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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

MARCIMILIA SANTANA DOS SANTOS

USO DO EPI SOB O PONTO DE VISTA DA ADMINISTRAÇÃO E DOS


OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM FEIRA DE SANTANA.

FEIRA DE SANTANA - BA
2010
MARCIMILIA SANTANA DOS SANTOS

USO DO EPI SOB O PONTO DE VISTA DA ADMINISTRAÇÃO E DOS


OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM FEIRA DE SANTANA.

Trabalho apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de


Feira de Santana como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheira Civil.

FEIRA DE SANTANA – BA
2010
ii
MARCIMILIA SANTANA DOS SANTOS

USO DO EPI SOB O PONTO DE VISTA DA ADMINISTRAÇÃO E DOS


OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM FEIRA DE SANTANA.

Monografia submetida à
banca examinadora como parte dos
requisitos necessários para a obtenção
do grau de bacharel em engenharia
civil.

Feira de Santana, 10 de dezembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________
Prof. Sergio Tranzillo França – Especialista – UFBA – Orientador

_____________________________________________________
Prof. Eduardo Antônio Lima Costa – Mestre - UFRGS – Banca

_____________________________________________________
Profª. Drª. Sarah Patrícia de Oliveira Rios – Doutora – UFSCAR - Banca
Especialista em Segurança do Trabalho pela Universidade

iii
Vivo de esboços não
acabados e vacilantes. Mas
equilibro-me como posso, entre
mim e eu, entre mim e os
homens, entre mim e o Deus.

Clarice Lispector

iv
AGRADECIMENTOS

Eis aqui o momento mais especial e tocante de toda e qualquer monografia. É


chegada a hora de agradecer aos que junto comigo, construíram a ponte que me
liga ao mundo.

Começo agradecendo à grande mestre e co-autora dessa história. A responsável


pela minha vida, pelo gosto à matemática e pelo sonho de ser Engenheira. Minha
mãe, Carmem, meu espelho, minha visão direta de futuro.

A minha irmã, quase gêmea, por partilhar comigo dos melhores e piores
momentos de minha vida, tornando a minha existência e a escrita da minha
história, cada dia mais gratificante. Eu só sei que te amo e não existiriam aqui,
palavras que definissem o quão grande é o meu amor por ti.

As minhas amigas, as tuquitas do meu coração, Nanda e Lore, por não me


deixarem desistir e por estarem sempre comigo nessa jornada. Confesso que sem
vocês, nada disso seria possível. Obrigada pelos puxões de orelha, pelos
empurrões, pelos sorrisos, pelos momentos maravilhosos que vocês me
proporcionaram. Eu amo vocês!

Ao meu orientador, Prof. Tranzillo, por aceitar-me como orientanda e tornar as


minhas ideias confusas e difusas, claras e coerentes. Por me ajudar a tornar essa
monografia real e por ser assim, co-autor da profissional, que hoje me torno.

Ao meu Deus, por nunca me desamparar, por me iluminar, por dar-me a vida e
ser luz intensa nos momentos mais difíceis da minha existência.

Enfim, aos meus amigos de perto e de longe, aos meus familiares mais chegados
e até os mais distantes, o meu, muito obrigada. Vocês são responsáveis por esse
troféu!

v
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................... VII

LISTA DE SIGLAS .......................................................................................................... IX

RESUMO ............................................................................................................................. X

ABSTRACT ....................................................................................................................... XI

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

1.1. JUSTIFICATIVA ......................................................................................................... 2


1.2. OBJETIVOS ................................................................................................................ 3
1.2.1.Objetivo Geral..............................................................................................3
1.2.2.Objetivos Específicos....................................................................................3
1.3. METODOLOGIA CIENTÍFICA .................................................................................. 3
1.4. ESTRUTURA DA MONOGRAFIA .............................................................................. 4
2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 6

2.1. LEGISLAÇÃO DE SEGURANÇA DO TRABALHO .................................................... 6


2.2. ACIDENTES DE TRABALHO................................................................................... 11
2.2.1. Causas de Acidentes de Trabalho ..................................................... 13
2.2.1.1. Condições Inseguras ...................................................................... 14
2.2.1.2. Atos Inseguros................................................................................15
2.3. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) ........................................ 19
2.3.1. Tipos de EPI’s ................................................................................... 22

3. CARACTERIZAÇÃO DAS OBRAS ANALISADAS ................................................ 35

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS ............................................ 42

4.1 Quanto aos operários ............................................................................ 42


4.2 Quanto à administração ........................................................................ 51

5. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 54

6. RECOMENDAÇÕES .................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 57

ANEXOS ............................................................................................................................. 60

ANEXO – QUESTIONÁRIO ........................................................................................... 61

vi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Capacete tipo aba frontal.......................................................................22


Figura 2: Capacete tipo aba total..........................................................................22
Figura 3: Capacete tipo aba frontal com viseira...................................................23
Figura 4: Capacete tipo aba frontal com protetor tipo concha..............................23
Figura 5: Óculos de segurança para proteção com lente incolor.........................24
Figura 6: Óculos de segurança para proteção com lente de tonalidade escura..24
Figura 7: Óculos de segurança para proteção tipo ampla visão..........................24
Figura 8: Protetor auditivo tipo concha.................................................................25
Figura 9: Protetor auditivo tipo inserção (plug).....................................................25
Figura 10: Respirador purificador de ar (descartável)..........................................26
Figura 11: Respirador purificador de ar (com filtro)..............................................26
Figura 12: Respirador purificador de ar com filtro (descartável)...........................27
Figura 13: Luva de proteção tipo vaqueta............................................................28
Figura 14: Luva de proteção de algodão..............................................................28
Figura 15: Luva de proteção emborrachada.........................................................28
Figura 16: Luva de proteção látex........................................................................28
Figura 17: Luva de proteção de PVC cano longo................................................29
Figura 18: Luva de proteção de raspa.................................................................29
Figura 19: Cinturão de segurança tipo pára-quedista..........................................30
Figura 20: Dispositivo trava-quedas.....................................................................30
Figura 21: Botina em couro com elástico.............................................................31
Figura 22: Botina em couro..................................................................................31
Figura 23: Bota de borracha (cano longo)............................................................32
Figura 24: Fachada da obra A..............................................................................36
Figura 25: Fachada da obra B..............................................................................36
Figura 26: Trabalho em Altura - Obra A................................................................37
Figura 27: Operário se preparando para trabalho em altura - Obra A..................37
Figura 28: Trabalho em Altura - Empresa B........................................................38
Figura 29: Almoxarifado - Obra A.........................................................................38
Figura 30: Almoxarifado - Obra A.........................................................................39
Figura 31: Local de armazenagem dos EPI’s – Obra B.......................................39
Figura 32: Sinalização de segurança - Obra A....................................................40
vii
Figura 33: Sinalização de segurança - Obra A.....................................................40
Figura 34: Sinalização de segurança - Obra A.....................................................41
Figura 35: Nível de escolaridade..........................................................................43
Figura 36: Conceito de acidente do trabalho........................................................44
Figura 37: EPI's fornecidos pela Empresa............................................................45
Figura 38: Existência de treinamentos..................................................................46
Figura 39: Treinamentos recebidos......................................................................47
Figura 40: Importância da utilização do EPI.........................................................48
Figura 41: Minimização dos riscos através do uso de EPI’s................................49
Figura 42: Preocupação da administração com a utilização do EPI....................50
Figura 43: Desconforto pelo uso de EPI’s............................................................50

viii
LISTA DE SIGLAS

ART - ANÁLISE DE RISCO DA TAREFA

CA - CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

CIPA - COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES DO

TRABALHO

CLT - CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO

EPI - EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

EPC - EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO COLETIVA

FAZ - FUNDAÇÃO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO SOCIAL

ICC – INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

MTE - MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO

NR - NORMA REGULAMENTADORA

OPAS - ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE

PCMAT - PROGRAMA DE CONDIÇÕES E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

PPA - PLANO DE PRONTA AÇÃO

PVC – POLICLORETO DE VINILA

RH - RECURSOS HUMANOS

SAT - SEGURO DE ACIDENTE DE TRABALHO

SESMT - SERVIÇO ESPECIALIZADO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA E

MEDICINA DO TRABALHO

SINDUSCON - SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

ix
RESUMO

O presente trabalho tem como proposta investigar a utilização dos Equipamentos


de Proteção Individual (EPI) na construção civil e no ambiente de trabalho,
segundo o ponto de vista da administração e dos operários. Para tanto, os
estudos foram realizados através de observações junto a dois canteiros de obras
em Feira de Santana-BA. A coleta de dados se deu através de método de
abordagem in loco via aplicação de questionários e entrevistas estruturadas,
sendo um aos funcionários da empresa, e o outro a administração do canteiro de
obras. Através das análises das respostas será possível verificar a deficiência ou
não, que os funcionários têm em relação a proteção individual, conforme NR-6,
dos cuidados necessários para o bom andamento das atividades desempenhadas
e quais as responsabilidades que isso acarreta. Além do que, verificar o
posicionamento do empregador quanto aos treinamentos dos operários para o
uso apropriado e obrigatório desses equipamentos, responsabilizando-os pela
higienização e manutenção periódicas, o que nem sempre é uma tarefa fácil.
Informar o trabalhador da necessidade de preservação da integridade física,
através de cuidados básicos e apropriados para o seu bem-estar no ambiente de
trabalho.

Palavras-chave: Conscientização. EPI. Segurança.

x
ABSTRACT

This work is proposed to investigate the use of Personal Protective Equipment


(PPE) in construction and in the workplace, according to the viewpoint of
management and workers. To this end, studies were conducted through
observations with two construction sites in Feira de Santana-BA. Data collection
was through a method of approaching the spot via questionnaires and structured
interviews, one to company employees, and other administration of the
construction site. Through the analysis of responses will be possible to verify the
disability or not, that employees have regarding personal protection, according to
NR-6, the care required for the proper conduct of activities performed and the
responsibilities it entails. In addition, check the positioning of the employer with the
training of workers for appropriate use and required of such equipment, blaming
them for periodic cleaning and maintenance, which is not always an easy task.
Inform the employee of the need to preserve the integrity, through primary care
and appropriate to their well-being at work.

Word-key: Awareness, EPI, Security guard.

xi
1. INTRODUÇÃO

A ICC é uma atividade que envolve tradicionais estruturas sociais,


culturais e políticas. É nacionalmente caracterizada por apresentar um elevado
índice de acidentes de trabalho, estando em quinto lugar na freqüência de
acidentes registrados em todo país. Esse perfil pode ser traduzido como gerador
de inúmeras perdas de recursos humanos e financeiros no setor.
Os acidentes de trabalho têm sido freqüentemente associados
negligência das empresas que oferecem condições de trabalho inseguras e a
empregados displicentes que cometem atos inseguros.

A proteção individual no contexto atual é quesito obrigatório nas obras e


não deve ser vista como uma questão de escolha. A queda de altura, por
exemplo, responsável por cerca de 50% dos acidentes no canteiro, pode ser
evitada com o uso de equipamentos de proteção individual, como cinto de
segurança, trava-quedas, talabarte.

Não são apenas os trabalhos em altura que necessitam de proteção: o


capacete protege a cabeça de batidas (como em pilares e escoramentos) e de
queda de materiais; o calçado de segurança evita perfurações e alergias de pele
(dermatites de contato) com cimento e cal, assim como as luvas. O empregador
tem a responsabilidade de treinar e de orientar os funcionários. Já a preservação
e guarda dos equipamentos ficam a cargo dos operários.

O ambiente de trabalho é o local onde se desenvolve a prestação dos


serviços e, também, o ambiente reservado pelo empregador para o descanso do
empregado. O trabalho é um dos elementos que mais interferem nas condições e
qualidade de vida do homem e, portanto, na sua saúde. Dessa forma é
fundamental ser dotado de condições higiênicas básicas, regras de segurança
capazes de preservar a integridade física e a saúde dos empregados, com a
antecipação, o reconhecimento, a avaliação e o domínio dos riscos concretos ou
potenciais existentes (MAIA, 2000).

1
1.1. JUSTIFICATIVA

É sabido que os acidentes de trabalho são os maiores desafios para a


saúde do trabalhador, atualmente e no futuro. Os acidentes do trabalho ocorrem
não por falta de legislação, mas devido ao não cumprimento das normas de
segurança, as quais visam à proteção da integridade física do trabalhador no
desempenho de suas atividades, como também o controle de perdas. Somem-se
ao descumprimento das normas a falta de fiscalização e a pouca conscientização
do empresariado (VENDRAME, 2001).

Assim, em destaque, a construção civil que caracteriza-se por uma


atividade que vem crescendo a cada ano, com inovações tecnológicas,
desenvolvimento de novos métodos construtivos, a fim de facilitar e tornar a
construção cada vez mais rápida e fácil de executar.

Com obras cada vez mais complexas há sempre estudos e treinamentos


de funcionários, com propósito de minimizar o desperdício de material e mão-de-
obra, fator importante para a empresa e principalmente para o meio ambiente,
mas isso não é suficiente para o funcionário que por muitas vezes se envolve em
acidentes por falta de equipamentos de proteção individual, treinamento e
informação.

Sabemos que condições de saúde e segurança do trabalhador, hoje é


um fator preponderante no contexto social, por isso a escolha deste tema deve-se
a importância da identificação dos riscos suscetíveis pelo não uso do
Equipamento de Proteção Individual - EPI no canteiro de obras, que pode ser
acarretado pela má administração ou a falta de instrução dos operários quanto às
questões de segurança.

2
1.2. OBJETIVOS

Apresentam-se a seguir, os objetivos desta investigação.

1.2.1. Objetivo Geral

Avaliar o uso do EPI na visão da administração e dos operários, em


duas obras verticais, em Feira de Santana.

1.2.2. Objetivos Específicos

Identificar o posicionamento da administração quanto à saúde e

segurança do trabalhador.

Verificar sob que condições os trabalhadores atuam quanto ao uso de

Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

Avaliar o conhecimento da NR-6 - Equipamento de Proteção Individual,

por parte dos profissionais, tanto empregados quanto empregadores.

1.3. METODOLOGIA CIENTÍFICA

A princípio, iniciaremos com uma revisão teórica acerca do tema,


dividindo o capítulo 2 (referencial teórico), em sub-capítulos, abordando assim,
legislação do trabalho, acidentes de trabalho e suas causas e equipamentos de
proteção individual (EPI) e os seus tipos, conforme a NR-6. Para fundamentação
teórica foram utilizados livros, revistas, artigos e pesquisas na internet.

O presente trabalho se caracteriza por um estudo de caso, através de


uma investigação a cerca do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI)
na construção civil e no ambiente de trabalho. Serão aplicados questionários aos
operários da obra. Quanto à administração será feita uma entrevista estruturada,

3
com os usuários-chave da obra (engenheiro da obra e engenheiro de segurança).
Foram escolhidas duas obras verticais, para serem visitadas. Escolhemos obras
de construtoras diferentes, a fim de avaliar o método de segurança empregado,
por cada uma delas.

A partir destes dados, apresentaram-se as conclusões, através de


gráficos e tabelas, sobre o uso do equipamento de proteção individual (EPI), nos
canteiros de obras, bem como sugestões e recomendações de melhorias tanto
para o empregado quanto para o empregador.

1.4. ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

O conteúdo do trabalho será estruturado através de cinco capítulos.

No Capítulo 1 consta a introdução da monografia, caracterizada pelo


tema. Ainda no mesmo, justifica-se a escolha do tema citando as situações que
tornam o trabalho importante para a segurança do trabalho na construção civil.
Logo em seguida, são expostos o objetivo geral e os específicos desta avaliação
em questão, acrescentando-se a metodologia que será utilizada no trabalho.

No Capítulo 2, de fundamentação teórica, apresentam-se um breve


histórico sobre a legislação do trabalho, bem como os acidentes do trabalho na
construção civil, fechando com foco principal da pesquisa, os equipamentos de
proteção individual segundo a NR-6.

No Capítulo 3, faz-se a caracterização das obras estudadas, e um


registro fotográfico,e posteriormente análises e comentários.

No Capítulo 4, apresentou-se a interpretação do estudo de caso, através


dos gráficos, e dos questionários aplicados em campo.

No Capítulo 5 foram feitas as conclusões do trabalho desenvolvido.

No Capítulo 6 apresentamos as recomendações.


4
Posteriormente, são apresentadas as referências bibliográficas e os
anexos.

5
2. REFERENCIAL TEÓRICO

Para fundamentar a pesquisa, serão abordados os seguintes temas:


legislação de segurança do trabalho, acidentes de trabalho e suas causas e o EPI
segundo a NR-6.

2.1. LEGISLAÇÃO DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Desde seu aparecimento na Terra, o homem está exposto a riscos.


Como ele não tem controle sobre esses riscos, ocorre sobre ele todo tipo de
acidente. O homem inventou a roda d’água, os teares mecânicos, as máquinas a
vapor, a eletricidade e até os computadores. É um longo aprendizado tecnológico.
No entanto, se por um lado o progresso científico e tecnológico facilita o processo
de trabalho e produção, por outro trazem novos riscos, sujeitando o homem a
acidentes e doenças decorrentes desse processo (CAMPOS, 2001).

De acordo com a literatura, é possível observar que a preocupação com


os acidentes e doenças decorrentes do trabalho humano, surgiu na Grécia Antiga,
quando Hipócrates (considerado o Pai da Medicina) fez algumas referências aos
efeitos do chumbo na saúde humana. Posteriormente, outros estudiosos, como
Plínio (o Velho) e Galeno, descreveriam algumas doenças a que estavam sujeitas
as pessoas que trabalhavam com o enxofre, o zinco e o chumbo. No Antigo Egito
e no mundo greco-romano já existiam estudos realizados por leigos e médicos,
relacionando saúde e ocupações.

Este campo de conhecimento volta a progredir após a Revolução


Mercantil (século XIV), graças aos estudos de médicos, como Ulrich Ellenbog
(que detecta a ação tóxica do monóxido de carbono, do mercúrio e do ácido
nítrico), Paracelso (que estuda as moléstias dos mineiros), George Bauer e
Ysbrand Diemerbrock.

No ano de 1700, o italiano Bernardino Ramazzini publica seu livro “De


Morbis Artificum Diatriba” (As Doenças dos Artesãos), com a descrição de 53
tipos de enfermidades profissionais, sendo que para algumas delas eram
6
apresentadas formas de tratamento e até mesmo de prevenção. Por esta obra,
Ramazzini passou a ser considerado como o Pai da Medicina do Trabalho a
estabelecer definitivamente a relação entre saúde e trabalho.

Contudo, apesar dos trabalhos consagrados de Agrícola, Paracelso e


Ramazinni, o interesse pela proteção do operário no seu ambiente de trabalho só
ganharia força e ênfase no século XIX com o impacto da Revolução Industrial
(Miranda, 1998).

Com o advento da Revolução Industrial e a expansão do capitalismo


industrial, o número de acidentes do trabalho, incluindo as doenças decorrentes
do trabalho humano, cresceu assustadoramente, devido às péssimas condições
de trabalho existentes. A situação ficou tão grave, que se temeu pela falta de
mão–de–obra, tal era a quantidade de trabalhadores mortos ou mutilados
(RODRIGUES, 1993).

As fábricas eram instaladas em galpões improvisados, estábulos e


velhos armazéns, notadamente nas grandes cidades, onde a mão-de-obra era
abundante, constituída principalmente de mulheres e crianças. A situação era
dramática, provocando indignação na opinião pública, o que acabou gerando
várias comissões de inquérito no Parlamento Inglês.

Segundo Rodrigues (1993), nesse ínterim, o conhecimento acumulado


até então começou a ser utilizado para formação de leis de proteção à saúde e à
integridade física dos trabalhadores, numa tentativa de preservar o novo modo de
produção, como:

A “Lei da Saúde e Moral dos Aprendizes” (1802), na Inglaterra,


que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o
trabalho noturno e tornava obrigatória a ventilação do ambiente e
a lavagem das paredes das fábricas duas vezes por ano;

7
A Lei das Fábricas (1833), também na Inglaterra, considerada a
primeira norma realmente eficiente no campo da proteção ao
trabalhador, e que fixava em 9 anos a idade mínima para o
trabalho, proibia o trabalho noturno para menores de 18 anos e
exigia exames médicos de todas as crianças trabalhadoras.

Portanto, as leis de proteção ao trabalhador surgiram, inicialmente, em


1802 na Inglaterra. Na França foi em 1862, com a regulamentação da segurança
e higiene do trabalho. Em 1865, na Alemanha, e em 1921 nos Estados Unidos
(CAMPOS, 2001).

Já no século XX, em parte decorrente do desenvolvimento da


administração científica, a preocupação com os acidentes do trabalho passou a
ser incorporada pelos gestores dos estabelecimentos industriais, que lançaram
mão de técnicas de engenharia para a criação de sistemas de prevenção ou
controle de infortúnios, tais como equipamentos de proteção individual, sistema
de ventilação industrial, etc.

No Brasil, durante os primeiros três séculos de nossa história, as


atividades industriais ficaram restritas aos engenhos de açúcar e à mineração. Em
1840 surgiram os primeiros estabelecimentos fabris no Brasil. A primeira máquina
a vapor surgiu em 1785 na Inglaterra, enquanto no Brasil surgiu em 1869 na
Província de São Paulo, numa fábrica de tecidos de Itu, a Fábrica São Luiz.
Portanto, 84 anos depois.

Em 1919 surge a primeira lei de acidentes do trabalho, com o Decreto


Legislativo nº. 3.724, de 15 de janeiro, como ponto de partida da intervenção do
Estado nas condições de consumo da força de trabalho industrial em nosso país.
Essa lei não considera acidente de trabalho a doença profissional atípica
(mesopatia). Exige reparação apenas em caso de “moléstia contraída
exclusivamente pelo exercício do trabalho, quando este for de natureza a só por si
causá-la”. Institui o pagamento de indenização proporcional à gravidade das
seqüelas. Abre, então, a possibilidade de as empresas contratarem o Seguro de
8
Acidente de Trabalho (SAT), junto às seguradoras da iniciativa privada. O SAT
ficaria exclusivo da iniciativa privada até 1967, quando passou a ser prerrogativa
da Previdência Social, reforçando a obrigatoriedade do SAT, que até então estava
sob a responsabilidade de seguradoras privadas.

Em 1934 surge a segunda lei de acidentes do trabalho, com o decreto


nº. 24.637, de 10 de julho, que modificou a legislação anterior. É criada a
Inspetoria de Higiene e Segurança do Trabalho, que se transformaria ao longo
dos anos em Serviço, em Divisão, em Departamento, em Secretaria e, mais
recentemente, novamente em Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho.
Amplia-se o conceito de doença profissional, abrangendo um maior número de
doenças até então não consideradas relacionadas ao trabalho, mas que passam
a sê-lo. É reconhecida como acidente do trabalho a doença profissional atípica
(mesopatia).

Em 1944 surge a terceira lei de acidentes do trabalho no Brasil, com o


Decreto – Lei 7.036, de 10 de novembro, que, no seu artigo 82, reformou a
legislação sobre o seguro de acidentes do trabalho. Foi a primeira lei a tratar
especificamente do assunto, quando obrigou as empresas a organizarem
comissões internas com o objetivo de prevenir acidentes. Determinou que as
empresas com mais de 100 funcionários constituíssem uma comissão interna
para representá-los, a fim de estimular o interesse pelas questões de prevenção
de acidentes.

Ainda neste ano, o empregador fica obrigado a proporcionar máxima


higiene e segurança no ambiente de trabalho.

Em 1967 surgiu a quarta lei de acidentes do trabalho no Brasil, com o


Decreto-Lei nº. 293, de 28 de fevereiro. Teve curta duração, porque foi totalmente
revogada pela Lei nº. 5.316, de 14 de setembro do mesmo ano. Integrou o seguro
de acidentes do trabalho na Previdência Social, retirando-o da iniciativa privada.

A Lei nº. 5.316, de 14 de setembro de 1967, foi a quinta lei de acidentes


9
do trabalho no Brasil. Restringiu o conceito de doença do trabalho, excluindo as
doenças degenerativas e as inerentes a grupos etários. O Decreto nº. 61.784, de
28 de novembro de 1967, aprovou o novo Regulamento do Seguro de Acidentes
do Trabalho.

Neste mesmo ano, as principais alterações na legislação acidentária


brasileira foram: o SAT passou a ser prerrogativa da Previdência Social, ou seja,
passou a ser estatal, reforçando a obrigatoriedade do SAT por parte das
empresas, o qual até então estava sob a responsabilidade de seguradoras
privadas; introduziu o conceito de acidente de trajeto; promoveu a prevenção de
acidentes e reabilitação profissional.

Por volta de 1974, com o fim do período de expansão econômica e


iniciada a abertura política lenta e gradual, novos atores surgem na cena política
(movimento sindical, profissionais e intelectuais da saúde, etc.), questionando a
política social e as demais políticas governamentais. Neste ano, duas medidas
muito importantes acontecem no campo da saúde: a implementação do Plano de
Pronta Ação – PPA, com diversas medidas e instrumentos que ampliariam ainda
mais a contratação de serviços médicos privados, antes de responsabilidade da
Previdência Social; e a criação do Fundo de Apoio ao desenvolvimento Social –
FAS, destinado a financiar subsidiariamente o investimento fixo de setores
sociais (Braga & Paula, in Andrade, 2001).

Em 1976, 1,25% do FAS fica destinado à prevenção de acidentes. Surge


a sexta lei de acidentes do trabalho, com a Lei n. 6.367, de 19 de outubro de
1976, que amplia a cobertura previdenciária de acidente de trabalho, e o Decreto
n. 79.037, de 24 de dezembro de 1976, que aprova o novo Regulamento do
Seguro de Acidentes do Trabalho. Ficam sem proteção especial contra acidentes
do trabalho o empregador doméstico e os presidiários que exercem trabalho não
remunerado. Além disso, a lei identifica a doença profissional e a doença do
trabalho como expressões sinônimas, equiparando-as a acidente do trabalho
somente quando constantes da relação organizada pelo Ministério da Previdência
e Assistência Social.

10
Em 1978, a Portaria 3.214, de 8 de junho, aprova as Normas
Regulamentadoras – NR (28 ao todo) do capítulo V do título II da CLT, relativas à
segurança e medicina do trabalho.

Atualmente conta-se com 33 normas regulamentadoras, visto a


necessidade nos diversos ambientes de trabalho. O trabalho desta monografia
será fundamentado na NR – 6, que trata dos equipamentos de proteção
individual, aprovada em 8 de junho de 1978. A mesma já passou por diversas
alterações, o que será tratado em capítulo posterior.

A história da proteção legal ao trabalhador contra acidentes e doenças


ocupacionais no Brasil é mais recente, isto é, em comparação aos países mais
desenvolvidos, que possuem uma trajetória de industrialização que se iniciou
muito antes que no Brasil. Na verdade, no Brasil, ela vem se desenvolvendo ao
longo dos últimos cinqüenta anos e num ritmo acelerado, em resposta à
necessidade urgente de diminuição das estatísticas, que são uma verdadeira
tragédia nacional.

2.2. ACIDENTES DE TRABALHO

De acordo com o conceito prevencionista, define-se acidente de trabalho


como:

“Toda ocorrência indesejável, inesperada ou não programada, que


interfere no desenvolvimento normal de uma tarefa e que pode causar:
perda de tempo e/ou danos materiais ou ambientais e/ou lesões físicas
até a morte ou doenças nos trabalhadores, ou as três coisas
simultaneamente”.

Nesta definição é possível observar, que são levados em consideração,


além da lesão física, a perda de tempo e os danos materiais ou as três coisas
simultaneamente. Ainda nessa linha de raciocínio, é possível encontrar a

11
definição legal de acidente do trabalho, definido pela lei 8.213, de 24 de julho de
1991, Lei Básica da Previdência Social, determina, em seu capítulo II, Seção I,
artigo 19, que:

“Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do


trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda,
ou ainda a redução, permanente ou temporária da capacidade para o
trabalho”.

Mas o acidente não pode ser tratado quando apenas há ferimentos,


morte ou lesão, mas também quando não houver as mesmas.

Ainda segundo a lei, é considerado acidente do trabalho, também


quando ocorre no exercício do trabalho a serviço da empresa de acordo com as
seguintes circunstâncias, conforme De Cicco (1982):

Doenças profissionais ou do trabalho: aquelas que são


adquiridas em determinados ramos de atividade e que são
resultantes das condições especiais em que o trabalho é
realizado;
Qualquer tipo de lesão, quando ocorre: no local e no horário
de trabalho e quando a caminho ou na volta do trabalho; fora
dos limites da empresa e fora do horário de trabalho; fora do
local da empresa, mas em função do trabalho.

Desta forma, é possível verificar que o conceito de acidente é muito


amplo e não é limitado apenas no local de trabalho, mas também abrangendo o
trajeto e os ocorridos em função do trabalho.

É sabido que os acidentes de trabalho são os maiores desafios para a


saúde do trabalhador, atualmente e no futuro. De acordo com a Organização
Panamericana de Saúde – OPAS (2006) estes desafios estão ligados “aos
problemas de saúde ocupacional, com as novas tecnologias, novas substâncias
12
químicas, problemas relacionados com a crescente mobilidade dos trabalhadores
e ocorrência de novas doenças ocupacionais”.

Os trabalhadores são as vítimas pessoais mais transparentes dos


acidentes do trabalho. Esses acidentes são identificados visualmente por um
simples curativo num dedo ou até por uma parte do corpo engessada ou quando
não ocorre o óbito cuja evidência é inquestionável (ZOCCHIO, 2001).

Desta forma, é possível observar uma crescente preocupação das


empresas com relação à segurança do trabalho. O acidente é um fato que
nenhuma empresa gostaria de presenciar e vivenciar, devido às várias
preocupações legais que podem repercutir a empresa, além do custo gerado pelo
acidente.

Segundo Zocchio (2002), um dos piores problemas a serem enfrentados


pelo funcionário acidentado e principalmente pela empresa é o aspecto
econômico, onde a empresa nem sempre percebe esse lado negativo do
infortúnio do trabalho, embora seja ela inicialmente a mais afetada.

2.2.1. Causas de Acidentes de Trabalho

No Brasil, durante muito tempo as causas de acidentes eram tão


somente atos inseguros ou condições inseguras, principalmente depois de
estudiosos americanos terem analisado 75.000 acidentes industriais e concluído
que 88% estavam ligados a fatores humanos, 10% a fatores materiais, e 2%
outros fatores. (CAMPOS, 2001).

Para causar um acidente basta às pessoas não se enquadrarem nas


condições de saúde, estado de ânimo, temperamento, preocupação, entre outras
condições.

Logo abaixo, um conhecimento mais profundo sobre os atos inseguros e


as condições inseguras.

13
2.2.1.1. Condições Inseguras

No conceito de Zocchio (2002), as condições inseguras no ambiente de


trabalho, são as que comprometem a segurança, ou seja, falhas, defeitos,
irregularidades técnicas, carência de dispositivo de segurança, desorganização,
etc. que põem em risco a integridade física e/ou à saúde das pessoas.

No entanto, para evitar às condições inseguras do local de trabalho a


empresa tem um papel muito importante, pois é ela através dos técnicos de
segurança, encarregados e supervisores que deve analisar essas condições
antes de ocorrer o acidente e tomar as devidas ações para corrigir, conforme
relata RIBEIRO FILHO (1974):

“O supervisor, em contato diário com seus subordinados,


está em excelente posição para atuar junto a eles, a fim de
que adquiram “mentalidade de segurança”, evitando, assim,
a prática de atos inseguros; de outro lado, é responsável
também pela remoção das condições inseguras existentes
em sua área de trabalho.”

Dentre as condições inseguras podemos destacar: a falta de dispositivos


de proteção em máquinas e outros equipamentos; dispositivos de proteção
existentes, mas inadequados ou em más condições; falhas de processo ou
método de trabalho; EPI não fornecido pela empresa ou inadequado ao risco que
deveria neutralizar; nível de iluminação insuficiente para trabalho; produtos
perigosos expostos (ZOCCHIO, 2001).

Todas essas condições citadas podem existir dentro de um ambiente de


trabalho, como também podem ser criadas, durante a execução das tarefas,
através do descontrole, desorganização, precipitação ou, muitas vezes, pela
própria negligência dos trabalhadores. Por isso a atenção, a concentração naquilo
que está fazendo ou executando é fundamental para a integridade física do
trabalhador (MACHADO, 1992).
14
É comum associar-se as condições inseguras diretamente aos atos
inseguros, pois os funcionários verificam uma condição insegura e mesmo assim
praticam a tarefa, podendo ocasionar o acidente assim classificando a condição
insegura aliada com o ato inseguro. Para que isso não aconteça, é necessário
que o funcionário avise aos superiores as condições de trabalho e se recuse a
executar o serviço para a sua própria proteção.

Michael (2000) entende que a melhor forma de prevenção de acidentes


é eliminando os atos e condições inseguras no ambiente de trabalho. Entre as
medidas preventivas sugeridas por Michael (2000) estão: eliminar os atos
inseguros por meio de seleção profissional, exames médicos adequados,
treinamento, comunicação interna e reforço positivo; e eliminar as condições
inseguras por meio do mapeamento de áreas de risco, análise profunda dos
acidentes e apoio irrestrito da alta administração.

2.2.1.2. Atos Inseguros

Os atos inseguros são definidos de acordo com (De Cicco,1982), como


causas de acidentes de trabalho que residem exclusivamente no fator humano,
isto é, aqueles que decorrem da execução de tarefas de forma contrária às
normas de segurança.

Com isso, é possível observar que, os atos inseguros dependem do


homem agir de forma correta, observando seus atos e corrigindo-os quando
necessários, ou seja, isso vai além das normas de segurança.

Contudo, é preciso que haja uma redução nos atos, pois uma sucessão
de atos inseguros pode levar ao acidente.

Como os atos inseguros dependem do homem, podem ser tratados


segundo Zocchio (2002), como atos conscientes, onde as pessoas sabem que
estão se expondo ao perigo; atos inconscientes, aqueles que as pessoas
desconhecem o perigo a que se expõem; atos circunstanciais, ocorre quando as
15
pessoas podem conhecer ou desconhecer o perigo, mas algo mais forte as leva à
prática da ação insegura.

Para prevenir os atos inseguros, é necessário conhecer a causa que


levou o funcionário a praticá-lo e trabalhar através de treinamento, palestras, etc.,
principalmente o comportamento do empregado.

Conforme De Cicco (1982), existem 3 (três) grandes grupos de causas


do ato inseguro, conforme explica:

 Inadequação entre homem e função: Alguns trabalhadores


cometem atos inseguros por não apresentarem aptidões
necessárias para o exercício da função. Um operário com
movimentos excessivamente lentos poderá cometer muitos atos
inseguros, aparentemente por distração ou falta de cuidado, mas,
pode ser que a máquina que ele opere exija movimentos rápidos.
Este operário deve ser transferido para um tipo de trabalho
adequado às suas características.
 Desconhecimento dos riscos da função e/ou da forma de
evitá-los: É comum um operário praticar atos inseguros,
simplesmente por não saber outra forma de realizar a operação
ou mesmo por desconhecer os riscos a que se está expondo.
Trata-se, pois, de uma exposição inconsciente ao risco.
 O ato inseguro pode ser sinal de desajustamento: o ato
inseguro se relaciona com certas condições específicas de
trabalho, que influenciam o desempenho do indivíduo. Incluem-
se, nesta categoria, problemas de relacionamento com chefia
e/ou colegas, política salarial e promocional imprópria, clima de
insegurança com relação à manutenção do emprego, etc. Tais
problemas ,interferem com o desempenho do trabalhador,
desviando sua atenção da tarefa, expondo-o, portanto, a
acidentes.

16
Ainda segundo Zocchio (2002), conforme quadro abaixo, dependendo
da área de trabalho, podemos ter exemplos de alguns atos inseguros. (Quadro 1).

ATO INSEGURO CAUSA DO ATO INSEGURO

Desconhecimento dos riscos da função


Ficar junto ou sob cargas suspensas
e/ou da forma de evitá-los
Desconhecimento dos riscos da função
Colocar parte do corpo em lugar perigoso
e/ou da forma de evitá-los

Sinal de desajustamento
Usar máquina sem habilitação ou autorização
Sinal de desajustamento
Imprimir excesso de velocidade ou sobrecarga
Lubrificar, ajustar e limpar máquinas em Desconhecimento dos riscos da função
movimento e/ou da forma de evitá-los
Improvisação ou mau emprego de ferramentas
Sinal de desajustamento
manuais
Inadequação entre homem e função
Uso de dispositivo de segurança inutilizados
Não usar proteção individual Sinal de desajustamento

Uso de roupas inadequadas ou acessórios


Inadequação entre homem e função
desnecessários
Inadequação entre homem e função
Manipulação insegura de produtos químicos
Sinal de desajustamento
Transportar ou empilhar inseguramente
Sinal de desajustamento
Fumar ou usar chamas em lugares indevidos
Tentativa de ganhar tempo Sinal de desajustamento

Brincadeiras e exibicionismo Sinal de desajustamento

QUADRO 01 – Exemplos de atos inseguros e suas causas.

17
Na verdade, Campos (2001), relata que todo acidente tem causas
imediatas, causas básicas (ou raiz) e, principalmente, causas gerenciais. As
imediatas são o ato inseguro e as condições inseguras. As básicas têm, em geral,
origem administrativa e, quando corrigidas, previnem por um longo período um
acidente similar. Exemplos de causas básicas: falta de conhecimento ou de
treinamento; posto de trabalho inadequado; falta de reforço em práticas seguras;
falhas de engenharia (projeto e construção); uso de equipamento de proteção
individual inadequado; verificações e programas de manutenção inadequados;
compra de equipamentos de qualidade duvidosa; sistema de recompensa
inadequado; métodos ou procedimentos inadequados.

Por essa razão é que, durante uma investigação e análise de acidentes,


os profissionais envolvidos não devem utilizar os termos atos inseguros ou
condições inseguras. Ou seja, na busca das causas dos acidentes, não procurem
classificá-los em atos inseguros ou condições inseguras, mas descrever o risco
sem que haja essa necessidade de classificação (Piza,1997).

Deve-se, portanto, procurar falhas no processo de trabalho e não


identificar se o acidente foi causado por um ato inseguro ou por condições
inseguras. O ato inseguro não deixou de existir. Ele é a ponta do processo, e
neste existem muitas variáveis.

Segundo Ayres e Côrrea (2001), as principais causas de acidentes de


trabalho no país são: a falta de conscientização dos empresários e trabalhadores
para a importância da prevenção dos infortúnios do trabalho; formação
profissional inadequada; jornadas de trabalho prolongadas; longos períodos de
transporte incômodo e fatigante (nas grandes cidades); alimentação do
trabalhador imprópria e insuficiente; prestação de serviço insalubre em jornadas
de trabalho destinadas às atividades normais; grande quantidade de
trabalhadores sem o devido registro como empregados; alta rotatividade da mão-
de-obra e abuso na “terceirização” de serviços.

18
2.3. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)

Segundo a NR-6 da Portaria 3214/78 do MTb, considera-se


Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso
individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. O seu uso sempre foi um desafio no
convencimento, por parte da força de trabalho seja ela da construção civil,
indústria, operação química, portuária, aeroportuária, tecelagem, e outras tantas
que padecem de uma fiscalização adequada e da disseminação da cultura
prevencionista, por parte de profissionais destas áreas, do corpo gerencial e
principalmente dos trabalhadores que já vêm viciados com conceitos falhos e
equivocados acerca deste e de outros temas.

De acordo com Oliveira Ayres e Peixoto Corrêa (2001), os EPI’s


desempenham importante papel na redução das lesões provocadas pelos
acidentes do trabalho e das doenças profissionais.

Vale ressaltar que o seu uso só deverá ser feito quando não for possível
tomar medidas que permitam eliminar os riscos do ambiente em que se
desenvolve a atividade, ou seja, quando as medidas de proteção coletiva não
forem viáveis, eficientes e suficientes para a atenuação dos riscos e não
oferecerem completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho e/ou de
doenças profissionais e do trabalho.

Todos os funcionários da obra devem ser treinados e orientados para


utilização adequada dos EPI’s e recebê-los gratuitamente em perfeito estado de
conservação e funcionamento. De acordo com a lei 6.514/1977, do ministério do
trabalho, CLT – Consolidação das Leis de Trabalho / Capítulo V – da segurança e
medicina do trabalho / Seção IV - do equipamento de proteção individual - Art.166
- A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento
de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e
funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa
proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.

19
Quanto ao sistema de distribuição e fiscalização dos EPI’s, as empresas
utilizam fichas, não para atender às necessidades de controles administrativas,
mas, principalmente, os aspectos legais. Nestas fichas constam além do termo de
responsabilidade do empregado e da empresa, os tipos de EPI’s requisitados,
seus C.A (Certificado de Aprovação) e as datas de entrega e substituição. Todos
os EPI’s utilizados pelo empregado deverão ser anotados nessa ficha. As fichas
de Controle de EPI’s ficarão arquivadas no setor de Segurança do Trabalho
enquanto o empregado estiver trabalhando na empresa, após o desligamento do
empregado, sua ficha deverá ser enviada ao setor de RH para arquivamento junto
ao prontuário do empregado desligado.

Todos os equipamentos de proteção individual (EPI), só podem ser


utilizados se possuírem impresso no produto o número de CA (Certificado de
Aprovação) fornecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Compete ao Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em


Medicina do Trabalho - SESMT, ou a Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes - CIPA nas empresas desobrigadas de manter o SESMT, recomendar
ao empregador o EPI adequado ao risco existente em determinada atividade.

De acordo com Oliveira Ayres e Peixoto Corrêa (2001), é importante que


o trabalhador tenha em mente que:

 é necessário que o trabalhador participe dos programas de


prevenção de sua empresa, a fim de que possa, conscientemente,
valorizar o uso dos EPIs;
 é desejável que o EPI seja confortável, que se adapte ao
esquema corporal do usuário e tenha semelhança com objetos
comuns;
 deve-se deixar ao trabalhador a escolha do tipo de sua
preferência, até mesmo quando a certa característica, como a cor,
quando a empresa tiver selecionado e adquirido mais de um tipo e
marca para a mesma finalidade;

20
 a experiência tem demonstrado que se o trabalhador for levado a
compreender que o EPI é um objeto bom para si, destinado a
protegê-lo, mudará de atitude, passando a considerá-lo como algo de
sua estima e, nesse caso, as perdas ou danos por uso inadequado
tendem a desaparecer;
 empregador e/ou o supervisor deverão ser tolerantes na fase
inicial de adaptação, usando a compreensão e dando as necessárias
explicações ao trabalhador, substituindo a coerção pela atenção e
esclarecimento, de forma que, aos poucos, vá conscientizando o
trabalhador da utilidade do uso do EPI. As ameaças e atitudes
coercitivas provocarão traumas e revoltas do empregado.

Na ICC onde os acidentes estão em quinto lugar, segundo o Ministério


do Trabalho e Emprego, por muitas vezes as empresas apenas fornecem o EPI,
mas não há um treinamento e tão pouco uma reposição do EPI quando
necessário. A segurança para a indústria da construção civil resume em fornecer
o EPI sem uma preocupação da sua utilização correta. Conforme o artigo da
Zanpieri Grohmann,

[...] o simples fornecimento de EPIs e exigência de seu uso não podem


evitar acidentes se utilizados isoladamente pois, um eficaz sistema de
segurança é caracterizado não apenas pelo simples cumprimento de
exigências legais,mas, principalmente, pela preocupação em fornecer
aos empregados um ambiente seguro, os mais adequados
equipamentos de proteção individual e um eficiente treinamento do
mesmo, sem levar em conta apenas a minimização dos custos.

Isso ocorre devido à alta rotatividade de mão-de-obra na construção


civil, onde os empreendedores não investem em equipamentos e tão pouco
propõe programas de segurança, visto que isso resulta em gastos “extras”, visão
de quem não planeja bem a obra, onde a segurança tem que estar em primeiro
lugar a frente da produção, pois do que vale produzir com acidentes ou mortes, o
prejuízo é certo.

21
2.3.1. Tipos de EPI’s

Abaixo, citaremos os principais EPI’s utilizados na construção civil.

 Capacete de Proteção

A função primária do capacete é proteger a cabeça de impactos


externos provenientes de queda ou projeção de objetos, queimaduras, choque
elétrico e irradiação solar. (Figuras 1, 2, 3 e 4).

Figura 1: Capacete tipo aba frontal

Figura 2: Capacete tipo aba total

22
Figura 3: Capacete tipo aba frontal com viseira

Figura 4: Capacete tipo aba frontal com protetor tipo concha

 Óculos de segurança

Os óculos são utilizados principalmente para evitar perfuração dos olhos


através de corpos estranhos como no corte de arames e cabos, no uso de chave
de boca e talhadeiras, uso de furadeiras, retirada de pregos, partículas sólidas e
outros agentes agressivos que possam prejudicar sua visão, como agentes
químicos. Outra aplicação é a utilização dos óculos com lente de tonalidade
escura, além das proteções já citadas, podem proteger os olhos dos raios
23
ultravioletas. (Figuras 5, 6 e 7).

Figura 5: Óculos de segurança para proteção com lente incolor

Figura 6: Óculos de segurança para proteção com lente de


tonalidade escura

Figura 7: Óculos de segurança para proteção tipo ampla visão

24
 Protetor auditivo

Utilizado para proteção dos ouvidos nas atividades e nos locais que
apresentem ruídos excessivos para evitar algumas doenças causadas pelo ruído
como: perda auditiva, cansaço físico, mental, stress, fadigas, pressão arterial
irregular, impotência sexual nos homens e descontrole hormonal nas mulheres e
excesso de nervosismo. É recomendada a utilização desta proteção durante todo
o período de trabalho, assim causando um maior conforto para o trabalho. Na
indústria da construção civil existem alguns setores onde a utilização desta
proteção torna muito necessária como no caso do operador da betoneira,
utilização de ferramentas elétricas como serra circular, serra mármore. Quando
não utilizada essa proteção pode gerar doenças ao longo do tempo. (Figuras 8 e
9).

Figura 8: Protetor auditivo tipo concha

Figura 9: Protetor auditivo tipo inserção (plug)

25
 Respirador purificador de ar

Utilizado para proteção do sistema respiratório contra gases, vapores,


névoas, poeiras, para evitar contaminações por via respiratória, complicações nos
pulmões e doenças decorrentes de produtos químicos. Em casos de emergência
deverão ser utilizadas máscaras especiais. Na construção civil a poeira é a
grande dificuldade no local de trabalho assim prejudicando a respiração do
funcionário, outra dificuldade é na utilização de serra mármore para cortar
paredes que gera uma névoa de pó, com isso é necessário a utilização desta
proteção para evitar doenças respiratórias e no momento do trabalho proporcionar
um conforto ao funcionário. (Figuras 10, 11 e 12).

Figura 10: Respirador purificador de ar (descartável)

Figura 11: Respirador purificador de ar (com filtro)

26
Figura 12: Respirador purificador de ar com filtro (descartável)

 Luvas de proteção

As luvas de proteção são utilizadas para proteção mecânica, e contra


produtos abrasivos, escoriantes e rebarbas. Para cada tipo de luva há uma
utilização correta, como para a construção civil as mais utilizadas são as luvas de
raspa para o transporte de argamassa nos carrinhos, as luvas de látex mais
usadas para proteger as mãos de agentes químicos como o cimento que pode
ocorrer várias irritações na pele.
Para que várias doenças não ocorram com o funcionário é necessário a
utilização desta proteção para cada tipo de serviço. (Figuras 13, 14, 15, 16 e 17,
18).

Figura 13: Luva de proteção tipo vaqueta

27
Figura 14: Luva de proteção de algodão

Figura 15: Luva de proteção emborrachada

Figura 16: Luva de proteção látex

28
Figura 17: Luva de proteção de PVC cano longo

Figura 18: Luva de proteção de raspa

 Cinto de segurança

Cinto de segurança é utilizado para proteção do empregado contra


quedas em serviços onde exista diferença de nível. Na indústria da construção
civil é muito utilizado já que os serviços em altura são muito freqüentes na
utilização de andaimes, na construção de telhados, etc. Os cuidados a serem
tomados pelo funcionário é a sua correta utilização, pois quando utilizado
desajustado na queda pode ocorrer um acidente. Devem-se verificar todas as
cordas de segurança para que o funcionário fique bem seguro na altura. A
utilização do dispositivo trava – queda é importante, pois impede que o

29
funcionário na queda possa chegar ao chão, assim travando o funcionário e
fazendo com que ele fique preso no local. (Figuras 19 e 20).

Figura 19: Cinturão de segurança tipo pára-quedista

Figura 20: Dispositivo trava-queda

 Calçados de segurança

Um dos poucos equipamentos de proteção mais comum na utilização de


todas as empresas, principalmente na construção civil, mas ainda há algumas
empresas que ignoram essa utilização.
Um equipamento de segurança utilizado para a proteção dos pés, dedos
e pernas contra cortes, perfurações, escoriações, queda de objetos, calor, frio,
penetração de objetos, umidade, produtos químicos. No mercado tem diversos
tipos de calçados de segurança. (Figuras 21, 22 e 23).

30
Figura 21: Botina em couro com elástico

Figura 22: Botina em couro

31
Figura 23: Bota de borracha (cano longo)

A relação abaixo (fonte: PCMat / José Carlos de Arruda Sampaio)


mostra, para as funções que os empregados executam na obra, quais os EPIs
indicados:

 Administração em geral - calçado de segurança;


 Almoxarife - luva de raspa;
 Armador - óculos de segurança contra impacto, avental de raspa,
mangote de raspa, luva de raspa, calçado de segurança;
 Azulejista - óculos de segurança contra impacto, luva de PVC ou
látex;
 Carpinteiro - óculos de segurança contra impacto, protetor facial,
avental de raspa, luva de raspa, calçado de segurança;
 Carpinteiro (serra) - máscara descartável, protetor facial, avental
de raspa, calçado de segurança;
 Eletricista - óculos de segurança contra impacto, luva de borracha
para eletricista, calçado de segurança, cinturão de segurança
para eletricista;
 Encanador - óculos de segurança contra impacto, luva de PVC ou
látex, calçado de segurança;
 Equipe de concretagem - luva de raspa, calçado de segurança;
32
 Equipe de montagem (grua torre, guincho, montagens) - óculos
de segurança - ampla visão, máscara semifacial, protetor facial,
avental de PVC, luva de PVC ou látex, calçado de segurança;
 Operador de betoneira - óculos de segurança - ampla visão,
máscara semifacial, protetor facial, avental de PVC, luva de PVC
ou látex, calçado de segurança;
 Operador de compactador - luva de raspa, calçado de segurança;
 Operador de empilhadeira - calçado de segurança, colete
refletivo;
 Operador de guincho - luva de raspa, calçado de segurança;
 Operador de máquinas móveis e equipamentos - luva de raspa,
calçado de segurança;
 Operador de martelete - óculos de segurança contra impacto,
máscara semifacial, máscara descartável, avental de raspa, luva
de raspa, calçado de segurança;
 Operador de policorte - máscara semifacial, protetor facial,
avental de raspa, luva de raspa, calçado de segurança;
 Pastilheiro - óculos de segurança - ampla visão, luva de PVC ou
látex, calçado de segurança;
 Pedreiro - óculos de segurança contra impacto, luva de raspa,
luva de PVC ou látex, botas impermeáveis, calçado de
segurança;
 Pintor - óculos de segurança - ampla visão, máscara semifacial,
máscara descartável, avental de PVC, luva de PVC ou látex,
calçado de segurança;
 Poceiro - óculos de segurança - ampla visão, luva de raspa, luva
de PVC ou látex, botas impermeáveis, calçado de segurança;
 Servente em geral - calçado de segurança (deve sempre utilizar
os equipamentos correspondentes aos da sua equipe de trabalho)
 Soldador - óculos para serviços de soldagem, máscara para
soldador, escudo para soldador, máscara semifacial, protetor
facial, avental de raspa, mangote de raspa, luva de raspa,
perneira de raspa, calçado de segurança;
 Vigia - colete refletivo.
33
Observações:

 o capacete é obrigatório para todas as funções;


 a máscara panorâmica deve ser utilizada pelos trabalhadores
cuja função apresentar necessidade de proteção facial e
respiratória, em atividades especiais;
 o protetor auricular é obrigatório a qualquer função quando
exposta a níveis de ruído acima dos limites de tolerância da
NR 15;
 a capa impermeável deve ser utilizada pelos trabalhadores
cuja função requeira exposição a garoas e chuvas;
 o cinturão de segurança tipo pára-quedista deve ser utilizado
pelos trabalhadores cuja função obrigue a trabalhos acima de
2 m de altura;
 o cinto de segurança limitador de espaço deve ser utilizado
pelos trabalhadores cuja função exigir trabalho em beiradas de
lajes, valas etc.

34
3. CARACTERIZAÇÃO DAS OBRAS ANALISADAS

No trabalho feito, optou-se por analisar obras verticais devido aos diferentes tipos
de EPI’s utilizados, bem como os riscos que os operários estão expostos
diariamente na sua rotina de trabalho.

Analisamos duas obras em Feira de Santana, de diferentes construtoras, as quais


chamaremos aqui de empresa A e B. Ambas possuem treze pavimentos,
encontram-se em fase de acabamento e possuem divergências quando o assunto
é segurança do trabalho. A empresa A possui hoje em seu quadro de funcionários
126 operários, divididos entre mestre, encarregados, serventes, pedreiros,
carpinteiros e etc. A empresa B possui 26 operários.

O nível de segurança e organização varia muito de uma empresa para outra e a


partir de registros fotográficos será mais fácil para que isso seja visualizado. A
empresa A conta com a CIPA na ajuda de prevenção de acidentes, enquanto a
empresa B não conta em seu canteiro com tal comissão.

As duas empresas possuem PCMAT. Na empresa A conta-se com um técnico de


segurança de trabalho, diariamente na obra, durante as oito horas de trabalho,
enquanto na empresa B, o técnico faz visitas duas vezes na semana, como
descrito pelo responsável da obra.

Através de registros fotográficos e uma conversa com os operários e a


administração da empresa, foi possível observar alguns pontos importantes
referentes às questões de segurança do trabalho, como a organização do
canteiro, local de estocagem dos EPI’s, o uso adequado dos mesmos e até as
sinalizações de segurança utilizadas como uma forma de alertar quanto aos
riscos de acidentes. Logo abaixo, das figuras 24 a 34, será possível observar as
análises feitas.

35
Figura 24: Fachada da Obra A

Figura 25: Fachada da Obra B

36
Figura 26: Operário se preparando para trabalho em altura - Obra A

Figura 27: Trabalho em altura - Obra A

37
Figura 28: Trabalho em Altura - Obra B

Figura 29: Almoxarifado - Obra A

38
Figura 30: Almoxarifado – Obra A

Figura 31: Local de armazenagem dos EPI’s - Obra B

39
Figura 32: Sinalização de segurança - Obra A

Figura 33: Sinalização de segurança - Obra A

40
Figura 34: Sinalização de segurança - Obra A

41
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS

4.1 Quanto aos operários

A partir do referencial teórico, foi possível observar as condições


expostas aos operários e os riscos a que os mesmos estão sujeitos pelo não uso
dos equipamentos de proteção individual. Apesar da preocupação com as
questões de segurança do trabalho serem antigas, percebe-se que
questionamentos expostos há séculos atrás, ainda se perpetuam nos dias de
hoje. Os problemas quanto à falta de proteção coletiva e individual, aliadas à falta
de planejamento nos canteiros e a falta de treinamentos acabam favorecendo
para aumentar as estatísticas de acidentes do trabalho que são desfavoráveis ao
cenário da construção no país.

Como visto na bibliografia, VENDRAME 2001, escreveu que a maioria


dos acidentes do trabalho ocorrem não por falta de legislação, mas devido ao não
cumprimento das normas de segurança, a falta de fiscalização e a pouca
conscientização do empresariado

Observaram-se dois canteiros de obras A e B, em Feira de Santana, que


apesar de possuírem basicamente o mesmo porte, apresentaram resultados
diferentes, visto que as questões de segurança ainda não são fatores
preponderantes para algumas empresas. Foram entrevistados, 28 operários na
obra A e 22 operários na B, totalizando 50 funcionários. Logo abaixo, serão
apresentados os resultados, através de gráficos.

42
Figura 35: Níveis de escolaridade

Sabe-se que a construção civil é uma atividade que concentra um


número elevado de operários com baixa escolaridade. A maioria dos empregados
são pessoas humildes, de pouca ou nenhuma instrução, que necessitam de muita
informação. Geralmente, utiliza-se de serviço braçal, e não atentam para os cuidados
necessários. Nas duas obras visitadas, pode-se comprovar que a maioria dos
operários freqüentaram durante pouco tempo a escola, por falta de oportunidade
ou porque partiram cedo em busca de trabalho. Dos cinqüenta funcionários que
responderam às perguntas, observar-se que, 12% não concluíram o ensino
fundamental, 34% conseguiram concluir o ensino fundamental, 18% começaram o
ensino médio e não terminaram, 28% conseguiram completar o ensino médio e
8% nunca puderam freqüentar escolas. A construção civil é uma das poucas
indústrias que absorvem essa mão de obra considerada “sem qualificação”.
(Figura 35)

Para um bom desempenho da utilização dos EPIs há a necessidade de se


conhecer o manuseio, cuidados adequados e treinamentos específicos. De acordo
com informações prestadas, existe um vazio enorme a ser preenchido na segurança
do trabalhador na construção civil, devido à utilização inadequada dos EPIs,
principalmente em função da baixa escolaridade dos operários.

43
Figura 36: Conceito de acidente do trabalho

Acidente do trabalho não é apenas aquele mutilador, há também uma


morte silenciosa que os médicos não são capazes de diagnosticar. São fatos que
devem ser examinados no universo das ocorrências do ambiente do trabalho.
Essas ocorrências dependem normalmente da ação do homem, seja de uma ação
direta ou indireta. Na vida do operário, através do trabalho desenvolvido, pode se
observar uma lesão corporal, pertubação funcional ou uma doença que leve ao
óbito, ou até mesmo que cause um afastamento temporário.

Sabe-se que acidentes de trabalho se constituem em problema de


saúde pública em todo o mundo, por serem potencialmente fatais, incapacitantes
e por acometerem, em especial, pessoas jovens e em idade produtiva, o que
acarreta grandes conseqüências sociais e econômicas.

Em relação a acidente de trabalho 78% afirmaram saber do que se trata


e 22%, não souberam definir, ao certo, o que é acidente de trabalho, (figura 36).
Neste item, observa-se uma necessidade na intensificação dos treinamentos,
para que todos possam se inteirar e saber como se prevenir e quais os seus
direitos em caso de acidentes.

44
Figura 37: EPI's fornecidos pela Empresa

Quanto aos EPI’s fornecidos pela empresa 24% dos operários


entrevistados estão muito satisfeitos, 60% deles estão satisfeitos, 16% estão um
pouco satisfeitos, conforme a Figura 37. Nenhum operário mostrou, ao certo,
insatisfação, mas alguns comentaram sobre a demora na aquisição dos EPI’s. A
obra fornece botas de segurança e botas de borracha, capacetes, luvas, óculos,
máscaras, protetor auricular de inserção para todos e tipo concha para
carpinteiros, cinto de segurança. Recomendam-se em ambas as obras, visto que
se trata de um período quente, que sejam fornecidos protetores solar.

Os EPIs devem ser adquiridos, guardados e distribuídos criteriosamente


sob controle, quer no serviço de segurança, quer em outro setor competente. Não se
pode fornecer os equipamentos aleatoriamente, pois podem ocorrer usos
inadequados, forma incorreta de utilização ou abusos e excessos. O setor de
segurança, junto com os demais setores da empresa, deve estabelecer um sistema
de controle adequado.

A conservação dos equipamentos é outro ponto chave para a segurança do


indivíduo e para a economia da empresa. Por se tratar de proteção individual, cada
um deve ter seu equipamento, cabendo-lhe a responsabilidade de uso, guarda e
conservação corretos. Portanto, cada um deve receber instruções, no sentido de
saber onde e como guardá-lo, até que ponto deve ser usado e quando e como
substituí-lo.

45
Figura 38: Existência de treinamentos

COSTELLA (1999) relata que uma questão a se considerar é o


treinamento dos trabalhadores. Na manufatura, a força de trabalho se mantém
relativamente constante, o que facilita o treinamento. Por outro lado, as pessoas
que trabalham no meio afirmam que não é possível efetuar o treinamento nas
empresas de construção devido à alta rotatividade dos funcionários e do grande
número de subempreiteiros envolvidos em cada obra. Entretanto, deve-se levar
em conta que os custos de treinamento em segurança serão menores do que as
conseqüências, se um acidente grave ou fatal ocorrer.

Aqui observou-se que quanto a existência de treinamentos 76%


disseram que existem treinamentos, enquanto 24% disseram receber
treinamentos sucintos e poucos satisfatórios sobre a utilização dos EPI’s,
conforme a Figura 38.. Na empresa B, observamos um índice negativo nas
respostas. Dos 22 operários entrevistados, 45% disseram não receber
treinamentos sobre utilização de EPI’s.

Considerando-se que 24% recebe treinamentos inadequados, deve-se

46
salientar que é preciso que haja uma reeducação por parte dos superiores, já que
o princípio básico, treinamento, aqui é negligenciado.

Figura 39: Treinamentos recebidos

Quanto aos treinamentos 14% estão muito satisfeitos, 44 % estão


satisfeitos, 26% estão um pouco satisfeitos e 16 % estão insatisfeitos, conforme
Figura 39. A empresa B, apresentou elevado índice de insatisfação, visto que o
responsável pela parte de segurança, na maior parte das vezes, encontra-se
ausente e não oferece de forma intensa os treinamentos aos operários,
prestando-lhes esclarecimentos e tirando-lhes dúvidas.

Além disso, percebe-se que há uma grande dificuldade na


implementação das questões de segurança, principalmente pela mentalidade do
funcionário que por muitas vezes não considera as instruções de segurança
importantes, não entendem os procedimentos que foram dados, acharem
incômodo seguir as normas de segurança e, portanto, desrespeitando as
mesmas, contribuindo assim, com o aumento no número de acidentes.

A conscientização sobre a importância do uso dos equipamentos, é


imprescindível, pois informações provenientes de fora da empresa muitas vezes
47
são mais facilmente aceitas pelas funcionários, além de possuírem profissionais
treinados para apresentação de palestras e cursos.

Figura 40: Importância da utilização do EPI

É exigido o uso do equipamento de proteção por normas internas. A lei


relata que a empresa é obrigada a fornecer gratuitamente o equipamento. Além
disso, a lei relata também que a empresa deve treinar o empregado e exigir o uso
do equipamento. Se o empregado descumprir as determinações da empresa, logo
ele pode receber uma punição.

Quanto a utilização do EPI, a maior parte dos operários admitiu a


importância da proteção individual e coletiva. Dos 50 entrevistados, 90%
acreditam na importância dos EPI’s, enquanto apenas 10% demonstraram dúvida.
Observamos que a maior parte dos funcionários já procuram o equipamento de
proteção, sem que sejam cobrados que os usem. Aqui encontramos operários
conscientes sobre a importância do uso do EPI. (Figura 40).

48
Figura 41: Minimização dos riscos através dos EPI’s

Sabe-se que as condições reais dos canteiros de obra já se configuram


como riscos. Estes riscos são agravados pelas variações nos métodos de trabalho
realizados pelos operários, em função de situações não previstas, mas que, na
realidade, são uma constante no trabalho, pois, não existem procedimentos de
execução formalizados na maioria das empresas. O que existem, no máximo, são
instruções verbais.
Os riscos podem ser minimizados através do uso de EPI’s, mas muitas
empresas não fornecem com freqüência os EPI’s aos empregados e não orientam
quanto ao seu uso, principalmente devido as falhas de comunicação, conforme atribui
MESQUITA (1999). Por isso explica-se o fato do EPI ser usado de forma inadequada,
insuficiente ou ineficaz, o que pode causar segundo alguns relatos de operários,
reações adversas ou incômodos.

Neste quesito, quanto à minimização dos riscos, através do uso de EPI’s


na obra, a maioria acredita. Dos entrevistados, 82% disseram sim, enquanto
apenas 18% colocaram em dúvida a eficácia do EPI quanto aos riscos. (Figura
41).
.

49
Figura 42: Preocupação da administração com a utilização do EPI

Com relação à preocupação dos superiores com a utilização dos EPI’s,


ouvimos dos mais diferentes operários, diversas reclamações com respeito a
demora na aquisição dos equipamentos, a qualidade dos materiais adquiridos, e
em especial na empresa B, a falta treinamentos freqüentes na obra. Dos
entrevistados, 68% disseram que existe preocupação por parte da empresa na
utilização dos EPI’s e 32% disseram desconhecer. (Figura 42).

Figura 43: Desconforto pelo uso de EPI’s

No quesito desconforto, o protetor auricular e os óculos de segurança,

50
bateram recorde nas respostas, juntamente com os capacetes. Dos entrevistados
62% afirmaram não haver desconforto nos equipamentos usados e 38%
questionaram a qualidade dos EPI’s fabricados. (Figura 43).

Sob o ponto de vista dos operários, os EPIs que incomodam na


execução das tarefas são: os capacetes, os protetores auriculares e os óculos de
segurança. Sendo o capacete o que causa o maior incômodo e sendo, juntamente
com a bota, o EPI de utilização unânime dentre todos os operários dos canteiros
de obras. O maior desconforto registrado, quanto à utilização do capacete, diz
respeito ao seu elevado peso e à transpiração excessiva que causa na cabeça.

4.2 Quanto à administração

Elaboramos três perguntas, que encontram-se no anexo, para serem


feitas aos responsáveis. Na empresa A pudemos conversar com o técnico de
segurança e o mestre de obras. Já na empresa B entrevistamos o mestre de
obras e a estagiária, que no momento é a responsável pela obra. Perguntamos
se existe uma preocupação quanto aos treinamentos e a reposição dos EPI’s.
Nas duas obras, os responsáveis afirmaram haver sempre uma preocupação aos
treinamentos dados, principalmente, ao novo funcionário e as atividades que
apresentem riscos a integridade física do operário. Quanto à reposição, ambas
afirmaram ser um desafio a aquisição dos equipamentos de proteção, em tempo
hábil. Pudemos observar que as empresas associam os desafios das questões de
segurança, a alta rotatividade da mão-de-obra, onde o funcionário não se
compromete com a empresa apenas visa o salário do mês.

O treinamento e a conscientização da importância do uso de EPI’s por parte


dos empregados é um fator fundamental para a prevenção de acidentes, pois além
da proteção propriamente dita, desenvolve no mesmo um sentimento de preservação
e de cuidado com a própria integridade física.

Sabemos que estas questões dependem da eficiência das equipes e das


pessoas envolvidas, ficando tanto a investigação quanto a prevenção, aliados aos
materiais e recursos disponíveis e à capacidade, à iniciativa e à criatividade do

51
pessoal técnico de segurança, bem como da efetiva participação da alta
administração da empresa, aqui considerado empregador.

Na segunda pergunta, questionamos o planejamento da obra em relação


a segurança do trabalho. Pudemos observar que por mais organizada que seja
uma empresa, como é o caso da obra A, não temos ainda um planejamento que
coloque os programas de segurança em primeiro plano. Se necessitarmos de
redução de custos, inciaremos pelos equipamentos de proteção. Talvez por isso,
a demora na aquisição dos EPI’s. O mesmo ainda não é visto, de fato, como de
extrema importância na obra, como o bloco cerâmico e o concreto.

Segundo Melo (2001) a problemática da segurança e saúde no trabalho,


que implica em elevados níveis de acidente de trabalho nas empresas brasileiras,
está muito vinculada à conceituação global de desrespeito aos indivíduos e às leis.
Uma das maiores dificuldades de grande parte do empresariado brasileiro é tratar a
segurança e saúde no trabalho como investimento. Isto representa uma deficiência
educacional-cultural que está relacionada com as premissas culturais que, segundo
Melo, citando Barros e Prates (1996), suporta as atitudes e comportamentos dos
grupos na empresa e influem nas decisões tomadas e na forma de gerenciar.

Conforme Melo (2001) é preciso programas que componham um Sistema


de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho- SGSST, que visem à prevenção de
riscos de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e tenham como base os
seguintes princípios gerais:
a - Evidenciar riscos;
b - Avaliar os riscos que não possam ser evitados;
c - Combater os riscos na origem;
d - Adaptar o trabalho ao homem, especialmente no que se refere à
concepção dos postos de trabalho, bem como à escolha dos equipamentos de
trabalho e dos métodos de trabalho e de produção, tendo em vista atenuar o trabalho
monótono e reduzir os efeitos destes sobre a saúde;
e - Ter em conta o estágio de evolução técnica;
f - Substituir o que é perigoso pelo que é menos perigoso;
g - Planificar a prevenção com um sistema coerente que integre a técnica, a
organização do trabalho, as condições de trabalho, as relações sociais e a influência
52
dos fatores ambientais no trabalho;
h - Dar instruções adequadas aos trabalhadores.

Percebe-se que o enfoque principal destes princípios é a incorporação das


ações relativas à segurança no planejamento do trabalho fazendo, segundo afirma
Dias (1998), que a segurança faça parte integrante da produção em vez de exigir
ações complementares e isoladas, desvinculada das outras componentes do ato de
produzir, conforme vem sendo na maioria das vezes compreendida como uma
atividade à parte de acordo com MELO (2001).

Quanto à minimização dos riscos todos acreditam na importância e na


eficácia dos equipamentos de proteção individual.

Mas, infelizmente sabemos que a mentalidade das empresas,


principalmente da indústria da construção civil com relação à análise e
gerenciamento de riscos encontra-se bastante distante da prática. O mais comum
é esperar a ocorrência de tragédias como acidentes e doenças graves para se
tomar alguma atitude, e freqüentemente os trabalhadores são acusados como
principais responsáveis pelos mesmos.

De acordo com (Souza Porto,1997), o foco principal da análise de riscos


da atividade nos locais de trabalho é a prevenção, ou seja, os riscos devem ser
eliminados sempre que possível, e o controle dos riscos existentes deve seguir os
padrões de qualidade mais elevados em termos técnicos e gerenciais. Segundo
Zocchio (2002), é de indiscutível utilidade a ART (Analise de Risco da Tarefa)
para a melhoria contínua da segurança do trabalho.

Para a elaboração da ART é feita primeiramente uma análise da


atividade a ser realizada no setor, discriminando o que possa ter maior risco ao
funcionário, empresa ou meio ambiente. Porém, sabemos que essas análises não
são feitas, devido à falta de conhecimento por parte dos superiores e a falta de
credibilidade em procedimentos simples e eficazes.

53
5. CONCLUSÕES

Ao avaliar as informações da literatura, era esperado que alguns itens


do nosso estudo de caso fossem afirmados, visto que não se trata apenas de uma
bibliografia, mas de um estudo que se perpetua ao longo dos anos.

Pudemos observar, que apesar dos esforços empregados por parte das
empresas e até mesmo dos funcionários, ainda encontramos a segurança do
trabalho como um assunto tratado em segundo plano e mesmo que todos estejam
cientes da importância da utilização do EPI, não obteremos nunca um resultado
efetivamente positivo, enquanto houver a ausência de uma prática de
antecipação, (que sugere que a prevenção seja realizada na fase de
planejamento, na concepção do projeto da edificação, do processo de produção
ou do método de trabalho), onde o mesmo é um dos fatores que encabeçam a
lista das causas de acidentes. É preciso que haja um investimento nas questões
de segurança já na fase de planejamento, para que o mesmo mais a frente não
seja visto como um gasto, ou um acréscimo nos custos da obra.

Quanto à administração, que fique claro que bons EPI’s são essenciais
como complementos de medidas organizacionais, de engenharia e de proteção
coletiva, e não uma alternativa para substituir estas medidas. A construção civil é
uma atividade que costuma dar pouca importância a acidentes e exposições
menos graves, dando enfoque à prevenção de quedas de altura, soterramento e
eletrocussão.

Vale ressaltar que educação e treinamento são necessários para que os


programas de segurança funcionem e que o objeto final de tudo isso deve ser a
conscientização do operário quanto a importância da utilização dos EPI’s e que o
mesmos devem cobrar dos seus superiores a compra e a melhoria na qualidade
dos produtos, visto que se trata da integridade física do usuário. O trabalhador é a
peça motriz de uma cadeia produtiva, sendo também a chave do progresso ou
fracasso da empresa, então, a necessidade do investimento no capital intelectual
humano. As empresas que vêm adotando políticas de qualidade e de segurança
têm se caracterizado pela melhoria das relações de trabalho, pelo maior
54
envolvimento dos trabalhadores, com maior senso de coletividade e companheirismo.

Enfim, esperamos ver um dia uma segurança do trabalho mais


intensificada na construção civil, e empresários e empregados mais preocupados
com o bem-estar social e principalmente prioritário.

55
6. RECOMENDAÇÕES

Recomendam-se:

a. A adoção de uma campanha de conscientização dos trabalhadores


no tocante à segurança no meio ambiente de trabalho, aliada a uma
maior fiscalização por intermédio dos órgãos governamentais;

b. A implementação cada vez maior da CIPA, que contribui para o


aumento da segurança e da conscientização dos trabalhadores,
uma vez que esta comissão atua junto ao público interno da
empresa e é constituída pelos próprios funcionários;

c. Acrescido de um planejamento de segurança ainda na fase de


análises de projetos, por parte da administração, para que se
consiga prevenir os acidentes de trabalho ainda na fase inicial.

d. Além, da conscientização da necessidade do uso dos EPI’s e dos


EPC’s pelos empregados e empregadores.

56
REFERÊNCIAS

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Trabalho, 2ª edição, São Paulo: Editora LTR., 2001.

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em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 149 p, 1999.

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medicina do trabalho na construção civil – nível superior. 2.ed. São Paulo,
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57
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Endereço eletrônico: <http://www.prt21.gov.br/dout001.htm> Acesso em: 16 de
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MELO, M. B. F. V. Influência da Cultura Organizacional no Sistema


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Construtoras,2001 n. de páginas Dissertação ( Doutorado em Engenharia de
Produção) - Pós-Graduação em Engenharia de Produção -Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.

MESQUITA, Luciana Sobreira de. Gestão da segurança e saúde no


trabalho: um estudo de caso em uma empresa construtora. 1999. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção), Universidade Federal da Paraíba, João
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São Paulo: LTr, 2000. OIT. Organização Internacional do Trabalho. Disponível
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58
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ZOCCHIO, Á. Segurança e saúde no trabalho: como entender e


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ZOCCHIO, Álvaro. Prática da Prevenção de Acidentes. 7,ed. São


Paulo: ABC da Segurança do Trabalho, 2002.

59
ANEXOS

60
ANEXO – QUESTIONÁRIO

Operários

1 - Qual o seu nível de escolaridade?


( ) analfabeto ( ) primeiro grau incompleto ( ) primeiro grau ( ) segundo grau
incompleto ( ) segundo grau
2 - Você sabe o que é acidente de trabalho?
( ) sim ( ) não
3 - Quanto aos equipamentos de proteção individual fornecido pela empresa
( ) muito satisfeito ( ) satisfeito ( ) um pouco satisfeito ( ) insatisfeito ( ) muito
insatisfeito
4- Existem treinamentos sobre a utilização dos EPI’s?
( ) sim ( ) não
5 - Quanto aos treinamentos recebidos
( ) muito satisfeito ( ) satisfeito ( ) um pouco satisfeito ( ) insatisfeito ( ) muito
insatisfeito
6 - Na sua opinião, é importante a utilização do EPI?
( ) sim ( ) não
7 – Você acredita que o EPI minimiza os riscos de acidentes?
( ) sim ( ) não
8 – Você percebe uma preocupação por parte dos superiores, quanto à compra de
EPI’s?
( ) sim ( ) não
9- Os EPI’s utilizados causam algum desconforto?
( ) sim ( ) não

Administração

1) Existe uma preocupação quanto aos treinamentos e reposições dos EPI’s?


2) No planejamento da obra existe uma preocupação quanto aos programas de
segurança ou esse é visto em segundo plano?
3) Você acredita na minimização dos riscos, com a utilização de EPI’s?

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