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05/12/13 Ensaio sobre prioridades

Compartilhada por fernandofmg

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Ensaio sobre prioridades


Nov 14, 2013 atualizado

http://goo.gl/lMOyom

Em 1943, meu amigo Abraham escreveu um artigo, uma espécie de proposta chamada "Uma teoria
sobre a motivação humana". Ele provavelmente não sabia disso à época, mas essa veio a ser a teoria
mais conhecida e difundida sobre motivação, exatamente porque é tão sedutora em termos de
conhecimento empírico (é muito fácil validá-la dizendo "mas claro, isso faz todo sentido"). Hoje, é
criticada - mais pela ausência de comprovação do que pela teoria em si (além de ele ter usado
pessoas próximas como objetos de pesquisa para escrever isso, não pesquisou muitas pessoas).

(E, em uma nota relacionada, é claro que ele não sabia que seria a mais famosa. Ninguém acorda e
diz "hum... acho que vou escrever uma teoria famosa hoje").

Mas sua maior vantagem é a simplicidade. E é provalmente por isso que ela fez (e faz) sucesso.

Em termos simples, a Pirâmide de Maslow distribui as "necessidades humanas básicas" em 5 níveis,


que são: Fisiológicas, Segurança, Sociais, Estima e Autorrealização (Robbins, 2009). Daí,
então, uma necessidade atendida ou parcialmente atendida (já que nenhuma pode ser
atendida completamente) deixa de ser motivadora, passando-se ao nível seguinte.

https://www.evernote.com/shard/s303/sh/fc5b6e20-b609-4d9c-b074-b4b54fa9bef8/0675f384c4d04c4b7e130825a829a601 1/10
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Isso significa que, se estou morrendo de fome ou de sede, não vou me preocupar se as pessoas
gostam ou não de mim de mim (conflito entre necessidades fisiológicas x sociais) ou se estou sendo
atacado por um urso, dificilmente terei tempo de ponderar se estou trabalhando naquilo que gosto e
me realizando profissionalmente (conflito entre necessidades de segurança x autorrealização). As
necessidades que vêm da base para o topo são dominantes. Portanto, preciso
necessariamente passar pelas mais baixas para chegar às mais elevadas. Vê como é simples gostar
da teoria?

Daí vem a nossa problemática (e a "solucionática"), que dividi em quatro etapas.

1. A circunstância do primeiro concurso (para quem precisa)


O primeiro concurso público para as pessoas necessitadas normalmente é um caso intenso e
necessário. A necessidade, claro, é a maior motivadora em qualquer aspecto. Muitas vezes, quando
as pessoas me dizem que não "se sentem motivadas" para estudar, logo penso que a aprovação não
é uma necessidade (bem a exemplo do que vemos com Maslow). Você dificilmente verá uma pessoa
se afogando dizer que "não se sente motivada" a nadar e tentar salvar sua vida, certo?

Esse aspecto é especialmente interessante, exatamente por sua peculiaridade. Se pudéssemos


encontrar a pirâmide e inserir os concursos públicos nela, esse primeiro caso seria mais ou menos
assim:

https://www.evernote.com/shard/s303/sh/fc5b6e20-b609-4d9c-b074-b4b54fa9bef8/0675f384c4d04c4b7e130825a829a601 2/10
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Como você pode ver, a necessidade de aprovação está em um nível bastante básico, o que força o
seu atendimento.

Eu não conto muito minha história porque ela é atípica e pode acabar gerando impressões e
expectativas erradas. Mas eu morei no exterior em 2008 e voltei alguns meses depois sem um tostão
no bolso. Minha esposa e eu fomos acolhidos por meus sogros e vivemos de favores durante algum
tempo. Nesse período, ser aprovado, para mim, era uma necessidade - e das mais urgentes. Fui
aprovado no concurso do DPRF em cerca de dois meses. Mas foi uma rotina de estudos que era
absolutamente insustentável no longo prazo (mas que funciona e que conto em um próximo livro que
está em produção - aguarde).

Eu não tinha dinheiro, não tinha emprego, não tinha perspectiva e estava morando de favor. Eu não
tinha alternativas senão estudar. E estudei. Bastante. Porque o estudo era minha prioridade.

O que essa pirâmide nos representa? Simples. Prioridades. Ela fala o que tem de ser
atendido. Não só isso. Ela diz o que tem de ser atendido primeiro. Se a aprovação é sua
necessidade (não vontade, capricho ou desejo), ela deve ser atendida. Imediata e inexoravelmente.
Sem desculpas. Sem chororô nem "mimimi". O que nos leva ao próximo ponto:

2. A circunstância do primeiro concurso (para quem não precisa)


Algumas pessoas não precisam de concursos públicos. Vêm de famílias ricas, são sustentadas por
outras pessoas ou têm alguma espécie de garantia de emprego (em empresas familiares) ou tem
muitas alternativas (podem viajar, sem empreendedoras, viver de renda, etc.).

Isso, claro, não é impeditivo para a aprovação, mas funciona como uma espécie de "rede de
segurança" que nos faz pensar "Ok, então se tudo der errado, eu ainda tenho alternativas".

Só que isso faz tudo dar errado.

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Se você assistiu o último filme do Batman, deve se lembrar da cena em que o Joaquim Barbosa,
homem da capa preta justiceiro estava preso em uma prisão subterrânea cuja única saída era escalar
uma parede muito, muito alta, que apenas uma pessoa conseguira escalar com sucesso (soubemos
mais tarde quem era, mas não vou contar. Assista o filme).

O homem-morcego tentou várias vezes fazer a escalada, todas sem sucesso. Como a queda era
direto para a morte, havia uma corda que os protegia e prendia e amortecia a queda, que com o
acessório não chegava a ser fatal.

Depois de tentativas frustradas, ele finalmente procura por respostas e se dirige a um ancião, que diz:
"Você precisa se livrar da corda para conseguir". E, claro, ele consegue sem a corda. Porque sua
vida dependia disso.

Mas o que acontece é que é muito difícil nos livrarmos de nossas cordas. Elas estão lá, disponíveis,
sem que precisemos nos preocupar com elas. E, se cairmos, a queda não será fatal. E talvez
tentamos de novo. Mas sempre pensando que, se não der certo, tudo bem. A gente tenta na próxima.

Pessoalmente, sou contra essa abordagem. Acho que, uma vez que você decide prestar um concurso
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Pessoalmente, sou contra essa abordagem. Acho que, uma vez que você decide prestar um concurso
(qualquer que seja, principalmente se você deseja intensamente ser aprovado), deve dar o sangue
por aquela prova, estudando em todos os horários disponíveis, encontrando tempo para estudar e se
virando com as consequências (inclusive as negativas). E elas eventualmente surgem. Em 2010,
peguei 60 dias de férias acumulados que tinha para estudar para um concurso - que nunca
aconteceu (inclusive, não aconteceu até hoje). Mas esse período, embora não tenha me servido para
a aprovação, me fez entender várias limitações pessoais, me fez quebrar alguns limites e expandiu
meu pensamento. Tudo isso faz parte do processo de aprendizado e crescimento.

Mas quando estamos amarrados na corda, o concurso não é uma necessidade. Ele é uma vontade. É
uma validação social. Signfica que, muitas vezes, quero passar porque isso vai me fazer bem, não
necessariamente porque preciso do dinheiro, da segurança ou de outros aspectos trazidos pelos
serviço público.

Isso seria mais ou menos como a figura abaixo:

O que nos leva à solução nos próximos pontos:

3. A circunstância dos concursos pós-aprovação


Alguns de nós, afortunados, já não dependem do primeiro concurso para sobreviver. Nós temos
nossa renda, que por mais que não seja alta cobre as necessidades básicas (o que meu irmão chama
de "pinga mas não seca", em uma sofisticada metáfora salarial). Isso significa que os concursos
deixam novamente de ser uma necessidade e passam a ser uma vontade, mesmo que
involuntariamente, mesmo que você queira muito, muito, muito - porque necessidade não depende de
sua vontade, mas de circunstâncias (frase de louco, mas que faz sentido. Pense nisso).

Então, "preciso" trocar de emprego porque


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Então, "preciso" trocar de emprego porque
Meu chefe é chato
O ambiente é ruim
O estacionamento está sempre cheio
Meus colegas são desanimados, fracos e desmotivados
Quero ganhar mais
Ninguém reconhece meu potencial
Mimimis adicionais

Não passam de desculpas que queremos acreditar que são necessidades, quando na verdade são
simples vontades.

Se o seu salário te atende, mesmo que parcialmente, é muito difícil encontrar motivação nas
supostas necessidades que criamos para justificar a vontade de mudar. Daí, a estratégia tem
de ser diferente.

Como exemplo, ninguém opta pela magistratura porque PRECISA de um emprego. Normalmente,
essas pessoas têm a pirâmide já arranjada de outra forma:

Você precisa, então, de uma nova forma de encarar o problema. O que nos leva ao último ponto:

4. O desenvolvimento da autoimpulsão

"Fernando, então o que você quer dizer é que é mais fácil passar se eu tiver necessidade em vez de
vontade?"
Sim.

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"E que depois da primeira aprovçaão é mais difícil?"


Sim.

"E que se eu não precisar ser aprovado(a), fica ainda mais complicado?"
Sim.

"Putz..."
Sim.

Mas não se desespere! Há uma saída!

Claro que, se você não reúne as "condições ideais" (de que falei aqui), é necessário uma nova
estratégia. E essa estratégia passa pela realocação de prioridades.

Oras, o maior problema dos estudos é o tempo que dedicamos a eles. Quanto mais difícil a matéria,
mais temos de estudar. Inclusive, escrevi um texto interessantíssimo (modéstia à parte) no livro O
Sucesso de A a Z (que, se você ainda não se cadastrou para receber notificações do lançamento,
faça-o agora! Clique aqui) que trazia uma pergunta: será que, analisadas certas condições, existe
uma quantidade de tempo (em horas) que teríamos que estudar para superar o limite da não-
aprovação e passar para a aprovação?

Oras, se essa discussão existe e se levantar essa hipótese não é nenhum absurdo, já podemos partir
da ideia que o tempo que dedicamos a uma atividade é fator primordial no desempenho dessa
atividade. Portanto, uma grande primeira saída é a realocação de prioridades.

Veja: eu poderia estudar para ser consultor da Câmara, para ser juiz, para qualquer coisa, mas
preferi me contentar com o meu próprio "pinga" em detrimento de algo que sempre achei que seria
prioridade para mim - ganhar dinheiro (ainda bem que a juventude se vai mas deixa um pouco de
sabedoria em seu lugar). Escrever não é uma atividade lucrativa do ponto de vista financeiro, mas ter
a oportunidade de pensar, me expressar pela escrita e criar algo que seja perene me parece hoje
muito mais valioso do que ganhar algum dinheiro a mais. Além disso, tem toda a questão da interação
e do processo de escrita, que é interessantíssimo.

Pode ser que suas prioridades sejam diferentes e que dinheiro seja o seu maior objetivo. Não estou
aqui para julgar e nem acho isso errado ou reprovável. São escolhas. (Inclusive, falei disso nos
artigos sobre Valores e sobre o Core - como fazer as melhores escolhas de sua vida, uma série de
dois artigos que explicou muita coisa). Mas, para mim, o mais importante agora profissionalmente é
escrever. E estou em paz com essa escolha.

Mas, se a um dado momento me surgisse o impulso (veja que não usei "necessidade") de estudar
para outra prova eu precisaria de uma força maior. Precisaria de alguma mudança que me
possibilitaria estudar. Se eu precisasse estudar, qual seria minha primeira atitude?

Eu provavelmente escreveria menos.

Hoje, boa parte do meu dia é gasta pensando em temas, textos e ideias para livros, artigos, posts e
interações. Claro que, voltando à rotina de estudos não poderia ser assim. A maior parte do meu dia
deveria, então, ser aplicada nos estudos. E isso é a realocação de prioridades. Realocar
prioridades é saber dizer não. É fazer um pouco menos as coisas que você gosta (embora em geral
eu não recomende acabar com elas completamente, a não ser que atrapalhem muito seu
desempenho). É pensar no benefício futuro em vez do prazer presente.

Conversando com um amigo que fez o concurso da PCDF, recomendei que ele se focasse no
concurso de policial legislativo da Câmara, que está para ser lançado. Ele me disse "eu até queria,
mas tá difícil conciliar os estudos com o trabalho". Não sou de falar muito nesses casos, e me resumi
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a dizer "Pese suas escolhas. Garanto que vale a pena.".

(eu admito - me sinto um pouco mestre dos magos com essas frases enigmáticas)

Eu podia ter vendido a ideia, podia ter tentado convencê-lo, podia ter passado horas tentando
explicar as vantagens. Mas a gente só ouve o que precisa nas horas certas. Na maioria das vezes, só
ouvimos o que queremos.

Existe um custo ao se orientar para os estudos? Claro que sim. Perdemos eventos, oportunidades -
muitas vezes irrepetíveis - perdemos celebrações, perdemos inclusive amigos (normalmente de
amizades fracas, que se vão para o bem). Perdemos um tempo valioso tentando achar o caminho
certo. Mas existe também um custo de não se estudar. Que é o custo de viver a vida que vivemos
atualmente, sem perspectiva de mudança.

E não digo isso para fazer apologia a concursos públicos. Embora estejamos em um ambiente em
que, tecnicamente, todos buscamos concursos, sempre defenderei que os estudos são
fundamentais para qualquer pessoa ou profissional, concursando ou não, que queira ter
sucesso em sua carreira. E aqui lutamos não só pelo antes (a pré-aprovação), mas também pelo
servidor que você finalmente será quando atingir seu primeiro ou próximo objetivo. Se estamos na
rota de construção de um serviço público responsável, dedicado e competente, precisamos pensar
que os estudos não acabam na aprovação - só mudam o foco.

Não é só a necessidade que motiva, mas quanto a ela não há alternativa. Mas se você quer mudar
de vida, precisa aprender a realocar suas prioridades. Isso significa colocar os concursos na
base de sua pirâmide, soltar sua corda e trabalhar como se não houvesse alternativa a não ser a
aprovação. Precisa dizer não àquilo que não é prioritário, àquilo que não precisa ser feito agora, ou
até àquilo que precisa, mas cujo prejuízo será menor do que não estudar nesse momento. Ceder a
todas as atividades cotidianas é tentador, mas é também destruidor. Se você corre o risco de ser visto
como uma pessoa que só diz "não", aos poucos vai se preparando para se tornar uma pessoa
melhor, mais focada e seletiva.

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Na prática, o que isso quer dizer? Que preciso transportar minhas prioridades para a base. Preciso
aprender a dizer não e preciso entender que a vida vai, sim, mudar. Mas que essa mudança não tem
de ser um sofrimento - porque tudo que você faz de boa vontade cria raízes e se transforma em
benefícios, nem que seja para a construção do caráter e do bom senso.

Se você pensar sobre o assunto, verá que tudo na vida, toda grande tarefa que merece atenção, na
verdade depende dessa realocação. Tenho uma máxima pessoal que diz que "tempo é questão de
prioridades". E prioridades são aquelas que estão na base de sua pirâmide.

Essa é a única forma de realmente fazer algo? Não. Mas se conseguirmos pelo menos sugerir à
nossa mente, em um início caótico, que aquilo que queremos fazer é algo que precisamos fazer, o
esforço seguinte virá naturalmente, porque a atividade passará a fazer parte da rotina.

Tudo tem um custo. Qualquer que seja a sua escolha (e você é livre para escolher), lembre-se que
tem de viver com o resultado dela.

Realoque suas prioridades e faça o que quiser - inclusive ser aprovado.

Bons estudos e sucesso,

Fernando Mesquita
fernando.mesquita@pontodosconcursos.com.br

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