a mulher internada tem a
oportunidade de realizar sua primeira saída da Comunidade, retornando ao convívio
dos familiares onde permanece por três dias consecutivos. Neste período é possível
avaliar o comportamento da residente fora do ambiente da Comunidade, assim como
verificar a reação de seus familiares com o advento do seu retorno ao lar.
66

4.2. PARTICIPANTES

As participantes desta pesquisa foram mulheres adultas que se encontravam internadas


para tratamento do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, em uma instituição denominada
Comunidade Terapêutica e seus respectivos familiares, durante os meses de outubro e
novembro de 2014.
Por tratar-se de pesquisa qualitativa, onde o mais importante não é a quantidade, mas a
qualidade das informações obtidas e a profundidade da análise das mesmas, foram
entrevistadas 09 (nove) pessoas, sendo 04 (quatro) participantes internadas e respectivos
familiares, totalizando 08 (oito) pessoas e 01 (uma) participante internada cujos familiares não
participaram, visto que estes familiares não acompanharam o tratamento dela na instituição.
Dentre as participantes internadas, 03 (três) realizaram a internação voluntariamente e 02
(duas) foram internadas em decorrência de recomendação judicial. Somente participaram da
pesquisa aquelas mulheres que, além de ter 18 anos de idade ou mais, sendo que o motivo da
internação foi o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas. Além disso, foi considerado como
critério para inclusão na pesquisa, estar internada por período maior ou igual a 02 (duas)
semanas e após serem esclarecidas acerca dos objetivos da pesquisa, aceitaram
voluntariamente participar da pesquisa mediante a assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido. (Anexo A)
No que se refere às famílias das mulheres internadas foram utilizados os seguintes
critérios de inclusão para participação na pesquisa: ter 18 anos de idade ou mais; ser familiar
da mulher internada; concordar expressamente em participar da pesquisa mediante a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. (Anexo B)
Tanto para as participantes internadas, quando para os familiares, foram utilizados os
seguintes critérios para excluir a participação: ter menos 18 anos de idade; ter dificuldade
auditiva ou dificuldade de fala, não concordar em participar da pesquisa e assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. (Anexos A e B)
Considerando a importância e necessidade de resguardar a privacidade de cada
participante, no contexto desta dissertação, não serão apresentados os respectivos nomes das
participantes, sendo que as informações acerca de cada uma serão identificadas com uma ou
duas letras o seu nome. Este critério foi adotado de comum acordo com o grupo de mulheres
internadas, após a realização de atividade visando identificar um nome simbólico para
identificá-las, porém não foi possível dar esse nome simbólico, devido a dificuldades dessas
mulheres com relação a percepção acerca de si mesmas. No que diz respeito a identificação
67

dos familiares, estes serão identificados com uma ou duas letras de seus respectivos nomes,
porém com a menção do vínculo familiar com a mulher internada.

4.3 INSTRUMENTOS

Para a coleta das informações necessárias, de acordo com os objetivos desta pesquisa,
foi utilizado o instrumento, apresentado a seguir:

4.3.1 Roteiro de Entrevista Semi-estruturada

Para conhecer a trajetória das mulheres pesquisadas e de seus familiares foram


utilizados dois roteiros de entrevista semi-estruturada, um para as mulheres internadas para
tratamento e outro para os familiares. Ambos os roteiros privilegiavam o conhecimento das
trajetórias das mulheres internadas tanto no que se refere ao uso de drogas quanto às ações na
busca por tratamento, visando conhecer os caminhos por elas percorridos a partir do início do
consumo de álcool e/ou outras drogas, até a busca por tratamento em regime de internação na
modalidade de comunidade terapêutica.
Além disso os roteiros permitiram investigar os motivos para a busca de tratamento, as
expectativas das participantes internadas e seus respectivos familiares, acerca dos tratamentos
realizados, tanto junto a rede de atenção e saúde do Distrito Federal, quanto com relação ao
tratamento em comunidade terapêutica, a percepção dos participantes sobre os resultados
alcançados nos tratamentos realizados antes de chegar até a comunidade terapêutica, assim
como as expectativas de ambos - participantes internadas e respectivo familiar, no que tange a
conclusão do tratamento em regime de internação e conseqüente saída da comunidade
terapêutica. (Apêndices A e B)

4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS

4.4.1 Aproximação do contexto

Com o objetivo de dar transparência ao procedimento de coleta dos dados,


preliminarmente foi apresentado e discutido com a equipe de profissionais e dirigentes da
instituição, o projeto de pesquisa visando sua aprovação no âmbito da instituição. Na
seqüência, e com vistas a facilitar o processo de coleta das informações, a aproximação do
contexto da pesquisa ocorreu mediante a realização de visitas semanais a instituição nas quais
68

tivemos a oportunidade de estabelecer contato com todo o grupo de mulheres que na época se
encontravam internadas para tratamento. Para o estabelecimento de vínculo, utilizamos como
recurso algumas dinâmicas de grupo cujos conteúdos referiam-se a percepção de si e do outro,
e a importância da colaboração e participação de cada um visando o bem estar de todos. No
que se refere aos familiares, foram realizadas reuniões para apresentação do projeto, visando
informá-los sobre os objetivos do projeto de pesquisa, convidando-os a participar.
Após identificados todos os participantes, de acordo com os critérios de inclusão e
exclusão previamente estabelecidos, foram agendados encontros com as mulheres internadas e
com seus familiares, visando à realização das entrevistas, sendo que com as mulheres
internadas as entrevistas foram realizadas na instituição, e com os familiares, as entrevistas
foram realizadas em horário e local definidos em comum acordo com esses participantes.
Foram realizadas 09 (nove) entrevistas semiestruturadas, sendo 05 (cinco) com as
mulheres internadas e 04 (quatro) com familiares dessas mulheres, visto que uma das famílias
não participou, conforme já apontado anteriormente no item 4.2, com duração média de 90
(noventa) minutos, utilizando os roteiros específicos descritos anteriormente. Todas as
entrevistas realizadas foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra. Cabe esclarecer, que
aquela participante que não teve seus familiares entrevistados, foi devido ao fato de que estes
familiares não estiveram acompanhando o tratamento, alegando indisponibilidade para
participar das reuniões realizadas pela instituição com o objetivo de apoiar e orientar os
familiares no que tange ao processo terapêutico realizado pela instituição.
Vale ressaltar a importância do processo de transcrição acima mencionado, tendo em
vista que somente a partir dessas transcrições foi possível realizar a análise dos dados na
forma proposta para esta pesquisa.

4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

Na pesquisa qualitativa, este momento exige a participação ativa do pesquisador assim


como sua responsabilidade intelectual pela construção das informações resultantes da
pesquisa. Dessa forma, partindo de uma síntese teórica a ser desenvolvida pelo pesquisador, o
processo de construção da informação será regido por um modelo, que irá legitimar o
conhecimento gerado na medida em que produz novas zonas de sentido sobre o objeto de
pesquisa. (González Rey, 2012).
A epistemologia construtivo-interpretativa de González Rey, (2012), como já
mencionado anteriormente, pressupõe o levantamento de indicadores e a construção de Zonas
69

de Sentido. Para o autor, os indicadores dizem respeito aos significados atribuídos pelo
pesquisador, decorrentes da interpretação dada por este, às falas obtidas nas entrevistas, ao
tempo em que as Zonas de Sentido são espaços de inteligibilidade que se produzem no
processo de pesquisa cientifica, e tem seu valor agregado não pela replicação de um espaço
real, mas pela capacidade de continuar gerando novos espaços de inteligibilidade e assim
possibilitando zonas de ação sobre a realidade.
Assim, de posse dos dados obtidos por meio da transcrição das entrevistas, foram
identificados os indicadores que subsidiaram a construção das zonas de sentido. Inicialmente,
foram identificadas e tabuladas as informações sócio-demográficas das mulheres entrevistadas
e de seus familiares, e na seqüência, para permitir melhor compreensão acerca dos
participantes, a partir da leitura das entrevistas, foram construídas duas histórias para cada
participante: uma construída a partir da entrevista com cada mulher internada e outra
construída a partir da entrevista com o respectivo familiar.
As historias construídas, registram de forma resumida os respectivos contextos sócio-
econômico; a vivência e o convívio de cada uma delas com o uso de álcool e/ou outras
drogas; as respectivas relações familiares; as expectativas dos participantes internadas, acerca
dos tratamentos realizados, tanto junto a rede de atenção e saúde do Distrito Federal, quanto
com relação ao tratamento em comunidade terapêutica, a percepção dos participantes sobre os
resultados alcançados nos tratamentos realizados antes de chegar até a comunidade
terapêutica, assim como as suas expectativas no que tange a conclusão do tratamento em
regime de internação e conseqüente saída da comunidade terapêutica, gerando o item 5 -
RESULTADOS, desta dissertação.
Partindo da leitura geral de todas as informações, foram identificados indicadores, os
quais dizem respeito aos aspectos comuns existentes nos relatos dos participantes, tanto das
mulheres quanto dos respectivos familiares. Em decorrência desse procedimento, foi possível
observar os sentidos comuns entre esses indicadores, possibilitando assim a construção de 03
(três) zonas de sentido, as quais são discutidas no item 6 desta dissertação e dizem respeito
aos seguintes aspectos:
1) a trajetória, os motivos, as expectativas e a percepção dos resultados, nos serviços
de atenção e tratamento existentes na rede pública de saúde pública e/ou privada no Distrito
Federal;
2) expectativas e resultados com relação ao tratamento em comunidade terapêutica; e
70

3) expectativas referentes a saída da comunidade terapêutica após a conclusão do


tratamento.
71

5 RESULTADOS

Iniciando a análise e interpretação das informações colhidas, apresentamos os dados


sócio demográficos individuais e familiares dos participantes, seguidos das trajetórias
individuais e familiares de cada uma das 05 (cinco) mulheres internadas para tratamento na
Comunidade Terapêutica.
Entretanto, conforme já descrito no item 4 - O MÉTODO, desta dissertação,
preliminarmente é importante registrar que considerando a importância de resguardar a
privacidade de cada um dos participantes desta pesquisa, durante o processo de análise e
discussão das informações colhidas, os participantes serão identificados pela primeira letra do
nome tanto as mulheres internadas quanto os respectivos familiares.

5.1 PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DAS MULHERES INTERNADAS

Mulher
Mulher Mulher Mulher
Característica Mulher Internada 01 Internada
Internada 03 Internada 04 Internada 05
02
Identificação I T M C MF
Idade 44 anos 23 anos 34 anos 33 anos 25 anos
Ensino Ensino Médio Superior Fundamental
Escolaridade Superior Incompleto
Médio Incompleto Completo Incompleto
Estado Civil Solteira Solteira Solteira Solteira Solteira
Naturalidade Brasília Brasília São Paulo Brasília Brasília
Nº de Filhos 02 02 02 03 02
Participação em
Não Não Não Não Sim
Programas de Governo
Técnico de
Enfermagem, e
Profissão Instrutor de Auto
--- --- Professora Manicure
Escola

Quadro 02 - Perfil Sócio-demográfico das Mulheres Internadas

5.2 PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DOS FAMILIARES DAS MULHERES


INTERNADAS

Característica Família 01 Família 02 Família 03 Família 04 Família 05


Identificação Irmão de I Mãe de T Mãe de M Familiar de C Cunhada de MF
Idade 51 anos 53 anos 59 anos 42 anos
Fundamental Fundamental
Escolaridade Superior Superior (Cursando)
Incompleto Incompleto
Estado Civil Divorciado Viúva Divorciada Divorciada
Naturalidade Brasília Piauí São Paulo Ceará
Nº de Filhos 03 03 03 (adotivos) 01
Participação em
Não Não Não Não
Programas de Governo
Profissão Policial Federal Do Lar Produtora Cultural Empregada Doméstica

Quadro 03 - Perfil Sócio-demográfico dos Familiares das Mulheres Internadas


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5.3 CONHECENDO AS HISTORIAS

5.3.1 A História de I

5.3.1.1 A história contatada pela mulher

Ao falar sobre si, I. observa que existem dois momentos em sua vida separados pela
internação na Comunidade Terapêutica. Antes era uma pessoa ansiosa e que por não saber
lidar com as situações difíceis de seu cotidiano essa ansiedade a levou ao uso de drogas.
Também tinha dificuldade para a realização de algumas atividades, como ler e estudar. Após a
internação na Comunidade Terapêutica, além de compreender que para resolver os problemas
não há necessidade do uso de drogas, percebeu que essa dificuldade nada mais era que um
bloqueio gerado por ela mesma e aprendeu que pode superar a partir do próprio esforço, uma
vez que se empenha nas coisas que realiza, o que faz com que aprenda a gostar de tudo que
faz.
Fez um curso profissionalizante para trabalhar em comunidade terapêutica e sonha
terminar o curso de psicologia que iniciou a pouco tempo. Gosta de cozinhar e também gosta
de lidar com a horta e de artesanato, o que descobriu depois de ter iniciado o tratamento.
Acredita que hoje é uma nova pessoa; depois de iniciar o tratamento se vê como uma pessoa
renovada.
I. é solteira, tem dois filhos: o mais velho tem 22 anos e a caçula tem 15 anos. Não
paga aluguel, pois tem casa própria. A fonte de renda da família é oriunda apenas do trabalho
dela, porém nos últimos meses o filho começou a trabalhar. Não participa de programa social
porque acredita que não precisa uma vez que têm renda própria. Reside no Distrito Federal
desde que nasceu há 44 anos. É auxiliar de enfermagem e instrutora de auto-escola.
Em sua opinião, seu pai era alcoólatra e faleceu com 80 anos em um acidente de carro,
no qual estava embriagado e a mãe faleceu com 82 anos. Atualmente sua família de origem
está reduzida a apenas um irmão, que é mais velho. Seus pais tiveram 09 filhos incluindo ela,
entretanto os três primeiros faleceram antes de ela nascer e os outros 05 também já faleceram.
Além disso, seu pai teve mais um filho fora do casamento que I. não conhece.
No que tange ao relacionamento com a mãe, ela considera que esta era muito ausente
da sua vida porque trabalhava muito, mas com relação às coisas materiais, a mãe sempre deu
a ela tudo que ela desejava, e quando negava algo, em seguida voltava atrás. I. considera que a
mãe não tinha um pulso firme com ela.
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O pai por sua vez tentava ter o pulso firme mais do que a mãe, mas não conseguia
muitos resultados. I. acredita que essa dificuldade era devida ao relacionamento deles, que
não era muito harmonizado em função do fato de que a mãe tinha uma renda superior à do
pai, e isso provocava nele posição um pouco inferiorizada diante da mãe. I. relata que se dava
bem com o pai em especial nas ocasiões em que estavam bebendo juntos, porém em outras
ocasiões também tiveram alguns conflitos e divergência de opiniões.
I. teve dois relacionamentos conjugais que duraram 04 e 11 anos, respectivamente. Os
dois cônjuges eram usuários de álcool e de drogas, sendo que I. atribui a este fato, as
dificuldades vivenciadas nos dois relacionamentos.
Relata que começou a ingerir álcool aos 12 anos de idade em ambiente familiar no
interior do Ceará. Aos 16 anos experimentou maconha e lança perfume. Neste contexto ela
relata que foi também com essa idade, que ela perdeu a virgindade. I. observa que naquela
oportunidade, embora bebesse muito, acreditava que não ficava bêbada.
Aos 17 anos, quando começou a trabalhar, teve também o primeiro contato com o uso
de cocaína. Nessa oportunidade acreditava que poderia manter seu hábito de usar a droga
tendo em vista que não dependia de ninguém para comprar a droga e, portanto, poderia fazer
uso da substância que desejasse. Na seqüência também fez uso de merla. Com o passar do
tempo começou a misturar as substâncias: bebida, lança perfume, maconha, cocaína. "Quando
ficava muito bêbada cheirava e quando estava muito travada bebia para destravar...”.
Relata que antes de uma de suas irmãs morrer realizou uma tentativa de auto-
extermínio, injetando na artéria radial uma solução feita de água e os medicamentos
controlados que fazia uso. Diante desses fatos, começou a fazer tratamento psiquiátrico em
2004 e usar medicação controlada. Acredita que ficou dependente do remédio.
Naquela época, I. acreditava que não precisaria parar de usar cocaína e quando o
médico questionou a razão porque ela não parava de usar, ela disse que ainda não tinha
vontade de parar. Em sua visão, foi nessa oportunidade que a família percebeu que os
comportamentos dela não estavam adequados. Relata que nessa época trabalhava em uma
clínica psiquiátrica e já estava levando droga para seu uso durante o período de trabalho que
eram plantões noturnos. Acreditava que o uso de cocaína ajudaria a manter-se acordada.
Quando começou o tratamento com psiquiatra iniciou o uso de medicação controlada e
alternava o uso do remédio com o uso da droga. Na seqüência passou a usar as duas
substâncias juntas: medicamento controlado e cocaína. Paralelamente ao tratamento com o
psiquiatra, I. iniciou psicoterapia por duas vezes, mas não deu continuidade. Antes de sua
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mãe falecer, e por recomendação de uma pessoa conhecida da família, I. com a expectativa de
encontrar um caminho para parar de usar drogas, procurou o CAPS próximo de sua
residência. Lá começou a fazer o acompanhamento, entretanto, relata que começou a se
relacionar com uma pessoa que também fazia acompanhamento no mesmo grupo e
abandonou o tratamento.
I. afirma que ao iniciar o tratamento no CAPS, esperava conseguir identificar o(s)
verdadeiro(s) motivo(s) que a fez(fizeram) usar drogas durante tantos anos, resultado este que
está obtendo agora durante o tratamento em regime de internação. No que tange à tentativa de
tratamento no CAPS, no seu ponto de vista, a modalidade tratamento mista, torna mais difícil
a abstinência e/ou a sobriedade. Sua outra tentativa para parar de usar drogas foi a internação
em Comunidade Terapêutica.
I. acredita que a sua decisão para internação em comunidade terapêutica ocorreu
porque já não estava "agüentando mais a vida que levava". Relata que primeiro pediu ajuda a
Deus, acendeu muitas velas, fez muitas orações ajoelhada, mas não conseguia parar de usar. O
dinheiro estava acabando e estava entrando em desespero. Nesse momento ligou para uma
amiga e pediu ajuda. Essa amiga indicou o tratamento na Comunidade Terapêutica.
Então ela consultou um psiquiatra na rede pública do Distrito Federal - Hospital
Psiquiátrico São Vicente de Paula e ele deu encaminhamento para internação. O psiquiatra
consultado foi receptivo, entendeu o que estava acontecendo e passou uma medicação para
que ela se acalmasse. Essa medicação a fez dormir o suficiente para poder esperar o dia da
internação sem sair de casa para usar drogas. Na oportunidade da internação relata que ainda
estava um pouco atordoada e sob efeito de medicação.
No início pensou algumas vezes em desistir do tratamento. Entretanto, com o passar
do tempo começou a pensar que não podia mais desistir de si mesma e do tratamento ou
deixar passar a oportunidade. No início da internação I. relata que não tinha muita noção
sobre o que iria acontecer ou como seria o tratamento. Apesar disso não se preocupou, apenas
deixou acontecer. Relata que aprendeu que precisa viver um dia de cada vez e aprendeu a
gostar de viver dessa forma.
No que tange a sua saída da Comunidade Terapêutica, ela inicialmente afirma que não
tem idéia de como será, apenas acredita que vai ser diferente. Sente-se assustada diante desse
momento que ainda está por vir e que, por conseqüência, é desconhecido, mas menciona que
tem buscado se fortalecer por intermédio da oração, um hábito que adquiriu depois da
internação. Relata que tem descoberto coisas sobre si mesma durante o tratamento e que uma
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delas é que até o momento não fez o papel de mãe de seus filhos e que ao sair da Comunidade
terapêutica vai precisar assumir essa posição. Sente-se assustada, mas está buscando se
preparar para essa atividade que sabe será inevitável.
Acredita que não tem muitas pessoas com quem contar tendo em vista que sua família
no momento é reduzida, mas acredita que irá conseguir dar continuidade à sua vida porque
está aprendendo a viver um dia de cada vez.

5.3.1.2 A história contata pela família

O Sr. S. único irmão vivo de I, morou fora de Brasília durante muitos anos, e por
conseqüência, alega ter pouco contato com I. e seus filhos. Tem 51 anos, está no segundo
casamento, tem dois filhos, é servidor público. Relata que gostava de ler mas atualmente sua
rotina está restrita ao trabalho e ao convívio familiar. O Sr. S. diz que em sua família de
origem houve, em tempo distante, a suspeita de que uma de suas irmãs mais velhas, já
falecida, tivesse consumido drogas, entretanto, apesar dos comentários acerca de
comportamentos inadequados por parte dessa irmã, como ainda era muito jovem, não pode
afirmar com certeza. Atualmente, sua esposa e seu enteado fazem uso de medicação
controlada, para depressão e hiperatividade respectivamente.
Com relação a I. ele menciona que sempre soube que ela era uma pessoa com
comportamento diferente das outras irmãs, tais como problemas na escola, atribuindo esse
comportamento ao fato de ser filha caçula. Em 2007 veio a Brasília visitar uma das irmãs que
estava hospitalizada e que posteriormente veio a óbito, e nessa oportunidade em conversa com
I. esta contou que fazia uso de álcool e drogas.
Para ele isto foi uma "revelação" porque até aquele momento ele não imaginava que
isso ocorresse, e por isso ficou perplexo ao saber. Naquele momento não teve nenhum tipo de
ação, não tomou nenhuma atitude e não conversou com os pais que na época ainda eram
vivos. Relata que nunca discutiu o assunto com eles em especial porque não morava em
Brasília. Retornando em seguida para a cidade onde morava, o assunto ficou esquecido.
Posteriormente em 2010, I. procurou ajuda por iniciativa própria. O Sr. S. acredita que
ela teve boa vontade para procurar o tratamento, porém este não deu certo. Ele não sabe o que
houve, nem que fatores concorreram para que o tratamento não desse certo. No que tange ao
atendimento à família nessa tentativa de tratamento, relata que ele não recebeu nenhum tipo
de orientação, exceto uma reunião que foi realizada para fins de encaminhamento para o
tratamento. Segundo ele o tratamento sempre foi feito apenas com I.
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Após algum tempo ele recebeu um telefonema de I. dizendo que precisava ser
internada com urgência. Nessa oportunidade ela foi encaminhada para a Comunidade
terapêutica. Relata que nessa ocasião o fator desencadeante foi episódio de violência em casa
entre mãe e filhos para o qual foi necessária intervenção policial. Além disso, houve também
uma denúncia feita por vizinhos, junto ao Conselho Tutelar tendo em vista a convivência de
dois adultos usuários de álcool e/ou outras drogas, com uma adolescente. Vale ressaltar que
apesar de expressivos na história de vida de I. estes dois episódios, não foram relatados por
ela durante a realização da sua entrevista.
No que diz respeito às expectativas para após a saída de I. da Comunidade
Terapêutica, o familiar declara que está receoso, porque não sabe como será. Lembra que I. e
seus filhos possuem temperamento explosivo o que provoca constantes brigas e discussões
entre eles. Entretanto, ressalta que espera que I. retome suas atividades laborais, tendo em
vista que ela tem uma filha adolescente que precisa de cuidados, além dela própria precisar de
lutar pela subsistência de ambas, juntamente com o filho mais velho.
No que tange ao apoio que poderia ser dado à I., após o tratamento em regime de
internação, a preocupação do familiar está na questão financeira por reconhecer que possui
limitações nesse aspecto; mas acredita que poderá dar a ela apoio moral, em especial porque I.
tem profissão e poderá procurar emprego tão logo saia da internação. Acrescenta ainda que
caso seja necessário o seu comparecimento a alguma atividade relacionada ao tratamento de I.
após a saída da internação, será para ele mais um sacrifício.

5.3.2 A História de T.

5.3.2.1 A história contatada pela mulher

T. considera que é difícil falar sobre si, pois até aquele momento não havia sido
questionada a esse respeito, assim responde afirmando "num sei.". Entretanto disse que
acredita que tem problemas de nervosismo e intolerância. Apesar disso, faz amizades com
facilidade porque é comunicativa. Acredita que já possui experiência de vida suficiente para
passar para outras pessoas.
T. é solteira, vinte e três anos, nasceu no Distrito Federal, tem dois filhos menores que
estão sob a tutela de sua irmã mais velha. Antes da internação morava apenas com sua mãe,
porque sua irmã mais nova saiu de casa com o namorado; não pagava aluguel porque a casa
pertence a sua mãe. No momento não participa de Programa Social. Concluiu ensino médio e
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fez curso de espanhol, mas não concluiu. Os cursos profissionalizantes que concluiu foram:
panificação, horticultura, oleicultura e artesanato, os quais foram oferecidos durante sua
internação. Além destes, antes da internação, T. iniciou os cursos de informática, operador de
telemarketing e recepcionista, porém devido ao uso de drogas não concluiu nenhum deles.
No dia-a-dia, quando dispõe de tempo gosta de ler. A renda da família é oriunda da
pensão deixada pelo padrasto que já faleceu. Acredita que engravidou por causa do uso de
droga, uma vez que os relacionamentos com os homens nunca foram sérios. Tem dois filhos,
o mais velho com quatro anos e o mais novo com dois anos. Conviveu pouco tempo com os
filhos, uma vez que quando o mais novo completou 15 dias de nascido, ambos foram levados
para um abrigo pelo Conselho Tutelar, onde ficaram durante um ano, até a irmã mais velha
conseguir a guarda provisória.
T. acredita que os filhos foram levados para o abrigo e não ficaram, sob a guarda de
sua mãe, porque esta faz uso de medicação controlada de forma abusiva, o que poderia
colocar as crianças em risco. Reconhece que não se relacionou com os filhos, quando
menciona que estes não a chamavam de mãe, fato que passou a ocorrer depois desta
internação.
Apesar de conhecê-lo, porque ele sempre pagou a pensão, não conviveu com o pai
biológico. Exceto sua mãe, todas as pessoas de sua família fazem ou fizeram uso de álcool
e/ou drogas. T. observa que todos os relacionamentos de sua mãe foram com alcoólatras. Tem
duas irmãs por parte da mãe e uma por parte do pai com a qual não conviveu. A mais velha
tem 33 anos e a mais nova tem 19 anos.
Considerando que "tudo é droga", T. inicia seu relato dizendo que iniciou o uso de
drogas pelo cigarro aos treze anos. Entretanto, T. relatou episódio de embriagues aos sete
anos, que ocorreu em casa, com sua mãe e o padrasto, que a flagraram bebendo escondido,
durante um churrasco em sua residência, e que como forma de punição, a obrigaram a beber
algumas doses de 51. Posteriormente, aos 14 anos, começou a beber com regularidade. Aos
quinze anos experimentou maconha e chá de beladona, na seqüência iniciou o uso de cocaína,
passando para o haxixe e em seguida para o crack, quando fumava um baseado junto com um
rapaz, que na época era seu amigo.
Sua primeira internação para parar de usar drogas, realizada em uma Casa de
Recuperação Evangélica localizada em Planaltina-DF, ocorreu porque ia perder a guarda dos
filhos depois de denúncia feita pelos vizinhos. T. relatou que antes desta internação, já havia
sido internada por várias vezes, incluindo a Comunidade terapêutica na qual se encontra
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internada no momento de realização da pesquisa, entretanto em nenhuma dessas


oportunidades T. estava disposta a parar de usar drogas, "queria só engordar um pouquinho".
T. já esteve presa devido a denúncia de agressões feita por sua mãe (Lei Maria da Penha),
entretanto T. afirma que nunca a agrediu.
Quando saiu da primeira prisão, T. foi encaminhada para uma instituição de
acolhimento para mulheres que sofreram violência doméstica, e considerando o uso de
drogas, a instituição a encaminhou para tratamento, o que ocorreu no período de 08 a 24 de
dezembro. Nesse período residia no abrigo e era atendida no CAPS, mas como estava
próximo do natal e havia descoberto que sua mãe estava doente, desistiu do tratamento, saiu
do abrigo e voltou para a casa da mãe.
Posteriormente, depois de abordada pela equipe do consultório de rua, ficou internada
no CAPS durante quatorze dias, com a expectativa de ir para uma internação em Comunidade
terapêutica, mas antes de internar resolveu usar mais um pouco, então saiu, usou droga
durante alguns dias e retornou a sua casa. Sua mãe a levou novamente ao CAPS, ela foi
novamente internada mas fugiu do tratamento.
A internação atual, é decorrente de sentença judicial. T afirma que não estava
traficando quando foi presa, estava com uma pedra na mão e alguns objetos roubados na
mochila, e que o policial colocou a pedra que estava na sua mão dentro de sua mochila e
disseram que era tráfico. T. acredita que a prisão foi efetivada porque já haviam outros
mandatos de prisão devido a denúncias de agressão física que sua mãe havia feito contra ela.
T. Não relatou suas expectativas quanto aos tratamentos realizados.
Considerando que nas tentativas de tratamento realizadas anteriormente, na
modalidade de internação T. não estava disposta a parar de usar drogas, visto que em suas
palavras T. "queria só engordar um pouquinho", não há como identificar possíveis resultados
uma vez que não houve adesão ao tratamento. Entretanto, no que se refere ao tratamento
ambulatorial realizado no CAPS, para ela não foi possível identificar resultados, tendo em
vista que nessa metodologia a utilização de medicamentos dificulta a reflexão sobre si mesma
e sobre sua realidade.
T. disse que quando chegou estava com a "mesma cabeça que saí do presídio...”;
imaginava que iria passar somente uma semana internada e iria fugir novamente. Mas depois
da abordagem feita pela equipe da instituição, conseguiu entender a importância de parar de
usar drogas e quer concluir o tratamento.
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5.3.2.2 A história contata pela família

A Sra. A., mãe de T., não se recorda a idade de T. quando percebeu pela primeira vez
que ela estava usando drogas. Disse que desconfiou primeiro do rapaz que morava com a filha
mais velha, depois de uma briga entre T. e essa irmã. Disse que entrou em desespero e
começou a procurar tratamento para T. A primeira tentativa foi uma internação em Goiânia,
mas T. fugiu no mesmo dia, tendo retornado a Brasília e chegado em casa primeiro que sua
mãe.
Apesar disso, a Sra. A. insistiu em tratá-la, mediante outras internações as quais
totalizaram seis tentativas, sendo que T. fugiu de todas elas. Devido à idade de T. na época, a
Sra. A. conseguiu as internações por intermédio do Conselho Tutelar. Informou ainda que a
família não recebeu nenhum tipo de orientação ou tratamento por ocasião das outras
internações.
Para conseguir que T. fosse internada novamente, a Sra. A. relata que, com auxílio de
alguns conhecidos, preparou uma armadilha para que T. fosse presa como se estivesse
portando droga em quantidade suficiente para ser considerada traficante. Após a prisão, a Sra.
A. conseguiu, também com a ajuda de algumas pessoas conhecidas que T. fosse transferida
para uma instituição de tratamento, que é a Comunidade terapêutica na qual estava internada
no momento da realização desta pesquisa.
No que diz respeito às expectativas acerca da atual internação, A. relatou que foi
tranqüilizada pela promotora de justiça, que lhe disse "lá dentro ela estaria sendo tratada
como ser humano, não como bicho como acontece na rua...", e, ressaltando que irá apoiá-la
no que for necessário e possível, espera que ao concluir o tratamento T. esteja disposta a
procurar um emprego para trabalhar e cuidar dos filhos.

5.3.3 A História de M.

5.3.3.1 A história contatada pela mulher

Ao iniciar o relato sobre si mesma, M. registra que “se fosse pra falar de quando eu
tava na ativa, eu diria que eu era uma pessoa triste, amargurada, raivosa, estressada, mas
hoje eu mudei muito.” Atualmente, depois de parar o uso de álcool e/ou outras drogas, e
iniciar o tratamento, M, acredita que se conhece melhor e acredita que pode ser feliz com
poucas coisas, em lugares diferentes, como a área rural onde se encontra internada.
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Descreve a si mesma como uma pessoa dependente, não das drogas, mas de pessoas,
que não sabe viver só. As vezes mesmo em meio a muitas pessoas sente-se sozinha. Acredita
que ainda não sabe como lidar com o ser humano, o que por vezes a faz ser grosseira e
aparentemente agressiva, e por isso as vezes prefere ficar só. Diz que, quanto a este aspecto de
sua personalidade, aprendeu muito depois que iniciou o tratamento na Comunidade
terapêutica.
M. é filha adotiva, do primeiro casamento de sua mãe, em uma família que foi
composta pelo casal, ela e mais dois irmãos também adotivos. É solteira, tem 34 anos e dois
filhos: o menino tem onze anos e a menina tem nove anos. Ambos moram com sua mãe em
São Paulo. O irmão do meio tem 32 anos e o mais novo 24. Antes da internação morava com
sua companheira, que também era usuária de álcool e/ou outras drogas.
M. acredita que tem muitas habilidades, pois sabe fazer muitas coisas difíceis, como
dobraduras, mas não pratica por preguiça. Aprendeu a tocar teclado e fez curso de
informática, chocolate e culinária. Também iniciou curso de bijuterias, mas não quis terminar.
Reconhece que perdeu um bom tempo de sua vida se recusando a usar o que aprendeu, porque
queria pirraçar seu pai. Entretanto, M. trabalhou como auxiliar de secretária em uma firma de
segurança, estagiou em um Ministério, trabalhou na empresa de sua mãe como secretária e no
escritório do pai também como secretária.
Em sua adolescência, se considerava uma pessoa normal, mas começou a sentir
dificuldade para aprender. Parou de estudar e não acredita que vai voltar porque se sente
burra, pelo fato de acreditar ter um Q.I. mais baixo que de outras pessoas. Não se recorda de
ter feito teste para quantificar seu Q.I., mas sabe que tem dificuldade para aprender porque
quando mais jovem, esta informação foi passada a ela pelo pai, depois de conversar com uma
psicopedagoga. M. afirma que sabe ler e escrever, apesar da afirmação da psicopedagoga no
sentido de que ela não iria conseguir tais habilidades.
Em sua família o uso de álcool pode ser observado somente em tios, tanto paternos
como maternos. Entretanto, M. observa que sua mãe não bebe porque passa mal, enquanto
que seu pai bebe quando está estressado, mas acredita que ele não bebe mais porque sabe que
não pode fazê-lo devido a diabetes. Apesar disso, M. registra que quando seu pai quer beber,
“ele bebe demais”.
Seus pais e irmãos, mudaram-se para São Paulo devido ao trabalho de seu pai e,
devido ao uso de drogas de M. levaram com eles seus dois filhos com eles. M. diz que não
foi junto com seus familiares para poder ficar com sua companheira.
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Descreve seu relacionamento com seu pai como “um pouco conturbado”, devido às
constantes brigas. Acredita que seu comportamento grosseiro e agressivo com as pessoas, foi
aprendido por intermédio do comportamento do pai que, embora sem contato físico, sempre
foi muito agressivo e hostil com sua mãe, se dirigindo a ela com gritos, xingamentos e gestos
de humilhação. No que tange ao relacionamento com sua mãe reconhece que é mais tranqüilo,
sendo que em algumas oportunidades M. a agredia verbalmente, mas apesar de reconhecer
que a mãe não merecia a grosseria, ainda não consegue pedir desculpas.
Com os irmãos a relação não é de todo ruim, mas já ficaram cerca de um ano sem
conversarem. M. acredita que os irmãos deixaram de conversar com ela devido a algum
comentário que seu pai fez. Com relação aos relacionamentos afetivos, relata que com o pai
de seus filhos o relacionamento foi difícil, porque ele bebia muito e armava muitas brigas em
casa e na rua. O segundo relacionamento, com a companheira, também não foi fácil. M.
acredita que isso ocorreu porque não era fiel a ela, sempre procurando motivos para brigar e
sair de casa em busca de novas aventuras.
Afirma que sua dificuldade para se relacionar com os filhos iniciou a partir do
momento que eles começaram a ficar independentes. Acredita que não tem amigos porque,
em alguns casos o pai os criticava muito e em outros casos devido ao seu uso de álcool e/ou
outras drogas.
Embora freqüentasse uma religião onde, na época, o uso de maconha – que era
identificada com outro nome - era permitido, em sua visão M. relata que seu primeiro contato
com as drogas foi com a maconha e em casa com seu irmão mais novo. M. considera a
primeira vez de uso com o irmão, porque quando usou, por apenas uma vez, no contexto
religioso não gostou da experiência, ficou algum tempo sem usar, voltando ao uso junto com
o irmão, quando estava com 18 anos.
O primeiro contato com a cocaína foi em julho de 2014, quando sua mãe disse
que não poderia ir para São Paulo passar férias com seus filhos, “porque iria arrumar
confusão e dar trabalho lá...”. Ficou com raiva e foi para a rua, usou, mas não gostou do
efeito; em setembro de 2014, depois de brigar com a companheira, saiu de casa, ficou alguns
dias na rua e estava desejando morrer porque estava muito gorda. Ao saber que o crack
emagrece e mata, julgou haver encontrado uma solução rápida e fácil, e iniciou seu uso.
Relata que já tentou morrer tomando veneno e produtos de limpeza, mas
sempre aparecia uma alma caridosa, para ajudar a socorrer e só não tentou morrer usando
faca, porque a dor é muito grande. M. fez uso de medicação controlada – anti-psicótico –
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durante algum tempo, paralelamente ao uso de drogas. Também fez uso de heroína, durante
cerca de nove meses.
Quando ainda se relacionava com o pai de seus filhos, M. foi internada em uma
instituição localizada no sul de Minas Gerais, vinculada a uma igreja do Santo Daime. Lá
fazia uso do chá e aprendeu a cuidar da casa. M. menciona que, nessa época, era menor de
idade e que a internação não teve como objetivo o tratamento para parar de usar drogas, visto
que naquela época ela ainda não fazia uso. Para ela, a internação foi uma forma que seus pais
encontraram para afastá-la do pai de seus filhos, visto que este não tinha “um passado muito
branquinho”. Ao completar 21 anos, M. deixou a instituição onde estava internada e foi
morar com o pai de seus filhos. Este relacionamento durou seis anos e nove meses.
Para interromper o uso de drogas, M. relata que esta internação foi sua primeira
tentativa. Antes de ser internada, tentou controlar o uso não saindo de casa, mas não
conseguiu. Sempre escondeu o uso de drogas de sua família, com a intenção de não os fazer
sofrer.
Devido ao histórico de depressão, freqüentava hospital-dia em instituição da rede
privada onde fazia psicoterapia, mas não mencionava seu uso de drogas para a psicóloga, com
medo que ela contasse para seus pais. Quando finalmente criou coragem e falou sobre o uso
de drogas, a psicóloga contou para seus pais e a relação com eles piorou. Seu pai sugeriu nova
internação no sul de Minas Gerais, mas M. não aceitou.
Na seqüência, M. foi presa por portar drogas. Ficou pouco mais de dois meses presa e
depois da audiência, sua psicóloga sugeriu a internação em Comunidade terapêutica. M.
aceitou a internação porque seu pai disse que seria melhor para ela, devido a sua situação
jurídica, uma vez que poderia aliviar a sentença judicial, além do fato de que seria uma
oportunidade para tratamento. Com relação aos tratamentos anteriores, M. não relata nenhuma
expectativa específica, visto que em sua opinião, os tratamentos não estavam relacionados ao
uso de drogas.
Apesar de não estar relacionado ao uso de drogas, M. acredita que o processo
terapêutico vivenciado antes da internação na Comunidade terapêutica, permitiu que ela
percebesse que estava vivendo em um mundo paralelo, onde a fantasia era mais presente que
a realidade. Além disso, sente que a psicoterapia a ajudou a superar algumas das dificuldades
nas relações familiares.
Ao internar-se na Comunidade terapêutica, M. não foi informada sobre como seria o
tratamento. Imaginava que seria semelhante ao período que passou na Comunidade do Daime,
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mas com o tempo descobriu que era muito diferente. Já sentiu vontade de interromper o
tratamento porque em algumas oportunidades tem que enfrentar lembranças que a fazem
sofrer, mas durante este tratamento descobriu que um dos motivos que a levavam ao uso de
drogas era a dificuldade de enfrentar essas lembranças.
M. trouxe consigo para a internação a expectativa de tratar-se com relação ao uso de
álcool e/ou outras drogas, além de conhecer-se melhor para deixar de ser amargurada e azeda,
transformando-se em uma pessoa melhor, e está gostando do tratamento porque além de estar
aprendendo a se conhecer melhor, tem vivido menos momentos de raiva, está conseguindo
olhar-se no espelho e percebendo que é uma pessoa bonita, e principalmente que é possível
resolver os problemas sem usar drogas. Acredita que mudou depois que aprendeu a rir e a
sorrir, pois está conseguindo sentir felicidade. Além disso, apesar de todas as dificuldades,
está aprendendo a dar valor à família à qual pertencia.
Imagina que quando chegar o dia de sair da Comunidade terapêutica será muito triste e
diz que gostaria de ficar morando na Comunidade, mas ao mesmo tempo pensa em fazer
muitas coisas quando esse dia chegar. Pensa que poderia voltar a estudar, a fazer chocolate,
dobradura e continuar a escrever as poesias que começou durante a internação. Não quer fazer
muitos planos porque não sabe se irá ficar em Brasília ou se irá morar com a família em São
Paulo.
Não pensou sobre quem poderá apoiá-la quando deixar a Comunidade terapêutica, mas
espera continuar forte para manter-se sem o uso de drogas, porque sabe que turbulências
acontecem na vida de todas as pessoas, e ela espera que possa utilizar o aprendizado
conquistado durante a internação, para conseguir lidar com essas turbulências quando estiver
fora da Comunidade. Espera poder contar com o incentivo da família para dar continuidade
em sua vida, uma vez que, depois de Deus, os considera como sendo sua fortaleza.

5.3.3.2 A história contata pela família

A Sra. S. mãe adotiva de M., tem 58 anos, divorciada, produtora cultural e atualmente
está desempregada. Está cursando faculdade de Gestão Pública e pretende fazer concurso
público. Reside em São Paulo com o filho caçula e dois netos, filhos de M.. Paga aluguel e a
renda familiar é oriunda de seu ex-marido. Não participa de programas sociais. Seu ex-
marido, pai adotivo de M. é da área de saúde e já trabalhou é órgão público da área.
Atualmente é psicanalista.
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A Sra. S. diz que somente tomou conhecimento acerca do uso de drogas de M. em


2013. Acredita que antes de ir morar com o pai de seus filhos, M. não usava drogas, nem
mesmo quando foi internada na comunidade do Daime. A Sra. S. diz que o maior problema de
M. não é o uso de drogas, e sim o transtorno mental, registrando que talvez preferisse que
fosse só esse o problema dela.
Relata que em São Paulo, M. esteve vinculada a um programa de inserção social para
jovens com deficiência mental, apesar de M. ser “o quadro mais leve” existente e apoiado
pelo programa. Quando ainda moravam em São Paulo, a Sra. S. relata que M. apresentava
temperamento deprimido, chupava o dedo, e ficava olhando o horizonte, razão pela qual
consultaram um psiquiatra e M. foi medicada com anti-psicótico.
Em 2012, vieram para Brasília – a Sra. S., M. e os dois filhos de M. Nessa
oportunidade, a Sra. S. observou que o comportamento de M. começou a ficar diferente. M.
não queria fazer mais nada em casa, não ia a escola, demorava muito tempo no trajeto entre a
escola e sua residência, falando muitas mentiras. A Sra. S. pediu ajuda ao ex-marido sobre o
que fazer, e ele a atendeu dizendo que a Sra. S. ficasse atenta porque M. ficaria louca.
A Sra. S. relata que M. sempre esteve com ela, e que eventualmente observava
comportamento sexualmente transgressor, até que finalmente descobriu “esse negócio do
homossexualismo”. Nessa época, a Sra. S. entendendo esse comportamento como um
comportamento grave, decidiu que não seria saudável para os filhos de M. continuarem
morando perto dela, razão pela qual, M. passou a morar com o pai. A Sra. S. relata que na
tentativa de controlar o comportamento de M. seu pai adotivo fez algumas restrições e
exigências, mas ele ficou muito estressado com os pequenos furtos que M. praticava em sua
casa, que acabou levando-a para consultar um psiquiatra.
Este psiquiatra recomendou que M. fosse tratada em hospital-dia, onde teria atividades
regulares que ocupariam sua mente. O relato da Sra. S. foi confuso. Ora disse que acredita que
foi no hospital-dia que M. conheceu uma moça que fazia tratamento para dependência
química e elas começaram a namorar, ora disse que acredita que M. começou a roubar para
financiar o uso de drogas da namorada e por isso começou a usar drogas também.
O tratamento em hospital-dia teve duração de cerca de 06 meses, mas foi interrompido
devido a um acontecimento desagradável envolvendo M. e outros pacientes. Além disso, a
instituição rescindiu o convênio com o plano de saúde, e continuar o tratamento iria acarretar
uma despesa que a família não poderia honrar. A Sra. S. acredita que os profissionais que
atendiam M. não tinham conhecimento que M. fazia uso de álcool e outras drogas.
85

A Sra. S. relata que o tratamento no hospital-dia deixou a desejar porque os pacientes


não eram agrupados de acordo com o nível de comprometimento mental, além do fato de que
a equipe deveria “fazer algum tipo de encaminhamento” tendo em vista que M. possui
características muito específicas e que no hospital-dia tem pessoas muito comprometidas que
precisam de atendimento diferenciado. Entretanto, relata que tanto a psicóloga quanto o
psiquiatra que acompanhavam M. fizeram seus trabalhos corretamente.
Novamente seu relato se confunde quando afirma que, no hospital dia, esperava que
M. parasse de usar drogas, e que foi um susto muito grande para todos receber a notícia que
M. havia sido presa. Foi nessa oportunidade que a Sra. S. admitiu a possibilidade de M. estar
usando crack.
Após a prisão de M. a psicóloga do hospital-dia recomendou a internação. Por
desconhecer a metodologia de trabalho em Comunidade Terapêutica, a Sra. S. relata que sua
expectativa no momento da internação era apenas que M. interrompesse o uso de álcool e
outras drogas, mas com o tempo, tem observado que o trabalho da instituição vai além disso,
em especial depois de ter a oportunidade de conversar com M. e verificar que ela está mais
amadurecida e adulta. A Sra. S. faz ainda a observação de que não esperava esse resultado em
especial porque, durante a internação M. não está fazendo uso de medicação controlada.
Com relação a saída de M. do tratamento em regime de internação, a Sra. S. diz estar
preocupada porque M. não tem para onde ir. O irmão não a quer em casa; ela teme levá-la
para perto dos filhos devido ao seu comportamento transgressor e seu ex-marido diz que não a
quer por perto também. Disse que seu ex-marido está pensando, e providenciando, para
colocá-la em uma “Moradia Assistida”, localizada em uma cidade do interior de São Paulo,
tão logo ela conclua o tratamento na Comunidade Terapêutica, porque está convencido que
M. é “tecnicamente” louca, e tem “um traço esquizóide” além de um retardo, que não tem
jeito e, portanto, não pode conviver com o restante do grupo familiar.
A Sra. S. diz que com ela M. não pode ir morar quando sair da Comunidade
Terapêutica, porque não confia mais nela, mas como mãe deve cuidar de M. pelo resto de sua
vida, então sua esperança é que seu ex-marido utilize sua rede de relacionamentos e consiga
logo a moradia assistida para que M. possa ser transferida.
86

5.3.4 A História de C.

5.3.4.1 A história contatada pela mulher

C. se descreve como uma pessoa autêntica que gostava de viver a vida muito
intensamente. Uma pessoa que já foi feliz, mas devido aos caminhos que escolheu para viver
essa vida, acabou se perdendo no mundo das drogas. Gosta de ler, ouvir música, dar boas
gargalhadas e de dormir. É uma pessoa tranqüila que se relaciona bem com todos, apesar de
reconhecer que tem poucos amigos.
C. é solteira, nasceu em Brasília, tem 33 anos, e tem três filhos: o mais velho tem 17
anos, a menina tem seis anos e o caçula tem dois anos. Sempre morou sozinha, desde os vinte
e três anos de idade, pagando aluguel, visto que possui renda própria. Não participa de
programas sociais do governo. Tem três irmãos por parte de pai, 55 anos, 40 anos e outro com
trinta e poucos anos e um mais novo que ela, por parte de mãe e pai, com 28 anos.
C. possui vínculo empregatício em órgão público e pensa em se aperfeiçoar nos
estudos em sua área de atuação.
Dos quatro aos nove anos de idade foi molestada sexualmente por um colega de
trabalho de sua mãe. Não contou para os pais porque achava que era responsável pela atitude
dele, sentindo-se culpada, mas um dia seu pai estava bêbado e expulsou esse homem de sua
casa. Ela pensou que o pai a estava defendendo e quis abraçá-lo, mas o pai a rejeitou com
xingamentos de baixo calão.
Viveu maritalmente durante 06 anos com o pai de sua filha e do filho caçula, o qual é
também usuário de álcool e crack. Seu pai é usuário de álcool e outros membros da família de
origem dele também fazem ou fizeram uso de álcool e/ou outras drogas. Seu irmão mais novo
também é usuário de drogas.
Seu relacionamento com seu pai sempre foi difícil e C. acredita que isso ocorreu
porque seu pai “sempre aprontou” com sua mãe, a quem C. diz amar muito. Sua mãe faleceu
há alguns meses com 65 anos vítima de câncer. Não tem contato com os irmãos mais velhos,
devido a estes serem fruto do primeiro casamento de seu pai e C acredita que o falecimento de
sua mãe foi um fator que a aproximou de seu irmão mais novo, em especial porque o
relacionamento deles sempre foi difícil, chegando a ocorrer agressões verbais e físicas.
No momento está afastada do trabalho para tratamento, mas já trabalhou como
professora. Relata histórico de depressão, oportunidade em que iniciou o uso de medicação
controlada, a qual usava concomitantemente com álcool e drogas.
87

Seu primeiro contato com drogas foi aos 15 anos quando, junto com uma amiga,
fumou um cigarro de palha e quando bebeu em uma festa da escola. Aos vinte e dois anos
começou o uso de maconha junto com um amigo, sendo que esse uso durou cerca de três
anos. Nessa época estava desiludida com o final do primeiro casamento e começaram as crises
de depressão. Foi ao psiquiatra, mas não relatou o uso de maconha e começou a fazer uso
medicação controlada.
Ficou afastada do trabalho e começou a freqüentar festas RAVE. Durante esse período
começou o uso de cocaína e também fez uso de outras drogas sintéticas como êxtase e LSD.
Devido ao uso concomitante de drogas e medicação, vivenciou episódios de euforia e
depressão, tendo sido diagnosticada com transtorno bipolar. Conheceu o pai de sua filha e de
seu filho caçula e começou o uso de merla junto com ele, entretanto a merla começou a
desaparecer do mercado e eles começaram a usar o crack.
A primeira tentativa de tratamento foi em 2011, depois de uma briga com o
companheiro na qual ele a agrediu fisicamente. Ele foi internado para tratamento e ela tentou,
por conta própria parar o uso porque acreditava que longe dele conseguiria ficar sóbria. Pediu
ajuda para amigas que freqüentava o mesmo centro espírita que ela.
Depois de algum tempo decidiu contar para o psiquiatra que a acompanhava que já
havia usado merla e estava usando crack, mas o médico não fez nova avaliação acerca do
diagnóstico de transtorno bipolar e ela continuou usando medicação controlada,
concomitantemente com o uso de drogas.
Desses tratamentos acredita que obteve resultado somente durante o período que
estava interessada em fazer o tratamento e quando perdia o interesse voltava ao uso cada vez
mais intenso. Em 2013, por recomendação do órgão empregador, a para atender a pedido de
sua mãe, internou-se para tratamento em uma instituição evangélica, mas diz que foi a mesma
coisa de não ter feito tratamento algum. Dois meses depois de sair da internação, teve uma
recaída no uso. Após essa recaída saiu de Brasília.
Morou fora de Brasília por dois anos, e quando voltou, intensificou o uso de drogas,
chegando a vender os bens móveis e utensílios domésticos – máquina de lavar, televisão, etc.,
para financiar o consumo de drogas, uma vez que sempre comprava e consumia em grandes
quantidades. Depois de uma briga com seu companheiro, seu irmão a levou para casa dele e
procurou o CAPS para pedir sua internação e lá no CAPS ficaram sabendo da Comunidade
Terapêutica na qual estava internada no momento de realização desta pesquisa. C. Não relata
as expectativas que teve sobre os tratamentos que realizou.
88

Considerando sua experiência de internação na instituição evangélica que também era


denominada Comunidade Terapêutica, C. esperava que fosse realizar atividades semelhantes,
e que fosse ficar apenas acolhida “sem cobranças”, entretanto depois de internada descobriu
que nesta instituição havia uma metodologia de trabalho diferente da instituição anterior, por
meio da qual foi possível a ela, reaprender alguns hábitos e comportamentos simples, como:
higiene pessoal, modo de vestir-se, maneiras de falar, etc., que devido ao uso de drogas havia
esquecido.
Sente-se gratificada por estar fazendo o tratamento, tendo em vista a convivência com
as demais internas que, na medida do possível, é harmônica e enriquecedora. Não estabeleceu
metas para após sua saída da Comunidade, mas sabe que vai retornar ao trabalho e pretende
retomar o convívio com os filhos. Acredita que mesmo não acompanhando seu tratamento,
poderá contar com o apoio do irmão para recomeçar sua vida, pois seu principal aprendizado
neste tratamento foi que será preciso mudar completamente o próprio estilo de vida uma vez
que é imperioso começar a viver novamente de forma diferente.

5.3.4.2 A história contata pela família

A família de C. não acompanhou o tratamento dela na instituição e, por conseqüência,


não aceitou o convite para participar da pesquisa.

5.3.5 A História de M. F.

5.3.5.1 A história contatada pela mulher

M. F. se descreve como uma pessoa insegura de si mesma, que sempre pensa coisas
negativas, que é muito sentimental, que chora muito e com facilidade. Acredita que tem bom
coração, mas não consegue perdoar ou voltar atrás de decisões ou atitudes tomadas. Diz que
quando gosta, “gosta de verdade”, mas fica magoada com pequenas coisas. Gosta de
trabalhar e acredita que seu relacionamento com as pessoas é pautado no respeito e na
consideração. É comunicativa e não gosta de discussões. Gosta muito de rezar porque é muito
católica.
Aos sete anos de idade foi morar na casa do avô, que a chamava de “Margarida” -
embora esse não fosse seu nome - para estudar e porque sua avó precisava de companhia. É
solteira, tem 37 anos, três filhos, o mais velho tem 22 anos, o do meio, 21 anos e o caçula tem
89

16 anos. Seu filho caçula mora com a irmã de um de seus ex-namorados e M. F. acredita que
ele não a ama porque não foi criado por ela. M. F. participa do programa Bolsa Família, mas o
cartão fica com seu filho caçula, porque ela não tem controle sobre o dinheiro que pega. O
relacionamento com o pai de seus filhos, “entre idas e vindas” durou cerca de 08 anos,
quando ele faleceu devido ao uso excessivo de álcool.
Tem muita vontade de voltar a estudar e fazer algum curso. Gosta de trabalhar e tem
vontade de trabalhar ajudando as pessoas porque gosta muito de conversar. Fez um curso de
biscuit e de costura, sendo que este último não finalizou. Deseja ainda terminar o curso de
computação. No dia-a-dia, diz que gosta de estar em atividade para não ficar "pensando
besteira".
Já trabalhou em várias atividades. Quando morou em São Paulo trabalhou como
auxiliar de cozinha e camareira. Em Juazeiro também trabalhou como garçonete e auxiliar de
cozinha, mas a atividade que mais gostou foi de vender plano funerário. Nessa época teve a
oportunidade de fazer um curso de “palestra e encantamento ao cliente”, oferecido pelo
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE. Acredita que seu
relacionamento com os colegas de trabalho sempre foi respeitoso e nunca teve desavença com
eles, mas ela sempre desistia de suas atividades laborais porque tinha a desconfiança que seus
colegas estavam percebendo que estava bêbada ou drogada.
Não gosta de falar sobre seus pais porque são falecidos e lembrar deles a faz sofrer.
Não se recorda muito do pai e diz que não aceita e não se conforma com a morte da mãe. Sua
mãe teve 15 filhos, sendo que hoje, além dela, apenas 05 – quatro homens e uma mulher -
estão vivos. Além destes irmãos, há duas mulheres que ela não conhece porque são filhos do
primeiro casamento de seu pai e moram em outro estado. Relata que ouvia seu avô contar que
seu pai batia muito em sua mãe, e embora ela nunca tivesse visto, acredita que por isso não
gostava de seu pai. Além disso, seu pai bebia muito e era muito grosseiro com todos.
Tem um irmão que se converteu a religião evangélica mas que, antes disso, era usuário
abusivo de álcool, e outro que mora no estado de São Paulo que também bebe muito. Relata
que sua mãe sempre fez suas vontades, e lhe dava bons conselhos, apesar de morarem em
casas separadas. Guarda mágoa de um dos irmãos porque este não permitiu que ela visse o
corpo de sua mãe antes do sepultamento. Acredita que sua mãe amava muito seu pai porque
sempre perdoava as traições dele.
Sua mãe antes de morrer esteve internada em instituição para tratamento de doentes
mentais. Acredita que ela morreu porque foi internada nessa instituição. Sente-se culpada por
90

não ter cuidado de sua mãe antes dela ser internada na instituição para doentes mentais,
devido ao seu uso de drogas.
Com quatorze anos, quando foi a uma festa de aniversário de uma prima, começou a
beber cerveja escondido, com o tempo passou a beber cachaça. Aos dezesseis anos, foi a uma
festa com uma amiga e começou a usar cocaína. Nessa oportunidade, seu primeiro filho ainda
era bebê e M. F. sentiu falta de ar devido ao uso, sendo levada ao hospital. Como o pai de
seus filhos era usuário de maconha, resolveu experimentar, e começou a usar maconha junto
com ele, apesar dele não concordar. Além disso, durante algum tempo cheirou cola, mas sua
preferência sempre foi o álcool.
Em algumas oportunidades, morou sozinha, pagando aluguel, mas não deu certo
porque os vizinhos reclamavam muito da quantidade de pessoas que freqüentava sua casa e
porque ela permitia aos amigos levarem objetos roubados para sua residência. Esteve presa
durante onze meses. Acredita que foi presa porque se recusou a contar onde estavam as
pessoas que vendiam drogas. Antes da internação estava morando com a sogra, cuja casa é
própria, e tem renda na faixa de dois salários mínimos, oriunda de pensão do marido que é
falecido.
Por decisão própria, parou de usar outras drogas durante cerca de um ano, mas fez
uma viagem que durou três meses e nesse período voltou a usar maconha e cocaína. Quando
retornou a sua cidade, amigos e parentes a levaram para consulta no posto de saúde e ela
começou a fazer psicoterapia semanal além do uso de medicação, mas como não parou de
beber acredita que a mistura do medicamento com o álcool a estava deixando louca, uma vez
que começou a ver os carros passando em cima dela.
Diante disso, uma amiga a levou a um psiquiatra que receitou Rivotril, que ela usou
somente um mês e parou porque estava sentindo falta de bebida, das festas com as amigas e
da cocaína, em especial porque quando usava cocaína não dormia e ela gostava desse efeito
da droga, além do fato de que quando parava de usar ficava sentindo-se muito mal e
vomitando. M. F. afirma que as pessoas que a conheciam e tentavam ajudá-la, já estavam
desistindo de fazê-lo porque ela sempre dizia que iria parar, mas não parava.
Aos 28 anos iniciou o uso de crack e devido a esse uso, estava muito magra e as
pessoas começaram a fazer perguntas. Então ela resolveu voltar a morar sozinha, para poder
comprar em grande quantidade e usar sem ser interrompida ou questionada. Parou de
trabalhar porque tinha medo que as pessoas percebessem que estava usando drogas e com o
91

tempo começou a vender seus pertences para comprar droga e quando não tinha mais o que
vender, pedia dinheiro para os familiares e amigos dizendo que era para comprar remédio.
Um dia olhou-se no espelho e viu que estava muito magra. Nesse dia começou a
perceber que estava morrendo e pediu ajuda a sua sogra, que a levou ao CAPS na cidade que
morava no Ceará. Ficou freqüentando o CAPS diariamente durante oito meses, nesse período
recebia a medicação mas fingia que engolia e jogava fora.
Certa vez, conversando com seu filho caçula, este disse que se sentia envergonhado
diante das pessoas ao dizer que ela era sua mãe. M.F. entristeceu-se e entregou-se ainda mais
ao uso de drogas, chegando novamente a passar mal e ser levada a um hospital, onde o
médico que a atendeu disse que ela estava tendo um começo de AVC e que se ela não parasse
de usar drogas iria morrer. Foi depois que o médico fez essa afirmação que M. F. começou a
pensar que só conseguiria parar de usar drogas se ficasse em um lugar fechado.
Apesar disso, M. F. acredita que foi por intermédio das atividades realizada no CAPS
que descobriu que amava seus filhos e queria viver por eles e decidiu parar de usar drogas,
entretanto, como fez várias tentativas de tratamento nessa modalidade, concluiu que para
conseguir parar o uso seria necessário sair da cidade onde morava. Foi então que pediu ajuda
a sua cunhada, e como em sua cidade não havia local que permitisse a internação de mulheres,
esta a trouxe para Brasília, para ser internada na Comunidade Terapêutica. M. F. Não relata
expectativas referentes aos tratamentos realizados.
Sua cunhada havia dito a M. F. que ela ficaria 05 anos internada, então quando chegou
para internar-se, pensou que após ser internada iria enlouquecer e morrer, como sua mãe, mas
depois que entrou na casa sentiu uma paz tão grande que ficou emocionada e chorou. M. F.
diz que gosta muito da instituição e não deseja ir embora. Embora as vezes se lembre da
droga, afirma que não tem vontade de usar.
Embora goste muito de rezar, M. F. afirma que não conhecia a “Oração da
Serenidade” e que no início não conseguia entender seu significado, mas com o tempo foi
aprendendo juntamente com o aprendizado sobre como buscar o resgate da própria dignidade
e do respeito. Está satisfeita porque resgatou alguns valores que acredita que estava perdendo
devido ao uso de drogas.
Afirma que tem medo de pensar sobre o dia em que terá que sair da Comunidade
Terapêutica, e que a única coisa que quer é ficar em Brasília porque sabe que se voltar para o
Ceará voltará também para o uso de drogas. Pensa e espera que, de imediato, após sair da
internação começará a trabalhar na casa da família que está apoiando seu tratamento em
92

Brasília, mas gostaria de ter a oportunidade de qualificar-se para trabalhar na instituição e


ajudar outras pessoas a deixarem as drogas.
Acredita que para dar continuidade a sua vida e manter-se em sobriedade, poderá
contar com o apoio das outras mulheres que já fizeram tratamento na instituição e que
também estão em sobriedade.

5.3.5.2 A história contata pela família

A Sra. L., cunhada de M. F., tem 51 anos, é solteira, é aposentada por invalidez devido
a histórico de câncer, mas trabalha na área de vendas. Possui ensino médio completo, tem
uma filha que estuda e faz estágio no Fórum da cidade onde moram no Ceará. Mora em casa
própria junto com sua filha, mas em local próximo à casa de sua mãe, que também é própria.
Sua renda é constituída de sua aposentadoria e do comercio de artesanato produzido por ela
mesma. A renda de sua mãe é também oriunda de sua aposentadoria. Conheceu M. F. quando
esta começou a namorar seu irmão D. que hoje é falecido.
Sua mãe atualmente reside com um filho que é alcoólatra e que vive da renda do
aluguel de uma casa, e com o filho caçula de M. F. que é estudante, faz estágio em uma
instituição financeira e recebe o recurso do Bolsa Família de M. F.
Relata que M. F. nunca morou com sua família de origem, sendo que os amigos, ela e
sua mãe perceberam que M. F. estava usando drogas devido a mudanças em seu
comportamento. Quando o filho caçula de M. F. tinha um mês de idade, M. F. deu a criança
para a Sra. L. e sua mãe cuidarem e começou a sumir de casa, ficando nas ruas, pegando
carona com caminhoneiros, e certa vez, a Sra. L. e sua mãe foram até a casa de M. F. para
levar seu filho e a encontraram cheirando cola. Desde essa época, a Sra. L. e sua mãe
começaram a tentar levar M. F. para morar com elas, mas ela sempre fugia e elas ficavam sem
saber onde encontrá-la.
Certo dia M. F. chegou em sua casa e pediu ajuda, foi então que Dona N. mãe da Sra.
L. a levou ao CAPS. M. F. ia ao CAPS, mas quando saia das atividades do CAPS, não voltava
para casa de Dona N. e como elas não conseguiam localizar M. F., ficavam aguardando ela
retornar para pedir ajuda novamente. Este movimento de pedir ajuda e sumir aconteceu quatro
ou cinco vezes, e então M. F. começou a ir direto para o CAPS, sem falar com a Sra. L. ou
com sua mãe, mas manteve-se no comportamento de freqüentar as atividades de CAPS
durante alguns dias e novamente voltar para a rua.
93

A Sra. L. e sua mãe ficavam sabendo que M. F. estava novamente no CAPS porque a
equipe telefonava solicitando a assinatura de alguém para que M. F. freqüentasse as
atividades. Durante esse período, a Sra. L. e sua mãe compareceram ao CAPS sempre que
foram chamadas, assinaram os documentos que eram necessários, mas não receberam
orientação sobre como se comportar com relação a M. F.
Finalmente quando M. F. chegou na casa de Dona N. e pediu para que ela trancasse a
porta e não a deixasse sair, para não ir mais usar drogas, a Sra. L. acreditou que M. F. estava
desejando parar de usar drogas e então pediu ajuda a uma amiga que mora em Brasília e a
trouxe para ser internada na Comunidade Terapêutica.
Embora não conhecesse a instituição, a Sra. L. confiou na indicação da amiga e
acreditou que M. F. fosse se recuperar. Depois de conhecer a instituição e participar das
reuniões de familiares, a Sra. L. descobriu que poderia ter ido ao A.A. em sua cidade, tanto
para ajudar M. F. quanto para ajudar seus irmãos: o que já faleceu e o que ainda está vivo,
mas que ainda é usuário abusivo de álcool. A Sra. L. acredita que M. F. está se recuperando e
que quando sair da internação ela terá a oportunidade de recomeçar sua vida, visto que ficará
em Brasília, na casa de sua amiga, para trabalhar e estudar.

Essas historias, construídas a partir da leitura exaustiva das entrevistas das


participantes que foram transcritas, revelam aspectos da dinâmica familiar de cada
participante, que aparentam ser comuns, como por exemplo, a ocorrência de casos de
alcoolismo e/ou uso de drogas na família de origem de cada uma delas. A esse respeito, Paya
e Figlie, (2004), apontam que a história de uso de droga entre as gerações assim como o uso
de drogas por um dos membros do grupo familiar, caracteriza-se como um indicador de que
algo não vai bem no seio daquele sistema familiar. Além disso, para as autoras, (p.339)
"pessoas que usam drogas, estão dentro de um contexto no qual seus valores, crenças,
emoções e comportamento, influenciam os comportamentos dos membros da família e são por
eles influenciados". Assim sendo, o aparecimento do sintoma da utilização de álcool e/ou
outras drogas em algum membro da família, aponta para o comprometimento daquele grupo
familiar nas diversas áreas das relações humanas (Paya & Figlie, 2004).
Conforme consta nas histórias acima, as mulheres participantes desta pesquisa,
iniciaram o uso de álcool no período da adolescência. De acordo com Assis e Castro (2010),
as mulheres podem iniciar o uso de álcool em idades variáveis e em circunstâncias diversas,
sendo que as motivações para esse início são, entre outras: família, amigos, pressão do grupo
94

social, violência doméstica, fuga dos problemas, prazer, etc. além do fato de que as pessoas
fazem uso de bebidas alcoólicas para vários fins, em especial nas celebrações como:
nascimentos, casamentos, bodas, ritos de passagem.
95

6 DISCUSSÃO

Para analisar e discutir os resultados desta pesquisa, foi utilizado como referencial, a
abordagem sistêmica com contribuições de literaturas específicas produzidas por autores que
pesquisam sobre as comunidades terapêuticas. Considerando a grande quantidade de
indicadores, decorrentes da riqueza do material coletado, optamos por nos ater aos
indicadores que estivessem diretamente relacionados aos objetivos estabelecidos para a
pesquisa, os quais dizem respeito estritamente ao percurso realizado por cada uma das
mulheres entrevistadas juntamente com seus respectivos familiares na busca de tratamento
para o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, dentro dos serviços de atenção e tratamento
existentes na rede pública e/ou privada no Distrito Federal, assim como a suas expectativas e
percepções acerca dos resultados alcançados referentes aos tratamentos nos quais estiveram
inseridos.

6.1 ZONA DE SENTIDO 1 – A TRAJETÓRIA, OS MOTIVOS, AS EXPECTATIVAS E


A PERCEPÇÃO DOS RESULTADOS

Discutiremos nesta Zona de Sentido a trajetória das participantes da pesquisa nos


serviços de atenção e tratamento existentes na rede pública de saúde pública e/ou privada no
Distrito Federal e em outros Estados da Federação, até chegar à Comunidade Terapêutica, os
motivos que as levaram a buscar tais tratamentos, assim como sua inserção em outros
serviços, além daqueles de atenção e saúde, tais como: assistência social, educação, trabalho,
segurança, etc., existentes na rede pública e/ou privada nos quais elas estão ou estiveram
inseridas. Além disso, estarão registradas nesta Zona de Sentido, as expectativas que essas
mulheres e seus familiares tiveram com relação a esses serviços, assim como a percepção dos
resultados obtidos.
Com o objetivo de facilitar a compreensão dos diferentes pontos discutidos nesta Zona
de Sentido, foi feita uma divisão de acordo com os principais eixos e seus respectivos
indicadores.
96

1 - A Trajetória das mulheres nos serviços

Todas as mulheres relataram uma trajetória dentro dos serviços de atenção à saúde.
Isso significa que a busca por tratamento não se restringiu a um único contato com a rede de
saúde, conforme pode ser verificado na tabela abaixo:
Mulher
Internada TRAJETÓRIA
Narcóticos Comunidade
I Psiquiatra Psicologo Psiquiatra CAPS AD CAPS AD
Anônimos Terapêutica Atual

Casa de Casa de Casa de Casa de Casa Abrigo - Comunidade Comunidade


Casa Santo Presidio Presídio
T. Recuperação Recuperação Recuperação Recuperação Mar Violência contra CAPS AD Terapêutica Casa CAPS AD Terapêutica
André Feminino Feminino
Salomão Leão de Judá Ponto de Luz Vermelho Mulheres Azul Atual

Comunidade Comunidade
M Psiquiatra Terapeutica Psiquiatra Psicologo Hospital Dia Psicologo Presidio Feminino Terapêutica
Daime Atual

Casa de Comunidade
C Psiquiatra Centro Espírita CAPS AD Psiquiatra CAPS AD
Recuperação Terapêutica Atual

Presidio Comunidade
M. F. Psicólogo CAPS AD Psiquiatra CAPS AD CAPS AD
Feminino Terapêutica Atual

Quadro 04 - A trajetória das mulheres nos serviços

As trajetórias registradas na tabela 03, confirmam os achados em estudos que apontam


para o fato de que o usuário de álcool e/ou outras drogas normalmente freqüenta vários
serviços ao longo da sua história de uso (Rigotto & Gomes, 2002; Alvarez, Gomes, Oliveira
& Xavier, 2012; Fertig, 2013; Silva, Pinto & Machinesk, 2013).
Quanto aos serviços que as participantes buscaram para o tratamento para o uso de
drogas, há que se observar que a busca por tratamento, em muitas situações, não está
diretamente relacionada com a vontade ou a intenção de parar de usar drogas. Também em
algumas situações eram tratamento para outros problemas ou sintomas que não eram
especificamente o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, apesar de o uso de drogas já ter
sido iniciado antes dessa busca.

M.: "Antes de vir pra cá fazia terapia, mas não por causa da droga...".

C.: "Eu já ia na Psiquiatra né?, aí depois com o tempo eu acabei contando pra
minha Psiquiatra né?, que eu já havia usado merla né?, e tava usando crack, mas
ela não voltou aí pra rever se realmente eu tinha o Transtorno Bipolar ou não".

I.: “O doutor me perguntou: 'porque que você não para de usar droga?', aí eu falei
pra ele:'doutor, eu não tenho vontade de parar'...".
97

Estes depoimentos confirmam o que é colocado por alguns autores, (Edwards,


Marshall, & Cook, 2005; Payá, 2008; Assis & Castro, 2010), de que as mulheres em geral
não vêem o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas como seu problema principal. Esta visão
faz com que estas se apresentem nos serviços de saúde com outras queixas relacionadas a
questões psicossociais ou a saúde, sendo que neste caso, a depressão é mais comum. Apesar
disso, Edwards, Marshall, e Cook, (2005), registram que podem ser muitos os eventos e/ou
elementos que estimulem a busca por tratamento, ainda que não estejam relacionados
diretamente ao problema do uso de álcool.

2 - Motivos que levam as mulheres a buscar tratamento

Tendo em vista a importância da trajetória acima mencionada, preliminarmente iremos


analisar os motivos que levaram essas mulheres a buscar tratamento. A partir da leitura das
entrevistas, observamos que o inicio do atendimento na rede de saúde, pode ocorrer em
função dos seguintes motivos: sintomas de depressão e tentativa de suicídio, pressão externa,
questões familiares e medo de morrer.
Considerando que as participantes iniciaram o uso de álcool e/ou outras drogas na
adolescência, ou seja, alguns anos antes de procurar qualquer serviço de atenção e saúde, não
é possível afirmar que o aparecimento desses sintomas tenha ocorrido antes do início do uso.
Entretanto, é importante não ignorar pelo menos, que durante o uso eles estiveram presentes,
como exemplificado nos depoimentos a seguir:

I.: “ quando eu tentei suicídio eu tava, sentindo uma dor na alma. eu nunca tinha
sentido isso antes, eu queria morrer, mas não sabia como.”

M.: “ comecei a freqüentar pra começar a tomar remédio controlado por causa da
depressão e a falta de dormir”.

T.: “minha primeira internação foi porque eu já ia perder a guarda dos meus
filhos...”

C.: “ eu comecei a ter crise de depressão, eu peguei e fui na Psiquiatra porque eu já


num tava mais desenvolvendo como eu deveria desenvolver no serviço".

Sobre os motivos que levam usuários de álcool e outra drogas a buscar tratamento
Assis e Castro (2010), em estudo acerca do alcoolismo feminino e a busca por tratamento,
observam que mulheres usuárias de álcool iniciam o tratamento mediante o encaminhamento
98

por algum outro serviço de atenção e saúde ou espontaneamente, sendo que neste caso, isso
pode ocorrer pelo desejo de parar, ou para reduzir o uso, ou ainda na tentativa de solucionar
problemas decorrentes desse uso.
De acordo com Payá (2008), tanto homens quanto mulheres sofrem o impacto de
influencias culturais, sobre os padrões de uso e abuso de álcool e/ou outras drogas, sendo que
a cada dia estão enfraquecendo os fatores sociais que poderiam proteger a mulher com relação
ao início do uso. Além disso, para esta autora, para as mulheres,a busca de ajuda ainda está
fortemente estigmatizada.
É importante considerar que em função do preconceito que atinge a mulher que faz
uso de álcool e/ou outras drogas, muitas vezes em decorrência de sentimentos como vergonha
e culpa, medo e baixa auto-estima, a mulher tenta, a qualquer custo, evitar que o seu
problema se torne público (Assis & Castro, 2010; Payá, 2008).

M.: “ comecei a freqüentar pra começar a tomar remédio controlado por causa da
depressão e a falta de dormir”.

C.: “ eu comecei a ter crise de depressão, eu peguei e fui na Psiquiatra porque eu já


num tava mais desenvolvendo como eu deveria desenvolver no serviço".

Para Pereira (2012), por tratar-se de substância de abuso, que a maioria dos adultos já
experimentou, além de ser usado periodicamente durante a vida dessas pessoas, os dados de
comparação acerca das taxas de uso de álcool na vida em diferentes faixas etárias e sexo, não
são esclarecedores. Entretanto, a autora afirma que o uso de álcool por mulheres ocorre como
forma destas se livrarem dos sintomas associados a quadros de depressão, além do fato de que
mulheres usuárias de álcool tentam suicídio quatro vezes mais que aquelas que não fazem uso
da substância, o que ficou claro no depoimento a seguir:

I.: “quando eu tentei suicídio eu tava, sentindo uma dor na alma eu nunca tinha
sentido isso antes eu queria morrer, mas não sabia como”.

No que se refere a busca por tratamento em comunidade terapêutica, Pacheco, e


Scisleski, (2013), afirmam que na maioria dos casos, o uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas, causa muito sofrimento para o usuário e sua família devido aos problemas de natureza
social, financeira, física, psicológica, familiar e em alguns casos extremos, de natureza legal,
que surgem a partir desse uso abusivo, que o contexto em que estão inseridos passa a ser de
desespero e angustia, levando usuário e familiares a procurar uma comunidade terapêutica,
ainda que não conheçam o tipo de tratamento que é ofertado pela instituição.
99

3 - O início do tratamento

Na trajetória de busca por serviços, o início do tratamento pode ocorrer tanto no


modelo ambulatorial quanto no modelo de internação. Para aquelas participantes que
iniciaram o tratamento depois de completarem 18 anos, o inicio ocorreu em serviço com
atendimento ambulatorial. Somente uma das participantes iniciou tratamento enquanto ainda
era menor de idade. Para esta, o serviço escolhido pela família, com o auxílio do Conselho
Tutelar, foi o atendimento em regime de internação.

Mãe de T.: “a primeira coisa que eu procurei foi um tratamento pra ela. Como ela
era menor eu sempre procurava o Conselho Tutelar. ” eu sei que ao todo eu
coloquei ela em seis clínica...".

Estudo realizado por Vasters e Pillon, (2011), com o objetivo de conhecer a trajetória
de adolescentes nos serviços para usuários abusivos de álcool e/ou outras drogas, identificou
que esses adolescentes iniciam o tratamento especializado essencialmente por
encaminhamentos, que podem ser judiciais - associados a atos infracionais ou decorrente de
acompanhamento por Conselho Tutelar - ou realizados pelos próprios familiares dos
adolescentes. Para estes autores, independente do modelo de tratamento, observa-se que os
indivíduos podem se envolver com o tratamento ou abandoná-lo, sendo a adesão o grande
desafio para os profissionais atuantes nesta área. Segundo estes autores, no caso dos
adolescentes, a dificuldade de adesão ao tratamento é ainda maior, visto que os jovens
dificilmente buscam algum tipo de tratamento, e mesmo quando isso acontece, o abandono
precoce é também presente.
Nunes (2013) por sua vez, vai questionar o acolhimento compulsório de crianças e
adolescentes usuários de álcool e/ou outras drogas, afirmando que esta conduta representa
uma política de tratamento, na qual o entendimento é que o problema dessas crianças é apenas
o uso de drogas. Além disso, a questão relativa a prática das políticas públicas de tratamento
para o uso de drogas é complexa, por incluir tanto aspectos que não são do conhecimento da
população, quanto aspectos que não são colocados em prática.
Outra informação que chama a atenção é que apesar das dificuldades decorrentes do
uso abusivo de álcool e/ou outras drogas serem vivenciadas também pelos familiares, (Orth &
Moré, 2008) em alguns casos, a família esperou que a iniciativa fosse da mulher:
100

Irmão de I.: "eu num tive nenhum, nenhum tipo de ação pra isso porque eu num
morava aqui também." "Mas aí nesse dia específico no sábado, ela foi diferente, ela
ligou e pra mim e falou: “eu preciso internar ".

Cunhada de M. F.: "Nunca procuramos tratamento pra ela" "ela foi quem nos
procurou e pediu ajuda".
Não falar sobre o assunto, e não manifestarem seus pensamentos e sentimentos, é
comum em famílias que vivenciam o problema do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas,
desviando a atenção para outros focos das relações familiares, o problema fica em segundo
plano. Assim, as famílias somente começam a se preocupar com o uso de álcool e/ou outras
drogas quando outros sintomas físicos e/ou emocionais são manifestados em vários de seus
membros (Moraes, Braga, Souza & Oriá, 2009).
Esses depoimentos acima parecem refletir tal situação apontando para a questão dos
segredos. Para Krestan e Bepko (1994), os segredos bloqueiam o fluxo de informações entre
as pessoas privando-as do conhecimento da verdade. No entanto, comportamento disfuncional
- seja ele beber ou consumir drogas - cedo ou tarde poderá tornar-se manifesto,
independentemente do esforço da família no sentido de bloquear as evidencias que permitam
as pessoas conhecerem a sua realidade. Além disso, o esforço para manter em segredo o
comportamento disfuncional, paralisa a família, que nega o problema motivada pela
necessidade de manter-se a si mesma, diante da possibilidade de desmoronar ante ao
problema vivenciado. Nesse sentido, a negação pode estar relacionada com o fracasso para
reconhecer a realidade do impacto da adicção, sendo a vergonha e o medo os processos
psíquicos que mantêm a negação fazendo com que os membros da família se tornem
desconectados uns dos outros. Dessa forma, a manutenção do segredo priva a família de
informações que lhe permitam assumir uma atitude diante do problema que tentam esconder.
Por outro lado, para Machado (2011), a família é sempre a primeira instância na qual
existe a possibilidade de identificar o uso de drogas por adolescentes, através de alguns sinais,
tais como: alterações de comportamento, agressividade, irritabilidade e queda no rendimento
escolar.
A dificuldade em identificar o uso e buscar tratamento foi apontada pelo
Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos - LENAD FAMILIA. Este
levantamento registrou que os familiares admitem ter o conhecimento do uso de álcool e/ou
outras drogas pelo membro da família, por um tempo médio de 09 anos, sendo que o tempo
médio para busca de ajuda é de 03 anos, ou seja, a busca pelo tratamento não ocorre
imediatamente após a família tomar conhecimento do uso. Para esses familiares, a descoberta
101

do uso de álcool e/ou outras drogas ocorreu devido a mudanças no comportamento ou por ter
visto aquele membro da família fazendo uso da substância fora de casa. Segundo esse
levantamento, somente um terço dos familiares procuram ajuda imediatamente após ficar
sabendo do uso de álcool e/ou outras drogas, e a demora para procurar tratamento, é
decorrente da recusa para o tratamento e/ou negação do uso de drogas pelo membro da
família. (INPAD, 2013).
No entanto, considerando o sofrimento vivenciado por todos os integrantes do grupo
familiar, vários estudos apontam para a necessidade de incluir no contexto terapêutico aquelas
pessoas da família que durante o tratamento acompanharam os usuários, tendo em vista a
importância da manutenção do dependente para algumas organizações familiares (Penso &
Sudbrack, 2004; Moreira, 2004; Orth & Moré, 2008; Figlie, Payá, Krulikowsk & Laranjeira,
2002; Penso, 2001; Stempliuk & Bursztein, 1999; Aleluia, 2010).

4 - O uso de diferentes drogas concomitantemente

Outro aspecto nas histórias das participantes, é o consumo de diferentes drogas


somado ao uso concomitante dos medicamentos receitados pelos médicos e psiquiatras, além
do uso de álcool:

I.: "Aí depois eu misturei tudo" "o lança-perfume de vez em quando né?. Mas eu
cheirava não, aí eu bebia, aí quando eu ficava muito bêbada aí eu cheirava pra não
ficar tão bêbada. Como se fosse assim né? pra o efeito da bebida acabar um
pouquinho, tudo ilusão. Aí depois quando eu tava muito travada aí eu bebia pra
destravar. Eu era muito dependente de remédio também... aí eu parava de usar o
remédio e usava a droga. Até que chegou ao ponto de usar os dois…, mas eu tava
passando mal, eu falei “não dá usar os dois juntos eu vou acabar morrendo”.

Esses relatos vão ao encontro dos resultados da pesquisa realizada com estudantes de
faculdades de ciências da saúde e/ou ciências médicas, em sete universidades de cinco países
da América Latina, entre eles o Brasil, e um do Caribe, acerca do policonsumo simultâneo de
tabaco, álcool e outras drogas, apontam para a combinação de álcool, maconha e drogas
prescritas como a segunda maior ocorrência entre os participantes (Rodríguez, et al., 2012).
De acordo com Nóbrega et al. (2012), o consumo de diferentes drogas somado ao uso
dos medicamentos, seja concomitantemente, ou simultaneamente, pode agregar maior
prejuízo do que o uso de uma substância isolada, tendo em vista a possibilidade de produzir
maior intoxicação, além de aumentar o risco de acidentes, de diminuir a capacidade cognitiva,
do comprometimento da participação em atividades escolares, e da desintegração familiar
102

e/ou da comunidade como conseqüência social deste tipo de uso. Segundo esses autores, no
que diz respeito ao Brasil, os dados da pesquisa apontam para que 80,7% dos participantes
eram do sexo feminino, sendo que as razões pelas quais os participantes faziam policonsumo,
estão relacionadas aos seguintes aspectos: mudança de humor, facilitar atividades e manejar
os efeitos de outras substâncias.

5 - Expectativas das participantes sobre os serviços nos quais estiveram inseridas

Outro aspecto relevante, refere-se às expectativas dessas mulheres com relação aos
serviços de tratamento aos quais ela teve acesso:

I.: "Eu esperava que eu fosse diminuir a vontade de usar droga né?, assim, eu era
muito ansiosa e queria, aquele negócio, eu nunca esperei o resultado né? ".

Pesquisa realizada com mulheres de baixa renda, usuárias de álcool e/ou outras drogas,
residentes em Vancouver, nos Estados Unidos da América, aponta que um dos temas
dominantes nas entrevistas realizadas, foi de que um programa de tratamento eficaz deve,
além respeitar as diferenças individuais, disponibilizar uma estrutura segura e flexível que
possua além de uma rotina definida e regras claras, muitas opções de atividades. Os resultados
dessa pesquisa registram ainda, que as três principais necessidades identificadas pelas
mulheres participantes, são: "ser normal" - expressão que designa um estado de ser que é livre
da escravidão e aflição da dependência de drogas, segurança e conexão social (Kruk, &
Sandberg, 2013).
Os indicativos trazidos por estes autores, aparentemente encontram-se em desacordo
com o resultado desta pesquisa, entretanto, é importante registrar aqui a diferença dos
contextos onde foram realizadas as duas pesquisas. Uma pesquisa foi realizada no Brasil,
onde as pessoas parecem ter pouco acesso à informação sobre as diversas possibilidades e/ou
modalidades de tratamento para o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas (Barros, 2012;
INPAD, 2013), e outra em Vancouver nos Estados Unidos, onde se imagina que as pessoas
tenham mais e melhores informações sobre este tema.
103

6 - Expectativas dos familiares sobre os serviços nos quais as mulheres estiveram


inseridos

Os familiares relataram ter expectativas acerca da passagem por cada um dos serviços.
Além disso, apontam a falta de orientação aos familiares:

Mãe de M.: "Então assim, eu queria um encaminhamento, alguma coisa, que eu


acho que não existiu".

Cunhada de M. F.: "seria de início que nos chamasse pra uma reunião pra falar,
uma orientação de como atender ela".

Estes depoimentos, estão em sintonia com resultado apontado por Matos, Pinto e Jorge
(2008), no sentido de que familiares estão sempre dispostos a ajudar o usuário abusivo de
álcool e/ou outras drogas e a maior expectativa dos familiares está centrada no desejo de
aprender, de modo geral, a lidar com este sujeito, possibilitando-lhes adquirir habilidades para
ajudar nas recaídas. Para estes autores, ainda que acometidas por padrões disfuncionais, essas
famílias trazem em si, aspectos saudáveis que lhes permitiriam, quando orientadas
adequadamente, desenvolver maneiras mais assertivas para lidar com o problema.
Considerando que o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas é uma problemática
complexa, a oferta de atendimento e suporte ao usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas,
deve ser realizada por intermédio de uma “rede saudável”, que se inicia na família, passa pela
comunidade na qual essa família está inserida, e engloba o contexto social do sujeito, de
maneira atender as demandas, muitas vezes imprevisíveis, que surgem no ciclo desse uso
(Silva, 2011).
Na perspectiva dos familiares, os serviços de atenção e saúde aos quais essas mulheres
e familiares tiveram acesso não apresentam resultados satisfatórios e o serviço foi usado por
indisponibilidade de outros recurso, mesmo achando que não haveriam bons resultados:

Mãe de T.: "resultado, nenhum".

Cunhada de M. F. "num tinha confiança nem que ela fosse ficar boa não, mas eu
num teria outro lugar pra procurar, no momento era aquele, a opção era aquela".

Entretanto, outros estudos apontam para a existência de satisfação e confiança por


parte dos familiares nos serviços de atenção e saúde (Azevedo & Miranda (2010), sendo que a
esse respeito, Zanatta, Garghetti & Lucca (2012, p 234) afirmam que:
104

"Os familiares também vêem no serviço do CAPSad uma nova possibilidade


de melhora e esperança no tratamento de seus parentes, pois, a despeito da
sobrecarga e do sofrimento, esses serviços tornam a situação mais suportável
do que antes e favorecem a compreensão dos anos de vida ajustados à
incapacidade."

Diante desses apontamentos, surge o questionamento sobre as possíveis razões para a


divergência entre a insatisfação apontada pelas participantes desta pesquisa e a razoável
satisfação de familiares com relação aos serviços de atenção e saúde que tiveram acesso.

7 - Percepção das participantes sobre os resultados dos tratamentos realizados

Alguns serviços nos quais o tratamento foi realizado em regime ambulatorial, foram
avaliados pelas participantes de forma positiva, entretanto os depoimentos apontam que,
quando o tratamento é realizado de forma que elas não eram afastadas do contexto em que
viviam, a vontade de parar não é fator suficiente para se conseguir deixar a droga:

M.: “Foi bom, até quando eu saí, me fez muita falta.” (referindo-se ao tratamento
realizado em hospital-dia).

M. F. “foi bom porque lá tinha umas roda de terapia.” (referindo-se ao tratamento


realizado no CAPS).

M.: “Trouxe muita coisa que eu vivia muito em um mundo paralelo do meu, eu
vivia mais no mundo de fantasia do que o mundo real” (referindo-se a
psicoterapia realizada com psicoterapeuta individual).

C.: “o resultado foi válido só até o ponto que eu, que eu queria né ?mas depois,
acho que a doença falava mais alto, mais tão mais alto, era tão gritante que eu não
conseguia mais né?” (referindo-se ao tratamento realizado em uma casa espírita
com o apoio de amigos).

Parece que a modalidade de tratamento ambulatorial, para algumas pessoas, não


possui as características que permitam afastarem-se do contexto por meio do qual o uso de
álcool e/ou outras drogas é vivenciado:

M. F.: “porque as vezes eu nem queria, a insistência era tão grande que eu
usava pra num dizer não”.

Do ponto de vista da abordagem sistêmica do uso abusivo de álcool e/ou outras


drogas, Colle (2001), aponta para o fato de que o usuário abusivo de álcool e/ou outras
drogas, não existe enquanto individuo isolado, sabendo conquistar parceiros para seu uso e
para o fornecimento da substância. Para este autor, a dependência de substâncias em sua
105

maioria esconde dependências relacionais, que carecem ser abordadas nos diversos tipos de
processos terapêuticos. Colle (2001) afirma ainda que a dependência é uma relação que se
estabelece entre o usuário, o fornecedor e o objeto fornecido, sendo que a eficácia do objeto
fornecido é uma convicção dividida entre o usuário e o fornecedor. Para o autor, existem
dependências de substâncias, dependência entre as pessoas e a dependência do contexto,
sendo que, no que diz respeito à dependência entre as pessoas, há que se considerar ainda a
dependência de outros usuários, oportunizando além do intercâmbio de informações, o uso
compartilhado e a cultura do uso, podendo gerar a crença na eficácia da dependência.
Pesquisa realizada em um Centro de Convivência para usuários abusivos de álcool
e/ou outras drogas de um hospital psiquiátrico público do Ceará, aponta a pressão social como
sendo um tema freqüente entre estes usuários, esclarecendo que a cobrança dos amigos para o
uso de drogas é comum, em especial naquelas ocasiões em que esses usuários precisam lidar
com situações relacionadas a diversão e prazer. (Matos, Pinto & Jorge, 2008).
A esse respeito, Matos, Bastos, Matos e Vasconcelos (2012), registram que essa
dificuldade é maior para aqueles jovens que não construíram relações saudáveis em ambientes
sem a presença do uso de drogas. Neste caso, os amigos - companheiros de uso, ocupam o
espaço vazio decorrente do desprendimento da tutela dos pais, passando a ser os primeiros
em importância em sua vida, o que aumenta a possibilidade desses jovens se associarem a
pares desviantes ocasionando o conseqüente uso de drogas. Assim sendo, parece que no caso
de M. F., cujo depoimento foi colocado acima, a dependência do contexto, foi fator
importante para sua permanência no uso de álcool e outras drogas.
Por outro lado, é importante observar também que em alguns contextos de tratamento
na modalidade ambulatorial, as mulheres relatam que não encontraram espaço para falar
sobre suas dores, dificuldades e angústias, ou seja, o foco do tratamento era medicamentoso.
Parece que as vozes das mulheres eram caladas pelo remédio:

T.: “no CAPS, era sob efeito de remédio né? Então eu nunca tava lúcida pra pensar
na minha vida, sabe? Porque quando eu começava a ter um lampejo de lucidez eu
sentia vontade de usar droga aí eu falava e eles me davam o remédio de novo.”

O depoimento desta participante demonstra a dificuldade de cumprimento dos


princípios que norteiam a política de tratamento de usuários de álcool e/ou outras drogas
(Brasil, 2004b), que estabelece que "os CAPS ad, devem oferecer atendimento diário, sendo
capazes de oferecer atendimento nas modalidades intensiva, semi-intensiva e não-intensiva,
permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de
106

evolução contínua". Outro aspecto a ser registrado neste contexto é o disposto no Art. 4º, item
4.2.1 da Portaria nº 366 de 19 de fevereiro de 2002, que prevê:
"a assistência prestada ao paciente no CAPS II inclui as seguintes
atividades: a - atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de
orientação, entre outros); b - atendimento em grupos (psicoterapia, grupo
operativo, atividades de suporte social, entre outras); c - atendimento em
oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível
médio" (Brasil, 2002b).

Soma-se a isto o fato de que um dos princípios que norteiam o Sistema Único de
Saúde - SUS, é o da integralidade. Por tratar-se de um conceito que direciona e amplia as
ações de saúde visando transformar o modelo de cuidado e atenção, possibilitando o
questionamento do paradigma biomédico, não basta apenas criar novos serviços de saúde
mental.
As colocações das participantes sobre os serviços de saúde pelos quais passaram e as
dificuldades que enfrentaram, nos levam a concluir, assim como Nasi, Cardoso, Schneider,
Olschowsky, e Wetzel, (2009), que no processo de criação de novos espaços terapêuticos,
sejam consideradas as dimensões políticas, sociais, técnicas e científicas, que permita a
construção de um modelo de atenção psicossocial, que possa garantir a ruptura do
atendimento prestado no modelo biomédico. Assim, a noção de cuidado deve ser vista como
uma ação integral, que inclui tratar, respeitar, acolher e atender o ser humano em seu
sofrimento. Dessa forma, cuidar pressupõe ser capaz de escutar e estar disponível para acolher
e interagir com aqueles sujeitos que demanda atenção em saúde.
A esse respeito, Fertig (2013) aponta para a produção do cuidado em uma perspectiva
de abertura de espaço para a subjetividade, oportunizando a expressão de sentimentos,
emoções, sensibilidade, criatividade, ao tempo em que relativiza o cuidado apoiado nas
patologias e no discurso biomédico. Isso fica evidente quando o distanciamento entre o
significado do sofrimento do sujeito e o olhar dos profissionais de saúde, não oportuniza o
estabelecimento de vínculo de confiança que beneficiem esse sujeito em sofrimento.
A literatura vai apontar para a dificuldade de deixar o uso e os sintomas que podem
surgir quando o sujeito realizar esta tentativa. Segundo Pacheco e Scisleski, (2013), quando o
usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas para de consumir sua droga de preferência ou as
múltiplas drogas de costume, conforme o caso, este apresenta, além da vontade de usar
drogas, sintomas que caracterizam a síndrome de abstinência, os quais podem variar entre
ansiedade, alteração de humor, angústia, irritabilidade, agressividade confusão mental,
dificuldade de concentração,insônia, sudorese, dor de cabeça, dores musculares,
107

tremores,febre, náuseas, entre outros. Esses sintomas podem ocorrer durante algumas horas ou
persistirem por dias e até meses após o início do tratamento.
Vale questionar portanto, se os tratamentos pelos quais as participantes passaram
foram capazes de produzir um cuidado integral e de abrir espaços para a manifestação da
subjetividade de cada um delas com um olhar voltado para a integralidade do sujeito em uma
perspectiva bio-psico-social.

8 - Percepção da família acerca do atendimento recebido nos serviços

No que diz respeito à percepção dos familiares em relação ao acesso e atendimento


destes nos serviços de atenção a saúde para usuários de álcool e/ou outras drogas, na rede
pública do Distrito Federal, e em outros Estados da Federação, as ações para auxiliá-los a
lidar com a situação referente ao uso de álcool e/ou outras drogas em seu contexto familiar,
foram insuficientes:

Irmão de I.: "eu não tô lembrado exatamente, eu sei que eu fui uma vez só, mas eu
entendi que a gente ia apenas pra encaminhar, ela que deveria ir depois por conta
própria."

Cunhada de M. F.: "Nenhuma orientação, nunca recebemos nada, nunca foi dito
como poderíamos comportar, nunca fizemos uma visita, não. A gente chegava lá,
assinava e vinha embora."

Apesar de o Mapeamento e Identificação das metodologias das Instituições de


Tratamento e Reinserção Social de usuários de Álcool, Crack e outras Drogas no Distrito
Federal, realizado pela CODEPLAN (GDF, 2013), apontar para a utilização da terapia
familiar como recurso terapêutico, em 71% dos CAPS AD que responderam a pesquisa,
parece que o entendimento dos familiares aqui entrevistados acerca da utilização deste recurso
é diferente, visto que elas reclamam de não terem recebido orientação ou atendimentos. Sobre
este assunto, Matos, Pinto e Jorge (2008), apontam que, sendo a família um componente
importante no processo de recuperação do usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas,
proporcionar à essa família, atenção e cuidado, no formato de "Grupo de Orientação Familiar"
por intermédio de atividades de caráter informativo e educativo, pode ser uma modalidade de
atenção eficiente, que permitirá aos familiares, obter respostas às suas expectativas com
relação ao manejo de seus parentes.
108

Isto pode ser confirmado no caso daquela família que teve acesso aos serviços de
atenção e saúde na rede privada, onde o atendimento familiar ocorria. Neste caso a mãe
mostra-se satisfeita com a condução do atendimento de sua filha:

Mãe de M.: "Olha, algumas consultas né?, assim, sistematicamente, era uma
consulta a cada quinze dias, eles me atendiam junto, tanto o psiquiatra como a
psicóloga fazia. E às vezes também a psicóloga me chamava pra fazer uma
consulta junto com a M., então eu recebia apoio sim."

O depoimento desta participante traz ao cenário desta pesquisa, a necessidade de


realizarmos uma reflexão acerca de dois aspectos: 1) quais seriam as possíveis razões para a
divergência na percepção dos familiares sobre a qualidade da atenção e cuidado dispensados à
família nos diferentes contextos - publico ou privado, de serviços de atenção e saúde; e 2) por
que razões as instituições privadas que integram a rede de atenção, realizam o atendimento na
forma preconizada pelas políticas públicas enquanto que as instituições públicas
aparentemente não atingem esse objetivo.

9 - A passagem e/ou inserção em outros serviços além daqueles de atenção e saúde

9.1 - Justiça

Com relação a inserção em outras instituições, chama a atenção o fato de que três das
cinco mulheres participantes da pesquisa, antes de internarem-se para tratamento na
Comunidade Terapêutica, tiveram passagem pelo sistema prisional, sendo que duas delas
somente foram para esta internação, devido a uma decisão judicial. A internação por decisão
judicial, normalmente está amparada na Lei nº 11.343/2006, que apresenta para a sociedade a
perspectiva de que o uso de drogas é diferente do seu comercio. Nesse sentido, apesar de a
mencionada lei considerar como crime, o porte e uso de drogas, o usuário quando indiciado
por este motivo, deve receber pena restritiva de direitos e não privativa de liberdade (Penso,
2010), podendo ainda ser encaminhado para tratamento.
Tal situação nos leva a refletir sobre a dimensão simbólica da medida judicial como
via de acesso à lei e aos limites necessários a esses atores, usuários de álcool e/ou outras
drogas, inclusive no que diz respeito à inserção em programas de tratamento (Sudbrack
(2003). Para esta autora, em nossa sociedade, a falta de referencias solidas da lei e da
autoridade paterna são gritantes, e muitas vezes cabe a justiça este papel de contenção do
sujeito.
109

No entanto, a instituição para a qual as participantes foram encaminhadas e onde esta


pesquisa se realizou, não dispõe de qualquer mecanismo de contenção, seja físico ou
medicamentoso, para garantir a permanência dessas mulheres em tratamento. A proposta é
que a permanência na instituição seja garantida através da formação de vínculo com a equipe
e da aderência ao plano de tratamento. Assim, quando isso ocorre é devido a decisão pessoal
de cada uma delas, conforme fica evidenciado no depoimento abaixo:

T.: "to aqui há cinco meses porque eu vi que eu num quero voltar a morar na
rodoviária do Plano, nem a comer comida do lixo, ou então ter que esperar quatro
horas da tarde pra poder os restaurante fechar, pra acabar o expediente e eles dar o
resto de comida".

Sobre este tema, López Acosta (2009) observa que a decisão de entrar em
tratamento para o consumo abusivo de álcool e/ou outras drogas pode ser decorrente da
influência de terceiros significativos. No entanto, para este autor, esta é uma decisão que se
produz em uma situação psicológica muito particular própria daquele que vivencia a situação
de dependência de substância, o que faz com que não seja possível interpretar esta intervenção
de terceiros como meramente imposição. Ainda na visão do autor, inicialmente, a demanda
sobre o sujeito, seja por parte dos familiares seja por força de decisão judicial, pode parecer
uma ação meramente coercitiva, que o sujeito pode aceitar somente com fins egoístas, sem
qualquer tipo de motivação ou auto-crença. No entanto, esta demanda a partir de terceiros
significativos pode ser melhor concebida como um elemento que ajuda a fixar uma posição
subjetiva já existente no próprio sujeito.
Vale ressaltar aqui, que a instituição pesquisada, em sua proposta de natureza sócio-
educativa, adota em seu contexto de tratamento, modelo relacional baseado no
compartilhamento de vivências, na honestidade, na horizontalização das relações e na
espiritualidade, que permite aos usuários deste serviço, o estabelecimento de vínculos entre si
(Gomes, 2010). Assim, os usuários deste serviço, descobrem-se inseridos em contexto que os
remete a identidade familiar, que contribui para a desconstrução do circuito estigmatizante até
então por eles vivenciado, auxiliando no despertar de valores sociais e na ampliação de sua
consciência sobre si e sobre o outro (Silva, 2013).
110

9.2 - Programas de Governo

No que diz respeito aos programas sociais do Governo Federal, somente uma está
inserida no Programa de Bolsa Família, apesar não ter acesso ao recurso, que fica com seu
filho de 17 anos:
M. F. : “Eu tinha o Bolsa Família, mas meu menino agora é quem tá com meu
cartão porque do primeiro mês em diante, eu mesma decidi já entregar o cartão pra
ele porque eu sabia que num ia ter fim não. Eu num ia ficar, eu num ficava com o
dinheiro do meu salário, eu gastava todinho, todo dinheiro que eu pegava, aí eu
deixei com ele. "

Considerando que tem profissão e possui condições de manter-se e a seus filhos, I.


desistiu da participação em programas dessa natureza:

I.: “eu até já participei, a partir do momento que eu vi que eu não tava mais
precisando né? aí eu fui lá e me desvinculei porque tem pessoas que precisam mais
né?”.

Quanto as outras participantes, M. tentou ser inserida em Programa de Bolsa Escola,


mas não logrou êxito, devido aos critérios para admissão, T. foi excluída devido a evasão
escolar e C. não tem perfil sócio econômico para receber benefícios do governo:
M.: “eu na verdade até cheguei a ir atrás do Bolsa-Família, mas como meus filhos
mudavam de escola, saindo da escola pública pra particular, o Governo num ajuda
a escola particular.”

T.: “eu recebia, mas quando era menor de idade. Eu recebia, era Bolsa Escola, aí
como eu parei o estudo né?, aí tem alguma coisa a ver né?, então eu parei de
receber”.

Da mesma forma, os respectivos familiares também não estão inseridos em programas


sociais do governo.
Com relação a questão da inserção em programas de transferência de renda, observa-
se que a busca por tratamento na rede de atenção e saúde do Distrito Federal, não está restrita
a uma clientela que se encontra inserida no perfil estabelecido pelas políticas públicas
brasileiras para pessoas em situação de pobreza ou de vulnerabilidade social.

10 - A chegada na Comunidade Terapêutica

Com o início do uso de álcool e/ou outras drogas ainda durante a adolescência e
histórico de depressão e tentativas de suicídio quando jovens e/ou na idade adulta, as
mulheres entrevistadas, excetuando aquelas encaminhadas para internação por medida
111

judicial, relatam que após a decisão de parar de usar álcool e/ou outras drogas, a opção pelo
modelo de tratamento em regime de internação foi decorrente da dificuldade de lidar com o
contexto de tratamento em regime aberto, onde o retorno diário para o seu ambiente
sóciofamiliar facilita o uso de drogas:

I.: “eu procurei também antes da minha mãe falecer, o CAPS" " aí fiz o
acompanhamento lá e tal, tava indo até bem Mas aí lá, é aquele negócio né?, lá é
misto né?e a gente acaba conhecendo as pessoas de uso e tá no risco”.

M. F.: “era bom, mas só que lá foi se internando gente que eu conhecia, e eu já
ficava combinando o que eu ia fazer quando saísse, ia fazer uso e sumia de casa”.

M. F.: "eu usei tanta droga, usei, usei, usei, foi nesse dia que deu o segundo
formigamento, o médico falou pra mim que era o começo de um AVC né?, ele
falou assim: “se você num parar você vai morrer”, e eu fiquei desesperada."

M. F.: "antes eu já queria, mas, aí quando ele me falou isso eu decidi


definitivamente que eu queria e que só ia dar certo num lugar fechado pra mim."

No caso daquelas que foram encaminhadas por medida judicial, mesmo tendo chegado
por imposição externa, a escolha por realizar o tratamento ocorreu após a abordagem feita
pela equipe de profissionais da instituição e a partir da convivência com as demais mulheres
internadas para o mesmo tratamento.
Diante dos depoimentos das participantes, ficou evidenciado que a mulher usuária de
álcool e/ou outras drogas, antes de iniciar o tratamento em regime de internação em
Comunidade Terapêutica, percorreu, juntamente com seus familiares, vários caminhos, os
quais são caracterizados pela passagem por várias unidades integrantes da rede publica e/ou
privada, de serviços de atenção e saúde existente no Distrito Federal e/ou fora dele.
Nessa Zona de Sentido, é possível observar que a motivação para buscar tratamento,
pode estar relacionada com a vivência de situações difíceis seja no contexto social, laborativo,
familiar ou judicial, visto que o desejo de parar de usar drogas, embora seja genuíno, em
algumas situações pode não ser forte o bastante para resistir aos apelos do contexto no qual a
mulher se encontra inserida.
No que tange ao trajeto dessas mulheres pela rede de serviços de atenção e tratamento,
os depoimentos apontam para a necessidade de aprimorar os mecanismos de fornecer à
sociedade, maior numero de informações acerca das diversas modalidades de abordagens e/ou
atuação dos atores integrantes dessa rede, de maneira que as mulheres possam escolher o
serviço de atenção para si e para sua família, de acordo com as suas necessidades e
características pessoais.
112

De acordo com Payá e Figlie (2004), do ponto de vista sistêmico, o sujeito seja ele
usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas ou não, é um ser complexo que, apesar dessa
complexidade, não se encontra isolado do contexto sociofamiliar, sendo a família, o lugar
onde as expectativas são construídas, transformadas ou repetidas, a depender da qualidades
das interações ocorridas neste contexto.
Considerando as características e peculiaridades das famílias de usuários abusivos de
álcool e/ou outras drogas, é importante observar que a atenção especifica para estas famílias,
merece ser alvo de estudo mais aprofundado, visto que os depoimentos sobre este tema
apontam para ações ainda carentes de fortalecimento.
No que se refere à necessidade do atendimento a ser dispensado para os familiares,
(Seadi & Oliveira, 2009; Silva, Macedo, Derntl & Bergami, 2007; Wenzel & Paula, 2010) é
importante considerar que cada sistema familiar deve ser objeto de um programa de
tratamento adequado as suas necessidades, peculiaridades e condições (Payá & Figlie, 2004;
Orth & Moré, 2008; Penso, 2001).
Diante dos depoimentos das participantes, parece que as mulheres usuárias de álcool
e/ou outras drogas, antes de iniciarem o tratamento em regime de internação na comunidade
terapêutica, apesar de não disporem de muitas informações sobre a instituição e sobre o
programa terapêutico ao qual seriam submetidas, traziam consigo expectativa no sentido de
apenas estar em ambiente protegido e realizar atividades domésticas, o que as remetiam para
experiências de tratamento anteriormente vivenciadas. Entretanto ao encontrarem-se diante de
contexto de acolhimento e terapêutico diferentes das experiências anteriores, que lhes
permitiram espaço para reflexão e acompanhamento, perceberam-se surpresas, o que
provocou mudança em suas perspectivas sobre o tratamento e sobre os possíveis resultados
deste.

6.2 ZONA DE SENTIDO 2 – EXPECTATIVAS E RESULTADOS EM RELAÇÃO AO


TRATAMENTO NA COMUNIDADE TERAPÊUTICA

Nesta Zona de Sentido, discutiremos as expectativas de mulheres usuárias de álcool


e/ou outras drogas, e suas famílias com relação ao tratamento que estavam realizando na
modalidade de comunidade terapêutica no momento da pesquisa assim como quais os
resultados atribuídos por essas mulheres e seus familiares, a este tratamento.
113

Com o objetivo de facilitar a compreensão dos diferentes pontos discutidos nesta Zona
de Sentido, assim como na anterior, foi feita uma divisão de acordo com os principais eixos e
seus respectivos indicadores.
No Distrito Federal, muitas famílias procuram atendimentos especializado, buscando
ajuda para atender às necessidades de seus membros. Estudo realizado visando identificar em
que condições a terapia familiar é desenvolvida nesta unidade da federação, aponta que entre
os problemas apresentados pelos filhos, os quais são mencionados pelos pais, como sendo a
queixa que os levou a procurar terapia, encontra-se o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas
(Ribeiro, Galli & Amorim, 2006).
A família constitui-se de um grupo onde são desenvolvidos padrões de interação, os
quais constituem a estrutura familiar, que por sua vez, determina o funcionamento dos
membros da família, definindo seus comportamentos (Minuchin & Fishman, 2003). Dessa
forma, é na família que se dá a constituição da identidade das pessoas, o que faz com que
estas pessoas aprendam s ser individuo, tornando-se assim membro da sociedade (Minuchin,
1982; Penso & Sudbrack, 2004; Stempliuk & Bursztein, 1999).
Para Stempliuk e Bursztein (1999), é importante e necessário que a vida em família
permita ao sujeito a interiorização de regras e conceitos que fundamentam a construção dessa
identidade de forma a diminuir a vulnerabilidade desse sujeito para o desenvolvimento de
padrões de comportamento que possam impactar próprio desenvolvimento, acarretando com
isso problemas nas diversas áreas da vida.
De modo geral o quadro que os sujeitos apresentam ao ingressar no tratamento,
caracteriza-se por: apresentar risco para a saúde; crises sociais importantes no contexto; o uso
de drogas há algum tempo fora de controle; e pouca ou nenhuma capacidade de manter
abstinência por si só. Dessa forma esses sujeitos buscam o tratamento em comunidade
terapêutica, para interromper um estilo de vida que promove a autodestruição, para estabilizar
sua vida social e psicológica e para iniciar um processo de mudança pessoal e de estilo de
vida de longo prazo (De Leon, 2003).
Para Kalina e Kovadlof (1988), a recuperação do usuário abusivo de álcool e/ou outras
drogas, está profundamente ligada à transformação das estruturas do sistema social onde
surgiu o comportamento de usar abusivamente álcool e/ou outras drogas. Dessa forma esse
usuário, aparece em contexto familiar que possui características próprias, sendo que por
intermédio deste sintoma, o usuário de drogas transmite aos demais membros da família, que
está tentando ser diferente ou o contrário do que eles são.
114

De forma geral, situações específicas como a necessidade de interromper o estilo de


vida que está promovendo a autodestruição, e a busca por estabilizar sua vida social e
psicológica, na intenção de dar início ao processo de mudança pessoal e de estilo de vida de
longo prazo, influenciam as expectativas dos usuários da comunidade terapêutica e de seus
familiares.

1 - As expectativas para essa modalidade de tratamento

1.1 - As expectativas de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas, sobre o


tratamento atual na comunidade terapêutica

De acordo com Nichols e Schwartz (2007), a família é uma rede de relacionamentos


em que seus membros influenciam, pelas atitudes e comportamentos de cada um
individualmente, e ao mesmo tempo são influenciados entre si, sendo que além das interações
que acontecem entre seus membros, ocorrem também interações com o ambiente externo.
Assim, tendo como foco o estudo dos acontecimentos, das pessoas e da dinâmica relacional
dessas pessoas diante dos acontecimentos, a família é considerada um sistema interativo.
Partindo da premissa de que a família é um sistema entre outros sistemas, o conhecimento
acerca das relações interpessoais e das normas que regulam o grupo familiar, permite
compreender o comportamento de seus membros (Andolfi, 1996).
Quando as relações sociais e familiares vivenciadas pelo sujeito deixam lacunas, estas
são preenchidas pelo prazer decorrente o uso da substância – seja o álcool ou seja outra droga.
(Cardona, 2013) Como consequencia desse preenchimento, o sujeito vivencia prejuizos
prejuízos físicos, sociais e emocionais, que no caso da população feminina, podem ser
identificados de acordo com os seguintes aspectos: a) com relação aos danos físicos 81 %
sofrem danos em sua maioria hepáticos seguidos pelos sintomas de síndrome de abstinência;
b) com relação aos danos sociais, 66,7% registram conflitos familiares, e 33,3% dificuldades
relacionadas à dificuldade de cumprir os papéis sociais esperados da mulher, tais como: mãe e
dona de casa; c) no que tange aos danos emocionais, 76,2% referem-se a desânimo e tristeza,
seguidos de irritação, sentimento de culpa e vergonha (Esper, Corradi-Webster, Carvalho &
Furtado, 2013)
Ao entrar para tratamento na comunidade terapêutica o sujeito trará consigo as crenças
e valores internalizados na sua família e no contexto social e cultural de onde veio, além de
115

todos os problemas oriundos do uso de drogas. As expectativas com relação ao tratamento


nesta modalidade é um dos aspectos trazidos destes contextos de onde vieram.
O depoimento a seguir exemplifica esta situação. T. ao chegar a comunidade
terapêutica não tinha intenção de ficar e se imaginava fugindo dentro de pouco tempo.

T.: "... eu cheguei aqui com a cabeça de que eu saí do presídio.... eu falei assim:
“vou ficar só uma semana lá moço, e vou pular aquele muro."

Esta participante, não relatou possuir expectativas sobre a instituição e/ou seu
programa terapêutico, o que aumentaria a probabilidade de sua evasão. Entretanto, T.
permaneceu na instituição durante 324 dias, tempo este suficiente para a conclusão do seu
tratamento. A decisão de T. em permanecer e concluir seu tratamento, pode estar relacionada
com o acolhimento realizado pela equipe terapêutica e pelas demais mulheres internadas, e
com a oportunidade de ampliação de consciência que ocorre, conforme mencionado por
Damas (2013), após superadas as crises das primeiras semanas.
De acordo com Damas (2013), quando o sujeito entra para o tratamento em uma
comunidade terapêutica, cedo ou tarde desenvolverá reações internas que irão resultar em
diferentes comportamentos. Apesar de haver desenvolvido um grau de dependência que
recomende o tratamento em regime de internação, em geral nas primeiras vezes que isso
ocorre o sujeito permanece internado por pouco tempo. Entretanto, após as primeiras
semanas, as quais são as mais críticas, tendo em vista as dificuldades de ambientação e as
reações decorrentes das crises de abstinência, o sujeito tende a aceitar a internação e inicia sua
participação no processo terapêutico oferecido pela instituição. Assim, a possibilidade de que
esse sujeito complete o tratamento aumenta na mesma proporção que ele consiga suportar os
conflitos internos e externos.
Embora não dispondo de muitas informações acerca da modalidade de tratamento em
regime de internação, no contexto de comunidade terapêutica, as expectativas das mulheres
internadas para tratamento, variaram de acordo com as experiências anteriormente
vivenciadas por elas em situações semelhantes. Para M. F., seu destino estaria traçado em
função da herança genética de doença mental, da mãe que morreu internada:

M. F.: "Eu esperava que eu ia ficar doida, que eu ia morrer igual minha mãe... que
eu num ia ficar nem um dia... ".
116

Mas ao perceber que sua crença acerca da possibilidade de ter herdado de sua mãe
uma doença fatal, não correspondia a realidade que estava vivenciando, declara estar
emocionada diante do contexto de tratamento:

M. F.: "Mas só que graças a Deus eu quando eu cheguei aqui eu senti uma paz tão
grande aqui dentro... eu gostei daqui... eu chorei...."

Para M. o tratamento seria semelhante àqueles pelos quais já havia passado, em que
não houve uma preocupação com seus problemas psicológicos e clínicos:

M.: "... eu não sabia muito o que tinha...eu achei que ia ser que nem a outra
comunidade, só ia ter, a cozinha, a casa pra arrumar e o jardim... num sabia que ia,
ter grupos nem terapia aqui..."

A mulheres, ao longo do tratamento, concluíram que o contexto da comunidade


terapêutica, em particular, se diferenciava de outros tratamentos pelos quais já haviam
passado, provocando mudanças nas suas expectativas.

M.: " . . . já foi bem diferente do que eu imaginava na minha cabeça. ."

C.: ". . . pra mim a gente ia ficar assim num lugar mais... mais a Deus dará assim,
entendeu, um lugar assim que não, que não fosse me cobrar né?, e quando eu
cheguei aqui foi diferente, foi totalmente diferente. . ."

Observa-se ainda no depoimento abaixo que apesar das suas expectativas de que não
haveria nenhuma novidade neste tipo de tratamento, houve mudanças com relação a hábitos e
comportamentos que foram desenvolvidos durante o período em que estiveram usando álcool
e/ou outras drogas, como é o caso de C. em seu depoimento:

C.: "...eu achava né?, que o tratamento num fosse ser trabalhado por exemplo os
doze passos né?, do N.A.... " que num ia ter a temática né?, com os terapeutas.... a
questão também da nossa higiene também... porque eu num vou ser hipócrita em
dizer....eu tinha perdido completamente minha higiene também sabe, negócio de
banho.... é, escovar os dentes...".

Da mesma forma ao encontrar-se diante de um contexto de tratamento diferenciado,


o depoimento de T., mostra a mudança em sua forma de ser com relação ao tratamento, mas
também com relação a forma como que continuar sua história:

T.: "... to aqui há cinco meses porque eu vi que eu num quero voltar a morar na
rodoviária do Plano, nem a comer comida do lixo, ou então ter que esperar quatro
horas da tarde pra poder os restaurante fechar, pra acabar o expediente e eles dar o
resto de comida...."
117

Com relação às expectativas das mulheres acerca do tratamento na comunidade


terapêutica, a dificuldade encontrada é que são poucos os registros sobre este tema, seja em
textos nacionais, onde autores como: Silva (2011), Jatobá, Calheiros, e Lins Junior (2012);
Scaduto, Barbieri e dos Santos (2014); Silva (2013); Pires, (2011); Perrone (2014); Damas
(2013), apontam para questões relacionadas às representações sociais dos participantes sobre
suas famílias; a importância da internação para oportunizar a retomada da consciência; a
melhora no funcionamento psicológico das pessoas tratadas nesse modelo; o significado da
comunidade terapêutica para a vida da pessoa tratada; a identificação dos sentidos das
experiências de tratamento. No entanto estes autores não tratam das expectativas que as
pessoas internadas tinham sobre a internação.
No que diz respeito aos textos internacionais, autores como Henriques (2013); Nunes
(2012); Rosário (2009); Machado e Veloso (2011); Fiestas, e Ponce,(2012), discutem,
aspectos relacionados à eficácia do modelo terapêutico; a importância, relevância e/ou
adequação do modelo com relação à política sobre drogas; a importância da mudança de
perspectiva na compreensão do fenômeno do uso de álcool e/ou outras drogas; a importância
da vinculação da pessoa em tratamento com a equipe técnica para adesão ao tratamento. Mas
também sem tratar das expectativas.
Carbonera, Gonçalves-Silva, Nascimento-André e Legal (2013), em estudo realizado
em uma comunidade terapêutica para tratamento de mulheres, com o objetivo de oportunizar
espaço para a manifestação dos seus anseios e do seu pensamento sobre temas que
consideram essenciais em suas vidas, como família, religiosidade, educação trabalho e lazer,
apontam que mulheres internadas para tratamento em comunidade terapêutica, no que diz
respeito aos temas específicos de sua pesquisa, têm o desejo de resgatar vínculos familiares;
acreditam na religiosidade como condutora no processo de mudança e no trabalho como fonte
de dignidade, utilidade e satisfação; e percebem o estudo como meio de (re)significação e/ou
(re)estruturação. Também neste estudo, os autores não discutem questões relativa as
expectativas das mulheres com relação ao tratamento que estão realizando.
Estudando mulheres em tratamento para o uso de crack no contexto de internação em
hospital psiquiátrico, o qual é diferente do contexto de comunidade terapêutica, Fertig (2013),
aponta que, naquele contexto, as mulheres pesquisadas relataram ter esperança, vontade e
desejo de viverem sem o uso de drogas, esperando superar a dependência, uma vez que
acreditavam que a internação pode trazer benefícios nesse sentido, contribuindo para uma
vida longe da droga.
118

1.2 - As expectativas das famílias de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas,
sobre o tratamento na comunidade terapêutica

Este item discute especificamente a expectativa dos familiares sobre o tratamento na


comunidade terapêutica em que se encontravam no momento da pesquisa. Tais expectativas
variaram de acordo com o conhecimento que cada um possui acerca dessa modalidade de
tratamento e em especial acerca da possibilidade de solução mágica, rápida, radical e
definitiva para o problema do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas.
O uso de drogas pode ser visto como um “sintoma” que pode, além de desempenhar
papel importante na regulação da dinâmica familiar, apresentar-se como “sinal de alerta” para
denunciar a ocorrência de situações extremas que necessitam ser mudadas (Kalina, 1999;
Penso, Costa & Sudbrack, 2008). Moreira, 2004) registra que as famílias de usuários de
drogas são caracterizadas como sistemas fechados que limitam a evolução e autonomia da
pessoa em tratamento, mantendo o estado de dependência entre os membros do grupo, que se
expressa mediante padrões de interação inadequados entre esses. Assim, o sintoma
apresentado por pelo menos um dos membros da família, deve ser entendido como sendo um
fenômeno relacional (Miermont et al., 1994).
Portanto, numa perspectiva sistêmica, é possível afirmar que os problemas decorrentes
do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, estão localizados na relação que se estabelece
entre a pessoa, o contexto em que ela se encontra e as demais pessoas com as quais ela
convive. Assim sendo, autores como Penso, (2003); Trindade e Bucher-Maluschke, (2008);
Penso, Costa e Sudbrack, (2008), consideram o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas
como um sintoma, que acontece para denunciar disfunção e/ou desequilíbrios no sistema
familiar.
Para Kalina (1988), onde existem usuários de drogas, também existem famílias ou
grupo equivalente, nos quais estão presentes, além do fenômeno do uso de álcool e/ou outras
drogas, assim como modelos de comportamento que indiquem a ocorrência desse fenômeno.
Para este autor, "a família, ou seus equivalentes, é co-geradora do fenômeno adictivo" (p. 27).
De acordo com Aleluia (2010), as famílias quando procuram ajuda para o problema do
uso abusivo de álcool e/ou outras drogas por elas vivenciado, trazem consigo a sensação de
estarem perdidas e um forte sentimento de culpa. Isso ocorre devido a falta de informação
sobre a questão do uso de drogas; sobre a possibilidade de que esse uso seja a manifestação
119

sintomática de que o grupo familiar está adoecido; sobre a necessidade de que os padrões
relacionais disfuncionais existentes sejam alterados e sobre a importância de manter essa
alteração por meio da aquisição de padrões mais saudáveis para todo o grupo familiar.

Mãe de M.: " o que a gente espera... eu acho que num existe... quando a
gente tem um filho tão difícil assim, a expectativa é de que ia ter uma solução
mágica, coisa que num existe né?.. eu imaginava a questão da dependência, que ela
largasse e tal, tanto que ela largou" "... e imaginava... que a gente sempre tem
esperança... que ela fosse conseguir traçar um caminho, conseguir mudar a energia
dela que é altamente destrutiva, então uma coisa do caminho do bem ..."

Tendo em vista que o depoimento está na terceira pessoa do singular, parece que,
assim como com as famílias atendidas por Minuchin (2009) na Flórida, aqui também temos o
desafio de mudar a percepção dos familiares no sentido de que, sendo a família um sistema
social, seus integrantes afetam e são afetados entre si. Ou seja, as famílias são "co-autoras"
tanto do surgimento do uso de álcool e/ou outras drogas, como da evolução desse uso (Orth &
Moré, 2008). A esse respeito Penso e Sudbrack (2004), ao considerarem o uso de álcool e/ou
outras drogas como um sintoma no contexto familiar, observam que este sintoma tem como
função, denunciar que o sistema familiar e social apresenta falhas, as quais necessitam ser
observadas, com o objetivo de promover mudanças no funcionamento dessa família.
Considerando que alguns tratamentos realizados em outra modalidade diferente da
comunidade terapêutica, têm como objetivo a desintoxicação, mas não visam trabalhar as
questões ligadas aos problemas sociais e comportamentais associados ao uso de álcool e/ou
outras drogas, e por conseqüência não produzem a mudança de comportamento necessária
para a transformação esperada pelos familiares, estes desejam encontrar em uma comunidade
terapêutica a oportunidade de que seu familiar se liberte do problema de uso abusivo de álcool
e/ou outras drogas (Silva, Pinto & Machineski, 2013).
De acordo com Kalina (2001), famílias que vivenciam o problema do uso abusivo de
álcool e/ou outras drogas, quando procuram por ajuda, o fazem com o intuito de que aquele
membro da família por intermédio do qual o sintoma foi manifestado, seja curado, sendo que
o entendimento acerca da palavra curar é diferenciado para os atores deste contexto. Para a
família, curar pode significar: "faça com que seja bom" (p. 54) enquanto que para os
terapeutas, a palavra curar está relacionada a uma intervenção que tem uma finalidade
democratizante. Entretanto, o autor salienta que o pedido é de "que o 'curemos', leia-se: 'o
aperfeiçoemos' como objetivo máximo, mas não mudá-lo e ter de mudar a todos" (p. 59).
120

Com relação a essa mudança de comportamento, outro aspecto a ser observado neste
contexto, é que para alguns familiares, o melhor caminho para atingir o resultado por eles
esperado, é que o tratamento seja realizado não apenas em regime de internação, mas também
que o local de tratamento seja afastado dos locais de freqüência habitual da pessoa em
tratamento, além de que o programa terapêutico tenha em seu contexto, a disciplina como
ferramenta de trabalho. Isso pode ser identificado no depoimento da Sra. L - cunhada de M.
F., conforme segue:

Cunhada de M. F.: "... quando eu cheguei lá, por ser distante, por ter disciplina, por
não sair, ser realmente interno eu confiei no tratamento ... ".

Desse modo, parece que a expectativa dos familiares de que o tratamento deve ser em
local isolado, encontra respaldo na literatura, como apontam os autores acima, a despeito das
políticas públicas sobre o assunto, privilegiar o tratamento em regime ambulatorial (Brasil,
2002b). No entanto, compreendemos que é preciso relativizas as duas posições, privilegiando
uma avaliação individualizada que identifique o que é melhor para cada sujeito.
Outro aspecto a ser considerado, é a reflexão feita por Jatobá, Calheiros e Junior
(2012), acerca do sofrimento imputado ao usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas, em
especial no início do tratamento para manter-se distante do uso dessas substâncias, quando
não afastado do convívio social, onde o apelo ao uso, seja pela dificuldade para lidar com suas
dores e angústias, seja pelos sintomas decorrentes da crise de abstinência ou ainda seja pelo
apelo constante dos pares, é constante e intenso.

2 - Os resultados identificados no tratamento na Comunidade Terapêutica

2.1- Resultados na percepção das mulheres internadas

Em relação à comunidade terapêutica onde foi realizada esta pesquisa as mulheres


relataram que a realidade encontrada no contexto da comunidade terapêutica, as levaram a
concluir que estavam inseridas em modalidade de tratamento que se diferenciava de outros
pelos quais já haviam passado, provocando mudanças nas suas expectativas. Além disso, os
resultados por elas identificados também apontam para a possibilidade de alteração em suas
crenças acerca delas mesmas e de sua relação com o contexto. Nos depoimentos a seguir fica
claro que o tratamento trouxe auto conhecimento, transformação e a expectativa de conseguir
dar continuidade em sua vida com segurança e maturidade.
121

I.: "...esse lado do autoconhecimento, sabe, que eu fui resgatando, ir me


conhecendo" responder algumas perguntas que ficavam... "pelo menos me deu
uma, uma base pra entender o quê acontecia na minha vida, me fortalecer mais, até
mesmo pro que vem pela frente né?... ".

M.: "Trouxe maturidade primeiro né?... e o autoconhecer, coisa que eu não tinha
né?, de saber do que eu gosto, do que eu não gosto, me ajuda muito. O tratamento
ele é muito bom, muito bom, é dolorido, mas é bom....".

I.: "... eu não esperava, na realidade, eu não esperava é... que acontecesse tanta
coisa boa que tá acontecendo.... eu imaginava que fosse, acontecer coisas boas né?,
mas eu não imaginava que fosse tanta coisa boa.... é uma outra pessoa que tá, que
tá aqui.... eu acredito mesmo que morreu aquela, a outra, a antiga e que tinha
estacionado na idade dos vinte e cinco anos, né?... ".

Além da oportunidade do auto-conhecimento, de sentir-se mais confiante, M também


deixou de sentir raiva e voltou a sorrir, ainda que eventualmente. De acordo com seu
depoimento, parece que o tratamento na comunidade terapêutica permitiu a ela descobrir
outro caminho para lidar com as situações difíceis de sua vida, ao reconhecer que não precisa
da droga para resolver seus problemas:

M.: "Tá sendo bom, tá sendo maravilhoso. To me conhecendo mais, tenho menos
momento de raiva, agora eu sei o quê que é rir, coisa que eu não sabia mais né?. É,
saber que eu posso resolver minhas coisas sem ter que usar droga isso é muito
bom.... ".

Ainda sobre a possibilidade de auto-conhecimento, parece que o tratamento na


comunidade terapêutica trouxe para M., além de saber mais de si mesma como o que gosta e o
que não gosta, o fortalecimento da auto-estima e a felicidade, a partir da descoberta de
valores:

M.: "E aqui eu aprendo a gostar, ver o que eu gosto, o que eu não gosto, é, saber a
ser mais vaidosa, porque eu num sabia o quê que era isso não, e começar a me
achar bonita, coisa que eu não sabia nem o quê que era mais, eu não tinha mais
nem coragem de me olhar no espelho antigamente, hoje em dia ainda, ainda peno
um pouquinho mas eu olho.... Achei que num ia mais ter a felicidade ou rir de
verdade né?, de pequenas coisas, que hoje em dia eu dou mais valor...".

Apesar da dificuldade do processo terapêutico, o depoimento de T., aponta para a


possibilidade de que ela encontrou na comunidade terapêutica, um contexto que lhe trouxe
segurança e esperança para mudar sua história. Para ela, o tratamento permitiu, além de
refletir sobre a experiência vivida no contexto do uso de álcool e/ou outras drogas trazendo
consciência sobre os riscos e sofrimentos causados por esse uso, a oportunidade de escolher
uma nova forma de viver:
122

T.: "....eu tenho uma vontade muito grande de fazer sempre o certo sabe? ... eu fico
com vontade de ir me embora, ai é que eu lembro do que eu já passei lá na rua, aí
as vezes só isso não é suficiente, nem lembrar da minha família é suficiente, nem
as pessoas são suficiente... aí eu lembro que eu posso morrer .... mas eu to
segurando a minha onda, eu sei que eu vou segurar porque eu preciso disso aqui, eu
preciso dessa casa.... ".

Considerando a singularidade do ser humano, Fertig (2013) aponta para a importância


do cuidado integral, que alcance a dimensão subjetiva, a sensibilidade e o caráter relacional da
vida humana. Para a autora, o acolhimento deve transcender a dor física e ter a capacidade de
permitir a expressão de emoções e do sofrimento a elas relacionadas. para tanto é importante
que em ambientes de acolhimento e tratamento, sejam desenvolvidos com o sujeito em
sofrimento, vinculo de confiança e trocas que oportunizem a esse sujeito a livre expressão de
suas angústias.
De acordo com Carbonera, Gonçalves-Silva, Nascimento-André e Legal (2013), o
tratamento em comunidade terapêutica possibilita que a pessoa internada descubra e
desenvolva potencialidades que se encontravam adormecidas, tornando-a mais otimista, capaz
de elevar sua auto-estima e com orgulho de si. Entretanto, os autores ressaltam que é
importante dar voz a essas pessoas em tratamento, para perceber quais as reais
necessidades,desejos e sonhos dessa população.
O tratamento no modelo de comunidade terapêutica, é um trabalho realizado sob
orientação humanista, contemplando aspectos éticos e morais, favorecendo a inclusão social,
a autonomia e a integração sociocultural das pessoas tratadas (Silva, 2013). Seu contexto
residencial, oportuniza aos residentes além da oportunidade de crescimento pessoal, um
aprendizado social que permite ao sujeito reconhecer a importância de sua participação no
processo terapêutico, além de um amadurecimento pessoal que poderá favorecer sua
reinserção na sociedade (Fracasso, 2011; Sabino & Cazenave, 2005; Vieira, 2007; Silva, Pinto
& Machineski, 2013).
Para Barros (2012), considerando que muitas pessoas nunca experimentaram viver
sóbrios, tem muita dificuldade para lidar com seus reais sentimentos. Além disso, enquanto
vive sob o efeito da substância, o usuário de álcool e/ou outras drogas não consegue perceber
em si, traços de seu caráter como a responsabilidade, a honestidade, e a disciplina. Esta
afirmação da autora, parece ir ao encontro do depoimento de C. que encontrou na comunidade
terapêutica, aspectos de si mesma que pensava haver pedido:

C.: "... essa experiência pra mim tá sendo gratificante né?, tá sendo assim uma
experiência muito boa, ... humildade, honestidade, valores que minha mãe já, que
123

minha mãe havia me ensinado e eu, e eu perdi, perdi e tô conseguindo resgatar


agora....".

Outro aspecto apontado pelas mulheres participantes desta pesquisa, diz respeito à
relação delas com a religiosidade, como mostra o depoimento de C.:

C.: "... por ser uma Instituição que não tem dogmas né, a gente, a gente se sente à
vontade de buscar Deus da forma como a gente melhor a gente compreende,
sabe?.... ".

Diante do depoimento de C., parece que durante sua permanência na comunidade


terapêutica ela conseguiu realizar este movimento em direção à espiritualidade, ainda que na
instituição não fossem realizadas práticas dogmáticas relacionadas a qualquer religião, o que
vem ao encontro da conclusão de Sanchez e Nappo (2007), no sentido de que pode haver
influência positiva da religiosidade como fator de proteção no processo de recuperação de
usuários de drogas, sendo que a maior parte dos estudos acerca deste tema, está focada em
tratamentos baseados nos 12 passos de Alcoólicos Anônimos, os quais são alicerçados na
espiritualidade, sem no entanto, estarem vinculados a uma religiosidade.
De modo geral, nas instituições denominadas comunidade terapêuticas, as pessoas
internadas para tratamento, referem-se uns aos outros com o termo "família". Esta forma de
relacionamento está inserida no contexto do programa terapêutico, e tem como finalidade
configurar-se em um sistema familiar substituto, facilitando o processo de acolhimento e
propiciando o resgate de afetos entre os membros, de forma a prepará-los para realizar o
resgate dos vínculos com os respectivos familiares (Silva, 2011). Parece que este sistema
familiar substituto, permitiu a M. F., sentir-se parte do contexto da comunidade terapêutica
fato que pode ser constatado por intermédio dos seus depoimentos:

M. F.: "Pra mim muda muita coisa... eu lembro da droga, mas eu num sinto
vontade... eu nunca senti vontade de fugir... ...é assim, uma nova família que eu
quero pra mim, que eu gosto de ter, sabe?... E aqui não, aqui você aprende a como
ter a dignidade de volta, o respeito, aprender a ter calma, paciência, coisa que eu
num tinha paciência mais com nada na minha vida, aqui eu tô aprendendo ".

Além disso, de acordo com o depoimento abaixo, parece que para M. F., o contexto
terapêutico da instituição, lhe permitiu realizar algumas mudanças em sua história e em sua
vida:

M. F.: ".... eu num gosto nem de pensar que eu vou embora, sabe? Porque me dá
uma vontade tão grande de eu chorar, eu aprendi a amar aqui porque os terapeuta,
124

os psicólogo me ajudou a viver de novo, a aprender a dizer não, porque eu tinha


uma dificuldade muito grande".

O objetivo específico da comunidade terapêutica é tratar o sujeito, transformando


estilos de vida e identidades pessoais. O processo de recuperação começa quando os sujeitos
aceitam a responsabilidade por suas ações, independentemente do tipo de droga utilizada. A
internação é estabelecida com uma duração planejada para a permanência residencial, a qual é
orientada por um plano e por um protocolo de tratamento. Apesar dessa modalidade
apresentar-se apropriada e eficaz para qualquer perfil de usuário que possua diagnóstico de
uso de drogas de forma abusiva ou nociva ou de dependência, em geral a pessoa que busca
esse tipo de tratamento o faz em decorrência do fracasso de resultados positivos em outras
modalidades de tratamento visando alcançar estabilidade na abstinência. Além disso, está
enfrentando muitos outros problemas nas demais áreas de sua vida: social afetiva, laborativa e
familiar (Fracasso & Landre, 2012).

2.2 - Resultados para a mulher internada na percepção dos familiares

Nos seus depoimentos, os familiares demonstraram que, mesmo antes da conclusão do


tratamento, já é possível identificar alguns resultados:

Irmão de I.: "... ela tem me mostrado que tá... que tá assim diferente, que tá pronta
pra enfrentar isso né?".

Mãe de M.: " .... tem horas que eu acho que ela tá bem melhor, assumindo alguns
padrões de comportamento, se revendo, deixando de ser né infantil e olhando as
coisas de frente, para de brincar, então, eu tive uma conversa com ela que eu fiquei
de queixo caído, eu nunca tinha tido uma conversa com a M. assim adulta, e eu
pude ter, e ela se mostrou adulta, e as coisas que ela tava pensando e foi fundo e
falou: 'olha, mãe, tem algumas coisas que eu num vou conversar com você agora
porque eu num tô pronta' .... por isso que eu tô te falando, eu fiquei, falei: 'nossa,
que trabalho lindo dessa Instituição', porque isso é uma cura, fazer a pessoa é,
perceber, tirar a capa da infantilidade, se olhar, que já não é pouca coisa, de
verdade, e perceber, não, é lindo, é lindo né?".

Estudo realizado, por meio de avaliação realizada no inicio e no final do tratamento,


com o objetivo de analisar as mudanças no funcionamento psicológico de internos em uma
comunidade terapêutica localizada em um município do interior do Estado de São Paulo,
registra que os participantes no final do tratamento, apresentam indicadores positivos em
todas as dimensões avaliadas, quando comparados ao início do tratamento. A identificação
desses indicadores sugere que o tratamento oportunizou a redução do sofrimento psíquico,
125

assim como melhoras no que tange ao desenvolvimento de recursos adaptativos mais maduros
e socializados. Entretanto, em analise individual, o estudo aponta que a extensão dessa
melhora foi diferente para cada participante, o que sugere que o tratamento em comunidade
terapêutica, promove benefícios que podem variar de acordo com o nível de funcionamento
da personalidade e o grau de prejuízo de cada sujeito (Scaduto, Barbieri & Santos, 2014).
Ainda no que diz respeito às mudanças que podem ocorrer para a pessoa durante o
tratamento, pode ser que ocorra uma relação positiva da mulher com a comunidade
terapêutica, contexto desta pesquisa, mesmo com um tempo curto de internação. Essa relação
positiva apresenta reflexos não só para a mulher internada, com relação a sua adesão ao
tratamento, mas também para seus familiares, conforme fica evidenciado no depoimento
abaixo:

Cunhada de M. F.: "Quando eu visitei ela com sessenta dias depois, ela elogiou
muito a forma do tratamento dela lá, ela disse que lá ela tava tendo o horário de
acordar, horário de alimentação, tava sendo bem tratada por toda a equipe, todo
mundo conversava com ela, ela ficou deslumbrante porque tinha um terapeuta,
porque tinha um psicólogo, porque tinha alguém ali dando apoio, ajudando, então
ela passou esse encanto pra mim e eu confiei mais ainda".

Para De Leon (2003), a confiança na relação terapêutica é a base do sucesso do


tratamento nas comunidades terapêuticas. Da mesma forma, estudo realizado com ex-
residentes e técnicos que trabalharam em nove comunidades terapêuticas selecionadas, a
partir de lista existente no Instituto da Droga e Toxicodependência e localizadas na zona
norte de Portugal, aponta que, seja na perspectiva dos técnicos ou na perspectiva dos
residentes, a confiança dos residentes nos técnicos que trabalham nas comunidades
terapêuticas é um elemento importante para o estabelecimento da relação terapêutica
(Machado & Veloso, 2011).
Ainda de acordo com esse estudo, existem alguns aspectos importantes para que se
desenvolva a confiança, quais sejam: 1) é necessário tempo; 2) o conhecimento por parte dos
residentes sobre as características dos técnicos e 3) cada residente possui características
próprias que influenciam sua tendência para confiar. Dentre as características dos técnicos que
influenciam a confiança dos residentes estão: a benevolência, a integridade e a competência,
sendo que estas características não promovem a confiança, quando isoladas uma das outras.
Vale ressaltar que entre os resultados da confiança está o aumento da predisposição para falar
de temas sensíveis para os residentes, além de aumentar a predisposição para seguir as
orientações dadas pelos técnicos, assim como eleva o nível de comprometimento com a
126

instituição. Além disso, o estudo registra que os residentes desenvolvem sentimento de


confiança direcionado à instituição, independente da confiança estabelecida na relação com a
equipe terapêutica. Assim, a confiança na Comunidade Terapêutica remete para resultados a
longo prazo, como o compromisso em terminar o tratamento (Machado & Veloso, 2011).
Diante dos depoimentos das participantes, parece que as mulheres usuárias de álcool
e/ou outras drogas, antes de iniciarem o tratamento em regime de internação na comunidade
terapêutica, apesar de não disporem de muitas informações sobre a instituição e sobre o
programa terapêutico ao qual seriam submetidas, traziam consigo expectativa no sentido de
apenas estar em ambiente protegido e realizar atividades domésticas, o que as remetiam para
experiências de tratamento anteriormente vivenciadas. Entretanto ao encontrarem-se diante de
contexto de acolhimento e terapêutico diferentes das experiências anteriores, que lhes
permitiram espaço para reflexão e acompanhamento, perceberam-se surpresas, o que
provocou mudança em suas perspectivas sobre o tratamento e sobre os possíveis resultados
deste.
Os resultados apontam que na visão das mulheres e de seus familiares o tratamento
nessa modalidade trouxe para essas mulheres, oportunidade para o auto conhecimento, o
resgate de hábitos e valores, transformação e a expectativa de conseguir dar continuidade em
sua vida com segurança e maturidade.
Em resumo, nesta Zona de Sentido, é possível observar que, apesar da experiência de
vivenciar o problema de uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, ser um processo difícil
tanto para as mulheres quanto para seus familiares, a percepção destes atores com relação aos
resultados do tratamento é semelhante, sendo que para a mulher internada a oportunidade do
tratamento trouxe transformação interior e resgate de valores, da auto-estima e da dignidade, e
para os familiares, esta oportunidade foi aproveitada pelas mulheres, visto que mesmo antes
da conclusão do tratamento, os familiares já reconhecem que houve mudança no
comportamento da mulher.
Dessa forma, considerando que a família é a primeira instância da formação do sujeito,
o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas por um ou mais de seus membros, pode estar
relacionado a vários aspectos inerentes ao modo de funcionamento dessa família, é importante
e necessário que essa família, reconheça esse uso admitindo a existência do problema, saindo
assim da zona de paralisação gerada pela negação e pelo segredo, mobilizando-se na busca
por mudanças que restabeleçam a harmonia do grupo familiar.
127

6.3 ZONA DE SENTIDO 3 – ESTRATÉGIAS PARA SAÍDA DA COMUNIDADE


TERAPÊUTICA APÓS A CONCLUSÃO DO TRATAMENTO

Nesta Zona de Sentido, discutiremos as estratégias de saída da comunidade


terapêutica, das mulheres que estiveram em tratamento, e suas famílias, com relação a
reorganização de suas vidas após o tratamento.
Com o objetivo de facilitar a compreensão dos diferentes pontos discutidos nesta Zona
de Sentido, assim como na anterior, foi feita uma divisão de acordo com os principais eixos e
seus respectivos indicadores.

1 - As estratégias de saída da comunidade terapêutica, na perspectiva das


mulheres internadas

A conclusão do tratamento em regime de internação caracteriza um marco na trajetória


das mulheres internadas. Para T. e M. F., o retorno ao convívio com seus familiares e as
conseqüentes implicações desse convívio, são vistos com medo e incertezas:

T.: "eu tenho medo de sair daqui ".

M. F.: "eu num gosto de pensar não, porque eu tenho medo. O dia de sair vai ser
triste".

A esse respeito, Moraes, Braga, Souza, e Oriá, (2009), afirmam que algumas mulheres
da sua pesquisa, apesar de estarem felizes com a mudança no estilo de vida, tinham medo de
viver essa nova vida mesmo não conseguindo identificar que sentiam esse medo. As mulheres
entrevistadas para a atual pesquisa foram capazes de identificar o medo que sentiam da saída
da comunidade terapêutica.
No caso de I. este momento também se apresenta revestido de medo e incertezas.
Entretanto, esta participante se percebe em processo de preparar-se para este evento, e parece
ter encontrado na sua relação com os aspectos espirituais do processo terapêutico, um
referencial no qual pretende apoiar-se nesta nova fase de sua vida.

I.: "lógico que não vou mentir, assusta um pouco mas eu to me preparando pra isso
e quem me ajuda é Deus".

Com a certeza de que a vida fora da comunidade terapêutica deverá ser diferente tanto
daquela vivida antes e durante a internação, I. se fortalece na fé para enfrentar esse novo
momento de sua vida, uma vez que tem consciência de que só pode contar consigo mesma:
128

I.: "porque eu rezo, eu não tinha esse hábito de rezar, de ir pra Capela e pedir
serenidade, pedir sabedoria, pedir as coisas que eu necessito pra dar continuidade
na minha vida. Porque eu num, posso contar com mais ninguém a não ser Deus e
o apoio que eu to tendo aqui".

C., por sua vez, vislumbra mudanças gerais em sua vida:

C.: "eu sei que quando eu sair daqui eu vou ter que mudar tudo... até os lugares e
pessoas".

A colocação de C. vai ao encontro dos resultados encontrados por Oliveira et al.,


(2014) em sua pesquisa, em que evidenciou-se que as mulheres utilizam como estratégia para
manterem-se afastadas do uso de álcool e/ou outras drogas, o distanciamento de locais
considerados como sendo "área de risco". Para isso, além de andar com pouca quantidade de
dinheiro e evitar consumir outra substância que possa desencadear a vontade de usar sua
droga de preferência, elas também procuram se afastar dos amigos com os quais usavam
drogas e dos locais que costumavam freqüentar para esse uso. A exposição da pessoa a fatores
ambientais que estão associados ao uso de drogas pode produzir uma resposta condicionada
que incite o sujeito ao uso (Colle, 2001; Oliveira et al., 2014).
A conclusão do tratamento em regime de internação aponta para a mudança nos
paradigmas até então vigentes nos contextos de origem das mulheres, gerando a certeza de
mudança nos próprios padrões de comportamento e de estabelecimento de novos projetos:

C.: "eu num coloquei essas metas ainda pra mim não, metas assim a longo prazo
não né? porque assim, eu quero começar tudo novo na minha vida, sabe? a única
coisa que eu sei é que eu preciso começar tudo novo na minha vida".

Enquanto M. acredita que ao sair da comunidade a vida será diferente, T. se preocupa


com o retorno ao mesmo contexto, pois reconhece que sua família continua sendo a mesma:

M.: "as vezes eu falo assim: “não vou planejar porque quando a gente sai daqui é
tão diferente do que a gente planeja".

T.: "eu tenho medo de sair daqui, lá em casa não mudou nada, quem mudou fui
eu".

O pensamento de T. vai ao encontro dos resultados apresentados em estudo realizado


com o objetivo de conhecer a percepção dos familiares de usuários de álcool e/ou outras
drogas em relação ao tratamento realizado em uma comunidade terapêutica localizada na
cidade de Cascavel - PR, os quais apontam para modificações no ambiente familiar que
ocorrem com a presença do usuário, visto que as relações com a família sofrem alterações,
129

assim como as relações com o mundo externo de forma geral. (Silva, Pinto, & Machineski,
2013).
Considerado que o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas é uma problemática
complexa, Silva (2011), recomenda que a oferta de atendimento e suporte a esse usuário,
deve ser realizado por intermédio de uma “rede saudável”, que se inicia na família, passando
pela comunidade na qual essa família está inserida.
Desse modo, o tratamento para usuários abusivos de álcool e/outras drogas deve
necessariamente ser realizado sob a perspectiva da integralidade, ratificando a impossibilidade
de tratar somente o usuário, sem incluir o sistema familiar, uma vez que, por tratar-se de um
sistema, todos são atingidos pelos efeitos e conseqüências do uso de álcool e/ou outras drogas
por qualquer de seus membros. (Orth & Moré, 2008; Penso, 2001)
C. acredita e espera contar com o apoio de seu irmão, ainda que este não tenha
acompanhado e participado do seu tratamento, uma vez que este, devido a morte de sua mãe,
é o familiar mais próximo dela:

C.: "meu irmão mais novo vai me apoiar, a minha cunhada né?, apesar de todas as
adversidades que já existiu né? entre nós, mas eu acredito que isso aí é uma coisa
que, que já passou".

Além disso, por ser a única das mulheres internadas que possuía vínculo empregatício
antes de ser internada, C. planeja retornar ao seu emprego para dar continuidade a sua vida
junto com seus filhos:

C.: "eu sei que eu vou retornar pro meu serviço né?, e vou, resgatar os meus filhos
né?, pra morar comigo".

Parece que estes depoimentos de C. vão ao encontro do resultado obtido por


Carbonera, Gonçalves-Silva, Nascimento-André e Legal (2013), que aponta como aspecto
essencial na vida de mulheres que estão em tratamento em comunidade terapêutica, o resgate
dos laços familiares tanto da família ascendente quanto da família descente, visto que
"quando as mulheres relatam o desejo de resgate familiar, é porque este vinculo está rompido
ou prejudicado". (p. 111)
Por outro lado M. F., apesar de não estar formalmente empregada, possui muita
disposição para o trabalho e espera poder voltar a estudar para trabalhar em uma comunidade
terapêutica, preferencialmente naquela que no momento está internada:
130

M, F.: "Mas eu quero trabalhar, e o que mais me motiva é a minha vontade de, de
trabalhar, porque eu gosto, por enquanto eu vou trabalhar com ela lá né? Mas
depois, se eu pudesse, fizesse meus curso eu queria trabalhar aqui ajudando o
povo".

2 - As estratégias de saída da comunidade terapêutica, na perspectiva dos familiares das


mulheres internadas.

Da mesma forma que as mulheres internadas, os familiares demonstram apreensão


quando se referem a saída do contexto de internação para retornar ao convívio da família.
Ainda inseguros sobre que comportamento adotar com relação a sua familiar que sairá da
internação, uma das preocupações dos familiares também diz respeito a duvida sobre como
será o comportamento dela ao retornar ao mesmo contexto, tendo em vista inclusive a
necessidade de trabalhar pela própria subsistência:

Irmão de I.: "tenho receio de saber como é que vai ser, porque além do problema
da droga ela tem um temperamento explosivo. Eles, discutem muito, gritam muito,
falam muito, então eu num sei se isso pode até mesmo ser amenizado com todo
esse tratamento. ..... "E assim, a preocupação é só nisso né?, ela vai sair, aí
como ela é mãe de família, ela tem, o menino tá trabalhando, mas ela tem uma
filha de quinze anos, então ela tem que sustentar essa filha né? e tem que
trabalhar".

A esse respeito, Silva, Pinto e Machineski (2013), registram que, diante da perspectiva
de retorno ao convívio familiar após o tratamento em regime de internação, sentimentos de
medo e insegurança além da expectativa de convivência difícil, também estão presentes entre
familiares de usuários abusivos de álcool e/ou outras drogas.
Para Moraes, Braga, Souza e Oriá (2009), ao experimentar outra vivência diferente da
co-dependência, os familiares ficam com medo de que tudo não passe de uma sonho ou
fantasia, e que a qualquer momento tudo pode voltar a ser como antes da internação.
Permanecendo na expectativa de que algo ruim pode acontecer com seu familiar recém-saído
do tratamento, a família teme a recaída, e esse temor se transforma em medo do futuro.
A família tem sido foco de atenção em diversas modalidades de tratamento de saúde,
sendo que com relação ao tratamento de usuários de álcool e/ou outras drogas, participação da
família nesse tratamento é importante, uma vez que os problemas decorrentes do uso abusivo
de álcool e/ou outras drogas atinge todo o sistema familiar, onde algumas vezes se encontram
mais de uma pessoa usuária. Em algumas famílias ocorre a alternância do comportamento de
131

uso abusivo de álcool e/ou outras drogas entre a pessoa em tratamento e outros membros do
grupo familiar (Moreira, 2004).
A reflexão acima, vai ao encontro da preocupação do familiar, que reside na
dificuldade em saber como lidar com o problema de uso abusivo de álcool e/ou outras drogas
com outro membro da família:
Irmão de I.: "e também o enfrentamento com o filho né? sobre essa questão da
droga como é que vai ser, se ele é usuário".

Segundo Figlie, Milagres e Crowe (2009), a capacidade de lidar com o uso abusivo de
álcool e/ou outras drogas, assim como a assunção ou não da responsabilidade pela
estabilidade familiar, está relacionada com o nível de informação que a família possui sobre
esse uso e com o grau de fortalecimento dessa família para o convívio com o usuário de álcool
e/ou outras drogas.
Além disso, o medo e a dúvida sobre a efetiva mudança de comportamento de sua
familiar, geram ansiedade levando a família a procurar outras alternativas para manter sua
familiar sob controle:
Mãe de M.: "É esse o meu medo, não sei, tenho discutido isso no grupo. Porque
comigo num dá pra morar, eu não tenho confiança que ela, não vá fazer
coisas...."ele (o pai) tem uma, uma rede de conhecimento e tal, e ele talvez
consegue uma moradia assistida, eu num sei bem como é que funciona isso, é, pra
que ela tenha um ambiente pra que ela possa né?, que a gente possa de alguma
forma ter um controle, e que ela tenha atividades né? que eles fazem e tal e tenha
uma certa contenção".

A desconfiança e o medo dificultam as relações familiares, em especial quando a


inserção e a participação desses familiares no processo terapêutico da pessoa internada, ocorre
de modo superficial. Como conseqüência disso, aparece a insegurança, em geral oriunda do
desconhecimento acerca das mudanças ocorridas com o sujeito, a qual na maioria das vezes
pode ser decorrente do pouco ou nenhum envolvimento efetivo da família com o processo de
tratamento da pessoa internada (Silva, Pinto, & Machineski, 2013). Assim, esses autores
apontam que é importante esclarecer aos familiares o compromisso que eles tem com a pessoa
em tratamento tendo em vista que muitas vezes os familiares apresentam-se acomodados
diante da realidade indicando falta de atenção para as mudanças no ambiente familiar
necessárias para que o tratamento tenha resultados positivos.
Figlie, Payá, Krulikowski, e Laranjeira (2002), apontam que a terapia familiar deve ser
um quesito a ser considerado dentro do tratamento uma vez que durante o processo
terapêutico decorrente da terapia familiar, espera-se que a família consiga incluir em seu
132

repertório, novas formas de lidar com a problemática do uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas.
Por outro lado, algumas famílias acreditam que sua familiar ao sair da comunidade
terapêutica estará em condições de dar continuidade a sua vida e estão dispostas a ajudar
nesse novo momento de suas vidas, inclusive dando continuidade ao tratamento:

Mãe de T.: "eu ainda confio que ela vai sair dessa, continuar o tratamento,
continuar. Se pudesse ser aqui pra mim melhor. Porque aqui ela pode passar pra
outras pessoas que tão chegando agora algo que ela viveu".

Cunhada de M. F.: "Eu acho que vai ter sucesso, eu acho ela firme, confiante, eu
acho ela assim, obediente. A gente percebe que ela vai continuar participando das
reuniões, vai continuar fazendo os livro, a escritinha dela, lendo livro, ela disse que
vai dar continuidade".

Outro aspecto observado é que enquanto a mãe de T, se dispõe a ajudá-la, a Cunhada


de M. F. transfere a responsabilidade para pessoas amigas, e o irmão de I. sente-se
sacrificado:

Mãe de T.: "No meu ponto de vista, se ela precisar de ajuda, eu jamais vou negar
ajuda pra ela, porque foi uma pessoa que nunca me deixou faltar nada"

Cunhada de M. F.: "Ela tá entregue à uma família muito boa, família que essa já
participa de grupos Nar-anon há muito tempo, é, família que tá dando muito apoio
à ela, que ficou sendo madrinha dela lá no grupo. Então essa família tá disposta a
ajudar ela, a encontrar colégio, dar a apoio, a sair com ela, a participar mais das
reuniões junto com ela e acompanhar os dia-a-dia dela também".

Irmão de I.: " se depois que ela sair eu também ter que tá aqui né? tudo bem, mas
vai ser um sacrifício pra mim, entendeu?".

Nesta Zona de Sentido, foi possível observar que as mulheres usuárias de álcool e/ou
outras drogas, ao se encontrar na eminência de concluir tratamento em regime de internação
na comunidade terapêutica, e deixar este contexto para retornar ao contexto familiar
encontram-se amedrontadas e inseguras. Isso ocorre porque reconhecem que diante do novo
contexto, ocorrerá uma inevitável exposição aos riscos inerentes ao uso de álcool e/ou outras
drogas, já mencionado no estudo da Zona de Sentido 01, além da inevitável readaptação ao
novo padrão de relacionamento que terá que vivenciar, visto que as mudanças mais
significativas ocorreram em si e não em seus familiares. Por outro lado, apesar de terem
observado mudanças significativas com relação a sua familiar tratada na comunidade
terapêutica, os familiares dessas mulheres demonstram estar divididos entre o medo e a
confiança nestas mudanças.
133

Vale ressaltar aqui, que a instituição disponibiliza para as famílias das mulheres que
são internadas para tratamento, grupo de apoio com o objetivo de orientar esses familiares
com relação ao processo terapêutico ao qual as mulheres estarão submetidas durante o período
de internação. Entretanto, essa atividade deixa a desejar no que diz respeito a realização de
processo terapêutico similar também para os familiares, conforme apontado nesta Zona de
Sentido.
134

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como finalidade compreender a trajetória de mulheres adultas


usuárias de álcool e/ou outras drogas e suas famílias, na busca por serviços de atenção e
tratamento público e/ou privado, no Distrito Federal, até chegar à Comunidade Terapêutica.
Para isso, foi realizada pesquisa de natureza qualitativa, baseada na abordagem sistêmica
associada a algumas referências teóricas relacionadas ao uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas, oriundas de literatura específica sobre comunidades terapêuticas. Buscou investigar os
seguintes aspectos: a trajetória de uso de álcool e/ou outras drogas; a percepção de sua família
acerca desse uso; os serviços de atenção e tratamento nos quais as mulheres e seus familiares
foram atendidas, assim como suas expectativas e percepção de resultados acerca desses
serviços; as expectativas das mulheres e de seus familiares sobre o tratamento no modelo de
comunidade terapêutica e as estratégias estabelecidas para a saída da comunidade terapêutica,
no caso de conclusão do tratamento.
Por tratar-se de pesquisa exploratória, sendo a metodologia qualitativa escolhida para
sua realização, para análise dos dados foi utilizada a epistemologia construtivo-interpretativa,
onde partindo da leitura geral de todas as informações foram identificados indicadores que
permitiram a construção de 03 (três) zonas de sentido, que contemplaram os objetivos
definidos para a pesquisa:1) a trajetória, os motivos, as expectativas e a percepção dos
resultados; 2) expectativas e resultados com relação ao tratamento em comunidade
terapêutica; e 3) expectativas referentes a saída da comunidade terapêutica após a conclusão
do tratamento sendo que nelas foram atingidos tanto o objetivo geral quanto os objetivos
específicos estabelecidos para a pesquisa.
A seguir apresentamos os principais resultados encontrados nas três Zonas de Sentido,
identificados por objetivos. O primeiro objetivo específico que buscou conhecer a trajetória de
uso de álcool e/ou outras drogas de mulheres internadas para tratamento em comunidade
terapêutica, assim como a percepção de sua família acerca desse uso, ficou bem explicitado
no Quadro 04 da Zona de Sentido 01. Esta Zona de Sentido, também discute os motivos que
as levaram a buscar os tratamentos.
Além disso, nesta Zona de Sentido está contemplado o segundo, o terceiro e o quarto
objetivo específico, que buscaram, respectivamente: identificar em quais serviços de atenção e
tratamento, existentes na rede de saúde pública e/ou privada, a mulher e sua família já foi
atendida; identificar a que outros serviços que não sejam aqueles de atenção e saúde, tais
como: assistência social, educação, trabalho, segurança, etc., existentes na rede pública e/ou
135

privada nos quais elas estão ou estiveram inseridas; e conhecer as expectativas que essas
mulheres e seus familiares tiveram com relação a esses serviços, assim como a percepção dos
resultados obtidos.
De acordo com os depoimentos das mulheres e seus familiares, estas passaram por
várias unidades de serviço pertencentes à rede de atenção e saúde, pública e/ou privada,
juntamente com seus familiares, antes de iniciar o tratamento em regime de internação em
comunidade terapêutica. Dentre essas unidades de serviço encontram-se os Centros de
Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas - CAPS Ad, médicos psiquiatras, hospital-dia e casas
de recuperação.
A vivência de situações difíceis seja no contexto social, laborativo, familiar ou
judicial, ficou caracterizada como uma das motivações para buscar tratamento, uma vez que
apesar de desejar sinceramente parar com o uso de drogas, a mulher sentiu dificuldade em
algumas situações para resistir aos apelos do contexto no qual se encontrava inserida. Além
disso, sintomas de depressão, tentativa de suicídio, pressão externa, questões familiares e
medo de morrer, também foram apontados como motivos para a busca por tratamento.
Com relação às expectativas das participantes e seus familiares acerca dos serviços
nos quais estiveram inseridas, a pesquisa aponta que as mulheres ao procurar tratamento na
rede de serviços, possuíam poucas informações sobre quais eram e como era o funcionamento
e/ou metodologia das diversas modalidades de tratamento disponíveis na rede de atenção e
saúde pública e/ou privada, além de levarem consigo a expectativa de que a vontade de usar
drogas fosse diminuir. Por outro lado, seus familiares tinham em si a expectativa de aprender
a lidar com aquele familiar que apresentava o problema do uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas.
No que diz respeito a percepção dos resultados alcançados nos tratamentos realizados
nos serviços de atenção e saúde nos quais tiveram acesso, a pesquisa identificou que na
perspectiva das mulheres e de seus familiares, esses tratamentos não apresentaram resultados
satisfatórios e o serviço foi utilizado por indisponibilidade de outro recurso.
É importante registrar ainda que, os instrumentos da política pública que estabelecem
as diretrizes e/ou determinações relativas as várias modalidades de atendimento existentes na
rede de serviços de atenção e saúde, de modo geral não estão direcionadas para atender as
especificidades do público feminino, o qual possui peculiaridades e necessidades
diferenciadas do público masculino, o que dificulta a adesão de mulheres aos programas de
tratamento atualmente aplicados nas unidades da rede, uma vez que esses programas
136

apresentam características mais próximas das necessidades e características do publico


masculino.
Dentre os achados desta pesquisa, chama a atenção o fato das mulheres participantes
relatarem que faziam uso concomitante dos medicamentos prescritos pelos médicos aos quais
estavam vinculadas nas unidades da rede de saúde, e de álcool e/ou outras drogas.
Diante desses resultados, é importante registrar também que esta pesquisa apontou
para a necessidade de aprimorar os mecanismos de fornecer à sociedade, maior número de
informações acerca das diversas modalidades de abordagens e/ou atuação dos atores
integrantes dessa rede, de maneira que as mulheres possam escolher o serviço de atenção para
si e para sua família, de acordo com as suas necessidades e características pessoais.
Com relação ao quinto objetivo específico, que buscou conhecer as expectativas de
mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas, e suas famílias com relação ao tratamento
realizado na modalidade de comunidade terapêutica, foi alcançado a partir da discussão
realizada na segunda Zona de Sentido, onde ficou evidenciado que as mulheres usuárias de
álcool e/ou outras drogas, ao iniciarem o tratamento em regime de internação traziam consigo
expectativa no sentido de estar em ambiente protegido e realizar atividades domésticas, o que
as remetiam para experiências de tratamento vivenciadas em outras oportunidades em
instituições com mesma denominação mas com programa terapêutico diferenciado. Ao
encontrarem-se diante de contexto de acolhimento e terapêutico diferentes das experiências
anteriores, perceberam-se surpresas, mudando suas perspectivas sobre o tratamento e sobre
os possíveis resultados deste.
Além disso, a discussão realizada na segunda Zona de Sentido, reforçou o pensamento
de que é importante e necessário que sejam realizados estudos com o objetivo de oportunizar
as famílias, o reconhecimento e admissão do problema, saindo assim da zona de paralisação
gerada pela negação e pelo segredo, mobilizando-se na busca por mudanças que restabeleçam
a harmonia do grupo familiar.
No que diz respeito ao sexto objetivo específico, que visou conhecer as estratégias de
saída da comunidade terapêutica, das mulheres que estiveram em tratamento, e suas famílias,
com relação a reorganização de suas vidas após o tratamento, foi alcançado a partir da
discussão realizada na terceira Zona de Sentido, onde a pesquisa aponta que tanto as mulheres
quanto seus familiares apresentavam medo e insegurança diante das mudanças que ocorreram
em suas vidas durante o período em que estiveram internadas, assim como na manutenção
dessas mudanças no futuro que se apresenta.
137

A pesquisa aponta ainda que, para as mulheres que se submetem a esta modalidade de
tratamento, é importante o resgate dos laços familiares. Entretanto, considerando que a
instituição disponibilizou grupo de apoio e orientação para os familiares, e tendo em vista que
nem todos os familiares participaram desta atividade, há que se refletir sobre a importância e
necessidade de a instituição aprimorar essa atividade, de forma a oportunizar aos familiares
apoio terapêutico semelhante ao oferecido para as mulheres durante o período de internação.
Esta afirmação surge da reflexão sobre as possíveis conseqüências das mudanças de
comportamento que ocorreram com as mulheres diante da manutenção dos antigos padrões
de comportamento ainda vivenciados pelos familiares.
Outro aspecto identificado na terceira Zona de Sentido, diz respeito a certeza de
mudança nos próprios padrões de comportamento, gerada a partir da mudança nos
paradigmas que estavam vigentes nos contextos de origem das mulheres participantes antes da
internação. A saída da comunidade terapêutica representa para as mulheres participantes o
começo de uma nova vida, diferente daquela vivida antes da internação, para o qual esperam
contar com o apoio dos respectivos familiares.
Finalmente é importante considerar aqui, que esta pesquisa surgiu das inquietações e
ansiedades decorrentes do contato com estas mulheres e suas famílias e da necessidade de
encontrar um caminho que pudesse orientar esse contato, no sentido de "como lidar" com
esses atores, tendo em vista a complexidade que envolve o uso abusivo de álcool e/ou outras
drogas, aqueles que estão relacionados com esse contexto e a forma como o fenômeno do uso
de drogas se manifesta. Assim, esta pesquisa traz consigo a contribuição acerca da difícil
proposta de buscar compreender a trajetória das mulheres internadas para tratamento em
comunidade terapêutica, a partir da perspectiva sistêmica.
Diante das múltiplas facetas que o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas apresenta,
e da variedade de teorias que apesar de disponíveis e consistentes em seu lugar, não permitem
a integração dos diversos dados obtidos nas mais variadas formas de estudo já realizados,
muitos deles trazidos no contexto desta dissertação, e considerando ainda a relação entre
família, política pública e uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, o estudo aqui apresentado
procurou estabelecer um diálogo entre estas instâncias - família, uso abusivo de álcool e/ou
outras drogas e políticas públicas - as quais inegavelmente estão inter-relacionadas.
Assim sendo, há que se registrar que neste trabalho é possível observar um certo
descompasso entre as abordagens e/ou teorias/metodologias, que atualmente estão sendo
utilizadas como referencia para tratar o tema "uso abusivo de álcool e/ou outras drogas", e em
138

especial a forma como esse fenômeno se manifesta em nossa sociedade. Diante desta reflexão,
este estudo está posicionado para a compreensão do tema e da forma como os fenômenos a
ele relacionados, se apresentam.
Inevitável é reconhecer a limitação vivenciada no contexto desta pesquisa, a qual diz
respeito ao nível de envolvimento da pesquisadora com a instituição, o que pode ter
influenciado alguns participantes, em especial os familiares, no que tange à percepção dos
resultados alcançados pelo tratamento realizado na comunidade terapêutica. Esta limitação
tornou-se visível a partir das leituras de artigos produzidos por outros pesquisadores que
avaliaram a satisfação de usuários com relação aos serviços por eles prestados, mencionados
na discussão da Zona de Sentido 01 desta dissertação .
Entretanto, com relação às participantes internadas, este envolvimento transforma-se
em fator positivo, tendo em vista que em função do vínculo estabelecido com essas
participantes, permitiu a elas sentirem-se seguras para apresentarem suas histórias de maneira
mais integral e sem reservas.
Vale ressaltar ainda, o grande desafio apontado pela pesquisa que consiste no
desenvolvimento de metodologia própria que permita à instituição disponibilizar para as
famílias das mulheres que são internadas para tratamento, atendimento específico na
modalidade de terapia familiar, com o objetivo não só de orientar esses familiares com relação
ao processo terapêutico ao qual as mulheres são submetidas durante o período de internação,
mas principalmente oportunizar a esses atores, a reconciliação de suas famílias, a solução dos
conflitos existentes, mudando toda a organização familiar.
Refletindo sobre a interação entre o psíquico e o social, Araújo (2011), registra que,
saúde e enfermidade, ou aquilo que se considera normal ou patológico, já não são paradigmas
universais, mas sim conceitos contextualizados nos campos cultural, social e simbólico que se
apresentam em constante movimento no tempo e no espaço. Atualmente os pesquisadores
enfrentam uma vasta gama de inteligibilidades parciais, inseparáveis de um dispositivo
multidimensional. Necessário é reconhecer que campos disciplinares fechados em si mesmos,
não conseguem dar conta da complexidade dos seres humanos, e aceitar nossas incapacidades,
enquanto pesquisadores, uma vez que é o outro quem pode reconhecer o sujeito e assegurar-
lhe um espaço no simbólico social.
Assim, é importante registrar que esta pesquisa não pretende exaltar o trabalho das
instituições denominadas comunidades terapêuticas, em detrimento das demais modalidades
de tratamento existentes na rede de atenção e saúde, pública ou privada, voltadas para o
139

atendimento a usuários abusivos de álcool e/ou outras drogas. Seu objetivo é localizar essa
modalidade de tratamento, no exato lugar a ela atribuído pela política pública, como sendo
uma modalidade integrante de um cardápio de opções e possibilidades disponíveis para
escolha dos interessados em parar o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, que melhor se
adéqüe às características e especificidades de cada sujeito.
140

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154

ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO para a Mulher Internada

Você está sendo convidada, juntamente com sua família, a participar de uma pesquisa
intitulada “A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS
DROGAS E SUAS FAMILIAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E
TRATAMENTO ATÉ A COMUNIDADE TERAPÊUTICA”, da psicóloga pesquisadora
Ana Dóris da Silva, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Penso, Professora do
curso de Pós Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília.

Os procedimentos desta pesquisa se dividirão em dois momentos: 1) Entrevista com previsão


de duração de 1h à 2h com gravação de áudio, e 2) Encontro de fechamento, com previsão de
duração de 1h a 2h, que consistirá na audição da gravação da entrevista realizada e
complementação de informações que porventura a participante queira acrescentar.

Dentre os riscos em participar desta pesquisa está a possibilidade de sentir constrangimentos


de qualquer natureza, além de acessar conteúdos pessoais referentes ao presente e passado.
Entretanto, mesmo que aceite participar, você tem o direito de recusar-se a responder aos
questionamentos da entrevista, não sendo necessário esclarecer as razões para tal decisão,
caso isso ocorra. Além disso, você pode se recusar a participar ou retirar seu consentimento,
em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer penalização ou prejuízo.

Por outro lado, os benefícios dessa pesquisa poderão ser percebidos por meio de bem estar ao
contar sua história, pelo suporte psicológico oferecido pela pesquisadora e equipe durante o
processo de pesquisa e, caso necessário, após a intervenção, além de subsidiar novas
perspectivas de suporte para outras pessoas na mesma situação.

Seus dados pessoais não serão divulgados. A privacidade sobre os dados confidenciais
envolvidos na pesquisa será respeitada e seu tratamento ocorrerá em conjunto com o dos
demais participantes. Sua participação não incorrerá em custos financeiros, visto que nos
dirigiremos até você.

Qualquer dúvida que você tenha em relação à sua participação pode e deve ser esclarecida
junto ao pesquisador que está com você neste momento, antes da assinatura deste Termo de
Consentimento. Dúvidas posteriores podem ser esclarecidas pelo pesquisador responsável,
Ana Dóris da Silva, na Universidade Católica de Brasília, Campus Avançado Asa Norte -
SGAN 916 - Módulo B - Avenida W5 - CEP: 70790-160 - Brasília/DF - Telefone: (61) 9466
9767 ou (61) 8184 0606, e-mail: anadorispsi@yahoo.com.br.

____________________________
Pesquisadora: Ana Dóris da Silva
155

Declaro que fui informado (a) e devidamente esclarecido (a) a respeito do projeto de pesquisa
intitulado “A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS
DROGAS E SUAS FAMILIAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E
TRATAMENTO ATÉ A COMUNIDADE TERAPÊUTICA”, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª
Maria Aparecida Penso, Professora do curso de Pós Graduação Stricto Sensu em Psicologia
da Universidade Católica de Brasília, quanto aos itens da Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde. Declaro, que após ser esclarecido (a) pela pesquisadora a respeito da
pesquisa, consinto voluntariamente em participar desta pesquisa.

Brasília, ......... de ....................................de 20......

__________________________________________
Assinatura
Nome:____________________________________

Declaração do pesquisador:

Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências acima, na qual
obtive de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido do declarante
acima, qualificado para a realização desta pesquisa.

________________________________
Ana Dóris da Silva
Psicóloga
CRP 01 – 14036

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Curso de Pós-graduação em
Psicologia, da Universidade Católica de Brasília, em Brasília, no dia 20 de junho de 2014, sob
o nº 692.955.
156

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO para a Família

Você, como membro da família de __________________________________ está sendo


convidada, juntamente com sua parenta internada para o tratamento do uso abusivo de álcool
e/ou outras drogas, a participar de uma pesquisa intitulada “A TRAJETÓRIA DE
MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS E SUAS FAMÍLIAS
DENTRO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E TRATAMENTO ATÉ A COMUNIDADE
TERAPÊUTICA”, da psicóloga pesquisadora Ana Dóris da Silva, sob a orientação da Prof.ª
Dr.ª Maria Aparecida Penso, Professora do curso de Pós Graduação Stricto Sensu em
Psicologia da Universidade Católica de Brasília.

Os procedimentos desta pesquisa se dividirão em dois momentos: 1) Entrevista com previsão


de duração de 1h à 2h com gravação de áudio, e 2) Encontro de fechamento, com previsão de
duração de 1h a 2h, que consistirá na audição da gravação da entrevista realizada e
complementação de informações que porventura os membros da família queiram acrescentar.

Dentre os riscos em participar desta pesquisa está a possibilidade de sentir constrangimentos


de qualquer natureza, além de acessar conteúdos pessoais referentes ao presente e passado.
Entretanto, mesmo que aceite participar, você tem o direito de recusar-se a responder aos
questionamentos da entrevista, não sendo necessário esclarecer as razões para tal decisão,
caso isso ocorra. Além disso, você pode se recusar a participar ou retirar seu consentimento,
em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer penalização ou prejuízo.

Por outro lado, os benefícios dessa pesquisa poderão ser percebidos por meio de bem estar ao
contar sua história, pelo suporte psicológico oferecido pela pesquisadora e equipe durante o
processo de pesquisa e, caso necessário, após a intervenção, além de subsidiar novas
perspectivas de suporte para outras pessoas na mesma situação.

Seus dados pessoais não serão divulgados. A privacidade sobre os dados confidenciais
envolvidos na pesquisa será respeitada e seu tratamento ocorrerá em conjunto com o dos
demais participantes. Sua participação não incorrerá em custos financeiros, visto que nos
dirigiremos até você.

Qualquer dúvida que você tenha em relação à sua participação pode e deve ser esclarecida
junto ao pesquisador que está com você neste momento, antes da assinatura deste Termo de
Consentimento. Dúvidas posteriores podem ser esclarecidas pelo pesquisador responsável,
Ana Dóris da Silva, na Universidade Católica de Brasília, Campus Avançado Asa Norte -
SGAN 916 - Módulo B - Avenida W5 - CEP: 70790-160 - Brasília/DF - Telefone: (61) 9466
9767 ou (61) 8184 0606, e-mail: anadorispsi@yahoo.com.br.

____________________________
Pesquisadora: Ana Dóris da Silva
157

Declaro que fui informado (a) e devidamente esclarecido (a) a respeito do projeto de pesquisa
intitulado “A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS
DROGAS E SUAS FAMÍLIAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E
TRATAMENTOATÉ A COMUNIDADE TERAPÊUTICA”, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª
Maria Aparecida Penso, Professora do curso de Pós Graduação Stricto Sensu em Psicologia
da Universidade Católica de Brasília, quanto aos itens da Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde. Declaro, que após ser esclarecido (a) pela pesquisadora a respeito da
pesquisa, e consinto, voluntariamente, em participar desta pesquisa.

Brasília, ......... de ....................................de 20......

_________________________________________
Assinatura

Nome: __________________________________

Declaração do pesquisador:

Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências acima, na qual
obtive de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido do declarante
acima, qualificado para a realização desta pesquisa.

________________________________
Ana Dóris da Silva
Psicóloga
CPR 01 - 14036

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Curso de Pós-graduação em
Psicologia, da Universidade Católica de Brasília, em Brasília, no dia 20 de junho de 2014,
sob o nº 692.955.
158

APÊNDICE A

Roteiro de Entrevista semi-estruturada para a mulher internada

1) Dados Pessoais:

Idade: _________ Est. Civil: _______________ Escolaridade: __________________


Profissão: _______________________

Agora gostaria que me contasse um pouco sobre você. Se você fosse descrever quem é você,
o que você falaria?

2) Informações gerais:
2.1 - Gostaria que me contasse um pouco sobre sua vida:
a) Com quem mora? (grau de parentesco)
b) Paga aluguel? Tem casa própria?
c) Fonte(s) de renda?
d) Participa de algum programa social? Se sim, qual(is)? Se não, porquê?
e) Há quanto tempo reside no DF?
f) Que aptidões você possui, que poderiam te ajudar em termos de geração de renda?
g) Já fez algum curso profissionalizante? Se sim, qual (is). Se não, você pode dizer algum
ou alguns que gostaria de fazer?
h) Que atividades gosta de fazer no dia-a-dia?

3) Histórico Familiar
a) Idade do Pai e Idade da Mãe?
b) Alguém na família usa ou já usou álcool ou drogas?
c) Tem irmãos? Quantos? Idade dos irmãos?
d) É casada? Idade do cônjuge? Tempo de convívio? Profissão do cônjuge? O cônjuge usa
ou já usou álcool e/ou drogas? (se for o caso); Tem filhos? Quantos? Idade dos filhos?
e) Já foi casada? Conte como foi o casamento.

4) Relacionamento Familiar
a) Fale sobre o seu relacionamento com seus pais. E com seus irmãos.
159

b) Fale sobre o relacionamento dos seus pais entre si.


c) Fale sobre o relacionamento dos seus pais com seus irmãos.
d) Fale sobre o seu relacionamento com seu cônjuge.
e) Fale sobre o seu relacionamento com seus filhos.

5) Relações de Trabalho
a) Você trabalha?
Se sim, onde? Que atividades você desenvolve no seu trabalho? Fale sobre o seu
relacionamento no seu ambiente de trabalho.
Se não, porque? Em que atividade você gostaria de trabalhar?
b) Já trabalhou?
Se sim, onde? Que atividades você desenvolveu no seu trabalho? Fale sobre como era o
seu relacionamento no seu ambiente de trabalho.
Se não, porque?

6) Relações Sociais
a) Você estuda? Se sim, onde?
Se não, porque?
b) Você tem amigos? Algum dos seus amigos usa algum tipo de droga?
c) Fale sobre o seu relacionamento com as pessoas em geral.

7) História do uso de drogas


a) Quando e como foi sua primeira experiência com o uso de drogas?
b) Com quantos anos você estava?
c) Com quem?
d) Qual foi a primeira droga que você usou?
e) Além dessa, você já usou outras drogas? Quais? Por quanto tempo?
f) Existe algum fato marcante em sua vida que você associa ao uso de álcool e/ou outras
drogas?

8) História do(s) tratamento(s)s que já realizou


9) De forma geral, descreva quando foi e como foi a sua primeira tentativa de parar de usar
drogas. Fale sobre os locais/pessoas que você procurou ajuda para parar de usar drogas.
160

a) Quando foi a primeira vez que você procurou ajuda para tratamento?
b) Onde foi? Como foi que você chegou até esse local de tratamento?
c) Quais eram suas expectativas com relação ao tratamento oferecido por esse local?
d) Como foi a ajuda que você recebeu? Essa ajuda atendeu as suas expectativas?
e) Quanto tempo durou esse tratamento?
f) Quais os resultados que você atribui a esse tratamento ?
g) Qual(is) foi(ram) o(s) outro(s) local(is) que você procurou ajuda? Como chegou até
esse(s) local(is)?
h) Onde foi? Como foi que você chegou até esse(s) local(is) de tratamento?
i) Quais eram suas expectativas com relação ao tratamento oferecido por esse local?
j) Como foi a ajuda que você recebeu? Essa ajuda atendeu as suas expectativas?
k) Quanto tempo durou esse tratamento?
l) Quais os resultados que você atribui a esse tratamento ?

10) Vivências na Comunidade Terapêutica


a) Como foi que você chegou até esta Instituição?
b) Qual(is) o(s) motivo(s) que te levaram a buscar este tipo tratamento?
c) Ao chegar a esta instituição, qual(is) era(m) sua(s) expectativa(s) com relação ao
tratamento?
d) Há quanto tempo você está internada?
e) Conte como está sendo esta experiência/tratamento para você?
f) Quais os resultados que você atribui a este tratamento?

11) Expectativas em relação à saída da Instituição


a) Fale como você imagina que será a sua saída da instituição?
b) Quais as estratégias que você pretende adotar para dar continuidade a sua vida
quando estiver fora da Comunidade?
c) Quem você imagina que vai te apoiar nessa nova etapa de sua vida?
d) Como você acha que será esse apoio?
161

APÊNDICE B

Roteiro de Entrevista semi-estruturada para a família


1) Informações sobre a família está sendo entrevistada: a família de origem ou a família
constituída
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
1.1 - Dados Pessoais do familiar entrevistado:

Nome: _________________________________________________________________
Idade: ___________ Est. Civil: _______________ Escolaridade: __________________
Profissão: __________________ Grau de parentesco: ___________________________

1.2 - História de sua família:


a) Quantas pessoas compõem sua família?
b) Quantas dessas pessoas moram com você? (grau de parentesco)
c) Qual o seu local de nascimento?
d) Há quanto tempo reside no DF?
e) Qual o local de nascimento dos outros membros de sua família?
f) Fale um pouco sobre como é o local onde vocês moram.
g) Quantos cômodos tem a casa?
h) Quantas pessoas moram na mesma casa? E no mesmo lote? Quantas famílias moram
no mesmo lote? E na mesma casa?
i) Paga aluguel?

1.3 – Atividades profissionais e dos outros membros de sua família:


a) Você trabalha? Onde? Que atividade(s) você realiza no seu trabalho?
b) Que aptidões você possui, que poderiam te ajudar em termos de geração de renda?
c) Já fez algum curso profissionalizante? Se sim, qual (is). Se não, você pode dizer
algum ou alguns que gostaria de fazer?
d) Atividades que gosta de fazer?
e) Na sua família todos trabalham?
f) Como é composta a renda da sua família?
g) Sua família participa de algum programa social? Qual(is)?
162

1.4 – Uso de drogas por familiares


a) Ainda sobre os membros de sua família, você poderia dizer se alguém na família usa
ou já usou álcool e/ou outras drogas?
b) E medicamentos controlados?

2) Informações sobre o familiar internado


2.1 - O uso de álcool e/ou outras drogas
a) Qual foi a primeira vez que a família percebeu que sua parenta internada estava
usando drogas?
b) Quais foram as ações que a família adotou na época?

2.2 - A busca por tratamento


a) Quando foi a primeira vez que a família procurou ajuda para tratamento ?
b) Onde foi? Como foi que a família chegou até lá?
c) Como foi a ajuda que vocês receberam?
d) A ajuda que vocês receberam atendeu as expectativas da família ?
e) Quanto tempo durou este tratamento?
f) Na sequência, quando a família procurou ajuda novamente para ela ?
g) Qual(is) foi(ram) o(s) outro(s) local(is) que a família procurou ajuda?
h) Como chegaram até esse(s) local(is)? Como foram atendidos?
i) A ajuda que vocês receberam atendeu as expectativas da família ?
j) Quanto tempo durou este tratamento?
k) Em alguns destes lugares foi oferecido alguma opção de tratamento para a família?
l) Se sim, onde? Como foi?
m) Quanto tempo durou este tratamento?
n) Este tratamento atendeu as expectativas de sua família?
o) Se não, vocês gostariam que isto tivesse acontecido? Porque? Em que acham que
poderia ter ajudado?

2.3 - A internação na Comunidade Terapêutica


a) Como foi que a família chegou até esta Instituição?
163

b) Qual(is) o(s) motivo(s) que levaram a família a buscar este tipo tratamento?
c) Quando foi feita a internação qual(is) era(m) a(s) expectativa(s) da família com
relação ao tratamento que seria oferecido para sua parenta?
d) Como vocês percebem o tratamento que ela está recebendo nesta instituição?
e) Conte como a família está percebendo esta experiência de tratamento para a sua
parenta.
f) Nesta instituição está sendo oferecida alguma opção de tratamento para a família?
Se sim, onde? Como é?
Se não, vocês gostariam que isto estivesse acontecendo?
g) Porque? Em que acham que poderia ter ajudado?
h) Conte como está percebendo esta experiência de tratamento para você.
i) E para os outros membros da família?

2.3 - A saída da internação


a) Como você acha que será a saída da sua parenta da instituição?
b) Como você acha que ela irá dar continuidade a sua vida?
c) Que estratégias a família vai utilizar para dar continuidade a vida em família
164

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