Professional Documents
Culture Documents
Aula 01
APRESENTAÇÃO DO CURSO - PROF. ALESSANDRO
OCTAVIANI
sexta-feira, 9 de março de 2012
18:26
Por que estudar economia política no curso de direito? Uma razão histórica é a
presença desde o decreto que deu origem aos cursos de direito no Brasil. Mas
não é uma razão que eventualmente subsista, pois felizmente muitas delas
saíram da grade. A explicação é de que a forma jurídica só existe por um conflito
social, o direito não é neutro, está na sociedade, em sociedade. Tais conflitos
geram um tipo específico de direito.
"Direito como arte de dar a cada um o que é seu até o limite da liberdade do
outro", "direito é organização". Não são instrumentos sociais neutros. A
escravidão foi plenamente legalizada - está dentro do direito. O último país do
mundo a acabar com a escravidão legal foi o Brasil; isso no mínimo diz algo
sobre nossa sociedade. Uma pessoa qualificada como objeto de direito, e outra
como sujeito de direito. Se isso é neutro, qualquer coisa é neutra. Direito não é
neutro, é instrumento de quem tem força de implementar e dizer o direito, a
partir de sua posição de força social.
1. "Os bens rurais herdados serão divididos por igual entre os herdeiros" - É o
fim do feudalismo, quando não mais só um pode herdar. Quando a terra
dividida entre os filhos, e então os filhos exercem o direito sucessório, as terras
tornam-se mercadoria, e não mais bem de família. Mercadoria a ser organizada
como fator de produção.
2. "Nada faz prova contra a palavra do dono da empresa" - Qualquer coisa dita
pelo dono da empresa a respeito de sua relação com os empregados é para o
juiz verdade. Nada que a classe operária arguir será possível de ser interpretado
pelo patrão. Uma espada no coração da classe feudal e outra na classe operária.
ESTRUTURA DO CURSO
MÓDULO I
MÓDULO II
AULA 10 - DAVID RICARDO - Diz claramente que se deve fazer de tudo para que
os industriais ingleses detenham o poder, pois detêm a racionalidade da
economia e da geração de riqueza.
MÓDULO III
Aula 02
INTRODUÇÃO
sexta-feira, 16 de março de 2012
18:36
O texto de ÍTALO CALVINO trata dos caminhos para usar aquele método. Por
que um curso de economia política no curso de direito? Os clássicos trazem um
ruído ou silêncio de um tempo longínquo, os quais, na verdade, clareiam o
tempo presente. Se há muito barulho e um clássico traz silêncio, pode ser uma
boa opção. O que diz, então, Calvino? Não há lições do passado que iluminam o
presente? O presente chegou de algum outro lugar que não o passado? Os
homens escrevem sua história, mas não da maneira que querem, e sim sob as
condições que encontram (18 de Brumário, de Karl MARX).
Todos almejam coisas. Mas o fato de que alguns conseguem e outros não
mostra como os homens, ainda que façam sua história, a escrevem pelas
condições materiais que existem. No plano de JK, havia 30 metas. A meta-
síntese era a construção de Brasília. Conseguiu porque as condições materiais
permitiram - outros não foram capazes.
O núcleo do mundo visto por MARX chama-se capital. Por mais que coisas
tenham mudado, o caráter ainda existe. É nota de sua historicidade. E por isso
entender com devoção o que cada um dos que estiveram antes de nós disseram
sobre capitalismo. Ver a articulação entre poderes econômicos, políticos e
culturais determinando estruturas jurídicas. Dentre elas, direito de propriedade.
É mesmo um conceito romano? É mesmo igual falar em sociedade em que a
produção era feita por escravos e em sociedade na qual se vende a força de
trabalho? Se há escravo, não há consumidor, e portanto, não há capitalismo.
Escravagismo gera um tipo de direito, capitalismo gera outro.
Aula 03
DIREITO E CAPITALISMO - PROF. ALYSSON MASCARO
sexta-feira, 16 de março de 2012
21:46
Embora talvez haja aqui uma relação fundamental entre esses dois termos,
ocorre que a maioria dos juristas não conseguem entender o nexo existente
entre os dois conceitos. Principalmente porque o direito nos é dado como um
termo bruto, e ninguém sabe como surgiu - presumimos que apareceu, e
porque evitamos quase sempre entender a estrutura econômica da sociedade.
Em essência, evitamos entender o próprio capitalismo.
Muitas pessoas, no senso comum, dizem que o direito é um dado bruto, que aí
está, e o capitalismo usa isso em seu favor. E então, a relação seria de
externalidade. Há um encontro ao acaso, uma ligação externa. Por um acaso, o
direito e o capitalismo conversam, e leis em favor do capital são feitas. Mas é
preciso investigar de maneira mais profunda essa relação: o jurista tem
idealismos e ideias vagas sobre o direito. Mas é preciso compreender os nexos
da própria sociedade. Muitos, na história do pensamento jurídico, e também da
história e da economia, tentaram estabelecer esses nexos.
IDEALISMO - Por que o direito está ligado ao capitalismo? Porque a riqueza vem
de Deus, que protege os ricos. E então o direito protege o rico. Ou então, que
alguém é mais rico porque é mais forte - o que é dito até hoje por muitos
economistas. É resposta idealista que presume que todos são iguais, que todos
estão no mercado e agem com sua capacidade, e não necessariamente é isso.
Nenhuma dessas visões vai à concretude, à materialidade das relações sociais.
Se o capitalismo tem um começo, também tem um fim - ainda que não se veja o
fim, ele existe no curso histórico.
O que fez um povo ser senhor e outro escravo? Qualquer coisa, menos o direito.
Hebreu estava na terra que chamava de prometida, e o egípcio o tomou.
Desconhecia-se um direito de propriedade sobre aquelas terras. A relação que
deu causa à escravidão é de força bruta, direta: a guerra. A força, o engenho, a
habilidade. Daí Alexandre, o Grande conseguir dominar tantas terras. Quando o
Império Romano perdeu sua força, foi invadido pelos bárbaros. Qual o papel do
direito? Nenhum. São relações de exploração que não passam por nenhum
instituto jurídico.
DIREITO FEUDAL - Por que o servo é servo do senhor feudal? Não foi pego à
força, nasceu filho do servo - e portanto é servo, assim como o filho do senhor é
senhor. Nasceu lá e morre lá. Por que não sai do feudo? Porque sai de um e
entra em outro feudo. A desgraça da servidão é que ocorre em todo lugar.
Quem é senhor é quem tem a posse do feudo, quem não tem é servo. O senhor
tem tudo para a sobrevivência: a terra, a água, a palha para esquentar. E quem
não tem, precisa ter. O servo submete-se ao outro. Não que queira ser servo:
precisa sê-lo para sobreviver. Esta submissão tampouco tem a ver com o direito.
O senhor feudal manda do jeito que quiser - não tem terceiros para
regulamentar, não tem normas gerais e abstratas. Portanto, se há direito,
também será um direito incidental.
Esse direito é completamente diferente do que antes existia. Quem corria atrás
do ladrão? O policial, depois o delegado, depois o escrivão para lavrar o auto de
prisão, entre outros. Mas é o direito que sustenta essa estrutura. A questão é: o
direito protege incidentalmente ou diretamente? O DIREITO É ESTRUTURAL AO
CAPITALISMO, tem uma razão de ser total do capitalismo.
Faz 500 anos que tem capitalismo, e 500 anos que pobre não tem casa, não tem
bom hospital, não pode comprar remédios, é explorado. Esse direito não é o
bem comum. Prova há 500 anos que é o bem do capital.
Por isso, FIESP, FEBRABAN e outros dirão que não querem aumentar os salários.
E os trabalhadores da Europa não vão organizar uma revolução, querem apenas
aumentar seu salário. Não pensam na lógica geral do sistema. O capitalismo não
deixa ver a grande lógica.
O antecessor de MARX na filosofia foi HEGEL. Foi este que percebeu que, em
termos de lógica, só há três jeitos de explorar alguém, e a humanidade
experimenta os três. Quais sejam: (i) força, (ii) posse e (iii) vontade. Qualquer
coisa que a sociedade venha a construir, se for exploração, será uma das três.
Qualquer coisa que não seja uma das três é SOCIALISMO. Há uma lógica: é a
não-exploração.
Aula 04
DIREITO E HEGEMONIA
sexta-feira, 23 de março de 2012
18:27
O objetivo da aula é perceber o Direito como resultado da disputa política. Na
aula passada, tratamos da relação entre direito e economia, modo de produção
capitalista. Vários caminhos são possíveis para se chegar nestes temas: faz-se
aqui um corte.
MAQUIAVEL analisa quais as regras que o príncipe deve manejar para ter todos
a seus pés, ou então, como é possível que um tenha tantos a seu governo?
Como o soberano, sendo um, governa tantos.
CONCEITOS BÁSICOS
Quais as condições para isso? A relação de hegemonia tem uma regra clara: os
interesses são os dos que subordinam; os que subordinam aprofundam as
relações sociais, de modo que os subordinados tenham algumas de suas
pretensões atendidas, desde que não ultrapassem os interesses fundamentais
dos que subordinam. Isso se dá, no plano concreto do capitalismo, por uma
dinâmica de forças, de relações de força.
Aula 05
DIREITO E SUPERAÇÃO DO SUBDESENVOLVIMENTO
sexta-feira, 23 de março de 2012
19:45
Espera-se até o século XX para que se veja que não é natural que toda uma
sociedade organize-se para que um grupo exporte para os países centrais. Por
isso, o liberalismo brasileiro é fora de lugar (ROBERTO SCHWARZ): como ser
liberal e escravista ao mesmo tempo? Apenas o movimento industrialista acaba
com a ideia da condição natural. A Revolução de 1930 tem por objetivo destruir
a oligarquia cafeeira. Trata-se de um momento inteiro de reorganização da
divisão internacional de trabalho, e Getúlio Vargas está nesse contexto.
Daí a criação da CSN, a Vale do Rio Doce, o BNDE para financiar os projetos,
entre outros. Para disputar com a naturalidade do curso normal da condição
periférica, é preciso um rompimento forte. É impossível que qualquer
empresário, individualmente falando, consiga superar essa condição. Para fazer
frente ao enorme poder privado e público estrangeiro, a organização dos entes
compete ao mais forte, o Estado. Nesse período, os empresários não eram
proibidos de criarem ou terem sua indústria, mas não poderiam fazê-lo. GV
busca uma estrutura para uma economia em escala industrial capaz de realizar
a INDUSTRIALIZAÇÃO RETARDATÁRIA.
Aula 06
ACUMULAÇÃO PRIMITIVA
sexta-feira, 30 de março de 2012
19:09
Por que o texto está aqui? Porque vamos estudar nossa economia
contemporânea, nosso modo de produção, a essência do nosso direito. A partir
de hoje, vemos textos de história e de metodologia de história do capitalismo.
Compreendemos três movimentos: (i) transformações da vida material, levando
à vida que temos hoje, (ii) os interesses das classes que fizeram nossos
interesses serem o que são hoje e (iii) os discursos teóricos sobre a reprodução
da vida material.
Para isso, o primeiro conjunto de textos tem um corte metodológico. MARX nos
propõe ir ao início de onde tudo começou. Que tudo? Nós, o tanto de
mercadoria que compramos, nossas relações com as forças de trabalho, nossas
leis. É a relação entre as classes sociais no tipo puro do capitalismo, na
caricatura, o que mais exprime a contradição de seus elementos constitutivos: o
surgimento do capitalismo na Inglaterra. Os demais seguem o fluxo dessa força.
Por isso, a história do Ocidente reescreve a história do mundo. O Japão, antes
fechado, torna-se consumidor de um sistema.
Inclusive, poder-se-ia dizer que, na história, sempre houve ricos e pobres. Logo,
a história é uma história na qual as desigualdades econômicas sempre existiram.
Talvez sempre tenham existido porque alguns sempre foram agraciados por
Deus - já foram escolhidos para serem os que serão salvos. E como já serão
salvos quando da volta de Jesus à Terra, aqui na Terra, já exprimem sinais dessa
salvação. Como estão destinados a serem salvos, são os predestinados, e sinais
de sua riqueza marcam essa predestinação. E é o que dizem os calvinistas. Essa
história levou WEBER a mostrar o efeito real desse pensamento. O calvinista
não gastava, e reinvestia em sua fábrica. Austeros em seu consumo, eram
grandes capitalistas, criando indústrias potentíssimas a partir de suas crenças.
Para ele, o capitalismo surge desse empuxo das crenças protestantes ("Ética
protestante e o espírito do capitalismo").
ADAM SMITH - Aqueles que foram capazes de organizar a produção, assumindo
seus riscos, merecem, por conta dessa assunção de riscos, os benefícios que
disso decorre. São os mais corajosos, mais austeros.
Mas no texto, a ideia é de que, para olhar sua gênese, é preciso deixar de lado a
história justificadora do capitalismo, que olha de frente pra trás. Abandona-se a
ideia de que há vencedores e então tudo sempre foi igual. Muito pelo contrário.
É uma caixa de Pandora cognitiva: nem tudo é bonito. Percebemos que o modo
de produção no qual estamos imersos tem uma história, que independe de
nossa vontade. É isso que MARX pretende desnaturalizar. Em algum momento,
o capitalismo não estava aqui.
Nosso próprio planeta também não estava aqui em algum momento. Por isso,
modos de produção certamente não são eternos no sentido do passado. E assim
como o Sol vai destruir a Terra, nada dentro da Terra pode ser considerado
eterno. As relações sociais, então, são conflitivas, históricas, e não podem ser
consideradas perenes.
É preciso chegar em algo que é histórico, mas para isso, é preciso partir de suas
relações internas. O que se busca é nosso modo de produção atual, cuja
característica fundamental é a estrutura por uma divisão de classes: quem
detém os modos de produção e quem precisa vender sua força de trabalho. Daí
MARX reconstruir o surgimento de um dos polos dessa relação, a força de
trabalho assalariada.
Mas nem toda a força produtiva que vai às cidades é acolhida. Ao querer comer,
se vestir, fazer qualquer coisa, não tendo isto vindo de seu salário, começam os
excluídos a cometer ilícito. E daí as leis sanguinárias. Se fez algo irritante, é
marcado no rosto com um V. Na segunda vez, será decepado.
Esta relação social surge impulsionada por um movimento que elimina outra
relação social, que é a servidão. Para que haja a quebra de algo que
inertemente permaneceria, foi preciso um ponto de violência. E disso, essa
relação social que é o capital se desenvolve e se impõe.
Aula 07
FORMAÇÃO SIMULTÂNEA E ARTICULADA
DO CAPITALISMOE DO ESTADO NACIONAL
sexta-feira, 30 de março de 2012
22:25
Existem países que saíram antes, e produzem algo no sistema. Países que saíram
depois produzem outras coisas.
As teorias, quando informam atores sociais com força para fazer ação social
relevante jogam o mundo para um lado ou outro. Daí se estudá-las. Ao se crer
em uma teoria ou outra, e fazê-la ser realidade, o direito será um ou outro. É o
que se faz aqui: arqueologia das premissas de conhecimento que geram atores
relevantes, capazes de atuação econômica. E saímos de discursos mais passíveis
de controle externo.
O primeiro que ouviu isso ignorou. O segundo revoltou-se, mas não fez nada. O
terceiro não se conformou e mata o mais rico da região. A primeira coisa é a
relação de violência. Eventualmente, pegam os padres - que falavam que
sempre era assim. Essas diversas formas de violência desorganizada passam a
ganhar sistematicidade. E então há a grande transformação, o ORDENAMENTO
DAS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO CONTRA O LIBERALISMO, o chamado
ORDENAMENTO SOCIAL.
E é por isso que POLANYI é trazido por FIORI. Se as disputas entre as classes
estão se fazendo, tencionando-se, isso ocorre.
Mas NIXON, submetido à crise, faz duas coisas: (i) promulga congelamento de
preços nos EUA por 90 dias (não há liberdade econômica para os preço nos
EUA) e (ii) o padrão dólar-ouro acaba, e unilateralmente é rompido, passando a
ser o padrão dólar-flutuante, referenciado pelo FED, sem lastro no ouro.
Por que falar disso? Ao se finalizar o padrão libra-ouro, substituído pelo padrão
dólar-ouro, é substituído pelo padrão dólar-flexível, que é nosso atual padrão
financeiro. Essa discussão é simultaneamente discussão sobre polos produtivos
militares e organização interna. Os EUA organizam e planejam uma série de
políticas na finança internacional, que determina paulatina uma série de
reformas nos ordenamentos jurídicos nacionais. Isso vai ser o ponto de nosso
curso ao final: voltamos para trás, e se chega, passo a passo, a como esta
remodelação do padrão financeiro mundial pelos EUA impacta a economia
brasileira e nosso ordenamento jurídico.
Aula 09
FISIOCRATAS
sexta-feira, 13 de abril de 2012
21:45
A partir do que pensam uns e pensam outros, surge: (i) quais suas analíticas (por
que analisam de certa forma), (ii) quais suas políticas.
Ordem natural. E o que é? Uma ordem divina, a lei natural. Por quê? Qual a
lógica dessa sequência? Primeiro a lei natural, depois a lei física (para expressar
a lei natural na sociedade) e então, a lei moral. Qual a conclusão dessas várias
leis, o que elas protegem? A propriedade. Propriedade que vem de Deus. A lei
natural determina uma manifestação aqui que é a lei física, esta, por sua vez,
leva a uma organização das nossas relações, que é nossa lei moral. Tudo isto é a
forma de proteger. A conclusão lógica é: para melhor conseguir dar vazão a
nossa forma física, e portanto, seguir os desígnios de Deus, a propriedade
privada é protegida. O discurso teórico é: a propriedade privada que acaba de
surgir (diferente da propriedade feudal), passa a, discursivamente, ser
legitimada pela vontade de Deus. Não à toa que na Revolução Francesa haverá
os direitos naturais, que são, portanto, uma criação histórica, produto de um
arranjo social.
Destas duas diferentes analíticas surgem duas diferentes políticas. A política dos
mercantilistas, há que o que gera valor é a circulação, é de organizar todo o
fluxo de riquezas para dentro. A política dos fisiocratas é melhorar a forma de
produção desse excedente. E isto é seguir a vontade de Deus, da lei natural. A
garantia da propriedade privada é a vontade de Deus. A forma jurídica da
proteção da propriedade privada deriva-se logicamente da arquitetura do
Universo da vontade suprema. É o que colocam os fisiocratas.
Aula 10
sexta-feira, 20 de abril de 2012
18:29
ADAM SMITH
Expressões e teses genéricas serão testados a prova nos casos concretos.
O ser humano tem a propensão natural à troca. Está no centro de seu sistema
lógico. O que isso significa? Nos fisiocratas, esta lei natural que nos compele à
máxima utilidade tinha seu fundamento em Deus; em ADAM SMITH, a troca não
precisa se justificar em Deus, é propensão natural da espécie. Porque temos
essa propensão, queremos trocar mais, pois há outra propensão, a da busca do
bem-estar. O primeiro arranjo entre essas duas propensões leva a ter mais do
que trocar, levando à necessidade de organizar melhor o que trocar. E daí a
divisão social do trabalho.
(i)Há uma propensão natural para a troca (não é da boa vontade do padeiro que
há pão: ele quer ter lucro, por isso há pão)
(ii) Aumenta-se a possibilidade de troca por uma correta produção onde não
havia, com mais trabalho acumulado;
(iii) Uma série de políticas devem ser tomadas (arranjo social a ser tomado) para
que o que seja produzido (o trabalho que se conseguiu acumulado, que nos dá
maior possibilidade de troca, garantindo maior satisfação das necessidades) seja
livremente trocado. E daí o regime liberal, que permite tudo o que é feito ser
trocado. Ou seja, o liberalismo é natural. Ao liberalismo corresponde um
direito natural.
CRÍTICAS
A propensão natural à troca, falando de um ser humano que vive o tempo todo
entre a dor e o prazer, por ser parte da natureza humana, precisa ser mantida
pelo direito. O comportamento racional é atacado por três críticas,
desnaturalizando a troca:
2. FREUD - Esse ser humano racional, base estruturante dessa base teórica, é
uma ficção. Nossa consciência é apenas uma parte de nossa articulação mental.
Há vários outros níveis, e poucos têm a ver com maximização da utilidade. Por
isso temos esquizofrenia, pois o ser humano, querendo mover-se em um
caminho, move-se em sentido contrário - dois comandos diferentes. Os níveis
de articulação da mente humana não são a caricatura vista nesse texto.
Aula 11
DAVID RICARDO
sexta-feira, 20 de abril de 2012
21:45
VALOR-TRABALHO
Qual a percepção que evolui analiticamente dos fisiocratas até a teoria do valor-
trabalho? Para os fisiocratas, é preciso a produção de um excedente, o que é
realizado exclusivamente pela agricultura (onde não havia nada, surge uma
planta, uma flor, uma árvore). Independentemente disso estar correto ou não,
Adam Smith analisa o sistema afirmando que o princípio do excedente dos
fisiocratas está correto, pois é preciso saber onde uma energia aplicada traz
valor. Entretanto, não somente só na agricultura, e também na indústria. O
mundo em que se inseria é um mundo que tem uma indústria, algo antes
inexistente. E RICARDO afirma que é isso que faz surgir o valor. Por isso, o ponto
mais importante da sociedade é o surgimento do valor, que é, em realidade, a
agregação de valor. Daí a agregação do valor-trabalho.
Uma mesa porta em si todo o trabalho anterior nela. Ela custará todo o tempo
social gasto para fazê-la. Isso significa que o tempo social gasto para fazer a
ferramenta a ser utilizada, para cortar a madeira e outros - todo o trabalho
social acumulado - é o valor da mesa. E isso tende a ser seu preço - talvez não o
seja por algumas variações. Para RICARDO, é importante entender que é na
esfera da produção que se gera o valor.
LIVRE MERCADO
O que RICARDO diz do livre mercado? A força que traz harmonia serão os
capitalistas, pois que capazes de produzir mais, acumulando mais trabalho,
organizando mais trabalho acumulado, e ao final, gera-se mais riqueza para a
sociedade toda. Portanto, todos os fatores, para que ocorra este aumento de
ofertas para a sociedade, que harmonizarão a sociedade, o ideal é que exista a
livre circulação que permita que o lucro aumente. E mais lucro, significa mais
trabalho acumulado, vendido. Assim, a função que livre mercado joga na teoria
de RICARDO é simultaneamente permitir maior produção para produzir maior
bem-estar de toda a população.
Entretanto, esse jogo para nas fronteiras nacionais. E por isso, a teoria das
vantagens comparativas. Naquilo que conseguimos acumular melhor, haverá
um preço mais barato. E então, haverá preço mais barato, e será melhor para a
sociedade comprar o que outras sociedades conseguiram acumular mais
eficientemente e então vender mais baratos.
Aula 12
ALEXANDER HAMILTON
sexta-feira, 4 de maio de 2012
18:59
HAMILTON percebe o que importa para uma nação produzir riqueza e ter como
posicionar-se perante outras nações é a indústria. Simultaneamente, gera
riqueza e poder. Não há como ter projeção internacional sem capacidade de
forjar armas. E para isso, é preciso uma série de meios para a industrialização.
HAMILTON é profundo leitor de Adam SMITH. Fala em divisão social do
trabalho, mas como as relações internacionais são desiguais, os países atrasados
terão políticas para impulsionar sua indústria. As teorias que tratam os agentes
como iguais não se aplicam aqui.
Seu vice, chamado BURN (sic) (também um aristocrata rural), que havia sido
auxiliar direto de WASHINGTON, afirma que HAMILTON o ofendera de maneira
profunda, desafiando-o a um duelo. A ideia de duelo ainda era reminiscência da
Idade Média entre os nobres. Uma vez enfrentados, a honra estaria redimido. A
prática era de dar tiros ao alto. Mas o vice não segue a regra e assassina
HAMILTON com um tiro no peito.
BRASIL
Toda essa volta para analisar os gastos militares dos EUA e ver que,
historicamente, eles sempre aumentam. São o que garantem impulsos na
economia norteamericana.
CONCLUSÃO
Estamos vendo o que a China está fazendo. É o Partido Comunista que governa.
O que é? Uma enorme máquina de criação estatal. Alguns investimentos são
abertos a estrangeiros, pois há um enorme mercado interno potencial, o que
atrai inúmeros investidores. E então, o Partido Comunista exige que aquele que
fizer pesquisa, desenvolver manufatura dado por seu plano quinquenal de
metas, poderá investir.
Já vimos uma economia política liberal. Este foi retrato de uma segunda
economia política, de cunho nacionalista. Na aula seguinte, com MARX, teremos
uma terceira via, baseada no mundo do trabalho.
Aula 13
KARL MARX
sexta-feira, 4 de maio de 2012
22:32
Que sociedade é esta que está sendo construída? Os fisiocratas, Adam SMITH e
RICARDO falaram em divisão social do trabalho, enfocaram seu estudo na
produção. Crianças divididas em trabalho fazem mais pipas do que cada um
individualmente. HAMILTON coloca a necessidade de um artefato industrial
com divisão social do trabalho tão relevante quanto os que a Inglaterra tinha.
MARX também olha nessa esfera, mas como?
MARX tem um triplo e articulado olhar: (i) a filosofia alemã, (ii) a economia
política inglesa e (iii) a teoria política francesa, divisão considerada uma grande
simplificação, mas que foi usada por muitos, como LENIN. É no centro do
capitalismo que MARX se assenta e realiza seus estudos, após rodar vários
lugares de perseguição por sua atuação política.
III - TEORIA POLÍTICA FRANCESA - É ali que se fala na ideia de que a vontade
geral importa para definir quem nos governa, como muitos republicanistas
franceses o fizeram. Lembre-se até hoje da importância da República na França
até hoje. Dentre os republicanistas, cita-se Rousseau, mas também as várias
seitas revolucionárias. É nelas que MARX faz sua teoria política. Pega os
elementos anteriores e os coloca para a prática.
________
Por estudar a economia política inglesa, MARX sabe que se deve analisar a
esfera da produção. É sempre outra coisa também. A totalidade do sistema, os
homens produzindo as condições de sua sobrevivência. Os homens fazem a
história, e não da maneira que querem, senão das condições que encontram.
Caso não partamos da produção de nossa história, não a realizamos. É preciso
produzir as condições de nossa história, submeter o ambiente a nossas
necessidades.
______
Hoje, muitos têm iPad. Há quatro anos, isso nem sequer existia. E no começo,
era extremamente restrito. O iPad tornou-se "indispensável". "A Apple cria a
necessidade", tão bons os produtos que se gera necessidade, afirmou Steve
Jobs, o que revela muito sobre o capitalismo.
______
Para chegar nessa conclusão, o que teria de fazer? Colocar a realidade em outra
perspectiva. A realidade se nos apresenta de maneira abstrata. O que vemos, o
que captamos com nossos conceitos é como a realidade nos apresenta. Mas é a
aparência da realidade, e não a essência. Para chegar à essência, é preciso de
uma ciência. E que ciência é essa? O materialismo histórico. É preciso ir ao
concreto, às múltiplas determinações que fizeram gerar a figura que vemos, e
diante delas, recorre-se a outro abstrato, mas fruto do materialismo histórico-
dialético.
Aula 14
MARGINALISTAS E LÊNIN
sexta-feira, 11 de maio de 2012
18:47
Portanto, uma unidade de preço que exceda aquele preço que o consumidor
deu para aquele produto ultrapassa o que o consumidor quer pagar, e não vai
comprar. Portanto, o máximo de custos que aquele pode vender é aquilo que o
comprador está disposto a pagar. Isto porque se disser a ele que o máximo a
pagar será de R$12,00, e os custos são de R$13,00, será retirado do mercado. E
então, terá de adequar seu custo marginal (o último custo ao qual os
consumidores vão comprar).
1. Racionalidade máxima de todos os indivíduos, que fazem cálculos para
maximizar sua utilidade.
2. Em busca dessa maximização, os indivíduos encontram-se no mercado e se
equilibram a partir do máximo que o consumidor está disposto a ir, e portanto,
o máximo que o produtor pode ir para se manter no mercado.
LÊNIN
LENIN sai da mesma análise. Onde se pode ver livre concorrência, de fato se
observa que uma pessoa concorre com outra. Mas o resultado não era esse
equilíbrio que esta apologia fala sobre si mesma. Em um ambiente nacional
como o que temos aqui, dois são os principais produtores naquele país, que são
famílias. Vendem para satisfazer a maximização dos lucros dos que compram, e
lucram. Um dos produtores vendem em alguma parte, e outro vende em outro
espaço. Por alguma razão, um vende mais do que o outro - talvez porque haja
mais pessoas em um lugar. A família produtora que vendeu mais investe mais
para que ganhe mais. E o outro também o faz, passando a vender nos lugares
onde somente um vendia.
Mas uma família acaba vendendo muito mais do que a outra. Uma delas passa a
conseguir vender não apenas onde já vendia, mas também em outros lugares:
conseguiu comprar caminhões e outras coisas para expandir seu mercado. E a
outra permanece restrita em seu lugar. E eventualmente, a família que vendia
para todos vende também naquele local restrito. Talvez alguns, neste lugar, não
comprarão do novo produtor, pois compram há muito tempo do antigo. Mas o
consumidor, ainda que leal, acaba comprando do novo produtor, que vende a
preços muito mais baixos. Afinal, o consumidor também tem vários problemas.
Então, vão para outros mercados. São a África, a Ásia e a América Latina. E os
alemães encontram nesses lugares com os ingleses. E então, conclui-se que não
vender na Inglaterra é adequado, mas não poder vender nesses outros lugares,
inaceitável. E disso, a elaboração de uma estrutura política militar que garanta
as vendas mundo afora.
Aula 15
JOHN MAYNARD KEYNES
sexta-feira, 11 de maio de 2012
21:55
É claro que a literatura simbolizou esses tempos por meio dos miseráveis e
Oliver Twist. O tempo de Sherlock Holmes, Jack o Estripador são reflexos
culturais da brutal condição daquele tempo. O livro de ENGELS sobre a situação
do trabalho é paradigmática nesse sentido, mostrando a quantidade absurda de
pessoas morando em locais minúsculos, sem banheiros e cheios de insetos.
Quando um homem de 40 anos morre, é substituído por uma força jovem de
trabalho, que começa, por sinal, logo aos 3, 4 anos. Se não adaptados, segundo
o darwinismo social, é melhor que sejam retirados, pois isso tornará o corpo
social mais forte, a economia mais forte.
É neste ambiente social e teórico para o qual olha KEYNES. E além disso, é
preciso mostrar que é formado na economia neoclássica. Por ela, é possível
determinar o custo marginal pelo qual o empresário será remunerado por sua
produção, e por cálculos matemáticos, consegue-se regular as expectativas de
investimento.
No meio dessa história, algumas coisas ocorrem. Em seu doutorado, KEYNES faz
uma migração em sua TEORIA DAS EXPECTATIVAS da matemática das certezas
para a matemática das expectativas. A maior contribuição da matemática para a
economia, portanto, diferentemente dos neoclássicos, não é uma teoria da
certeza, senão das expectativas.
Por outro lado, o empresário individual somente pensa em si, e por razão óbvia.
Não pensará em benefício do concorrente: o empresário que não se preocupa
consigo acaba, ou não tem mais recursos. Como disse LENIN, a economia
capitalista é uma constante disputa de um contra outro, sendo que sempre se
unem contra os trabalhadores. E o empresário, pensando em diminuir custos,
diminui os empregos. Aquela unidade de produção acaba vendendo mais,
gastando menos.
KEYNES analisa justamente isso em sua teoria das expectativas. Como busca o
fim de seus custos individuais, elimina unidades de produção. Isso faz com que a
capacidade de função consumo seja diminuída. E então, quando o empresário
for vender, em uma segunda rodada, não há mais quem compre. Então, a
estabilidade deste sistema que tende ao desequilíbrio está na função demanda:
é preciso que o trabalhador consuma.
Os EUA eram o novo império. Não haveria uma moeda mundial gerida por um
banco mundial. Haveria sim uma moeda mundial, mas gerida pelo governo dos
EUA. Um dólar equivale a certa quantia de ouro - é o padrão dólar-ouro. Os
anos pós-guerra, chamado de "Era de Ouro do capitalismo" por HOBSBAWN,
que corresponde à estruturação do Estado de Bem-Estar Social, de 1945 a 1973,
é, em realidade, o período das políticas keynesianas.
Quem ia para a guerra? Os filhos de pobres. Ainda que o príncipe Harry vá para
a guerra, fica protegido. Como voltam os pobres da guerra? Mutilados,
traumatizados, ou talvez não voltam. Quando voltam da Segunda Guerra,
alguma coisa é aprendida. Se são mais cristãos, alguns se organizam para dizer
como tudo o que estava acontecendo não seria de Deus. Guerra não poderia ser
obra divina, tampouco a situação de miséria. E se é da vontade de Deus que o
pobre nasça pobre, não é possível. Esses socialistas cristãos ou socialistas
faabianos alastram-se, sobretudo na Inglaterra.
Outros dirão que até simpatizam com esses socialistas fabianos, mas os
consideram utópicos. Falam em tomar as fábricas e dividir as pessoas. Era o
socialismo científico, o socialismo trabalhista ou socialista inglês. Por um
pensamento ou outro, criam o Estado de Bem-Estar Social, as massas passam a
compor os governos, e há redistribuição.
2. KEYNESIANISMO MILITAR
ORTEGA Y GASSET - "Pobre México: tão longe de Deus e tão perto dos EUA". Os
EUA tomaram um terço do território mexicano.
Os EUA nunca ficaram sem envolvimento em guerra no último século. Por quê?
Porque são uma nação ruim? Não, "americanos são pessoas muito legais". O
problema não é esse, não está na subjetividade individual. Está na estrutura
objetiva, que supera as subjetividades individuais. O keynesianismo militar, para
a professora, sempre tem o empresário em vista. O Estado faz uma mega
compra de seu produto: o complexo militar investe, porque sabe que vai
vender. Ao investir, contrata, e ao contratar, alivia o desemprego e faz a
economia continuar andando. A guerra é um momento da função consumo
dentro da estratégia estrutural da economia norteamericana.
Nos momentos de aquisição de riscos cada vez maiores e mais pobres, em dado
momento o sistema financeiro precifica e apita: era falso. Assim como no
sistema produtivo também, em dado momento a busca do autointeresse
individual diminuía os custos da empresa, mas gerava grande massa de
desemprego, no sistema financeiro, a busca do interesse pode não gerar um
benefício coletivo, senão uma verdadeira tragédia coletiva.
Quando vem esse momento, alguém precisa vir de cima e estabilizar o sistema.
E quem vem é o Estado. Sete trilhões de dólares foram colocados para
estabilizar o sistema financeiro pelo Estado Norteamericano.