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Capítulo 2
Flávia de Lima Osório1, Ana Irene Fonseca Mendes2, Caroline da Cruz Pavan-Cândido3, Uanda Cristina Almeida Silva4
RESUMO
As psicoterapias podem ser definidas como métodos de tratamento, embasados em diferentes conceitos
teóricos e técnicos, que visam influenciar o paciente e auxiliá-lo na modificação de problemas de ordem
emocional, cognitiva e comportamental Objetiva-se apresentar: a) os principais conceitos técnicos e
teóricos associados às psicoterapias, com destaque àquelas baseadas nos conceitos teóricos psicanalí-
ticos/ psicodinâmicos e cognitivo-comportamentais, e b) algumas especificidades da psicoterapia de
grupo. Pretende-se que este material possa servir como referência a alunos iniciantes da área, bem
como a outros de diferentes áreas correlatas do contexto da saúde.
ABSTRACT
The psychotherapies can be defined as method of as therapeutic procedures based on different theoreti-
cal and technical concepts, conceived to help the patient to cope with his/her emotional, cognitive and
behavioral problems. The present study aims are: a) to review the main technical and theoretical con-
cepts associated with psychotherapy, especially those based on psychoanalytic/psychodynamic and
cognitive-behavioral theoretical concepts and, b) to discuss some peculiarities of the psychotherapy of
groups. This material is intented to be used as a reference to beginners students of this field of knowl-
edge as well as others specialties of the health-related context.
4 http://www.revistas.usp.br/rmrp / http://revista.fmrp.usp.br
Osório FL, Silva UCA, Mendes AIF, Pavan-Cândido CC.
Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
lecendo que o Id é a parte pulsional/instintual (com taque. Alguns impulsos instintivos não podem ser
conteúdos de natureza libidinal e agressiva, por manifestados, pois sua satisfação também traria
exemplo) e a mais primitiva da mente, a partir da problemas adaptativos para o Ego; como forma de
qual, uma porção se diferenciará pela influência do se opor a estas forças surge a repressão.19 Os me-
mundo externo e que será denominada Ego. Ao Ego canismos defensivos estão a favor da repressão,
são atribuídas as funções de percepção, atenção, ajudando o Ego a se proteger das exigências
motilidade, memória e pensamento, sendo esta ins- instintuais do Id. Segundo Gabbard,8 “todos nós
tância reguladora da vida psíquica que sofre influ- temos mecanismos de defesa, e as defesas que uti-
ência e é influenciado pelo Id.15 Já o Superego, clas- lizamos revelam muito a nosso respeito” (p.37). A
sicamente é definido como uma instância com fun- compreensão destes mecanismos é de grande im-
ções normativas, a partir do qual, os limites e re- portância para a prática clínica, orientando o racio-
gras são estabelecidos internamente.16 cínio diagnóstico psicodinâmico e o planejamento
Numa perspectiva freudiana, é o interjogo terapêutico.
entre estas instâncias, que vai determinar o funcio- Os mecanismos defensivos podem ser orga-
namento mental em um indivíduo: a luta entre o Id nizados de acordo com uma hierarquia que vai das
e o mundo externo, resultaria em uma estrutura de mais primitivas como a negação (de aspectos difí-
personalidade psicótica, cuja vida instintual do Id ceis da realidade) e a somatização (conversão da
se impõe diante da realidade comprometendo a dor emocional em sintomas físicos), até as mais
capacidade de adaptação deste indivíduo que pas- maduras como o humor (encontrar elementos cô-
sa a recriar a realidade por meio dos delírios e alu- micos em situações difíceis) e a sublimação (dar
cinações.17 A neurose, por sua vez, seria o resulta- um destino socialmente aceitável a afetos inaceitá-
do dos conflitos entre o Id e o Ego, a partir do qual veis/desadaptados).8
um impulso instintual poderoso é impedido de ser O modelo freudiano de mente tem sido trans-
descarregado pelo Ego e pelas forças repressivas formado/reformulado/ampliado ao longo dos anos
(Superego), surgindo, então, os sintomas neuróti- de desenvolvimento da teoria, culminando no sur-
cos (p.ex. fobias, pensamentos obsessivos) como gimento de várias ‘escolas psicanalíticas’, dentre as
formações de compromisso.18 Hoje, entendem-se quais se destacam Melanie Klein (1882-1960) e
tais formações como características do funcionamen- Wilfred Bion (1897-1979).20 A partir das contribui-
to mental de todos os indivíduos e, neste sentido, ções de Melanie Klein, a psicanálise com crianças
os próprios traços de caráter são representantes alcançou grandes avanços, com o estabelecimento
destes compromissos que tem nos sintomas neuró- do brinquedo e dos jogos como instrumento de gran-
ticos sua variante patológica.8 de importância para o trabalho psicanalítico.15 Klein
Na atualidade, com o desenvolvimento do ainda reformulou e ampliou vários conceitos psica-
pensamento psicanalítico, observa-se uma amplia- nalíticos freudianos, sendo que sua influência se
ção da compreensão de neurose e psicose. Bion reflete nos trabalhos de vários autores posteriores.
(1897-1979), um dos maiores representantes do Ao contrário de Freud, que não acreditava na
pensamento psicanalítico atual, estabeleceu a ideia possibilidade do trabalho psicanalítico com pacien-
de uma ‘parte psicótica da personalidade’, a partir tes psicóticos, Bion destinou-se a investigar a vida
da qual, todos os indivíduos conservam em sua mental destes pacientes com importantes achados
mente uma fração mais regredida em que predo- que norteiam o pensamento clínico psicanalítico
mina um funcionamento mais primitivo caracteri- atual. Além disso, Bion também se preocupou com
zado por um baixo limiar de tolerância à frustração, a função analítica, estabelecendo conceitos e vérti-
ódio às verdades e predomínio de pulsões agressi- ces que promovem uma maior compreensão do fun-
vas e destrutivas.15 cionamento do par analítico paciente-analista, fun-
Dentre os conceitos centrais da teoria psica- damentando parâmetros novos para o desenvolvi-
nalítica, os mecanismos de defesa têm grande des- mento da própria função psicanalítica.15
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Osório FL, Silva UCA, Mendes AIF, Pavan-Cândido CC.
Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
Validação empática
Clarificação
Conselho e elogio
Confrontação
Reasseguramento Interpretação
Figura 1: Principais recursos técnicos utilizados nas psicoterapias, considerando-se as modalidades de intervenção (adaptado de
Cordioli et al 22).
O termo psicanálise define tanto o arcabouço da posição frente a frente assumida pelo paciente e
teórico a partir do qual se desenvolveram as psico- uma frequência menor de sessões, podendo ser
terapias psicodinâmicas (apresentadas a seguir), semanais, quinzenais, ou mesmo mensais, além da
como uma modalidade terapêutica específica loca- limitação temporal fixada desde o início - geralmente
lizada no extremo pólo da direita como a represen- por algumas semanas e eventualmente se esten-
tante máxima das intervenções expressivas: a aná- dendo por anos.3
lise psicanalítica. Para ilustrar este modelo de intervenção,
A seguir, serão discutidos os tipos de psico- apresentar-se-á uma pequena vinheta clínica: Ra-
terapia psicodinâmica que se destacam a partir dos quel é uma moça solteira, de 25 anos, universitá-
extremos deste continuum apoio-expressivo. Cabe ria, que recebeu um diagnóstico de neoplasia de
destacar que, conforme ressaltado por Gabbard,8 mama. Apesar de contar com o apoio familiar, Ra-
estes extremos são intercambiantes durante o pro- quel ficou muito angustiada diante da notícia, rea-
cesso psicoterapêutico de alguns tipos de pacien- gindo de forma enérgica contra a indicação cirúrgi-
tes, havendo possibilidades de num determinado ca e/ou qualquer possibilidade de tratamento
momento, um paciente que, por exemplo, iniciou a quimioterápico. Parou de frequentar as aulas da
terapia de apoio viver um momento de maior insight faculdade, referindo não ver mais razão em estu-
e vise versa. dar ou buscar uma carreira, terminou seu relacio-
Segundo Fiorini,21 a psicoterapia de apoio namento amoroso de três anos e passou a ser mais
busca reduzir ansiedades em momentos de crise, agressiva com os familiares e os profissionais de
descompensação e atenuar ou mesmo suprimir sin- saúde que a assistiam, não aceitando conversar com
tomas. Neste sentido, conforme o mesmo autor, o ninguém sobre suas decisões. Os pais de Raquel,
terapeuta tem uma posição mais ativa dentro do preocupados com a reação da filha, buscaram aju-
setting, adotando uma postura mais diretiva e da por meio da psicoterapia de apoio. Embora con-
tranquilizadora e visando não estimular o estabele- trariada, Raquel aceitou realizar sessões semanais
cimento de vínculos transferenciais profundos que durante dois meses, a partir dos quais ela pode
possam dificultar o diálogo entre terapeuta e paci- entrar em contato com suas fantasias a respeito da
ente. A terapia é focada nos aspectos conscientes e doença, analisar com maior clareza suas reais pos-
centrada nas dificuldades práticas. A postura mais sibilidades de tratamento e restabelecer seu funcio-
ativa do terapeuta também é manifestada a partir namento prévio.
8 http://www.revistas.usp.br/rmrp / http://revista.fmrp.usp.br
Osório FL, Silva UCA, Mendes AIF, Pavan-Cândido CC.
Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
Nesta intervenção psicoterápica, houve pre- rias situações em que precisava resolver os proble-
domínio de recursos técnicos como o reassegura- mas cotidianos de seus familiares, os quais sempre
mento de suas possibilidades reais de tratamento, recorriam a ela em momentos de apuro. Marília,
orientação, conselho e validação empática de seu por sua vez, sempre se mostrava disponível, des-
sofrimento, como forma de acolher suas dificulda- marcando compromissos pessoais para socorrer a
des e ampliar seus recursos de enfretamento da quem precisasse, emprestando dinheiro ou fazen-
realidade. do empréstimos em banco para seus filhos.
Assim como na análise psicanalítica, na psi- Nas sessões, Marília sempre se mostrava mui-
coterapia de orientação psicanalítica, objetiva-se o to desejosa da companhia da psicoterapeuta, ale-
insight, através do qual o paciente terá a possibili- gava que ninguém em sua família a valorizava e
dade de elaborar conflitos inconscientes, contudo, que todos estavam sempre ‘sugando suas energi-
na psicoterapia de orientação psicanalítica, busca- as’ (sic). Com o desenvolvimento da psicoterapia,
se um foco (associado a uma fonte de sofrimento e foi sendo possível observar as formas de se relaci-
motivação para mudança), a partir do qual o traba- onar de Marília, a qual sempre se mostrava em suas
lho interpretativo se aterá.23 Nesta modalidade de relações como aquela que tudo resolve e que não
psicoterapia, o setting também apresenta algumas encorajava seus filhos a buscar alternativas inde-
características próximas à da psicoterapia de apoio, pendentes (de maneira que estes viviam na depen-
como a posição frente a frente do paciente em rela- dência dela, mesmo a filha casada). Em uma ses-
ção ao terapeuta. Entretanto, utiliza-se um número são, especificamente, Marília chega dizendo à psi-
maior de sessões (uma a três sessões semanais) e coterapeuta que gostaria de lhe dar um presente,
o acompanhamento pode perdurar por meses ou mas não sabia o que. A psicoterapeuta fica incomo-
mesmo anos.3 dada com o desejo de Marília e a questiona sobre
Outro instrumento importante da psicotera- esta ‘necessidade’. Marília diz que gosta de agradar
pia de orientação psicanalítica é o uso da transfe- as pessoas, que assim será lembrada por sua psi-
rência, que embora seja explorada em um grau di- coterapeuta e em seguida, começa a falar de seus
ferente de profundidade do que na análise psicana- filhos e de seu marido, ‘sugadores de energia’. Re-
lítica, é a partir deste vértice que as interpretações fere que sempre tem que deixar seus planos pesso-
se orientam para o foco eleito no trabalho psicote- ais para depois porque tem que agradar alguém de
rapêutico.23 sua família. A psicoterapeuta, então, lembrando-se
Como exemplo desta modalidade de acom- do presente que a paciente pretendia dar a ela,
panhamento apresenta-se a seguinte vinheta clíni- pergunta a Marília se ela sente que precisaria sem-
ca: Marília (nome fictício) era uma senhora casada pre se sacrificar por seus familiares e que caso con-
de 53 anos, com três filhos adultos e que trabalha- trário eles não gostariam/se lembrariam dela (as-
va com serviços de estética. Nos últimos anos, pas- sim como, no passado, quando foi abandonada por
sou a se sentir angustiada, ter problemas para dor- sua mãe e criada por outra família; neste contexto,
mir durante a noite (o que a fazia ingerir álcool com sentia que tinha que fazer tudo o que a família de-
alguma frequência na semana, antes de adorme- sejasse para se sentir parte dela). Ao logo do pro-
cer), relatava sentir uma ‘tristezinha’ (sic) que não cesso psicoterapêutico, foi possível para Marília
conseguia entender de onde vinha e em alguns apropriar-se de sua forma de se relacionar, obser-
momentos apresentava ‘crises de nervoso’ (sic) em vando melhor as fantasias inconscientes desperta-
que tinha seus membros superiores paralisados. das por estas relações e o lugar que ocupa nestas,
Após procurar ajuda psiquiátrica e realizar alguns em sua vida.
exames clínicos, descartou-se a presença de um Nesta modalidade psicoterápica, embora se
quadro orgânico e a paciente recebeu o diagnóstico tenha feito uso de técnicas como a validação
de transtorno conversivo, sendo medicada e enca- empática, houve predomínio de recursos como o
minhada a procurar ajuda psicoterápica. Iniciou encorajamento para elaboração, a clarificação e a
acompanhamento duas vezes por semana em psi- interpretação.
coterapia de orientação psicanalítica. Por sempre A análise picanalítica, principal representan-
ser muito independente e prática, passava por vá- te do extremo ‘expressivo’, enquanto modalidade
terapêutica, diferencia-se entre as modalidades que ela dizia e tentando mudar. Carlos tem vários
psicodinâmicas, sobretudo do ponto de vista da téc- interesses dispendiosos, troca de carro pelo menos
nica, a começar pela não exigência de um eixo ini- duas vezes ao ano, mantém um guarda-roupa caro
cial/foco, a partir do qual o trabalho psicoterapêuti- e custeia festas para seus colegas de trabalho,
co deva se concentrar, pela utilização do divã como regadas a muitas bebidas e mulheres.
forma de estimular uma maior regressão para ní- Após vários anos em que se percebeu sozi-
veis inconscientes das associações do paciente e nho, ‘sem poder confiar em ninguém’ (sic), Carlos
por promover o estabelecimento de relações trans- resolve procurar um vínculo analítico, na esperança
ferências mais profundas.1,21,23 de poder contar com ‘o silêncio e a discrição de
A projeção de conteúdos inconscientes, faci- alguém mediante pagamento’ (sic). Assim inicia as
litada pelo setting psicanalítico, traz um maior co- sessões de psicanálise, pois se percebe sempre
nhecimento da realidade interna do paciente e fa- muito insatisfeito, irritado e com frequência entris-
vorece a sua mudança psíquica. Segundo Eizirik e tecido, (embora ele não nomeie como tristeza, pre-
Hauck,1 na análise psicanalítica há um uso de mais fere o termo ‘incomodado’), que o faz ter dificulda-
sessões semanais (de três a cinco vezes) e predo- des para adormecer e se sentir indisponível para
mínio das interpretações transferenciais, a partir dos atividades que antes lhe davam prazer como traba-
quais se pretende uma “elaboração do conflito pri- lhar, ir a festas e fazer viagens. A análise possibili-
mário” (p.159). Este último pode ser entendido tou que Carlos entrasse em contato consigo mes-
como as primeiras experiências fundamentais de mo e com seu modo de funcionar diante do mundo,
vida de um indivíduo (figuras parentais ou substi- tornando aspectos de seu funcionamento que são
tutos destes) e que determinam seus padrões de disfuncionais, porém harmônicos a sua personali-
relacionamentos, a capacidade de lidar com senti- dade, menos automáticos e mais passíveis de so-
mentos, suas fantasias e formas de interpretar o frer a influência do pensar analítico.
mundo. Em análise psicanalítica, a confrontação e o
Como forma de se ilustrar esta modalidade trabalho interpretativo ganham destaque, visando
de psicoterapia, apresentar-se-á uma nova vinheta um maior conhecimento de ‘quem se é’ e ampliar o
clínica, de um paciente com diagnóstico de trans- ‘alcance’ da elaboração psíquica. As mudanças em
torno de personalidade narcisista: Carlos (nome fic- níveis mais profundos, que envolvem a estrutura
tício), 43 anos, solteiro, muito inteligente (o que o de personalidade do indivíduo, tendem a se instau-
fez ocupar um cargo de destaque no universo em- rar de forma mais consistente, possibilitando mu-
presarial) sempre se mostrou impulsivo, autoritá- danças de hábitos e de formas de se escolher na
rio e competitivo. Demonstrava muitas dificuldades vida.
de se relacionar com outras pessoas, tanto social-
mente quanto de forma íntima. Não conseguia man-
Indicações para as modalidades
ter amigos, pois sempre rompia a relação diante do
psicoterápicas psicodinâmicas
pensamento de que ‘as pessoas só querem se apro- Para todos os tipos de psicoterapia é neces-
veitar umas das outras’ (sic), interpretando qual- sário que haja motivação e capacidade de estabe-
quer pensamento diferente do seu como suficiente lecer um bom vínculo terapêutico. Na Tabela 1, des-
para interromper o vínculo. Teve várias namoradas, tacam-se as principais indicações e contra-indica-
pois é um homem de aparência atraente e discurso ções de cada modalidade psicoterápica psicodinâ-
sedutor, porém não conseguiu manter nenhum re- mica, considerando suas especificidades e caracte-
lacionamento duradouro, já que sempre que perce- rísticas técnicas.
bia a companheira de forma realista (menos ideali-
zada), a relação chegava ao fim. Uma dessas na-
moradas teve maior importância para ele, dado que, Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
de forma honesta, tinha o hábito de lhe dizer o que
Conceitos teóricos em TCC
gostava e o que não gostava em seu comportamen-
to. Diante destes apontamentos, Carlos tinha uma Ao longo dos tempos a TCC vem evoluindo
postura surpreendente, fazendo reflexões sobre o em seus modelos conceituais e teóricos na tentati-
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Osório FL, Silva UCA, Mendes AIF, Pavan-Cândido CC.
Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
Psicoterapia de Apoio (*) Situações de crise agudas, dificuldades de Indicação para terapias mais expressivas/
ajustamento a situações de vida (adoeci- de longo prazo e ideação suicida.
mento, perdas), redução ou eliminação de
sintomas, restabelecimento de mecanis-
mos/funcionamentos anteriores à crise.
Psicoterapia de Orientação Transtornos de personalidade (sem pre- Quadros psicóticos agudos; alcoolismo
Psicanalítica (**) sença de comportamento destrutivo e an- crônico ou adição a drogas; síndrome ce-
tissocial) e conflitos neuróticos. rebral orgânica e deficiência mental.
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Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
ente consegue alívio dos sintomas de ansiedade A segunda onda: o modelo cognitivo
evitando a situação fóbica (por exemplo, lugares
fechados e aglomerados). A segunda onda das TCCs surgiu com o mo-
A extinção é um outro conceito apresentado delo cognitivo. O modelo cognitivo propõe que os
por Skinner que consiste na suspensão do reforço transtornos psicológicos são derivados de um modo
produzido pela resposta emitida, ou na quebra da distorcido/disfuncional de perceber a si mesmo, os
relação de contingência entre resposta e consequên- outros/o mundo e o futuro (denominada tríade cog-
cia, levando ao retorno da frequência da resposta a nitiva). Neste sentido, estas distorções de pensa-
seus níveis operantes.36 Este conceito é bastante mento influenciam e são afetadas pelas emoções e
utilizado na clínica comportamental na redução de pelo comportamento.39,40
comportamentos indesejados. Retomando-se o É possível dividir as abordagens da segunda
exemplo da birra infantil, esta resposta pode ser onda em Racionalistas e Construtivistas. As abor-
colocada em extinção, por meio da retirada da con- dagens Racionalistas pressupõem a primazia do
sequência reforçadora (atenção como no exemplo) pensamento sobre a emoção. Sendo assim, a ativi-
após a ocorrência da resposta de birra. Além da dade cognitiva desencadearia uma resposta emoci-
diminuição na frequência da resposta, este proce- onal, fisiológica e comportamental subjacente.40 Já
dimento leva a reações emocionais intensas, o que, as abordagens Construtivistas enfatizam o papel
mais recentemente em levado os clínicos a utiliza- das emoções na atividade cognitiva.41 Entretan-
la em conjunto com o reforçamento diferencial de to, ambas as abordagens são consideradas abor-
outras respostas consideradas adequadas.37 dagens das terapias cognitivas, pois são funda-
No início de 1970 houve um grande questio- mentadas no conceito de influência mútua entre
namento das práticas comportamentais, uma vez razão e emoção.
que eram consideradas demasiadamente rígidas. Tal Alguns principais autores da segunda onda
situação culminou na tentativa de acrescentar com- são Albert Ellis, teórico da Terapia Racional Emotivo-
ponentes cognitivos às técnicas existentes, o que Comportamental; Aaron Beck, autor da Terapia Cog-
facilitou o surgimento das abordagens cognitivas. nitiva; e Michael Mahoney, autor da Terapia Cogni-
Neste movimento, vale ressaltar o trabalho de Albert tiva Construtivista. As abordagens de Beck e de Ellis
Bandura (1925). Seus estudos sobre aprendizagem são consideradas abordagens Racionalistas, pois
social enfatizam a modificação do comportamento visam à reformulação de padrões disfuncionais de
do indivíduo através da interação e observação de pensamentos, responsáveis por alterações no es-
outros indivíduos. Para ele, a aprendizagem pode tado de humor e comportamentos42. Por outro lado,
ocorrer por meio da exposição do indivíduo a con- a abordagem Construtivista de Mahoney prioriza as
tingências sociais (relação de dependência entre emoções como ponto central do entendimento do
variáveis do organismo e do ambiente social), mas funcionamento mental.41
também, sem que o indivíduo tenha sido direta- Dentre as TCCs de segunda onda, dar-se-á
mente exposto às situações, ou seja, indiretamen- ênfase à Terapia Cognitiva (TC) por ser a mais
te, por meio da observação das contingências às pesquisada e com maior número de protocolos de
quais outros indivíduos foram expostos. Segundo tratamentos testados e validados. A TC foi desen-
ele, a maior parte do comportamento humano se- volvida por Aaron T. Beck como uma prática de psi-
ria aprendido pela observação de outros, em pro- coterapia baseada em evidências, inicialmente de-
cesso chamado modelação.38 senvolvida para o tratamento de depressão. Dentre
Após Bandura houve um avanço nas pes- os pressupostos básicos TC tem-se que: a) a cogni-
quisas que acrescentam os processos cognitivos ção afeta as emoções e comportamentos; b) a ati-
aos modelos comportamentais, o que contribuiu vidade cognitiva pode ser monitorada e alterada; e
para o surgimento da abordagem cognitivo-com- c) alterando as cognições pode-se modificar as
portamental. emoções e comportamentos subjacentes.39
Segundo a TC, são as interpretações dos fa- pensatórias, que são comportamentos por meio dos
tos, e não os fatos em si, que estão entre as causas quais o indivíduo imagina que suas crenças cen-
das patologias e trazem sofrimento ao indivíduo. A trais negativas serão encobertas ou não se mani-
maneira com que esses fatos são percebidos é ex- festarão. Por exemplo, se uma pessoa com a cren-
pressa na forma de pensamento automático (PA), ça central ‘eu sou incompetente’ ativada e associa-
os quais podem ser definidos como pensamentos da à crença intermediária ‘se eu sou incompetente
espontâneos, diretamente ligados a situações e dis- então tenho que me empenhar o máximo’, pode
poníveis à consciência após um treino adequado. engajar-se em tarefas extremamente difíceis (es-
Os PAs distorcidos são freqüentes nos transtornos tratégia compensatória) para encobrir a crença cen-
psicológicos e apresentam distorções cognitivas, tral ‘sou incompetente’. As crenças intermediárias
como por exemplo, inferência arbitrária (tirar con- refletem ideias ou entendimentos mais resistentes
clusões a partir de poucas evidências), abstração à mudança que os pensamentos automáticos.39,40
seletiva (presta-se atenção em apenas alguns as- Segundo a TC, as distorções cognitivas não
pectos e não se consegue ver o todo), previsão de são os únicos fatores associados aos transtornos
futuro (antecipar o futuro de forma tão horrível que mentais. Outros fatores como predisposição gené-
será insuportável), desqualificação do positivo tica, alterações bioquímicas, conflitos interpessoais
(desqualificar e descontar as experiências e acon- também estão relacionados aos transtornos men-
tecimentos positivos insistindo que estes não con- tais e as distorções cognitivas os agravam ou os
tam), leitura mental (acredita-se tem certeza dos mantém.
pensamentos ou intenções do outro sem evidên-
A terceira onda: abordagens integrativas
cias suficientes).39
A origem dos PAs está nas crenças centrais As abordagens da Terceira Onda foram de-
(ou nucleares). As crenças centrais constituem o senvolvidas no início da década de 1990, quando
modo mais profundo da estrutura cognitiva e são analistas do comportamento norte-americanos pro-
compostas por ideias rígidas e globais que o indiví- puseram um modelo de terapia baseado na análise
duo tem sobre si mesmo, sobre os outros, o mundo do comportamento, com o objetivo de se diferenci-
e também sobre o futuro. Estas crenças se desen- ar dos ecléticos terapeutas comportamentais, dan-
volvem na infância como uma tentativa de organi- do origem à clínical behavior analysis (análise do
zação do mundo interno e externo. Quando essas comportamento clínica).43 São propostas que ado-
crenças são formadas a partir de experiências favo- tam o externalismo da análise do comportamento,
ráveis, o indivíduo desenvolve conceitos positivos mantém o foco na cognição e na emoção, das TCCs,
sobre si como: ‘eu sou competente’, ‘eu sou ade- substituindo a ideia de modificação dos comporta-
quado’. Caso contrário desenvolverá crenças nega- mentos e sentimentos/cognições, característicos da
tivas sobre si como ‘eu sou incapaz’, ‘eu sou indigno primeira e segunda onda, respectivamente, pela
de ser amado’. Mesmo após novas experiências que aceitação dos mesmos, enfatizando a relação do
contestem as crenças centrais, estas permanecem indivíduo com os eventos psicológicos. A ideia é que
convincentes na vida adulta. Elas influenciam o modo os pensamentos não devem controlar diretamente
como indivíduo lida com o mundo, levando-o a sele- a ação, mas sim os valores do indivíduo.29,30
cionar detalhes sobre o ambiente e a lembrar dados Outra característica marcante da terceira onda
relevantes que confirmem esta crença.39 é a integração de diferentes conceitos e técnicas.26
A partir das crenças centrais, desenvolvem- A maioria destas abordagens compartilha os pres-
se outras categorias de crenças denominadas cren- supostos das abordagens de base cognitiva ou com-
ças intermediárias (também denominadas crenças portamental e utilizam suas técnicas. Entretanto,
condicionais ou crenças regra). As crenças inter- integram à sua prática clínica estratégias do tipo
mediárias não estão diretamente ligadas a situa- Mindfulness, técnicas da Gestalt Terapia, aceitação
ções e costumam ocorrer em forma de suposições e outras escolas de psicoterapia. Além disso, mui-
‘se... então...’ ou regras ‘tenho que’, ‘deveria’. As tas delas fundamentam seu entendimento (além das
crenças intermediárias revelam as estratégias com- ciências cognitivas, neurociências e de análise do
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Osório FL, Silva UCA, Mendes AIF, Pavan-Cândido CC.
Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
comportamento) em teorias como Teoria Evolucio- O cliente é treinado a identificar e registrar as si-
nista, Teoria do Apego e Psicanálise.26 Exemplos de tuações em que emoções, pensamentos e compor-
modelos integrativos são: Terapia de Aceitação e tamentos disfuncionais ocorrem, dando início a for-
Compromisso,43,44 Psicoterapia Analítca Funcional,45 mulação de sua conceitualização cognitiva. Adicio-
Terapia do Esquema,46 a Terapia Comportamental nalmente, outras técnicas cognitivas podem ser uti-
Dialética,47 e Terapia Cognitiva Processual.48 lizadas como: questionamento socrático, descatas-
trofização, significado idiossincrático, avaliação de
Conceitos da técnicos em TCC vantagens e desvantagens, reatribuição, identifica-
A TCC é um tipo de intervenção psicoterápica ção de distorções cognitivas, registro diário de pen-
breve (de 10 a 20 sessões), com foco na resolução samento disfuncional, continuum cognitivo, gráfico
dos problemas atuais do cliente. Em casos específi- de pizza, cartões de enfrentamento, seta descen-
cos, como determinados transtornos de personali- dente, resolução de problemas e tomada de deci-
dade, a duração do processo terapêutico pode ser são, etc. Dentre as técnicas comportamentais, des-
estendido por até dois ou três anos.40 taca-se treino de respiração diafragmática e treino
Na prática clínica, a TCC enfatiza o estilo te- de relaxamento, exposição (in vivo e cognitiva; gra-
rapêutico colaborativo e psicoeducativo. O terapeuta dual ou inundação), intenção paradoxal, distração,
ensina ao cliente o modelo cognitivo, a natureza de exposição e prevenção de resposta, reversão de
seus sintomas, o processo terapêutico e a preven- hábito, modelação, modelagem, role-play, planeja-
ção de recaída. Além disso, para generalização dos mento de atividades, ensaio comportamental, trei-
efeitos da terapia, utiliza-se da tarefa de casa. Elas no de habilidades sociais, entre outras.
consistem em experimentos e exercícios entre as Exemplificar-se-á o processo terapêutico e o
sessões de terapia.40 uso de algumas das técnicas acima apontadas com
As sessões de psicoterapia possuem uma es- o caso de Raul (nome fictício), 23 anos, estudante
trutura em que o cliente participa ativamente de universitário, solteiro. Raul compareceu à consulta
sua construção. Na estrutura das sessões tem-se: com queixa de taquicardia, sudorese, sensação de
a) verificação do humor (como o paciente sente-se sufocamento e desmaio em situações inespecíficas.
naquele dia e semana anterior); b) discussão da Relatou ainda que não tinha mais controle sobre
agenda para a sessão (organiza-se tópicos a serem suas emoções e que julgava estar ficando louco.
conversados na sessão do dia); c) feedback da ses- Esses sintomas o impediam de viajar, atrapalha-
são anterior (se e como a sessão anterior ajudou o vam seus estudos e sua vida social, pois tinha medo
paciente); d) revisão da tarefa de casa (dificulda- de ter os ataques a qualquer momento. Foram des-
des e aprendizados com a tarefa de casa); e) dis- cartadas quaisquer explicações orgânicas para os
cussão dos itens da agenda e planejamento nova sintomas. Sua meta com a terapia era controlar
tarefa de casa (o cliente elabora ativamente sua esses sintomas e ‘voltar a ter vida normal’ (sic). O
tarefa de casa baseado nos tópicos da sessão); primeiro passo do processo terapêutico caracteri-
f) resumo a sessão e feedback (no início do trata- zou-se pela avaliação e conceitualização do caso em
mento o terapeuta faz o resumo da sessão, posteri- termos diagnósticos, concluindo-se pela presença
ormente o cliente faz o resumo). A estruturação da de Transtorno de Pânico, o que norteou as inter-
sessão visa o aprendizado do cliente na forma da venções planejadas e descritas a seguir.
terapia e a otimização do tempo da sessão.40 O segundo passo relacionou-se ao uso da
O objetivo principal da TCC é a reestrutura- psicoeducação, tendo-se por referência o modelo
ção cognitiva do cliente, envolvendo seus esque- cognitivo (neste processo discutiu-se sobre como a
mas, crenças e atitudes. Para atingir esta meta uti- TCC aborda o tratamento da ansiedade, o ciclo do
liza-se de técnicas cognitivas e comportamentais pânico, como a respiração influencia na fisiologia
como: identificação de distorções cognitivas e cren- da ansiedade e o papel da evitação das situações
ças disfuncionais, busca de evidências, e busca de fóbicas na manutenção do transtorno). O uso da
pensamento alternativo. No início do processo te- técnica da psicoeducação promove a adesão e coo-
rapêutico o objetivo é avaliar e conceitualizar o caso. peração do cliente ao tratamento de TCC.
16 http://www.revistas.usp.br/rmrp / http://revista.fmrp.usp.br
Osório FL, Silva UCA, Mendes AIF, Pavan-Cândido CC.
Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
sua experiência na condução de um grupo de pa- gráficas, entre outras), ter duração pré-determina-
cientes internados com demência precoce (hoje de- da ou não, número de participantes e periodicidade
nominada esquizofrenia), onde temas diversos eram (diário, mensal) variados. A opção por alguma des-
discutidos com um enfoque psicanalítico. Ele apon- tas especificidades se associa diretamente aos ob-
tou que a participação dos pacientes nos grupos fa- jetivos terapêuticos do grupo e às características
vorecia um avanço no tratamento do transtorno.52 da população-alvo.3,55
Marsh, se apropriando destas experiências Os grupos terapêuticos são vistos como um
prévias, iniciou uma atividade de grupo com pa- contexto privilegiado para o aprendizado do relaci-
cientes psicóticos internados, reunindo cerca de 200 onamento humano. Segundo Bechelli e Santos52 os
a 400 deles, três vezes por semana com o objetivo grupos “facilitam a identificação, a revelação de
de “integrar a mente, a emoção e a atividade mo- particularidades e intimidades, o oferecimento de
tora” 52 (p.3). Posteriormente estendeu este tipo de apoio ao semelhante, o desenvolvimento de um
trabalho aos familiares dos pacientes, trazendo esta objetivo comum, e a resolução das dificuldades e
contribuição inovadora. dos desafios que se assemelham” (p.6).
Com o passar do tempo, esta prática foi sen- Fora isto, os grupos apresentam fatores te-
do apropriada por outros psiquiatras, no tratamen- rapêuticos específicos e únicos conforme apontado
to de pacientes psiquiátricos institucionalizados, e brilhantemente na obra de Vinogradov e Yalon.54
posteriormente a nível ambulatorial. Destaca-se a Estes autores destacaram a presença de pelo me-
grande expansão desta modalidade de tratamento nos 11 fatores terapêuticos grupais: instilação de
durante e pós 2ª Guerra Mundial, em função da gran- esperança, universalidade, oferecimento de infor-
de demanda de problemas emocionais associados mação, altruísmo, desenvolvimento de técnicas de
à guerra e a escassez de equipes de tratamento, socialização, comportamento imitativo, catarse,
sendo importantes os trabalhos desenvolvidos por reedição corretiva do grupo primário, fatores exis-
S.H. Foulkes, W. Bion e Moreno,52,53 estimulando e tenciais, coesão e aprendizagem interpessoal.
expandindo o uso de tal recurso para uso com ou- A efetividade das psicoterapias de grupo é
tras populações específicas nas áreas da saúde, também comprovada por inúmeros estudos e sua
social, educacional e organizacional. aplicação tem espaço consolidado no tratamento,
Assim como na psicoterapia individual, as psi- sobretudo dos sintomas/transtornos mentais, seja
coterapias de grupo são realizadas tendo-se por re- como terapia primária ou coadjuvante.3 Destaca-se
ferência diferentes abordagens teóricas e técnicas, também o fator econômico associado à efetivação
e diferentes objetivos, entre eles: alívio de sinto- de tal modalidade de tratamento, onde a taxa cus-
mas, informação, auto-ajuda, reestabelecimento do to/benefício é quase sempre vantajosa
funcionamento psicossocial (intervenção em crise),
acolhimento, treinamento de habilidades sociais e
Aplicações práticas das
manejo de situações/ doenças médicas específicas.3
psicoterapias de grupo
Sob a perspectiva da técnica, os grupos po- Baseado nas experiências prévias de uma das
dem ser fechados ou abertos (número fixo ou não autoras e nos relatos da obra de Mello Filho et al. ,55
de membros), homogêneos ou heterogêneos (quan- destacar-se-á na Tabela 2, algumas experiências
to às queixas, características clínicas, sociodemo- com a psicoterapia de grupo.
Tabela 2: Caracterização dos objetivos e aspectos técnicos de algumas experiências com psicoterapia de
grupo
Grupo de reflexão “Ensinar, via reflexão grupal, os funda- - Público alvo: cerca de 20 estudantes do
com alunos de mentos e as vicissitudes da relação mé- 3º ano médico;
Psicologia Médica 46
dico-paciente, a estudantes de medici- - Grupo institucional;
na que trabalham diretamente, pela pri- - Homogêneo;- Fechado;
meira vez, com pacientes na enfermaria - Tempo de duração pré-estabelecido: um
do hospital, além de abrir espaços para ano
discussão dos problemas e das ansieda-
des emergentes de tais atividades”
(p.87)
Grupo de apoio ao Oferecer acolhimento, apoio e orienta- - Público alvo: pacientes internados
paciente internado ção ao paciente internado em enferma- - enfermarias clínicas e cirúrgicas do HC-
(Osório et al. 2006, rias clínicas e cirúrgicas, visando otimizar FMRP-USP;
comunicação pessoal) o processo de internação - Heterogêneo;
- Aberto;
- 2 sessões semanais – 1 hora;
- Tempo de duração: contínuo/ indetermi-
nado
Grupo de sala de “Otimizar o tempo de espera pela con- - Público alvo: pacientes diabéticos que
espera para pacientes sulta, transformando-o em um espaço aguardam consulta clínica;
com diabetes 47
de reflexão sobre o processo de saúde- - Homogêneo
doença” (p.218). - patologia;
- Sessão semanal – 1 hora
Grupo para pacientes Dar suporte ao paciente com lúpus, bus- - Público alvo: pacientes com lúpus e seus
com Lúpus Eritematoso cando a elevação da auto-estima e a familiares;
Sistêmico48 conscientização de si próprio; Favorecer - Participação ocasional: médicos reumato-
espaço para trocas relativas à origem da logistas;
enfermidade, sofrimento e fantasias, - Homogêneo - patologia;
permitindo o compartilhar de temores, - Aberto;
dificuldades e angústias. - Sessões quinzenais - 2 horas.
Grupo de apoio aos Oferecer espaço para manejo do estresse - Público alvo: profissionais de enfermagem
profissionais de enferma- peculiar à situação de trabalho e às re- com atuação em enfermarias clínicas e ci-
gem (Osório et al. 2006, lações profissional-paciente, profissional- rúrgicas do HC-FMRP-USP;
comunicação pessoal) equipe. - Fechado, máximo de 8 participantes;
- Sessões semanais - 90 minutos;
-Tempo de duração pré-estabelecido: 8 ses-
sões
18 http://www.revistas.usp.br/rmrp / http://revista.fmrp.usp.br
Osório FL, Silva UCA, Mendes AIF, Pavan-Cândido CC.
Psicoterapias: conceitos introdutórios para estudantes da área da saúde
Mensagens-chave
coadjuvante.
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