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Espírito Conservador – III
Conservadores do Brasil
Brasil, abril de 2017
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o
fogo do Vosso Amor.
Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da
terra.
Ó Deus, que instruístes os corações dos Vossos fiéis com a luz do Espírito
Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo este mesmo
Espírito e gozemos sempre de Sua consolação.
Por Cristo, Senhor nosso
Amém
EDITORIAL

A Coleção Espírito Conservador busca contribuir ao esforço de


restabelecimento do pensamento conservador brasileiro, firmado nas crenças
e tradições do nosso povo, sem se furtar ao diálogo com as referências e
práticas de outras nações.
Diante da evidente falência moral, cultural e política da República, na
qual a hegemonia revolucionária apossou-se da academia, do meio artístico e
das comunicações, a sociedade brasileira – sujeita a convulsões e espasmos –
tem a benção de voltar a respirar o sopro de ar puro do conservadorismo.
Nesse doloroso processo de desintoxicação, a direita política ressurge
ainda confusa pelas sequelas do tempo em que dormitou perseguida,
estigmatizada, silenciada e esmagada pelas forças totalitárias do Brasil.
O avanço da restauração conservadora permitirá à nossa pátria se
contrapor e superar as forças socialistas, fascistas e positivistas; enfim, todos
os adeptos do Estado centralizador, autoritário, inimigo da liberdade e dos
anseios de nossas comunidades.
Neste terceiro volume, os autores apresentam mais quatro ensaios
inéditos, nos quais expressam suas reflexões sobre o fascinante mundo do
conservadorismo.
ÍNDICE
I. O dilema constitucional. Para os conservadores brasileiros –
defensores, por excelência, da lei e da ordem, das tradições e da paz social – é
um desafio não dispor de uma constituição nacional fundada nas melhores
crenças e tradições do seu povo. Por Marcelo Hipólito.

II. Monarquias humilham repúblicas. Aqueles que afirmam ser a


restauração monárquica a volta do retrocesso e do atraso sofrem de
ignorância ou má fé. Os dados comprovam que o IDH das monarquias
democráticas supera de modo significativo o das repúblicas. Por Reno
Martins.

III. O conservadorismo diante da mudança. São os conservadores avessos


a mudanças? Nada é mais distante da verdade. Por Marcelo Hipólito.

IV. Sobre o amor às árvores e ao próximo. Que o Espírito Santo nos


ilumine contra um destino de submissão aos rompantes da Natureza; ou ainda
que uma figueira improdutiva ou uma vara de porcos possa valer mais do que
as necessidades humanas. Por Reno Martins.

V. Autores. Breves biografias: Marcelo Hipólito e Reno Martins.


I
O dilema constitucional
Marcelo Hipólito
“Quase todas as constituições do mundo são documentos nos quais o
Estado diz aos seus cidadãos quais são seus privilégios. Nossa Constituição
é um documento pelo qual nós, o Povo, dizemos ao governo aquilo que lhe é
permitido fazer. Nós, o Povo, somos livres.”
Ronald Regan, presidente dos EUA, no período de 1981 a 1989 (TD,
2016)

“A mais linda das instituições não vale UMA alma de criança.”


Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro (CARVALHO, 2015)

O conservadorismo não é uma teoria internacionalmente uniforme.


Ao contrário do socialismo e do liberalismo, cujos pressupostos são
propalados por seus defensores como modelos aplicáveis aos mais diferentes
países e culturas, o conservadorismo é local por excelência.
Afinal, o conservadorismo nasce de um sentimento comum a todo ser
humano, o desejo natural de preservar o que lhe é mais caro. Contudo, o que
é mais caro a cada sociedade, comunidade ou grupo pode variar
enormemente. Daí, a impossibilidade de se estabelecer uma teoria unificada
do conservadorismo capaz de abarcar as mais distintas realidades
internacionais.
Alguns pontos em comum, porém, permeiam o conservadorismo no
Ocidente:
A promoção da fé judaico-cristã.
A defesa incondicional da família e da vida.
O anseio pela manutenção da paz social.
A restauração de valores e costumes atacados.
O respeito às tradições estabelecidas.
Por certo, cada nação terá sua própria visão sobre os tópicos
supramencionados e outros tantos que despertem os anseios conservadores,
conforme suas próprias tradições históricas, morais, sociais, culturais e
religiosas. Esse legado transmitido por nossos antepassados e repassado à
nossa descendência define a atuação singular de cada movimento
conservador em âmbito nacional.
Em contraste com o conservadorismo, a ação revolucionária também
influirá na evolução (ou involução) política e moral de um país.
No Brasil, desde a proclamação golpista da República, os conservadores
se acham sob a necessidade de atuarem na esfera restauradora, opondo-se aos
sucessivos movimentos revolucionários presentes na nossa cena político-
cultural: positivistas, fascistas, comunistas, socialdemocratas... Todos se
intercalando numa luta renhida pela tomada do poder central.
Rebaixado, a partir de 15 de novembro de 1889, à condição de república
ilegítima, implantada por uma quartelada revolucionária, o Brasil acha-se
acossado, desde então, ora por ditaduras populistas, ora por democracias
débeis, constantemente assombradas pelo radicalismo insidioso e subversivo.
A consequência natural desse triste fenômeno político é a sequência
lamentável de constituições nacionais frágeis e desprezíveis oferecidas à
nação, até a atual carta constitucional de 1988, dotada de tintas claramente
socialistas, promulgada, ironicamente, um ano antes da Queda do Muro de
Berlim.
Esse monstrengo legal ousou propor um limite artificial à cobrança de
taxas de juros, ampliou ainda mais o poder de Brasília, solapando qualquer
esperança de uma autonomia federativa autêntica, multiplicou direitos
desprovidos da sua devida contrapartida em obrigações e deveres, e
estabeleceu um gigantesco estado de bem estar social, impondo à sociedade
brasileira o que já se tornou consenso comum: dispomos de custos de país
nórdico para serviços públicos de padrão subsaariano.
Defensores, por excelência, da lei e da ordem, das tradições e da paz
social, os conservadores brasileiros não dispõem de uma constituição da qual
possam se orgulhar.
Se nos EUA e na Grã-Bretanha, o conservadorismo se firma na defesa
das bases constitucionais ou da Lei Comum, em nosso país, o conservador
vê-se diante de uma Carta socialista, retrógada, artificial e reacionária.
Esse é o dilema constitucional brasileiro sob a perspectiva
conservadora, gerador de uma dúvida inquietante: como superar uma
constituição problemática, de espírito revolucionário?
A resposta deve ser direta: somente se os conservadores mantiverem sua
lealdade à defesa dos valores, tradições e costumes inerentes à sociedade
brasileira, em vez de se aferrarem a uma carta disseminadora da hegemonia
política e cultural esquerdista, será possível enfrentar com clareza esse
terrível dilema.
De fato, o maior líder do petismo, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a
celebrar o colapso da direita sob a Nova República (SAVARESE, 2009),
reflexo de uma nação doente, desprovida de instituições sólidas, desde a
trágica destituição da monarquia.
Ao reafirmarem sua aliança com o povo brasileiro, os conservadores
ressaltam o compromisso central da sua causa, e não, com uma constituição
oca, à qual devem obediência formal somente por ser a alternativa de ocasião
à barbárie e desordem, inimigos maiores dessa mesma população e do
próprio conservadorismo.
Devido à sua inabalável oposição a qualquer agenda revolucionária,
subversiva ou golpista, é indispensável aos conservadores trabalharem pela
restauração de uma constituição genuinamente popular, recuperando o
espírito da carta imperial de 1824 e promovendo valores, interesses e
costumes familiares à brasilidade, consagrados nos seguintes princípios:
Respeito à família.
Deferência ao cristianismo.
Amor ao próximo.
Rejeição ao aborto.
Combate a qualquer forma de racismo.
Oposição à liberação das drogas.
Endurecimento da legislação penal.
Valorização das forças de segurança pública, especialmente das
polícias militares.
Estímulo à meritocracia.
Rejeição à ideologização radical no ambiente acadêmico.
Vedação a qualquer discurso ou ato terrorista,
independentemente de sua justificativa política ou social.
Proibição a correntes políticas totalitárias (pregadoras da
subversão social), como: nazistas, fascistas, socialistas e
comunistas.
O povo brasileiro anseia por estabilidade e paz, num ambiente seguro e
previsível em que possam criar seus filhos sob os valores cristãos dos nossos
ancestrais.
Para tanto, os conservadores devem trabalhar por uma constituição
ancorada na força da moralidade, família, trabalho, propriedade privada,
liberdade, respeito à autoridade legitimamente constituída e submissão a
Deus.
Ao buscar uma profunda reforma constitucional, a atuação
conservadora deve se pautar pelo respeito absoluto à democracia, ao Estado
de Direito, à ética e à transparência na defesa dessa nobre causa,
imprescindível ao futuro do Brasil.
Bibliografia
CARVALHO, O. d. (2015). Diário do Olavo: a quebra da hegemonia
esquerdista e a urgência em se livrar do PT. Fonte: Mídia Sem Máscara:
http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15970-2015-07-21-00-27-
21.html
SAVARESE, M. (2009). Lula diz que eleição presidencial não terá candidato
de direita. Fonte: UOL Notícias:
http://noticias.uol.com.br/politica/2009/09/16/ult5773u2493.jhtm
TD. (2016). Homenagem aos 105 anos do nascimento de Reagan. Fonte:
Tradutores de Direita: https://www.youtube.com/watch?v=uqpYSbyaMb8
II
Monarquias humilham repúblicas
Reno Martins

No Brasil, ao se ouvir a palavra monarquia, a mente do interlocutor é


imediatamente levada a um universo de fantasia despótica, onde um
mandante inquestionável oprime o povo com seus caprichos, esperando ser
derrubado pelos revolucionários do momento.
Depois do golpe republicano, em 1889, o medo fez dos nossos
“coronéis” – os novos “donos” do Brasil – diligentes promotores dos erros
verdadeiros e imaginados da Coroa, na tentativa de sublimar seus próprios
méritos inexistentes.
Após mais de um século de distorções, a imaginação do nosso povo se
encontra tão impregnada pela propaganda republicana, tão condicionada a
associar império com atraso e monarquia com opressão, que nossa gente é
incapaz de filtrar tais devaneios diante da veracidade dos fatos.
Ao erguer a cabeça para o exterior, um observador honesto é obrigado a
reconhecer a harmonia do sistema de governo monárquico com os
pressupostos da democracia e dos demais valores ocidentais.
Diante de dados oficiais das Nações Unidas, observa-se facilmente[1]:
Desde 1980, sem interrupções, mesmo representando em média
apenas 15,08% do total de países, as monarquias democráticas são
maioria entre os cinco países com maior IDH do mundo.
Desde 1980, sem interrupções, mesmo representando em média
apenas 15,08% do total de países, as monarquias democráticas são
maioria entre os dez países com maior IDH do mundo.
Desde 1980, sem interrupções, mesmo representando em média
apenas 15,08% do total de países, as monarquias democráticas são
maioria entre os quinze países com maior IDH do mundo.
Desde 1995, sem interrupções, mesmo representando apenas
15,08% do total de países, as monarquias democráticas representam
metade dos vinte países com maior IDH[2].

Desde 1980, sem interrupções, as monarquias democráticas também


apresentam um índice médio por habitante bem maior quer o das
repúblicas, em média 38,16% mais alto, tendo sido 56,91% maior
em 1980 e 28,69% maior em 2014[3].
Em relação ao Brasil, nossa republiqueta de bananas ocupa, em média, a
posição 72ª do ranking, dentre as 163 possíveis. Mesmo representando
apenas 15,08% do total de países, em média 23,12% daqueles que estão na
nossa frente são monarquias democráticas (10,10% do total). Dos países
abaixo da nossa posição, apenas 8,92% são monarquias democráticas (4,97%
do total).
Os resultados no teste de diferença de médias (teste-t) entre os valores
de IDH das monarquias democráticas e repúblicas também são extremamente
claros. O teste-t mais adequado é o homocedástico, uma vez que o teste de
variância (teste-f) para todos os anos apontou variâncias equivalentes entre os
dois grupos. Assim, com teste de hipóteses bicaudal – adotando o critério
rígido de α=0,01 – temos que as diferenças de IDH entre monarquias
democráticas e repúblicas são estatisticamente significantes para todo o
período, conforme a tabela seguinte (H0: μ1=μ2 e H1: μ1≠μ2):
Essas meras evidências deveriam cobrir de vergonha os opositores à
proposta de restauração monárquica e sua falsa propaganda que se trata de
desejo de reimplantação do retrocesso e do atraso, se realmente tivessem
algum desejo de zelar pelo brio de seu caráter. É certo que parte deles apenas
carece de melhores informações, o que não torna menos vergonhoso o fato de
falarem desprovidos do correto conhecimento. A outra parte, contudo –
menor, porém, mais estridente – é movida pelo pérfido desejo de manter e
avançar os projetos totalitários de suas ideologias nefastas, recusando-se a
enfrentar qualquer análise honesta.
A monarquia democrática representa um regime moderado que prima
pela estabilidade das instituições e pelo planejamento de longo prazo,
filtrando oportunistas, economizando recursos e favorecendo a qualidade de
vida do povo. A observação estatística do desempenho no IDH de
monarquias democráticas versus repúblicas comprova claramente a
supremacia daquelas nesse quesito.
Quem se atreve a discordar que abandone o sorriso amarelo e apresente
seus próprios dados.
III
O conservadorismo diante da mudança
Marcelo Hipólito

O conservadorismo é a linha de pensamento mais difamada da História.


Uma das mais errôneas preconcepções ao seu respeito é a falácia de que
conservadores seriam avessos a mudanças.
Nada poderia ser mais distante da verdade.
O conservadorismo abraça as mudanças benéficas à sociedade,
acolhendo-as com prudência e moderação. Sob esse espírito de temperança e
gradação, rejeita sobressaltos danosos à paz social, à vida, à moralidade, aos
valores cristãos, à segurança e à prosperidade nacionais.
Diversos regimes conservadores comandaram ou inspiraram justas
mudanças, significativas e bem-vindas no curso do desenvolvimento humano,
buscando prevenir disrupções violentas, caóticas e sangrentas.
Por aqui, tivemos a atuação diligente do Império do Brasil e do seu
poder moderador na resolução pacífica da Abolição da Escravatura (1888),
sem guerras ou banhos de sangue generalizados. Um notável contraste em
relação à outra nação de dimensões continentais – os Estados Unidos da
América – cuja contenda abolicionista mergulhou o país numa assombrosa
guerra civil (1861 a 1865).
Abraham Lincoln, presidente das forças nortistas durante a mencionada
conflagração militar, abordara o assunto ainda em 1858: "Uma casa dividida
contra si mesma não pode permanecer. Eu acredito que este governo não
pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não
espero a divisão da União – Eu não espero ver a casa cair – mas espero que
ela deixe de ser dividida. Ela terá que se tornar toda uma coisa ou outra. Ou
os adversários da escravidão irão deter a propagação da mesma, e a opinião
pública deve repousar na crença de que deva ser extinta definitivamente, ou
seus defensores irão estendê-la adiante, até que ela se torne legal em todos os
Estados, velhos ou novos – Norte como no Sul”. (LINCOLN, 1858)
E a casa realmente viria a cair poucos anos depois com muito sangue
derramado.
Os EUA perderiam cerca de 2% da sua população nesse conflito,
aproximadamente 620 mil homens. Se essa conta fosse ajustada a níveis mais
recentes do censo norte-americano, proporcionalmente teríamos cerca de 6
milhões de mortos.
A Guerra Civil dos EUA permanece como a conflagração mais
sangrenta dessa república guerreira.
Nesse contexto, o conservadorismo brasileiro provou-se um antídoto
muito mais efetivo à superação de graves impasses civilizacionais,
dispensando a inexorabilidade de recorrer a hecatombes nacionais para
solucioná-los.
“O conservadorismo é a filosofia do vínculo afetivo. Estamos
sentimentalmente ligados às coisas que amamos e que desejamos proteger
contra a decadência. Sabemos, contudo, que tais coisas não podem durar para
sempre. Enquanto isso, devemos estudar os modos pelos quais podemos
conservá-las durante todas as mudanças pelas quais devem inevitavelmente
passar, de modo que nossas vidas continuem sendo vividas em um espírito de
boa vontade e de gratidão”. (SCRUTON, 2015a, p. 53)
Destarte, por definição, a ação conservadora também funciona como
trava à agenda revolucionária, obcecada em reformar a sociedade de acordo
com sua respectiva tara ideológica.
O conservador rejeita o niilismo dos radicais, defendendo as conquistas
arduamente erigidas por nossos antepassados e desfrutadas pela nossa
sociedade no presente, tornando um dever sagrado da atual geração a
preservação desse legado àqueles que ainda virão a nascer.
Para o conservador, portanto, inexiste permissão aos viventes para
desfigurarem a sociedade segundo os modismos e preconceitos do seu tempo,
desprezando a herança dos seus antecessores e arriscando o futuro dos seus
descendentes. Afinal, nem as gerações passadas, nem as futuras, têm como
opinar nos eventuais desmandos e irresponsabilidades que porventura a
geração atual venha a praticar.
Dessa forma, o conservadorismo atua como uma força de contenção aos
potenciais radicalismos dos viventes, buscando, quando possível, também a
restauração do que de vital tenha se perdido na passagem de uma geração a
outra, afirmando-se como um guardião da ordem social estabelecida, ao
mesmo tempo em que a resguarda para o futuro.
Por viver com a cabeça firmemente ancorada no presente, o
conservador rejeita o ideário revolucionário, voltado à transformação do
familiar em nome de uma utopia. A paixão conservadora volta-se à
preservação das tradições e costumes transmitidos por nossos antepassados,
exatamente por ser um legado da nossa família, a quem amamos acima de
tudo, exceto Deus, cujo amor é incondicional, supremo.
O conservador reconhece a realidade como imperfeita, porém, estima-a,
a despeito dessas deficiências, ou até por causa delas. Da mesma forma que
um cristão é capaz de amar o pecador, apesar de condenar o pecado.
A atitude política do conservadorismo jamais será a de uma simples
oposição à mudança. Contudo, refletirá uma forte opção pela salvaguarda do
que amamos.
“Ser Conservador, portanto, é preferir o familiar ao desconhecido,
preferir o experimentado ao não experimentado, o fato ao mistério, o real ao
possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao
superabundante, o conveniente ao perfeito, um presente alegre a uma
felicidade utópica”. (OAKESHOTT, 1991, p. 408)
A atitude conservadora leva a um natural apego ao modo de vida “em
que as pessoas se sentem confortáveis”, logo a mudança desprezada pelo
conservador “não é tanto a mudança em si mesma, mas a mudança que é
desenhada do exterior dos modos de vida, a partir de premissas exteriores a
esses modos de vida. Em contrapartida, ele reconhece que todo o modo de
vida é um diálogo entre passado, presente e futuro, estando, por isso, sujeito a
permanentes adaptações”. (ESPADA, 2008, p. 67)
Para um conservador, “essas adaptações não decorrem de um plano
exterior, mas de um impulso interior: o impulso para tornar o nosso modo de
vida mais confortável ou conveniente, mais agradável. Quando apreciamos
uma casa vivida, e sentimos que ela é mais acolhedora do que uma casa
decorada por um decorador, estamos a subscrever o olhar oakeshottiano: a
casa vivida não é mais acolhedora por estar imune às mudanças; ela tornou-se
mais acolhedora precisamente em resultado de pequenas mudanças que foram
sendo gradualmente adotadas pelos seus moradores com o propósito de
usufruir da casa de modo mais confortável ou conveniente, mais agradável”.
(ESPADA, 2008, p. 67)
Em suma, a perspectiva conservadora “é o ponto de equilíbrio contra os
excessos que corrompem a autoridade, o dever, a justiça, a religião, a virtude,
a prudência, a verdade e, claro, a liberdade” (SCRUTON, 2015b, p. 20),
agindo, portanto, como uma força moderadora, ponderada e civilizatória, em
oposição aos potenciais excessos da sociedade, impulsionados,
constantemente, por seus extremos: de um lado, a tirania desumana; do outro,
a liberdade inconsequente.
Uma sociedade evoluída se atém à boa mudança. Prudente, moral, ciosa
das suas responsabilidades intergeracionais. Para tanto, deve se provar
resistente à desconstrução transformadora pretendida pelos movimentos
revolucionários.
Somente uma nação tradicionalista, dotada de uma compreensão clara e
vital da necessidade de preservação dos seus valores e costumes, sobrevive
ao ataque incessante, sinuoso e devastador dos radicais e de suas agendas
políticas subversivas.
Bibliografia
ESPADA, J. C. (2008). A Tradição Anglo-Americana da Liberdade. Cascais:
Princípia.
LINCOLN, A. (1858). House Divided Speech. Fonte: Abraham Lincoln
Online: http://www.abrahamlincolnonline.org/lincoln/speeches/house.htm
OAKESHOTT, M. (1991). "On Being Conservative", in Rationalism in
Politics and Other Essays. Indianápolis: Liberty Fund.
SCRUTON, R. (2015a). Como ser um conservador. Rio de Janeiro: Record.
SCRUTON, R. (2015b). O que é conservadorismo. São Paulo: É Realizações.
IV
Sobre o amor às árvores e ao próximo
Reno Martins

Ensina a tradição cristã que, ao criar o mundo, Deus pôs o homem no


Éden. Lá, enganado pela Serpente, o gênero humano, tentado a se igualar ao
próprio Todo-Poderoso, desobedeceu a uma interdição expressa, afastando-se
da graça do Criador e conhecendo o Mal. A consequência, até hoje sentida,
foi a Queda – a quebra da Primeira Aliança, que somente seria restaurada,
conforme a Promessa Divina, pelo filho unigênito de Deus, NS Jesus Cristo.
Desde a Queda, o mundo e suas inesgotáveis maravilhas restam apenas
como fragmentos do Paraíso. Nada da terra pode ser extraído sem esforço e
trabalho; não há vida fácil, isenta de privações e dificuldades. A ideia de a
vida mundana prosperar num paraíso, onde o mel escorra das flores, a sujeira
lave-se sozinha e os mosquitos não mordam, é um mero eco de antes da
Queda.
Sucumbe a essa ilusão apenas a criança superprotegida por pais zelosos,
ou seu análogo adulto: o homem-massa de Ortega y Gasset, incapaz de
compreender o funcionamento complexo do mundo civilizado, avaliando as
coisas como se parte delas simplesmente não existisse[4].
Essa é a mentalidade, por exemplo, dos hippies que cantam as benesses
da vida bucólica, acusando a suposta agressão do homem à natureza,
pregando a harmonia e energização com a “Mãe Terra”, enquanto desfrutam
de “sanduíches naturais”, feitos com pão de forma e atum enlatado,
imaginando ter o planeta simplesmente “cuspido” por si só esses produtos das
suas estranhas, em forma industrial, direto às gôndolas dos
supermercados.
Nas palavras de Chesterton: como mãe, a natureza seria, de fato, uma
dura madrasta. Natureza não é mãe, mas sim, irmã:
“O ponto principal do cristianismo era este: que a natureza não é a
nossa mãe: a natureza é nossa irmã. Podemos sentir orgulho de sua
beleza, uma vez que temos o mesmo Pai... A natureza foi mãe solene
para os adoradores de Isis e Cibele. Foi mãe solene para Wordsworth
ou para Emerson. Mas a natureza não é solene para Francisco de
Assis ou para George Herbert. Para São Francisco de Assis ela é
irmã, até mesmo uma irmã menor: uma irmãzinha que dança, de quem
se ri e a quem se ama” [5].
A natureza é nossa irmã.
Nisso, é deslumbrante, amável, maravilhosa e digna de toda admiração
e cuidado. Esse zelo, contudo, não significa inviolabilidade. Desde o
princípio, fomos instruídos a usufruir, sem remorso, dos frutos do mundo
físico:
“O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para
cultivá-lo e guardá-lo. Deu-lhe este preceito: Podes comer do fruto de
todas as árvores do jardim.” (Gn 2:15-16)
Deus fez o homem à Sua imagem e semelhança para que “ele reine
sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos
e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra”
(Gn 1:26).
Apesar de o homem não ser feito para o mundo – pois o Reino do
Senhor, destinado ao homem, não é deste mundo (Jo 18:36) –, o mundo foi
feito para o homem.
Após a Queda e ao fim do Dilúvio, nossa preponderância sobre o resto
da Criação se viu reforçada, nas palavras de Deus a Noé:
“Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo animal da terra,
toda ave do céu, tudo o que se arrasta sobre o solo e todos os peixes
do mar: eles vos são entregues em mão. Tudo o que se move e vive vos
servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva verde.”
(Gn 9:1-3)
Somos o motivo da existência do mundo, a finalidade da própria
Criação.
Nessa afirmação, não há prepotência ou soberba, somente a justa
declaração da verdade.
Amamos a natureza por ser obra de nosso Pai, devemos desfrutá-la com
o respeito devido e a liberdade filial de quem recebe inestimável presente.
Contudo, o valor de um presente virtuoso nunca é maior do que o de quem o
recebe.
Pululam, nesses nossos tristes tempos, iniciativas voltadas à preservação
de “ecossistemas” e “biomas”, em prol da “sustentabilidade” do que chamam,
não sem razão, de “casa comum”.
Essas iniciativas povoam panfletos apocalípticos da Nova Era,
programas da Nova Ordem Globalista e até campanhas da Santa Igreja. É
preciso prudência para separar o joio do trigo, pois o Inimigo é engenhoso em
semear discórdia e confusão.
Sob o disfarce de pretensos alertas ambientalistas, acham-se versões
recauchutadas de Gaia, Isis ou Cibele, que apregoam a subordinação do
homem à natureza e ao mundo – em detrimento da fé em Cristo.
Das várias passagens da vida de NS, relembro três, em especial, nas
quais Ele lida diretamente com o tópico da Criação.
Na primeira, diante do temor dos discípulos perante uma violenta
tempestade, repreende-os pelo seu medo e falta de fé, antes de acalmar a
natureza (Mc 4:35-41, Lc 8:22-25 e Mt 8:23-27). Na segunda, irritado ao
encontrar uma figueira que não produz frutos, NS a amaldiçoa, fazendo-a
secar e morrer (Mc 11:12-25 e Mt 21:18-22). Na terceira, NS livra homens
atormentados por demônios, metendo seus espíritos provocadores e malignos
em porcos, os quais acabam precipitando-se num despenhadeiro (Mc 5:1-20,
Lc 8:26-39 e Mt 8:28-34).
Que o Espírito Santo ilumine nossos sacerdotes, que Deus os abençoe e
conduza sempre; e que tomem cuidados a não induzir o rebanho a se
submeter aos rompantes da natureza; ou ainda que uma figueira improdutiva
ou uma vara de porcos possa valer mais do que as necessidades do homem ou
o amor ao próximo.
V
Autores

Marcelo Hipólito é um escritor brasileiro,


nascido em São Paulo. Residente em Brasília, pai de dois filhos, é autor de
três romances diversos contos, sendo coautor de diversos contos publicados
em língua inglesa, nos EUA, Reino Unido e Espanha, tendo um deles sido
indicado para melhor conto nos EUA, em 2003. Também realiza palestras em
eventos, foi diretor de três filmes de curta-metragem de ficção, roteirista de
cinema e produtor de teatro. Integra o Instituto Conservador de Brasília.
Reno Martins, nascido no Rio Grande do
Norte, é católico, mestre em economia e professor. Casado, pai de dois filhos
e chefe escoteiro, Reno desenvolve estudos nas áreas de filosofia politica e
religião, com especial atenção para guerra cultural e tradição cristã no Brasil.
Além disso, dedica-se à prosa poética e assuntos pouco usuais, tais como
ufologia e alquimia.
[1]
São consideradas “monarquias democráticas” aquelas que respondem a um monarca, mas realizam eleições para
membros do Poder Legislativo. O total de monarquias, democráticas e absolutas, entre os países soma 22,87%. O
universo da amostra é o total de países com IDH calculado, conforme o Human Development Reports da United
Nations Development Programme <http://hdr.undp.org/en/data#>. Acesso em 10 de fevereiro de 2017. Foram
classificadas como monarquias democráticas Andorra, Antígua e Barbuda, Austrália, Barbados, Bélgica, Belize,
Camboja, Canadá, Dinamarca, Espanha, Granada, Holanda, Ilhas Salomão, Jamaica, Japão, Lesoto, Liechtenstein,
Luxemburgo, Malásia, Noruega, Nova Guiné, Nova Zelândia, Reino Unido, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, São
Vicente e Granadinas, Suazilândia, Suécia e Tonga. Foram classificadas como monarquias absolutas Bahamas,
Bahrein, Catar, Emirados Árabes, Kuwait, Omã e Tailândia. Todos os demais países foram classificados como
repúblicas.
[2]
Idem.
[3] Idem. A população por país é a estimada pela Population Division da United Nations
<https://esa.un.org/unpd/wpp/Download/Standard/Population/>. Acesso em 12 de fevereiro de 2017.

[4]
José Ortega Y Gasset, A Rebelião das Massas. Editora: Ibero-Americano, 1959.

[5]
G. K. Chesterton, Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. pp. 119-120.

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