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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA TÓPICOS ESPECIAIS EM SOCIOLOGIA I – 6º PERÍODO
PROFESSORA: EURENICE OLIVEIRA DE LIMA
ALUNO: RUY CAVALCANTE DE OLIVEIRA SOBRINHO

28.11.2017

Fichamento do texto “Salário, preço e lucro”, de Karl Marx.

Referência bibliográfica:
ANTUNES, Ricardo (Org). A dialética do trabalho. São Paulo: Expressão Popular, 2013, p. 59-100.

 Durante um pronunciamento nos dias 20 e 27 de junho de 1865, Marx profere,


nas sessões do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores,
esse texto, que de certa forma é um resumo das análises econômico-políticas de
O Capital.

 A partir da seção VI (As seções de I a IV foram suprimidas nesta publicação),


Marx entra na discussão sobre o valor.

 É, assim, uma questão importantíssima saber, como se determina o valor de uma


mercadoria, para em seguida determinar como se forma o valor dessa
mercadoria específica que é a força de trabalho.

 O primeiro aspecto, mais visível, do valor da mercadoria é seu caráter relativo:


ele se mede por sua relação com os outros valores.

 É que há proporcionalidade entre os valores das mercadorias.

 A questão é qual é a base dessas proporções de valores.

 Relembremos: as mercadorias têm valor de troca e valor de uso.

 Os valores de troca das mercadorias são funções sociais delas; não constituem
sua natureza.

 Mas o trabalho humano está ligado a essa natureza: ele extrai desta algo que lhe
serve como valor de uso, e que a própria natureza não lhe ofereceu de mão
beijada.

 Na relação com a natureza, o homem pode produzir um produto que para si tem
um certo valor (de uso).

 Neste caso, temos não apenas trabalho humano, mas trabalho social.

 O trabalho social é aquele que produz valores de troca.


 O trabalho é portanto a substância social das mercadorias.

 Toda mercadoria será, assim, trabalho social cristalizado (ou objetivado, como
Marx escreverá no Capital).

 Logo, a substância de todo valor é o trabalho; só o trabalho gera valor, como


dissera Smith e Ricardo.

 Se o valor de troca das mercadorias tem como base o trabalho (que é a


substância social delas), como as mercadorias se diferenciam e, portanto, como
variam os seus preços?

 Apenas pela quantidade de trabalho nelas cristalizado.

 Mas como se distinguem as próprias quantidades de trabalho envolvidas na


produção das mercadorias?

 Pelo tempo, pela duração.

 Mas Marx falará em tempo médio de trabalho, que é o tempo socialmente


necessário de produção.

 Observação: dado esse trabalho médio, o “preguiçoso” e o “lerdo” não fazem


aumentar o valor da mercadoria.

 Para cima, o valor da mercadoria “força de trabalho” varia até o ponto do valor
da mercadoria produzida por ele – acima disso é impossível.

 O valor do produto do trabalho limita, assim, o valor dos salários.

 Contudo, não é só o valor do trabalho que é incorporado ao valor do seu


produto: entram também os meios de produção e o trabalho neles incorporados,
como dissera Ricardo.

 Trabalho humano e meios de produção constituem, portanto, o trabalho


socialmente necessário para a produção de uma mercadoria.

 Como variam, assim, os valores das mercadorias? Marx responde:

o “Então, se a quantidade de trabalho socialmente necessário, incorporada


nas mercadorias, é o que determina o valor de troca destas mercadorias,
ao aumentar a quantidade de trabalho exigida para produzir uma
mercadoria, aumenta necessariamente o seu valor; e, vice-versa,
diminuindo aquela, baixa este” (p. 65).

 Mas como variam essas quantidades de trabalho socialmente necessários?

 Pelo desenvolvimento das forças produtivas (e aqui é preciso lembrar que a


tendência é sempre a diminuição do tempo de trabalho necessário).
 Com isso, variam os preços, que são a expressão (nominal, dizia Smith) do
valor numa dada moeda.

 E é claro que os preços podem variar acima do valor real da mercadoria, ou


abaixo dele – Marx, seguindo Smith, não o nega.

 Contudo, ainda seguindo Smith, Marx defende a ideia de que os preços variam
em torno do valor real das mercadorias, tendendo sempre para ele, como se este
valor real fosse o centro de gravidade dos preços do mercado.

 É por isso que a origem do lucro não está na venda da mercadoria acima do seu
valor real.

 Na média, o valores reais se realizam no mercado.

 Como, então, explicar o lucro?

 Não será por acaso que, aqui, Marx recorre primeiro à análise da força de
trabalho (seção VII, p. 70 a 73).

 É preciso se perguntar: qual o valor do trabalho?

 Pois o trabalho, como se sabe, é uma mercadoria como outra qualquer, para o
capitalismo.

 Como então se determina o valor de troca dessa mercadoria?

 Primeiro ponto: não se vende o trabalho, mas a força de trabalho – e por tempo
limitado (per tempore).

 Ocorre que o fato mesmo da venda da força de trabalho é um evento social e


historicamente determinado.

 Não caiu do céu, nem foi por vontade livre que os trabalhadores se puseram a
vender sua força de trabalho.

 Ele é antes um fato que está ligado ao processo histórico de acumulação


primitiva de capital, à qual Marx sugere chamarmos de “expropriação originária
dos meios de produção” – produção da vida, da existência, e sua reprodução.

 Esse processo é correlato do desenvolvimento da propriedade privada dos meios


de produção.

 Marx responde, enfim, como se determina o valor da força de trabalho.

 Contudo, o segredo do Capital está na realização do valor de uso da mercadoria


força de trabalho.
 Enquanto mercadoria, seu valor de troca se realiza como de toda e qualquer
mercadoria.

 Mas enquanto é usada pelo capitalista, que a compra por tempo determinado, a
força de trabalho faz o que nenhum outra mercadoria faz: ela produz valor.

 E todo o segredo está na produção desse valor:

 Pois o capitalista usa de tal forma a força de trabalho, que faz com que o
trabalhador não produza apenas o valor equivalente aos bens necessários à sua
vida e reprodução, mas sim um valor maior.

 …um mais-valor, um mais-produto.

 De que forma? Pelo tempo de uso da força de trabalho.

 Se, em 6h o trabalhador é capaz de produzir um equivalente ao que é necessário


para ele viver, o capitalista o paga por isto, mas o operário deve trabalhar 7, 8, 9,
10h etc.

 O paradoxo: o trabalhador recebe o valor real pela troca da única mercadoria que
tem, a força de trabalho!

 Só que trabalha mais tempo, para realizar este valor, do que o que é realmente
necessário para realizá-lo.

 Assim, no capitalismo, nem todo trabalho é trabalho pago.

 O valor das mercadorias produzida durante esse tempo não pago constituirá a
mais-valia, que é a origem do lucro.

 Assim, o conflito entre o capital e o trabalho é intrínseco ao sistema produtivo:


não depende da vontade deste ou daquele sujeito.

 Estamos numa iron cage, diria Max Weber.

 E, no entanto, não parece que estamos numa caverna.

 O conflito intrínseco entre capital e trabalho não aparece, como tal, ao


trabalhador.

 Marx sugere que somos tão servos quanto o eram os camponeses medievais, que
também trabalhavam por um tempo não pago pelo senhor das terras.

 Mas também sugere que, em certo sentido, somos ainda menos livres que o
camponês medieval.

o Porque para este estava claro o tempo de trabalho que dedicava


exclusivamente ao senhor, enquanto no sistema capitalista tudo parece
camuflado, escondido, velado, já que o proletário trabalha durante uma
mesma e única jornada para si e para o outro, recebendo pelo trabalho
realizado para si, mas não pelo trabalho realizado para o outro (ver p.
76).

 No capitalismo, a relação social essencial é a que se dá entre o capitalista e o


operário produtor de mercadorias.

 É aí que se origina o lucro; é no trabalho produtivo que se assenta todo o sistema


 Por isso mesmo, quanto maior o salário, menor o lucro, como dizia Ricardo
 Pois o mais-produto, fruto daquele mais trabalho não pago, só pode ser dividido
entre os dois.

 Note-se: ainda que a mais-valia seja divida para pagar juros e renda da terra (p.
78 e 79).

 Na extração dessa mais-valia, o capitalista procurará sempre elevar a jornada de


trabalho, para além dos limites racionalmente aceitáveis.

 E uma forma de fazer isso, quando a legislação impede de aumentar a jornada de


trabalho, é intensificar o trabalho, condensando uma maior produtividade num
mesmo período de tempo.

 Donde um maior conflito entre o capital e o trabalho.

 O valor desses meios de subsistência indispensáveis constitui, portanto, o limite


mínimo do valor do trabalho. Por outro lado, a extensão da jornada de trabalho
também tem seus limites máximos, se bem que sejam muito elásticos (p. 93).

 A luta por aumento de salário é, portanto, muito importante, mas ela não altera o
essencial do jogo:

o É na verdade uma luta para não ver os salários abaixo do seu valor
“racional”.

 Na velha Europa, qual foi a reação mais ou menos imediata às conquistas


salariais dos operários?

 Um aumento da presença do capital fixo (sobretudo máquinas) na composição


do capital global.

 Mas a presença maior do capital fixo sob a forma de maquinário traz uma
consequência de monta para o sistema capitalista e para os trabalhadores:

1. A acumulação de capital aumenta.

2. Mas a demanda por trabalho torna cada vez menor, proporcionalmente.

 Eis aqui um problema estrutural do capitalismo atual.

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