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DA
ANO III Nº 116 2 DE MARÇO DE 2018
I
nverter a intervenção. Trocar os blindados e fuzis pela força faixa de 24 metros quadrados assinada por Adufrj, Sintufrj,
da educação, do conhecimento, da arte e da ciência. Rejeitar DCE, APG (Associação de Pós-Graduandos) e Andes propõe,
soluções frágeis e temporárias e investir em políticas públi- com criatividade, a inversão dos modelos de ação das forças de
cas com resultados sólidos e duradouros. Sem ingenuidade segurança. A ideia é ser uma obra aberta às diversas interpre-
ou oportunismo. Essa é a resposta que emerge da Universidade tações que a complexidade do tema exige. Com a parceria da
Federal do Rio de Janeiro para a intervenção militar que há reitoria, a campanha ocupará outros espaços da universidade
duas semanas mobiliza tropas e espalha incerteza na cidade. e da cidade. A Universidade é múltipla e seus pesquisadores
A direção da Adufrj aponta os limites do modelo de segurança atuam historicamente em áreas conflagradas pela ausência do
pública criado pelo governo Temer e quer mais do que apenas Estado. Hoje existem 98 projetos de extensão mantidos pela
dizer não. Conclama a comunidade acadêmica a intervir na UFRJ em comunidades. “Precisamos mais. O Rio de Janeiro
intervenção usando as armas - e os verbos - que ela pesquisa e precisa mobilizar todos os saberes para construir a paz e
nos quais acredita: educar e conhecer. garantir a democracia”, resume o vice-presidente da Adufrj,
Inspirada por essa convicção, a Adufrj começa uma grande professor Eduardo Raupp. A seguir, um boletim especial com
campanha. A primeira iniciativa já ocupa os muros do Canecão oito páginas, seis delas dedicadas a imagens e reflexões que
e conquistou o apoio de todas as entidades representativas de mostram a urgência de inverter a intervenção e intervir de
estudantes, professores e técnicos. Desde quinta-feira, uma modo ativo na construção da paz.
BOLETIMDAADUFRJ BOLETIMDAADUFRJ
UMAINTERVENÇÃONOCAMINHODAESCOLA
“
“
FOTOS FERNANDO SOUZA
As violações de
direitos humanos
são constantes
na favela. Toda
nossa rotina gira n Nunca morei numa casa
A
s imagens capturadas pelo fotojornalista Fernando Souza gritam Tenho muito medo quando
MATHEUS ROCHA o que as autoridades não escutam: que há escolas, estudantes,
22, aluno de Jornalismo e estou chegando em casa e a
professores no meio do caminho da intervenção. Ou, com a polícia está chegando na comu-
morador da Cidade de Deus
“
licença de Drummond, que a intervenção é a pedra no caminho nidade também, e tem tiroteio.
do colégio. Por quatro horas, no dia 27, o repórter fotográfico percorreu a A gente não sabe se volta– e
comunidade da Coreia, em Senador Camará, na Zona Oeste. Flagrou blin- podem pensar que você fez algo
dados e fuzis convivendo numa assustadora normalidade com estudantes errado e está fugindo– ou se
Está assustador, uniformizados. É uma violência banalizada que já assusta estudantes da continua indo, com risco de cair
UFRJ moradores de áreas conflagradas. Bárbara Melo, aluna de Gestão Pú-
vejo as blica, não se conforma com o que vê da janela em Senador Camará. “Nunca
no meio do confronto. O pior é
quando tem guerra do tráfico,
pessoas sendo morei numa casa que não tivesse uma marca de bala no portão”, lamenta. dá muito medo.
abordadas na Perto de sua casa, por coincidência - ou por nenhuma coincidência - o grafite
que inspira a campanha da Adufrj contra a intervenção se repete na cena Entrei na UFRJ como cotista
rua. Olham para de um menino de uniforme e mochila passando ao lado de soldados do e curso Gestão Pública. Não
todo mundo, Exército, em frente a um muro, emoldurado pelo abraço do Cristo Redentor. tenho bolsa, mas passei agora
a gente tem numa prova para ser monitora
de uma disciplina, aí vou ga-
uma sensação nhar bolsa. É curioso olhar a
de medo. Eu intervenção como moradora
me pergunto de comunidade e aluna desse
curso. Política de segurança
como vai ser deve estar junto com outras
quando as aulas políticas, como saúde, emprego
e educação.”
da faculdade
começarem. ,BÁRBARA B. DE HOLANDA MELO
23, aluna de Gestão Pública na UFRJ
ANDREW MOURA DE AGUIAR
23, aluno de Licenciatura em Dança e
morador do Complexo do Alemão
UMAUNIVERSIDADENOMEIODAINTERVENÇÃO
“ “
FOTOS FERNANDO SOUZA
ELISA MONTEIRO
elisamonteiro@adufrj.org.br
MÚSICA NA MARÉ:
D
professor e alunos da
e música a agricultura urbana, UFRJ participam de
de alfabetização a direitos huma- projetos de extensão
nos. Entre 2015 e 2017, a Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro
desenvolveu 98 ações de extensão em
favelas do Rio. Foram projetos, cursos
e eventos. Segundo a PR-5, pró-reitoria
responsável pelo setor, o total está su-
bestimado, pois não inclui trabalhos
realizados nos campi da universidade.
Para Maria Malta, a pró-reitora de Ex-
tensão, a intervenção pelo conhecimento
VLADIMIR CALISTO inverte a lógica das intervenções belico- SAMUEL ARAÚJO
46, técnico da POLI/COPPE sas: “Os trabalhos de extensão subvertem VLADIMIR CALISTO Orgulho de ser UFRJ professor da Escola de Música
a lógica hierarquizada e elitista. Nada
n A UFRJ mudou minha vida. mais revolucionário que sair dos nossos lia Rute Osório, estudante de Engenha- n A Maré é o local mais mu-
Estou aqui desde 1989. Eu morava locais de conforto e nos abrirmos para ria Ambiental e moradora da Maré. “Na sical que eu conheço. Desde
no Complexo da Maré, e minha aprender com a realidade”, argumenta Copa de 2014, foi uma quantidade cho- o funk às orquestras, sem
única perspectiva era trabalhar a pró-reitora. cante de soldados na primeira semana, falar das escolas de música
numa fábrica de velas. Foi quando O Complexo da Maré, vizinho à Cida- que foi diminuindo aos poucos. Agora, evangélicas onde se aprende
a UFRJ criou um curso de acelera- de Universitária, abriga 25 dos projetos nem isso vemos”. A estudante participa do trompete ao violino, são
ção da escolaridade e ao mesmo de extensão da UFRJ. Entre eles, o de de outro projeto, o Muda Maré, que tra- muitas as expressões musi-
tempo profissionalizante. Ali, Musicultura, coordenado pelo professor balha educação ambiental e agricultura cais. Sempre recomendo aos
aprendi a profissão de torneiro Samuel Araújo, da Escola de Música, que urbana com crianças entre sete e doze amigos músicos de fora que
mecânico. Os professores nos investiga a musicalidade do cotidiano da anos, na Lona da Maré. venham conhecer o cenário
mostravam que a única forma de comunidade. Na avaliação do professor da Escola musical local. Na Maré, os
mudar nosso contexto era a edu- “A Música é só o ponto de partida”, ex- de Música Samuel Araújo, coordenador eventos musicais são diários,
cação. Quem terminou o curso plica o aluno do Instituto de Matemática do projeto da Musicultura, a experi- às vezes paralelos, reunindo
teve oportunidade de continuar Diogo Nascimento, veterano do projeto ência na comunidade desmente este- massas de mil a duas mil pes-
na UFRJ. Muitas vezes para quem e morador da Maré. “O que me prendeu cara. “Gastaram milhões, enquanto daqui”, opina a mestranda de Antropolo- reótipos: “Muitos dizem que a favela soas. E há uma concentração
está na Maré a universidade é foram as várias discussões sobre territó- o cotidiano e a economia local foram gia Bárbara Assis, integrante do projeto não está nem aí para política. Mas em única de pessoas que vivem
algo inatingível. Quando eu vim rio que não teria a possibilidade de fazer sufocados. Os eventos musicais foram e moradora da Maré. Para ela, a inter- festas e eventos culturais vemos grupos da música. Estou na Maré
para cá, vi que era possível. Fiz em nenhum outro lugar”. interrompidos ”. venção é sinônimo de “mais opressão”. se manifestando sobre temas como a desde 2003 e é um trabalho
uma graduação, uma especializa- Para ele, a ocupação do Exército na “A proporção de 55 soldados por “A intervenção parece mais uma coisa intervenção militar ou a legalização muito gratificante. Mas não
ção e agora penso no mestrado. Maré em fevereiro de 2014 foi longa e morador não existe em nenhum serviço de fora da favela do que de dentro”, ava- das drogas”. estou otimista em relação à
Hoje meu relacionamento com intervenção. Já vi ao menos
a Maré é também religioso. Sou três ações de controle do
servidor público e voluntariamen- O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA CAMPANHA território e o que percebemos
te atuo como pastor. Minha gra- é a criação de uma expectati-
duação em Pedagogia me ajuda a n É da rua que vem a inspiração para a campanha da va de paz que não se cumpre.
incentivar os jovens para realizar Adufrj contra a intervenção no Rio de Janeiro. Mais A sensação é de que não são
o Enem e o ensino superior. Sou exatamente, dos grafites do artista britânico Bansky. ações feitas para solucionar
um interventor na realidade. Um Num deles, uma menina revista um soldado, mudando a violência que aflige mora-
interventor pela palavra e pela a perspectiva de quem é alvo e autor da revista. Diante dores (das comunidades) e a
educação. Essa é uma interven- das cenas frequentes de revistas de moradores, inclusive cidade como todo, mas medi-
ção mais eficiente e duradora crianças, em comunidades, o designer André Hippertt das eleitoreiras. Não acredito
do que a das Forças Armadas. A juntou ao soldado de Bansky uma aluna de escola pública em intervenção sem investi-
intervenção da Educação não é no Rio. No aniversário de 453 anos da cidade, a proposta mento e geração de renda. É
passageira. O conhecimento é de inverter a intervenção através do conhecimento é a isso que todos esperam”.
algo que a pessoa vai adquirir, vai perspectiva da campanha da Adufrj. A faixa da Campanha
desenvolver e vai passar para a já está nos muros do Canecão.
sociedade.
ELISA MONTEIRO
Debate
livre uso de cada curso) para reformar.
Muretas de proteção, chamadas de
guarda-corpo, estão bambas. “Estamos
cobra
fazendo remendos por causa da falta
de recursos”, desabafou.
A Faculdade de Letras praticamente
garantia
dobrou seu público de 4,5 mil gradu-
andos com a recepção de mais 3 mil
alunos de Arquitetura e Urbanismo,
de direitos
da Escola de Belas Artes e do IPPUR,
depois do incêndio de 2016.
P
DEBATE DO SINTUFRJ Presidente da Adufrj e ex-ministro Celso Amorim refletem sobre segurança
rofessores, estudantes, servido- TEMPORAL NA LETRAS Queda de árvore e goteiras ameaçam início do semestre de 4,5 mil alunos pós. Mais diversidade tem tudo a ver
Na volta às aulas,
res e intelectuais das áreas do mas sim uma guerra de classes na qual Canecão, em Botafogo. com nossa proposta de incentivar
direito e da segurança pública as populações mais pobres são tratadas Neuza Luzia, coordenadora geral projetos inovadores”, comemorou a
participaram de um debate como inimigas”, finalizou. do Sintufrj, afirmou que os sindicatos diretora.
sobre a intervenção federal organizado Para Nilo Batista, professor de Direi- devem colaborar para a luta em defe- Claudia Werner destacou o cres-
pelo Sindicato dos Técnicos da UFRJ na to Penal, a intervenção resulta da crise sa da democracia, para além da luta
reparos e projetos
cimento da internacionalização. Em
última quarta-feira, no auditório do CT. de legitimidade do governo e do uso corporativa. “A universidade precisa se fevereiro, a Incubadora da Coppe foi
Celso Amorim, ex-ministro das Relações político da mídia. “Não gosto da palavra envolver criticamente com o que ocorre classificada entre as 20 melhores do
Exteriores nos governos Lula e Dilma segurança pública porque em nome dela no país”, disse. mundo, segundo o ranking da UBI
e cotado para disputar o governo do cria-se é a barbaridade. O que tem de ser Global. A excelência dos cursos é a
Rio pelo PT, questionou: “Intervenções garantido são direitos”. MANIFESTO CONTRA INTERVENÇÃO chave do sucesso. “Nove de nossos tre-
ocorrem a pretexto da situação huma- A presidente da Adufrj, Maria Lúcia A diretoria da Adufrj participou na ELISA MONTEIRO no telhado provocam vazamentos em ze programas foram avaliados como
Werneck, destacou a relevância de dis- noite de quinta-feira, 1 de março, dia elisamonteiro@adufrj.org.br salas e auditórios. Duas árvores de
nitária. No Rio, houve uma narrativa muito bons ou excelentes”, informou.
sobre um suposto aumento da violência, cutir a intervenção. “Somos contra em do aniversário de 453 anos do Rio de grande porte podem cair a qualquer Para ela, a Coppe vive um momento
R
mas que não é real e não justifica esse princípio, porque a segurança pública Janeiro, de reunião para criação de ecém-eleita diretora da Faculda- momento sobre a lateral do bloco H e especial de renovação. Na última aloca-
instrumento”. não vai se resolver pela via militar”, afir- um manifesto e atividades contra a de de Letras, a professora Sonia um dos principais jardins. São pátios ção de vagas (COTAV), a instituição foi
Segundo Amorim, a medida atinge mou. Maria Lúcia lembrou ações que a intervenção militar no Rio. Diversas Cristina Reis recomeçará as usados por alunos para tudo: estudar, contemplada com 18 concursos docen-
a Constituição. “Será um ataque direto diretoria da Adufrj irá realizar nesta entidades, entre elas o Andes, prepa- aulas sem verba para as obras conversar e comer. tes com mais de 200 inscritos. “Esses
às comunidades, às favelas, e cria para semana sobre a mesma temática, como ram o documento e a programação. O de emergência para estragos causados A dirigente diz que tem apenas R$ doutorandos trarão uma injeção de
a política internacional não uma luta, a colocação de uma faixa em frente ao encontro ocorreu no Sindjustiça-RJ. pelos últimos temporais. Problemas 17 mil do orçamento participativo (de gás importante”, observou a professora.
Opção de lazer
O CEPE-Fundão fica na Cidade Uni-
versitária e tem 26 mil metros quadrados
de área, incluindo duas piscinas, duas
quadras (uma polivalente e uma de
para docentes
tênis), campo de futebol soçaite, saunas
seca e a vapor, além de um restaurante
aberto diariamente. Há aulas de ativida-
des variadas, como vôlei e basquete.
Também são oferecidos serviços de
salão e academia, com mensalidade paga
> Adufrj prepara convênio secretaria. O pagamento é feito ao clube, em separado pelo associado, mas sempre
com o Clube dos Empregados não à Adufrj. Segundo o professor Fer- com preços mais baixos que o mercado.
nando Pereira Duda, diretor da Adufrj,o O professor sindicalizado que decidir se
da Petrobras, no Fundão, convênio amplia a oferta de lazer aos associar ao clube também poderá usar
em Macaé e no Recreio associados. tais serviços, informou o presidente do
CEPE-Fundão, Carlos Roberto Cordeiro.
U
m convênio entre a Adufrj A parceria entre a Adufrj e o CEPE
e o Clube dos Empregados permite ainda que o professor sindica-
da Petrobras (CEPE) permi- lizado se beneficie dos convênios que
tirá que, a partir deste mês o clube mantém com outros estabele-
de março, associados da entidade sindi- cimentos, como farmácias, cartórios
cal utilizem as instalações do clube no e lojas de produtos naturais, entre
Fundão, no Recreio dos Bandeirantes e outros. O CEPE costuma realizar shows
em Macaé. O professor sindicalizado na e eventos com desconto para sócios, e
Adufrj pagará R$ 62 mensais ao clube e todos esses benefícios serão estendidos
terá livre acesso a todas as instalações. ao associado da Adufrj.
Este valor já inclui todos os depen-
dentes do professor. O associado da SERVIÇO
Site: cepefundao.com.br/index.asp
Adufrj que quiser aderir pode fazer o
R. Lobo Carneiro, S/N - Cidade Universitária -
cadastro pelo site do CEPE e preencher Ilha do Fundão - RJ - CEP: 21941-972
a proposta. Outra opção é se dirigir à Tels.: (21) 2162-6066 / 2162-6096 / 2162-
sede do clube, no Fundão, e procurar a 6640 / 2162-6707
NOTAS
PLANTÃO JURÍDICO
DIA INTERNACIONAL EM NOVO HORÁRIO
DA MULHER n A partir deste mês, o plantão
semanal do Jurídico na sede da
FEMININA
REDAÇÃO COORDENAÇÃO ANA BEATRIZ MAGNO /// EDIÇÃO FERNANDA DA ESCÓSSIA E KELVIN MELO /// REPORTAGEM ELISA MONTEIRO E
SILVANA SÁ (licenciada) /// ESTAGIÁRIAS ISABELLA DE OLIVEIRA, MARIANNE MENEZES /// DESIGN ANDRÉ HIPPERTT /// TI RENATO MARVÃO