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Quantificar, reduzir, evidenciar: uma nova prática para empresas

sustentáveis

RESUMO
Este trabalho objetiva a criação de uma relação entre a quantificação-redução-evidenciação do
nível de emissão de poluentes, emitidos por empresas, com a sociedade em geral. Os
processos, produtos e até serviços menos agressivos ao meio ambiente serão identificados e
isso ajudará a definir os aspectos críticos e os que merecem especial atenção. Ocorrerá, assim,
uma quantificação dos impactos ambientais, passo principal para aprofundar o conhecimento
em relação às atividades da empresa, visando a redução destes impactos.Atrelada à melhoria
dos resultados operacional e econômico ocorre concomitantemente uma melhoria na imagem
da empresa junto à sociedade, criada em função da redução da poluição gerada. Esta
evidenciação já é utilizada por grandes empresas, principalmente aquelas que tem títulos
negociados em bolsa.Assim, de forma pró-ativa e positiva, boas práticas na educação
ambiental serão estimuladas ao mesmo tempo em que se constrói uma consciência ambiental
de maneira responsável. A relação quantificação-redução-evidenciação possui forte viés
social, pois a minimização de impactos ambientais é um benefício a todos os cidadãos
brasileiros e dá poder ao consumidor, que ao consultar o impacto ambiental de um produto,
processo, ou serviço, poderá escolher a opção menos agressiva.

Palavras-chave: sustentabilidade, ecoeficiência, impactos ambientais

Quantify, reduce, evidence: new practices for sustainable companies

ABSTRACT

This study has the objective of creating the relationship quantify-reduce-evidence of the level
of pollutants, emitted by companies, and the society. Processes, products and even services
that are environmentally friendly will be identified and this will help define critical aspects
and those deserving special attention. Quantification of the environmental impacts is the first
step to deepen knowledge on the activities of the company, directed to the reduction of these
impacts. As a consequence of the improvement of operational and economic results there is a
simultaneous improvement of the image of the company by society, created in function of the
reduction of the pollution generated. This evidence is already utilized by large companies,
especially those with stock market titles. Therefore, in a proactive and positive manner, good
practice in environmental education will be stimulated at the same time an environmental
conscience is built responsibly. The relationship quantify-reduce-evidence has a strong social
bias, as the minimization of environmental impacts benefits all Brazilian citizens and also
empowers the consumer, who will be able to select the least aggressive option when
consulting the environmental impacts associated with a product, process or service.

Keywords: sustainability, ecoefficiency, environmental impacts


Introdução

Até recentemente organizações e companhias tinham a visão de que o meio ambiente e


o desenvolvimento sustentável eram problemas e fatores de risco. Porém o desenvolvimento
de uma consciência ambiental generalizada criou uma demanda por produtos (processos,
serviços) ambientalmente mais “amigáveis” (com menos impactos ambientais associados),
para a qual existem grandes avanços e desenvolvimentos na aplicação de princípios de eco-
eficiência de parte das indústrias e projetistas. Hoje em dia, esses “problemas” são vistos
como oportunidades, como possibilidades para crescimento e melhoria de eficiência. Segundo
o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD – World
Business Council for Sustainable Development, [20--]), basicamente a eco-eficiência é o fazer
mais com menos: produzir melhor, utilizando menos recursos. A eco-eficiência não se limita
simplesmente a busca pela eficiência energética, devendo estimular a criatividade e a
inovação na busca pela melhor maneira de se fazer as coisas (WBCSD, [20--]). A busca pela
eco-eficiência não pressupõe a eliminação completa dos impactos ambientais gerados pelo
homem, e sim trazê-los a patamares mais compatíveis com o nível de consciência ambiental
atualmente vigente. Segundo Silva (2010), “Em paralelo ao desenvolvimento de soluções para
aumentar a eco-eficiência, os impactos ambientais provocados pelas atividades humanas
também são estudados, para permitir a percepção de soluções.”.
Segundo Ribeiro (2011), a crise do petróleo (década de 1970) fez com que a sociedade
mundial começasse a se preocupar com o esgotamento das reservas de combustíveis fosseis, e
com isso, surgiram as primeiras análises de impactos ambientais. O interesse na realização
dessas análises não se manteve constante ao longo dos anos, e foi reacendido já na década de
1990 com a criação das normas ISO 14040 e aumento das discussões ambientais (RIBEIRO,
2011). Já em 2006, Lima, Kiperstock e Caldeira-Pires (2006) mencionavam que existia um
crescente interesse das indústrias, assim como de “[...]especialistas ambientais, autoridades,
associações de consumidores, organizações ambientais e o público em geral que querem
conhecer a qualidade ambiental dos processos de produção e dos produtos.”.
Neste cenário atual no qual se enfatiza a minimização da dependência em
combustíveis fosseis ao mesmo tempo em que se integram energias alternativas às energias
tradicionais (com vistas a crescente e progressiva inclusão das energias renováveis), a
quantificação de impactos ambientais estabeleceu-se como ferramenta poderosa e
conscientizadora. Já existem trabalhos que buscam não somente o “melhor” desde um ponto
de vista ambiental, e sim uma relação de equilíbrio, ou combinação, entre diferentes pontos de
vista. A idéia que apóia este projeto é a de que a percepção social de empresas que
desenvolvam estudos de quantificação de impactos ambientais será melhorada. É importante
salientar que o estudo de quantificação é o primeiro passo: a seguir, verificam-se os pontos
nos quais melhoras podem ser introduzidas com vistas à redução. A etapa seguinte é a
publicação (evidenciação) dos resultados, que retorna à idéia inicial: melhora de percepção
social e popularidade da empresa. Se os consumidores ou clientes tiverem a percepção de que
a empresa se preocupa com o meio ambiente, sua fidelidade é mais provável.
A quantificação de impactos ambientais já vem sendo utilizada há muitos anos em
países desenvolvidos: a União Europeia já a aceitou como metodologia de estado da arte e
incluiu aspectos relacionados no 6th Programa de Ação Ambiental (6th Environmental Action
Programme, que assegura que legislações ambientais sejam adotadas para atacar a maioria dos
desafios ambientais na União Européia) (EIONET, 2003). No Brasil não deve acontecer
diferente: o país deve acompanhar as tendências globais de uso e aplicação do tripé
quantificação-redução-evidenciação, que já ocorre de maneira incipiente, analisando
experiências internacionais em que a esteja prática esteja consolidada para subsidiar sua
aplicação no país.
A Figura 1 mostra o visível crescimento da emissão de CO2 no mundo durante o
período de 1990 a 2010. O Brasil segue a mesma tendência de aumento das emissões, porém
em um ritmo mais lento - diferentemente da China, que praticamente dobrou seu nível de
emissões a partir dos anos 2000 (World Bank, 2014). Desta forma ainda é possível estabelecer
um crescimento sustentável das empresas brasileiras através da implementação de políticas
públicas e conscientização do empresariado e da sociedade.

Figura 1 - Gráfico de Emissão de CO2durante o período de 1990 – 2010


40.000.000

35.000.000

30.000.000

25.000.000 Brasil
20.000.000 China
Estados Unidos
15.000.000
União Européia
10.000.000
Mundo
5.000.000

-
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012

(Adaptado de World Bank, 2014.)

Contexto Investigado

As empresas modernas têm buscado equilíbrio entre a expansão de seus negócios e a


preservação ambiental, onde o crescimento sustentável é ponto fundamental paraa gestão
eficiente de seus recursos.O conhecimento acurado dos processos produtivos é essencial para
que as organizações possam mensurar seus custos e riscos. Estes, quando não mensurados e
controlados corretamente, podem reduzir de maneira significativa os lucros, chegando a
inviabilizar o negócio em alguns casos.
A correta quantificação do nível de emissão de poluentes de determinado processo, ou
setor, auxilia a empresa na otimização de seus custos e redução dos riscos inerentes as suas
atividades, evitando que sejam gerados passivos futuros em função de danos ambientais
causados. Desta maneira, a partir do conhecimento prévio da quantidade de resíduos
poluentes gerados as empresas podem estabelecer metas de redução/mitigação de seus níveis
de poluição e evidenciar de forma clara à sociedade como vem reduzindo a poluição gerada
por suas atividades e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do seu entorno.
A redução da emissão de resíduos poluentes pode ser alcançada de através da melhoria
dos processos e produtos, instalação de novos equipamentos, captação e tratamento dos
resíduos gerados para posterior liberação, ou até mesmo venda.
As empresas podem gerar receita não operacional,podendo atingir volumes relevantes,
a partir da negociação de seus resíduos processados/tratados e também da venda de créditos
de carbono, gerados a partir da elaboração de projetos de mecanismo de desenvolvimento
limpo (MDL). Nestes, o volume de emissão carbono reduzido pode ser convertido em uma
commodity e negociada no mercado financeiro, o qualvem crescendo substancialmente nos
últimos anos (PIRRONG, 2011).
Desta forma, a redução dos níveis de emissões de poluentes além do benefício
ambiental também pode gerar benefícios financeiros, possibilitando o crescimento sustentável
das organizações.

Diagnóstico e análise da situação problema

Devido ao progressivo desenvolvimento de uma consciência ambiental por parte da


sociedade, aliado a uma pressão cada vez maior para se reduzirem os impactos ambientais,
surge a necessidade de se considerar o meio ambiente como critério adicional a hora de
projetar ou construir produtos e serviços (CARVALHO, LOZANO, SERRA; 2012).
Portanto, a avaliação do desempenho de produtos, processos ou serviços depende cada vez
menos de critérios econômicos e passa a incluir, progressivamente, componentes ambientais.
O conceito geral de eco-eficiência envolve a extração do potencial máximo dos
materiais e energia (uso eficiente), com a conseqüente minimização de cargas ambientais e
custos monetários (usar melhor os recursos naturais equivale a usar menos e emitir menos,
com menos custos). A redução de cargas ambientais somente pode ser confirmada após sua
quantificação e nas ultimas décadas, diferentes técnicas de avaliação ambiental global foram
desenvolvidas (e.g., pegada ecológica, pegada hídrica, pegada de carbono, análise de ciclo de
vida - ACV, LEED-ND). Segundo Curran (1999), a ACV é uma das ferramentas mais
adequadas para o alcance de objetivos voltados à sustentabilidade e já é uma ferramenta
internacionalmente aceita e reconhecida, que avalia as conseqüências de construir e utilizar
produtos e serviços, através da identificação e contabilização dos materiais usados e da
descarga de resíduos ao meio ambiente.
A motivação principal deste projeto é solidificar a ACV como ferramenta aplicada não
somente à quantificação das cargas ambientais de um produto, processo ou serviço, mas
também à comparação de diferentes alternativas, com a posterior decisão da alternativa mais
“verde” (menor impacto ambiental). Diante do exposto, justifica-se, portanto, a necessidade
de realizar este projeto de prática de gestão, que persegue a eco-eficiência apoiando-se na
técnica da ACV, que ajudará aos responsáveis por tomada de decisões a fazerem a melhor
escolha desde um ponto de vista ambiental, ou até mesmo a encontrar uma solução de
equilíbrio entre os aspectos econômicos e ambientais.Com base nas informações geradas será
possível estabelecer uma política ambiental interna que propicie a maximização dos
resultados econômico-financeiros em equilíbrio com a preservação do meio ambiente.
Atrelada à melhoria dos resultados operacional e econômico ocorre
concomitantemente uma melhoria na imagem da empresa junto à sociedade, criada em função
da redução da poluição gerada. Esta evidenciaçãojá é utilizada por grandes empresas,
principalmente aquelas que tem títulos negociados em bolsa. No Brasil, o Índice de Carbono
Eficiente (ICO2) tem despertado o interesse de investidores preocupados com a causa
ambiental, concomitantemente com a expectativa de lucro (BM&FBOVESPA, 2011). As
empresas participantes deste índice, são obrigadas a evidenciar em seus relatórios anuais a
emissão de gases efeito estufa (GEE).Porém, em empresas de pequeno e médio porte não é
observada essa cultura de interação com a sociedade, constatando-se assim a existência de um
grande nicho para implementação da ACV,especialmente em indústrias intensivas.
Este trabalho objetiva a criação de uma relação entre a quantificação-redução-
evidenciação do nível de emissão de poluentes, emitidos por empresas, com a sociedade em
geral. Para tanto, utilizar-se-á da avaliação ambiental global de uma empresa através da ACV.
Esta análise permitirá identificar os processos, produtos e até serviços menos agressivos ao
meio ambiente e ajudará a quantificar (e identificar) os aspectos críticos e os que merecem
especial atenção. Esta avaliação pode ser estendida para englobar diferentes produtos,
processos ou serviços. Outro objetivo é a identificação das configurações/opções mais
adequadas, além da introdução da componente ambiental como elemento explicito de decisão
em problemas de síntese, projeto ou operação de sistemas energéticos. A publicidade e
difusão de resultados serão uma etapa importante do processo.
Assim, de forma pró-ativa e positiva, boas práticas na educação ambiental serão
estimuladas ao mesmo tempo em que se constrói uma consciência ambiental de maneira
responsável.

Metodologia de Aplicação Teórica-prática

A empresa envolvida no projeto será analisada sob diversas óticas, integrando, com
foco ambiental, o setor produtivo com a gestão econômica-financeira da organização. Criando
assim um novo foco, o de geração de riqueza com base ambientalmente responsável.
A ACV não é uma ferramenta simples, pois requer a mobilização de uma quantidade
significante de dados assim como alto consumo de tempo e esforços computacionais. A
atividade analisada deve ser descrita com o maior número possível de detalhes, que incluem
as entradas (material, energia) e saídas (produto, serviço, resíduo).
O plano de difusão de resultados é essencial e por isso uma etapa específica do projeto
se dedica a esta atividade, que inclui a análise de resultados, síntese, conclusões, publicidade e
difusão de resultados. A integração dos resultados anteriores fornecerá uma visão panorâmica,
muito mais complexa e rica que a simples soma de resultados: avaliação ambiental,
identificação de oportunidades e aspectos inovadores aos quais esforços de P&D deveriam
direcionar-se, e recomendações. Devido a grande quantidade de informação e dados presentes
neste estudo, um grande esforço de síntese e criação será necessário.

Contribuição Tecnológica-Social

Esta proposta satisfaz as prioridades de pesquisa, desenvolvimento e demonstração de


novos conceitos e tecnologias para melhorar a eficiência energética e reduzir o consumo final
de energia primária, considerando ACV. A minimização de impactos ambientais é um
benefício a todos os cidadãos brasileiros. Este projeto também possui forte viés social, pois a
informação sobre as cargas ambientais embutidas num produto, processo, ou serviço fornece
poder de decisão ao consumidor, que poderá escolher a opção menos agressiva, forçando os
outros fabricantes ou fornecedores a buscarem modos mais ecológicos para manter a
competitividade.A geração de benefícios econômicos-financeiros representa mais um atrativo
para a utilização da ACV, fazendo com que a empresa recupere o investimento feito para sua
implementação.

Referências

BM&FBOVESPA. 2011. Veja como a sustentabilidade pode nortear os investimentos.


Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/noticias/2011/Veja-como-a-
sustentabilidade-pode-nortear-os-investimentos-2011-09-22.aspx?tipoNoticia=1&idioma=pt-
br> Acesso em 25/08/2012.
CARVALHO, M., LOZANO, M.A., SERRA, L.M. 2012. Multicriteria synthesis of
trigeneration systems considering economic and environmental aspects. Applied Energy, 91,
pp. 245–254.
CURRAN, M. 1999. The status of LCA in the USA. International Journal of Life Cycle
Analysis, v.4, n.3, PP. 123-124.
EIONET - European Topic Centre on Sustainable Consumption and Production. 2003. Life-
cycle assesment and life-cycle thinking in resource and waste management. Disponível em:
<http://scp.eionet.europa.eu/themes/lca>. Acesso em 04.05.2014.
LIMA, A. M. F.; KIPERSTOCK, A.; CALDEIRA-PIRES, A. 2006. Avaliação do ciclo de
vida no meio acadêmico brasileiro. In I Simpósio Nordestino de Saneamento Ambiental –
ABES, Seção Paraíba. João Pessoa, 2006.
PIRRONG, Craig, Commodity Price Dynamics: A Structural Approach. Cambridge:
Cambridge University Press, 2011.

RIBEIRO, M. A. J. 2011. Aplicação da avaliação do ciclo de vida na busca de ecoeficiência


na fabricação de Paes de forma. Dissertação de mestrado. Centro Federal de Educação
Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ.
SILVA, J.C.A. 2010. Análise de Ciclo de Vida. In: RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado
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WBCSD – World Business Council for Sustainable Development. [20--]. Eco-efficiency
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Acesso em 16/11/2013.

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