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r O M A N o
Módulo 1
Introdução, Conceitos Básicos
e Preceitos; Divisão e Fontes
do Direito Romano
Sumário
Módulo 1
Módulo 1
Introdução,
Conceitos Básicos e
Preceitos; Divisão e
Fontes do Direito
Romano
Apresentação da Disciplina 4
Direito Romano 7
1.5 Conceitos Básicos e Preceitos
do Direito Romano 12
Qual o significado de se estudar o Direito Romano nos dias de hoje, se temos um doutrina jurídica
construída e adequada à sociedade contemporânea? Qual a justificativa prática desse estudo para os
acadêmicos e profissionais do Direito da atualidade? No momento de selecionar as disciplinas optativas
do curso de Direito, talvez essas questões se apresentem à mente do estudante, ao programar a sua
matrícula semestral. É isso que iremos tentar esclarecer nesse primeiro tópico do nosso estudo.
Em verdade, o Direito Romano deixou de ter validade formal a partir da queda do Império Romano
do Oriente, em 1453, portanto, no início da Era Moderna. Apesar disto, há motivos de sobra para que o
seu estudo continue no meio acadêmico, por razões históricas e teóricas.
Com efeito, após a queda do Império Romano, mesmo não estando mais submetidos ao seu domínio,
os povos europeus, então dominados pelos bárbaros, continuaram a adotar as mesmas regras romanas, pelo
simples fato de que eles não possuíam conteúdos jurídicos suficientes e capazes de substituírem os conceitos
e práticas romanas. Esse fato é constatado através das Leis Romanas Bárbaras, que eram adotadas na Europa
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MÓDULO 1
desde a Idade Média nos territórios antes ocupados pelo Império. No final dessa era e durante a Idade Moderna,
foi utilizado de forma maciça nos territórios europeus e do Oriente Próximo o Código de Justiniano (Corpus
Juris Civilis), através dos ensinamentos dos Glosadores e Comentadores de Bolonha. Estes ensinamentos
formaram uma base jurídica comum europeia, que foi aproveitada na compilação das legislações das nações
modernas, sendo um exemplo disso as conhecidas Ordenações Portuguesas.
Esta breve exposição, que será retomada e ampliada no decorrer do nosso estudo, deve ser suficiente
para convencer o estudante de que fez uma escolha acertada ao incluir a matéria de Direito Romano
na sua preferência de matrícula. Quem estuda o Direito Romano assimila com mais propriedade os
ensinamentos de todas as demais matérias jurídicas do curso.
Para que você compreenda melhor este estudo, conheça a seguir o objetivo que foi definido para
este módulo:
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1. IMPORTÂNCIA, EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITOS BÁSICOS
Há duas formas distintas de compreender o estudo do Direito Romano. A primeira trata-se de uma
concepção ampla e a outra é uma visão restrita. Entenda:
Concepção restrita
É um conjunto de normas, procedimentos e costumes
elaborados pelos romanos que foi aplicado em
Roma e em quase toda a Europa antiga e
no Oriente Próximo e Médio até a morte do
imperador Justiniano (565 d.C.).
Concepção ampla
No sentido amplo, foi o Direito produzido
em Roma durante as diversas fases de sua vida
política, cuja aplicação atravessou a antiguidade
e a Idade Média, atingindo os tempos modernos, até o século XVIII, com a duração de 26 séculos, desde a
fundação de Roma (753 a.C.) até a promulgação do Código Civil Francês por Napoleão Bonaparte em
1804. Ainda hoje serve como fonte de inspiração para os estudiosos do Direito em todo o mundo.
illustratio
dica
Qual a serventia do estudo do Direito Romano? Os vieses histórico,
científico e acadêmico explicam o porquê de aprofundar o
conhecimento dessa disciplina. Acompanhe a seguir:
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MÓDULO 1
Duas fases evolutivas do Direito Romano são consideradas: a Fase de Produção (do século VIII
a.C. até a época do Imperador Justiniano no século VI d.C.) e a Fase de Recepção, também conhecida
como aculturação mundial (desde a criação da república de Roma até a promulgação do Código Civil
Francês – Código Napoleônico).
## Fase da Produção: Inicia-se com a fundação da cidade (753 a.C.) até a morte de
Justiniano (565 d.C.). Segundo o Riccobono (1975), poderia ser dito que Roma
criou duas vezes o seu Direito: a primeira vez era um Direito brutal, rudimentar e
rigoroso que possuía características primitivas, com elementos nitidamente bárbaros,
cujo ponto culminante foi a Lei das XII Tábuas, elaborada em princípios do século
V a.C.; a segunda vez quando o reelaborou depois das Guerras Púnicas, a partir do
século VI a.C., levando aquele Direito tosco e primitivo a ser lentamente aperfeiçoado
e enriquecido, de acordo com a expansão política de Roma e o desenvolvimento do
comércio no vasto território do seu império.
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direito romano
sobre o rigoroso formalismo dos Quirites, denominação equivalente a cidadão
romano. Depois do imperador Constantino, quando foi decretada a liberdade
religiosa (313 d.C.), passou a receber forte influência da ética cristã, instalando-
se progressivamente em outras regiões da Europa e da Ásia, mantendo-se mesmo
após a derrota final do Império Romano, prevalecendo através das lições dos
Glosadores medievais até a época da Revolução Francesa.
NOTIO PERMAGNA
importante
É importante notar que toda a vida romana e notadamente o seu
Direito foram diretamente marcados pelo sentimento religioso do
seu povo. Por conta disso, a religião foi a base da constituição da
sua sociedade e o fundamento do seu ordenamento jurídico. Não se
tratava de uma religião como as que conhecemos modernamente,
e sim de uma religião ainda animista, fundada na crença de que
existiam muitos deuses que governavam as vidas das pessoas e
deviam ser homenageados com sacrifícios de animais.
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MÓDULO 1
illustratio
dica
Nesse contexto de leis orais, os sacerdotes eram também responsáveis
pela custódia das normas, cabendo-lhes ainda interpretá-las, sendo
eles os primeiros intérpretes do Direito Romano.
b) Período da República
Com a extinção da realeza, foi instituída a república, que marcou também o início das leis
escritas. O Direito Romano escrito surgiu em consequência de um levante político por parte dos
plebeus (habitantes de Roma que não tinham a cidadania romana). Estes reclamavam que, embora
sendo a população mais numerosa, não participavam da sua votação. Além disso, as leis não atendiam
os seus interesses, pois não sendo escritas, mas transmitidas só oralmente, a sua aplicação era facilmente
distorcida pelos intérpretes, no interesse da classe dominante, ficando eles plebeus sempre prejudicados.
CURIOsitas
curiosidade
Prevalecendo-se do fato de serem a maioria populacional e cansados
da exploração dos patrícios, os plebeus retiraram-se da cidade, indo
concentrar-se no monte Aventino (471 a.C.)2. A sua ausência
repercutia negativamente na vida dos patrícios, pois faltavam operários, artesãos,
trabalhadores do comércio e da agricultura, o que causou transtornos à elite romana.
Foram então enviados mensageiros para negociarem com os plebeus o seu retorno à
cidade, aos que eles impuseram algumas exigências.
1 Conforme relata Cícero, as primeiras leis romanas tinham um conteúdo marcadamente religioso. Sua
formulação era desse tipo: “que ninguém se aproxime dos deuses senão com mãos puras; que se cuide dos
templos dos pais e da morada dos lares domésticos, que os sacerdotes somente empreguem nos repastos as
iguarias prescritas; que se preste aos manes o culto que lhes é devido.” (Cícero, De Legibus, 2, 19)
2 Em 494 a.C., os plebeus já haviam se retirado da cidade, em protesto contra os privilégios dos patrícios,
indo para o monte Sagrado. Nas negociações para o retorno, conseguiram a criação dos tribunos da plebe.
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direito romano
Numa espécie de greve anterior, os plebeus haviam conseguido a criação do Tribuno da Plebe,
que era o representante dos plebeus no Senado, com poder de veto das leis. Nesta segunda vez, exigiram
que as leis passassem a ser escritas e que tivessem maior participação nas decisões políticas. Foi-
lhes assegurado então o direito de votação das leis num grande conselho, chamado de concilia plebis
(plebiscito), que tinha o mesmo poder dos Comícios (assembleia dos patrícios ou cidadãos romanos).
Foi então escolhida uma comissão de dez representantes (decemviros), sendo cinco patrícios
e cinco plebeus, sob a chefia de Ápio Cláudio, o qual teria viajado à Grécia a fim de conhecer a
democracia grega e as leis de Sólon, o grande legislador de Atenas. Inspiraram-se ainda no Código
de Hamurábi, uma legislação muito conhecida no mundo grego e que existia desde mil anos antes
na Babilônia. Provavelmente, também se inspiraram no Direito Hebraico, constante na Torá dos
judeus, conhecida através do Decálogo de Moisés. Assim, foi redigida a Lei das XII Tábuas,
primeira lei escrita, entre os anos 451 e 449 a.C.
NOTIO PERMAGNA
importante
Na verdade, houve duas comissões. A primeira redigiu dez leis e a
segunda mais duas. A partir de então, embora ainda existissem
muitos costumes transmitidos somente por via oral, as leis passaram
a ser escritas e públicas. As tábuas da lei ficavam expostas no fórum
romano no centro da cidade, acessíveis a todo o povo. Não podem ser
consideradas ‘leis’ no sentido moderno do termo. Trata-se, na verdade, da colocação
por escrito de costumes tradicionais, de leis régias antigas e do aproveitamento de
algumas normas gregas, em linguagem compreensível por todos.
O conteúdo das XII tábuas era mais evoluído na parte que hoje chamamos Direito
Privado, mas instituiu também o processo penal e dispôs sobre penas a serem
aplicadas nos casos concretos. As XII tábuas são consideradas o grande ícone do
Direito Romano, de modo que toda a tradição jurídica romana gira em torno delas.
Não se sabe com precisão em que material foram gravadas nem o seu texto exato. Consta que
foram escritas inicialmente em tábuas de carvalho e depois gravadas em placas de bronze. As tábuas de
madeira teriam sido destruídas num incêndio ocorrido durante a invasão dos gauleses, no início do século
IV a.C., e o texto foi recuperado pelo que os intérpretes sabiam de cor, de modo que algumas tábuas
ficaram incompletas. Eram normas ainda muito rígidas, que na época da república, com a expansão do
império, foram ganhando características mais brandas e universais.
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MÓDULO 1
Outros textos jurídicos dessa época são os editos dos Magistrados, que tinham força de lei,
embora não fossem votados nas comitia nem aprovados no Senado, os senatusconsultos e as respostas
dos jurisconsultos (responsa prudentium), constituindo estas o direito pretoriano (ius honorarium), que
é considerado a evolução do jus civile. Havia ainda os plebiscitos, resultados das decisões das concilia
plebis sobre uma proposta formulada por um tribuno plebeu, os quais passaram a ter o status de leis
válidas para todos.
Senatusconsultos eram deter-
minações oriundas do Senado,
c) Período do Império com força de lei.
A primeira fase do Império Romano tem o nome de Principado. Responsa prudentium eram con-
sultas escritas dadas pelos juris-
O imperador dividia o poder com o senado e a produção do Direito prudentes, a pedido dos cidadãos,
seguia o mesmo esquema da fase republicana. A partir do ano 285 sobre diversos temas na área do
Direito, de acordo com as situações
d.C., inicia segunda fase do império, chamada de Dominado, cuja concretas em análise.
fonte primordial e única do direito é representada pelas constituições Constituições imperiais eram
ordens gerais baixadas direta-
imperiais e pelos rescritos3 imperiais, ordens singulares destinadas mente pelos imperadores e não tem
nenhuma relação com o conceito
à solução de casos concretos, que se tornavam paradigmas de caráter moderno de constituição.
geral. Com isso, o prestígio da jurisprudência entrou em declínio. O códice de Justiniano teve a re-
dação final publicada em 529. Com-
punha-se de Codex, Institutiones e
Para maior conhecimento dos jurisconsultos e mais Digesto e tomou o lugar dos três
códices precedentes (Gregoriano,
eficiente aplicação pelos magistrados, essas normas passaram Hemogeniano e Teodosiano).
a ser reunidas em códices4, codificações jurídicas que foram O códice de Teodósio era organi-
realizadas inicialmente por particulares e depois por ordem dos zado em 16 livros, surgiu em 15
de fevereiro de 438, passando a
imperadores. A primeira codificação é conhecida como Código vigorar a partir do início do ano
seguinte em todo o território im-
Gregoriano, no século III d.C., elaborado pelo jurisconsulto perial. Vigeu por um século e mes-
mo depois suas normas influenci-
Gregório. Depois deste, veio o código Hermogeniano, compilado aram a formação legislativa em
diversas outras partes do mundo.
pelo jurisconsulto do mesmo nome. Desses códices, chegaram Trazia as constituições imperiais
até nós apenas fragmentos5. a partir de Constantino.
Vieram a seguir os códices mais importantes, expedidos pelos imperadores: o Código de Teodósio
e o Código de Justiniano, sendo este último o mais importante de todo o Direito Romano. Com o
Código de Justiniano encerrou-se a produção histórica do Direito Romano.
3 Quem se julgava prejudicado em algum direito, dava início a um litígio dirigindo ao imperador um libellus ou
uma supplicatio ou preces expondo-lhe o assunto. O imperador dava uma resposta escrita – rescriptum – que
às vezes tinha um efeito imediatamente decisório (decretum). Outras vezes vinculava o juiz, sempre que não
estivesse em contradição com os fatos ou com o direito vigente.
4 Estas codificações eram muito importantes para o trabalho dos juízes que, na maioria das vezes, não tinham
formação jurídica, uma vez que a magistratura era um cargo político. Daí a importância da atividade dos
jurisconsultos nesse período.
5 Outros Códices particulares são Fragmenta Vaticana, Collatio legum mosaicarum et romanorum, Consultatio
veteris cuiusdam jurisconsulti.
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direito romano
1.5 CONCEITOS BÁSICOS E PRECEITOS DO DIREITO ROMANO
a) Conceitos
## JUS
Palavra de origem incerta, atribuída provavelmente à raiz no sânscrito iaus, registrada no
livro dos Vedas com o sentido de felicidade. Inicialmente, visto que em Roma não havia distinção
entre a norma religiosa e a norma civil, porque o rei era chefe civil e religioso, a palavra jus
era usada em ambos os sentidos (religioso e civil). Depois, a palavra jus se profanizou, ou seja,
deixou de referir-se aos preceitos religiosos, passando a ser
O dicionário latino registra fas no
usada apenas no sentido civil. Foi então a palavra fas (direito sentido de permissão divina, ordem
divina, direito divino em primeira
divino) adotada para as normas com o sentido próprio da acepção. Num segundo sentido,
religião. De todo modo, as palavras jurar (jurare) e juramento significa “o que é lícito”, “o que é
permitido”, opondo-se a NEFAS (“o
(jurejurandum) ainda estão ligadas à primeira fase, em que jus que não é permitido”). Cf. Agerson
Tabosa, FAS é o direito falado,
também significava um preceito religioso. revelado pela divindade.
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MÓDULO 1
## FAS
Palavra derivada do verbo latino fari (falar) e representa o direito divino falado, transmitido
aos homens pelos representantes dos deuses. Era muito comum nas culturas antigas a existência
de entidades, nas quais se acreditava que transmitiam às pessoas a vontade dos deuses. Eram os
oráculos, as profetisas, as sibilas, as ninfas dos povos babilônicos, egípcios, gregos e também os
áugures dos romanos.
COMMENTARIus
comentário
Os direitos de todos os povos antigos, e assim também dos romanos,
surgiram por influência direta da religião. O Direito não nasceu
da noção de justiça, mas das normas da religião, o Direito nada
mais era do que uma das faces da religião. No ambiente religioso
é que se formaram as primeiras leis, as quais depois foram assumidas posteriormente
como normas civis. Dizia-se que ninguém podia ser um bom pontífice sem conhecer o
direito, nem ser bom jurista sem conhecer a religião.
Mesmo após a profanização do jus, a influência de fas continuou forte sobre o direito público, por
causa dos antigos costumes. A associação da figura do rei, e depois do imperador, a um deus, a designação
de “divino” para o imperador, a inviolabilidade dos magistrados, ainda hoje mantida, provêm dessa ideia
de sacralidade, transmitida por fas. Mesmo no tempo da república romana, quando os cônsules eram
autoridades civis, sem poder religioso, havia uma certa mística religiosa em torno do cargo. No dizer
de Ulpiano, “Publicum jus in sacris, in sacerdotibus, in magistratibus consistit.” (Digesto, 1,1,1,2,), ou
seja, o direito público consiste nas coisas sagradas, nos sacerdotes e nos magistrados.7
6 É importante lembrar que o conceito de jus civile (Direito Civil) em Roma abrangia tanto o que hoje nós
entendemos como Direito Civil e Direito Penal, porque continha normas sobre ambos os tipos.
7 A palavra “sagrado” deriva do vocábulo latino sacer, que significa “intocável”. Tanto os sacerdotes como os
magistrados são intocáveis, em respeito à sua autoridade e ao poder de origem divina que eles possuem.
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direito romano
A interpretação do Direito antigo competia àqueles que detinham o poder religioso (reis e
sacerdotes) e eram os seus vereditos que orientavam a aplicação da justiça. No período antigo, havia o
Colégio dos Áugures, ao qual pertenciam os arúspices, espécie de feiticeiros que procuravam descobrir
a vontade dos deuses examinando as entranhas dos animais, principalmente o fígado, bem como os
sinais celestes (nuvens, relâmpagos) e o voo e o pio das aves. 8
## JUSTIÇA
É o procedimento de acordo com os princípios fundamentais do jus, os quais são: viver honestamente,
não prejudicar o outro, dar a cada um o que é seu.9 Entre os gregos, a justiça era uma das virtudes
básicas do homem, juntamente com a sabedoria, a fortaleza e a temperança. (PLATÃO, A República).10
No dizer de Ulpiano11, “justiça é a vontade firme e constante de atribuir a cada um o seu direito”.
Segundo Cícero12, “justiça é o estado de espírito mantido pela comum utilidade de atribuir a cada um a
sua dignidade”. Situa-se no campo das ações voluntárias, que devem ser praticadas com perseverança,
firmeza e consciência. Na prática, o que se atribui a cada um como fruto da justiça é o direito.
illustratio
dica
Conforme já explicado acima, o conceito de jus não deriva do conceito de
justiça, ao contrário, justiça é que significa proceder conforme o jus.
8 Os nossos profetas sertanejos, adivinhos da chuva, são remanescentes dessa milenar tradição de tentar prever
o futuro interpretando os sinais dos animais e da natureza cósmica.
9 Digesto 1,1,10 – Iuris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere; suum cuique tribuere.
11 Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi. (ULPIANO/Digesto 1.1.10)
12 Iustitia praecipit parcere omnibus, consulere generi hominum, suum cuique tribuere. [CÍCERO, De Republica 3.24]
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MÓDULO 1
## EQUIDADE
Deriva do latim aequus que significa, literalmente, plano, liso, sem altos nem baixos, que não se
inclina para nenhum lado, igual. Aequitas (equidade) é a substância do Direito e a sua meta. Significa
que, no Direito, deve-se aplicar igual tratamento para igual causa.
No Direito Romano, podemos encontrar três diferentes acepções de equidade: como igualdade,
como proporcionalidade e como caridade, denotando uma evolução do conceito ao longo da história
do Direito Romano. Foi no tempo do imperador Adriano que o jurista Celso13 elaborou a definição de
Direito que se tornaria clássica: “o Direito é a arte do bem e da equidade”.
EQUIDADE
Está relacionada à sua eti- Está relacionada com a in- Está relacionada com a
mologia: a justiça baseada fluência do epicurismo grego influência do cristianismo na
na igualdade rigorosa (Lei de (epikéia = suspensão do julga- fase final do império romano.
Taleão). A retribuição ou a mento), indicando parcimônia, Passou a significar bondade,
vingança será na mesma me- moderação, ponderação nas benevolência, benignidade
dida da dádiva ou da ofensa decisões. Foi com este sentido que
recebidas a palavra teve maior uso no
Direito Romano Clássico
NOTIO PERMAGNA
importante
A equidade como proporcionalidade será sempre a melhor
solução jurídica para cada caso concreto. Aristóteles14
considerava o equitativo melhor que o justo, chamando a
atenção para o fato de que a justiça não quer dizer a aplicação
literal da lei (dura lex, sed lex). A justiça diferenciada
...
14 “Ainda que pareça estranho, o equitativo é justo mais superior ao justo no sentido de que o homem justo
só precisa respeitar as leis ao passo que o equitativo é capaz de ser justo até agindo contrariamente às leis
estabelecidas, pois não ignora que, em algumas circunstancias, elas podem falhar.” (ARISTÓTELES, Ética
a Nicômaco V, 10, 96)
15
direito romano
...
Neste sentido, as atividades práticas dos jurisconsultos e dos magistrados tiveram importância
destacada. Ao interpretar e aplicar as leis, verificando sua harmonização com o objetivo do Direito,
adaptavam a norma com maior precisão à situação de cada um, praticando a justiça baseada na equidade,
suprindo as lacunas e tornando vivo o Direito.
## JURISPRUDÊNCIA
NOTIO PERMAGNA
importante
Etimologicamente, é a ciência do Direito. Ciência e arte. É o resultado
da atividade do jurisconsulto, a qual é responder às questões concretas
trazidas pelos cidadãos. No Direito Romano antigo, essa atividade era
realizada pelos sacerdotes e áugures, pois tratava-se antes de revelar a
vontade dos deuses (fas) do que de explicar o Direito (jus). Ou seja, era a
jurisprudência sacerdotal.
A partir do séc. IV a.C., os romanos de grande saber jurídico passaram a aconselhar os magistrados,
os cidadãos e depois até os próprios imperadores a respeito das coisas do Direito, surgindo a jurisprudência
laica, em contraposição à jurisprudência dos sacerdotes. Passaram a ser chamados de “prudentes”, criando
a figura do jurisprudente. De início, era uma atividade livre e gratuita na era republicana, mas algum tempo
depois, os imperadores passaram a limitar o exercício da jurisprudência, autorizando apenas algumas
pessoas a interpretar as leis em seu nome. Foi o início da jurisprudência oficial.
A jurisprudência laica sofreu forte influência da filosofia grega. Inúmeros jurisconsultos deixaram
suas valiosas contribuições, todos conhecedores dos filósofos gregos Platão e Aristóteles. Gozavam de
grande prestígio social e político. Por causa disso, formaram-se escolas de jurisconsultos, destinadas
ao preparo dos futuros jurisprudentes, sendo mais conhecida a escola de Gaio, que se imortalizou com
a compilação das Institutas, inseridas depois no Código de Justiniano. A escola jurídica de Gaio foi o
primeiro “curso de Direito” conhecido no mundo.
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MÓDULO 1
COMMENTARIus
comentário
A jurisprudência era exercida por cidadãos veteranos, que já haviam
exercido a magistratura e utilizavam a sua experiência e saber
realizando um serviço humanitário. Em geral, provinham das famílias
mais tradicionais de Roma, eram pessoas ricas e não precisavam de
pagamento. Todavia, pelo grande prestígio que desfrutavam perante
a sociedade e as autoridades, isso incentivava também os jovens a buscá-la, levando-os,
muitas vezes, ao exercício de cargos públicos no futuro. Foi essa atividade que evoluiu
historicamente para o exercício da advocacia.
A partir do imperador Adriano (117 d.C.), as respostas dos jurisconsultos passaram a ter a
mesma hierarquia das normas jurídicas, ou seja, foram equiparadas às leis, tornando-se até para
os juízes de uso obrigatório. Alguns anos mais tarde, o imperador Teodósio (420 d.C.), tendo em
vista a grande quantidade e também a divergência de entendimento entre as várias respostas dos
jurisconsultos, baixou uma lei elegendo um grupo de apenas cinco deles, como sendo os oficiais:
Gaio, Modestino, Papiniano, Paulo e Ulpiano. Foi a denominada Lei das Citações. Como nesta
ocasião, todos estes já haviam falecido, a sua escolha ficou sendo conhecida como ‘Tribunal
dos Mortos. Justiniano, ao organizar o seu código, mandou compilar o que de melhor havia na
produção dos jurisconsultos, selecionando 39 dentre eles.
attende
atenção
Para os romanos, portanto, a jurisprudência ou a responsa prudentium
era o que hoje chamamos de doutrina, envolvendo assim, ao mesmo
tempo, conceitos de filosofia e de direito. Os prudentes foram os verdadeiros
criadores do Direito Romano.
b) Preceitos
Os preceitos básicos do Direito Romano são os três já enunciados acima (vide nota de rodapé nº
9), seguindo a formulação de Ulpiano: viver honestamente, não prejudicar o outro, dar a cada um o
que é seu. Eles nos levam à reflexão sobre a distinção entre a Moral e o Direito, conceitos que estavam
totalmente associados no Direito Romano antigo, não havendo como distingui-los completamente.
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direito romano
ao âmbito da moralidade. Atualmente, desenvolvem-se teorias jurídicas tendentes
a especificar e quantificar os chamados “danos morais”, que têm alta relevância no
Direito Contemporâneo.
NOTIO PERMAGNA
importante
Os estudiosos do Direito Romano distinguem as fontes em dois
tipos, conforme suas naturezas: são as fontes de produção, aqueles
órgãos que têm o poder de criar as normas (ex: costumes, comícios,
plebiscitos, pretores, imperadores), e as fontes de revelação ou de
conhecimento, aqueles órgãos encarregados de explicar ou atualizar
as normas (ex: tábuas e códices).
fontes de
PRODUCAO:
resposta dos
prudentes
lei
constituições
costumes plebiscito imperiais
Edito dos
magistrados senatusconsulto
a) Costumes (mores) – é a fonte primordial e única no período arcaico do Direito Romano. No
conceito de costume incluem-se o mos (plural mores, costume propriamente dito), consuetudo
(hábito) e usus (uso), com destaque para os mores maiorum (costumes dos antepassados). São os
procedimentos adotados na comunidade, considerados aprovados pelo longo tempo de vigência
e pela aceitação generalizada. São normas que emanam espontaneamente do consentimento
explícito ou tácito do povo.
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MÓDULO 1
De início, havia apenas os costumes não escritos, que eram transmitidos oralmente, passando a ser
escritos em época posterior, aos quais acrescentaram-se aos poucos as outras fontes do Direito escrito.
b) Lei (lex) – em sentido formal e restrito, é a determinação expressa do povo aprovada nos comícios
(comitia), representativos da “vontade” do povo romano, com observância obrigatória por todos.
Com este caráter democrático, as leis prevaleceram na época da república. Passada esta, aos poucos
foram suplantadas pelas constituições imperiais leis dadas diretamente pelas autoridades do Estado,
sem passagem pelos comícios.
attende
atenção
Por isso, num sentido amplo, leis são todas as normas
emanadas das instâncias legislativas reconhecidas (cônsules,
pretores, senado, imperador), além dos comícios e dos plebiscitos.
Convém recordar que as leis, de início, não eram escritas,
passando a ser a partir da Lei das XII tábuas.
c) Plebiscito (plebiscitum) – literalmente, decisão da plebe. São determinações votadas nas assembleias
dos plebeus (concilia plebis), sem a participação dos patrícios.
Essas assembleias começaram a se formar após a Lei das XII Tábuas. De início, a validade das
decisões atingia apenas os plebeus, mas com o tempo passaram a equiparar-se às leis gerais (leges
generales), válidas para todos. Tal expansão aconteceu a partir da Lex Hortensia (286 a.C.)
attende
atenção
O plebiscito é considerado uma forma anômala
de produção do Direito, porque não tem origem
no povo romano propriamente dito, mas na
decisão de estrangeiros e libertos.
19
direito romano
É o chamado jus pretorianum ou jus honorarium, que desapareceu depois na fase do dominado,
quando o Imperador foi aos poucos absorvendo todo o poder de legislar.
Eram apresentadas formalmente como de autoria do Imperador, contudo eram preparadas pelo
consilium principis, ou seja, uma equipe de jurisconsultos conselheiros do Império, às quais o Imperador
apenas dava aprovação oficial.
## Rescritos (rescripta) – despachos dados pelo Imperador às consultas que eram formuladas
por escrito (libellus) pelos cidadãos.
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MÓDULO 1
A resposta dos prudentes, que era na república uma atividade profissional privada, ganhou ares
de oficialidade no período imperial, quando alguns prudentes foram credenciados pelo Imperador para
emitirem pareceres nas questões que lhes eram formuladas, sendo as suas respostas verdadeiras leis na
prática. Estes pareceres vinculavam o juiz no julgamento da causa, a não ser que houvesse pareceres
contraditórios de igual peso, quando o juiz tinha então que decidir conforme um deles. Foram os
prudentes os responsáveis pela época mais fecunda da produção jurídica romana, a maior manifestação
do gênio criador do povo romano na esfera jurídica.
## cavere (acautelar-se): era uma espécie de assessoria particular à pessoa que tinha
interesse numa lide, em promover uma lide ou em defender-se, auxiliando-a na redação
das petições;
21
direito romano
a) Anteriores a Justiniano
## Lei das XII Tábuas – escrita aproximadamente em 450 a.C. pelo decenvirato presidido
por Ápio Cláudio, teve importância fundamental no desenvolvimento do Direito
Romano. É o marco histórico inicial das leis escritas.
## Edito Perpétuo de Juliano – escrito em 130 d.C., por ordem do imperador Adriano,
pelo jurisconsulto Sálvio Juliano, que reuniu num só escrito todos os editos dos pretores
anteriores, consolidando-os, daí ser conhecido como “edito perpétuo”. Originou-se
do fato de que muitos pretores simplesmente repetiam os editos dos anteriores, não
introduzindo novas disposições.
## Lei das Citações – é uma norma da época do imperador Teodósio, que não traz preceitos,
mas proclama quais os jurisconsultos “oficiais”, Pela Lei das Citações, os jurisconsultos cujos
pareceres tinham força de lei eram Papinia-
ou seja, aqueles cujos pareceres têm força de no, Paulo, Gaio, Ulpiano e Modestino, além
lei perante os magistrados e tribunais. Data daqueles que foram citados em suas obras, a
saber, Cévola, Sabino e Marcelo. Estes pode-
aproximadamente do ano 420 d.C. riam ser ‘citados’ como norma a ser seguida,
daí o nome de lei das citações.
b) Da época de Justiniano
O Código de Justiniano é o conjunto de escritos jurídicos organizados por uma Comissão de
juristas nomeada por este imperador. Teve duas fases. A primeira foi a época de sua vigência direta
para os cidadãos romanos. A segunda foi o seu resgate alguns anos depois da queda de Constantinopla,
quando veio a tornar-se o famoso Corpus Juris Civilis, o qual é composto das seguintes partes:
## O Código Novo ou Codex Novus é a atualização do Codex Vetus, que, por sua vez, fora
compilado com base nos antigos códices, além das diversas leis esparsas recolhidas. O
texto do Codex Vetus foi perdido, conhecendo-se dele apenas um fragmento do índice.
O texto do Codex Novus contém cerca de 4.700 constituições dos imperadores desde
Adriano. Compreende 12 livros com 775 títulos.
CURIOSITAs
curiosidade
Sua elaboração foi mesclada também com o direito eclesiástico
(direito canônico), que começou a se formar a partir de
Constantino. O historiador Procópio de Cesaréa atesta que
...
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MÓDULO 1
...
o imperador Justiniano ficava até muito tarde da noite discutindo questões
jurídicas com bispos e outras autoridades eclesiásticas, com o intuito de
harmonizar o Direito Civil com o Direito Eclesiástico.
## Digesto é a compilação mais famosa dos escritos dos principais jurisprudentes, que
viveram no período final da república e início do império. Foram coletados cerca de 9.000
fragmentos das obras de 39 jurisconsultos, organizados por uma comissão especial de
dezesseis juristas. Foi redigido em três anos e meio. Trata sobre regras de Direito Civil.
Obra gigantesca, contendo 50 livros com 408 títulos e cerca de 150 mil versículos, foi
criticada pelos historiadores por conter imperfeições e repetições, fatos que não retiram
o brilhantismo de sua envergadura. Um manuscrito integral
Digesto – do latim digestus,
do Digesto encontra-se na Biblioteca de Florença, na Itália. significa repartido, classifica-
Digesto é o título da obra escrita em latim. O texto escrito do, organizado.
em grego chama-se Pandectas, com o mesmo conteúdo. Pandectas – do grego, sig-
nifica “que contém tudo”,
“que abrange tudo”. Algo
## Institutas ou Institutiones é o compêndio didático de Direito como a primeira “enci-
clopédia” jurídica.
Privado Romano, composto de quatro livros e baseado
principalmente nos estudos jurídicos de Gaio (Gaius). Destinava-se à formação de
jurisconsultos e advogados, um ensinamento jurídico que durava cinco anos. O “manual”
de Gaio foi escrito em meados do século II d.C., diversas cópias dele circulavam pela
Itália. Compunha-se de quatro livros com 98 títulos.
## As Novelas são as novas constituições imperiais publicadas por Justiniano, que foram
em número de 168 (alguns estudiosos contam 177), publicadas no espaço de tempo
compreendido entre a edição do Segundo Código e a morte de Justiniano, compiladas
posteriormente sob o imperador Tibério II. Estavam escritas em latim (Novellae) e em
grego (Nearai diataxeis = recentes dispositivos), tendo em vista a imensidão do território
e a variedade de habitantes.
CURIOSITAs
curiosidade
Com a queda do Império Romano do Oriente, chegaram à Itália apenas parte das
Novelas, as escritas em grego, enquanto as escritas em latim ficaram perdidas por
bastante tempo, voltando a aparecer em Bolonha entre os séculos XI e XII. Foram
chamadas ali de Autênticas, porque se acreditava que o texto era idêntico ao original.
O título de Corpus Juris Civilis não foi dado por Justiniano nem por seus juristas, mas veio a
surgir no final do século XVI, com a edição feita por Denis Godefroy (Dionisio Godofredo, 1583),
jurista francês que resgatou os textos antigos e os reuniu sob esse nome, contendo as Institutiones, o
Digesto, o Codex Novus e as Novellae. Esta obra foi muito bem aceita e elogiada tanto nos tribunais
quanto nas escolas jurídicas, constituindo-se a edição atual do Código de Justiniano.
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direito romano
2.2 DIVISÃO DO DIREITO ROMANO
2.2.1 DIREITO OBJETIVO e DIREITO SUBJETIVO
MEMENTO
lembrando
Conforme já explicado anteriormente, a palavra jus tinha, entre
os romanos, duas acepções básicas, conforme se referisse a uma
norma impositiva (norma agendi) ou a uma norma facultativa
(facultas agendi). Na visão moderna, correspondem ao Direito
Objetivo e Direito Subjetivo, importando destacar que para
os romanos essa distinção não era relevante.
No Direito Romano, esta divisão diz respeito às origens costumeiras, quando o processo era
totalmente oral perante o juiz, em que compareciam as partes e as testemunhas. Só tempos depois
passaram a ser usados documentos escritos.
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MÓDULO 1
øø Usus = práticas sociais aprovadas pelo uso frequente; na prática, o que garantia
maior força a uma regra costumeira era a sua antiguidade, ou seja, quanto mais
antiga, mais forte;
øø Res judicata = decisões reiteradas dos magistrados, ainda que não escritas.
SCRIPTUM:
responsa
prudentum
lex
principum
plebiscitum placita
magistratuum
edicta senatusconsultum
## Scriptum – lex, plebiscitum, senatusconsultum, principum placita (constituição
imperial), magistratuum edicta (editos dos magistrados), responsa prudentium (resposta
dos prudentes) – a produção jurídica escrita que começou com a Lei das XII Tábuas e
se consolidou na era da república. Conceituando:
øø Lex = norma proposta por um magistrado votada nos comícios dos patrícios e
aprovada pelo senado; foram largamente adotadas no tempo da república romana;
øø Plebiscitum = análogo à lex, mas proposto por um tribuno da plebe e votado nas
assembleias dos plebeus (concilia plebis); inicialmente, valiam apenas para os
plebeus, mas após a Lei Hortensia (286 a.C.) passou a obrigar a todos;
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direito romano
No Direito Romano, esta distinção diz respeito à esfera da aplicação ou da finalidade do direito
(teleologia) e não à sua essência, sua natureza constitutiva. Trata-se de uma divisão mais de caráter
didático do que sistemático. Os romanos sempre tiveram maior atenção ao jus privatum, no âmbito do
qual foram desenvolvidos os principais conceitos que ainda hoje influenciam os Direitos dos diversos
países. O jus publicum esteve sempre associado à religião estatal romana, não sendo objeto de discussões
entre os jurisconsultos. Mesmo na época da república, a res romana (estado romano) era considerada
uma coisa sagrada e, como todo sagrado, intocável.16
## jus publicum - regula, portanto, as relações políticas e os fins que o Estado deve alcançar.
Trata da estrutura, da atividade, da organização e do funcionamento do Estado romano.
No dizer de Ulpiano, são objetos do Direito Público “as coisas sagradas, os sacerdotes
e os magistrados”, havendo portanto uma confusão entre Direito e religião, na esfera do
Direito Público, fato que determinou um bloqueio no seu desenvolvimento, favorecendo
o Direito Privado. Desde os primeiros tempos, sempre competiu ao Estado o culto dos
deuses nacionais, cujo chefe e sacerdote maior era o rei e, depois, o imperador. Ficava
assim ao arbítrio do governante as determinações relativas ao Estado Romano.
## jus privatum - regula as relações entre os cidadãos e fixa as condições e limites de cada um.
Quase toda a legislação e doutrina que nos foram legadas pelos romanos pertence ao âmbito
do Direito Privado, campo em que melhor se observa a criatividade e a genialidade do poro
romano. Convém recordar que o Direito Privado romano não foi criação integral deles próprios,
mas houve também influências dos direitos de outros povos, sobretudo do grego.
A classificação do Direito Privado Romano, já entre os próprios jurisprudentes, não era uniforme.
De acordo com Ulpiano, o Direito Privado é tripartido em Direito Civil, Direito das Gentes e Direito
Natural. Já na expressão de Gaio, “todo direito que adotamos se refere às pessoas, às coisas e às ações”17.
Juntando as duas doutrinas deduz-se que o Direito Privado englobava, na prática, todo o Direito Romano.
17 privado é o que pertence à utilidade das coisas singulares. Res romana = res publica = civitas.
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MÓDULO 1
attende
atenção
De um modo geral, as relações jurídicas envolvendo pessoas e
coisas subdividiam o Direito Privado em duas grandes áreas: jus
commercii – Direito do Comércio, que inclui as relações de compra e
venda e também as de natureza patrimonial e contratual e o hoje
chamado Direito Obrigacional; jus conubii – Direito do Matrimônio,
que inclui, além do próprio casamento e família, as relações de
parentesco em geral, o pátrio poder, adoção e tutela.
O Direito Sucessório (jus successionis), por sua vez, envolvia aspectos do ius commercii e
do ius conubii, na medida em que havia envolvimento de pessoas e coisas no trato das relações
de herança, as quais englobavam tanto laços familiares quanto direitos de natureza patrimonial
dos herdeiros e sucessores.
## jus civile – Direito relativo ao povo romano especificamente. Também é chamado jus
Quiritium ou jus Quiritarium, derivado de quirites, que significa cidadão romano.
Segundo a lenda, o nome deriva de Cures, cidade do reino
dos Sabinos, um dos povos formadores originários da Na definição de Gaio: Quod
cidade de Roma, reportando-se assim à origem histórica quisque populus ipse sibi
ius constituit, id ipsius pro-
dos cidadãos. Segundo outra lenda, Rômulo, ao ser prium est vocaturque ius
arrebatado para o céu, tornou-se o deus Quirites e os civile, quase ius proprium
civitatis. Aquilo que cada
romanos, sendo seus descendentes, adotavam para si a povo para si próprio con-
mesma denominação. Por isso, foi chamado também de stitui para si como Direito,
aquele que é próprio dele e
Direito Nacional. se chama ius civile, como se
fosse o direito próprio da ci-
## jus gentium – Direito aplicado a todos, comum a todos os dade. (Institutas, 2, 1, Gaio)
povos. Normas aplicáveis a todos os que vivem sob a tutela
jurídica de Roma, seja cidadão ou estrangeiro.18 Começou a se formar após as Guerras
Púnicas (séc VI a.C.), quando o poder político de Roma ampliou-se consideravelmente
e a sua importância comercial atraiu para lá pessoas oriundas de todas as regiões do
Mediterrâneo, criando relações jurídicas novas que precisavam ser regulamentadas.
Forçou então a criação de uma modalidade de normas direcionadas para as novas situações
surgidas, constituindo assim o Direito das Gentes, objetivamente destinado a regular as
relações comerciais e que tinham validade para todos os homens livres, sejam cidadãos
romanos ou estrangeiros. Deste modo, pela necessidade de proteger também os súditos
do império que não eram cidadãos romanos, foram instaurados novos procedimentos
jurídicos mais humanizados, simplificados e destituídos do rigoroso formalismo da
tradição quiritária, iniciando, desse modo, também uma nova ordem processual no Direito
Romano. O jus gentium transformou-se hoje no Direito Internacional.
18 Digesto 1, 5, 1, Gaio: Omne autem ius quo utimur vel ad personas pertinet, vel ad res, vel ad actiones.
Também conforme Gaius: Id quod apud omnes populos operaeque custoditur, vocaturque ius gentium,
quase quo iure omnes gentes utuntur. Populus itaque Romanus partim suo proprio, partim communi omnium
hominum iure utitur.* Aquilo que de acordo com a experiência de todos os povos se guarda chama-se ius
gentium, como se fosse um direito pelo qual todas as gentes se orientam. Portanto, o Povo Romano se serve em
parte do seu próprio, em parte daquilo que é comum a todos os homens. (Institutas, 2, 1, Gaio)
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direito romano
## jus naturale – Direito organizado segundo a razão natural, que é igual para todas as
pessoas. Sua existência em Roma foi fortemente influenciada pela cultura grega. É uma
acepção abstrata do ius gentium e ao mesmo tempo a regra que lhe serve de fundamento.
Em princípio, estaria na base do ius civile e do ius gentium, por ser imposto pela própria
razão, derivado da própria natureza. Por exemplo, a proteção ao nascituro é uma regra
oriunda do Direito Natural, passada depois para o Direito Civil e o Direito das Gentes.
Na jurisprudência romana mais antiga, só se contrapõe o ius civile ao ius gentium, fato notado
inclusive na atividade dos pretores. Mas na época mais tardia, fazia-se a contraposição também entre
o ius gentium e o ius naturale, sendo este mais amplo, envolvendo todos os seres vivos, por influência
de algumas correntes da filosofia grega, que concebiam os animais como detentores de alguns direitos.
Além das divisões do Direito Privado acima apresentadas, encontram-se na doutrina outras subdivisões:
## jus singulare – normas jurídicas derivadas dos princípios gerais, mas de aplicação restrita, como
exceção justificada por razões específicas, valiam apenas para determinadas pessoas ou grupos,
bem como em situações específicas. Também baseiam-se na aequitas (ex.: o testamento militar);
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Referências
bibliografia e outras fontes
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
CRETELLA JR, José. Curso de Direito Romano. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
FILARDI, Luiz Antônio. Curso de Direito Romano. 3. ed., São Paulo: Atlas, 1999.
MARKY, Thomas. Curso Elementar de Direito Romano. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 1995.
PESSOA, Eduardo. História do Direito Romano. São Paulo: Habeas Editora, 2001
RICCOBONO, Salvatore. Roma: Madre de las Leyes. Buenos Aires: Depalma Ediciones, 1975.
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Questões
para revisão e aprofundamento
3. Em que circunstâncias surgiu a Lei das XII Tábuas e qual a sua importância para
o Direito Romano?
12. Como e quando o Código de Justiniano veio a chamar-se Corpus Iuris Civilis?
15. Os romanos não tiveram preocupação em distinguir as regras morais das regras
jurídicas. Comente a este respeito.
19. Por que razão o Direito Romano se desenvolveu mais no âmbito do Direito
Privado, deixando em segundo plano o Direito Público?
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QUestões
20. Explique os significados de jus como norma agendi e como facultas agendi.
22. O que ocorreu com o direito não escrito, após o surgimento das normas escritas
em Roma?
23. Em que consiste o costume e por que foi a principal fonte do Direito
Romano antigo?
30. Por que o ius conubii e o ius commercii englobavam grandes áreas do
Direito Privado?
33. Por que a lei das XII Tábuas não é fonte de produção?
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Créditos
quem faz
Coordenação Geral
Lana Paula Crivelaro M. de Almeida
Supervisão Administrativa
Denise de Castro Gomes
Professor conteudista
Antonio Carlos Machado
Design Instrucional
Andrea Chagas Alves de Almeida
O trabalho Direito Romano- Módulo 1: Introdução, Conceitos Básicos e Preceitos; Divisão e Fontes do Direito
Romano de Antonio Carlos Machado, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está licenciado com uma
Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
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Anotações
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