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AIRES DE CARVALHO
Militante nº 107.778
Janeiro de 1999
O Barreiro não se pisa!
As pessoas primeiro, D. Elisa...
Estas fábricas vêm a arrancar em 1908, com a produção de ácido sulfúrico e adubos.
Em ritmo cadenciado sucedem-se-lhes outras unidades, nomeadamente de fabrico de
diversos produtos químicos para a indústria e para a agricultura.
E foi assim, segundo conta quem sabe do que fala, que o Barreiro se tornou,
mais uma vez, um exemplo:
Com a entrada em funcionamento das fábricas de ácido sulfúrico, extraído das pirites
alentejanas, nasce o problema da poluição, por via da emissão de dióxido de enxofre
para a atmosfera.
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Só que, desta vez, passou a ser o mais triste exemplo de um dos males que o
século que agora acaba nos trouxe, como corolário do progresso tecnológico e
da escalada do consumo - A POLUIÇÃO.
E é por isso que, durante mais de metade deste século, o Barreiro, para
desgraça dos Barreirenses, se tornou, aquém e além fronteiras, praticamente,
sinónimo de poluição, constituindo-se como um verdadeiro paradigma das
situações extremas de descontrolo ambiental.
Inspiração que, aliás, sempre lhe faltou para liderar a exigência da profunda
requalificação ambiental de que o Barreiro há muito necessita.
... procedeu-se no Complexo Industrial do Barreiro, ainda nos anos 70, à criação de uma
estrutura permanente de controle do ambiente, que inventariou e hierarquizou os problemas
existentes.
Resultaram daí diversas acções de combate à poluição atmosférica, que permitiram uma
acentuada redução dos índices de poluição antes registados.
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E assim o Barreiro foi ficando com menos "pão para comer" mas, em
contrapartida, com menos gases para "engolir".
Por isso o Barreiro, que ao longo da História tem sido um padrão para muitas
coisas boas, guarda a mágoa de, infelizmente, aparecer sempre associado, no
imaginário colectivo, a duas coisas más - a poluição, por um lado, e um modelo
sectário, ultrapassado, autista e redutor, que a gestão do Partido Comunista há
25 anos exercita, por outro.
E muito menos se esperaria que todo e qualquer resíduo dessa espécie tivesse
que ir - para ser armazenado, separado, moído, misturado com serraduras e
despachado para as cimenteiras, ou outra vez armazenado à espera que se
decida para onde vai o que não pode ser co-incinerado - para o meio de uma
cidade à beira do Tejo, mesmo em frente ao rebaptizado Parque das Nações,
obra exemplar de requalificação urbana e reconversão de uma zona industrial
com óbvias semelhanças com a martirizada vizinha da frente...
Aliás, apetece dizer que se a "tradição industrial" parece ter sido uma das
determinantes da decisão de construir, de raiz, a Estação de Tratamento no
Barreiro, bem que se podia ter aproveitado uma das estruturas desactivadas da
EXPO para, com menos custos, fazer a tal Estação...
É que, se não faz mal a ninguém, sempre tem ruas mais largas, cais de
acostagem ao pé e até a futura Presidência do Conselho de Ministros, o que
sempre permitiria a fiscalização directa da apregoada perfeição do sistema
pelos dignatários da Tutela...
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No Barreiro fazem-se, hoje, coisas muito graves, no que respeita aos resíduos
industriais e outros tipos de lixos tóxicos e perigosos. Queima-se já,
certamente, o que não se devia, em condições que, efectivamente, ninguém
controla. Mas não está prevista, que se saiba, a construção de nenhuma
cimenteira, estando, pois, posta de lado a possibilidades de sermos afectados
pelos males eventuais do processo de combustão da co-incineração.
"sem embargo de não terem que ser sujeitas a este processo, as estações do
Barreiro e Estarreja, por se encontrarem em parques industriais
convenientemente infraestruturados, são possíveis mediante o cumprimento
das medidas de minimização de impactes aí preconizadas";
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Veremos quem está com os Barreirenses ou quem precisa dos seus votos para
em nome deles decidir.
E é por isso que nós, que vemos mais alguns problemas - e mais graves - do
que os que o nosso camarada vislumbra, que não controlamos nem temos que
controlar nenhuma onda de contestação mas a engrossamos e agitamos,
quando necessário, em nome do presente e do futuro, nosso e dos nossos
filhos, viemos a este Congresso.
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Salientando a fraca legitimidade para falar por parte de quem, como o PSD,
permitiu a queima de pneus nas cimenteiras ou andou um decénio à procura da
solução salvadora, no mínimo tão discutível como a que agora se prefigura.
Nem viemos para ensombrar uma festa tão bonita, que, entre outros feitos,
consagrará a reeleição do nosso Secretário Geral, António Guterres, e a
aprovação da sua Moção de orientação política geral "A nossa via - uma
relação de confiança com os Portugueses", na qual todos nos revemos.
É porque este caso, a forma como foi tratado, e o que está em jogo
constituem um paradigma, qual bitola de avaliação entre aquilo que se diz
e aquilo que se faz, que nós aqui estamos.
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Este processo, que nasceu torto, pelas razões que todos conhecemos e nos
dispensamos de voltar a enunciar, teve o mérito de introduzir "os elementos
essenciais de uma nova “cultura ambiental” aos diversos níveis do sistema
educativo" e em toda a comunidade barreirense.
E, mais adiante
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A co-incineração, como uma nova valência das Fábricas de Cimento, pode servir de
base de sustentação à perpetuação destas e das pedreiras a elas associadas em
locais onde não deveriam permanecer.
Relativamente ao transporte dos resíduos, e sendo admitida pelo próprio EIA a sua
perigosidade, considera-se que devem ser claramente definidos os trajectos a usar
regularmente, em todas as fases do processo, ao longo dos quais deverão ser criadas
estruturas de prevenção e minimização de riscos decorrentes de eventuais acidentes,
devendo a sua concepção e implementação envolver as entidades responsáveis pela
Protecção Civil.
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Tal foi possível por se ter introduzido uma grande dinâmica no ataque aos problemas e
gerado fundos que o permitiram fazer.
E é por isso que nós, todos, percebemos que não precisamos cá, nem o País
precisa, de todos os Lixos industriais tóxicos e perigosos, à porta do Feira
Nova.
O que nós precisamos e o País precisa é daquilo que nos foi prometido no
Programa do Governo:
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E QUEREMOS,
ALÉM DISSO,
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