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Ocupação antrópica e problemas de ordenamento

A Terra é um planeta que se caracteriza pelo seu intenso dinamismo, reflexo da acção
de agentes de geodinâmica interna e externa.

Os fenómenos geológicos fazem parte do funcionamento normal do planeta, contribuindo


para o tornar um local habitável e um planeta geologicamente vivo.

No entanto, a dinâmica da Terra pode desencadear fenómenos catastróficos, por vezes


altamente destruidores, que podem pôr em perigo as populações e os seus bens. Assim,
os fenómenos geológicos incluem riscos para as populações.

O risco é a probabilidade de um acontecimento perigoso ocorrer numa determinada área


e num dado momento. Pode ter impacto negativo na sociedade causando danos humanos
ou materiais.

Os riscos geológicos são os sismos, as erupções vulcânicas, as inundações e os


deslizamentos de terreno.

Os riscos naturais incluem os anteriores e contemplam outras situações como os fogos


selvagens, os tufões e tornados, as secas e as pragas de animais.

Variando de região para região, e de acordo com as características geológicas e climáticas


de cada local, as situações de risco geomorfológico – relacionados com as
características morfológicas dos terrenos – podem ser agrupadas da seguinte forma:

bacias hidrográficas – sujeitas a erosão fluvial, cheias e exploração de inertes;

zonas costeiras – onde é constante a erosão costeira e a elevada pressão


urbanística;
zonas de vertente – onde se faz sentir a erosão hídrica das vertentes e onde
ocorrem movimentos de massa.

A ocupação antrópica, ou seja, a ocupação feita pelo Homem, das zonas fluviais,
costeiras e de vertente, depara-se com problemas de ordem geológica, entre os quais se
destaca a erosão.

As consequências dos riscos podem ser reduzidas se existir pleno conhecimento dos
processos geológicos e dos materiais rochosos que constituem as áreas de intervenção
humana.

Este é o objecto de estudo da Geologia ambiental que procura compreender os


fenómenos geológicos perigosos, as causas que lhes estão associadas e as formas de
prevenção que diminuem os riscos inerentes a esses processos.

Com o elevado crescimento da população humana, grandes zonas da superfície terrestre


foram e continuam a ser ocupadas. A ocupação antrópica levou a grandes alterações
paisagísticas e à exploração acelerada dos recursos naturais, nem sempre feita de forma
sustentável, o que tem levado à deterioração ambiental. A ocupação de zonas de risco,
que muitas vezes oferecem condições vantajosas, aumentou a vulnerabilidade das
populações aos riscos naturais causando graves desastres com perdas irreparáveis.

Assim, é necessário definir regras de ordenamento do território para evitar que a


ocupação antrópica aumente, cada vez mais, os problemas resultantes da interacção do
Homem com a Terra. Estas regras devem procurar assegurar a organização do espaço
tendo como objectivo a sua ocupação, utilização e transformação de acordo com as
capacidades que esse espaço oferece.

Bacias hidrográficas

A Terra é um planeta ativo que manifesta a sua atividade através de diferentes processos
que alteram a morfologia da sua superfície. O dinamismo da Terra provém das interações
entre os agentes de geodinâmica interna e os agentes de geodinâmica externa.
Embora muito lentamente, o movimento das águas modifica as irregularidades existentes
à superfície da Terra, sendo, provavelmente, o principal agente modelador do relevo
terrestre. A maioria dos aspetos e formas que se observam nas rochas deve-se,
essencialmente, à ação exercida pela água.

Ação da água sobre as rochas - paisagem sedimentar


Ação da água sobre as rochas - paisagem basáltica

Ação da água sobre as rochas - paisagem cársica


Ação da água sobre as rochas - chaminés-de-fada
Ação da água sobre as rochas – ravinamentos

Quando ocorre precipitação de chuva, granizo ou neve, a terra recebe água proveniente
da atmosfera que se pode infiltrar no solo ou pode começar a percorrer a superfície
terrestre. Assim, a água líquida do nosso planeta pode encontrar-se em rios, lagos, mares
e oceanos e, também, em lençóis subterrâneos.

Rios:
Rio

São cursos de água, superficiais e regulares, que podem desaguar num outro
rio, num lago ou no mar.

São parte integrante da hidrosfera e constituem sistemas abertos, que


interagem com os restantes subsistemas terrestres (geosfera, atmosfera e
biosfera).

Possuem um leito e são ladeados pelas margens:

– as margens são faixas de terreno contíguo ao leito.

– o leito é o espaço de terreno que pode ser coberto pelas águas. Compreende:
– os mochões – ilhas cultiváveis formadas nos rios;

– as lodeiras – locais de acumulação de lodo;

– os areais – locais de acumulação de areia.

Podem distinguir-se três tipos de leito, o leito aparente, o leito de inundação e


o leito menor:
O estudo de um rio e a análise dos seus leitos efetua-se através da elaboração de cortes
transversais em determinadas zonas do seu percurso – os perfis transversais.
Perfil transversal de um rio

Num percurso de um rio podem considerar-se três zonas: o curso superior, o curso
médio e o curso inferior.

A rede hidrográfica é formada por um rio e por todos os cursos de água de uma
determinada região que nele debitam as suas águas.
Rede hidrográfica

A bacia hidrográfica é a área em que as suas águas se dirigem para uma rede
hidrográfica, ou seja, onde os cursos de água têm o mesmo sentido de drenagem para
uma única saída.
Bacia hidrográfica

Ações geológicas de um rio:

A bacia hidrográfica, devido ao relevo, à natureza das rochas, ao clima da região, à


cobertura vegetal e à ação antrópica, influencia o comportamento dos cursos de água. A
atividade geológica de um rio, desde a nascente até à foz, compreende três ações:
a erosão, o transporte e a deposição de materiais.

Erosão:

– Consiste na extração progressiva de materiais do leito e das margens do rio. Os


materiais erodidos resultam da meteorização física e química sofrida pelas rochas, que
provocam a sua fragmentação e alteração.

– Deve-se à pressão exercida pela água em movimento sobre as saliências do leito e


das margens dos rios.
– É mais acentuada em épocas de cheias, porque a velocidade das águas é maior.

– Provoca a modificação dos vales e sulcos onde o rio circula, que, ao longo dos anos,
vão ficando mais largos e mais profundos.

Transporte

– Os detritos rochosos erodidos são levados pela corrente de água para outros locais.

– Os detritos, independentemente do tamanho que possuem, são os fragmentos


sólidos transportados e o seu conjunto forma a carga sólida de um curso de água.

– O transporte dos detritos pode ser feito:

– em suspensão e à mesma velocidade que a água, se os materiais são


finos;

– por saltação, rolamento e deslizamento, com velocidade inferior à da


água, se as partículas forem mais pesadas e mais grosseiras.
Diferentes tipos de transporte de detritos num rio.

Sedimentação:

– Consiste na deposição dos materiais ao longo do leito e nas margens dos cursos de
água - nos terraços fluviais, nos deltas e nos aluviões.

– Ocorre, geralmente, de acordo com a velocidade da corrente e as características dos


sedimentos: as suas dimensões, formas e pesos. Assim, normalmente,

– os materiais mais pesados e maiores depositam-se a montante;

– os materiais mais finos e mais leves depositam-se a jusante, mais próximos


da foz, ou são mesmo transportados até ao mar.
Diferentes tipos de deposição de sedimentos num rio.

– É particularmente importante quando há cheias, porque possibilita a


formação de aluviões, que são depósitos de sedimentos formados nas
planícies de inundações, tornando a zona muito fértil.

As três ações geológicas – erosão, transporte e sedimentação – ocorrem simultaneamente


em cada troço de rio, mesmo que de forma seletiva, pois, dadas as características
topográficas do leito do rio, pode predominar uma ou outra ação.

A incidência de uma ou outra ação é cíclica e está geralmente associada à variação de


fatores climáticos.

Para se fixar, o Homem desde sempre procurou zonas próximas dos rios, uma vez que
proporcionam:

fácil acesso à água, energia e alimento;

a existência de solos muito férteis e, como tal, muito ricos para as práticas
agrícolas;
acesso a outros locais, uma vez que os rios podem funcionar como vias de
comunicação.

Apesar das boas condições oferecidas, as zonas ribeirinhas são também zonas de risco
que podem trazer consigo consequências bem negativas.

Os principais fatores de risco associados às bacias hidrográficas são as cheias, a


construção de barragens e a extração de inertes.

Cheias:

São fenómenos naturais extremos ou temporários provocados por:

– precipitações moderadas e prolongadas;

– precipitações repentinas e de elevada intensidade;

– fusão de grandes massas de gelo;

– rutura de barragens e de diques.

O excesso de água aumenta o caudal dos cursos e o leito normal extravasa,


provocando a inundação das zonas mais próximas.

A elevação do leito normal e consequente inundação das margens pode


acarretar elevados prejuízos materiais e humanos.
Para prevenir e controlar os prováveis danos causados, é necessário adotar
determinadas atitudes, tais como:

– ordenar e controlar as ações humanas nos leitos de cheias;

– implementar medidas que impeçam a construção e a urbanização de possíveis zonas


de cheias;

– construir sistemas integrados de regularização dos cursos de água, como barragens


e canalizações, que incluem o alargamento, o aprofundamento e a remoção de
obstáculos nos leitos dos rios. Estas duas soluções também podem acarretar
consequências negativas, se forem feitas desregradamente.

Barragens:

São intervenções antrópicas que correspondem a construções com o objetivo


de reter grandes quantidades de água, formando albufeiras.

Têm como objetivo regularizar o caudal de água, principalmente quando a


precipitação é fora do normal, pois o excesso de água fica armazenado na
albufeira, evitando inundações a jusante de barragem.

A água acumulada nas albufeiras pode ter diversas utilizações, como:

– o abastecimento de populações;

– a irrigação de terrenos;

– o aproveitamento hidroelétrico;
– o aproveitamento turístico.

Acarretam alguns inconvenientes:

– ao longo do tempo vão-se acumulando, no fundo, os sedimentos transportados pelo


rio. Esta situação diminui a capacidade de armazenamento de água da barragem e
reduz a quantidade de detritos debitados no mar, funcionando como barreiras artificiais
ao trânsito de sedimentos;

Controlo sedimentar numa barragem

– como têm um determinado tempo de vida útil, quando este finda, traz consigo
problemas de segurança;

– têm um impacto negativo nos ecossistemas aquáticos e terrestres da zona,


provocando a destruição de habitats.

Extração de inertes:

É também uma intervenção antrópica que ocorre ao nível dos rios.


Consiste na exploração de areias e outros inertes do leito ou das margens do rio.

É um negócio muito rentável e relativamente fácil que oferece matéria-prima muito


importante, principalmente para a construção civil.

Tem consequências negativas, tais como:

– provocar o desaparecimento de praias fluviais;

– descalçar construções cujos pilares assentam sobre o leito dos rios;

– alterar correntes e outros aspetos hidráulicos;

– reduzir a quantidade de sedimentos que chegam à foz;

– diminuir a fertilidade de algumas espécies de peixes e evitar os ciclos normais de


desova;

– destruir aluviões e terrenos cultiváveis circundantes;

– causar modificações irreversíveis ao nível dos ecossistemas.

O Homem usa e abusa dos territórios que circundam os rios, sendo os danos materiais e
financeiros causados pelas cheias cada vez mais avultados e graves.
A intervenção humana junto aos cursos de água pode agravar as situações de risco, que
são características destas zonas.

Deve, então, ser assegurado o ordenamento do território, fazendo-se a gestão racional


dos espaços, que evite a ocupação urbana e industrial das zonas de risco. Uma forma de
assegurar esta gestão sustentável é através da implementação de planos de bacias
hidrográficas que visam a gestão, planificação, valorização e proteção equilibradas dos
grandes cursos de água no nosso país.

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