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CURSO DE SOCIOLOGIA

MÓDULO

HISTÓRIA E CULTURA
AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

2018

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DIRETOR GERAL
Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling

VICE-DIRETORA GERAL
Prof.ª Me. Daniela Caldas Acosta

DIRETOR PEDAGÓGICO
Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling

COORDENADOR DO CURSO DE SOCIOLOGIA


Prof. Dr. Altair Aparecido Galvão

ELABORAÇÃO DO MATERIAL
Prof. Dr. Altair Aparecido Galvão

FORMATAÇÃO DO MATERIAL
Caroline Hayani França Teixeira

Nenhuma parte deste fascículo pode ser reproduzida sem autorização expressa do IEC e dos autores.

Direitos reservados para

INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E DA CIDADANIA


Av. Carlos C. Borges, 1828 – Borba Gato CNPJ – 02.684.150/0001-97
CEP: 87060-000 - Maringá – PR – Fone: (44) 3225-1197
e-mail: fainsep@fainsep.edu.br

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

SUMÁRIO

PROGRAMA DE MÓDULO...................................................... 04
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS.................................................. 06
REFERÊNCIAS...................................................................... 07

UNIDADE 1 – IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA


1.1 Identidade cultural........................................................ 08
1.2 Características do povo brasileiro................................. 10
1.3 Aspectos da cultura brasileira....................................... 11

UNIDADE 2 – CULTURA AFRO-BRASILEIRA


2.1 Os afro-brasileiros........................................................ 22
2.2 Cultura afro-brasileira................................................... 29
2.2.1 Arte ............................................................................ 32
2.2.2 Culinária...................................................................... 33
2.2.3 Música e dança............................................................. 34

UNIDADE 3 – CULTURA INDÍGENA


3.1 A minoria indígena....................................................... 36
3.2 Os índios em 1500....................................................... 40
3.2.1 O tronco Tupi............................................................... 42
3.3 Cultura indígena.......................................................... 46
3.3.1 A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses 46
3.3.2 A organização social dos índios........................................ 47
3.3.3 Religião indígena.......................................................... 48
3.3.4 Línguas indígenas......................................................... 49
3.3.5 Principais costumes dos índios brasileiros.......................... 50
3.3.6 Tipos de habitações indígenas......................................... 51
3.3.7 Trabalho entre os índios que mantiveram sua cultura.......... 52
3.3.8 Características da alimentação indígena............................ 53

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

PROGRAMA DO MÓDULO

HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA – 100h


EMENTA

Abordagens sociológicas sobre os estudos relacionados com a história e


cultura afro-brasileira e indígena. Apresenta conceitos básicos sobre a temática das
relações étnico-raciais; histórico das lutas das populações negras e indígenas para
garantir seus direitos sociais e políticos, além de referenciais teóricos que procuram
explicar o processo do racismo e sua desconstrução na prática pedagógica e no
cotidiano da escola.

INTRODUÇÃO

Quando analisamos a população atual do Brasil, notamos que o que somos


não pode ser considerado como uma simples etnia, mas uma etnia nacional, um
povo-nação, habitando um território próprio e concentrado dentro de um mesmo
Estado, para nele construir seu destino. Apesar dessa uniformidade cultural e
também da aparente unidade nacional, que são, sem dúvida um fator positivo e
grande resultante do processo de formação do povo brasileiro, é possível notar
claramente as disparidades, as contradições e os antagonismos que existem como
fatores dinâmicos da maior importância. Neste módulo estudaremos importância da
inclusão da história e da cultura afro-brasileira e indígena no curso de sociologia.
Trata-se de um momento em que a educação brasileira busca valorizar
devidamente a história e a cultura de seu povo afrodescendente e indígena,
buscando assim reparar danos, que se repetem há cinco séculos, à sua identidade
e a seus direitos.

OBJETIVO GERAL
Apresentar ao aluno do curso de sociologia o conhecimento sobre a história africana
e indígena no Brasil e a compreensão dos processos de diversidade étnico-racial e étnico-
social na formação político, econômica e cultural do Brasil.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE COMPETÊNCIAS A ALCANÇAR
 Entender as características das matrizes formadoras do povo brasileiro.
 Compreender aspectos da cultura brasileira.
 Discutir a influência da cultura negra e a cultura indígena na formação da
sociedade nacional.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA


 Identidade cultural
 Características do povo brasileiro
 Aspectos da cultura brasileira
 A falsa democracia racial
 A pobreza das elites

CULTURA AFRO-BRASILEIRA
 Os afro-brasileiros
 Cultura afro-brasileira
 Religiões afro-brasileiras
 Arte
 Culinária
 Música e dança
 Influência africana na cultura brasileira

CULTURA INDÍGENA
 A minoria indígena
 Os índios em 1500
 O tronco Tupi
 A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses
 A organização social dos índios
 Religião indígena
 Línguas indígenas
 Tipos de habitações indígenas
 O trabalho entre índios que mantiveram sua cultura
 Características da alimentação indígena

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Para você aprender com mais facilidade, observe o que está previsto no Guia de
Estudo. Este tem fundamentação científica sólida para você conseguir aprendizagem mais
eficiente e duradoura
Leia-o com atenção e anote as ideias principais de como estudar e aprender. Ouça,
também, o vídeo “Palavra do diretor”, disponível na primeira linha de “Categorias de cursos”
no Moodle.
Para seus estudos, você tem no fascículo atividades e questões a serem
respondidas. Essas questões servem para orientar quais são os pontos mais importantes
do fascículo. Algumas atividades são obrigatórias e outras são para “saber mais”, mas
todas são objeto de estudo e de avaliação nos exames.
Nem todas as respostas serão encontradas no fascículo. Você precisa aprender a
lidar com buscas na Internet. Esta é a mais rápida fonte de consulta. Não copie nada.
Escreva tudo com suas próprias palavras, no entanto, você deve colocar a fonte (site, autor,
revista) de onde a informação foi retirada. Assim você comprova que entendeu o que
estudou. Copiar e colar é plágio e crime. Além disso, você não aprende quase nada com
essa prática.
Para aprender de verdade, a FAINSEP recomenda que você responda todas as
questões antes de participar dos encontros de monitoria e/ou tutoria. Nesses encontros
serão discutidas as atividades e questões em equipe. Cada membro apresenta suas
dúvidas e ideias para ser discutidas e solucionadas pela equipe. Mas se sobrar alguma
dúvida, o monitor do módulo as anotará e as encaminhará para o tutor ou professor dar o
necessário esclarecimento, pelo Moodle ou nos encontros presenciais.
Na EAD, a aprendizagem se dá pelo esforço e estudo do próprio aluno. O conteúdo
está no material didático: textos, livros, vídeos, imagens, práticas, ações. Em EAD, você
precisa aprender a aprender. É isso que importa. Está com dificuldade? Peça ajuda pelo
Moodle e/ou vá aos encontros presenciais e pesquise com os monitores ou tutores, discuta
no grupo ou pesquise na internet, utilizando as palavras-chave. Observe bem, se você não
tiver lido e estudado, você não poderá ter dúvida. Sem conhecimento do assunto, você não
terá condições de debater e contribuir para resolver às questões.
No dossiê deve constar o enunciado das questões antes das respectivas respostas,
bem como observar a sequência das perguntas de cada unidade.
Mais detalhes sobre esses procedimentos, você pode ver no item “6.3 – Estratégias
de aprendizagem” do Guia de Estudo, onde constam, também, os motivos de ser adotadas
tais estratégias.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

ESTRATÉGIAS A SEREM UTILIZADAS


 Leitura e análise, individual e coletiva, dos conteúdos propostos;
 Autoestudo;
 Breves explicações;
 Estudos dirigidos;
 Trabalhos em grupos: pesquisas, discussão, debates, projetos, descoberta,
solução de problemas; Phillips 66; confecção de materiais didáticos.
 Atividades assíncronas, no Moodle. Ex.: fórum.

AVALIAÇÃO
 Dossiês - peso 3. Os Dossiês serão avaliados de acordo com a compreensão
dos conteúdos estudados.
Nas atividades feitas em sala de aula será analisado a participação e o
desempenho do cursista.
 Exame Final, sem consulta – peso 7.
No exame será observada a reflexão, a análise e a interpretação das questões
propostas.
 A nota final mínima deve ser 6 (seis).

REFERÊNCIAS:
COLARES, Anselmo Alencar. História e cultura afro-brasileira e indígena nas
escolas: uma reflexão necessária. Revista HISTEDBR, on-line, Campinas. Nº 38,
p.197-213, jun.2010.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. São Paulo: Editora Penso, 2012.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das letras, 2000.
GALVÃO. Altair. A pobrezas das elites: uma visão sociológica da sociedade.
Maringá (PR): Editora Clichetec,2009.
GALVÃO, Eduardo. Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1979. Cap. 7 e 8.
GIL, Antônio Carlos. Sociologia Geral. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. São Paulo: Editora Contexto, 2014.
KOENIG, Samuel. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.
LODY, Raul. Cabelos de axé: identidade e resistência. Rio de Janeiro: SENAC Nacional,
2004.
MARCONI, Marina de Andrade. PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma
introdução. São Paulo: Editora Atlas, 2014.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

UNIDADE 1
IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA

PARA COMEÇAR NOSSOS ESTUDOS

No Brasil, o preconceito racial é muito forte, muito duro,


mas o mais duro é o preconceito social. Você passa por
um pobre no Brasil como se passa por um cachorro
morto ou como se passa por um poste: você não vê. Nós
estamos calejados nessa brutalidade.

DARCY RIBEIRO

1.1 IDENTIDADE CULTURAL

Para que possamos discutir a identidade cultural brasileira, é necessário


inicialmente entender o que significa identidade cultural.

Fonte: www.google.com.br/search?q=o+que+é+identidade+cultural+de+um+povo

Podemos entender identidade cultural como um conjunto vivo de


relações sociais e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados,
que estabelece a comunhão de determinados valores entre os membros de
uma sociedade. Este é um conceito exaustivamente utilizado, porém

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

complexo. Através dele podemos compreender a constituição de uma


identidade em manifestações que podem envolver um amplo número de
situações, que vão desde o idioma até a participação da sociedade em
eventos culturais e recreativos.

A Identidade Cultural é um conceito aplicado nas áreas da sociologia e antropologia,


que indica a cultura em que o indivíduo está inserido, ou seja, a que ele compartilha
com outros membros do grupo, seja tradições, crenças, preferências, dentre outros.

Por um longo período de tempo, as ciências humanas não se


preocuparam em estudar o tema identidade cultural. Somente a partir do
desenvolvimento das sociedades modernas, os estudiosos vislumbraram o enorme
“perigo” que o avanço tecnológico poderia oferecer a determinados grupos sociais.
Nesse sentido, os intelectuais ligados ao folclore defendiam ferrenhamente a
preservação dos costumes e tradições das comunidades.
A esse respeito, vemos que cada sociedade estruturada possui sua
própria cultura, recebendo influência de outras. Assim, temos que em nossa
sociedade contemporânea globalizada, estamos constantemente sendo
contaminados por valores impostos como universais, e com isso perdendo a nossa
própria identidade. Entretanto, recentes teorias culturais no campo das ciências
humanas apontam o papel inovador de duvidar desse conceito de identidade
cultural. Conforme essa corrente de pensamento, que se desenvolveu paralela à
globalização, a identidade cultural não pode ser considerada como um conjunto de
valores imutáveis, relativo ao indivíduo e à sociedade na qual ele está inserido.
Alguns estudiosos, inclusive, consideram que a cultura e as identidades não podem
ser pensadas como um patrimônio a ser preservado. Ao contrário, o intercâmbio e
a transformação são caminhos de devem orientar e ajudar na construção das
identidades.
É importante lembrar que o conceito de identidade cultural foi muito
abordado nas últimas décadas, apesar de que ele sempre existiu. Desde o início
da sociedade humana, os seres humanos se organizavam socialmente em grupos,
compartilhando informações e identificações com seus semelhantes.
Graças a esse processo de interação, os seres humanos produziram as
diversas culturas, com seus costumes, suas tradições, que foram transmitidas de
geração em geração. Nessa sequência, surge o sentimento de pertencimento, a

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

partir das experiências humanas, desenvolvidas durante sua vida social, apesar de
que, conforme mencionado anteriormente, o local e a história dessas civilizações
são imprescindíveis para compreender esse processo. Nesse sentido, fica visível a
existência de diversas identidades culturais no mundo, em especial no Brasil, onde
a diversidade étnica se fez presente desde o início da colonização.
A identidade cultural pode ser encarada de maneira mais macro ou
micro, tendo seu sentimento associado à identidade de alguma nação, como por
exemplo: o Tango para a Argentina, o futebol para o Brasil, ou as danças para
algum país Africano. É importante entender que pode acontecer de algum brasileiro
não gostar de futebol, um africano não apreciar dança, ou um argentino não se
identificar com o Tango. Isso nos ensina que o conceito de identidade cultural é
muito amplo e complexo, dependendo de vários fatores e experiências de vida. Em
outras palavras, ela está visceralmente ligada com o sentimento de pertencimento
e identificações da cultura de um povo.

1.2 . CARACTERÍSTICAS DO POVO BRASILEIRO

"Operários", tela de Tarsila do Amaral

Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/proa/noticia/2015/02/especialistas

Incialmente, valer-nos-emos do pensamento do antropólogo Darcy


Ribeiro (2000), para dizer que a sociedade e a cultura brasileiras são conformadas
como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória europeia ocidental,
diferenciadas por coloridos herdados dos índios americanos e dos negros
africanos. Para esse autor, os brasileiros surgiram como se fosse um povo mutante,
com características próprias, mas ligado visceralmente com o povo português, cujo

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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objetivo principal era crescer em terras brasileiras em importância mundial, coisa


que não consegui fazer plenamente em suas próprias terras. Para ele:

A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia


ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição
de componentes diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o
contrário, uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia
somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla
ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias
raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas e
próprias e disputantes de autonomia frente à nação (RIBEIRO,
2000, p. 20).

. Para Ribeiro (2000), as únicas exceções são algumas microetnias


tribais que sobreviveram como ilhas, cercadas pela população brasileira. Esses
povos, que viviam longe das fronteiras da civilização europeia conseguiram manter
suas verdadeiras identidades. Entretanto, esses grupos são tão pequenos, que
qualquer que seja seus destinos, não conseguem afetar a sociedade em que estão
inseridos.
O que esses brasileiros tinham de diferente em relação aos portugueses
era as variáveis qualidades trazidas de suas matrizes indígenas e africanas; do
modo particular de como elas se imbricaram no Brasil; das condições adversar que
aqui encontraram e, ainda, da natureza dos objetivos de produção que as tornaram
cúmplices e as reuniu.

1.3 . ASPECTOS DA CULTURA BRASILEIRA

A cultura brasileira reflete os vários povos que constituem a demografia


do país: indígenas, europeus, africanos, asiáticos, árabes etc. Como resultado da
intensa miscigenação e convivência dos povos que participaram da formação do
Brasil surgiu uma realidade cultural peculiar, que inclui aspectos das várias culturas.
Dentre os diversos povos que formaram o Brasil, foram os europeus aqueles que
exerceram maior influência na formação da cultura brasileira, principalmente os de
origem portuguesa.
Durante 322 anos, o país foi colônia de Portugal e houve uma
transplantação da cultura da metrópole para as terras sul-americanas. Os colonos
portugueses chegaram em maior número à colônia a partir do século XVIII,
tornando o Brasil um país Católico e de língua predominantemente portuguesa

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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Ilustração mostrando o encontro dos portugueses com os indígenas brasileiros

Fonte: www.google.com.br/search?q=chegada+dos+portugueses+ao+brasil

As primeiras décadas de colonização possibilitaram uma rica fusão entre


a cultura dos europeus e a dos indígenas, dando margem à formação de elementos
como a Língua Geral, que influenciou o português falado no Brasil, e diversos
aspectos da cultura indígena herdadas pela atual civilização brasileira. A influência
indígena faz-se mais forte em certas regiões do país em que esses grupos
conseguiram manter-se mais distantes da ação colonizadora e em zonas povoadas
recentemente, principalmente na Região Norte do Brasil. Já, a cultura africana
chegou através dos povos escravizados trazidos para o Brasil num longo período
que durou de 1550 a 1850.
A diversidade cultural africana contribuiu para uma maior
heterogeneidade do povo brasileiro. Os próprios escravos eram de etnias
diferentes, falavam idiomas diferentes e tinham tradições distintas. Assim como a
indígena, a cultura africana fora subjugada pelos colonizadores, sendo os escravos
batizados antes de chegarem ao Brasil. Na colônia aprendiam o português e eram
batizados com nomes portugueses e obrigados a converter-se ao catolicismo.
Alguns grupos, como os escravos das etnias hauçá e nagô, de religião
islâmica, já traziam uma herança cultural e sabiam escrever em árabe e outros,
como os bantos, eram monoteístas. Através do secretismo religioso, os escravos
adoravam os seus orixás utilizando santos Católicos, dando origem às religiões
afro-brasileiras como o Candomblé.
Os negros legaram para a cultura brasileira uma enormidade de
elementos: na dança, música, religião, cozinha e no idioma. Essa influência faz-se

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notar em praticamente todo o País, embora em certas zonas (nomeadamente nos


estados do Nordeste como Bahia e Maranhão) a cultura afro-brasileira seja mais
presente.
Entretanto, na visão de Ribeiro (2000), essa unidade étnica não
significou nenhuma uniformidade, até porque atuaram sobre ela três forças
diferentes. A ecológica, fazendo surgir paisagens humanas distintas onde as
condições de meio ambiente obrigaram a adaptações regionais. A econômica,
criando formas diferenciadas de produção, que conduziram a especializações
funcionais e aos seus correspondentes gêneros de vida. E, por fim, a imigração,
que introduziu, nesta mistura humana, novos contingentes de indivíduos,
principalmente europeus, árabes e japoneses.

Esses povos que aqui chegaram já encontrou um povo formado e capaz


de absorvê-los e abrasileirá-los, apenas estrangeirou alguns brasileiros ao gerar
diferenciações nas áreas ou nos estratos sociais onde os imigrantes mais se
concentraram (RIBEIRO, 2000).
Ainda no entender de Ribeiro (2000), essa mistura entre o americano
que aqui habitava (indígenas), os negros africanos e os brancos europeus,
resultaram historicamente diversos modos rústicos de ser dos brasileiros, que nos
permite, hoje, identificá-los como “sertanejos do Nordeste”, “caboclos da
Amazônia”, “crioulos do litoral”, “caipiras do Sudeste e Centro do país”, “gaúchos
das campanhas sulistas”, além de “ítalo-brasileiros”, “teuto-brasileiros”, “nipo-
brasileiros” etc.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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Todos esses brasileiros estão marcados pelo que têm em comum do que
pelas diferenças devidas a adaptações regionais ou funcionais, ou de mistura étnica
e aculturação que emprestam fisionomia própria a uma ou outra parte da
população.
Quando analisamos a população atual do Brasil, notamos que o que
somos não pode ser considerado como uma simples etnia, mas uma etnia nacional,
um povo-nação, habitando um território próprio e concentrado dentro de um mesmo
Estado, para nele construir seu destino. Ao contrário da Espanha, na Europa, por
exemplo, que é uma sociedade multinacional, regidas por um Estado unitário,
dilacerado por debates separatistas intermináveis com os bascos e os catalães.
Apesar dessa uniformidade cultural e também da aparente unidade
nacional, que são, sem dúvida um fator positivo e grande resultante do processo
de formação do povo brasileiro, é possível notar claramente as disparidades, as
contradições e os antagonismos que existem como fatores dinâmicos da maior
importância. A unidade nacional somente foi consolidada, de fato, após a
independência (1822), com um objetivo bem definido, conseguido por meio da
sabedoria política de muitas gerações. Possivelmente, esse seja o único mérito
alcançado pelas velhas classes dirigentes do Brasil. A extraordinária importância

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desse feito pode ser comprovado quando comparamos com o histórico dos países
vizinhos da América hispânica.

Subjacente à uniformidade cultural brasileira, esconde-se uma profunda distância


social, gerada pelo tipo de estratificação que o próprio processo de formação nacional
reproduziu. O antagonismo classista que corresponde a toda estratificação social
aqui se exacerba, para opor uma estreitíssima camada privilegiada ao grosso da
população, fazendo as distâncias sociais mais intransponíveis que as diferenças
raciais.
RIBEIRO, 2000, p. 23.

Ainda nos valendo do pensamento de Ribeiro (2000), vemos que esse


povo-nação não surge no Brasil baseando-se em formas de sociabilidade, onde
grupos humanos se estruturaram em classe opostas, mas se entendendo para
atingir um objetivo comum, que atendessem às necessidades de sobrevivência de
todos. Aqui houve uma concentração de força de trabalho escrava, utilizada para
servir a propósitos comerciais vis, por meio de processos violentíssimos de
ordenação e repressão, resultando num continuado genocídio e um etnocídio ímpar
na história.
Nesse cenário cruel, aumenta-se o abismo social entre as classes
dominantes e as subordinadas, e entre estas e as oprimidas, acumulando, debaixo
da uniformidade étnico-cultural e da desejada unidade nacional, desencontros
ideológicos de caráter traumático. Assim, as elites dirigentes, no início as lusitanas,
logo após luso-brasileiras e, posteriormente, brasileiras, viveram e vivem ainda sob
o terror do alçamento das classes oprimidas. E esse terror é demonstrado por meio
de brutalidade repressiva contra qualquer insurgência contra o poder supremo, que
não aceita nenhuma alteração na ordem vigente.
Ribeiro (2000) explica que essa estratificação social separa e coloca em
oposição praticamente todos os brasileiros; nesse sentido, os brasileiros ricos e
remediados se opõem aos pobres, e todos eles dos miseráveis. Esses
antagonismos são bem visíveis quando percebemos quando acontece alguma
política de ajuda às classes mais exitosas, como, por exemplo, um incentivo
governamental aos bancos, aos usineiros, às montadoras de veículos, ou algum
subsídio aos grandes agropecuaristas, quase ninguém se manifesta. Porém,
quando acontece alguma ação de ajuda aos mais pobres e famintos, como o bolsa-
família, bolsa gás, minha-casa minha-vida, ou algum programa de ajuda aos sem

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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teto, ou sem-terra, tanto a imprensa como a população em geral se manifestam


veementemente contra.
Nesse quadro, tudo de bom que havia representado o processo de fusão
racial e cultural fica ofuscado, negando o nosso denominador comum cultural, com
que se imaginava num mundo ideal a convivência de um povo de mais de 200
milhões de habitantes. Acontece, então, “a dilaceração desse mesmo povo por uma
estratificação classista de nítido colorido racial e do tipo mais cruamente
desigualitário que se possa conceber” (RIBEIRO, 2000, p. 24).
E Ribeiro (2000) considera que a maioria dos brasileiros não conseguem
perceber esse processo cruel. Senão, vejamos:

O espantoso é que os brasileiros, orgulhosos de sua tão


proclamada, como falsa, “democracia racial”, raramente percebem
os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais. O mais
grave é que esse abismo não conduz a conflitos tendentes a
transpô-lo, porque se cristalizam num modus vivendi que aparta os
ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegiados
simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a
sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou
ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alternidade.
O povo-massa, sofrido e perplexo, vê a ordem social como um
sistema sagrado que privilegia uma minoria contemplada por Deus,
à qual tudo é consentido e concedido. Inclusive o dom de serem,
às vezes, dadivosos, mas sempre frios e perversos e,
invariavelmente, imprevisíveis (RIBEIRO, 2000, p. 24).

Essa alternidade apareceu em poucas ocasiões, como nas lutas dos


índios e negros contra a escravidão. Também quando se organizaram em lutas
para defender projetos próprios, como em Canudos, na Bahia, ou no Contestado,
na divisa dos Estados do Paraná e Santa Catarina.
A Guerra de Canudos e a do Contestado têm como semelhança o fato
de ter no comando um líder religioso (Antônio Conselheiro e José Maria de Santo
Agostinho, respectivamente). Na época dos ocorridos, o Estado, a imprensa e a
própria população brasileira se colocaram contra os movimentos, acusando-os de
fanatismos e pregar a volta da monarquia. Os dois movimentos foram trucidados
pelas forças do exército e entraram para a história como as maiores chacinas
praticadas pelas forças da Primeira República.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

Guerra de Canudos - Bahia

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos#

Moradores da região do Contestado

Fonte: www.google.com.br/search?q=contestado&source

Essas condições de distanciamento social provocam uma amargura por


essa condição de preconceito de classe e pela conscientização da injustiça inerente
a esse quadro, que pode, a médio prazo provocar a eclosão de convulsões
anárquicas por parte da sociedade prejudicada. Esse risco sempre presente explica
a preocupação exacerbada das classes dominantes.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

O grande desafio que o Brasil sempre enfrentou e não consegue


alcançar é a clareza para organizar suas energias e direcioná-las politicamente,
consciente dos riscos de retrocessos e das possibilidades de libertação que elas
propiciam. O nosso povo já penou em demasia, historicamente, por conta da
situação de dependência e opressão por lutas inglórias. Nessas lutas, os negros
foram chacinados aos milhões, não somente os escravos, mas também aqueles
considerados cidadãos livres; índios foram e ainda estão sendo dizimados e
desqualificados a granel.
Ao contrário do que consta na história oficial, por aqui sempre houve
excesso de apelo à violência da classe dominante, como arma fundamental para
se perpetuar no poder. O que faltou para a nação foi o espaço para movimentos
sociais que propusessem a reversão da situação. O que não existe, na realidade,
é uma clara compreensão da história, do que aconteceu desde a chegada das
primeiras caravelas, como necessidade para entender porque vivemos até os dias
atuais, uma situação de penúria para a grande parte pobre da população. Entende-
se que é bastante improvável que isso aconteça em um país em que poucos
milhares de grandes proprietários são donos da maior parte do território,
empurrando milhões de trabalhadores rurais a se urbanizarem, para viver
miseravelmente em bairros clandestinos e favelas das grandes cidades.

Um total de 11.425.644 de pessoas, o equivalente a 6% da população do país-- ou


pouco mais de uma população inteira de Portugal ou mais de três vezes a do Uruguai.
Esse é o total de quem vive, atualmente, no Brasil em aglomerados subnormais, nome
técnico dado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para
designar locais como favelas, invasões e bairros irregulares e sem estrutura. (Censo
2010)
Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias

E se, por ventura, aparece algum político, popular ou populista, que tente
fazer alguma ação de encaminhamento para a revisão dessas injustiças sociais, as
elites dominantes apelam para a repressão, usando para isso, em primeiro
momento a impressa – também a seu serviço -, ou mesmo as forças armadas,
como em 1964, quando a FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) municiou
financeiramente o exército para que derrubasse o governo de João Goulart.
Ditadura Militar: um trauma coletivo

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Fonte: www.google.com.br/search?q=repressão+militar+de+1964

Mas, conforme palavras de Ribeiro (2000, p. 454), “somos povo novo


ainda na luta para fazermos a nós mesmos como um gênero humano novo que
nunca existiu antes”. Ou seja, esta é uma tarefa muito mais difícil e penosa, mas
também muito mais bela e desafiante. No entender de Ribeiro (2000), o Brasil é a
maior das nações latino-americanas, não somente pela magnitude populacional (na
atualidade com mais de 204 milhões de habitantes), mas também pela criatividade
artística e cultural. O que é necessário agora é nos desenvolvermos para atingir o
domínio da tecnologia do futuro, para fazermo-nos como uma potência econômica,
para que possamos ser autossustentáveis. Somos um povo sofrido, mas alegres.
Nesse sentido, incorporamos mais humanidades, sendo, por isso, mais generosos,
porque representamos todas as etnias e todas as culturas e, importante, estamos
assentados na mais bela e luminosa província da terra.

TEXTO COMPLEMENTAR
Como complementação desta unidade, propomos a leitura e a reflexão
do texto abaixo:

19
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

A pobreza das elites

O termo “elites”, ou seja, eleitos, foi adotado pelos homens do

século XIX que se consideravam escolhidos pelo destino e dotados de aptidões

especiais para dirigir a sociedade, se diferenciando da massa, que seriam os

homens sem nenhuma qualificação especial.

Em nenhum outro país as elites demonstraram mais ostentação que

no Brasil e, por isso, apesar de toda a sua riqueza, são pobres. São pobres

porque com todo o poder de compra que possuem, não aproveitam do conforto

e da satisfação que os bens adquiridos podem proporcionar. As elites

brasileiras são pobres porque têm que gastar boa parte de suas fortunas para

corrigir os erros criados por elas mesmas, ao provocar as desigualdades. Sua

maior pobreza está na incapacidade de se conscientizarem dos problemas

resultantes dessas desigualdades. Em geral há uma atitude de distanciamento.

Elas precisam, de alguma forma, serem lembradas da pobreza e dos problemas

que isso lhes acarreta.

Essa insegurança e ineficiência foram projetadas ainda no final do

século XIX, quando as elites não entenderam o potencial de trabalho e riqueza

que estavam sendo oferecido ao país e a eles mesmos, na libertação dos

escravos, se lhes fossem dado o direito a um pedaço de terra ociosa que o país

dispunha. Se essas terras improdutivas tivessem sido oferecidas aos escravos

libertos, com certeza o que eles produziriam faria a nossa nação mais rica e,

por consequência essa riqueza teria chegado também às elites. Assim, eles

poderiam viver em suas grandes cidades sem o perigo de conviver com uma

população miserável e descontrolada.

Graças a esse imenso abismo existente entre os pobres e os ricos,

as elites compram seus potentes carros importados, mas são assaltadas,

sequestradas e mortas nos sinais de trânsito; constroem seus modernos

20
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

castelos, mas escondem-se por trás de muralhas intransponíveis; compram

joias raras e caras, mas usam bijuterias, com medo de serem roubadas;

frequentam restaurantes caros, mas perdem o apetite com a presença de

crianças famintas que as rodeiam.

O pior de tudo é que lhes falta o entendimento de que elas seriam

muito mais ricas e felizes se vivessem em uma sociedade onde todos tivessem

o suficiente para satisfazer as exigências básicas de sobrevivência. Seriam

muito mais felizes vivendo em uma nação onde todos tivessem direito ao

trabalho e à alimentação; à saúde e ao lazer; à moradia e à educação.

E como seria bom para as elites conviverem com um povo feliz e

realizado, pois a massa sofredora não quer tirar o lugar de ninguém. Só quer

o que lhe é de direito: sair da miserabilidade em que se encontra.

Entretanto eles nem conseguem imaginar a possibilidade de dividir

um pouco de suas riquezas, em favor de programas que permitam a melhoria

de vida dos pobres, enriquecendo o país inteiro: os pobres saindo da penúria e

os ricos saindo da insegurança. Esta, porém, é uma condição difícil de ser

alcançada, pois a maior pobreza de nossas elites é a pobreza de espírito.


GALVÃO, 2009, p. 12 e 13.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

UNIDADE 2

CULTURA AFRO-BRASILEIRA

PARA COMEÇAR NOSSOS ESTUDOS

Plantar cana, produzir açúcar, cultivar café, minerar ouro e


diamante, trabalhar nos engenhos, nas fazendas e nas
cidades, fazer ganho, vender comida, fabricar louça de barro,
tecer pano, cestas e balaios, tudo isso traduz o trabalho, o
conhecimento, as técnicas, as invenções e reinvenções de
mais de 4 milhões de africanos que, por um longo período da
história, co-formaram o Brasil.
(LODY, 2004, p. 43)

2.1 OS AFRO-BRASILEIROS

Os primeiros negros que chegaram ao Brasil foram trazidos,


principalmente, da costa ocidental africana. No entanto, a origem étnica dos negros
introduzidos como escravos no Brasil nunca foi determinada com precisão. O
entendimento geral é de que eram provenientes de uma vasta área: do golfo da
Guiné até o Sudão, atingindo ainda a região da República do Congo, Moçambique
e Angola.
Transporte de escravos para o Brasil

Fonte: https://historiadesaopaulo.wordpress.com/escravidao-negra

Para os donos do tráfico e dos compradores portugueses, não tinha


nenhuma relevância a origem desses infelizes, mas apenas que aceitassem

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

resignados a condição de escravo. Quando chegavam ao Brasil, após serem


caçados, laçados, amarrados e espancados, eram relacionados apenas como
africanos, ou simplesmente como negro. Esses indivíduos, apesar de alguns
dizerem o contrário, nunca aceitaram a condição de escravo e eram
acontecimentos normais as fugas, rebeliões, formação de quilombos. Também atos
extremos como assassinatos de feitores e até suicídios, o que comprovava as
atitudes de revolta com a situação apresentada.
Autores como Colares (2010) explicam que a escravidão no Brasil foi
uma decorrência da política mercantilista colonial, apoiada ideologicamente pela
Igreja Romana, além de ser considerada necessária pelos novos habitantes do
país. Em resumo: o grande proprietário monocultor (donatários) necessitava de
uma mão-de-obra permanente e barata. Nesse cenário, era inviável, sob uma visão
mercantilista e colonial a utilização de trabalhadores assalariados, até porque a
ideia do português era vir ao Brasil, acumular alguma fortuna e voltar para a Europa.
O novo continente era apenas uma aventura passageira.

Como se percebe, a postura da Igreja enquanto instituição foi de defesa da


escravidão, já que ela favorecia a classe social da que o clero se originava, a camada
dos senhores de terras e homens que mantinham o clero (COLARES, 2010, p. 200).

Outro fator a ser considerado para tentar explicar a utilização de mão-


de-obra escrava era o fato de que a população portuguesa não chegada aos 3
milhões de almas e não dispunha de trabalhadores assalariados em quantidade
suficiente para suprir a colônia.
Ainda nos valendo de Colares (2010), vemos que para a maioria dos
negros restou apenas o papel subalterno nas relações sociais, apesar de que isso
não significasse a ausência de resistência e lutas. Sobre esse tema, Frei Vicente
nos relata que [...]

[...] informado o governador que um mocambo ou magote de negros


da Guiné fugidos que estavam nos palmares do rio Itapucuru,
quatro léguas do rio Real para cá, mandou lhes que fossem de
caminho dar neles, e os apanhassem às mãos, como fizeram, que
não foi pequeno bem tirar dali aquela ladroeira e colheita que iam
em grande crescimento (SALVADOR, 1975, p.288).

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

Naquele momento da história brasileira, colonos e religiosos


acreditavam e praticavam a ideia de que o trabalho escravo era necessário e
natural. E essa ideia persistiu, mesmo quando as Revoluções Burguesas, em
especial a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, geraram transformações
econômicas e ideológicas. Todas essas mudanças, que inclusive culminaram com
a chegada da Família Real ao Brasil em 1808, em nada sensibilizaram os
proprietários brasileiros para promover o fim da escravidão.
Mesmo após a independência, em 1822, a escravidão permaneceu
intacta:

Nos debates travados por ocasião da Constituinte de 1823, o tema


sobre a escravidão negra esteve praticamente ausente, bem como
a defesa dos diferentes grupos indígenas. Dessa forma, negros,
índios e pobres continuaram excluídos não apenas
economicamente, mas também do exercício da participação
política (COLARES, 2010, p. 201).

Nesse cenário, as revoltas dos escravos em diversas regiões do país


demonstravam a indignação dos negros, em ações individuais e coletivas, o que
contribuía para o questionamento da escravidão. A importante participação dos
negros na guerra do Paraguai também contribuiu para o processo de abolição, que
apesar de todos esses fatores, foi lenta e gradual.

Fonte: http://www.newsrondonia.com.br/noticias/o+negro+na+guerra+do+paraguai/39653

Para participar da Guerra do Paraguai (1864-1870) o governo do


Imperador D. Pedro II incentiva maciçamente a compra de escravos negros, pois
os grandes latifundiários, para evitar a ida de um de seus filhos de encontro a morte,
fornecia até 15 escravos de sua propriedade. Assim, os senhores coloniais
protegiam alguém de seu sangue das balas, espadas e de tortura cruéis e

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

desumanas e ainda ajudava na “arianização” do Império. Como resultado, enquanto


a população branca cresceu 1,7 vezes, a negra diminuiu 60% no período adjacente
à Guerra do Paraguai (1860-1875).
Segundo o historiador Júlio José Chiavenato, em seu livro “O negro no
Brasil”, a Guerra do Paraguai serviu para matar negro. Para esse autor, como
sempre o negro, diferente do filho do fazendeiro, não se rendeu em nenhum
momento, defendendo o Império Brasileiro - mesmo consciente que essa não era
sua pátria. Sustentou a luta em todos os momentos, defendeu a bandeira imperial,
guerreou de maneira honrosa e venceu, mesmo sendo escravo dos vencedores.
O balanço da Guerra do Paraguai foi trágico: quase cem mil negros
foram mortos, apesar do desprezo do governo para com os escravos, pois a
monarquia mantinha laços de amizade apenas com a Guarda Nacional e com a
classe dominante.
A grande crise da escravidão no Brasil, que culminou com a abolição
(1889), foi a pressão da Inglaterra, pois essa prática não atendia aos interesses da
emergente indústria, que promovia o consumo em massa e, como sabemos,
“escravo não é consumidor”. A Lei Bill Aberdeen, de 1845, proibia o tráfico de
escravos, ao mesmo tempo que concedia direitos à Marinha Britânica de bloquear
a movimentação de navios negreiros e prender seus tripulantes. Entre nós, vigorou
a Lei Eusébio de Queirós, em 1850, que tornou a escravidão economicamente
inviável.
A abolição oficial aconteceu em 1888, porém pouco mudou para a
maioria dos negros escravos. O Império e logo após a República (1889), negou-
lhes um pedaço de terra para viver e cultivar. Não tiveram direito à educação e ao
trabalho formal. O que sobrou, nesse processo, foi a repressão e a discriminação.
Como agente importante para a formação do povo brasileiro, o negro
assistiu à tese de que no Brasil havia uma “democracia racial”. Essa tese foi
defendida por intelectuais de alto nível, como Gilberto Freyre, em sua obra
Casagrande & Senzala. Tal ideia, no entanto, apenas colaborou para negar que em
nosso país há preconceito, dificultando a ação dos discriminados.

Sobre “democracia racial”, leia o texto abaixo, para melhor se inteirar


sobre o tema:

DEMOCRACIA RACIAL

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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Mito de que não existe racismo no Brasil dificulta

movimentos reivindicatórios

Por Marta Avancini


A crença de que no Brasil não existem conflitos raciais é o resultado
da difusão do conceito de democracia racial, principalmente a partir da
segunda metade do século XX. O sociólogo Gilberto Freyre, que em 1933
publicou a obra “Casa Grande e Senzala”, é considerado um dos principais
difusores da ideia de que no Brasil brancos e negros mantêm relações
pacíficas e harmoniosas – embora nunca tenha adotado explicitamente este
conceito, mas apenas usado uma expressão sinônima, “democracia étnica”, em
1944, segundo o professor de sociologia Antônio Sérgio Alfredo Guimarães,
da Universidade de São Paulo (USP).
E seu livro, Freyre faz uma extensa análise da sociedade brasileira,
enfatizando as relações supostamente próximas entre senhores e escravos
antes da abolição da escravidão, em 1888, e o caráter benigno do imperialismo
português, que teria impedido o surgimento de divisões raciais rígidas no
Brasil. Além disso, o sociólogo pernambucano defendia que a miscigenação
entre brancos, indígenas e negros teria levado ao surgimento de uma “mega-
raça”.
Os estudos do professor Guimarães apontam que a expressão
democracia racial foi adotada pelo antropólogo norte-americano Charles
Wagley, na introdução do primeiro volume de uma série de estudos sobre
relações raciais no Brasil, patrocinada pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), nos anos 1950. Segundo o
professor da USP, Wagley teria sido o responsável por introduzir o termo na
literatura acadêmica difundi-lo no pensamento de uma geração de cientistas
sociais.
“Há certa mitologia de democracia racial brasileira, associada à
obra de Gilberto Freyre, apoiada na intensa mistura racial do país e no fato
de que certas formas violentas e odiosas de racismo por parte da população
branca, que acontecem nos Estados Unidos, por exemplo, não são frequentes
aqui”, analisa o cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). A teoria se difundiu, projetando uma
imagem do Brasil como um país sem conflitos raciais, a despeito de sua história
escravagista – diferentemente do que havia ocorrido em outras localidades,
como nos Estados Unidos, onde a escravidão foi o estopim de conflitos, como
a Guerra Civil (1861-1865). Tal imagem serviu para fundamentar uma
determinada identidade do Brasil interna e externamente.
O contexto político e social da sociedade brasileira e do mundo na
década de 1930 são fundamentais para compreender a relevância que o
conceito de democracia racial passou a ter, na visão do advogado Daniel
Teixeira, coordenador de Projetos do Centro de Estudos das Relações de

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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Trabalho e Desigualdades (Ceert). De um lado, o país vivia um processo de


busca de sua identidade nacional que se expressa, por exemplo, no Movimento
Modernista, em um cenário em que predominavam, tanto no plano nacional
quanto no internacional, um ideário racista e de branqueamento (a ascensão
do Nazismo é uma das tentativas de concretizar esse ideário). De outro lado,
o período pós-escravatura foi marcado pela mobilização dos negros,
resultando em organizações tais como a Frente Negra Brasileira, que chegou
a ser reconhecida como partido político, em 1936. “Nesse cenário, a ideia de
democracia racial cumpre uma função de naturalização e de silenciamento de
conflitos, bem como da violência, historicamente instaurados, desde o período
da escravidão”, afirma Teixeira.
Como argumenta o coordenador de projetos do Ceert, no Brasil,
diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos, não houve um processo
de integração social dos negros libertos. “Nos Estados Unidos, após a
libertação dos escravos surgiram órgãos de governo destinados a promover a
integração dos ex-escravos, as universidades negras, ou seja, o processo foi
muito diferente do que aconteceu no Brasil”, afirma. Desse modo,
constituíram-se processos de exclusão dos negros de diversas naturezas, que
resultam no atual cenário em que o Brasil desponta como um dos campeões de
desigualdade no mundo.

Mitologia enraizada

No Brasil, a difusão da ideia de uma convivência harmoniosa entre


as raças convive, contudo, com os efeitos um processo de mais de três séculos
de construção de uma sociedade escravista, durante a Colônia e o Império.
“Além de muita violência, esse processo resultou numa cultura de preconceito
e discriminação da qual as vítimas são principalmente as pessoas de cor”,
analisa o professor Reis. “Essa cultura continua a existir e, embora tenha
havido avanços, é certo que os brasileiros têm melhores oportunidades quanto
mais brancos sejam”, afirma.
As estatísticas são eloquentes quanto a isso, na medida em que
compõem o retrato de um Brasil profundamente desigual, cuja linha de corte
é justamente a cor da pele. Em nosso país, os negros têm menos oportunidades
de estudar, seus salários são menores que os dos brancos e eles são as
principais vítimas da violência. Em 2013, a taxa de analfabetismo entre negros
foi de 11,5%, duas vezes maior do que entre brancos (5,2%), segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo ano, o
salário dos negros era cerca de 40% menor que o dos brancos, segundo o
Instituto. Sem contar que eles lideram o ranking de homicídios por arma de
fogo: em 2012, 10,6 mil brancos foram assassinados com arma de fogo, ante
28,8 mil negros, de acordo com o “Mapa da Violência”, da Secretaria Nacional

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da Juventude e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,


lançado este ano.
Nesse sentido, enfatiza Reis, a questão das relações raciais é um
dos maiores problemas do Brasil hoje. Além da desigualdade socioeconômica
entre brancos e negros (em consequência das condições desfavoráveis que os
negros enfrentaram para se inserir na estrutura social no período pós-
escravidão), essa história deixou outra herança: uma visão estereotipada do
negro com um ser inferior.

Avanços gradativos

Em contraposição ao ideário da democracia racial, a luta do


movimento negro pela igualdade racial, principalmente no período da
redemocratização política do Brasil iniciado em 1985, vem possibilitando a
conquista de espaços na sociedade. “Tivemos avanços, mas o processo de
ampliação dos espaços dos negros na sociedade está sendo feito por meio de
conquistas gradativas”, pondera Teixeira.
O cientista político Reis, da UFMG, interpreta o conceito de
democracia racial na atualidade como uma meta a ser atingida. “O importante
é que a gente perceba com clareza a diferença entre a democracia racial como
realidade e como meta: a realidade das relações inter-raciais aqui sem dúvida
é pior do que aparece em certas idealizações do Brasil, mas a meta da
democracia racial, no sentido de se tratar de uma condição em que a raça se
tornaria socialmente irrelevante, é insubstituível”, propõe.
Dentre os avanços conquistados nas últimas décadas estão a
criminalização do racismo, instituída na Constituição Federal de 1988 e
incorporada ao Código Penal, e a incorporação de ações afirmativas, como as
cotas em universidades. São conquistas impulsionadas pelo Movimento Negro,
tais como a Marcha a Brasília pelos 300 anos doe nascimento de Zumbi dos
Palmares que, em 1995, trouxe para o debate público a reivindicação das ações
afirmativas. “Entretanto, os negros permanecem excluídos de postos e
processos de decisão e sempre que surgem reivindicações nesse sentido, o
mito da democracia racial é resgatado na tentativa de se neutralizar essas
demandas”, analisa o advogado. “A lógica é a de que se o espaço já existe, como
preconiza a ideia de democracia racial, não há o que reivindicar”, finaliza.

Fonte:http://pre.univesp.br/democraciaracial#.WR80bGjyuM8

2.2 CULTURA AFRO-BRASILEIRA

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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De forma geral, tanto na época colonial como durante o século XIX, a


matriz cultural de origem europeia foi a mais valorizada no Brasil, enquanto que as
manifestações culturais afro-brasileiras foram muitas vezes desprezadas,
desestimuladas e até proibidas. Assim, as religiões afro-brasileiras e a arte marcial
da capoeira foram frequentemente perseguidas pelas autoridades. Por outro lado,
algumas manifestações de origem folclórica, como as congadas, assim como
expressões musicais como o lundu, foram toleradas e até estimuladas. Entretanto,
a partir de meados do século XX, as expressões culturais afro-brasileiras
começaram a ser gradualmente mais aceitas e admiradas pelas elites brasileiras
como expressões artísticas genuinamente nacionais. Nem todas as manifestações
culturais foram aceitas ao mesmo tempo.

Fonte: www.google.com.br/search?q=ESCRAVOS+RUGENDAS&tbm

O samba foi uma das primeiras expressões da cultura afro-brasileira a


ser admirada quando ocupou posição de destaque na música popular, no início do
século XX. Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getúlio
Vargas desenvolveu políticas de incentivo do nacionalismo nas quais a cultura afro-
brasileira encontrou caminhos de aceitação oficial. Por exemplo, os desfiles de

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escolas de samba ganharam nesta época aprovação governamental, através da


União Geral das Escolas de Samba do Brasil, fundada em 1934.
Outras expressões culturais seguiram o mesmo caminho. A capoeira,
que era considerada própria de bandidos e marginais, foi apresentada, em 1953,
por mestre Bimba ao presidente Vargas, que então a chamou de "único esporte
verdadeiramente nacional". A partir da década de 1950 as perseguições às
religiões afro-brasileiras diminuíram e a Umbanda passou a ser seguida por parte
da classe média carioca. Na década seguinte, as religiões afro-brasileiras
passaram a ser celebradas pela elite intelectual branca.

Bloco Ilê Aiyê homenageia em 2010 a cultura negra pernambucana.

Fonte: https://triunfob.wordpress.com/2010/02/11/ile-aiye-homenageia-pernambuco

Os negros trazidos da África como escravos geralmente eram


imediatamente batizados e obrigados a seguir o Catolicismo. A conversão era
apenas superficial e as religiões de origem africana conseguiram permanecer
através de prática secreta ou o sincretismo com o catolicismo. Algumas religiões
afro-brasileiras ainda mantêm quase que totalmente suas raízes africanas, como é
o caso das casas tradicionais de Candomblé e do Xangô do Nordeste; outras
formaram-se através do sincretismo religioso, como o Batuque, o Xambá e a
Umbanda.
Em maior ou menor grau, as religiões afro-brasileiras mostram
influências do Catolicismo e da encantaria europeia, assim como da pajelança
ameríndia. O sincretismo manifesta-se igualmente na tradição do batismo dos filhos

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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e o casamento na Igreja Católica, mesmo quando os fiéis seguem abertamente


uma religião afro-brasileira.
Já, no Brasil colonial, os negros e mulatos, escravos ou forros, muitas
vezes associavam-se em irmandades religiosas católicas. A Irmandade da Boa
Morte e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foram das
mais importantes, servindo também como ligação entre o catolicismo e as religiões
afro-brasileiras.
A própria prática do catolicismo tradicional sofreu influência africana no
culto de santos de origem africana como São Benedito, Santo Elesbão, Santa
Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio de Categeró ou Santo Antônio
Etíope); no culto preferencial de santos facilmente associados com os orixás
africanos como São Cosme e Damião (ibejis), São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro),
Santa Bárbara (Iansã); na criação de novos santos populares como a Escrava
Anastácia; e em ladainhas, rezas (como a Trezena de Santo Antônio) e festas
religiosas (como a Lavagem do Bonfim onde as escadarias da Igreja de Nosso
Senhor do Bonfim em Salvador, Bahia são lavadas com água de cheiro pelas filhas-
de-santo do candomblé).
As igrejas pentecostais do Brasil, que combatem as religiões de origem
africana, na realidade têm várias influências destas como se nota em práticas como
o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entidades
espirituais (vistas como maléficas). Enquanto o Catolicismo nega a existência de
orixás e guias, as igrejas pentecostais acreditam na sua existência, mas como
demônios.
Segundo o IBGE, 0,3% dos brasileiros declaram seguir religiões de
origem africana, embora um número maior de pessoas siga essas religiões de
forma reservada. Filhas-de-santo do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá na Bahia
Inicialmente desprezadas, as religiões afro-brasileira foram ou são praticadas
abertamente por vários intelectuais e artistas importantes como Jorge Amado,
Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia
(que frequentavam o terreiro de Mãe Menininha), Gal Costa (que foi iniciada para
o Orixá Obaluaye), Mestre Didi (filho da iyalorixá Mãe Senhora), Antônio Risério,
Caribé, Fernando Coelho, Gilberto Freyre e José Beniste (que foi iniciado no
candomblé ketu).

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Religiões afro-brasileiras:
 Babaçuê - Pará
 Batuque - Rio Grande do Sul;
 Cabula - Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina;
 Candomblé - Em todos estados do Brasil
 Culto aos Egungun - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
 Culto de Ifá - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
 Macumba - Rio de Janeiro
 Omoloko - Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo
 Quimbanda - Rio de Janeiro, São Paulo
 Tambor-de-Mina - Maranhão
 Terecô - Maranhão
 Umbanda - Em todos estados do Brasil
 Xambá - Alagoas, Pernambuco
 Xangô do Nordeste - Pernambuco
 Confraria
 Irmandade dos homens pretos
 Sincretismo

2.2.1 Arte
O Alaká africano, conhecido como pano da costa no Brasil é produzido
por tecelãs do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, no espaço
chamado de Casa do Alaká. Mestre Didi, Alapini (sumo sacerdote) do Culto aos
Egungun e Assògbá (supremo sacerdote) do culto de Obaluaiyê e Orixás da terra,
é também escultor e seu trabalho é voltado inteiramente para a mitologia e arte
yorubana.
Na pintura foram muitos os pintores e desenhistas que se dedicaram a
mostrar a beleza do Candomblé, Umbanda e Batuque em suas telas. Um exemplo
é o escultor e pintor argentino Carybé que dedicou boa parte de sua vida no Brasil
esculpindo e pintando os Orixás e festas nos mínimos detalhes, suas esculturas
podem ser vistas no Museu AfroBrasileiro e tem alguns livros publicados do seu
trabalho.
Na fotografia o francês Pierre Fatumbi Verger, que em 1946 conheceu a
Bahia e ficou até o último dia de vida, retratou em preto e branco o povo brasileiro

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e todas as nuances do Candomblé, não satisfeito só em fotografar passou a fazer


parte da religião, tanto no Brasil como na África onde foi iniciado como babalawo,
ainda em vida iniciou a Fundação Pierre Verger em Salvador, onde se encontra
todo seu acervo fotográfico.

2.2.2 Culinária

A feijoada brasileira, considerada o prato nacional do pais, é


frequentemente citada como tendo sido criada nas senzalas e ter servido de
alimento para os escravos na época colonial. Atualmente, porém, considera-se a
feijoada brasileira uma adaptação tropical da feijoada portuguesa que não foi
servida normalmente aos escravos. Apesar disso, a cozinha brasileira regional foi
muito influenciada pela cozinha africana, mesclada com elementos culinários
europeus e indígenas.
A culinária baiana é a que mais demonstra a influência africana nos seus
pratos típicos como acarajé, caruru, vatapá e moqueca. Estes pratos são
preparados com o azeite-de-dendê, extraído de uma palmeira africana trazida ao
Brasil em tempos coloniais. Na Bahia existem duas maneiras de se preparar estes
pratos "afros". Numa, mais simples, as comidas não levam muito tempero e são
feitas nos terreiros de candomblé para serem oferecidas aos orixás. Na outra
maneira, empregada fora dos terreiros, as comidas são preparadas com muito
tempero e são mais saborosas, sendo vendidas pelas baianas do acarajé e
degustadas em restaurantes e residências.

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2.2.3 Música e dança

Fonte: www.google.com.br/search?q=música+africana&source=

A música criada pelos afro-brasileiros é uma mistura de influências de


toda a África subsaariana com elementos da música portuguesa e, em menor grau,
ameríndia, que produziu uma grande variedade de estilos. A música popular
brasileira é fortemente influenciada pelos ritmos africanos. As expressões de
música afro-brasileira mais conhecidas são o samba, maracatu, ijexá, coco, jongo,
carimbó, lambada, maxixe, maculelê. Como aconteceu em toda parte do continente
americano onde houve escravos africanos, a música feita pelos afrodescendentes
foi inicialmente desprezada e mantida na marginalidade, até que ganhou
notoriedade no início do século XX e se tornou a mais popular nos dias atuais.
Instrumentos afro-brasileiros: afoxé; agogô; atabaque; berimbau; tambor.
Para concluir esta unidade, podemos dizer que a desigualdade e o
preconceito racial no Brasil têm origens históricas, ou seja, seu princípio se
fundamente na escravidão negra praticada por três séculos e meio no país. Durante
esse tempo, os africanos foram considerados como peças, objetos de trabalho que
poderiam ser comercializados, usados e negociados de acordo com os desejos de
seus proprietários, sem levar em conta fatores importantes para sua sobrevivência,
como alimentação, saúde, organização familiar e condições de trabalho. Crianças
eram obrigadas a trabalhar em serviços pesados de adultos e mulheres eram
levadas à prostituição. Além disso, todos estavam sujeitos a penalidades impostas
por seus donos, mesmo que não tivessem feito nada de errado, apenas por
“precaução”, para que ficassem atentos às determinações de seus senhores
(ARAUJO, 2010, p. 120-121).

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

Influência africana na cultura brasileira


Tales Pinto
(Mestre em História)

Moleque, quiabo, fubá, caçula e angu. Cachaça, dengoso, quitute,


berimbau e maracatu. Todas essas palavras do vocabulário brasileiro têm
origem africana ou referem-se a alguma prática desenvolvida pelos africanos
escravizados que vieram para o Brasil durante o período colonial e imperial.
Elas expressam a grande influência africana que há na cultura brasileira.
A existência da escravidão no Brasil durante quase quatrocentos
anos, além de ter constituído a base da economia material da sociedade
brasileira, influenciou também sua formação cultural. A miscigenação entre
africanos, indígenas e europeus é a base da formação populacional do Brasil.
Dessa forma, a matriz africana da sociedade tem uma influência cultural que
vai além do vocabulário.
O fato de as escravas africanas terem sido responsáveis pela
cozinha dos engenhos, fazendas e casas-grandes do campo e da cidade
permitiu a difusão da influência africana na alimentação. São exemplos
culinários da influência africana o vatapá, acarajé, pamonha, mugunzá, caruru,
quiabo e chuchu. Temperos também foram trazidos da África, como pimentas,
o leite de coco e o azeite de dendê.
No aspecto religioso os africanos buscaram sempre manter suas
tradições de acordo com os locais de onde haviam saído do continente
africano. Entretanto, a necessidade de aderirem ao catolicismo levou diversos
grupos de africanos a misturarem as religiões do continente africano com o
cristianismo europeu, processo conhecido como sincretismo religioso. São
exemplos de participação religiosa africana o candomblé, a umbanda, a
quimbanda e o catimbó.

Algumas divindades religiosas africanas ligadas às forças da


natureza ou a fatos do dia a dia foram aproximadas a personagens do
catolicismo. Por exemplo, Iemanjá, que para alguns grupos étnicos africanos é
a deusa das águas, no Brasil foi representada por Nossa Senhora. Xangô, o
senhor dos raios e tempestades, foi representado por São Jerônimo.

Fonte: http://escolakids.uol.com.br/influencia-africana-na-cultura-brasileira.htm

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

UNIDADE 3
CULTURA INDÍGENA

PARA COMEÇAR NOSSOS ESTUDOS

Os índios perceberam a chegada do europeu como um


acontecimento espantoso, só assimilável em sua visão
mítica do mundo. Seriam gente do seu deus sol, o
criador – Maíra -, que vinha milagrosamente sobre as
ondas do mar grosso. Não havia como interpretar seus
desígnios, tanto podiam ser ferozes como pacíficos,
espoliadores ou dadores.

DARCY RIBEIRO (antropólogo)

3.1 A MINORIA INDÍGENA

Fonte: www.google.com.br/search?q=minoria+indigena+no+brasil&source

Minoria não envolve números, o termo não deve ser associado a grupos em menor
número em uma sociedade, mas, sim, ao controle de um grupo majoritário sobre os
demais, independentemente da quantidade numérica. Ao longo da história, diversos
acordos e tratados tiveram o objetivo de resolver a questão dos grupos
minoritários. Fonte: http://www.infoescola.com/sociedade/minorias

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

Desde o descobrimento do Brasil pelos portugueses, os diversos grupos


de nativos brasileiros não foram tratados com o devido respeito. As poucas leis
criadas durante o período colonial, no sentido de dar um mínimo de respeito aos
indígenas, não eram respeitadas. Assim, todo nativo que não se submetesse ao
domínio europeu era considerado inimigo. Essa maneira eurocêntrica se prolongou
mesmo após 1822, durante o Império Brasileiro. Anteriormente, até o ano de 1537,
o índio não era considerado ser humano, pois a Igreja Cristã, que abençoava as
viagens de descobrimento, dizia que eles não possuíam alma. A partir da catequese
jesuítica – uma das práticas da Contrarreforma – passou-se a reconhecer o índio
como ser humano e portador de alma. A partir de 1758 Portugal promulgou uma lei
proibindo a escravidão indígena, mas nem todos os senhores portugueses
obedeceram esta determinação.
Quando da chegada de D. João VI, em 1808, a legislação referente aos
índios foi alterada, passando a tornar-se normal o aprisionamento de tribos inteiras
por um período de até quinze anos, quando lhes eram imputados trabalhos
forçados, sem nenhuma recompensa em troca. Esse regulamento vigorou até 1831
quando, com a instalação da Governo Regencial, a lei foi revogada e os índios
colocados sob as mesmas leis que protegiam os órfãos.
Durante o II Reinado, D. Pedro II estabeleceu a Lei de Terras. Por esse
instrumento jurídico, o território brasileiro foi dividido em áreas públicas e
particulares. Os territórios indígenas passaram a ser considerados como
particulares e, a partir daí eles passaram a ter muita dificuldade em regularizar suas
posses, sendo constantemente vítimas de especuladores brancos.
Em 1910, já no período republicano, foi criado o SPI (Serviço de
Proteção ao Índio), que tinha por objetivo resolver as questões de discriminação
sobre os indígenas. O Estado brasileiro tinha a consciência de que desde a
chegada dos portugueses, em 1500, os indígenas foram tratados como minoria,
sem os direitos básicos respeitados.
O personagem principal do SPI, aquele que mais lutou pela causa
indígena, foi Cândido Rondon. Ele propôs que a Igreja Católica se afastasse dos
assuntos inerentes aos índios e que esse papel fosse desempenhado pelo Estado
Brasileiro, e também que os nativos recebessem proteção do Estado em seu
próprio território, e não em aldeamentos.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

Marechal Cândido Rondon

Cândido Mariano da Silva Rondon, mais conhecido por Marechal Rondon (1865-1958).

De origem indígena por parte de seus bisavós maternos (Bororó e Terena) e bisavó

paterna (Guará), O explorador, pacificador e geógrafo Marechal Cândido Mariano da

Silva Rondon ficou conhecido pelo lema "Matar nunca, morrer se preciso for", que dá

a dimensão do seu caráter pacificador. Bacharel em ciências físicas e naturais, foi

professor de astronomia, mecânica e matemática. Abandonou o magistério para

dedicar-se à construção de linhas telegráficas pelo interior do Brasil, atendendo à

solicitação do governo federal. Pacificador dos índios Bororo, Botocudo, Kaingang,

Xokleng, Nambikuára, Xavante e Umotina, implementou a ligação telegráfica entre

Brasil, Paraguai e Bolívia.


Fonte:

http://www.canalciencia.ibict.br/notaveis/candido_rondon.html

Durante o período da Ditadura Militar, especificamente em 1967, o


Serviço de Proteção ao Índio foi extinto, pelo então presidente General Costa e
Silva. Concomitantemente à extinção do SPI, os militares criaram a FUNAI
(Fundação Nacional do Índio), que, no papel, deveria atender os mesmos

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

interesses dos índios, como dar assistência médico-sanitária e educacional às


diversas tribos, além de gerenciar o patrimônio primitivo.

FUNAI é a sigla de Fundação Nacional do Índio, um órgão do governo


brasileiro que lida com todas as questões referentes às comunidades indígenas e às
suas terras.
A FUNAI foi criada através da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, para
proteger e dar suporte aos índios, promovendo políticas de desenvolvimento
sustentável das populações indígenas.

As finalidades da FUNAI englobam o acompanhamento de ações que visem a proteção


saúde e educação do povo indígena, a divulgação das suas culturas, além da realização
de pesquisas para recolha de dados estatísticos sobre a população indígena no Brasil.

Também faz parte das obrigações da FUNAI garantir que haja participação dos
povos e organizações indígenas em programas do Estado que definem políticas a seu
respeito.

A FUNAI tem como missão promover e proteger os direitos dos índios, preservando
as suas culturas, línguas e tradições, além de monitorar as suas terras para impedir
ataques de madeireiros, garimpeiros e outros, evitando práticas de usurpação das
riquezas que pertencem ao patrimônio indígena e que colocam em risco a
preservação das comunidades.

Fonte:

https://ensinosuperiorindigena.wordpress.com/atores/instituicoes/funai/

Desde a sua fundação, a FUNAI não cumpre plenamente a sua missão,


que é dar uma vida digna a todos os índios brasileiros e, por isso é constantemente
colocada sob dúvidas pelas nações indígenas em muitas ocasiões. Para amenizar
essas oscilações, foi criada a UNI (União das Nações Indígenas, cujo principal
objetivo é congregar as nações nativas ainda existentes no país.
Outra importante instituição criada foi o CIMI (Conselho Indigenista
Missionário, que procura denunciar os abusos praticados por posseiros,

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

latifundiários e pelo próprio Estado brasileiro contra os nativos, além de


constantemente organizar censos para calcular a população indígena existentes.
Essas e outras instituições de defesa propiciou o surgimento de diversas
lideranças indígenas, entre elas o cacique Mário Juruna, que em 1982 foi eleito
deputado federal.

O deputado federal cacique Mário Juruna

Fonte: www.google.com.br/search?q=mario+juruna&source

Outros importantes líderes indígenas a citar são: Jorge Terena, Paulinho


Payakan e cacique Raoni, entre outros.
Conforme estudos recentes da FUNAI, existem atualmente espalhados
pelo Brasil pouco mais de duzentos mil indígenas, grande parte deles fora de suas
tribos e vivendo na indigência dos grandes centros urbanos.

3.2 OS ÍNDIOS EM 1500

Os habitantes da costa brasileira quando da chegada dos portugueses


eram aqueles que falavam o idioma tupi; eram bons guerreiros, astutos, porém
cordiais com aqueles que chegaram. Não era possível considerá-los como uma
nação, até porque eles assim não se consideravam, não se sentiam poderosos nem
dominadores. Eram, tão somente, um amontoado de grupos tribais que falavam o
mesmo idioma e que quando cresciam muito se bipartiam e começavam a se
diferenciar e se hostilizar.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

Apesar de algumas desavenças entre esses grupos, viviam


serenamente, até que a chegada de novos personagens mudou total e
radicalmente seus destinos.

O descobrimento do Brasil – a chegada dos portugueses

Fonte: www.google.com.br/search?q=chegada+dos+portugueses+ao+brasil

Conforme Ribeiro (2000), os portugueses, apesar de representarem um


pequeno grupo em relação aos indígenas, eram superagressivos e capazes de
atuar destrutivamente de múltiplas formas. Especialmente com alguma doença, em
forma de bactéria, que eles traziam no corpo e que era própria das populações
brancas, mas que para o nativo era fatal.

Esse conflito se dá em todos os níveis, predominantemente no


biótico, como uma guerra bacteriológica travada pelas pestes que
o branco trazia no corpo e eram mortais para as populações
indenes. No ecológico, pela disputa do território, de suas matas e
riquezas para outros usos. No econômico e social, pela
escravização do índio, pelas mercantilizações das relações de
produção, que articulou os novos mundos ao velho mundo europeu
como provedores de gêneros exóticos, cativos e ouros (RIBEIRO,
2000, p. 30).

Ribeiro (2000) explica que entender toda a complexidade do processo


da chegada do português no Brasil é bastante difícil, no sentido de que só tivemos
acesso ao testemunho de um dos protagonistas, o invasor. É ele quem relata o que
sucedeu aos índios, quando da chegada dos portugueses, raramente dando a
palavra de registro para o nativo. O que temos, então, é a versão do dominador.
Por isso, o autor alerta para que nos esforcemos no sentido de alcançar a
verdadeira compreensão dessa desventurada aventura.

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

Graduação em Sociologia

Antigos povoadores do Brasil

Com relação ao Brasil, as pesquisas arqueológicas e paleontológicas vêm


demonstrando que as datas mais antigas da presença do homem situam-se em
torno de ano 8000 a.C., constatadas pelos testemunhos fósseis do Homem da
Lagoa Santa, em Minas Gerais. Recentes pesquisas da arqueóloga Conceição
Beltrão talvez permitam recuar esta data para 12.000 ou 14.000 anos.
Outros testemunhos são os sambaquis, ou seja, grandes montes de
conchas, restos de cozinha e fósseis humanos, amontoados pelo chamado
homem do Sambaqui, que habitou o litoral brasileiro em tempos pré-históricos.
O depósito conhecido mais antigo é o de Maratuá, na baía de Santos, que data
de 5000 a.C. Caracteriza-se pela presença de artefatos de pedra lascada,
rudemente confeccionados. Nos sambaquis mais recentes (500 d.C.), os
instrumentos são de pedra polida, de osso ou de conchas. Neles foram também
encontrados os chamados zoólitos (pequenas esculturas em pedra
representando animais), considerados como manifestações artísticas.
A presença da cerâmica em território brasileiro é registrada na
Amazônia por volta do ano 500 a.C. É a mais antiga, enquanto a cerâmica
marajoara data do ano 1000 da era cristã, assim como as demais
manifestações ceramistas do Centro e Sul do Brasil. Referindo-se à cerâmica
da Ilha de Marajó, Edson Soares Diniz (1972. p. 13) enfatiza a qualidade
técnica e artística dos objetos, com decorações diversas, adornos
antropomorfos, pintura policrômica, incisões e excisões que garantem sua
superioridade sobre os demais achados.
Material mais perdurável restante das culturas de tribos já
desaparecidas, a cerâmica é o indicativo da presença de grupos portadores de
nível cultural mais avançado, em relação ao homem do Sambaqui, cujas
manifestações culturais limitavam-se a instrumentos de pedra lascada e
posteriormente polida.
(MARCONI & PRESOTTO, 2014, p. 214-215)

3.2.1 O tronco Tupi

Os grupos indígenas que os portugueses encontraram por ocasião de


sua chegada em praias brasileiras eram, em sua maioria, do tronco Tupi, que ali
estavam há séculos. Estimava-se que eram, no mínimo, 1 milhão deles, divididos
em grupos tribais, cada um deles compostos por, no mínimo, 300 e no máximo 2
mil habitantes. Só para fazermos uma comparação, nesta época a população de
Portugal também era calculada em 1milhão de habitantes (RIBEIRO, 2000).

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Os índios Tupinambás habitaram o litoral brasileiro .

Fonte: http://www.grupoescolar.com/pesquisa/indios-tupinambas.html

Nessa época, os povos Tupi estavam praticamente iniciando suas


atividades agrícolas, saindo da condição paleolítica. Ou seja, estavam em
condições semelhantes aos povos do Velho Mundo, só que há dez mil anos atrás.
É importante salientar que os índios brasileiros trilharam um caminho próprio, não
tendo, portanto, aprendido com descobridores da Europa. Eles desenvolveram não
somente a agricultura, mas também a domesticação de animais, retirando-os da
condição selvagem para a de animais domésticos. Conforme Ribeiro (2000), a
mandioca, muito consumida entre os Tupi, era uma planta extraordinária, pois,
apesar de ser venenosa a qual eles deviam, além de cultivar, também tratar
adequadamente para extrair-lhe o ácido cianídrico, tornando-a comestível. Outra
qualidade dessa planta é que não precisara ser colhida e estocada, pois mantinha-
se viva na terra por um longo tempo.

Além da mandioca, cultivavam o milho, a batata doce, o cará, o


feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, cuias
e cabaças, as pimentas, o abacaxi, o mamão, a erva-mate, o
guaraná, entre outras plantas. Inclusive dezenas de árvores
frutíferas, como o caju, o pequi etc. Faziam, para isso, grandes
roçados na mata, derrubando as árvores com seus machados de
pedra e limpando o terreno com queimadas (RIBEIRO, 2000, P.
32).

Graças a estas práticas agrícolas ainda rudimentares, os silvícolas


brasileiros superavam a carência alimentar a que sempre estiveram sujeitos os
povos pré-agrícolas, dependentes da generosidade da natureza tropical, que quase
sempre lhes proviam, com uma certa fartura, cocos, frutas em geral e tubérculos
(batata, mandioca etc.). Também a caça e pesca, que fazia parte de sua dieta,

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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dependiam da sazonalidade, que em alguma época do ano abundava e, em outras,


escasseava.

Assim, a escolha da localização para assentarem morada, mesmo que


por um pequeno período de tempo, era importante. Os lugares onde ricos em
peixes e caça, como a costa marítima e os vales mais fecundo, eram mais
procurados e os aldeamentos chegavam a ter até 3 mil pessoas. Nessas
comunidades pré-urbanos, todos os moradores tinham a obrigação em produzir
alimentos, seja caçando, pescando ou plantando. Somente uns poucos não o
faziam, pois tinham funções específicas, como algum líder religioso (pajés e
caraíbas) e alguns líderes guerreiros, os caciques (RIBEIRO, 2000).

CACIQUE é a denominação dos chefes indígenas americanos. O termo foi


difundido por portugueses e espanhóis; a utilização deste termo aruaque se
deu pelo fato de os índios aruaques terem sido os primeiros povos ameríndios
contatados pelos navegadores europeus do século XV. Apesar do uso do termo
"cacique" pelos colonizadores europeus em toda a América, cada grupo
indígena de diferentes regiões do continente possuía uma denominação e
concepção próprias para suas lideranças.

Fonte:http://dicionarioportugues.org/pt/tuxaua

Outra particularidade dos índios brasileiros era a prática da guerra. Eles


viviam em luta permanentemente contra as demais tribos alojadas em suas áreas
de expansão. Comumente, as disputas eram pelos locais mais apropriados à
lavoura, à caça e à pesca. Segundo Ribeiro (2000), os índios também lutavam

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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movidos por uma animosidade cultural e até visando a captura de inimigos para a
antropofagia ritual.

O ritual antropofágico era comum entre os índios tupinambás no Brasil

Fonte: http://historiadomundo.uol.com.br/curiosidades/canibalismo-dos-tupinambas.htm

Para Ribeiro (2000), o caráter cultural das cerimônias de antropofagia


tornava quase imperativo que se capturassem guerreiros valentes para serem
sacrificados. Se o inimigo capturado demonstrasse medo, se, porventura, chorasse
ou pedisse clemência, era descartado da cerimônia, pois os algozes não se
alimentavam de covardes. Isso ocorria pelo fato de que eles acreditavam que as
qualidades do inimigo servido em banquete, passava para o corpo e o espírito dos
vencedores.
Entre os Tupi, comia-se os prisioneiros de guerra, também, por
entenderem que, em seu sistema produtivo, ficava dispendioso mantê-los vivos
trabalhando como escravos. Em outras palavras, o retorno dado em trabalho
escravo não valia o investimento de mantê-los vivos.

3.3 CULTURA INDÍGENA

Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América


havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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brasileiro, esse número chegava 5 milhões de nativos, aproximadamente. Estes


índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco linguístico
ao qual pertenciam: tupi-guarani (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do
Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia).
Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território
brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo
governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas
não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem
branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.

3.3.1 A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses.

Fonte: www.google.com.br/search?q=indios+em+1500&source

O primeiro contato entre índios e portugueses em 1500 foi de muita


estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e
pertenciam a mundos completamente distintos. Sabemos muito sobre os índios que
viviam naquela época, graças a Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da
expedição de Pedro Álvares Cabral) e também aos documentos deixados pelos
padres jesuítas.
Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca
e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente
mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam

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a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o


plantio). Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo,
porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de
Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira
vez com uma galinha.
As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais,
políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras,
casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de estabelecer alianças
contra um inimigo comum.
Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale
lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o
necessário para a sua sobrevivência. Desta madeira, construíam canoas, arcos e
flechas e suas habitações (oca). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras,
redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes,
panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para
fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado
para fazer pinturas no corpo.

3.3.2 A organização social dos índios

Fopnte: www.google.com.br/search?q=organização+social+indios+brasil

Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco.


Todos têm os mesmos direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por
exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os
habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos,
flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por
todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados


do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o
cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as
mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e
ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses
da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na
vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.
A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios,
conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática.
Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando
o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprender. Portanto,
a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo
indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma
cerimônia para ingressar na vida adulta.

3.3.3 Religião Indígena

Fonte: www.google.com.br/search?q=religião+indígena&source

Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados.


Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos
antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O
pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo.
Algumas tribos chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de
cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais. Isto mostra que estas
tribos acreditavam numa vida após a morte.

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Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada:

Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000),

Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000),

Pataxó (9.700), Potiguara (7.700).


Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio).

De acordo com dados do Censo 2010 (IBGE), o Brasil possuía, em 2010, 896.917
indígenas. Este número correspondia a 0,47% da população do Brasil.

3.3.4 Línguas Indígenas


Os índios do Brasil falam diversas línguas. Estas estão reunidas em troncos
linguísticos.
As principais características das línguas indígenas são:
 Tupi ou macro-tupi - os principais povos indígenas que falam (ou falavam)
línguas deste tronco são: caetés, tabajaras, tupinaés, potiguaras,
tupinambas, tamoios e tupiniquins.
 Macro-jê - os principais povos indígenas que falam (ou falavam) línguas
deste tronco são: bororos, crenaques, carajás, xavantes, craós apinajés, e
cricatis.
 Aruak - os principais povos indígenas que falam (ou falavam) línguas deste
tronco são: barés, mandauacas, parecis e terenas.
 Línguas não classificadas - existem alguns povos que falam línguas que
não foram classificadas dentro dos troncos linguísticos indígenas.
Geralmente, são povos indígenas que vivem isolados. Isso acontece com a
língua falada pelos seguintes povos indígenas brasileiros: Túkunas, Trumais
e Irântxe. Além destas línguas, existem também vários povos que falam
dialetos originários de determinadas línguas.
 Línguas extintas - por viverem em contato com os brancos, muitas tribos
indígenas foram deixando de lado sua língua e passaram a falar o português.
Embora extintas, muitas dessas línguas deixaram marcas (palavras,
expressões) que foram passando de geração para geração. Infelizmente, em
alguns casos, a língua se perdeu totalmente, não deixando nenhum rastro
para o estudo e classificação dos linguistas.

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Principais troncos linguísticos (número de falantes com mais de 5 anos de


idade): Tikúna (34,1 mil falantes); Guarani Kaiowá (25,5 mil falantes); Kaingáng
(22 mil falantes); Xavante (12,3 mil falantes).
Fonte:Censo 2010
(IBGE)

3.3.5. Principais costumes dos índios brasileiros

Fonte: www.google.com.br/search?q=costumes+dos+índios+brasileiros

Embora cada nação indígena possua sua própria cultura com hábitos e
costumes próprios, existem alguns costumes que são comuns a praticamente todos
os povos indígenas brasileiros.
São estes que relacionamos abaixo:

 Os índios brasileiros se alimentam exclusivamente de alimentos retirados da


natureza (peixes, carnes de animais, frutos, legumes, tubérculos);
 Costumam tomar banho várias vezes por dia em rios, lagos e riachos;
 Os homens saem para caçar em grupos;
 Fazem cerimônias e rituais com muita dança e música. Costumam pintar o
corpo nestes eventos.
 Desde pequenas as crianças são treinadas para as atividades que deverão
desempenhar na vida adulta;

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HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA

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 Realizam rituais de passagem entre a fase de criança e a adulta;


 Moram em habitações feitas de elementos da natureza (troncos e galhos de
árvores, palhas, folhas secas, barro);
 Fazem objetos de arte (potes e vasos de cerâmica, máscaras, colares) com
materiais da natureza. Esta atividade é desempenhada pelas mulheres das
tribos;
 Tratam as doenças com ervas da natureza e costumam realizar rituais de
cura, dirigidas por um pajé;
 Possuem o costume de dividir quase tudo que possuem, principalmente os
alimentos;
 Possuem uma religião baseada na existência de forças e espíritos da
natureza.

3.3.6 Tipos de habitações indígenas:

 Oca - habitação indígena mais comum, principalmente entre os índios da


família tupi-guarani. Consiste em uma grande cabana, feita com troncos de
árvores e cobertas com palha ou tronco de palmeira. Na oca, podem viver
várias famílias de uma mesma tribo.
 Maloca – tipo de cabana comunitária usada pelos indígenas da região
amazônica (principalmente do Brasil e Colômbia). Cada tribo desta região
possui este tipo de habitação com características específicas.
 Taba - habitação indígena menor que a oca. Também de origem tupiguarani,
é um termo mais usado pelas tribos da Amazônia. Nesta região também
serve para designar aldeamento indígena.
 Tapera - em tupi, a palavra tapera significa "aldeia extinta". Portanto, uma
tapera é um conjunto de habitações indígenas que foi abandonado pelos
índios que ali viviam. A tapera geralmente encontra-se em ruínas e ocupada
por mato.
 Opy - é uma espécie de casa de rezas dos índios. Servem também para a
realização de festas religiosas e rituais sagrados.

3.3.7 O trabalho entre os índios que mantiveram sua cultura


O trabalho foi e continua sendo de extrema importância na vida destes
índios brasileiros. Desde crianças, os índios já são preparados pelos adultos para

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trabalharem e fazem suas tarefas com alegria, amor e dedicação. Quase todo
trabalho ocorre em contato com a natureza, pois é dela que vem todo alimento e
matéria-prima que necessitam.

Principais características do trabalho indígena:

Fonte: www.google.com.br/search?q=trabalho+dos+índios+brasileiros

 Grande parte do trabalho está relacionado à pesca, caça, coleta de frutos e


agricultura de subsistência.
 As terras onde ocorre a agricultura são de uso coletivo, assim como tudo que
é colhido.
 Os instrumentos de trabalho (arco e flechas, vara de pescar e objetivos
usados na agricultura) são privados (cada índio possui os seus).
 Além do trabalho voltado para suprir as necessidades alimentares da tribo,
os índios também fazem objetos artesanais (potes de cerâmica, cestos de
palha, redes, etc.).
 Há um forte componente sagrado, entre muitos povos indígenas, na prática
do trabalho.
 Os índios não trabalham para enriquecer, mas sim para suprir as
necessidades alimentares dos habitantes da tribo.
 Como o trabalho é coletivo, não há competição ou desonestidade entre os
índios.
 Os índios possuem uma relação de respeito com seu ambiente de trabalho
(matas, florestas e rios). Só coletam ou retiram a quantidade que precisam.

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Divisão do trabalho entre índios e índias


HOMENS MULHERES

 Coletam frutos e raízes


 Caçam e pescam
 Elaboram a comida
 Constroem as habitações

 Preparam a terra para a prática


 Cuidam das crianças
da agricultura
 Fazem objetos de cerâmica,
 Fazem canoas e produzem os
redes e cestos
instrumentos de trabalho

3.3.8 Características da alimentação indígena


Pode-se dizer que a alimentação indígena é natural, pois eles consomem
alimentos retirados diretamente da natureza. Desta forma, conseguem obter
alimentos isentos de agrotóxicos ou de outros produtos químicos. A alimentação
indígena é saudável e rica em vitaminas, sais minerais e outros nutrientes.
Como os índios não consumem produtos industrializados, ficam livres
dos efeitos nocivos dos conservantes, corantes artificiais, realçadores de sabor e
outros aditivos artificiais usados na indústria alimentícia.
Somada a uma intensa atividade física, a alimentação indígena
proporciona aos integrantes da tribo uma vida saudável. Logo, podemos observar
nas aldeias isoladas (sem contatos com o homem branco), indivíduos fortes,
saudáveis e felizes. Obesidade, estresse, depressão e outros males encontrados
facilmente nas grandes cidades passam longe das tribos.
Principais alimentos consumidos pelos índios brasileiros:
Frutas; verduras; legumes; raízes; carne de animais caçados na floresta
(capivara, porco-do-mato, macaco etc.); peixes; cereais; castanhas.

Pratos típicos da culinária indígena

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Fonte: www.google.com.br/search?q=culinária+indígena&source

Tapioca (espécie de pão fino feito com fécula de mandioca); pirão (caldo
grosso feito de farinha de mandioca e caldo de peixe); pipoca; beiju (espécie de
bolo de formato enrolado feito com massa de farinha de mandioca fina).
A alimentação peculiar indígena refere-se aos índios que não possuem
muito contato com os homens brancos e que ainda seguem sua cultura, pois muitas
tribos deixaram de lado a alimentação saudável quando entraram em contato com
o homem branco.

Consulte os sites:
http://etnicoracial.mec.gov.br/
http://www.museuafrobrasil.org.br/
https://www.faecpr.edu.br/site/portal_afro_brasileira/1.phphttp://www.suapesquisa.com/t
emas/cultura_afro_brasileira.htm
http://www.acordacultura.org.br/artigos/29082013/ainfluencia-africana-no-processo-de-
formacao-da-culturaafro-brasileira

Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=N3M0md9Va0A

LEITURAS COMPLEMENTARES

Diversidade indígena
A heterogeneidade que caracteriza a população indígena brasileira
manifesta-se sob três aspectos: biológico, linguístico e cultural.
Observemos o quadro abaixo:

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BIOLÓGICA – Etnicamente, o conjunto da população indígena brasileira


pertence ao stock racial mongoloide, tendo, portanto, uma origem comum,
cujos caracteres físicos frequentes entre eles os aproximam dos asiáticos:
pigmentação da pele, olhos mongólicos, cor e forma dos cabelos, maçãs do
rosto salientes, poucos pelos no corpo etc. As diferenças são notáveis quanto
à estatura: uns são muito altos como os Bororo (MT), antes do contato com os
brancos; outros pequenos, como os Guató (MT). Quanto à cor da pele, varia do
amarelo claro ao escuro.

LINGUÍSTICA – Curt Nimuendajú, antropólogo alemão, que dedicou sua vida


aos indígenas brasileiros, elaborou um mapa etno-histórico do Brasil, no qual
foram registradas 1.400 tribos pertencentes a 40 famílias linguísticas. Seu
levantamento abrangeu todos os grupos conhecidos desde 1500. Em relação à
toda a América, encontrou 900 línguas, no século XVI,
Não se pode, assim, falar em unidade linguística, nem para a América, nem
para o Brasil. Fonética e gramaticalmente, as línguas diferem entre si. A cada
cultura corresponde uma língua própria, que é falada por todos os grupos que
a ela pertencem, mesmo estando distantes uns dos outros.
Exemplo: o tupi é falado tanto pelos Mawé (AM), como pelos Urubus-Kaapor
(MA) e Guarani (MS). É a língua mais difundida no Brasil, tornando-se no
passado, a “língua geral”, falada por índios e colonizadores.

CULTURAL – A heterogeneidade biológica é acompanhada pela


heterogeneidade cultural. Padrões e valores diferem essencialmente de uma
família para outra e as diferenças culturais podem surgir mesmo entre grupos
pertencentes à mesma família linguística. Pode ocorrer também que, em
determinadas regiões, diferentes famílias, por influência de contato,
apresentem afinidades culturais (similitudes nos usos e costumes).
É possível, assim, agrupar as tribos em áreas culturais, onde os grupos
localizados são classificados linguística e culturalmente, uma vez que têm em
comum alguns traços culturais.

Fonte: Marconi e Presotto, 2014, p. 216.

Conforme Galvão (1979), no Brasil, as áreas culturais foram


caracterizadas, considerando o espaço compreendido entre 1900 e 1959 e os
grupos sobreviventes, levando-se em conta distribuição de elementos da cultura
material e aspectos socioculturais.
Tendo como base de pesquisa as relações intertribais e interétnicas e as
mudanças resultantes, foi possível delimitar 11 áreas culturais, conforme o quadro
abaixo.

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Áreas Grupos indígenas

Norte-Amazônica Makuxi, Oiampi, Maku, Tukuna etc.

(três subáreas)

Juruá-Purus Tamamadi, Kaxinawa, Katukina etc.

Guaporé

(três subáreas)

Tapajós-Madeira Munduruku, Mawé, outros grupos Tupí

(duas subáreas)

Alto Xingu Kamayurá, Waurá, Bakairi, Suyá etc.

Tocantins-Xingu Bororo, Apinayé, Xavante, Kayapó,

(três subáreas) Karajá etc.

Pindaré-Gurupi Tenetehara, Urubus-Kaapor, Guará

etc.

Paraguai Kadiwéu, Terêna

Paraná Nandeva, Kawiá, Mbuá (Guarani)

Tietê-Uruguai Kaingáng

Nordeste Funiô, Potiguara, Pataxó, Maxakali

etc.
Fonte: GALVÃO, 1979, p. 217.

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INDIOS NO BRASIL
Rainer Sousa
A presença dos índios no território brasileiro é muito anterior ao processo de
ocupação estabelecido pelos exploradores europeus que aportaram em nossas terras.
Segundo os dados presentes em algumas estimativas, a população indígena brasileira
variava entre três e cinco milhões de habitantes. Entre essa vasta população,
observamos o desenvolvimento de civilizações heterogêneas entre as quais podemos
citar os xavantes, caraíbas, tupis, jês e guaranis.
Geralmente, o acesso às informações sobre essas populações é bastante restrito.
A falta de fontes escritas e o próprio processo de dizimação dessas culturas acabaram
limitando as possibilidades de estudo das mesmas. Em geral, o maior contato
desenvolvido entre índios e europeus aconteceu nas faixas litorâneas do nosso
território, onde predominam os povos indígenas pertencentes ao grupo tupi-guarani.
Apesar das várias generalizações, relatos do século XVI esclarecem alguns hábitos
desse povo.
De acordo com esses registros, os povos tupi-guarani organizavam aldeias que
variavam entre os seus 500 e 750 habitantes. A presença da aldeia era temporária e
todo o seu contingente era dividido entre seis a dez casas, sendo que cada uma delas
poderia variar de tamanho e comprimento de acordo com as necessidades materiais e
culturais de cada aldeia. Para buscarem sustento, os tupis desenvolveram a exploração
da coleta, da caça, da pesca e, em alguns casos, das atividades agrícolas.
Sob o ponto de vista político, essas comunidades não contavam com nenhum tipo
de organização estatal ou hierarquia política que pudesse distinguir seus integrantes.
Apesar disso, não podemos ignorar que alguns guerreiros e chefes espirituais eram
valorizados pelas habilidades que detinham. Muitas vezes, diferentes tribos mantinham
contato entre si em busca da manutenção de alguns laços culturais ou em razão da
proximidade da língua falada.
A realização das tarefas cotidianas poderia variar segundo o gênero e a idade de
cada um dos integrantes da aldeia. Em suma, as mulheres tinham a obrigação de
desenvolver as atividades agrícolas, fabricar peças artesanais, processar os alimentos
e cuidar dos menores. Já os homens deveriam realizar o preparo das terras e as
atividades de caça e pesca. Tendo outro modelo de organização familiar, os índios
organizavam casamentos e, em algumas situações, a poligamia era aceita.
No campo religioso, alguns desses povos acreditavam na existência dos espíritos,
na reencarnação dos seus antepassados e na compreensão dos fenômenos naturais como
divindades. Em diversas situações, esse corolário de crenças era fonte de explicação
para a origem do mundo ou a ocorrência de algum evento significativo. Em alguns casos,
os índios praticavam a antropofagia como um importante ritual em que os guerreiros da
tribo absorviam a força e as habilidades dos inimigos capturados.
Historicamente, a situação dos índios variou entre quadros de completo abandono,
perseguição e miséria. Até meados da segunda metade do século XX, alguns
especialistas no assunto acreditavam que a presença dos índios chegaria a um fim.
Contudo, estipulados em uma população de aproximadamente um milhão de indivíduos,
os indígenas hoje buscam o reconhecimento de seus diretos pelo Estado e ainda sofrem
grandes obstáculos no exercício de sua autonomia.
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/historiab/indios-brasil.htm

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RONDON E AS MISSÕES RELIGIOSAS

Rondon adquirira grande experiência no trato com os índios, com os quais


conviveu mais de 20 anos nos sertões de Mato Grosso, desde 1890. Fora
incumbido da construção das linhas telegráficas em três regiões estratégicas:
de Cuiabá ao Acre, contribuindo para, através das comunicações telegráficas,
unir o território nacional.
Além de outros interesses, sua preocupação maior era o conhecimento das
populações indígenas da região. Sua intenção era livrá-las do mesmo destino que
outros grupos tiveram após o contato com o branco, defendendo-as da presença
da população rural e dos integrantes das frentes de expansão.
Contatou com remanescentes de muitos grupos tribais como os Terena, os
Kadiwéu, os Guató, os Kaiwá etc. e pacificou dezenas de tribos, como os Paresi,
os Nambikwára, os Arikém, os Tupari, os Kayapó etc. Instalou 97 postos
indígenas de amparo aos índios, em todo o país.
Rondon foi o reconhecido pacificador que desenvolveu um trabalho
científico, mas antes de tudo humanístico junto aos indígenas brasileiros, sem
nunca apelar para a força ou violência.
Lamentavelmente, interesses políticos, econômicos e sociais impediram a
manutenção dessa política. Nos últimos anos, as imposições do progresso e a
ganância da posse de terra exigiram a ocupação rápida dos territórios e a
dizimação toma o lugar da pacificação.
A atuação das missões religiosas (católicas e protestantes) junto aos
grupos indígenas tem sido motivo de críticas, principalmente no que se refere
à cristianização compulsória dessas populações. A imposição da religião cristã,
aliada à substituição dos padrões considerados exóticos dos grupos tribais por
outros da sociedade nacional, vem ferir frontalmente os princípios
antropológicos que defendem a preservação das culturas indígenas em seus
moldes originais. Isso não significa a ideia utópica do isolamento desses grupos,
mas a sua integração lenta, a longo prazo, à sociedade nacional, da qual é
impossível isolar-se.
É a defesa do princípio da relatividade cultural e a condenação do
etnocentrismo que estão sempre presentes nas atitudes dos brancos em
relação aos índios.

Fonte: Marconi e Presotto, 2014, p.233-234.

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