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BAUXITA EM JURUTI-PA1.
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Texto adaptado e retirado da Dissertação de Mestrado em Direito na USP, intitulada “Mineração e
Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Uma análise do papel do Licenciamento Ambiental em projetos
minerais na Amazônia”, de autoria de Yuri Jordy Nascimento Figueiredo.
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IBGE, 2010.
O processo de mineração da Bauxita em Juruti compreende, grosso modo, a
extração, o beneficiamento (britagem, lavagem, peneiramento e classificação
granulométrica) e secagem, gerando alguns impactos ambientais graves. Porém, a
mineração em Juruti foi iniciada num cenário normativo e social já constituído, com as
normas ambientais já postas e bem estruturadas, especialmente a do Licenciamento
Ambiental. De outra mão, a sociedade encontrava-se bastante crítica e participativa,
atuando de forma mais organizada na preservação de seus direitos ambientais. Assim, a
empresa foi obrigada a cumprir rigorosas etapas de internalização dos impactos ambientais
previstos (ou não). Somente com essa preparação inicial é que obteria a autorização da
lavra
Assim, foram previstas diversas etapas para a deposição dos rejeitos, visando evitar
os impactos ambientais mensurados. Estas etapas estavam a seguir programadas: (i)
primeiramente, que os rejeitos seriam descartados, na forma de polpa, da usina para uma
Lagoa de Espessamento (LE) formada por um dique periférico e construída junto à usina;
(ii) Depois, os rejeitos espessados seriam dragados e bombeados para disposição final
dentro da área lavrada, em local previamente preparado e denominado Reservatório da
Mina; (iii) A seguir, a recuperação da água da Lagoa de Espessamento e (iv) Por fim, a
distribuição adequada dos rejeitos para que favoreça sua secagem e drenagem.
Por fim, a fase da estocagem e do carregamento dos navios, que foi previsto para
ser feito no Porto do Projeto Juruti, programado para ser construído na margem direita do
rio Amazonas, distante aproximadamente 2 km da sede da cidade de Juruti. Este Porto,
portanto, foi construído com a finalidade de receber os principais materiais e suprimentos
minerais do Projeto Juruti, bem como, permitir, embarques de bauxita em navios para
expedição aos principais clientes do Projeto.
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CNEC, RIMA Juruti, p. 6-17.
4
Idem, p. 6-19.
Este encurtamento dos habitats naturais da população silvestre ocasiona, além da
sua diminuição, provoca outro grande impacto ambiental de natureza biótica: o
deslocamento de fauna e sobrepopulação em áreas adjacentes.
(ii) Outro problema indicado relaciona-se aos moradores do bairro Terra Preta,
cujos imóveis estão situados na área prevista para instalação das estruturas portuárias.
Segundo o RIMA, “trata-se de uma área onde se tem maior número de imóveis,
sem qualquer ocupação, do que moradias e respectivas famílias. (...) Estima-se que as
instalações portuárias atingirão cerca de 23 moradias e consequentemente 23 famílias; 2
pequenos estabelecimentos comerciais; 1 prédio da igreja evangélica; 2 áreas onde
funcionam campo de futebol e 1 micro-sistema de abastecimento de água para o bairro”5.
5
CNEC. RIMA Juruti. p. 6-26.
(iii) Houve também a previsão de interferências nas condições de vida da população
residente nas proximidades do sistema de transporte ferroviário ao longo da Estrada
Translago e vias vicinais, principalmente quanto a ruídos diários e segurança.
(vii) Outro impacto econômico funda-se nas finanças municipais, ocasionadas pelo
aumento de receitas tributárias e transferidas, que poderão ser investidas na melhoria das
condições e no desenvolvimento local.
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CNEC. RIMA Juruti. p. 6-27
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CNEC. RIMA Juruti. p. 6-30
321.440.000,00 (trezentos e vinte e um milhões quatrocentos e quarenta mil de reais)
aproximadamente8.
8
CNEC. RIMA Juruti. p. 6-33
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Hoje, após mudança de governos, a SECTAM chama-se SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente),
com mesma competência, em se tratando do projeto.
O processo foi pautado na realização de uma série de reuniões de apresentação do
empreendimento para as comunidades locais, além da solicitação de três audiências
públicas, realizadas nos municípios de Juruti, Santarém (a 150 km do empreendimento) e
em Belém10, capital do estado do Pará (a 1.600 km de Juruti).
b) Vícios procedimentais
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A Audiência Pública em Juruti foi solicitada pelo Grupo de Estudos dos Ecossistemas do Baixo e Médio
Amazonas – GEDEBAM, e Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, em conjunto. Já as de Santarém e
Belém ocorreram por solicitação do Ministério Público, tanto estadual quanto federal, atuando em conjunto
In MORAIS, Raimundo. Gestão Ambiental e Deliberação Democrática. Limites e potencialidades do
licenciamento ambiental como instrumento de participação política e controle., pg. 56.
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ACP n. 2005.39.02.001667-1, tramitando na 2ª Vara Federal, do TRF da 1ª Região, seção Pará.
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COSTA, Eduardo J. M; et. al. O Projeto Juruti Sustentável: Uma proposta alternativa de Desenvolvimento
territorial? 2011. p. 78.
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Petição Inicial da Ação Civil Pública Petição Inicial da Ação Civil Pública n. 2005.39.02.001667-1, 2ª
Vara do TRF da 1ª região, fornecida em cópia digital pelo Promotor Raimundo Moraes, que atuou no caso.
De acordo com o promotor atuante no caso, D. Raimundo Morais, do primeiro
ponto podem ser destacados três itens do EIA-RIMA: a) Diagnóstico superficial,
incompleto ou inexistente; b) Não realização de estudos sobre partes estruturais
importantes do projeto e seus impactos e; c) ocorrência de problemas na identificação,
caracterização, análise, mitigação e compensação dos impactos14.
Para o MP, teria o EIA-RIMA ignorado estes impactos locais, não prevendo
compensação ambiental específica, nem mesmo a financeira. Essa inquietação está
amparada pela revolta da comunidade citada com o EIA-RIMA. Esta comunidade,
importante ressaltar, é muito bem organizada internamente através de uma Associação, a
ACORJUVE (Associação dos Comunitários da Região de Juruti Velho).
O Sr. Gerdeonor Pereira dos Santos: “... nós estamos na região de Juruti Velho,
preocupados com esse grande projeto que mexe com a vida dos trabalhadores.
Por isso, aqui no meu questionamento, gostaria, representando aqui dois mil e
quinhentos sócios da Acorjuve, que nós pudéssemos realizar também em Juruti
Velho uma outra Audiência Pública,... haja visto que a região, ela contém pra
nove mil trabalhadores e está dentro do Projeto de mineração da Alcoa. Então,
assim como Santarém e Belém vai ter o privilégio, gostaria que a Vila
Muirapinima, Juruti Velho, também pudesse ser sede de uma audiência pública,
aonde a Constituição Federal garante pra nós, já que os impactos sociais e
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MORAIS, Raimundo. MORAIS, Raimundo. Gestão Ambiental e Deliberação Democrática. Limites e
potencialidades do licenciamento ambiental como instrumento de participação política e controle. 2007.
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Idem. p. 48.
ambientais são indispensáveis num projeto desse. Nós achamos que o tempo em
que o EIA/Rima foi colocado pra nós foi muito pouco, por isso nós entendemos
que precisamos de mais tempo pra estudar ou compreender esse documento,...
nós, da região, nós não temos capacidade de entender esse documento (o
coordenador pede colaboração da audiência em razão de manifestações)
então por essa razão nós queremos mais tempo pra que a gente possa
estudar e compreender o EIA/ Rima, pois é um documento muito
complicado pra nós, a nossa região não dispõe de profissionais qualificados
pra este documento. (...)” [g.n]
Na maioria dos casos (neste, é o que parece ocorrer), o problema não está situado
nos termos linguísticos utilizados no RIMA, que deve ser um relatório mais compreensível
à comunidade afetada. O problema, de fato, está localizado ao nível de desenvolvimento
(educação) da região em que se situa a mina a ser explorada.
Enquanto isso não ocorre, a assistência dos interesses ambientais das populações
afetadas recai sobre o Ministério Público, naturalmente, com todas as suas virtudes e
defeitos.
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Diz-se “voluntários” porque não foram exigidos como condicionantes legais do licenciamento ambiental
do projeto, mas certamente fazem parte de estratégias de negociação para implantar pacificamente o projeto
mineral.
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Informação retirada do site da empresa, acessado em 22/12/2012, disponível em
http://www.alcoa.com/brazil/pt/custom_page/environment_juruti_agenda.asp
21
BORGES, Cláudia (tut.). Desenvolvimento Sustentável De Juruti e entorno. p. 06.
22
Idem.
assistenciais de saúde construídas, ampliadas e/ou reformadas foram mobiliadas,
instrumentadas e equipadas com tecnologias médicas; a Construção de Unidade Mista de
Saúde na Vila de Tabatinga; a Construção e instrumentação de Unidade Mista de Saúde na
Vila Muirapinima ou Juruti Velho; a Unidade Básica de Saúde dos bairros Palmeira e
Maracanã; a Assinatura de convênio para atendimento médico no município de Juruti; a
Construção de laboratório na Secretaria Municipal de Saúde para pesquisas do Instituto
Evandro Chagas; a elaboração do Convênio para apoio à farmácia básica e reforço na
equipe dos profissionais da área de saúde do município (término em 31/12/2008).
Boa parte das ações da Agenda Positiva já está sendo cumprida, obviamente com
alguns percalços, verificados nas reclamações surgidas contra o empreendimento tanto pela
sociedade civil quanto pelo estado.
23
COSTA, Eduardo J. M; et. al. O Projeto Juruti Sustentável: Uma proposta alternativa de Desenvolvimento
territorial? 2011. p. 88.
24
COSTA, Eduardo J. M (et. al). O Projeto Juruti Sustentável: Uma proposta alternativa de
Desenvolvimento territorial? 2011, p. 96.
Estes critérios, por sua vez, são medidos através das publicações dos indicadores de
sustentabilidade.
25
COSTA, Eduardo J. M; et. al. O Projeto Juruti Sustentável: Uma proposta alternativa de Desenvolvimento
territorial? 2011, p. 91.
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Na verdade, o conflito se deu pela relutância da empresa mineradora em reconhecer a possibilidade
jurídica das comunidades tradicionais não tituladas a receberem, mediante somente a posse – e não a
propriedade – a participação no resultado da lavra, garantida pela Constituição Federal, no art. 176.
que comprovasse a propriedade sobre a terra. Problema este que acontece, aliás, em
muitas ocupações na Amazônia.
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INCRA/SR-30/PFE 2009, p. 8.
28
ARAUJO, Marlon Tapajós. A . Reconhecimento dos Territórios Tradicionais por meio de políticas de
ordenamento fundiário e a ambientalização das lutas das comunidades tradicionais de Juruti Velho, Juruti,
Pará., 2010.
29
Artigos 188 e 189, CF/88. Outra forma seria mediante a concessão de título definitivo, porém assim abrir-
se-ia oportunidade para que a empresa (ou qualquer interessado) comercializassem as terras sem obediência
às condicionantes do PAE Juruti Velho.
A concessão de uso é o contrato administrativo pelo qual o Poder Público atribui a
utilização exclusiva de um bem de seu domínio a particular, a fim de que este seja
explorado, consoante destinação específica, mediante contrato.
Este instrumento
Portanto, o valor auxilia (ou pode auxiliar) a evolução da condição de vida das
pessoas. Segue assim, o rumo da sustentabilidade.
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ARAUJO, Marlon Tapajós. Op. Cit. p. 13.
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Entrevista publicada no site http://www.apublica.org/2012/12/juruti-um-pacto-possivel/, disponível em
12/12/2012 e acessada em 25/12/2012.
5.3.5.4 Da compensação por Perdas e danos.
A proposta inicial desta análise seria levantar todos os danos ambientais ocorridos
com a implantação do projeto, incluindo os mensuráveis e também aqueles não
mensuráveis ou ainda não mensurados. Primeiramente, para a determinação da
compensação por danos mensuráveis foi realizado um abrangente inventário florestal, com
levantamento dos serviços ambientais e ecossistêmicos de direta aferição. Porém, há
serviços não mensuráveis, que requerem metodologias pouco objetivas de monetarização.
Apesar de ainda não definido o valor total até o momento, a inclusão deste
instrumento de compensação representa um novo paradigma na avaliação de impactos
socioambientais gerados por grandes empreendimentos minerários no país. E o caso
estudado permite confirmar a evolução do padrão de enfrentamento das questões
ambientais por empresas mineiras, principalmente após o advento da mais estruturada
legislação ambiental.
Por fim, a questão ambiental (mais relacionada ao uso e conservação dos recursos
naturais) de Juruti, que aparece como destaque neste trabalho. Obviamente, pela própria
característica da atividade minerária, os impactos diretos ao meio ambiente foram muito
grandes. No entanto, como foram adotadas fortes políticas de reflorestamento pela
ALCOA, este resultado apresentou-se, de certa forma, contrabalanceado.