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A novidade estabelecia que só por lei aprovada pelo Parlamento — composto pelos
representantes eleitos — é que algumas condutas poderiam ser exigidas da
população, tal como a imposição de tributos, a realização dos gastos públicos e a
exigência de prestação de contas por parte do governo. Aqui, em algum momento
dessa trajetória dos últimos 200 anos, é que se pode configurar o surgimento de um
direito financeiro moderno, fruto da formalização do Estado com separação de
poderes e seu consectário princípio da legalidade.
Outra novidade é que o direito privado, em especial o mercantil, que até então era
aquilo que os comerciantes estabeleciam entre si, por regras não-estatais, passou a
ser o que o Estado viesse a estabelecer como direito, estatizando o direito privado. A
codificação ocorrida após a Revolução Francesa teve esse escopo.
Surge daí o impasse financeiro, entre o bolso individual de cada qual e os cofres
públicos. É a relação de tensão existente entre o direito tributário e o direito
financeiro, pois se os objetivos da sociedade são muito amplos, e a fragmentação
socioeconômica é elevada, torna-se mais intensa a necessidade financeira de ter
recursos para prover o bem comum, o que impactará diretamente nos bolsos
privados.
Se o interesse social (de todos) for deixado aos cuidados dos interesses individuais,
teremos situações como a exposta no filme norte-americano Despedida em Grande
Estilo (com Morgan Freeman e Michael Caine) no qual o fundo de pensão que
cuidava da aposentadoria de um grupo de idosos faliu, e eles se viram diante da
alternativa de fazer um assalto a banco para ter um fim de vida digno. Não vou dar
spoiler. Algo semelhante pode ser visto no filme A Qualquer Custo (com Jeff Brigdes),
indicado ao Oscar em 2017, que analisa os altos juros das hipotecas imobiliárias nos
USA e o direito à exploração petrolífera privada.