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BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola editorial, 2012.

PÁGINA CITAÇÃO
CAPÍTULO 4: Nada 4.4 Fatores sociocognitivos e mudança linguística (p. 146)
será como antes – a
mudança linguística “A mudança linguística é um processo sociocultural e sociocognitivos, ou seja, um
processo que tem origem na interação entre a dinâmica social da comunidade de fala
e o processamento da língua no cérebro por parte dos indivíduos em interação
sociocomunicativa. São três as forças inerentes mais importantes na mudança
linguística: (1) a economia linguística; (2) a gramaticalização; (3) a analogia” (pp.
146-147).
4.4.2 A gramaticalização

“[...] vamos definir gramaticalização, de modo muito grosseiro, como a produção de


novos recursos gramaticais a partir de (re)processamentos cognitivos, por parte dos
falantes, impostos aos recursos gramaticais já existentes” (p. 170).

“A língua não é uma entidade autônoma, que pode ser estudada sem que se leve em
conta os falantes e suas interações sociocomunicativa. Sem falantes não existe
língua, e a língua só existe em uso, na forma de discurso” (p. 170). Qual é o
conceito de Discurso adotado por Bagno? Provavelmente como sinônimo de texto,
como Ataliba Castilho.

“[...] a gramática da língua se forma a partir dos usos que os falantes fazem dos
recursos verbais que estão à sua disposição no sistema. Se esses recursos se revelam
insuficientes, os falantes, em sociedade, criam novos recursos, quase sempre através
de reestruturações, ressignificações, reinterpretações e reanálises dos recursos já
existentes. Gramática e discurso estão em íntima conexão, e uma já traz dentro de si
os germes ou as sementes do outro” (p. 170).

“O mais importante processo cognitivo envolvido na gramaticalização, como


afirmei acima, é a metáfora” (p. 171).

“A metáfora é, portanto, o processo mental que fazemos ao transferir uma palavra


de um domínio semântico para outro, ao expandir seu significado de um sentido
concreto para sentidos cada vez mais abstratos. Na gramaticalização, esse processo
se dá primordialmente pela transferência de elementos do léxico para a gramática,
da coisa para a não-coisa, do universo empírico para o universo do discurso, do
sensível para o cognoscível” (p. 172).

“[...] Abrindo um jornal ou revista ao acaso, as metáforas pululam diante de nós. Ou


melhor, diante do especialista, porque as metáforas – justamente pelo processo de
gramaticalização – se cristalizam de tal maneira que se tornam elementos banais,
que não despertam a atenção de ninguém” (p. 172).

“Esse processo cognitivo de metaforização segue sempre um mesmo percurso que


podemos resumir como do real para o virtual, do mundo que podemos apreender
com nossos sentidos para o mundo apenas inteligível” (p. 174).

“1. DO CONCRETO PARA O ABSTRATO: palavras que originalmente tinham um


sentido exclusivamente concreto assumiram sentidos abstratos ao longo do tempo, a
ponto de só serem usadas assim na atualidade” P. 174).
“2. DO ESPAÇO PARA O TEMPO: palavras que, inicialmente, indicavam situação
física concreta passaram a designar situação imaginária, abstrata, tempo e, daí para
situação dentro do discurso” (p. 175).

“3. DO MUNDO EMPÍRICO PARA O MUNDO DO DISCURSO: palavras que


inicialmente se referem a elementos do mundo real passam a servir como
organizadores do fluxo discursivo. Esse fenômeno recebe o nome de
discursivização” (p. 179).

“DO LÉXICO PARA A GRAMÁTICA: [...] A interação entre esses dois


componentes da língua é íntima e complexa, não admitindo uma divisão nítida
(aliás, se essa divisão existisse, o próprio fenômeno da gramaticalização não
ocorreria). Nesse processo, uma palavra autônoma se transforma num elemento
gramatical, a ponto de se tornar um morfema preso e se transformar em regra
obrigatória. [...] Quando uma palavra autônoma se transforma em item gramatical,
além de ter de ter sua semântica atenuada e de se fixar em lugares precisos na
morfossintaxe, ela também sofre erosão fonética, isto é, perde material sonoro
devido a seu uso intenso [...]” (p. 180).

“Os processos de mudança induzidos pela gramaticalização também ocorrem no


campo da sintaxe das línguas. Aqui o principal fator cognitivo em ação é a reanálise
sintática. Os falantes passam a interpretar de forma nova o encadeamento dos
constituintes no eixo sintagmático” (p. 187).
4.6 Conclusão

“A mudança linguística, portanto, é fruto da interação permanente e intensa de


fatores socioculturais e sociocognitivos. Sua gênese, sua difusão e sua
implementação estão estreitamente vinculadas à história social dos falantes de uma
língua” (p. 198).

“A língua não existe. O que existe, concretamente, são falantes da língua, seres
humanos com história, cultura, crenças, desejo e poder de ação. A língua muda
porque os falantes, todos, são dotados de extraordinárias capacidades cognitivas, de
um cérebro que o tempo todo, a cada instante, está processando e reprocessando a
língua, que é o mais importante vínculo de cada indivíduo com o universo que o
rodeia e o mais importante cimento de construção da identidade de um grupo
humano” (p. 199).
CAPÍTULO 10: 10.13 GRAMATICALIZAÇÃO
Universais e
brasileiros – conceitos “A gramaticalização, como vimos, é uma poderosa força de transformação da
importantes para língua: assim como as erupções vulcânicas, os maremotos e os terremotos abalam e
entender a gramática redesenham a face da terra, a gramaticalização também contribui para a extinção de
‘espécies’ gramaticais e, ao mesmo tempo, para o surgimento de novas. Os
principais agentes da gramaticalização são a metáfora, a metonímia, a
analogia, a reanálise sintática, a recategorização, a relação icônica etc.” (p.
487).

“É por efeito, portanto, da gramaticalização que as palavras vão estendendo suas


redes de propriedades semânticas, sintáticas, morfológicas e discursivas” (p. 490).

“A gramaticalização não atinge apenas itens isolados ou pequenos sintagmas. Ela


também pode transformar sentenças inteiras em palavras-frases, isto é, palavras ou
locuções que condensam toda uma sentença e se tornam convencionais numa
determinada língua, fórmulas fixas usadas em situações culturalmente marcadas.
Como sempre ocorre no processo de gramaticalização, a sentença primitiva perde
material sonoro e se reduz a seus elementos essenciais” (p. 490).

“Também as chamadas expressões idiomáticas representam gramaticalizações de


sentenças inteiras que perderam seu significado concreto original e, por meio da
metáfora, passaram a se aplicar às mais diversas situações. O que caracteriza uma
expressão idiomática é que o seu significado não é igual à soma dos significados de
seus componentes [...]” (p. 491).

“Um importante princípio da gramaticalização é a reanálise sintática. Como sugere


o nome, trata-se de uma nova análise, uma nova interpretação que os falantes
realizam sobre as palavras e sua organização na sentença” (p. 491).
O verbo FAZER é considerado, tradicionalmente, um verbo causativo (p. 597)
(Exemplo: eu fiz ele enxergar...); já o verbo LEVAR é inserido nessa classificação
por Bagno (2012), devido a várias ocorrências desse verbo em construções
“causativas” (p. 597). Exemplo: “[...] levei ele a se propor [...]”.

CAPÍTULO 12: No 12.13 VERBOS AUXILIARES


princípio era... o
verbo “Os verbos auxiliares ocorrem em perífrases ou locuções verbais, isto é, em
conjuntos de v¹ + v², em que o primeiro verbo é o auxiliar e o segundo, o verbo
principal. Essas perífrases apresentam características bem marcadas: (a) somente v¹
comporta a morfologia de modo, tempo e pessoa; (b) v² é sempre um verbinominal
(particípio, gerúndio ou infinitivo); (c) v¹ e v² compartilham sempre o mesmo
sujeito” (p. 603).
12.14 VERBOS EXISTENCIAIS OU APRESENTACIONAIS

O verbo FAZER é classificado como existencial ou apresentacional (p. 620).

“Os verbos apresentacionais são meros instrumentos, operadores gramaticais – tanto


que podem ser omitidos sem que se perca o conteúdo do enunciado” (p. 621).
12.16 VERBOS-SUPORTE

Os verbos-suporte também são chamados de verbos leves (p. 635).

“Conforme nos informa Neves (2001: 53): Os verbos-suporte são verbos de


significado bastante esvaziado que formam, com seu complemento (objeto direto),
um significado global, geralmente correspondente ao que tem um outro verbo da
língua” (p. 635).

“Os verbos-suporte empregados com maior frequência em PB são dar, fazer,


guardar, levar, manter, pegar, soltar, ter e tomar. É praticamente impossível
enumerar as combinações permitidas por esses verbos” (p. 635).

“[...] a construção verbo-suporte + SN serve para preencher lacunas no léxico da


língua, preenchimento que se faz por meio de sintagmação, demonstrando mais uma
vez a impossibilidade de separar léxico de gramática” (p. 636).

12.16.1 Função dos verbos-suporte

“Segundo os autores [Ilari e Basso (2009: 211)], as construções com verbo-suporte


se justificam pela versatilidade sintática e discursiva que oferecem” (p. 637). Há,
também, a questão da afetividade permitida através das construções verbo-suporte
+ SN, diferentemente de quando fazemos uso de verbos plenos correspondentes.
“Se são importantes para a gramática, também são importantíssimas para o ensino
de língua, na medida em que essas construções [verbo-suporte + SN], pela
versatilidade sintática e discursiva que exibem, podem ser recomendadas aos alunos
como boas opções em suas produções textuais” (p. 638).

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