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Missionários Bi-ocupacionais

por Timóteo Josué

Monografia elaborada para a


Disciplina de Eclesiologia
do docente pr. Paulo Gomes

FANHÕES
30 de Janeiro de 2018
http://thomrainer.com/wp-content/uploads/2014/08/bivocational1.jpg
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1
I. PRINCÍPIOS DA BI-OCUPACIONALIDADE ................................................................... 2
1. Apóstolo Paulo, em Corinto.............................................................................................. 2
2. Propósito e classificação ................................................................................................... 3
3. Vantagens e dificuldades .................................................................................................. 4
II. EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO BI-OCUPACIONAL ........................................................ 5
1. Perfil do Missionário ........................................................................................................ 5
2. Agências Missionárias ...................................................................................................... 5
3. Plantação de Igrejas .......................................................................................................... 6
CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 7
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 8
INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa cujo o tema é Missionários Bi-ocupacionais, tenho como objetivo explanar
concretamente o que é o ministério bi-ocupacional e como este se enquadra nas missões. Em
primeiro lugar é necessário conhecer-se que existem três grandes pontos de vista, em que o
primeiro sustenta que a vida ministerial em missões deve ser vivida inteiramente na bi-
ocupacionalidade, o segundo que a bi-ocupacionalidade pode advir de uma chamada
determinada por Deus, e por outro lado o terceiro sustenta que a bi-ocupacionalidade em
missões depende de um conjunto de fatores. Apesar do trabalho tocar um pouco de cada um
destes, para o propósito do meu trabalho irei forcar no terceiro ponto de vista.

A primeira secção deste trabalho aborda os princípios da bi-ocupacionalidade, ou seja, todos


os elementos que suportam este “tipo” de ministério. A nível mundial o conceito de bi-
ocupacional é também chamado de bi-vocacional ou fazedores de tendas. Como introdução
posso adiantar que o “fazedor de tendas” é uma expressão tirada do episódio de Paulo em
Corinto, “Diferentes termos têm sido utilizados para definir e caracterizar os fazedores de
tendas. Por ser um conceito novo para muitos”1. Assim, será por aí que irei começar por
desenvolver o conceito de missionário bi-ocupacional. Dentro ainda da primeira secção irei
abordar como é estruturado este ministério à escala macro visando o seu propósito específico,
e quais as vantagens e desvantagens que são inerentes.

A segunda secção aborda a questão prática no exercício do ministério bi-ocupacional. Neste


ministério, os missionários, sejam eles independentes ou enviados por uma estrutura
necessitam além da chamada de Deus, ter um certo perfil que está embebido o seu carácter e a
forma como estabelece o seu relacionamento intimo com Deus. Disciplinas de gestão e
organização é de suma importante para o missionário de forma a poder estabelecer as
prioridades e a realização dos objetivos.

Quando os missionários bi-ocupacionais estão inseridos numa estrutura, como departamentos


de missões, ou mais frequente as agências missionárias, é necessário perceber como estar
estão estruturadas e qual o seu funcionamento. Existem vantagens e desvantagens que irão ser
referidas no respetivo momento. Como o principal objetivo de todo o missionário é a
plantação de uma igreja, irei abordar quais os desafios que surgem a um missionário bi-
ocupacional e como podem ser superadas.

1
RAMOS, Robson. Fazedores de Tendas Hoje!, p. 8

1
I. PRINCÍPIOS DA BI-OCUPACIONALIDADE
1. Apóstolo Paulo, em Corinto
O texto bíblico em Atos 18.1-4 relata o momento em que o apóstolo Paulo chega a Corinto, e
conta também do encontro entre Paulo e o casal Áquila e Priscila, e em como começaram a
trabalhar no ofício de fazedores de tendas. O contexto bíblico indica que o apóstolo Paulo está
na sua segunda viagem missionária com o propósito de anunciar o evangelho às províncias da
Asia menor. O contexto também indica a partir do versículo cinco que após a chegada de
Timóteo e Sila, Paulo entregou-se totalmente ao ensino da palavra.

Na cultura judaica era considerado como impróprio, um rabi receber um pagamento pela
prática do ensino e explicação da Lei2. Paulo percorria as sinagogas todos os sábados, e na
cidade de Corinto havia um número razoável de judeus. Logo, podemos perceber que uma das
razões que levou o apóstolo Paulo a dedicar-se a um oficio secular foi por causa do contexto
cultural, todo o rabino (mestre-ensinador) era bi-ocupacional de onde retirava o seu sustento,
“a vocação de rabi era no início uma profissão honorária, com o princípio de que a Torah
teria de ser ensinada livre de encargo”3.

Para muitos o ministério de bi-ocupacionalidade tem a sua génese com Paulo e os seus
princípios são aplicados até aos dias de hoje. Quando estudamos a história da Igreja
verificamos que “em muitas igrejas, ter um ministério bi-ocupacional era a norma até aos
anos 50, quando as várias denominações começaram a desafiar as suas igrejas para suportar
na integra os seus pastores”4. Nos Estados Unidos nos anos 50, começaram a surgir Institutos
Bíblicos e as igrejas requeriam formação para o pastorado e/ou liderança, o que levou a
alguns pastores a tempo inteiro a olhar com depreciação para os pastores em regime bi-
ocupacional.5 É preciso alertar para esta situação, pois ambos os casos são ministérios dados
por Deus com um propósito específico e que ambos têm o mesmo nível de importância.

A bi-ocupacionalidade pode ser entendida em três vertentes, a primeira por chamada de Deus,
a segunda pelo fator necessidade (estratégia), e terceira por obrigação (obstáculos).

2
BRUCE, F. F., The Book of The Acts, p. 346
3
Jerusalem: Keterpress Enterprises. Encyclopaedia Judaica Jerusalem, p. 1446
4
BICKERS, Dennis. The Art and Practice of Bivocational Ministry, p. 19
5
Idem Ibidem

2
2. Propósito e classificação
O propósito de todo o missionário é levar o evangelho a uma nova cultura. Contudo, a
realidade difere de continente para continente, de país para país e até mesmo de cidade para
cidade. Logo, os missionários são obrigados a ajustar os seus métodos para obter os melhores
resultados. Foi então que pela necessidade surgiu o conceito de “fazedor de tendas”, isto é um
missionário bi-ocupacional, “um fazer de tendas são cristãos que usam o seu emprego para
levar mais longe o trabalho do evangelismo, a plantação de igrejas e outros serviços para
Deus”6, e é comumente usado em países cujas fronteiras religiosas estão fechadas.

Na OM (Operation Mobilisation) existem cinco pilares essenciais para um ministério bi-


ocupacional7: 1) A Soberania de Jesus Cristo em todas as áreas da nossa vida; 2) O sacerdócio
de todos os crentes; 3) A chamada e vocação; 4) O que a bíblia ensina sobre trabalhar; e 5) A
compaixão e empatia pelo próximo. Para a OM, assim como todos os que querem ser
“fazedores de tendas”, a oportunidade de trabalhar no ministério bi-ocupacional tem como
propósito e alvo a evangelização, a cooperação com as igrejas locais e a plantação de novas
igrejas8. Segundo vários estudos missiológicos foi criado um quadro a nível mundial com
quatro classificações para os missionários bi-ocupacionais (fazedores de tendas)9:

• T1 - Um cristão normal que vive no estrangeiro, e o trabalho é a razão primária;


• T2 - Missionários que não tem um sustento fixo, e desenvolvem atividades para obter
sustento;
• T3 - Missionários que são sustentados e estão inseridos numa agência missionária;
• T4 - Missionários secretos. Seu visto de trabalho é para poder entrar em certo país
cujas fronteiras estão fechadas para emissários religiosos.

Um exemplo de de T2 foi William Carey. Chamado o pai das missões modernas, foi alguém
que se viu forçado a colocar em prática o ministério bi-ocupacional. Para que não fosse
deportado da India e assim dar continuidade à sua chamada “levou a sua família para o
interior do país e trabalhou como supervisor de uma plantação de anil”10, proporcionando
não só a possibilidade de permanecer no país como de ter o seu próprio sustento.

6
Oswestry Christian Center. Tentmaking Missionaries, p. 5
7
GREENLEE, David. Global Passion, pp. 125-129
8
Idem Ibidem, pp. 134-135
9
Oswestry Christian Center. Tentmaking Missionaries, p. 7
10
RAMOS, Robson. Fazedores de Tendas Hoje!, p. 27

3
3. Vantagens e dificuldades
As vantagens de ser um missionário bi-ocupacional estão diretamente ligadas com a missão
de Deus, ou seja, que todos possam ouvir e conhece-Lo e naturalmente haverá que haver um
empenho das igrejas para terem uma cultura e visão missionária. Contudo, falar em missões
transculturais envolver finanças, recursos e meios.

Uma das muitas vantagens é que igrejas que tenham no seu meio crentes com a chamada
missionária, mas que a estrutura não tem a capacidade de suporta-los, podem na mesmo
prepara-los para a realidade da bi-ocupacionalidade para que estes possa servir. Outra
vantagem está relacionada com a janela 10/40, “a maioria de pessoas são alcançadas vivem
em países onde os governos não permitem a entrada a missionários cristãos, a não ser que
estes tenham um emprego real e assim obtenham o seu visto”11.

Uma terceira e última vantagem de entre muitas, é o facto de um missionário bi-ocupacional


poder criar pontes e ligações de forma mais fácil com as pessoas à sua volta. Eles podem ser
um exemplo (sal e luz) através do seu carácter, bem como os não cristãos podem vê-los em
ação.

Não só existem vantagens, como existem algumas desvantagens, ou melhor, dificuldades.


Para um missionário trabalhar a part-time o maior obstáculo que se levanta é a gestão do
tempo. Disciplinas de devocional a nível de leitura e meditação das Escrituras como de oração
devem ser mantidas, caso contrário muito rapidamente o missionário irá ficar desligado da
esfera espiritual. Se a gestão de ter não for bem concebida ou a carga de trabalho ser elevada,
são fatores que irão influenciar grandemente o exercício do ministério com toda a entrega e
diligência necessária12.

Quando entra o fator família então mais necessário é para o missionário manter um equilíbrio
nas suas atividades. Na verdade, existem “muitos ministros bi-ocupacionais que lutaram com
o sentimento de que estavam a ser negligentes com as suas famílias”13

11
Oswestry Christian Center. Tentmaking Missionaries, p. 8
12
Idem Ibidem, p. 10
13
BICKERS, Dennis. The Art and Practice of Bivocational Ministry, p. 32

4
II. EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO BI-OCUPACIONAL
1. Perfil do Missionário
Uma vez que já foi explorado o conceito do ministério bi-ocupacional de acordo com a
perspetiva bíblica e também dos vários anos de experiências de outros missionários, é
necessário falar agora de qual deve ser o carácter dos mesmos. De acordo com Patrick Lai14,
existem dez traços de personalidade (qualidades) que devem existir num missionário bi-
ocupacional. As características são15: 1) maduro espiritualmente; 2) capacidade de adaptação
social; 3) emocionalmente estável; 4) perseverante; 5) zelo por evangelismo; 6)
potencializador de outros; 7) fluente na língua estrangeira nativa; 8) trabalhado em equipa; 9)
é claro nos seus objetivos; e 10) presta contas. O carácter é essencial, pois um missionário
interage com um conjunto variado de situações, e a forma como reage a elas irá causar um
impacto no seu ministério, seja positiva ou negativamente.

Outro aspeto no perfil do missionário será as suas faculdades a nível de ofício. Se a estratégia
estiver bem definida é necessário que o missionário saiba já uma profissão de antemão para
que aquando da chegada ao país seja mais rápido o enquadramento16.

2. Agências Missionárias
As agências missionárias surgiram com a necessidade de haver uma estrutura organizada que
desse apoio aos missionários. A transculturalidade é uma realidade tão grande que levanta
enormes barreiras, “a única solução efetiva para a maior parte destas necessidades pode
advir das organizações transculturais especializadas”17. Uma agência missionária tem como
objetivo organizar e estruturar o papel missionário e estabelecer contato com os locais a fim
de perceber as suas necessidades.

Um outro papel das agências missionárias e trabalhar com igrejas de forma a potencializar
futuros missionários. Um exemplo disso é uma agência missionária batista que “incentiva as
igrejas locais a considerar pessoas (…), também recebe voluntários que, através dos seus
próprios recursos, prestarão auxílio em áreas carentes em todo o mundo”18, tal como
médicos, professores, construtores, etc.

14
Patrick Lai e sua família foram missionários bi-ocupacionais durante dezanove anos na janela 10/40.
15
LAI, Patrick. Tentmaking, 2006
16
Oswestry Christian Center. Tentmaking Missionaries, p. 22
17
RAMOS, Robson. Fazedores de Tendas Hoje!, p. 87
18
Idem Ibidem, p. 91

5
Muitos defendem que os missionários não necessitam de estar envolvidos com as agências
missionárias para que não tenham que prestar contas, mas como vamos ver, existem
vantagens a estar associado a uma. A prestação de contas não é algo negativo, mas sim
positivo pois estar rodeado de uma entidade que tem uma maior visão e panorama das
necessidades gerais faz com que possamos receber sábios conselhos. Uma agência também
ajuda a obter um seguro de saúde bem como a ajuda para a solução de problemas tais como
impostos e educação de crianças. Uma agência missionária também trabalha de perto com que
está no campo e dá um suporte de oração e de contatos com várias igrejas19.

Uma outra preocupação das agências missionárias não é só o envio de ocidentais a países do
terceiro-mundo, mas sim formar missionários orientais e envia-los. Um exemplo disso nos
nossos dias é as Filipinas, em que “agências missionárias estão ativamente a treinar e enviar
cristãos trabalhadores Filipinos para países como China, Tailândia e Camboja”20.

3. Plantação de Igrejas
O maior exemplo de um ministro plantador de igrejas bi-ocupacional podemos encontrar no
registo bíblico, o próprio apóstolo Paulo, “ele foi um servo de Deus, um apóstolo para os
Gentios, e um pregador do evangelho, e o plantador de igrejas bi-ocupacional”21. Como já
referi no primeiro capítulo o apóstolo Paulo por diversas vezes e sempre ao longo das viagens
missionárias foi assim que ele trabalhou porque fazia parte do “seu ethos, do seu ideal, do seu
pensamento, do seu padrão, e até talvez da sua teologia”22.

Uma das preocupações que se levanta no ministério bi-ocupacional é quando se chega à fase
da plantação de igrejas. Passar da transição de missionário a part-time para a gestão de uma
igreja pode levar a um desgaste acentuado. A realidade é que a plantação de uma igreja
deverá ser um processo natural para aqueles cujos focos missionários é falar de Jesus. Como o
fator tempo pode constituir uma dificuldade, aprender a geri-lo é de suma prioridade para
fazer o reino crescer, caso contrário, áreas ministeriais como o evangelismo, o discipulado e a
plantação de uma nova igreja fica em risco23. Como construir/montar uma igreja de raíz tem
os seus custos, os plantadores de igrejas bi-ocupacionais utilizam o seu trabalho secular para
suportar a obra do Senhor.

19
Oswestry Christian Center. Tentmaking Missionaries. p. 20
20
WINTER, Jonathan. The Tentmaking Missionary: The Philippine Context, p. 3
21
NERGER, Steve. (2008). Bivocational Church Planters, p. 16
22
Idem Ibidem
23
WINTER, Jonathan. The Tentmaking Missionary: The Philippine Context, p. 9

6
CONCLUSÃO
Com a realização deste trabalho eu pude cumprir a minha aprendizagem nos objetivos
propostos, a respeito do conhecimento dos missionários bi-ocupacionais, especificamente de
onde provém a sua sustentação bíblica, seu propósito e aplicação. É de suma importância
entender a forma como Deus chama alguns crentes para trabalharem como fazedores de
tendas no estrangeiro, mas também como alguns são chamados especificamente para o
ministério de missionário bi-ocupacional.
A nível bíblico não se pode considerar que todos os missionários devam ganhar seu sustento
somente pela bi-ocupacionalidade, nem somente pelas agências missionárias. Fatores como
qual o país a ser enviado, os recursos de quem envia e/ou a estratégia. O grande motivo que
leva muitos missionários a optarem pela bi-ocupação é porque pretendem numa primeira fase
criar e estabelecer pontes com os nativos. Um outro motivo é também a questão financeira,
não que seja imperativo, mas porque entendem que podem abençoar de forma maior a obra do
Senhor.
Posso concluir que através da pesquisa efetuado, recolhi e organizei os conteúdos de forma a
me possibilitar aprender mais sobre este assunto da bi-ocupacionalidade aplicada a missões.

7
BIBLIOGRAFIA
BICKERS, Dennis. (s.d.). The Art and Practice of Bivocational Ministry. Kansas City:
Beacon Hill Press.
CARRIKER, Timóteo. (1999). Missões na Bíblia. São Paulo: Vida Nova.
Oswestry Christian Center. (2002). Tentmaking Missionaries. United Kingdom.
Encyclopaedia Judaica Jerusalem. (1978). Jerusalem: Keterpress Enterprises.
BRUCE F.F. (1988). The Book of The Acts. Grand Rapids: Eerdmans Publishing.
GREENLEE, David. (1998). Global Passion. London: Bell and Bain.
LAI, Patrick. (2006). Tentmaking. IVP Books.
NERGER, Steve. (2008). Bivocational Church Planters. Georgia: SBC.
OLIVEIRA, Temóteo. (2000). Como Ser um Missionário. Rio de Janeiro: CPAD.
RAMOS, Robson. (1992). Fazedores de Tendas Hoje! São Paulo: Editora Sepal.
REED, Lyman. (1977). Preparing Missionaries. California: William Carey Library.
WINTER, Jonathan. The Tentmaking Missionary: The Philippine Context.

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