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Modelo Cognitivo Comportamental do Funcionamento Conjugal

1. Introdução

A família é considerada uma das entidades sociais mais relevantes e


significativas, e actualmente está entre as mais estudadas, em decorrência da
sua importância para formação e desenvolvimento dos seus agregados
familiares. Quando o grupo familiar cumpre na generalidade as suas funções
básicas como a comunicação e a integração, estão automaticamente a
potencializar a promoção de saúde aos seus membros.

O suporte familiar proveniente dos progenitores ou das pessoas mais


significativas envolvem as atitudes e comportamentos que vão ajudar a moldar
as crenças dos seus filhos durante as várias fases do seu desenvolvimento.
Estas atitudes podem ser consequentemente saudáveis para o
desenvolvimento emocional e por outro lado predispor a uma patologia dos
seus membros familiares. Desse modo, pode-se concluir que os conflitos nas
relações familiares podem ter algum sentido benéfico ou contraproducente na
medida em que estimula ou predispõe ao desequilíbrio emocional dos seus
membros e consecutivamente, a perturbações mentais.

2. Terapia Conjugal Cognitivo-Comportamental

A terapia conjugal cognitivo-comportamental utiliza como génese da sua


teoria as habilidades (aptidões) para ajudar os casais com problemas a
aumentar a sua satisfação conjugal.

Estas habilidades são ensinadas por meio de instruções, modelos,


ensaios de comportamento e feedback correctivo. (Arias, 1992 in Caballo,
2007)

Às sessões de terapia recorrem os dois membros do casal, excepto na


avaliação inicial e durante o curso da terapia quando forem abordados
aspectos individuais, como a falta de adesão. (Caballo, 2007).

A premissa básica desta terapia passa pela redução das interacções


conjugais negativas e aumentar as positivas.

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De acordo com Epstein, Baucom e Rankin (1993) existem três formas
correspondentes aos três pontos do ciclo do conflito, por meio das quais os
terapeutas podem favorecer a mudança nos casais com problemas. (Caballo,
2007).

(a) Reconhecer as situações de alto risco e evitar interacções conflituosas;

(b) Aprender a terminar um padrão de comunicação destrutiva assim que


tiver começado e a sair de uma interacção problemática;

(c) Minimizar o impacto dos conflitos já ocorridos.

A terapia inclui vários componentes centrados nas habilidades, cada um


dos quais serve para ajudar os casais em, pelo menos, um dos três aspectos
mencionados anteriormente. Esses componentes são:

(a) Treino em habilidades de comunicação;

(b) Treino em solução de problemas;

(c) Contracto comportamental.

2.1 Treino em Habilidades de Comunicação

O objectivo principal é proporcionar habilidades que facilitem o


desenvolvimento de padrões simétricos de negociação (Stuart, 1980 in Caballo,
2007).

Centra-se na ajuda aos casais para aprender a ser assertivos de forma


mais clara e saber escutar activamente. Ressalta a ajuda para evitar
verbalizações ou comportamentos que impeçam a comunicação eficaz.

Para se conseguir esse objectivo, são incluídos no treino quatro factores


de habilidades de escuta:

1. Ter e manter contacto visual, orientação adequada e proximidade


física com quem se dialoga;

2. Deixar que quem fala comunique quando tiver terminado a mensagem,


em vez de interrompê-lo com uma resposta;

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3. Resumir a mensagem de quem fala;

4. Aferir a mensagem percebida com quem fala, com o propósito de


garantir que a mensagem que tentava enviar foi recebida (Caballo,
2007).

Nesta fase é muito importante que os casais saibam proporcionar


feedback positivo e correctivo com a finalidade de recompensar e iniciar a
mudança de comportamento respectivo (Caballo, 2007).

Quando for possível, o feedback correctivo deve ser precedido pelo


feedback positivo. (exemplo: "Realmente aprecio bastante a sua ajuda para dar
banho às crianças antes de dormir. Agradeceria muito que as lembrasse que
têm de escovar os dentes depois de tomarem banho")

2.2Treino em Solução de Problemas

O objectivo deste treino é proporcionar aos casais uma forma mais


adaptativa de solucionar conflitos e eliminar os comportamentos conjugais
negativos.

Este treino é constituído por diversas fases:

1º Definição dos problemas de cada um;

2º Estabelecer uma lista de possíveis soluções para o problema;

3º Avaliação da referida lista à luz dos desejos expressos por cada


membro do casal;

4º Na presença de falta de concordância, o psicoterapeuta proporá uma


negociação das soluções apresentadas entre as partes.

2.3 Treino Contracto comportamental

Existem basicamente dois tipos de contractos comportamentais formais


descritos na literatura especializada.

(a) Quid pró quo (uma coisa pela outra);

(b) Contracto de boa-fé (paralelo).

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Em cada um dos contractos cada membro do casal concorda em realizar
mudanças específicas do seu comportamento que o outro tenha sugerido como
desejáveis.

Nos contractos quid pró quo, a mudança de um dos membros do casal é


contingente com e funciona como reforço para a mudança do outro membro.
(exemplo: se a Sara lavar a roupa na sexta-feira à noite, o Ramiro lavará o
carro no sábado, ou vice-versa).

Contudo este método poderá não ser eficaz para casais com graves
problemas, visto que será provável que cada cônjuge espere que o outro mude
primeiro ou que comece a cumprir o contracto primeiro. É esperado que este
contracto facilite os padrões disfuncionais de interacção em todos os casais,
visto que a motivação e a responsabilidade para a mudança concentrem-se no
outro membro do casal em vez de si mesmo: "farei se ela também fizer"; "não
fiz porque ela também não fez"

Ao contrário os contractos paralelos (boa-fé) requerem que cada cônjuge


realize a mudança desejada independentemente das mudanças do outro e o
comportamento de cada membro do casal é reforçado de modo independente.
Assim, por exemplo se a Sara lavar a roupa na sexta-feira à noite, então
poderá sair para almoçar com as amigas no sábado; se o David lavar o carro
no sábado poderá convidar os seus amigos a assistir a um jogo de futebol no
domingo em sua casa.

3. INTERVENÇÕES COGNITIVAS

Enquanto as habilidades de comunicação, as soluções de problemas e o


contracto comportamental são utilizadas para evitar situações conflituosas e
para terminar com as interacções problemáticas as intervenções cognitivas são
utilizadas para ajudar os casais a minimizar o impacto negativo do conflito.

Inserido no contexto anterior os psicoterapeutas introduzem o modelo


cognitivo-comportamental aos casais. As suposições, expectativas, as
percepções, as atribuições e os padrões são definidos e explicados. Ensina-se
aos cônjuges que essas cognições produzem pensamentos automáticos, aos
quais se responde de uma forma emocional e comportamental. Por

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conseguinte se é desejo dos casais mudarem as emoções e os
comportamentos, então é necessário examinar e mudar também as cognições.
Com base neste propósito os psicoterapeutas cognitivo-comportamentais
empregam técnicas de reestruturação cognitiva utilizadas frequentemente na
terapia individual, tais como o auto-registo, a análise lógica e as técnicas de
retribuição (Baucom e Epstein, 1990 in Caballo, 2007).

3.1 Auto-registo

Pretende-se perceber a raiz das cognições que precedem as mudanças


do estado de humor e que acontecem durante as interacções negativas. Para
tal instrui-se os cônjuges a manterem um registo de pensamentos automáticos
que experienciam quando estão ansiosos ou deprimidos, antes durante ou
depois de interagir com o cônjuge.

3.2 Retribuição e Análise Lógica

Um vez identificado o pensamento e a cognição relacionada, o


psicoterapeuta pode questionar até que ponto a cognição é realista ou
irracional.

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