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ELEVAÇÃO VARIÁVEL DAS VOGAIS MÉDIAS ÁTONAS FINAIS EM ESQUINA


BARRA FUNDA – NOVO MACHADO/RS: PRÁTICAS LINGUÍSTICAS E SOCIAIS

Eugenio Roberto Link1

Resumo: A análise de regra variável (LABOV, 1972, 1994, 2001) de dados de fala de português brasileiro de 18
informantes da comunidade de Esquina Barra Funda - Novo Machado/RS, revela índices baixos de elevação das
vogais médias átonas finais. A análise de contextos com as vogais /e/ e /o/, juntos, revelou apenas 11% de
elevação. Quando analisados separadamente, /e/ apresentou 4% de elevação e /o/, 9%. Os condicionadores desse
baixo índice de elevação são tanto linguísticos como sociais. Entre eles estão o contexto precedente (dorsal,
coronal [-an] e labial), contexto seguinte (consoantes posteriores e labial), a presença da vogal alta na sílaba
tônica, a idade (36 a 57 anos e 15 a 35 anos) e a escolaridade (de 04 a 08 anos e até 04 anos de escolaridade).
Além disso, as relações entre os indivíduos na comunidade, que apresenta pouca abertura e contato com redes de
fora, a manutenção de costumes tradicionais (por parte dos jovens) e o orgulho do pertencimento ao local
também contribuem para a conservação das vogais médias átonas finais.

Palavras-chave: elevação vocálica, práticas sociais, rede social

1 INTRODUÇÃO

O português falado no Brasil foi, e continua sendo, formado por diversos contatos
linguísticos ao longo da história. Quando focamos o Rio Grande do Sul, notamos a presença
significativa de comunidades que se originaram de processos imigratórios, com destaque para
a imigração italiana e alemã. Além disso, é marcante em diversos locais a presença lusa.
No noroeste do estado do Rio Grande do Sul, em uma região conhecida como
fronteira noroeste, encontramos a cidade de Novo Machado, formada em sua pluralidade por
descendentes de imigrantes italianos, alemães e portugueses. No interior de Novo Machado,
encontramos a comunidade de Esquina Barra Funda, fundada em 1920 por imigrantes alemães
que para ali foram enviados como forma de povoar as regiões brasileiras de fronteira.
O português falado em Esquina Barra Funda apresenta uma nível baixo de elevação
das vogais médias átonas finais, como em nom[e]~nom[ɪ], gad[o]~gad[ʊ]. Vale dizer,
enquanto em alguns lugares, principalmente acima do sul do Brasil, as comunidades
apresentam um comportamento praticamente categórico na elevação vocálica nessa posição
da palavra, em Esquina Barra Funda esses índices são baixos, prevalecendo ali a conservação
das vogais médias (LINK, 2015).
Sabendo que existe essa diferença, este estudo se propõe a analisar a realização das
vogais médias átonas finais no português falado nessa pequena comunidade rural,

1 Doutorando da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Letras, Programa de Pós-Graduação
em Letras, linha de pesquisa Sociolinguística, sob a orientação da Profa. Dra. Elisa Battisti.
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contemplando aspectos quantitativos e qualitativos que possam explicar a motivação de seu


comportamento linguístico.
Para isso, efetuaremos análises estatísticas com dados levantados de entrevistas
realizadas na comunidade e relataremos os primeiros resultados de um estudo de práticas
sociais (ECKERT, 2000) e de redes (BORTONI-RICARDO, 1985, 2011) dos indivíduos que
ali habitam. Buscaremos mostrar que, além de variáveis linguísticas, variáveis sociais são as
responsáveis pelo padrão linguístico da comunidade.
Dividimos o estudo em cinco partes. Após esta introdução, temos a fundamentação
teórica, onde apresentamos a proposta de Câmara Jr. (2007 [1970]) para o sistema vocálico,
chegando à pauta átona, foco deste estudo. Após isso, temos a revisão de trabalhos que já
lidaram com variação no vocalismo átono do português e também noções teóricas sobre
variação linguística como prática social. A terceira seção é a metodologia, com a apresentação
da comunidade, especificações sobre a análise de regra variável e a análise da variação
linguística como prática social. Por fim, vem a seção de resultados seguida da conclusão.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O sistema vocálico do português

Câmara Jr. (2007 [1970]) representa o sistema vocálico do português brasileiro em um


triângulo, classificando as vogais de acordo com seu movimento articulatório vertical (altura)
e horizontal (anterior/central/posterior).

Figura 01: Vogais em posição tônica. Câmara Jr. (2007 [1970]) P. 43

Existem, segundo o autor, vogais tônicas, vogais pretônicas, postônicas não-finais e


postônicas finais, é a partir da posição tônica que a descrição do sistema vocálico precisa ser
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feita, pois é nessa posição que se distinguem todas as vogais do sistema. Na posição tônica,
portanto, contrastam /i e Ɛ a ᴐ o u/. Descrevendo essas vogais em relação a sua altura,
teremos: a vogal baixa /a/, as vogais médias de primeiro grau // e /ᴐ/, as vogais médias de
segundo grau /e/ e /o/ e as vogais altas /i/ e /u/. Nessa posição, as vogais produziriam
distinções de significado, como em s[a]co, s[]co (adjetivo), s[]co (1ª p.s. do verbo secar),
s[o]co (substantivo), s[ᴐ]co (1ª p.s. do verbo socar), s[i]go e s[u]co.
Ainda em posição tônica, porém antes de segmentos nasais (sonho, cama), o autor
indica que as vogais de primeiro grau são eliminadas e a vogal central é levemente
posteriorizada. Neste ponto, o sistema vocálico contaria com 5 vogais contrastivas.
Nas posições átonas, ocorre o que Câmara Jr. (2007 [1970]) interpreta como
neutralização, pois há a perda de algumas oposições entre fonemas, com a eliminação da
distinção entre eles, acarretando a redução do número de fonemas: a oposição entre as vogais
médias de primeiro grau // e /ᴐ/ e segundo grau /e/ e /o/ é eliminada, como em b[Ɛ]lo,
b[e]leza, f[ᴐ]rma e f[o]rmoso. Além disso, também nesta pauta a vogal baixa central sofre
uma leve posteriorização.
Chegamos agora à posição postônica, onde, de acordo com Câmara Jr. (2007 [1970]),
as vogais podem ser não finais e finais. Na posição postônica não final, há a neutralização
somente entre /o/ e /u/, em formas como pér[u]la para per/o/la. Por fim, na posição postônica
final, restam três vogais contrastivas, /u/, /i/ e /a/, pois ocorre a neutralização entre as vogais
médias e as altas, em formas como bol[u]para bol/o/ e tim[e] para tim/i/.
Cabe ressaltar aqui que Câmara Jr. (2007 [1970]) tem como base o dialeto carioca e
que as análises tradicionais como a dele não consideravam a variação. Vieira (1994) observa
que a pauta vocálica proposta por Câmara Jr. (2007 [1970]), com afirmações categóricas, não
necessariamente dará conta da variação existente em diferentes dialetos.

2.2 A variação das vogais médias em posições átonas no português do sul do Brasil

Sobre a elevação das vogais médias em posição átona em variedades sul-brasileiras de


português, podemos citar os estudos de Vieira – além do trabalho de 1994, os trabalhos de
1997, 2002, 2009, 2010; os estudos de Roveda (1998), Schimitt (1987), Carniato (2000),
Mallman (2001), Silva (2009) e Mileski (2013). Apresentaremos aqui alguns resultados
desses trabalhos.
Schimitt (1987) analisou a redução vocálica de vogais médias tanto em posição final
como em posição não final. Sua amostra contou com 12 informantes, sendo 04 bilíngues da
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cidade de Taquara (colonização alemã), 04 bilíngues da cidade de Veranópolis (colonização


italiana), 04 monolíngues da cidade de Livramento (fronteira com o Uruguai) e 01 informante
da região metropolitana. Partindo da hipótese de que as vogais médias átonas finais e não
finais sofreriam variação na região de fronteira e nas regiões de colonização italiana e alemã e
não na região metropolitana, a autora controla as variáveis: acentuação, contexto precedente,
contexto seguinte, juntura, classe morfológica e posição no sintagma frasal.
Extralinguisticamente, foi considerada a variável tipo de entrevista.
No contexto precedente, nos resultados da vogal /o/, Schimitt (1987) conclui que para
os alemães, as labiais [p, b, f , v] tiveram influência no processo de elevação. Já para os
fronteiriços, os fatores condicionantes foram [l, , n, m] e, para os italianos, o contexto
precedente não apresentou relevância. No contexto seguinte, para /o/, os fatores [k, g,  , d,
t, ] foram favorecedores para os alemães, enquanto para os fronteiriços os fatores
favorecedores foram [t, d, s, z] e, para os italianos, [p, b, f, v]. No contexto precedente
para a vogal /e/, tanto alemães como fronteiriços e italianos apresentam os fatores [k, g, , d,
t, ] como favorecedores, e, no contexto seguinte, [t, d, s, z] foram condicionantes do
processo de elevação para todos os grupos. Ainda sobre o estudo de Schimitt (1987), a
juntura foi considerada favorecedora da elevação no grupo de italianos e fronteiriços.
Vieira (1994) utiliza dados de entrevistas sociolinguísticas realizadas no Rio Grande
do Sul entre 1977 e 1978. Como Schimitt (1987), mas numa amostra maior, Vieira (1994) tem
como objetivo observar quais são os fatores condicionantes da elevação das vogais médias
postônicas finais e também das não finais. A constituição da amostra foi a seguinte: 28
informantes, sendo 07 da cidade de Taquara (colonização alemã), 07 da cidade de Veranópolis
(colonização italiana), 07 da cidade de Livramento (fronteira com o Uruguai) e 07
informantes da região metropolitana.
As variáveis linguísticas controladas por Vieira (1994) foram: contexto vocálico,
contexto precedente, contexto seguinte, tipo de sílaba, classe de palavra, posição da sílaba. Já
as variáveis extralinguísticas foram: etnia, sexo e tipo de entrevista. De todas as variáveis
controladas por Vieira (1994), contexto seguinte, classe de palavra e tipo de entrevista não
influenciaram a regra. Em contrapartida, etnia foi considerada a mais relevante: italianos e
informantes da fronteira se mostraram mais propensos à preservação das vogais médias,
enquanto alemães ficaram próximos do ponto neutro e apresentaram maior elevação de /o/ em
relação a /e/.
Em relação ao contexto precedente, Vieira (1994) verificou que as consoantes
obstruintes [t, d, k, g, p, b, f, v] foram favorecedoras da aplicação da regra. Além disso, o fator
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‘nasal’ no contexto precedente mostrou leve favorecimento da elevação de /e/. No contexto


vocálico, vogal alta na palavra se mostrou favorecedora da elevação tanto de /e/ como de /o/.
Por fim, na variável tipo de sílaba, o fator sílaba com coda /S/ favoreceu a elevação de
ambas as vogais; na variável posição da sílaba, sílaba final pesada favoreceu a elevação de /e/,
enquanto sílaba final pesada e sílaba final leve favoreceram modestamente a elevação de /o/.
Cabe apontar que, já nesse estudo, Vieira (1994) nos indica que a probabilidade de
elevação de /e/ é maior em sílaba final leve, enquanto a elevação de /o/ tem probabilidade de
ocorrer tanto em sílaba final leve quanto em sílaba final pesada.
Roveda (1998) estudou a elevação das vogais médias átonas finais a partir de amostra
do banco de dados VARSUL. Esta amostra contou com 48 informantes, 24 das regiões
metropolitanas de Porto Alegre e Florianópolis e 24 de Flores da Cunha e Chapecó, sendo
estes últimos bilíngues (português e italiano) e os primeiros, monolíngues. As variáveis
linguísticas consideradas pela autora foram: contexto precedente, juntura, classe de palavra,
presença da vogal alta e tipo de coda. Extralinguisticamente, foram controlados sexo,
bilinguismo, idade e escolaridade.
Os resultados de Roveda (1998) indicam, no contexto precedente, consoantes palatais
e labiais como favorecedoras da elevação de /o/ e consoantes palatais e dorsais como
favorecedoras para /e/. Como no estudo de Vieira (1994), o fator coda /S/ favoreceu tanto a
elevação de /e/ quanto de /o/, enquanto o fator coda /N/ favoreceu a elevação de /e/. Juntura,
como no estudo de Schimitt (1987), mostrou-se favorável para o alçamento de ambas as
vogais. Por fim, sexo, idade e escolaridade apresentaram favorecimento para /o/. E, na classe
gramatical, o fator verbos favoreceu a elevação de /e/, enquanto o fator advérbios favoreceu a
elevação de /o/.
Carniato (2000) realizou sua pesquisa com 12 informantes de Santa Vitória do Palmar,
cidade de fronteira com o Uruguai. Considerou as variáveis: segmento precedente, segmento
seguinte, classe gramatical, contexto vocálico precedente, tipo de sílaba, estrutura da sílaba
postônica final, idade e escolaridade. A autora parte da hipótese de que, por ser uma região de
fronteira e haver o contato entre a língua portuguesa e espanhola, os falantes preservariam as
vogais médias quando em posição final. Como resultado, Carniato verificou o papel
favorecedor do fator coronal na variável contexto precedente para /e/ e para /o/. Em relação ao
contexto seguinte, as nasais se mostraram favorecedoras para /o/, apenas.
Mallmann (2001) também contribuiu com o estudo da elevação das vogais médias
átonas finais, investigando o processo na cidade de Santo Ângelo. O autor controlou as
seguintes variáveis: tonicidade, contexto precedente, contexto seguinte, classe gramatical, tipo
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de vogal, gênero, escolaridade e etnia. Das variáveis sociais, ou seja, gênero, escolaridade e
etnia, todas apresentaram favorecimento da regra de elevação, sendo os jovens os que mais
elevam. No gênero, são as mulheres que favorecem o processo de elevação.
Vieira (2002) desenvolve um estudo nos três estados do sul do Brasil, nas cidades de
Porto Alegre, São Borja, Flores da Cunha e Panambi no Rio Grande do Sul; Florianópolis,
Chapecó, Lages e Blumenau, em Santa Catarina; Curitiba, Pato Branco, Irati e Londrina no
Paraná. A amostra de Vieira (2002) foi selecionada do banco de dados VARSUL, e foi
composta por 8 informantes para cada cidade. Considerou na análise a postônica final e não
final. Nos ateremos apenas aos resultados para a posição final.
As variáveis controladas por Vieira (2002) para a posição final foram: contexto
precedente, tipo de sílaba, contexto vocálico, localização da postônica na palavra, faixa etária,
escolaridade e localização geográfica. Os resultados para /o/ em posição final indicam
favorecimento das variáveis tipo de sílaba e contexto vocálico, sendo a coda /S/, como citado
em estudos anteriores, importante para a aplicação da regra variável. Também, como
expuseram trabalhos anteriores, a presença de vogal alta na sílaba próxima se mostrou
influenciadora da elevação.
Quanto a /o/, as fricativas /s, z/ e as labiais precedentes, presença de vogal alta no
contexto vocálico e coda /S/ foram favorecedores. A autora cita a variável extralinguística
localização geográfica como determinante na realização das vogais médias átonas, e também
pontua a variável linguística contexto precedente como tendo importante papel na
manifestação variável das átonas finais. Sobre isso, Vieira (2009) nos diz que os falantes do
Rio Grande do Sul tendem a elevar tanto /e/ quanto /o/; os de Santa Catarina apresentam uma
atitude neutra, ao passo que preservam e elevam as vogais médias na mesma medida; e os do
Paraná tendem à preservação das vogais médias.
Em relação às cidades analisadas, Porto Alegre apresenta maior índice de elevação das
vogais médias em posição final e não-final, Curitiba apresenta maior preservação em posição
não-final e Flores da Cunha, Chapecó e Irati apresentam uma maior preservação de /e/. Por
fim, Vieira (2002) conclui que a regra de neutralização está aos poucos sendo introduzida no
sistema vocálico do sul do Brasil, sendo, desta forma, condicionada tanto por fatores
linguísticos como por extralinguísticos.
Outros estudos também contribuíram para a descrição da realização do sistema
vocálico do português brasileiro no sul do país, em especial no Rio Grande do Sul, no que diz
respeito à elevação das vogais médias átonas finais. Silva (2009) analisou a elevação das
vogais médias átonas finais na localidade de Rincão Vermelho, cidade que faz fronteira com a
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Argentina e se localiza no noroeste do Rio Grande do Sul, concluindo que a regra apresenta
aplicação variável nesta comunidade, tendendo mais para a preservação das vogais médias.
A elevação de /o/ ocorre mais geralmente do que a de /e/, o que vai ao encontro de outros
trabalhos já citados: “a análise estatística revelou que em posição final tem-se variavelmente
a oposição entre /o/ e /u/ e /e/ e /i/. Os resultados apontaram, também, que a regra de
elevação de /o/ final encontra-se em um estágio mais avançado em relação à vogal /e/.”
(SILVA 2009, 155)
As análises de Silva (2009) e de Vieira (2002) nos apontam para dois fatores que têm
efeito na aplicação variável da regra de elevação das vogais médias no português do sul do
Brasil. Tais fatores são: a localização geográfica, visto que, para Vieira (2002), em Porto
Alegre a regra de elevação já se aplica categoricamente, enquanto em outras capitais da região
sul o sistema ainda está em processo de mudança; o contato entre línguas, seja com a língua
espanhola, como no caso de Rincão Vermelho apontado por Silva (2009), ou com dialetos
presentes em regiões de colonização italiana e alemã.
Por fim, também Mileski (2013) faz a análise da elevação variável das vogais médias
em posição átona final. Sua pesquisa, realizada na cidade de Vista Alegre do Prata com
descendentes de imigrantes poloneses, apresenta como resultado uma maior preservação das
vogais médias, e, como já esperado pela autora, uma frequência maior de elevação de // em
relação a //. Tal resultado vai ao encontro do verificado pelas pesquisas já citadas: as regiões
de contato entre línguas tendem à preservação das vogais médias, principalmente no sul do
Brasil.
Os estudos revisados revelam fatores que condicionam ou não a elevação das vogais
médias em posição átona. Especialmente no que se refere às variáveis sociais, constatam que
a localização geográfica tem efeito sobre o processo, o que pode relacionar-se a práticas
sociais locais.

2.3 Variação linguística e práticas sociais

Eckert (2000) nos diz que a comunidade de prática é um agrupamento de indivíduos


que compartilham objetivos em comum. Suas relações acontecem em torno desses objetivos,
sendo que os falantes podem participar de mais de uma comunidade de prática. Nessas
comunidades, cada membro terá um determinado tipo de participação, que poderá ser central
em uma e periférico em outra. De acordo com Eckert (2000), esse posicionamento dos
membros nas diversas comunidades de prática resulta das relações e articulações produzidas
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pelo conjunto de membros. Os movimentos de troca e as diversas formas e aspectos de


participação social dos membros nas comunidades de prática construirão a identidade de cada
um e a identidade do próprio grupo, ao longo de toda a vida dos indivíduos.
Ainda conforme Eckert (2000), categorias como etnia, idade, classe social, por toda
significação que carregam, serão também definidoras da posição de cada membro nas suas
comunidades de prática. Essa posição sustenta a percepção do indivíduo sobre a sua
comunidade e a percepção da comunidade sobre o indivíduo e suas características, entre elas a
linguística.
Não será apenas através da estrutura interna das comunidades que deveremos
compreender a maneira como a língua é utilizada. Para Bourdieu (2008), as relações
simbólicas estabelecidas nas trocas linguísticas marcam diferenças ou distinções sociais
resultantes de relações de dominação e poder, por sua vez respaldadas pela soma de capitais
(econômico, cultural, social, simbólico)2 que os agentes sociais possuem. No espaço social, o
valor das formas da língua se define por sua circulação num mercado simbólico de trocas
linguísticas entre agentes situados em diferentes campos e possuidores de determinados
capitais e estilos de vida. Nas diversas situações em que os agentes se comunicam, estão em
jogo categorias identitárias de produção e percepção de personae que, nesse mercado,
transformam em capital as formas linguísticas usadas nos atos de fala.
Essas formas sustentam trocas que visam a obter um resultado comunicativo, um lucro
(a aceitação do discurso e, com isso, o alcance dos objetivos motivadores da interação social
pela fala). Para isso, os agentes movimentam o mercado simbólico, o que implica a
mobilização, por esses agentes, de todas as disposições incorporadas ao longo da vida, isto é,
todas as experiências sociais pelas quais o indivíduo passou, transformadas em categorias de
(re)produção e percepção do universo social. Essas experiências e socializações, para
Bourdieu (2008), promovem a incorporação de valores pelo indivíduo, valores esses que
muitas vezes são tácitos, subentendidos, interpretados como naturais de cada um, mas que em
realidade são resultado de todo o processo de socializar-se. Estão incorporados ao que

2 De acordo com Bonnewitz (2003[1998], p.53-54), na teoria social de Bourdieu os agentes sociais podem
possuir diferentes tipos de capital, em volumes diversos: (a) Capital econômico: Ligado aos fatores de produção
e bens econômicos; (b) Capital cultural: Produzido nos sistemas escolares e familiares, pode ser
institucionalizado (diplomas e títulos), incorporado (expressão oral, postura) e objetivo (posse de bens culturais;
(c) Capital social: conjunto das relações sociais dos indivíduos ou grupos. Relações e atividades (objetivos) em
comum; (d) Capital simbólico: ligado à honra e ao reconhecimento e representado pelos rituais sociais como
etiqueta e protocolo.
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Bourdieu chama de habitus3.Todas essas incorporações que o indivíduo faz ao longo da vida,
seu habitus, definirão seu posicionamento perante o mundo e formarão sua persona.
Labov (1986) já nos dizia que as mudanças no sistema linguístico não ocorrem isolada
e internamente na língua, mas que são resultado, também, de mudanças e pressões sociais,
ocorridas nas comunidades e difundidas nas ligações em rede entre os indivíduos. Buscando
um entendimento sobre as redes sociais e seu papel na manutenção ou difusão de formas e
valores linguísticos, primeiro devemos entender como se dão os modos de participação dos
agentes nas comunidades. De acordo com Meyerhoff (2011), entenderemos as metas
compartilhadas pelos sujeitos de determinada comunidade de prática somente através de um
detalhamento das relações internas do grupo. A análise dessas comunidades e a relação em
rede entre indivíduos poderão nos fornecer informações de como os falantes se influenciam
durante as trocas linguísticas e como acontece seu trânsito entre diferentes comunidades de
prática.
Os indivíduos podem estar ligados a várias dessas comunidades, e são essas ligações
que definirão sua rede social individual. Milroy (1987) nos indica que as redes sociais podem
apresentar diferentes níveis de densidade e multiplexidade. Nas redes sociais de alta
densidade, teremos um grande número de indivíduos conectados, e se essas conexões
ocorrerem através de diferentes formas de ligações (parentesco, trabalho), essa rede também
será multiplexa. Ainda para Milroy (1987), as redes de baixa densidade são as que possuem
poucos indivíduos conectados entre si, podendo também essa rede ser uniplexa, com apenas
uma forma de ligação entre os indivíduos. Abaixo, trazemos figuras de redes presentes em
Bortoni-Ricardo (2011):

a
e
b

d c
Figura 02: Estrutura de rede de alta densidade
Fonte: Bortoni-Ricardo (2011 p. 91)

3Conforme Bourdieu (1979[2007], p. 162-163), habitus é um esquema de disposições estruturais e


estruturantes. É produzido pela história de práticas sociais do indivíduo na coletividade. É o conjunto
interiorizado de experiências e vivências dos indivíduos, produtor de esquemas de percepção e pensamento. É
pelo habitus que o indivíduo pauta suas decisões e dá continuidade às práticas sociais já experienciadas e
corporificadas.
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e b
d c
Figura 03: Estrutura de rede de baixa densidade
Fonte: Bortoni-Ricardo (2011 p. 92)

Devemos também mencionar que, a partir da pesquisa de Weinreich (1953), começam


a ser descritos e estudados os contatos de línguas. Para o pesquisador, existe o contato quando
diferentes línguas são usadas por indivíduos nas suas relações com outros indivíduos, não
sendo necessário para tal a existência de uma fronteira geográfica que delimitaria os lugares
de utilização de cada língua. Isto é, passa-se a um entendimento de que a variação de
utilização dá língua ou das línguas implicará, além dos fatores geográficos, a construção
interna do usuário destes códigos, além de parâmetros das relações em comunidades, já que,
de acordo com Weinreich (1953), os falantes produzem variação mesmo quando monolíngues.
Nas comunidades de prática, os indivíduos utilizam variantes em sua fala de acordo
com as relações que possuem com seus interlocutores, seu status em determinado grupo e o
tipo de conversa, num mercado simbólico de trocas linguísticas.
Indo além, e lembrando que os sujeitos da pesquisa no presente estudo são, quase em
sua maioria, bilíngues, devemos citar Ferguson (1959), que traz ao estudo do bilinguismo o
conceito de diglossia. Bilinguismo é caracterizado como um comportamento linguístico
essencialmente individual, enquanto diglossia seria uma caracterização do comportamento
linguístico no nível sociocultural, uma separação funcional entre duas variedades linguísticas
presentes em uma mesma língua, definidas por ele como H(igh) language e L(ow) language.
Os indivíduos utilizam a variedade alta (H) em aspectos de uma “alta cultura”,
aprendida através da educação e utilizada em ambientes formais, como escolas e igrejas. Já a
variedade baixa (L) é usada em atividades mais corriqueiras da fala em ambientes informais,
como em casa e com amigos. Dizemos então que, de acordo com o autor, uma situação
diglóssica compreende a utilização, por parte dos indivíduos, de diferentes formas dialetais.
Fishman (1967) acrescenta que o fenômeno da diglossia não ocorre apenas em
sociedades multilíngues com diversas línguas de status oficial. Ocorre também em sociedades
multilíngues que empregam diferentes dialetos com diferentes funções. Para o autor, a
diglossia relaciona-se ao contato nas sociedades bilíngues, na medida em que cada variedade
exercerá determinada função nessas comunidades. Fishman (1967) apresenta, então, quatro
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caracterizações das comunidades de fala em que considera a relação entre bilinguismo e


diglossia:
 Comunidades onde ocorrem bilinguismo e diglossia: como exemplo, o autor
cita o Paraguai, onde quase toda a população fala a língua espanhola e a língua guarani.
 Comunidades onde ocorre diglossia sem bilinguismo: nessas comunidades, a
utilização das variedades alta e baixa ocorre através de uma divisão funcional, onde cada
variedade tem uma utilização específica. O exemplo trazido pelo autor é o período anterior à
Primeira Guerra Mundial, onde as elites usavam, em seus grupos, línguas consideradas de
variedade alta e as massas utilizavam outras línguas, não havendo interação entre os grupos.
 Comunidades onde ocorre bilinguismo sem diglossia: nessas comunidades, as
línguas não são utilizadas com um propósito específico, são antes de tudo situacionais e
transitórias. Como exemplo Fishman cita os imigrantes que se tornam bilíngues pela
necessidade de falar a língua para onde se deslocaram.
 Comunidades sem diglossia e bilinguismo: uma comunidade não teria
bilinguismo nem diglossia à medida que utilizasse apenas uma língua sem diversificação do
repertório.
Considerando então que, quando um indivíduo bilíngue alterna entre duas ou mais
línguas, essa alternância implica, além de bilinguismo, trocas e relações culturais com outros
indivíduos, e que há variação no status e funções destas línguas em contato, podemos dizer
que tais situações de contato influenciarão a produção linguística da comunidade.
Weinreich (1953), ao tratar o contato entre línguas, aponta para fenômenos resultantes,
como os desvios produzidos nas normas das línguas em contato, chamados pelo autor de
interferência. Tal interferência resultará da introdução, em determinado idioma, de elementos
de outro, situação específica onde há línguas em contato direto. Essa interferência, de acordo
com o autor, implicará uma reestruturação dos padrões de determinada língua, ou das línguas
envolvidas. Weinreich (1953) nos diz que tais interferências devem ser observadas não
somente através da parte interna da língua, mas também das relações sociais e dos domínios
psicológicos referentes aos utilizadores.
Levando em consideração, então, o pressuposto de que cada indivíduo traz em si
comportamentos e atitudes linguísticas que lhe são próprios mas, ao mesmo tempo, referentes
aos grupos de que participa e ao seu estilo de vida, nos termos de Bourdieu, somos levados a
pensar que cada um será produtor de interferência linguística e sofrerá interferência
linguística. Weinreich esclarece que a interferência mais comumente percebida pelos falantes
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é a lexical, com formas oriundas de outro sistema linguístico, classificadas por Weinreich
(1953) como empréstimos.
Para o autor, é importante analisar, além dos comportamentos individuais, as atitudes
que os falantes têm em relação aos sistemas linguísticos em contato e, também, as atitudes
que o grupo em que ocorre este contato tem sobre o bilinguismo, pois as relações sociais têm
efeitos sobre os usos linguísticos.
Por fim, cabe ressaltar que o contato de línguas poderá ser experienciado de modo
diferente pelos usuários das línguas envolvidas. Poderá haver interferência na fala individual,
relativa ao que o indivíduo conhece sobre a outra língua, e interferência na língua, resultante
de contatos de longo prazo, já incorporada coletivamente a uma variedade local. Esse último
deve ser o caso da elevação das vogais médias postônicas finais no português falado em
Esquina Barra Funda, Novo Machado/RS, em suas baixas proporções de aplicação.

3 METODOLOGIA

3.1 A comunidade de fala: Esquina Barra Funda - Novo Machado – RS

Conforme dados do IBGE (2010), o município de Novo Machado foi criado pela lei
9555 de 20 de março de 1992 e está localizado no noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
Tem como municípios limítrofes Doutor Maurício Cardoso, Tucunduva, Tuparendi, Porto
Mauá e, ainda, possui fronteira fluvial (através do Rio Uruguai) com a comunidade de
Colônia Aurora, situada no município de 25 de Mayo, na Argentina.

Figura 04: Noroeste Rio Grande do Sul. Figura 10: Noroeste Rio Grande do SulFonte:
(http://antigo.ses.rs.gov.br/conteudo/387/?14%C2%AA_CRS_%28Santa_Rosa%29) Acesso em 02 ago 2017
13

Figura 05: Localização da região noroeste no Rio Grande do Sul


Fonte: (http://avemissoes.blogspot.com.br/p/regiao-das-missoes.html) Acesso em 02 ago 2017

Novo Machado dista 534 quilômetros da capital gaúcha, e a “cidade referência” é


Santa Rosa, localizada a 54 quilômetros. A área territorial do município é de 218,699 km 2, o
bioma específico é Mata Atlântica e a população estimada pelo Censo IBGE de 2010 é de
3.925 habitantes, divididos em 1.948 homens e 1.977 mulheres.
A população residente alfabetizada é de 3.460 pessoas e, quanto à crença religiosa,
divide-se em 1.343 católicos e 2.499 evangélicos (englobando principalmente a Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB e a Igreja Evangélica Luterana do
Brasil – IELB).
A fonte principal de renda do município é a atividade rural, tanto a agricultura como a
pecuária. Além disso, nas localidades às margens do rio Uruguai, existem colônias de
pescadores que têm na pesca sua principal fonte de renda.
No que diz respeito ao começo da colonização da então Linha Machado, Busse (2009)
descreve a viagem do imigrante alemão Gerard Kleinert ao local da seguinte maneira:

“Em 1924, da Alemanha a Santos/SP, [Gerard Kleinert e família] enfrentaram a


longa e cansativa viajem de navio precário. Depois de alguns dias de aclimatização
na Ilha das Flores, prosseguiram a Porto Alegre em outro navio, onde ficaram 15
dias acampados em barracas do exército na Praça da Alfândega, esperando a
confirmação da ida a mais jovem colônia do Estado. A viagem da capital até Santa
Maria foi feita de trem Maria Fumaça, que levava um dia... Ali foi necessário fazer
baldeação para Cruz Alta e dali a Santo Ângelo, levava-se quase um dia. De Santo
Ângelo, com as carretas do governo, até Santa Rosa, andava-se aproximadamente 60
14

km. Aconselhados, deixaram parte da família, a mãe com os filhos menores no


acampamento do governo. De Santa Rosa partiu o pai com os dois filhos mais
velhos. Chegando à Tucunduva, aproximadamente 32 km a cavalo, percorridos em
um dia, pernoitaram. Seguiram no dia seguinte a pé, levando mais um dia para
percorrerem aproximadamente mais15 km, pelas picadas até o centro de distribuição
de terras de Linha Machado (BUSSE, 2009, p. 27).”

A comunidade de Esquina Barra Funda fica no interior do que era Linha Machado,
atual município de Novo Machado. Esquina Barra Funda é essencialmente rural, composta
principalmente por pequenos produtores que cultivam tabaco e criam suínos e bovinos.
Existem uma padaria e dois mercados na comunidade. Até 2005, existia em Esquina
Barra Funda uma central de recebimento de grãos, chamada popularmente de “moega”, porém
essa acabou fechando devido à concorrência de empresas maiores da região.
Nessa localidade, a maioria dos residentes possui descendência alemã e ainda conserva
a variedade dialetal alemã4 para a comunicação em momentos do dia a dia. Cabe ressaltar que
os donos de ambos os mercados existentes na comunidade sabem falar a variedade alemã e
utilizam-se da língua em diversas situações de comunicação durante o dia, visto que alguns
clientes preferem a comunicação na sua “língua original”.
As localidades que circundam Esquina Barra Funda são: Esquina Carvalho, Barra
Funda Baixa e Lajeado Corredeira, sendo esta última a comunidade com a maior presença
lusa da cidade, além de ser a localidade onde encontramos ribeirinhos, que além da
agricultura também ganham a vida através da pesca. As outras duas localidades possuem uma
semelhança com a comunidade alvo do estudo, pois são predominantemente de colonização
alemã e de pequenos agricultores, sendo que, para ambas localidades, o ponto de referência
nas proximidades é Esquina Barra Funda.

3.2 A análise da regra variável

Para a análise de regra variável, foi necessária a coleta de dados na comunidade de


Esquina Barra Funda. Esta coleta foi precedida de observação da comunidade a fim de saber
quais seriam os melhores dias e turnos para realizar as entrevistas. Percebeu-se que os
informantes homens teriam maior disponibilidade de tempo nos primeiros horários do dia ou à
tardinha, e as mulheres, durante a tarde, entre o almoço e as 17 horas, principalmente aos
finais de semana. A partir daí, realizou-se o planejamento para as entrevistas.

4 Em Esquina Barra Funda os moradores referem-se à variedade dialetal alemã como “alemão”. Ainda há, entre
eles, alguns que nomeiam como alemão-russo, porém o pesquisador não teve acesso a estudos, documentos ou
materiais que esclareçam qual a variedade dialetal ali praticada.
15

A partir da observação da comunidade, ocorreu a seleção dos informantes para a


constituição da amostra através do método aleatório estratificado:
“O método mais comum em estudos de variação linguística para tal fim é o aleatório
estratificado. De acordo com esse procedimento, deve-se dividir a população de
interesse em várias unidades compostas, cada uma delas, de indivíduos com as
mesmas características sociais (Oliveira e Silva, 1992, p. 104). Essas unidades são
conhecidas como células e devem ser preenchidas de forma aleatória, o que significa
dizer que cada membro da comunidade de interesse tem a mesma chance de ser
escolhido para fazer parte da pesquisa. (BRESCANCINI, 2002, p17)”

Utilizando o modelo aleatório estratificado, transformamos as características sociais


(sexo, escolaridade e idade) em variáveis, multiplicamos seus fatores e assim chegamos à
quantidade de células preenchidas. Temos: sexo (dois fatores: masculino e feminino);
escolaridade (três fatores: até 04 anos, de 04 a 08 anos e mais de 08 anos de escolaridade);
idade (três fatores: 15 a 35 anos, 36 a 57 anos e 58 anos ou mais). Fazendo o cálculo 2x3x3,
temos dezoito células, distribuídas como no quadro 01 a seguir:

Célula 01 Célula 02 Célula 03 Célula 04


Sexo Feminino Sexo Feminino Sexo Feminino Sexo Masculino
15 a 35 anos 36 a 57 anos Mais de 58 anos 15 a 35 anos
Até 04 anos de Até 04 anos de Até 04 anos de Até 04 anos de
escolaridade escolaridade escolaridade escolaridade
Célula 05 Célula 06 Célula 07 Célula 08
Sexo Masculino Sexo Masculino Sexo Feminino Sexo Feminino
36 a 57 anos Mais de 58 anos 15 a 35 anos 36 a 57 anos
Até 04 anos de Até 04 anos de De 04 a 08 anos De 04 a 08 anos de
escolaridade escolaridade de escolaridade escolaridade
Célula 09 Célula 10 Célula 11 Célula 12
Sexo Feminino Sexo Masculino Sexo Masculino Sexo Masculino
Mais de 58 anos 15 a 35 anos 36 a 57 anos Mais de 58 anos
De 04 a 08 anos de De 04 a 08 anos de De 04 a 08 anos De 04 a 08 anos de
escolaridade escolaridade de escolaridade escolaridade
Célula 13 Célula 14 Célula 15 Célula 16
Sexo Feminino Sexo Feminino Sexo Feminino Sexo Masculino
15 a 35 anos 36 a 57 anos Mais de 58 anos 15 a 35 anos
Mais de 08 anos de Mais de 08 anos de Mais de 08 anos Mais de 08 anos de
escolaridade escolaridade de escolaridade escolaridade
Célula 17 Célula 18
Sexo Masculino Sexo Masculino
36 a 57 anos Mais de 58 anos
Mais de 08 anos de Mais de 08 anos de
escolaridade escolaridade
Quadro 01: Quadro de células preenchidas com entrevistas
16

A variável dependente é a elevação das vogais médias em sílaba átona final absoluta,
isto é, a realização de /e/ como [] e de /o/ como [], alternando com [e] e [o],
respectivamente, em sílabas finais átonas e sem coda. Exemplo, cidad[e]~cidad[],
nov[o]~nov[]. Definimos, então, o fator de aplicação como sendo a elevação das vogais
médias nessa posição.
Na rodada com dados apenas de /e/, a variável dependente é a elevação da vogal média
/e/ em posição átona final absoluta, alternando-se [] com [e]. Na rodada com dados apenas de
/o/, a variável dependente é a elevação da vogal média /o/ em posição átona final absoluta,
alternando-se [] com [o].
As variáveis independentes linguísticas controladas na pesquisa foram:

Contexto Contexto seguinte Contexto vocálico Acento


Precedente da sílaba tônica
Labial (sobe, Labial (fosse mais, Com vogal alta Antepenúltima sílaba
tombo) veio muito) (vinte, único) (ótimo, árvore)
Coronal [-ant] Coronal [+ant] Sem vogal alta Penúltima sílaba
(peixe, macho) (quente demais, (série, macho) (sempre, carro)
carro trancado)
Coronal [+ant] Consoantes
(dente, ponto) posteriores (ponte
cheia, muito chato,
sempre correndo,
muito quente)
Vogal (colégio, Vogal (grande
espécie) empresa, muito
extenso)
S/Z (tosse, osso,
onze, zonzo)
Dorsal (consegue,
leque, fico,
domingo)
Quadro 02- Variáveis independentes linguísticas

Após a codificação, os dados foram submetidos à análise estatística com o programa


GoldVarb X, com que se procedeu à conferência dos dados, e, a partir deste momento, se
realizaram os crosstabs, CROSS TABULATIONS, ou cruzamentos entre as variáveis, onde
podemos observar as relações de dependência entre essas variáveis. A seguir, fez-se a análise
UNIDIMENSIONAL, que traz as porcentagens de aplicação das regras para cada fator, e a
análise MULTIDIMENSIONAL, que leva em conta a realização da variável dependente em
17

relação às demais variáveis, apresentando os resultados para cada fator controlado na


pesquisa.
Em cada etapa da análise, o programa apresenta o cálculo do valor de PESO
RELATIVO (número em um intervalo entre 0,00 e 1,00, onde 0,50 é o ponto neutro), que
expressa a tendência de aplicação da regra como efeito da interação de cada fator com os
demais fatores de cada grupo (ou variável independente). Se o resultado for acima do ponto
neutro, consideramos que o fator favorece a aplicação, enquanto que, se o resultado for abaixo
do ponto neutro, consideramos que desfavorece a aplicação da regra.

4 RESULTADOS

4.1 Análise de regra variável

Antes da apresentação dos resultados das rodadas, devemos referir o resultado para a
variável bilinguismo, que não foi selecionada pelo programa. Isso se deve, possivelmente, à
grande disparidade na quantidade de dados entre falantes bilíngues e não bilíngues,
disparidade essa devida à quase maioria dos entrevistados falarem uma segunda língua. Assim
mesmo, apontamos aqui que os resultados são: para os falantes bilíngues, o peso relativo foi
de 0,514, e para os não bilíngues, de 0,486, ambos muito próximos do ponto neutro.

4.1.1 Rodada com os dados de /e/ e /o/ juntos


Na rodada com os dados de /e/ e /o/ juntos, pode-se obter a proporção total de
elevação das vogais médias em sílaba átona final absoluta. Foram 11363 os contextos
considerados na análise, dos quais apenas 1022, ou 9%, foram elevados.
Os contextos com /o/ em posição átona final foram mais frequentes, pois, dos 11363
dados analisados, 7955 foram de /o/, enquanto apenas 3408 foram de /e/. Na análise das duas
vogais juntas, o programa selecionou quatro variáveis linguísticas e duas extralinguísticas
como relevantes para a aplicação da regra variável. São as que seguem:
- Qualidade da vogal-alvo
- Contexto precedente
- Contexto seguinte
- Vogal alta na sílaba tônica
- Idade
- Escolaridade
18

Apresentaremos os resultados da análise quantitativa seguindo essa ordem de seleção.

4.1.1.1 Qualidade da vogal-alvo

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Qualidade da/o/ 11,1 0,578 880/7955
/e/ 4,2 0,324 142/3408
vogal-alvo
Total 9,0 1022/11363
Input:0,83 Significância:0,000
Tabela 01: Taxa de elevação total das vogais médias átonas em posição final

Como podemos verificar na Tabela 01, a comunidade de Esquina Barra Funda mostra
um alto índice de preservação da vogal média, ocorrendo a elevação em apenas 9,0% dos
casos, ou seja, em 1022 dados de um total de 11363. Nota-se, também, que contextos
terminados em /o/ são condicionadores da aplicação da regra de elevação, pois o fator /o/
aparece com um peso relativo de 0,578 (acima do ponto neutro) e 11,1 % de realização,
enquanto o peso relativo para o fator /e/ é de 0,324, não favorece a elevação e apresenta uma
proporção 0,324 % de aplicação da regra.

4.1.1.2 Contexto precedente

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Dorsal 19,1 0,644 135/708
Coronal [-ant] 10,1 0,639 191/1149
Labial 10,3 0,583 119/1158
Contexto Coronal [+ant] 7,3 0,439 493/6789
Precedente S/Z (serviço, 5,6 0,366 71/1119
Vogal 4,5 0,33 13/289
Total 9,0 1022/11363
Input:0,084 Significância:0,000
Tabela 02: Elevação vogais médias átonas em posição final absoluta: contexto precedente

No contexto precedente, os fatores dorsal, coronal [-ant] e labial se mostraram


favorecedores da aplicação da regra de elevação, apresentando, respectivamente, pesos
relativos de 0,644, 0,639 e 0,583, enquanto os fatores coronal [+ant], S/Z e vogal se
mostraram desfavorecedores, com pesos abaixo do ponto neutro, respectivamente 0,439,
0,366 e 0,33.
19

4.1.1.3 Contexto seguinte

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Consoantes 11,1 0,565 142/1285
Contexto posteriores
Labial 10,8 0,531 217/2016
Seguinte
Vogal 10,0 0,493 398/3992
Coronal [+ant] 6,5 0,411 265/4070
Total 9,0 1022/11363
Input:0,088 Significância:0,000
Tabela 03: Elevação vogais médias átonas em posição final absoluta: contexto seguinte

No contexto seguinte, os fatores que ficaram acima do ponto neutro foram consoantes
posteriores (resultado do amálgama entre dorsal e coronal[-ant]) e labial, com pesos de 0,565
e 0,531. Já os fatores vogal, com peso de 0,493, e coronal [+ant], com peso de 0,411, não
favorecem a elevação.

4.1.1.4 Vogal alta na sílaba tônica

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Vogal alta naCom vogal alta 15,0 0,616 584/3897
Sem vogal alta 5,9 0,384 438/7466
sílaba tônica
Total 9,0 1022/11363
Input:0,082 Significância:0,000
Tabela 04: Elevação vogais médias átonas em posição final absoluta: presença de vogal alta na sílaba tônica

Nosso resultado mostra um peso relativo de 0,616 para contextos com vogal alta na
sílaba tônica (contra 0,384 em contextos sem vogal alta), considerado favorecedor para os
resultados de /e/ e /o/ juntos.

4.1.1.5 Idade
Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total
36 – 57 anos 10,5 0,539 406/3456

15 – 35 anos 9,9 0,533 358/3615


Idade
Mais de 58 anos 6,6 0,428 258/3886
Total 9,0 1022/11363
Input:0,088 Significância:0,000
Tabela 05: Elevação vogais médias átonas em posição final absoluta: idade
20

Em relação à variável idade, obtivemos um resultado que nos surpreendeu, pois


tínhamos a hipótese de que os informantes da faixa mais jovem seriam os que mais elevariam
as vogais; porém, considerando-se os pesos relativos, foram os indivíduos da faixa
intermediária que aplicaram mais a regra variável, na proporção de 10,5% e peso relativo de
0,539 (ficando porém perto do ponto neutro).

4.1.1.6 Escolaridade

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


De 04 a 08 anos 9,7 0,524 426/4401
Até 04 anos 9,7 0,522 361/3720
Escolaridade
Mais de 08 anos 7,2 0,454 235/3242
Total 9,0 1022/11363
Input:0,089 Significância:0,000
Tabela 06: Elevação vogais médias átonas em posição final absoluta: escolaridade

Aqui, também encontramos um resultado surpreendente, pois, de acordo com os


estudos revisados sobre elevação, a indicação era a de que, quanto mais anos de estudo o
informante apresentava, maior era sua proporção de elevação. Nosso resultado indicou que,
em Esquina Barra Funda, o fator mais de 08 anos de estudo é o mais conservador, ficando
com um peso relativo de 0,454, contra fatores favorecedores de 0,522 para os informantes
com até 04 anos de estudo, e de 0,524 para os informantes com escolaridade entre 04 e 08
anos.

4.1.2 Rodada com os dados apenas de /o/

A seguir, apresentamos os resultados da análise com dados de /o/ apenas. Assim como
na análise das duas vogais juntas, o programa selecionou variáveis linguísticas e
extralinguísticas. São elas:
- Contexto precedente
- Contexto seguinte
- Vogal alta na sílaba tônica
- Idade
- Escolaridade
21

4.1.2.1 Contexto precedente

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Contexto Labial 11,3 0,622 117/1036
Dorsal 17,8 0,618 114//642
Precedente
Coronal [-ant] 15,6 0,567 125/802
Coronal [+ant] 10,2 0,481 456/4473
S/Z (serviço, 7,7 0,381 55/660
Vogal 4,5 0,335 13/287
Total 11,1 880/7955
Input:0,083 Significância:0,000
Tabela 07: Elevação da vogal /o/ em posição átona final absoluta: contexto precedente

Para a vogal /o/, os fatores favorecedores no contexto precedente foram labial (0,622),
dorsal (0,618) e coronal [-ant] (0,567), semelhantes aos resultados obtidos por Silva (2009):
“[...] o fator dorsal amalgamado com coronal [-anterior] apresenta o maior peso relativo,
0,67, figurando como altamente favorável ao alçamento das vogais médias /e/ e /o/ não
finais. Mostraram-se também favoráveis à elevação, com peso relativo de 0,60, as
labiais.” (SILVA, 2009, p. 139).

4.1.2.2 Contexto seguinte

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Consoantes posteriores 15,3 0,596 127/702
Contexto (Coronal [-ant] + Dorsal)
Labial 13,1 0,528 195/1494
Seguinte
Vogal 10,6 0,447 302/2839
Coronal [+ant] 9,2 0,429 256/2537
Total 11,1 880/7955
Input:0,083 Significância:0,000
Tabela 08: Elevação da vogal /o/ em posição átona final absoluta: contexto seguinte

No contexto seguinte, dois fatores se apresentaram como favorecedores para a


aplicação da regra e elevação: consoantes posteriores (resultantes do amálgama de coronal [-
ant] e dorsal) e labial, ficando este último fator próximo ao ponto neutro, com peso relativo de
0,528 e o primeiro com peso de 0,596.
22

4.1.2.3 Vogal alta na sílaba tônica

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Vogal alta naCom vogal alta15,9 0,625 553/3487
sílaba tônica (último)
Sem vogal alta (barco) 7,3 0,375 327/4468
Total 11,1 880/7955
Input:0,083 Significância:0,000
Tabela 09: Elevação da vogal /o/ em posição átona final absoluta : presença de vogal alta na sílaba tônica

Como no resultado da análise conjunta de /e/ e /o/, nos dados de /o/ a presença de
vogal alta na sílaba tônica se mostrou favorecedora, o que nos remete novamente aos estudos
de Vieira (1994, 2002), que observa essa relação entre elevação e vogal alta nas comunidades
de fronteira e de colonização italiana e alemã. Podemos referir aqui também o resultado de
Mileski (2013) na sua análise de uma comunidade de descendentes de poloneses.

4.1.2.4 Idade

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


15 – 35 anos 13,3 0,557 353/2658
36 – 57 anos 12,1 0,534 307/2527
Idade
Mais de 58 anos 7,9 0,419 220/2770
Total 11,1 1022/11363
Input:0,083 Significância:0,000
Tabela 10: Elevação da vogal /o/ em posição átona final absoluta: idade

Em relação à elevação e à idade para /o/, esperávamos obter resultado semelhante aos
de Roveda (1998), Carniato (2000), e Mallmann (2001), que mostram a tendência dos jovens
a assumir formas inovadoras, o que se confirmou.

3.1.2.5 Escolaridade

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


De 04 a 08 anos 12,1 0,526 368/3042
Até 04 anos 11,9 0,525 311/2615
Escolaridade
Mais de 08 anos 8,7 0,449 201/2298
Total 11,1 880/7955
Input:0,089 Significância:0,000
Tabela 11: Elevação da vogal /o/ em posição átona final absoluta: escolaridade
23

Para /o/, assim como na análise conjunta, esperávamos que os resultados fossem
semelhantes aos de diversos estudos anteriores, como o de Silva (2009), em que
“[...]informantes com ensino superior e ensino médio, com peso relativo de 0,71 e 0,66,
respectivamente, mostram-se mais favoráveis ao processo de alçamento da postônica /o/.”
(SILVA, 2009, p. 133). Porém, novamente nos aproximamos do resultado de Mileski (2013),
que aponta que os informantes com Ensino Fundamental são os que mais favorecem a
aplicação da regra, os informantes que desfavorecem a elevação são os com Ensino Superior.
Cabe ressaltar que a divisão feita por Mileski (2013) e Silva (2009) foi de acordo com
a divisão oficial de Ensino (Ensino Fundamental, Médio e Superior) no Brasil, enquanto
nossa divisão foi por anos de escolaridade. Desta forma, como Mileski (2013), temos os
informantes com mais anos de estudo como os que desfavorecem a elevação, e os das faixas
de até 04 anos e de 04 a 08 anos perto do ponto neutro.

4.1.3 Rodada com os dados apenas de /e/

Curiosamente, para /e/, o programa selecionou apenas três variáveis linguísticas como
relevantes para a aplicação da regra de elevação das vogais médias átonas em posição final
absoluta. São elas:
- Contexto precedente
- Contexto seguinte
- Presença de vogal alta na sílaba tônica

4.1.3.1 Contexto precedente

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Dorsal 31,8 0,976 21/66
Contexto Coronal [-ant] 19,0 0,955 66/347
Precedente S/Z 2,9 0,732 16/555
Coronal [+ant] 1,6 0,639 37/2316
Labial 1,6 0,639 2/122
Vogal 0,0 <0,001 0/2
Total 4,2 142/3408
Input:0,01 Significância:0,000
Tabela 12: Elevação da vogal /e/ em posição átona final absoluta: contexto precedente

Para contextos com /e/, exceto o fator vogal, que apresentou apenas dois dados e
nenhuma realização de elevação, todos os outros fatores se mostraram relevantes para a
24

realização da regra de elevação. Pela ordem dos pesos relativos, tivemos os fatores dorsal,
com 0,976, coronal [-ant], com 0,955, S/Z, com 0,732, coronal [+ant], com 0,639 e labial com
0,639. Destacamos aqui o fator labial, que mesmo com peso relativo indicando
favorecimento, apresentou apenas dois casos de elevação em um universo de 122 contextos.

4.1.3.2 Contexto seguinte

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Vogal 8,3 0,684 96/1153
Contexto Consoantes posteriores 3,3 0,568 15/456
Seguinte Labial 4,2 0,567 22/522
Coronal [+ant] 0,7 0,211 9/1277
Total 4,2 142/3408
Input:0,001 Significância:0,000
Tabela 13: Elevação da vogal /e/ em posição átona final absoluta : contexto seguinte

No contexto seguinte, o fator vogal apresentou peso relativo de 0,684, sendo o mais
forte condicionador, seguido pelo fator consoantes posteriores, com peso de 0,568, e pelo
fator labial, com 0,567 de peso relativo. Já o fator coronal [+ant] aparece com peso relativo de
0,211, sendo, então, desfavorável à aplicação da regra de elevação.

4.1.3.3 Vogal alta na sílaba tônica

Variável Fator % Peso relativo Aplicação/Total


Vogal alta naCom vogal alta 7,6 0,577 31/410
sílaba tônica Sem vogal alta 3,7 0,423 111/2998
Total 4,2 142/3408
Input:0,001 Significância:0,000
Tabela 14: Elevação da vogal /e/ em posição átona final absoluta: presença de vogal alta na sílaba tônica
Como para /o/, também para /e/ a presença de vogal alta na sílaba tônica favorece a
elevação, apresentando um peso relativo de 0,577, contra o peso de 0,423 para contextos sem
vogal alta.
25

4.1.4 Cruzamentos

4.1.4.1 Cruzamento entre idade e escolaridade para /e/ e /o/

Idade
Escolaridade 15-35 % 36-57 anos % Mais de 58% Total %
anos anos
Até 04Aplic. 160 13 157 13 44 3 361 10
N. Aplic. 1089 87 1030 87 1240 97 3359 90
anos
Soma 1249 1187 1284 3720
De 04 aAplic. 110 10 190 9 126 10 426 10
N. Aplic. 939 90 2067 91 1159 90 3975 90
08 anos
Soma 1049 1877 1285 4401
Mais deAplic. 88 7 59 10 88 7 235 7
N. Aplic. 1229 93 549 90 1229 93 3007 93
08 anos
Soma 1317 608 1317 3242
Total Aplic. 358 10 406 11 258 7 1022 9
N. Aplic. 3257 90 3456 89 3626 93 10341 91
Soma 3615 3862 3886 11363
Tabela 15: Cruzamento entre idade e escolaridade para /e/ e /o/

Como se vê na tabela 15 acima, feito o cruzamento entre idade e escolaridade, as


faixas etárias de escolaridade de até 04 anos e de 04 a 08 anos aplicam, em termos de
porcentagem, mais que a faixa de escolaridade acima de 08 anos. Quando observadas cada
faixa de escolaridade por cada faixa etária, vemos que, nos informantes de 15 a 35 anos,
existe uma redução na porcentagem: quanto menos escolaridade, maior é a porcentagem. Na
faixa de 36 a 57 anos, a porcentagem maior também fica com os informantes com menos
tempo de escolaridade, porém há uma inversão entre as faixas de 04 a 08 anos e mais de 08
anos de escolaridade. Já na faixa etária de mais de 58 anos, a maior porcentagem de aplicação
fica na faixa etária de 04 a 08 anos, seguido de mais de 08 anos e, por fim, de até 04 anos.
Esses resultados indicam uma mudança na comunidade em relação à escolaridade, que
atualmente não tem o mesmo efeito no português falado por seus habitantes.
26

4.1.4.2 Cruzamento entre idade e escolaridade apenas para /e/

Idade
Escolaridade 15-35 % 36-57 anos % Mais de 58% Total %
anos anos
Até 04Aplic. 23 6 23 6 4 1 50 5
N. Aplic. 353 94 336 94 366 99 1055 95
anos
Soma 376 359 370 1105
De 04 aAplic. 16 5 20 3 22 6 58 4
N. Aplic. 314 95 645 97 342 94 1301 96
08 anos
Soma 330 665 364 1359
Mais deAplic. 12 3 10 6 12 3 34 4
N. Aplic. 370 97 170 94 370 97 910 96
08 anos
Soma 382 180 382 944
Total Aplic. 51 5 53 5 38 4 142 4
N. Aplic. 1037 95 1151 95 1078 96 3266 96
Soma 1088 1204 1116 3408
Tabela 16: Cruzamento entre idade e escolaridade para /e/

Analisando o cruzamento entre idade e escolaridade apenas com os dados de /e/,


notamos que, na primeira faixa etária, mais jovem, são os informantes com menos anos de
escolaridade que elevam mais. Na segunda faixa etária, a porcentagem maior fica dividida
entre os informantes com até 04 anos de escolaridade e com os que possuem mais de 08 anos
de escolaridade. Na terceira faixa etária, ou seja, a dos mais velhos, são os informantes que
possuem de 04 a 08 anos de escolaridade os que apresentam a maior porcentagem de
elevação.
Confirma-se, nos dados de /e/, o padrão verificado nos dados de /e/ e /o/ juntos: a
escolaridade não tem hoje na comunidade o mesmo efeito sobre o português falado por seus
habitantes, o de difusão de mudanças que afetam o português brasileiro como um todo. Fica o
indício de que se desenvolve em Esquina Barra Funda, como possivelmente em outras
comunidades gaúchas de perfil similar – poucos habitantes, atividades predominantemente
rurais, alta densidade de comunicação –, um localismo, ou sentimento de pertença à
comunidade que dá consistência a um padrão local e vem prevenindo o avanço de processos
como o de elevação de /e/ e /o/ átonos finais, em andamento nos grandes centros urbanos
brasileiros.
27

4.1.4.3 Cruzamento entre idade e escolaridade apenas para /o/

Idade
Escolaridade 15-35 % 36-57 anos % Mais de 58% Total %
anos anos
Até 04Aplic. 137 16 134 16 40 4 311 12
anos N. Aplic. 736 84 694 84 874 96 2304 88
Soma 873 828 914 2615
De 04 aAplic. 94 13 170 12 104 11 368 12
08 anos N. Aplic. 625 87 1232 88 817 89 2674 88
Soma 719 1402 921 3042
Mais deAplic. 76 8 49 11 76 8 201 9
08 anos N. Aplic. 859 92 379 89 859 92 2097 91
Soma 935 428 935 2298
Total Aplic. 307 12 353 13 220 8 880 11
N. Aplic. 2220 88 2305 87 2550 92 7075 89
Soma 2527 2658 2770 7955
Tabela 17: Cruzamento entre idade e escolaridade para /o/

Na tabela 17 acima, com os resultados dos cruzamentos entre idade e escolaridade


somente para /o/, podemos perceber que, na primeira faixa etária (jovens), são novamente os
informantes com menos escolaridade que elevam mais e os com mais escolaridade os que
elevam menos; na segunda faixa etária, os resultados são similares, com os informantes de
menos escolaridade com maior porcentagem de elevação; já na terceira faixa (mais idosos),
são os indivíduos com escolaridade entre 04 e 08 anos que apresentam a maior porcentagem
de elevação.
O padrão verificado no cruzamento entre idade e escolaridade nos dados de /o/ reforça
o observado no conjunto dos dados e nos dados de /e/.. Isso sugere uma possível mudança na
comunidade ao longo dos anos, motivadora de diferentes orientações à escola e às atividades
locais como um todo.

4.2 Análise de rede social

Voltemos à comunidade de Esquina Barra Funda para que possamos observar as


comunidades de prática variadas presentes aí. Temos, por exemplo, a OASE (Ordem
Auxiliadora das Senhoras Evangélicas), que se reúne periodicamente para tratar de assuntos
relacionados à igreja e promover eventos; os “encontros de jovens”, que se ocorrem nos finais
28

de semana em torno de eventos musicais e, também, os senhores, que aos sábados participam
dos jogos de cartas na comunidade católica.
Nessas comunidades de prática, cada interação implicará uma escolha linguística para
cada indivíduo. Pensando que, nessas comunidades de prática, realizam-se atos de fala
específicos por indivíduos ocupando distintos papeis sociais, podemos dizer que encontramos
aí diferentes mercados simbólicos, onde a utilização da língua por cada membro se orientará
pelo habitus e visará a um determinado lucro simbólico em cada diferente grupo de que o
indivíduo participe.
Baseados nas observações realizadas em Esquina Barra Funda, identificamos
indivíduos que “concentram” os contatos quando se trata das relações com a sede do
município ou, até mesmo, com as cidades vizinhas. É comum na comunidade que todos
saibam quando um determinado morador, principalmente os dono dos mercados ou da
padaria, sairão da comunidade para realizar negócios fora. Com essa informação, os
moradores solicitam a essas pessoas atividades como pagamento de contas, compras de
produtos que não são vendidos por ali, serviços de correios, etc.
Com base nisso, podemos afirmar que existem aí redes de alta densidade, o que pode
nos indicar uma possível resposta aos altos níveis de conservação das vogais médias átonas.
Bortoni-Ricardo (2011) nos diz que as redes de alta densidade tendem a ser mais fechadas às
influências externas e que isso poderia implicar uma maior resistência às mudanças vindas de
fora.
Retomando Eckert (2000), que nos diz que cada indivíduo terá um papel em cada
comunidade de prática de que participe, podendo estar no centro ou na periferia de uma
determinada rede, encontramos em Esquina Barra Funda papéis centrais em indivíduos com
determinada posição. Por exemplo, o dono do mercado, a presidente da OASE, o atendente do
bar, os presidentes das comunidades religiosas, etc. Cada um destes indivíduos, em uma
determinada comunidade de prática, representa um núcleo e, ainda segundo a autora, são estes
representantes dos papéis centrais que poderão influenciar social e linguisticamente o grupo
todo.
Obrigatório mencionarmos aqui que, em Esquina Barra Funda, grande quantidade dos
habitantes é bilíngue, na medida em que fala português e a variedade dialetal alemã. Podemos
exemplificar esse fato quando analisamos diferentes comunidades de prática da localidade,
como o Círculo de Pais e Mestres da escola e a Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas.
Esses dois grupos são bastante presentes e atuantes na comunidade, e nos mostram que
um mesmo indivíduo, que participa dos dois grupos, usará alternadamente seus códigos. Dos
29

dezoito informantes que fizeram parte desta pesquisa, ressaltamos que catorze declararam-se
bilíngues, sendo doze bilíngues português-alemão, um bilíngue português-italiano e um
bilíngue português-espanhol.
Abaixo apresentamos um quadro (quadro 03) com a frequência de contato entre os
informantes (os nomes foram substituídos por letras na ordem alfabética), sendo que os
números representam: 1 – contato diário, 2 – contato semanal e, 3 – contato mensal.

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R
A ### 2 1 3 2 3 1 2 1 1 3 3 2 3 3 2 2 2
B 2 ### 1 3 2 3 2 3 2 1 3 3 1 3 3 2 2 3
C 1 1 ### 3 2 3 3 3 2 1 3 3 2 3 3 3 2 2
D 3 3 3 ### 3 3 2 2 3 2 3 3 3 3 3 3 2 3
E 2 2 2 3 ### 3 2 2 2 2 3 3 2 3 3 2 1 3
F 3 3 3 3 3 ### 3 3 3 2 3 1 2 1 1 3 3 3
G 1 2 3 2 2 3 ### 2 1 2 3 3 2 3 3 1 2 3
H 2 3 3 2 2 3 2 ### 3 3 3 3 3 3 3 3 2 3
I 1 2 2 3 2 3 1 3 ### 2 3 3 2 3 3 1 2 3
J 1 1 1 2 2 2 2 3 2 ### 3 2 1 2 2 2 1 2
K 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 ### 3 3 3 3 3 3 3
L 3 3 3 3 3 1 3 3 3 2 3 ### 2 2 2 2 2 2
M 2 1 2 3 2 2 2 3 2 1 3 2 ### 2 2 2 2 2
N 3 3 3 3 3 1 3 3 3 2 3 2 2 ### 1 3 3 3
O 3 3 3 3 3 1 3 3 3 2 3 2 2 1 ### 3 3 3
P 2 2 3 3 2 3 1 3 1 2 3 2 2 3 3 ### 2 3
Q 2 2 2 2 1 3 2 2 2 1 3 2 2 3 3 2 ### 2
R 2 3 2 3 3 3 3 3 3 2 3 2 2 3 3 3 2 ###
Quadro 03: Frequência de contato dos informantes de Esquina Barra Funda

Levando em consideração a matriz dos contatos presente no quadro acima, e


lembrando que Esquina Barra Funda é uma comunidade pequena onde todos se conhecem,
devemos esclarecer aqui como e em que consistem os contatos entre os sujeitos da pesquisa.
Os contatos diários, representados aqui pelo número 1 são principalmente relações
familiares e entre vizinhos imediatamente próximos. Os contatos semanais, representados
pelo número 2, são os realizados nas atividades sociais da comunidade, que ocorrem
principalmente aos sábados e domingos, como os jogos de futebol, baralho, reuniões dos
30

clubes de damas e cavalheiros e encontros para jantares e almoços, além de atividades como
fazer as compras nos mercados da localidade. Já os contatos mensais ocorrem principalmente
em eventos religiosos, como cultos, reuniões com os membros da igreja, encontros em
palestras sobre saúde, vizinhos mais distantes e entre indivíduos que trabalham por dia e são
contratados quando existe a necessidade de algum ajudante em determinado dia.
A rede social dos moradores de Esquina Barra Funda apresenta, então, características
de multiplexidade, uma vez que as relações podem ser familiares e também comerciais ou de
trabalho. Como exemplo podemos citar alguns informantes na matriz de relações que são
familiares mais distantes em que um dos sujeitos também presta serviços aos seus parentes.
Além disso, outra relação entre esses indivíduos pode ocorrer nas atividades de lazer da
comunidade. Em cada um desses momentos, um papel diferente é assumido.
Interessante apontar, também, a porcentagem total (dados de /e/ e /o/ juntos) de
elevação de cada informante, resultado obtido através das rodas estatísticas, como se vê na
tabela 18:

Informante Porcentagem de
elevação vocálica
A 5.1
B 3.9
C 5.6
D 5.6
E 5.4
F 5.9
G 5.3
H 5.6
I 5.9
J 5.1
K 5.9
L 6.6
M 5.4
N 5.6
O 6.0
P 5.4
Q 5.6
R 5.9
Tabela 18 : Relação de informantes e porcentagem individual de elevação vocálica
31

Através desses resultados, percebemos que a comunidade apresenta um


comportamento bastante coeso quando se trata da elevação vocálica, visto que a diferença nas
porcentagens é pequena, tendendo todos à conservação das vogais médias átonas em posição
final.
Levando em consideração que a comunidade apresenta alguns sujeitos nucleares em
mais de uma comunidade de prática, que estes indivíduos são os que mantêm maior contato
com redes externas à Esquina Barra Funda e apresentam índice similar de elevação, podemos
supor que a rede social de Esquina Barra Funda seja bastante fechada, com pouca influência
de indivíduos de fora.

4.3 Análise das entrevistas e observação participante

De acordo com os relatos dos dezoito informantes nas entrevistas sociolinguísticas e


também com as observações feitas, pelo pesquisador, na comunidade, alguns pontos devem
ser destacados.
A comunidade de Esquina Barra Funda é em sua grande maioria de descendência
alemã. Além disso, essa maioria tem na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil um
grande pilar de sustentação moral e espiritual. É, em boa parte das vezes, a igreja o ambiente
que reúne as pessoas em torno de festas, grupos de senhoras e senhores. Também é a
comunidade evangélica, como se denominam, que realiza, desde 1964, a festa de Kerb.
Essa festa antes ocorria em dois dias, últimos domingo e terça-feira de maio e, hoje,
realiza-se no último domingo desse mesmo mês. A importância desta festa é percebida à
medida que seus preparativos já começam alguns meses antes, com a comunidade
participando da feitura dos enfeites do salão. São os próprios membros que fazem os quitutes
vendidos na festa, além de cuidarem da distribuição e venda de ingressos, bebidas e
organização no dia da festa.
Para termos uma ideia da importância desta reunião, citamos ER, senhor de meia-
idade, responsável local pelas atividades da igreja (limpeza, conservação, preparação de
cultos, toque do sino da igreja para informar horários e falecimentos, etc), que chega ao
mercado, onde o pesquisador está realizando a observação participante, e fala sobre as
expectativas para a festa de Kerb. Diz ER que, a partir desse ano, as coisas irão melhorar, pois
houve a troca da diretoria e os novos mandatários estão bastante envolvidos com os
preparativos e enfeites, além de terem ‘entrado no espírito’. Relata que, durante as
32

arrumações, falaram em alemão e escutaram músicas tradicionais, coisa que desde muito não
via.
Outro fator que sempre aparece em conversas entre o pesquisador e os sujeitos de
Esquina Barra Funda é a importância da família. Mencionam o período de final de ano,
quando muitos dos ex-moradores voltam para passar o natal ou a virada de ano com a família
e são reforçados os costumes que ali aprenderam, como ir ao culto de natal para ver a
distribuição de presentes às crianças, a mesa farta e as conversas em alemão.
Outro momento curioso observado pelo pesquisador ocorre durante um encontro com
um senhor de 65 anos, identificado aqui como ZS, que começa a falar dos tempos em que ele
e mais três amigos tinham uma banda que animava festas de Kerb pela região. Z, que é de
origem lusa, diz que nunca soube falar alemão, mas que sempre cantava em alemão, pois as
pessoas não aceitavam que se cantasse em português. Indagado de como fazia, ele diz que
escutava as músicas e decorava as palavras como eram ditas, mas que não entendia e não
sabia escrever nenhuma delas. Acrescenta ainda que sente falta desse tempo e lembra que,
agora, na organização da festa, estão falando bastante em alemão e que ele, mesmo sem falar
ou entender, não se sente excluído, pois muita coisa ele deduz e outras os amigos vão
explicando.
Nas entrevistas gravadas e que deram base para a coleta dos dados quantitativos,
devemos ressaltar que, quando indagados sobre perspectivas de futuro e como percebiam a
vida nessa comunidade, os jovens, em sua maioria, demonstraram satisfação com a vida que
têm ali e que não percebem motivação para mudar para outra cidade.
DB, jovem com 20 anos, fala:
“[…] tem tudo que a gente precisa aqui, se quiser estudar não precisa
ir longe, a prefeitura dá transporte, dá pra ir e voltar no mesmo dia. Os
amigos estão todos aqui, finais de semana nos reunimos pra jogar
futebol ou escutar um som. Não vejo necessidade de sair.”
Os jovens também parecem estar felizes com a vida no campo, pois conseguem suprir
suas necessidades financeiras e, além disso, comprar objetos de seu desejo. EY, de 24 anos,
por exemplo, fala em sua entrevista:
“[…] hoje a gente consegue viver bem da agricultura. Antes acho que
era mais difícil, mas eu sempre trabalhei com fumo e dá pra viver
tranquilo. Comprei minha moto, tenho dinheiro pra ir em festa, os
parentes estão todos aqui, os amigos também. Não tem motivo para
sair”
33

Da mesma forma, os informantes com mais idade não demonstram vontade de sair,
principalmente por acharem que não terão a mesma tranquilidade e os mesmos contatos.
Como informou JP, de 65 anos:
“Não tem motivo pra ir embora, se teria, seriam os filhos, mas eles
moram perto e, se eu for pra cidade, não vou poder sair como saio
aqui, ir na vizinha tomar mate, caminhar um pouco na rua e conversar
com os amigos”
Concluímos então que esse sentimento de pertencer ao local, de estar ali, ter todas suas
relações em um pequeno local, vai ao encontro do fato de que a rede social de Esquina Barra
Funda é densa, multiplexa, fechada, com pouca interação com o que vem de fora. Isso, por
sua vez, reforça o vernáculo local, fator importante nesse baixo índice de elevação vocálica
encontrado na análise quantitativa.

5 CONCLUSÃO

A análise quantitativa apontou baixa elevação das vogais átonas finais em Esquina
Barra Funda. Revelou que alguns fatores linguísticos e extralinguísticos estão em ação na
comunidade, como selecionado pelo programa Goldvarb X e já citado acima: o contexto
precedente (dorsal, coronal [-ant] e labial), o contexto seguinte (consoantes posteriores e
labial), a presença de vogal alta na sílaba tônica (com vogal alta), a idade (36 a 57 anos e 15 a
35 anos) e a escolaridade (de 04 a 08 anos e até 04 anos de escolaridade).
Para além disso, devemos ressaltar que a comunidade apresenta aspectos particulares
no que diz respeito às relações entre seus membros e, desses, com indivíduos de fora. Existe
um entendimento na comunidade de que várias atividades que necessitam ser realizadas fora
dali concentram-se nas mãos de poucas pessoas, ou seja, os indivíduos evitam sair do local
quando não é uma necessidade urgente, preferem fazer suas demandas a outros que vão à
cidade e tomam conta do que lhes foi pedido. Estes responsáveis acabam sempre sendo as
mesmas pessoas, geralmente os comerciantes do local, que, por seu trabalho, necessitam um
maior deslocamento e uma abertura maior para outras redes.
Porém, esses indivíduos que estão em contato maior com outras redes e tenderiam a
uma abertura para formas linguísticas inovadoras também são conservadores, seguem
realizando práticas sociais tradicionais de Esquina Barra Funda. Estão pautados,
principalmente, pelas relações familiares e de conjuntura social daquele pequeno lugar, que
34

exerce forte influência no ser e fazer de cada um e freia a mudança representada pela elevação
vocálica.

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