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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

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CEFT(CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA)

Trabalho de Psicologia

Resenha do Livro: Culpa e Graça

-Dr. ANTONIO MASPOLI DE ARAUJO GOMES-

São Paulo
2017

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SILVIO DA SILVA SILVEIRA JUNIOR TIA:3163644-6

ALESSANDRA BARBOSA RAMOS TIA:3163266-1

FABRICIO AMARO FERREIRA TIA: 3167548-4

FELICIO HENRIK MELO DE SOUSA TIA: 3178325-2

WESLLEY REIS MORAIS MARTINS TIA:

Trabalho de Psicologia

Resenha do Livro: Culpa e Graça

-Dr. ANTONIO MASPOLI DE ARAUJO GOMES-

Esta prova procura atingir o objetivo exigido na disciplina de


Psicologia para o curso de Teologia do Quarto Turno.

Prof. Dr. ANTONIO MASPOLI DE ARAUJO GOMES

São Paulo
2017

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Livro: Culpa e Graça -Dr. ANTONIO MASPOLI DE ARAUJO GOMES.

Autor: Antônio Máspoli, Psicólogo clínico, teólogo, pesquisador e escritor.


Mestre em Psicologia (UGF). Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP). Pós-doutor em
História das Idéias pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo
(USP). Atualmente é professor titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Membro do Laboratório de Psicologia: Estudos de Religião da USP, de 2000 a 2013.
Membro do núcleo de Psicossomática e do Núcleo de estudos Junguianos da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Editora: Reflexão, 1ª Edição – Junho 2017
O autor, MÁSPOLI descreve com propriedade a respeito de “Culpa e Graça”
em sua obra ele responde sobre; O que é culpa? Qual a relação da culpa com a
responsabilidade humana? Qual a origem da culpa? Como a teologia explica a culpa?
Quais tipos existentes de culpa na Psicologia? Existe solução para a culpa? Qual a
solução de Deus para culpabilidade humana? Qual a contribuição da Psicologia para
a solução do problema da culpa?

 “Culpa e Graça” Prefácio


Pretende contribuir para o esclarecimento do problema da culpa e da
culpabilidade humana no contexto da graça de Deus, mediante a justificação pela fé,
a partir de uma reflexão profunda sobre a solução de Deus nas Sagradas Escrituras,
na Psicologia e na experiência humana.

 A quem Interessa?
Uma obra a contribuir com profissionais da psicologia, médicos, saúde,
educadores, conselheiros, historiadores, teólogos, cientistas da religião, estudantes
de Teologia, filósofos e profissionais de ciências humanas e sociais que queiram
ampliar seus conhecimentos e contribuições para esclarecer os formadores de opinião
sobre a culpa e a graça de Deus como solução.
O autor narra que há tempos vem-se, com grande esforço, por algumas
correntes da Teologia e da Psicologia eliminar do vazio da consciência humana o tema
da culpa, mesmo que não tenha sido abolido do vocabulário humano, termos como;

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pecado, responsabilidade, sentimento de culpa etc. E o caminho encontrado não
sendo dos melhores como irrelevância e falta de interesse, ignorando pesquisas e
estudos mais aprofundados sobre o assunto “culpa”.
No Novo Testamento, temos duas palavras para graça: “dom” e “káris”.
Contendo nas duas o mesmo sentido: Presente, Dádiva. Na teologia Calvinista define-
se “GRAÇA” como favor imerecido de Deus. Ou seja, a graça de Deus, é o seu
presente para o seu povo, aquilo que “não merecíamos”, mas fomos alcançados, por
sua graça!

Segundo MÁSPOLI (p. 7) “A graça de Deus é o presente de Deus para seu


povo. Tal presente é Jesus Cristo e tudo o que a Sua pessoa e a Sua obra
representam. Dizendo de outro modo é o trabalho de Deus pelo Seu povo”. Ele ainda
cita (Isaias 64.4) “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se
percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalha para aquele que
nele espera”.
MÁSPOLI ainda destaca (p. 7) que “graça” é tudo aquilo o que Deus já realizou
tudo o que ele faz, e tudo o que ainda fará pelo seu povo. E conclui que a “graça”,
portanto é tudo o que Deus faz por você! (Nós).
Afirma o autor que a graça pode-se compreender de dois modos: A graça
“comum”, que se manifesta pela revelação natural, onde alcança a todos os homens,
assim como ensinou Jesus Cristo no Sermão do Monte: “Para que vos torneis filhos
do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons,
e faz chover sobre justos e injustos” (Mateus 5.45).
E a graça especial, conhecida por todos aqueles que se tornaram filhos de
Deus por meio de Jesus Cristo (Efésios 2:1-10 e 1 João 5:1-5). Sendo assim a
salvação é de graça! O perdão é gratuito. A santificação é um presente de Deus. Uma
vida abundante é o resultado de tudo isso.
Diante desta comprovação o autor afirma que: Deus utiliza-se da “graça
comum” pelos meios naturais e de todos os elementos do cosmo, do conhecimento,
ciência e todos os homens.

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Na graça especial ele ainda afirma que este mover procede pela ação do
Espírito Santo nos corações dos seus filhos, assim como diz a Escritura: “Ele vos deu
vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados” (Efésios 2.1).
Também vemos que tanto na graça comum, e na graça especial somos
cobertos de todos os males, assim como nos mostra o texto: “Também o Espírito,
semelhante, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém,
mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis. E
aquele que sonha os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a
vontade de Deus é que ele intercede pelos santos. Sabemos que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e
aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também
glorificou.” (Romanos 8.26-30).
E o autor ainda conclui que: A maior expressão da graça de Deus é o amor
(Romanos 8.38-39).
“Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem
principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem
a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus,
que está em Cristo Jesus nosso Senhor”.
Ressalta MÁSPOLI (2017, p. 9) Que o amor incondicional de Deus consiste
no fundamento para o acolhimento da pessoa humana. “Deus é amor” (1 João 4.12).
Deus ama porque é da Sua natureza amar. Seu amor é eterno (Jeremias 31.3),
Imutável e incondicional (Isaías 49.1) e sacrificial (João 3.16). Deus ama o cristão
saudável e o doente. Ama aquele que se encontra em bom estado de saúde e ama
especialmente aquele que sofre. Deus compreende o coração humano e as fraquezas
humanas melhor do que ninguém. “Ao longo da história da salvação, Seus filhos mais
queridos sofreram, fraquejaram, adoeceram... Basta ler a história de Davi, Jeremias,
Daniel Jonas, Ezequiel, Elias etc.”

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 Introdução
A culpa independe de fenômenos naturais como; credo, sexo, raça, ou mesmo
religião. MÁSPOLI afirma que a sociedade ocidental desde o liberalismo teológico do
século XIX, com a afirmação da morte de Deus vem tentando resolver o problema da
culpa. Junto com a Psicanálise.
A Psicanálise chegou acreditar que destruiria o conceito cristão de “pecado”
diante do povo ocidental, a fim de aliviar a pressão e o fardo da repressão e da culpa.
Assim como Psicanalistas de Wilhelm Reich, que dedicaram suas vidas trabalhando
em pesquisas para este fim.
MÁSPOLI (2017, p. 11) afirma que sem resultados favoráveis e longe de se
alcançar o resultado esperado a cerca da culpa e da responsabilidade humana pelos
seus atos (Bons ou Ruins) a Psicanálise enfrenta uma de suas piores crises de
relevância frente aos velhos conflitos. Hoje Reich já passou a ser um dos Psicanalistas
quase esquecidos. E a religião e novas experiências religiosas trazem de volta os
conceitos de pecado e culpa para assombrar o homem pós-moderno.
JOSEPH CAMPBELL ET AL (1986) Conceitua culpa como “O Sentimento que
uma pessoa tem de ter errado, violado algum princípio ético, moral ou religioso.
OTTO FENICHEL (1981) concorda com essa definição quando afirma que “Os
sentimentos de culpa que acompanham a prática de uma maldade e os sentimentos
de bem-estar que resultam do cumprimento de um ideal são os modelos normais
seguidos pelos fenômenos patológicos da depressão e da mania “(p. 96). De modo
geral a culpa nasce quando o homem age contra a sua própria consciência e
desconsidera em seus atos a norma ética de busca pelo bem comum.

 A Culpa Arquetípica ou primordial na teologia Bíblica

Diante da passagem de Gênesis 2 e 3 o ocidente judaico-cristão imputa o


pecado ao homem pela queda de Adão, quando o mesmo come do fruto proibido e
lhe é herdado a toda à humanidade o pecado, ou a “culpa” nascendo-lhe já devedor
diante do Salvador, já nascendo o homem pecador diante de Deus.
O autor explica a luz de (Romanos 7.24) que o homem já nasce pecador (ou
culpado) pelo fato de sua natureza e da consciência, embora ele também ressalte que

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apesar da criança até os 4 anos de idade não ter ainda nenhuma consciência de seus
atos morais ele (a) já é um devedor diante do criador. Dependendo assim a criança
desde ventre de sua mãe da graça especial de Deus para o perdão da culpa e para
salvação pessoal. E que para criança o perdão e a salvação em Cristo são imputados
automaticamente pelo Espírito Santo, independentemente de credo ou vivência
religiosa.
Sendo assim o autor afirma que o homem peca por ser pecador, quando
desenvolve a consciência do pecado, a criança passa a ser pecadora, também porque
peca.
Assim cada um possui a sua culpa individual diante de Deus. Cita-se o
exemplo de Caim (Gênesis 4.6-7); Davi no Salmo 51, este Salmo não deixa duvida
sobre a responsabilidade humana diante de seus erros, desejos, ações e pecados.
MÁSPOLI diz que o lado consciente da mente pode ser cauterizado e
enganado, pelo inconsciente como diz Isaías (44.20). Porém acha-se que se pode
negar o pecado, acostumar-se a ele, cauterizar a própria consciência, pode livrar o
indivíduo da culpa consciente, mas nunca da culpa inconsciente.
JUNG (1988) “O inconsciente continuará a apresentar a conta a ser paga em
decorrência do pecado, perante o pecador, e esta conta se torna cada vez mais
elevada, pois pode ser traduzir em sintomas de doenças psicossomáticas, à
semelhança do que ocorreu com Davi.”
MÁSPOLI ainda diz que a vivência contínua da culpa pode baixar o sistema
imunológico do sujeito, facilitando o desenvolvimento de enfermidades, como foi
prefigurado por Davi no (Salmo 32.3); “Enquanto calei os meus pecados,
envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo dia”.
HAROLD KOENIG (2012) “Afirma que a culpa pode alterar o sistema
imunológico da pessoa culpada.” Afirma ainda que, uma pessoa culpada tem mais
propensão a desenvolver doenças autoimunes, inflamações, infecções etc.
MÁSPOLI narra o caso de uma mulher que chorava constantemente quando
presenciava o anúncio da morte de pessoas importantes e celebridades, chorava
constantemente, ao que lhe procurando para cuidar de suas emoções, constatou-se
que a mulher já havia abortado seus seis filhos, e quando ela via o anúncio da s

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mortes, ela não chorava por aquelas pessoas falecidas, mas sim pelos seus filhos
mortos com o aborto.
Ou seja, a mulher estava com sua consciência acusada diante de fatos
horrendos, e sua mente acusava-a de tamanha crueldade, (culpa inconsciente),
reconhecendo esta grave responsabilidade e assumindo no seu interior ao passar pelo
luto de suas atitudes, a mulher foi aos poucos curada. E assim fica (Salmo 19.12) para
exemplifica; “Quem pode discernir as próprias transgressões? Absolve-me das que
são ocultas!” (Salmos 19.12).

 A Culpa na Psicologia

Segundo o autor, não há culpa inata sob o ponto de vista psicológico. Para a
psicologia a culpa é produzida pela cultura. Esse sentimento de culpa que o homem
adquire vem através de seu contato com as crenças, as ideologias, os valores, as
normas, as regras e as leis da sua cultura e grupo social. Os gregos desconheciam o
conceito de pecado e por isso desconheciam o conceito de culpa. Entretanto, tinham
conhecimento do conceito de responsabilidade social pelos atos cometidos, e por
consequência estavam arraigados ao conceito de justiça.

Outro argumento da psicologia, de que não existe culpa inata, se baseia no


psicopata, esse é aquele que desconhece a culpa e a responsabilidade legal de seus
atos. Antropologicamente a culpa nasce da interiorização da regra da proibição do
incesto, essa é a regra mater de todas as regras. O psicopata é alguém que não
internalizou essa regra (mesmo que não seja um incestuoso), na sua formação de
identidade não internalizou o não, a proibição. Se alguém pode nascer e viver sem
culpa, logo, afirma a psicologia, é difícil comprovar o caráter inato da culpabilidade
humana.

A sociopatia é um distúrbio da consciência, doença da sociedade pós-moderna,


gerada nas grandes cidades, é caracterizada pelo fato do sociopata conhecer o que é
bem e mal, ele interiorizou a lei da proibição, mas não sente culpa alguma em praticar
o mal. Tanto o psicopata, quanto o sociopata podem ser inclusos dentre aqueles que
na carta aos Romanos o apóstolo Paulo diz terem perdido a consciência de Deus, e

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assim foram punidos e entregues a toda sorte de pecados e transgressões. Segundo
Máspoli (2017: p.16) até a presente data não se conhece nenhuma cura para a
psicopatia e nem para a sociopatia.

 A Culpa Imputada ou Quando a Pessoa Vira o Bode Expiatório

Diversos são os fatores geradores de culpa, Tournier (1985) classifica como


culpa psicológica ou culpa imputada, aquela culpa sentida por um individuo em
decorrência da ação de outrem, é comparada pelo autor ao bode expiatório de Levítico
16. O bode expiatório era um animal escolhido para participar de um ritual determinado
através de Moisés ao povo judeu, para levar a culpa de todo o povo. Esse bode
expiatório é um símbolo bíblico de Jesus Cristo, que levou sobre si o pecado de todos.
“E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele
confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões,
e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto,
pela mão de um homem designado para isso”. (Levítico 16.21)
Esse ritual ritual trazia alívio para os seus participantes, e era a garantia de que
seus pecados estavam perdoados. Hoje esse sentimento de bode expiatório tomou a
mente de algumas pessoas em nossas famílias, empresas, igrejas, trata-se daquela
pessoa que leva sobre si, sozinha, o pecado, a culpa e o sofrimento de todos. Essa
pessoa é excretada publicamente, punida isoladamente, e essa punição gera nos
demais um alivio momentâneo e a falsa sensação de que estão perdoados de suas
culpas. No evangelho de João 08 Jesus chama a atenção daqueles que queriam
apedrejar uma mulher adultera, e mostra que apontar o pecado daquela mulher
esconderia o pecado de cada um deles.

Os judeus antigos criaram técnicas de projeção da culpa e expiação do pecado,


su a medicina era diferente daquela praticada na Mesopotâmia, pois os judeus criam
no único Deus. E esse Deus era para eles, o único responsável pela vida e pela morte,
pela saúde e doença, a dependência de Deus era inteira. O coração era considerado
uma entidade espiritual e o centro da vida. Consideravam que demônios eram a causa
de doenças mentais, insanidade, e asma, mas para os judeus isso era de menor
importância (do que em comparação aos babilônios e egípcios), o principal para o

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judeu era a imputação da culpabilidade do homem diante de Yahweh e a necessidade
de sacrificio para a expiação da culpa.

Haviam vários tipos de sacrifícios no Antigo Testamento, todos com o objetivo


de extinguir a culpa diante de Deus. Os sacrifícios comunais eram realizados nos dias
especiais; os sacrifícios coletivos era realizado pelo sumo sacerdote destinado à cura
de todo o povo; sacrifícios individuais se destinavam a males que acometiam o
indivíduo; sacrifícios para perdão de pecados, conforme cita Mateus 05, esse sacrifício
só era aceito se o pecador se arrependeu da falta cometida.

Arrependimento é diferente de remorso. O remorso é uma tristeza pelo mal


cometido, já o arrependimento é a mudança de atitude em relação ao mal cometido.
Nem todo mundo que sente remorso se arrependeu de fato, mas todos os que se
arrependem sentem remorso também. A iconoclastia protestante eliminou quase
todos os ritos relacionados ao arrependimento

O ritual do sacrifício estimulava a pessoa a pensar sobre o sentido da falta


cometida, seu impacto sobre a vida e a morte, e sobre o preço da falta. A celebração
do Yom Kippur é o ponto culminante do sacrifício na cultura judaica. Esse dia é
precedido de nove dias em que o povo é convidado a pensar em seus pecados, e
afastar-se deles aproximando-se do bem, no décimo dia celebra-se o Dia do Perdão
em agradecimento a Deus pelas benções que proveu à pessoa. Deus pode apagar o
castigo, não o ato, assim o ato será lembrado pelo pecador e por aqueles que sofreram
a transgressão cometida, é semelhante a um prego fincado na madeira, e mesmo se
for removido as marcas permanecerão. Por isso que as transgressões cometidas
contra o próximo devem ser perdoadas pelo próximo (Mateus 5), na oração do Pai
Nosso pedimos perdão aos nossos semelhantes.

O perdão de Deus é unilateral, incondicional, total e eterno. Deus perdoa os


pecados passados, presentes e futuros. “Agora pois, já nenhuma condenação há para
os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1). Segundo Maspoli (2017: p.22) o
pecado e a culpa geram destruição do equilíbrio e da paz, e para reestabelecer a
ordem faz-se necessário sacrificar uma vítima substituta. Somente a vitima expiatória
é capaz de interromper o processo de destruição e restabelecer a paz. Para os gregos

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a vitima chamava-se pharmakós, que significa ao mesmo tempo o veneno que mata
e o antídoto que cura.

Quando o rito perde o seu efeito para o sujeito, esse passa a ver no sofrimento
e na depressão o sacrifício expiatório pela sua culpa. O deprimido aqui, é ao mesmo
tempo, a culpa, o sacrifício e o ritual expiatório. O indivíduo torna-se o sacrificador e o
sacrifício. Todo o sofrimento vivenciado na depressão equivale ao sofrimento da vitima
sacrificial, o deprimido acredita que seu sofrimento é necessário para reestabelecer a
ordem das coisas. O sujeito fica preso num círculo fechado de culpa, arrependimento,
sofrimento, autoexpiação, transgressão e culpa.

 A natureza dos animais a serem sacrificados e suas relações com a


natureza humana.

No Judaísmo eram três tipos de animais para os sacrifícios, sendo eles: Boi (ou
vaca). Bode (ou cabra) e a Ovelha, sendo que cada um representava uma finalidade
específica. A finalidade do sacrifício era um meio de aproximar o homem a Deus.

O sacrifício do boi. O boi é símbolo de força bruta também significando touro.


No Egito é adorado como deus Mênfis. O boi representa à calma e a bondade, já em
seus aspectos negativos são: o poder das paixões, os ímpetos irresistíveis. No Antigo
Testamento, o boi era considerado o animal preferido para o sacrifício.

O Bode, cuja natureza é ousada e obstinada, representa a dificuldade para


mudanças. Para a representação da tipologia humana, é aquele que não aceita
opinião dos outros e que sabe tudo. Em seus aspectos negativos, representa a
passividade do deprimido frente às demandas da vida.

O Bode representado como animal expiatório nas cerimônias hebraicas


(Levítico 16:21). Na cultura cristã também é representado como uma variável geradora
de culpa. Na teologia Cristã o bode é representado por Jesus, que levou sobre Si os
pecados de toda a humanidade.

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A ovelha, cuja natureza é dócil, que não faz grandes estragos e é fácil de ser
subjugada, porém, tem um apetite insaciável (DAVIDOVICH, 1967 p211. 342, 674). O
ser humano que se compara à ovelha é uma pessoa boa por natureza, sem defeitos
aparentes, mas, mesmo assim, tem que trabalhar para se refinar nas pequenas
coisas. A ovelha geralmente apresenta o complexo de Pollyana.

Pollyana é aquela pessoa que aprendeu a controlar suas vontades, subjugar


suas paixões, refinar seus instintos naturais e, com tempo e mito esforço, transformar
sua natureza. Em oposição a Pollyana, em nossa cultura o bode expiatório foi
substituído pela ovelha negra da família. Por outro lado a ovelha negra, presta um
relevante serviço ao grupo e por isso mesmo é regiamente recompensada. Através
de Jesus, não se é mais necessário à presença de uma ovelha negra para se resolver
os problemas de culpabilidade humana.

Culpa imputa ou imposta: se refere àquela culpa que o individuo snte por ter
sido obrigado a participar de um pecado, uma transgressão, um delito praticado por
terceiro contra sua vontade. Na psicologia é conhecido como trauma transgeracional
ou intergeracional.

A culpa neurótica: é aquela que tem um caráter circular, repetitivo, que segue
de modo geral o seguinte esquema: prazer marcado pela transgressão, pelo pecado;
seguido de culpa, marcado pelo remorso; autoexpiação da própria culpa, marcada
pelos sacrifícios impostos; seguindo novamente de pecado, pelo que se retoma todo
este ciclo desde o começo. Este é o circulo fechado e vicioso da compulsão.

Portanto, nem as abordagens teológicas nem as abordagens psicológicas


parecem suficientes para resolver o problema de culpa humana. O homem, cristão ou
não, torna-se o único responsável pelos seus atos. Assumir a responsabilidade pelos
seus atos diante de Deus, de si mesmo e do outro pode significar autonomia e
maturidade espiritual e psicológica.

 A solução para o problema da culpa: a graça justificada pela fé

A graça comum e especial de Deus cobre todos os pecados, todas as


enfermidades e todos os problemas de homens e mulheres. Mesmo a aqueles que

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não sentem culpa nenhuma, por nada que hajam praticado, até aqueles, cujo
sentimento de culpa é tão profundo que não aceitam, sequer, que tenham sido
perdoados por Deus através de Jesus Cristo.

O Novo Testamento, o problema da culpa é resolvido por intermédio do


sacrifício expiatório de Jesus Cristo. A justificação pela fé é a base bíblica para a
solução do problema humano da culpa, pois “Todos pecaram e carecem da glória de
Deus” (Rm 3:23). “Não há justo, nenhum se quer” (Rm 3:10). Por essa causa, o
homem já nasce com a propensão para desenvolver o sentimento de culpa e, do ponto
de vista da teologia cristã, já nasce culpado. Esse estado, o obriga a prestar contas
pelos seus atos pessoais a Deus, a si mesmo e à sociedade, como está escrito em
(Rm 14:12) “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus”.

Existem inúmeros livros da bíblia sagrada que tratam do problema do pecado


por interferência da culpa humana. Para não sair das reflexões bíblicas e teológicas o
estudo fica em torno de romanos 1.16-17, por considerar o suficiente para sanar o
problema da culpa humana diante de Deus ela Justificação. Segundo Guilherme
Tyndale (apud Bruce, 1981) a epístola aos romanos “é a principal e mais excelente
parte do novo testamento, e o mais puro evangelho”.

A proposta do Evangelho para solucionar a culpa é simples. O homem deve


romper com seus mecanismos de defesas e assumir diante de Deus a
responsabilidade pessoal pelos seus pecados, transgressões, erros e fracassos. Em
seguida, confessá-los a Deus por meio de Jesus Cristo. “Se confessarmos os nossos
pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça” (1 Jo 1:9). Confessar, nesse caso, consiste em contar tudo para Deus em
oração, fazer um relato do pecado, da transgressão, da culpa, e concordar com as
promessas de Deus em sua Palavra, com o fato de que Cristo já efetuou o pagamento
de toda a sua dívida, já levou sobre si todas as culpas do pecador. Cristo simboliza o
sacrifício divino, o último sacrifício. Sendo assim, o círculo vicioso foi quebrado, não
se faz mais necessária à depressão, pois ela não precisa mais ocupar o lugar do
sacrifício.

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Com a passagem (Hb 8:12): “Pois, para com as suas iniquidades, usarei de
misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei”, podemos ver que toda divida
já foi apagada diante de Deus, para aqueles cristãos que ainda relutam com algum
resquício de culpa por erros e pecados cometidos.

Em romanos 1:16-17, o apostolo Paulo fala do evangelho de cristo sendo o


trabalho de Deus através de seu filho Jesus Cristo, não sendo sujeito a doutrinas mas
sim com intuito do homem conhecer o evangelho como sendo o poder de Deus, nas
próprias palavras do apostolo “o evangelho é o poder de Deus para a salvação de
todo aquele que crê”. Portanto segundo Charles R. Erdman (1980) a fé é o meio
indicado para que o homem tome posse da justiça de cristo e isso fica claro em
Gálatas 3:11 e 3:7.

Em romanos vemos também a expressão “o justo viverá pela fé”, ou seja, aquele que
é justificado pela fé é absolvido. Em outras palavras essa justiça é feita a todos que
depositam a confiança em cristo.

 Dificuldades para se experimentar e viver o perdão de Deus

A figura dos pais, pode e influenciará, a projeção que os filhos farão de Deus e
no convívio com outros co-iguais, segundo Dr. Máspoli. Misericórdia, perdão,
compaixão, entre outros sentimentos e virtudes morais, estão intimamente ligados
com aquilo que fora desenvolvido no seio da família, pessoas que têm dificuldade de
aceitar o perdão de Deus tiveram isto introjetados pelos seus próprios genitores,
fazendo com isso que, isso se reflita para a figura de Deus carregada pelo ser humano,
inclusive a rudeza do ser Divino.
A culpa só pode ser sanada quando entendido o sacrifício vicário de Jesus, pois
ainda que haja confissão por parte do transgressor, podem ficar resquícios de
memória pelo Pecado. Crer naquilo que foi feito pelo Cristo, é imprescindível, de forma
plena, para que se valha dos efeitos advindos de sua totalidade expiatória.
É notório o fato de cristãos que não compreendem bem este fato, em fase de
depressão, acabarem se autodepreciando com textos condenatórios, ainda que
tenham sido crentes piedosos e fiéis, afirma o escritor. Necessário se faz, ao que

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passou por este tipo de crise, que, em sendo perdoado por Deus, também se perdoe
apropriando-se das benesses oriundas da fé bíblica.
De acordo com Dr. Máspoli, a culpa é um problema de difícil solução, sendo
solucionado apenas na correta compreensão da satisfação de Jesus em realizar tudo
quanto exigia a Lei da Santidade e Caráter divino, assim sendo a justificação pela fé
dá ao culpado uma solução à totalidade da restauração do ser humano, propenso a
desenvolver senso de culpa ainda nascituro, isto teologicamente.
O estado de culpa é progressivo e constante até que haja confissão por parte
do pecador ao Cristo, rompendo com os mecanismos de defesas criados por este,
contrastando em oração, os efeitos do pecado versus a Graça abundante que
constam nas ricas promessas bíblicas disponibilizadas por Jesus aos que assim
creem. “A fé no perdão incondicional de Deus, decorrente do amor incondicional de
Deus, pode aliviar o problema da culpa humana.” (p.58).

 Considerações Finais

Não importa qual seja a origem da culpa real, pessoal ou psicológica, ela é um
problema humano de difícil resolução. A solução biblica para a culpa é a justificação
pela fé. O homem já nasce culpado, esse estado o obriga a prestar contas de seus
atos a si mesmo, à sociedade e a Deus. A dívida do homem é crescente desde seu
nascimento, sendo-lhe impossível alcançar perdão. Vendo essa impossibilidade Deus
enviou seu filho Jesus para pagar a dívida humana (João 3.16 e Isaías 53.4-6). Lutero
reconheceu isso ao declarar: “Senhor Jesus, eu sou teu pecado e Tu és a minha
justiça. O que eu era, tu te fizeste ser para que eu fosse o que Tu és”, conforme
Máspoli (2017: p.57).

Bibliografia:
MASPOLI, ANTONIO. Culpa e Graça. São Paulo, Editora Reflexão.2017.

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