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IGUATU – CEARÁ
2018
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PALAVRAS DO PROFESSOR-AUTOR
Estou muito contente em elaborar este material didático para o ensino a distância de produção
de gêneros textuais acadêmicos, pois acredito na eficiência e eficácia dessa forma de
aprendizagem, tendo em vista que ela abrange um contexto sem limites, tanto de espaço
quanto de tempo.
Foi diante dessa situação que surgiu uma inquietação sobre o assunto, que foi levada ao
Grupo de Pesquisa e Estudo em Educação, Linguística e Letras (GPEL) 1, a qual se tornou em
objeto de estudo em uma das linhas de pesquisa do citado grupo, no caso, “Tradução, Ensino-
Aprendizagem de Línguas, Práticas de Leitura e Produção Escrita”. Para tanto, a metodologia
de ensino dos gêneros textuais acadêmicos passou a ser o foco dessa inquietação. Foi então
que surgiu a ideia de empregar a metodologia dialógica de ensino de gêneros acadêmicos
sugerida por Santos (2013)2, a partir de uma pesquisa científica a ser desenvolvida nos cursos
superiores do IFCE – campus Iguatu. Submeti um projeto de pesquisa à Pró-reitoria de
Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PRPI) do IFCE, que foi aprovado e, no momento, a
pesquisa está em pleno desenvolvimento, sendo este curso a sua segunda fase.
Com este curso, espero que você adquira o domínio de estratégias de sistematização de
informações e mobilização de saberes para a produção dos gêneros textuais acadêmicos
fichamento, resumo, resumo esquemático, resenha acadêmica, seminário e projeto de
pesquisa, levando em consideração os contextos em que produz seus textos e, com isso, seja
capaz de se inserir no universo linguístico-discursivo, tão exigido nos cursos superiores.
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Grupo de Pesquisa Transdisciplinar em Formação Docente, Educação Inclusiva, Ensino de Línguas e
Literatura nas Relações Sócio-Políticas do Campo, já estando na situação de cadastrado no CNPq e
certificado pela Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFCE. Para mais informações acessar o
link do grupo: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6546280979660699.
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SANTOS, E. C. dos. Uma proposta dialógica de ensino de gêneros acadêmicos: nas fronteiras do Projeto
SESA. 2013. 218 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013. Disponível em:
<http://tede.biblioteca.ufpb.br/bitstream/tede/6432/1/arquivototal.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2016.
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Instituição Curso X do IFCE – campus Iguatu Qual a temática que quero desenvolver no texto?
Cronotopia 1º momento: escrita inicial
Espaço/tempo de ação seguindo as orientações das aulas (Descrever os textos analisados quanto ao conteúdo
na modalidade EAD. temático, organização composicional e estilo)
2º momento: escrita do texto de
acordo com o tempo livre e a Analisar o gênero levando em conta: o título, a
expectativa do estudante. organização da estrutura geral do texto, a introdução,
Autor Estudantes do 1º semestre do Curso as temáticas dos enunciados e as escolhas lexicais.
X.
Interlocutor Professores, tutores, colegas de
curso, comunidade acadêmica
(possíveis leitores do texto)
A posição social do Graduandos enunciadores (o papel Resenha, Resumo etc.
autor de autores/leitores dos textos)
A posição do Professores, tutores, colegas leitores De que trata o texto?
interlocutor e possíveis leitores
O objetivo do texto O objetivo da interação é do ponto
de vista do estudante enunciador
escrever sobre uma temática
O objetivo didático Trabalho de conclusão do curso de
gêneros textuais acadêmicos e,
consequentemente, objeto de
análise da pesquisa que está sendo
feita e posterior publicação em um
livro.
Suporte material 1º momento – digital
2º momento – impresso
Fonte: Adaptado pelo autor com base Santos (2013, p. 348)
que simbolizam, aqui, a ato responsável em relação ao seu conteúdo e o seu ser, recupera em
pontas as cinco diretrizes pedagógico axiológicas e o discente na ponta superior, ou seja, toda
ação voltada para sua aprendizagem.
O esquema de Santos (2013) é organizado em caixas, as quais os estudantes precisam
preencher, seguindo a numeração para que, depois, possam efetivamente elaborar o texto. As
caixas de texto não podem ficar vazias ou apresentar vagas formulações. Para cada gênero, as
competências são diferenciadas e os discentes precisam apresentar dois atos: o primeiro se
refere ao planejar e preencher na estrela o plano inicial do projeto enunciativo; o
segundo é produzir o texto, tomando como base o preenchimento das caixas de texto.
Para isso, Santos (2013) propõe trabalhar par a par e com feedback imediato para
romper com a ideia de tempo curricular, pois, sozinho o professor não conseguirá atender à
demanda. Por isso, ela observa que é viável o trabalho de tutoria como apoio à ação
pedagógica e à própria relação com os colegas.
A seguir, apresentamos um dos esquemas Estrela de Davi para o ensino de gêneros
acadêmicos propostos por Santos (2013), para termos uma noção de como será feito o ensino
neste curso:
espaço e tempo
6. Atribuição de 2.
atos ao autor Contextualizar o
resumido gênero no
espaço e tempo
5. Desvelar o 3. Sumarizar a
conteúdo estrutura do
enunciado
4. Menção do
autor e da obra
MÓDULO I – FICHAMENTO
Esta unidade tem como objetivo fazer com que, ao final dela, você seja capaz de avaliar e
produzir fichamentos a partir do reconhecimento das características específicas desse gênero.
Prezado estudante,
Nesta primeira unidade do nosso curso vamos aprender a fazer um fichamento. Para
tanto, vamos seguir os seis movimentos das sequências dialógicas sugeridas por Santos
(2013). Porém, antes disso, convido você a entender o que vem a ser um gênero textual na
comunidade acadêmica, já que o foco deste curso é gênero textual acadêmico.
De acordo com Borba (2004, p. 81)3, mais recentemente no ensino da escrita, tem-se
utilizado uma abordagem cuja ênfase incide sobre gêneros textuais e sobre o papel
desempenhado por comunidades discursivas no desenvolvimento da comunicação escrita.
Nesse paradigma, o estudante imerge nos novos discursos, atentando para as formas como as
pessoas numa determinada comunidade usam a língua para preencher propósitos
comunicativos em situações reais.
Tomando por base Bakhtin e as tendências dos estudos linguísticos mais recentes,
Borba (2004, p. 82) afirma que diferentes gêneros textuais são usados para realizar ações
tipificadas com base em situações recorrentes, que são similares e, assim, são elaboradas
representações de ações típicas, que representam construtos sociais, intersubjetivos, baseados
em esquemas de situações que construímos a partir da experiência dos indivíduos.
Nesse sentido, para Borba (2004, p. 82), é possível caracterizar o texto acadêmico
como sendo construído como reflexo de normas e convenções, valores e práticas sócio
historicamente produzidos por um grupo de pessoas que se definem, entre outras coisas, por
suas práticas discursivas. Por isso, o texto acadêmico é construído como reflexo da interação
projetada entre autor e leitor no evento de leitura no “contexto de situação”. Essa interação,
que se estabelece entre autor e leitor, não se dá de forma aleatória ou inconsequente, já que ela
é o produto de convenções culturais, sociais, antropológicas e linguísticas, que permitem a
produção de sentido que se exige de qualquer texto.
Dessa forma, a autora observa que os gêneros produzidos na comunidade acadêmica,
tais como quaisquer outros, estão sujeitos a determinadas regras que os constituem como
textos e os fazem ser reconhecidos como pertencentes àquela comunidade. Tais regras,
entretanto, não podem ser reduzidas às propriedades morfossintáticas ou lexicais, mas devem-
se considerar todos os aspectos contextuais em que o gênero é produzido.
Para Borba (2004, p. 84), as decisões que o escritor faz em relação às escolhas de
estrutura e de palavras constituem o processo de escrita e, na escrita acadêmica formal, isso
envolve os processos elaborados e recursivos de planejar, rascunhar, revisar e editar.
Com base em Kern (2000), Borba (2004, p. 84) enumera algumas características
básicas da escrita acadêmica, que envolvem, entre outros pontos: cuidado formal; coerência
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BORBA, Vincentina Maria Ramires de. Gêneros textuais e produção de universitários: o resumo
acadêmico. 2004. 232 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, 2004. Disponível em: <
http://www.liber.ufpe.br/teses/arquivo/20040701204055.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017.
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SILVA, Ananias Agostinho da e BESSA, José Cezinaldo Rocha. Produção de textos na universidade: uma
proposta de trabalho com sequências didáticas com o gênero fichamento. Juiz de Fora/MG: UFJF, 2011.
Disponível em: <http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2011/10/agostinho.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2017.
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Para iniciar, faça uma leitura inicial do texto seguinte para se familiarizar com
o conteúdo e a linguagem. Depois, leia o texto novamente, agora sublinhando as
passagens que você julga mais importantes para sua compreensão. Logo em seguida,
propomos um projeto enunciativo que será desenvolvido em cada um dos movimentos
para a elaboração de um fichamento de resumo desse texto.
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Texto extraído da seção 2 de: Silva e Bessa (2011, p. 8-10).
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Por fim, a sequência didática é concluída com uma produção final, que, segundo
Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), dá ao aluno a possibilidade de pôr em prática as noções
e os instrumentos elaborados separadamente nos módulos após a análise da produção inicial. A
produção final deve estar centrada no polo do aluno, permitindo-lhe encontrar, de maneira clara, todos
os elementos trabalhados nas aulas. Esses elementos também devem servir como critérios de uma
avaliação somativa, que considera não apenas os progressos dos alunos, mas também, e
principalmente, o que precisa aprender para chegar a uma produção efetiva de seu texto segundo o
gênero pretendido. Portanto, as sequências didáticas subsidiam o aluno no domínio de um determinado
gênero, possibilitando a construção de um falar e de um escrever coerente com a situação
comunicativa.
Autor
Interlocutor Descrever o texto lido quanto ao conteúdo
temático, organização composicional e estilo:
Analisar o gênero levando em conta: o título, a
organização da estrutura geral do texto, a
introdução, as temáticas dos enunciados e as
escolhas lexicais.
O objetivo didático
Suporte material
Neste movimento, você vai conhecer o gênero textual fichamento por meio da
apresentação que vamos fazer dele para, em seguida, observar seu plano arquitetônico.
Conceituação
De acordo com Campos (2010, p. 11)6, fichar um texto significa “sintetizá-lo, o que
requer a leitura atenta do texto, sua compreensão, a identificação das ideias principais e seu
registro escrito de modo conciso, coerente e objetivo”.
Segundo a autora citada, pode-se dizer que esse registro escrito (o fichamento)
é um novo texto, cujo autor é o "fichador", seja ele aluno ou professor. A prática do
fichamento representa, assim, um importante meio para exercitar a escrita, essencial
para a elaboração de resenhas, papers, artigos, relatórios de pesquisa, monografias
de conclusão de curso, etc.
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CAMPOS, Magna. Gêneros acadêmicos: resenha, fichamento, memorial e projeto de pesquisa. Mariana-MG:
Fundação Presidente Antônio Carlos/Faculdade Unipac de Educação e Ciências de Mariana/MG, 2010.
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• Corpo da ficha, ou seja, o conteúdo propriamente dito, que variará conforme o tipo
de fichamento que o estudante ou pesquisador pretenda fazer.
Tipos de fichamento
Exemplos:
Citação completa
Para HELLER (1992, (p. 19), "O adulto deve dominar, antes de mais nada, a
manipulação das coisas [...] Mas embora a manipulação das coisas seja idêntica à assimilação
das relações sociais, continua também contendo inevitavelmente, de modo imanente , o
domínio espontâneo das leis da natureza".
OBSERVAÇÕES:
Quando a citação passar de uma página para outra, deve-se conter o número das duas
páginas (Exemplo: p. 325-326);
Quando a supressão é de vários parágrafos deve se usar uma linha pontilhada entre as
transcrições. Exemplo:
.......................................................................................................................................................
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HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992. p. 18.
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HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 4.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
"O adulto deve dominar, antes de mais nada, a manipulação das coisas [...] Mas
embora a manipulação das coisas seja idêntica à assimilação das relações sociais,
continua também contendo inevitavelmente, de modo imanente , o domínio espontâneo
das leis da natureza" (p. 19).
TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1993.
"[...] uma das primeiras feministas do Brasil, Nísia Floresta Augusta, defendeu a
abolição da escravatura, a o lado de propostas como educação e a emancipação da
Mulher , e a instauração da República". (p. 30)
"[...] a mulher buscou com todas as forças sua conquista no mundo totalmente masculino".
(p. 43)
Biblioteca em que se encontra a obra: Biblioteca da UNIT (UNIVERSIDADE
TIRADENTES – Campus II - FAROLANDIA)
TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1993.
TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1993.
seguir cada um dos seis passos propostos no planejamento enquanto produz seu
fichamento.
6.PRODUZIR E
2. CONTEXTUALIZAR
REVISAR A
O GÊNERO NO
PRODUÇÃO DO
ESPAÇO E NO
FICHAMENTO
TEMPO
ESTRELA
DE
DAVI
5. DESCREVER O 3. MENSÃO DO
TEXTO (FAZER AUTOR E DA OBRA A
DIGESTO – SER FICHADA
RESUMO/SÍNTESE)
5º MOVIMENTO – FEEDBACK
Agora que você já produziu seu texto e expressou suas dificuldades, faça as revisões
e os acabamentos que julgar necessários e, em seguida, poste-o para que seus colegas de
curso, para que seja circulado e recebido por eles, isto é, seja circulado em uma escala de
maior abrangência para que, assim como você vai ler e analisar os textos dos colegas, seu
texto será lido e analisado por eles, no sentido de avaliarem se o projeto pedagógico
enunciativo proposto foi elucidado, não como cumprimento de atividade para nota, mas como
responsabilidade sua e de seus companheiros de curso.
Lembre-se, ao final da pesquisa, seu texto poderá ser publicado em um livro, o qual
terá uma circulação em uma escala de abrangência muito maior.
RESUMINDO