You are on page 1of 6

Raymond Âron

Estudos Políticos

Pensamento
Político

Tradução de Sérgio Bath


Apresentação de RolfKuntz
Prefácio de José Guilherme Merchior

LlDCll Editora Universidade de Brasília


Este livro ou parte dele
não pode ser reproduzido sob nenhuma forma,
por mimeógrafo ou outro meio qualquer,
sem autorização por escrito do Editor.

Impresso no Brasil

Editora Universidade de Brasília


Campus Universitário - Asa Norte
70910 Brasília- Distrito Federal SUMÁRIO
Copyright (c) 1972 by Editions Gallimard
Pag.
Direitos exclusivo para edição em língua portuguesa:
Apresentação l
Editora Universidade de Brasília
Observação 7
Prefácio 9
Capa:
Ciência e Consciência da Sociedade 41
Arnaldo Machado Camargo Filho

Revisão Gráfica PRIMEIRA PARTE:


Carlos Alberto Cruz IDEIAS 63
Newton José da Silva A Verdade Histórica das Filosofias Políticas 65
Maquiavel e Marx 77
Alain e a Política 91
Política e Economia na Doutrina Marxista 99
Max Weber e Michael Polanyi 115
Vilfredo Pareto 131

SEGUNDA PARTE:
A POLÍTICA DENTRO DOS ESTADOS 149
(Teoria, conceitos, situações)
A Propósito da Teoria Política 151
Aron, Raymond, 1905- Macht, Power, Puissance: Prosa Democrática ou Poesia Demoníaca? 169
A769e Estudos políticos. Trad. de Sérgio Bath. Brasília, A Definição Liberal da Liberdade 189
Editora Universidade de Brasília, 1980. Pensamento Sociológico e Direitos do Homem 205
Liberdade: Liberal ou Libertária? 221
478p. (Coleção Pensamento Político, 18) Os Sociólogos e as Instituições Representativas 251
Reflexões sobre a Política e a Ciência Política Francesas 271
Título original: Études politiques. Eleitores, Partidos, Eleitos 283
Comentários sobre a Classificação dos Regimes Políticos 299
1. Ciência política 2. Política I. Título II. Série. A Objeção de Consciência 305

CDU-32 TERCEIRA PARTE:


A POLÍTICA ENTRE OS ESTADOS 315
(Constelações e Conjunturas)
COMENTÁRIOS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO
DOS REGIMES POLÍTICOS(*)

Aristóteles e Montesquieu são considerados, justamente, como os fundadores


da "sociologia histórica e política", na tradição ocidental. A obra do primeiro,
conhecida comumente como Política, comporta, na verdade, uma análise compa-
rativa dos regimes (politeia) das cidades gregas. Contém também alusões aos
regimes (especialmente os monárquicos) existentes fora do mundo helénico. A
maior parte do tempo, porém, Aristóteles pensa na cidade grega como a infra-
estrutura das instituições políticas que constituem o objeto próprio do seu estudo.
A Política de Aristóteles exerceu tal influência sobre"o pensamento ocidental que
a classificação das constituições que lá encontramos - monarquia, oligarquia,
democracia - foi considerada, durante séculos, como até certo ponto racional-
mente evidente. Soberania de uma só pessoa, de algumas pessoas, de todos os
cidadãos - é uma distinção que se impõe, como também se impõe a distinção entre
as duas modalidades (sã e corrompida) de cada um desses regimes.
Aos seis regimes assim definidos, era fácil acrescentar os regimes mistos, que
assumem determinadas características de um dos tipos puros.
Na verdade, mesmo na classificação dos regimes, a Política é mais complexa do
que este breve sumário poderia fazer crer. Com efeito, Aristóteles considera
também o equivalente do que chamaríamos de "administração", embora a
relativa simplicidade das tarefas administrativas permita confiá-las a cidadãos sem
formação especial - isto é, a amadores. Além disso, o caráter de um regime não se
relaciona somente com o número dos que participam da soberania, mas também
com o modo da sua designação, que pode ser mais ou menos democrático: a
esco 'ha pela sorte, e a eleição, são mais democráticas do que a nomeação; a decisão
pela sorte simboliza por excelência a ideia democrática: qualquer cidadão pode
pretender ao exercício de qualquer função. Na ausência de uma burocracia
especializada, a participação de todos no governo da cidade pode manifestar-se
não só pelo sufrágio universal, mas pelo recurso ao sorteio. Está claro que esse
princípio nunca pôde ser aplicado sem qualificações: os generais escolhidos pela

(") Publicado, em alemão, no Kõlner Zeiíschrift fúr Soziologie und Sozial Psyckologie, 1965, caderno 3 -
coletânea em honra do Professor Stammler.
300 Estudos Políticos Comentários sobre a Classificação dos Regimes Políticos 301

Assembleia das cidades gregas podiam não ser militares profissionais, mas sua apresentar algumas dificuldades. Interpretadas literalmente, certas expressões
escolha não era inteiramente casual. sugerem um determinismo inexorável. A geografia e a demografia retirariam dos
Seria necessário esperar pelo Espírito das Leis para termos uma classificação homens a liberdade: o despotismo seria um preço a pagar pela imensidade do
essencialmente diferente da de Aristóteles. Se nos contentarmos com uma território. Mas o pensamento de Montesquieu parece mais próximo do de Max
interpretação superficial, diremos que Montesquieu subdivide a monarquia, ou Weber: certas circunstâncias favorecem um regime determinado, em vez de
soberania de uma só pessoa, em duas espécies - o regime que denomina impô-lo.
"monárquico", em que prevalecem leis fixas, e o "despótico", em que o governo é Qualquer que seja nossa interpretação do pensamento de Montesquieu sobre
exercido arbitrariamente, e o soberano só obedece a si mesmo e a seus caprichos. este ponto, a república, a monarquia e o despotismo representam tipos concretos,
Simultaneamente, Montesquieu inclui na república duas espécies: a "aristocracia" históricos. Cada um desses regimes tem um princípio e uma natureza, que fazem
e a "democracia", esta última mais conforme à essência republicana: a soberania é com que seja o que é, distinguindo-o dos outros. Como vimos, há duas variáveis
detida por todo o povo ou somente por uma parte dos cidadãos. que definem a natureza de cada um desses regimes. O princípio é o sentimento, o
Se o número dos detentores da soberania constituísse realmente, para estado de espírito dos governados e dos governantes, graças ao qual um regime
Montesquieu, o critério único de classificação dos regimes, o Espírito das Leis permanece o que deve ser, ajustado à sua própria natureza. A república precisa da
representaria um recuo com relação à Política. Enquanto se definir cada regime virtude; a monarquia só está protegida contra si mesma pela honrai o despotismo só
pelo número das pessoas que participam da soberania, nenhum deles escapará à subsiste graças ao medo que o déspota inspira a todos.
classificação de Aristóteles e dos autores gregos, em geral: uma pessoa, algumas Esta "teoria do princípio" tem antecedentes - não surgiu inesperadamente na
pessoas, todos. O mérito de Montesquieu consiste, justamente, em ler apresen- dele, mas o fato de que, combinando uma classificação dás sociedades com uma
tado novas ideias. classificação dos regimes políticos, teve a ambição de apreender tipos ideais que
É verdade que, nos nove primeiros capítulos do Espírito das Leis, não esquece os fossem ao mesmo tempo tipos históricos. O tipo hitórico que conhecemos como
ensinamentos de Aristóteles, que os séculos tinham confirmado e sacramentado. "república" se manifestou na antiguidade sob várias formas - e Montesquieu tem
Ha nesses capítulos muitas referências à classificação aristotélica; mas encontra- perfeita consciência de tal diversidade. A maior parte dos regimes das cidades
remos ali também o comentário de que Aristóteles não conheceu a verdadeira gregas que Aristóteles comparava usando um método já bastante rigoroso
monarquia. pertencem, segundo Montesquieu, ao tipo republicano - a degenerescência
De fato, para Montesquieu o modo como o governo é exercido é tão tirânica é, naturalmente, um caso especial. Desde então, a sociologia político-
importante quanto o número dos que detêm o poder soberano. Na monarquia, social se subdivide em vários capítulos: circunstâncias externas (meio geográfico,
como no despotismo, uma só pessoa é spberanaj a monarquia, contudo, como a população, dimensões do território), natureza e princípio do regime, instituições
república, é um governp^moderado enquanto pernianece fiel à sua essência - isto adaptadas a essa natureza e a esse regime, as causas possíveis da corrupção).
é, ao respeito pelas leis. Diríamos, em termos modernos, que Montesquieu A famosa classificação de Max Weber, do domínio tradicional, racional e
emprega duas variáveis para classificar os regimes. A segunda variável - o modo carismático, pertence a outra época e está vinculada a outra metodologia. É também
como o governo é exercido - é mais importante do que a primeira. O decisivo é a equívoca, e se fundamenta não no número dos que detêm o poder soberano, mas
liberdade. Ora, o poder dado ao povo não representa necessariamente sua no princípio da legitimidade. O termo "princípio" tem, aqui, um duplo sentido: o
liberdade. A monarquia assegura uma certa medida de liberdade, desde que todos que lhe dá Montesquieu (o sentimento ou estado de espírito que faz com que os
obedeçam aos deveres impostos pela sua condição, e que o próprio rei respeite homens ajam) e um outro, mais corrente, de ideia original, justificadora. Em
as leis. Wirtscharft una Gesellschaft esses três tipos servem para elaborar uma espécie de
O acréscimo de uma segunda variável é também o sinal externo de uma casuística dos regimes políticos. Devido ao seu caráter abstrato eles se aplicam a
transformação mais profunda. A república - aristocracia ou democracia - nos todas as épocas, e a todas as sociedades. Permitirão portanto apreender um regime
aproxima das cidades gregas; a monarquia, dos reinos da Europa moderna; o historicamente definido? A classificação de Aristóteles pressupunha a infra-
despotismo, dos impérios asiáticos. Implicitamente, Montesquieu procura com- estrutura da sociedade helénica; a classificação de Montesquieu procurava
binar uma classificação dos regimes políticos com uma classificação dos tipos englobar num mesmo tipo a infra-estrutura social e o regime político; a
sociais. Para ele, a república se adapta às cidades ou Estados de pequena dimensão; classificação de Weber atinge a tal formalização que todo regime, pelo menos na
a monarquia, às unidades políticas de dimensão média. Com a extensão do nossa época, parece ao mesmo tempo tradicional, racional e carismático - em
território e o aumento da população, o despotismo se torna mais ou menos proporções variáveis.
inevitável. Consideremos o regime dos Estados Unidos da América. Com quase dois
Este relacionamento da sociedade com o regime político não deixa de séculos de existência, a constituição norte-americana está revestida de aura
302 303
Estudos Políticos Comentários sobre a Classificação dos Regimes Políticos

sagrada; beneficia-se da autoridade da tradição, remontando aos Foundig Fathers, Montesquieu, colocando-me no quadro das sociedades de tipo industrial e
cuja sabedoria é exaltada, e cuja excelência é aprendida pela juventude em todas as renunciando a uma classificação dos regimes que fosse válida para todas as ópocas
escolas. Embora muito racional, formalmente, esse texto constitucional não se históricas. Qualquer regime político superposto a uma sociedade industrial
impõe aos cidadãos de modo comparável ao das monarquias tradicionais? De comportará necessariamente uma administração formal e materialmente ra-
outro lado, em nossa época todo regime inclui uma administração que pretende cional - embora não se possa definir rigorosamente essa racionalidade (os
ser racional, tanto formal quanto materialmente: formalmente racional pela planejadores soviéticos se recusam, ou se recusavam pelo menos, a levar em conta
elaboração das regras segundo as quais funciona; materialmente pelo objetivo a escassez na fixação dos preços, e a atribuir um valor ao capital, o que, para um
agora comum a todas as burocracias das sociedades industriais: a produtividade. economista ocidental, parece ferir a racionalidade). Por outro lado, nenhum dos
Finalmente, fica-se a pensar se o Presidente dos Estados Unidos, escolhido regimes da nossa época é essencialmente tradicional, embora as democracias
candidato depois de longa campanha dentro do partido, eleito após percorrer o liberais se proclamem mais amigas da tradição do que as chamadas democracias
território nacional em todos os sentidos, de se apresentar a centenas de milhares, a socialistas - e possivelmente o sejam menos em algumas instituições. Também não
milhões de eleitores (pelo menos pela televisão), não aparecerá aos olhos da é possível usar a distinção aristotélica do um, muitos e todos para opor o regime norte-
multidão carregado de uma espécie de carisma, embora governe de acordo com a americano ao soviético. Na época do culto da personalidade, este último realizava
dupla racionalidade de uma constituição escrita e uma administração industriali- idealmente o despotismo de Montesquieu: um só governante, sem regra e sem lei.
zada, herdeira de uma tradição que inspira orgulho a todo um povo. Hoje, parece que alguns membros do Praesidium detêm o poder supremo. A
Estas observações não têm por objetivo criticar a classificação de Max Weber. essência do regime, contudo, não mudou.
Estaria antes tentado a crer que foram justamente observações deste tipo que lhe Claramente, os regimes do tipo ocidental têm duas características fundamen-
inspiraram sua classificação. Weber percebia, no Reich de Guilherme, os três tipos tais: são pluralistas e constitucionais; implicam uma competição organizada e pacífica
de legitimidade - possivelmente só dois, embora deplorasse a ausência do terceiro. entre partidos, para o exercício do poder- exercício sujeito a regras precisas, que
O domínio do imperador pertencia ao tipo tradicional. Era um domínio patriarcal garantem a multiplicidade das instâncias legislativas e jurídicas. Até o presente, os
ou patrimonial: a burocracia prussiana parecia ainda de um lado emanação da regimes do tipo soviético excluem o pluralismo partidário e o exercício constitu-
própria casa imperial: racional no seu exercício, sujeita a regras estritas no seu cional do poder. A partir dessas duas variáveis, é possível, seguindo o método de
recrutamento, guardava com relação ao passado uma atitude ao mesmo tempo de Montesquieu, determinar ao mesmo tempo a natureza e o princípio de cada um
submissão com respeito ao senhor e de autoridade a respeito dos cidadãos (muitas desses dois tipos de regime; e também, dentro de cada um deles, distinguir as
vezes tratados como súditos). Nomeados pelo imperador, os ministros pareciam diversas modalidades de constituição (no sentido jurídico do termo), de práticas
mais funcionários do que políticos: desprovidos de vontade de poder, faltava-lhes (relações entre a Assembleia e o executivo), sistemas partidários, etc.
inteiramente o carisma indispensável à liderança.
A análise que esboçamos aqui a propósito do regime dos Estados Unidos, e da Nos países em desenvolvimento a classificação dos regimes apresenta difi-
Alemanha da época do imperador Guilherme, poderia facilmente ser aplicada a culdades diferentes, devido à diversidade das suas infra-estruturas sociais. Por isso
qualquer outro regime moderno. De fato, todos os regimes das sociedades regimes políticos aparentemente semelhantes têm natureza diferente, em função
ocidentais são racionais na sua administração e, pelo menos em parte, na sua do contexto social. A Guiné, por exemplo, tem um regime de partido único, como
constituição escrita; são mais ou menos tradicionais ou carismáticos, de acordo a União Soviética: mas esses dois regimes não se assemelham mais do que,
com a antiguidade da sua constituição e o componente plebiscitário implicado digamos, duas monarquias - uma na Macedônia do IV século a.C., a outra no
pela eleição dos deputados ou do Presidente da República. século XVII da era cristã.
Resta saber se tal classificação permite - como a classificação de Montesquieu Não pretendemos, com esta breve nota, chegar a conclusões que seriam
se esforçava por permitir- a determinação das características essenciais próprias a quando menos aventurosas. Vamos limitar-nos portanto a dois comentários
um regime, ou mesmo a um tipo de regime. Quando, há alguns anos, esbocei uma metodológicos: convém distinguir as classificações dos regimes políticos das classifi-
teoria dos regimes políticos da nossa época, os três tipos de domínio não me cações dos tipos de domínio. A tipologia aristotélica, que na verdade é uma
ajudaram muito. Podemos chamar Khruschev e Kennedy, num certo sentido, de classificação de regimes, limitava-se a uma só variável porque pressupunha a infra-
chefes carismáticos? Sim, mas quando formalizado esse conceito deixa escapar as estrutura das cidades gregas. Neste sentido, só se aplicava a um certo tipo de
diferenças essenciais existentes entre um Presidente eleito regularmente pela sociedade, numa época determinada. A classificação weberiana elucida alguns
maioria dos cidadãos e um Presidente cooptado pelos colegas do Praesidium ou do aspectos de todos'os regimes, através da história, mas não permite apreender a
Comité Central.
natureza própria de um regime historicamente singular, porque não isola suas
Decidi assim usar um método mais adequado à tradição de Aristóteles e de características essenciais.
304 Estudos Políticos

Será possível superar a alternativa dos dois géneros de classificação, uma


limitada a um tipo de sociedade, a outra demasiadamente formal para autorizar a
distinção das singularidades históricas? Evitarei dar uma resposta categórica,
positiva ou negativa. Só se chegaria ao objetivo desejado, em todo caso,
combinando uma classificação das sociedades com uma classificação dos regimes,
baseando-as em mais de uma variável. Pode ser que as circunstâncias se prestassem
a uma tentativa como essa: no século XX coexistem, pela primeira vez em inter-
comunicação; sociedades históricas e sociedades industriais. E as sociedades
tecnologicamente mais avançadas têm agora o cuidado se não de salvaguardar,
pelo menos de compreender as sociedades "atrasadas".
A OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA(*)
A "objeção de consciência" consiste na recusa individual de prestar serviço
militar, em tempo de paz ou de guerra. Ela coloca um duplo problema filosófico.
Quem objeta se revolta contra a sociedade; mas, poderá justificar sua revolta?
Como? E a sociedade, deve admitir tal revolta? Em que condições?

I. A objeção de consciência não se prende a uma forma qualquer de pacifismo; não é


uma doutrina política.

É bastante comum a crítica à objeção de consciência e ao pacifismo. Uma


declaração de professores homenageia as "convicções pacifistas" dos que objetam
ao serviço militar. Invoca-se o pacto Briand-Kellogg, em que os governos
condenaram solenemente a guerra. Os cidadãos extraem as consequências lógicas
dessa decisão, e proclamam o direito que têm à paz. Como as potências
concordam em pôr a guerra fora da lei, os cidadãos se recusam a participar do
crime coletivo. Ou então se argumenta assim, de modo mais ou menos confuso:
todos reconhecem que a guerra é um crime e uma loucura. Ninguém nega as
atrocidades que um conflito na Europa provocaria. Os objetores de consciência
seguem a razão tanto quanto a moral, ao "retirar dessa condenação teórica as
conclusões práticas que implica" ( da declaração dos professores).
Esses argumentos, na aparência muito fortes, não resistem à crítica: o pacto
Briand-Kellogg admite as guerras em legítima defesa (e, na verdade, os casos
assemelháveis: defesa de interesses vitais, da honra nacional). Dir-se-á que os
cidadãos teriam pelo menos o direito de recusar a participação numa guerra
agressiva, ou de exigir que os governos provassem o caráter defensivo das
hostilidades! Contudo, será possível provar tal coisa? Além disso, quem seria
ingénuo a ponto de acreditar que os governos assinaram o pacto Briand-Kellogg
com o objetivo exclusivo de promover o antimilitarismo e fornecer argumentos
aos objetores de consciência?
Por outro lado, confundir objeção de consciência e pacifismo é aumentar
nossa insegurança. Pacifismo significa pelo menos três coisas diferentes: o horror à
guerra e um desejo de paz (A); a condenação moral da guerra (B); e a vontade

Revue de Métaphysique et de Afora/e, janeiro de 1934.

You might also like