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Campinas SP: Papirus 1993.
Nos tempos modernos, as cosmogonias emergem do mito para entrar no campo da pesquisa
científica. Citemos Descartes- que, em sua obra O Mundo ou Tratado da Luz, atribui a
formação do universo a um turbilhão de partículas – e sobretudo o de Laplace com seu
Sistema de Mundo (1796). Hoje em dia, em astrofísica, a cosmogonia designa o estudo da
formação dos elementos constitutivos do universo (teoria do Big Bang).
Mito: Segundo o dicionário Michaelis, mito é uma palavra de origem grega (mythos) que tem
os seguintes significados:
1. Fábula que relata a história dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade pagã. 2.
Interpretação primitiva e ingênua do mundo e de sua origem. 3. Tradição que, sob
forma alegórica, deixa entrever um fato natural, histórico ou filosófico. 4. Exposição
simbólica de um fato. 5. Coisa inacreditável. 6. Enigma. 7. Utopia. 8. Pessoa ou coisa
incompreensível.
Mito II: Chama-se _mito a um relato de algo fabuloso que se supõe que aconteceu num
passado remoto e quase sempre impreciso. Os mitos podem referir-se a grandes feitos
heróicos que, com frequência são considerados como fundamento e o começo da história de
uma comunidade ou do género humano em geral. Podem ter como conteúdo fenômenos
naturais, e nesse caso costumam ser apresentados alegoricamente. Muitas vezes, os mitos
Quando o mito é tomado alegoricamente, converte-se num relato com dois aspectos, ambos
igualmente necessários: o fictício e o real. O fictício consiste em que, de facto, não aconteceu
o que o relato mítico diz. O real consiste em que, de certo modo, o que diz o relato mítico
corresponde à realidade. O mito é como um relato daquilo que poderia ter acontecido se a
Na antiguidade, alguns, como os sofistas, separaram o mito da razão, mas nem sempre para
sacrificar inteiramente o primeiro, pois com frequência admitiram a narração mitológica
como envoltura da verdade filosófica. Esta concepção foi retomada por Platão, especialmente
quando considerou o mito como modo de expressar certas verdades que escapam ao
raciocínio. Neste sentido, o mito não pode ser eliminado da filosofia platónica, pois
desapareceriam então dela a doutrina do mundo, da alma e de Deus, bem como parte da
teoria das ideias. O mito é para Platão, muitas vezes, algo mais que uma opinião provável.
Mas, ao mesmo tempo, o mito aparece nele como o modo de expressar o reino do devir.
Na antiguidade e na idade média, deu-se particular atenção ao próprio conteúdo dos mitos e
e, por conseguinte, o problema da verdade ou grau de verdade, dos mitos.. Muitos autores
proclamaram eles, não tem nada de mítico. Contudo, à medida que se procurou estudar a
história empiricamente, verificou-se que os mitos podem não ser verdadeiros no que contam,
mas são verdadeiros noutro sentido: em que contam algo que realmente aconteceu na
história, isto é, a crença em mitos. por outras palavras, os mitos foram considerados como
caso ilustrativo, da história humana e de certas formas de comunidade humana. O mito não é
mítica”. Esta consciência tem um princípio que se pode investigar mediante um tipo de
análise que não é nem empírica nem metafísica, mas—em sentido muito lato --
epistemológico.. Mas como, ao mesmo tempo, a consciência mítica é uma das formas da
consciência humana, o exame dos mitos ilumina a estrutura dessa consciência. O que se
investiga deste modo é a função dos mitos na consciência e na cultura. A formação de mitos
DARAMOLA O & JEJE, A. em Awon àsà ati Òrìsà ile Yorubá. Ìbàdàn, Onibon – Oje Press, 1975
Oloye Asogun Odearofa ati Ifafunké, tí Ase Idasile Ode; Professor de Cultura Africana - Yorubá;
Presidente do CETRAB - Centro de Tradições Afro-Brasileiras; Diretor de Estudos e Pesquisas do
Instituto Pretos Novos; Conselheiro do CEDINE-RJ e do COMDEDINE-RIO - Conselhos Estadual e
Municipal de Defesa dos Direitos do Negro; Congressista do IX Congresso Mundial de Tradição
e Cultura Ioruba - UERJ/2005; Congressista do IV COPENE - Congresso Brasileiro de
Pesquisadores Negros - UNEB/2006
http://marcelomonteiropv.blogspot.com.br/2008/10/cosmogonia-africana-viso-de-mundo-
do.html
* Como sabemos, a tradição oral constitui uma das três fontes principais de conhecimento
histórico na África (dados arqueológicos e documentos escritos são outras).
* Obenga (1982) tece considerações a respeito do modo pelo qual a tradição oral apresenta
o tempo e os acontecimentos nele transcorridos: para povos iletrados, tudo o que se sabe
deriva dos conhecimentos transmitidos de geração a geração pelos tradicionalistas, memória
viva da África. São, geralmente, mestres iniciados (e iniciadores) de um ramo tradicional
específico. Sobre isso nos esclarece Hampate Bâ (1982): Guardião dos segredos da Gênese
Cósmica e das ciências da vida, o tradicionalista, geralmente dotado de uma memória
prodigiosa, normalmente também é o arquivista de fatos passados transmitidos pela tradição,
ou de fatos contemporâneos. Johnson, em seu clássico The History of the Yorubas, afirma que
nesse grupo étnico os historiadores nacionais eram certas famílias de ofício hereditário,
mantidas junto ao rei de Oyo. (Alma Africana no Brasil. Os iorubás / Ronilda Iyakemi Ribeiro -
São Paulo: Editora Oduduwa, 1996 – pág 27)
* Vale ressaltar que ITAN é uma palavra ioruba que significa história, qualquer história;
um conto. De um modo mais específico, itan são histórias do sistema nagô de
consultas às divindades. Na África, os itan compunham, e ainda compõem, o oráculo
denominado de Ifá, que pode ser lido e interpretado através de um conjunto de
dezesseis sinais, os odu. Esses sinais podem se combinar entre si, resultando em 256
outros sinais, que também se combinam entre si, perfazendo um total de mais de
quatro mil sinais. Esses sinais são explicados através de várias histórias que compõem
cada um deles. O sacerdote, o babalaô, sabe essas histórias de cor, pois o sistema era
baseado apenas na comunicação oral
Cosmogonia e mitologia – conceitos;
*Orum, Aie, redenção pecado (Prandi 2005: 35)
* Mito e o tempo Prandi 168
Ori - ??
* Prndi p56 – formação espiritual ioruba
* Orìsànlá ou Obàtálá, “O Grande Orixá” ou “Rei do Pano Branco”, ocupa uma posição
única e inconteste do mais importante Orixá e o mais elevado dos deuses iorubás. Foi
o primeiro a ser criado por Olodumaré, o deus supremo. Òrìsànlá-Obàtálá é também
chamado Òrìsà ou Obà-Ìgbò, o Orixá ou o Rei dos Igbôs. Tinham um caráter bastante
obstinado e independente o que lhe causava inúmeros problemas. Òrìsànlá foi
encarregado por Olodumaré de criar o mundo com o poder de sugerir (àbà) e o de
realizar (àse), razão pela qual é saudado com o título de Aláàbáláàse. Para cumprir sua
missão, antes da partida, Olodumaré entregou-lhe o “saco da criação”. O poder que
lhe fora confiado não o dispensava, entretanto, de submeter-se a certas regras e de
respeitar diversas obrigações como os outros Orixás. Uma história de Ifa nos conta
como, em razão de seu caráter altivo, ele se recusou a fazer alguns sacrifícios e
oferendas a Exu, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo. Òrìsànlá pôs-se a
caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu opá osorò ou paxorô, o cajado
para fazer cerimônias. No momento de ultrapassar a porta do Além, encontrou Exu,
que entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os
dois mundos. Exu, descontente com a recusa do Grande Orixá em fazer as oferendas
prescritas, vingou-me fazendo-o sentir uma sede intensa. Òrìsànlá, para matar sua
sede, não teve outro recurso senão o de furar, com o seu paxorô, a casca do tronco de
um dendezeiro. Um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma. Ele
bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não sabia, mas onde estava e caiu
adormecido. Veio então Olofin-Odùduà, criado por Olodumaré depois de Òrìsànlá é o
maior rival deste. Vendo o Grande Orixá adormecido, roubou-lhe “o saco da criação”,
dirigiu-se à presença de Olodumaré para mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que
estado se encontrava Òrìsànlá. Olodumaré exclamou: “Se ele esta neste estado, vá
você, Odùduà! Vá criar o mundo!” Odùduà saiu assim do além e se encontrou diante
de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair à substância marrom contida no “saco
da criação”. Era terra. Formou-se então um montículo que ultrapassou a superfície das
águas. Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garros. Esta começou a
arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas. Onde ciscava, cobria as
águas, e a terra ia se alargando cada vez mais, o que o ioruba se diz ilè nfe, expressão
que deu origem ao nome da cidade de ilê Ifé. Odùduà aí se estabeleceu, seguido pelos
outros Orixás, e tornou-se assim o rei da terra. Quando Oxalá acordou não mais
encontrou ao seu lado o saco da criação. Despeitado, voltou a Olodumaré. Este, com
castigo pela sua embriaguez, proibiu ao Grande Orixá, assim como aos outros de sua
família, os “Orixás funfun”, ou “Orixás brancos”, beber vinho de palma e mesmo de
usar azeite-de-dendê. Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no
barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida. Por essa
razão, Oxalá é também chamado de Alámorere, o “proprietário da boa argila”. Pôs-se
a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber
vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saíam de suas mãos
contrafeitos, deformados, capengas, corcundas.alguns, retirados do forno antes da
hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram albinos.
Todas as pessoas que entravam nessas tristes categorias são-lhe consagradas e
tornam-se adoradoras de Orixalá. Mais tarde, quando Òrìsànlá e Odùduà
reencontraram-se, eles discutiram e se bateram com furor.
* A lembrança dessas discórdias é conservada nas histórias de Ifá, das quais algumas
podem ser encontradas em outra obra. As relações tempestuosas entre divindades
podem ser consideradas como transposição ao domínio religioso de fatos históricos
antigos. A rivalidade entre os deuses dessas lendas seria a fabulação de fatos mais ou
menos reais, concernentes à fundação da cidade de Ifé, tinha como o “berço da
civilização ioruba e do resto do mundo”. Obàtálá teria sido o rei dos igbôs, uma
população instalada perto do lugar que se tornou mais tarde a cidade de Ifé. A
referência a esse fato não se perdeu nas tradições orais no Brasil, onde Orixalá e
frequentemente mencionado nos cantos como Orixá Igbô ou Babá Igbô, ou Orixá ou o
Rei dos igbôs. Durante seu reinado, ele foi vencido por Odùduà, que encabeçada um
exército, fazendo-se acompanhar das dezesseis personagens, cujos nomes variam
segundo os autores. Estes são conhecidos pelo nome de “awon agbàgbà” (os antigos).
Esses acontecimentos históricos corresponderiam à parte do mito onde Orixalá foi
enviado para criar o mundo (enquanto, na realidade, ele tornou-se o rei dos igbôs) e
foi no mito que Odùduà tornou-se o rei do mundo, por ter roubado a Orixalá o “saco
da criação” (enquanto, na realidade, ele destronou Òrìsànlá Obà Ìgbò, usurpando-lhe o
reino). Odùduà teria vindo do leste, no momento das correntes migratórias causadas
por uma invasão berbere no Egito. Esse fato provocou deslocamentos de populações
inteiras, expulsando-se progressivamente, umas às outras, em direção ao oeste, para
terminar em Borgu, também chamada região dos baribas. Segundo uns, Odùduà teria
vindo de uma longínqua região do Egito ou mesmo de Meca e, segundo outros, de um
lugar perto de Ifé, chamado Oké-Ora, onde os invasores teriam habitado durante
várias gerações. Não foi sem resistência que Òrìsànlá-Ìgbò perdeu seu trono. Ele reagiu
com energia e chegou mesmo a expulsar Odòduà de seu palácio, onde já se
encontrava instalado. Foi ajudado por seus partidários, Orelúéré e Obawinni, mas foi
uma vitória de curta duração, pois, por sua vez, foi expulso por Obameri, partidário de
Odùduà, e, assim, Òrìsànlá teve que se refugiar em Ideta-Oko. Obameri instalou-se na
estrada que ligava esse lugar e Ifé para impedir, durante muito tempo, a volta de
Òrìsànlá a esse lugar. Tendo este perdido o seu poder político, conservou funções
religiosas e voltou mais tarde para instalar-se em seu templo em Ideta-Ilê. ( Verger,
Orixás pág 96 e 97).
*Formação da religião – Prandi p102 – Animismo funde com culto aos antepassados;
Ifé a cidade sagrada (Livro 3 pág 561) – questão de Oduduwa, produção mais
histórica sobre o povo Yorubá. Costa e Silva e Unesco.
Ifé
* Pode‑se considerar que, durante o primeiro milênio da Era Crista, as florestas da
Nigéria tenham sido progressivamente ocupadas por populações praticantes de uma
agricultura baseada no inhame e no dendê; nas terras da savana situadas
imediatamente ao norte da floresta, os produtos cultivados eram provavelmente o
inhame, o sorgo comum e, em algumas regiões, o arroz africano; nas savanas
setentrionais, o inhame teria sido substituído pelo milheto. Ao longo de
aproximadamente 30 gerações, a supressão dos matagais e a produção agrícola teriam
ganho em eficácia, graças a utilização de ferramentas em metal, fabricadas a partir do
ferro produzido in loco. (livro 3 – pág 561)
* Todavia, um dos ifa oriki, ou cantos divinatórios iorubas, oferece‑nos uma indicação:
trata‑se de Oduduwa, herói fundador e primeiro oni de Ife, mercador enriquecido pela
exportaçao da noz‑de‑cola produzida in loco e importador dos cavalos provenientes
do Norte. (livro 3 – pág 565)
* Podemos portanto notar como Ife pôde transformar‑se em centro religioso, sendo o
oni considerado um personagem sagrado, recebendo tributos e direitos de pedágio
sobre o comércio local e investido de um poder de comando, em virtude da sua
proeminencia no sistema religioso. Tamanha centralização da autoridade ritualística e
sobrenatural abria caminho para o exercício de uma supremacia econômica e de um
verdadeiro poder político. (livro 3 – pág 565)
* A tradição oral registra que a fundação de Ife resulta da vitória sobre um grupo
autóctone de invasores denominado “igbo”, possuidor da vantagem de ter armas de
ferro. Independentemente da explicação sobre as origens de Ife, é indubitável que,
entre os séculos VII e XI, Ife dominava cultural e politicamente os iorubas e os vizinhos
bini. (livro 3 – pág 594)
Muitos acreditam que o declínio do império começou em 1754 com as intrigas dinásticas e os golpes de estado patrocinados pelo primeiro-
ministro Bashorun Gaha. Em 1796, uma revolta iniciada em Ilorin contra Awole (o Àláàfin, ou governante de Oyo) foi comandada por Afonjá
(o Aare Ona Kakanfo, ou comandante supremo das forças armadas de Oyo). Esta revolta, que levou à separação de Ilorin, marcou o começo da
desintegração do Império de Oyo, tão logo outros estados vassalos começaram a seguir o exemplo de Ilorin. Para assegurar apoio à sua causa,
Afonjá recorreu à ajuda de um professor fula itinerante chamado Alim al-Sali, visando a garantir a adesão dos iorubas muçulmanos e
voluntários hauçás e fulas do norte, levando eventualmente à destruição de Oyo Ilê pelos fulas em 1835 e consequentemente à extinção do
Império de Oyo. Enquanto isso, em 1823, o reino do Daomé realizou incursões a territórios de Oyo visando a capturar escravos para serem
vendidos. Oyo, então, exigiu um pesado tributo do rei Gezo do Daomé como reparação. O rei Gezo enviou seu agente brasileiro, Francisco Félix
de Sousa, para negociar a paz. Na impossibilidade de se chegar a um acordo, Oyo atacou o Daomé e foi derrotado, o que encerrou a dominação
de Oyo sobre o reino do Daomé. Este, por sua vez, continuou seus ataques sobre o território de Oyo.
Após a destruição da capital Oyo Ilê, a capital foi transferida para o sul, para a cidade de Ago d'Oyo. O oba Atiba tentou preservar o que restava de
Oyo encarregando a cidade de Ibadan de proteger a capital dos ataques de Ilorin vindos do norte e do nordeste. Ele também tentou fazer com que
a cidade de Ijaye protegesse a capital dos ataques dos daomeanos vindos do oeste. O centro iorubá de poder moveu-se então para o sul, para a
cidade de Ibadan, que havia sido fundada pelos militares de Oyo em 1830. Porém os planos de Atiba fracassaram, e Oyo nunca mais readquiriu
seu poder. Em 1888, se tornou um protetorado da Grã-Bretanha. A partir de 1896, perdeu qualquer forma de poder.
Considerações iniciais:
Candomblé é a religião de culto aos orixás formada na Bahia, no século XIX, a partir de
tradições de povos iorubas, com influencia de grupos fons (daomeanos) e em menor escala
por outros grupos minoritário. O Candomblé dos iorubas é a junção de vários aspectos
culturais de diferentes cidades iorubanas, formando no Brasil uma unidade religiosa, e que em
determinados aspectos, com novas concepções estranhas à cultura africana. (Prandi,2005)
Cada vez mais podemos ver uma procura significativa por parte desta população de
praticantes e simpatizantes das religiões afro-brasileiras, pela origem e histórico da formação
de sua crença, desta forma torna-se de suma importância que a academia produza ainda mais
pesquisas a cerca desta temática, contribuindo para a formação do conhecimento e quebra de
paradigmas preconceituosos que ainda persistem em nossa sociedade.
Em janeiro de 2003 entra em vigor a lei 10.639 que obriga nos estabelecimentos de
ensino fundamental e médio, o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. O Art. 26-A
afirma que o conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da
História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o
negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas
social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Assim, toda e qualquer produção
acadêmica com tais temáticas, contribuem para uma melhor formação de professores e alunos
dentro das perspectivas da lei em vigor.
Dentro de toda esta perspectiva, o presente trabalho visa uma modesta contribuição
para o conhecimento científico, através de uma revisão bibliográfica, de algumas concepções a
cerca da cosmogonia de um povo africano, o ioruba, que resultou na formação de uma
religiosidade genuinamente brasileira, o candomblé.
Para se ter conhecimento histórico sobre a África, tradicionalmente temos três tipos
principais de fontes: os dados arqueológicos, documentos escritos e a tradição oral. Algumas
sociedades africanas não se utilizavam da escrita, e os iorubas que propomos estudar incluí-se
neste quadro como sendo uma etnia que transmite seus conhecimentos através da oralidade.
Zuleide Duarte, em seu texto A Tradição Oral na África, afirma que nas sociedades tradicionais
africanas as narrativas orais são pilares onde se apóiam os valores e as crenças transmitidas
pela tradição e, simultaneamente, previnem as inversões éticas e o desrespeito ao legado
ancestral da cultura. Assim, Zuleide conclui:
Na terceira parte do trabalho, teremos uma discussão de textos e teorias sobre o mito
da criação do mundo segundo os Yorubás. Vamos apresentar a visão dos pioneiros em se
tratando do pensamento africano no Brasil, Nina Rodrigues e Edison Carneiro, que possuem
ainda um axioma carregado preconceitos característicos da época. Passaremos por autores
clássicos, de suma importância para as religiões afro, Roger Bastide e Pierre Verger, até uma
visão mais atual do sociólogo Reginaldo Prandi e do professor Marcelo Monteiro.
No quarto capítulo faremos uma breve exposição de alguns conceitos como, axé, ori,
orixá. Mostraremos de forma sucinta a questão do culto aos ancestrais, até a ascensão deste
como orixá, adquirindo status de divindade nacional, com poderes de elementos da natureza.
Neste capítulo vamos apresentar uma visão mais históricas sobre os iorubás.
Mostraremos a fundação de Ifé, a cidade sagrada, e a importância da cidade de Oyó, como
sendo o centro administrativo e capital do chamado país dos iorubas. Para isso vamos utilizar a
importantíssima obra “A Enxada e a Lança, a África Antes dos Portugueses” de Alberto da
Costa e Silva e a História Geral da África da Unesco.
Os duzentos irunmalés da esquerda são todas as outras divindades cultuadas pelos iorubás –
Ogum, Oiá, Xangô, Oxumaré,… e Egum (ancestrais) – e são chamados de eborás.
Os eborás são divindades menores, intermediárias entre Olorum e os seres humanos. Alguns
eborás são objetos de culto de toda uma cidade. Quando essa cidade tem um soberano,
os eborás servem para reforçar a autoridade do líder, que pode ser um rei (Obá), um rico
mercador (Balé) ou um chefe de aldeia.