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I Pré-leitura
1.1. Quem é a pessoa que está a conversar com o Calvin e por que motivo é conhecido?
1.2. O que fez com que Calvin ficasse admirado com as roupas de Jobs?
1.3. Que conclusão podemos tirar da reação de Jobs aos comentários de Calvin?
II
Refrão:
Tu és mais forte e sei que no fim vais vencer
5 Sim, acredita num novo amanhecer
Não tenhas medo, sai à rua e abraça alguém
E vai correr bem, tu vais ver
Refrão
40 Tu és, tu és, tu és
Mais forte e no fim vais vencer
Tu és, tu és oh oh oh oh
Tu és mais forte e sei que no fim vais vencer
Sim, acredita num novo amanhecer
45 Não tenhas medo, sai à rua e abraça alguém
E vai correr bem, tu vais ver
Tu és, tu és, tu és
Mais forte e no fim vais vencer
Tu és, tu és oh oh oh oh
III Pós-leitura
Tu cá, tu lá
Já reparaste, caro leitor, que nos tuteamos cada vez mais?
Luís Ribeiro (Texto publicado na VISÃO 1030, de 29 de novembro)
1 Logo de manhã, ligas o televisor e levas com um anúncio de um operador de
net e cabo a falar da "tua visão". Enquanto conduzes, o animador da rádio anuncia-te
que "vais ouvir uma música fantástica". No para-arranca do trânsito, olhas para o lado
e vês um outdoor de uma companhia aérea com a frase "Até onde queres ir?" Entras
5 numa pastelaria para pedir um café e corres o risco de a rapariga ao balcão te
perguntar: "Queres açúcar ou adoçante?" Folheias o jornal e lá está um carro de 25 mil
euros a dizer-te "desafia todas as normas". Mais tarde, abres a VISÃO e lês um artigo
no qual um jornalista que não conheces de lado nenhum te trata por tu.
A sociedade portuguesa está a ficar mais informal, e a língua segue-lhe os
10 passos.
Há duas ou três décadas, atravessávamos a fronteira entre a juventude e a maturidade
por volta dos 20 e poucos anos, ou por altura do primeiro emprego, quando as pessoas
na rua começavam a aplicar-nos o "você". Era nesse momento, e não no 18.º
aniversário, que nos sentíamos efetivamente a entrar na idade adulta. Depois, alguma
15 coisa mudou. O "tu", teimoso, passou a sobreviver até mais tarde e o "você", tímido,
demorava a brotar. Chegávamos aos 30, 35, e ainda nos perguntavam "tens horas?".
Agora, para onde quer que olhemos, as marcas persistem em tutear-nos a nós,
consumidores, seja qual for a nossa idade. E não estamos a falar de anúncios a barbies
e carrinhos de brincar. Automóveis, bebidas alcoólicas, relógios, perfumes, telemóveis,
20 máquinas de café, todos falam connosco como se fossem da nossa família.
"A publicidade define, muitas vezes, tendências", comenta Miguel Ralha, sócio
da agência publicitária BAR. "Mas, neste caso, anda de mãos dadas com a sociedade,
que tende a ser mais simples e próxima." Essa realidade traduz-se numa linguagem de
maior informalidade com os clientes. "Num mercado mais concorrencial, mudou a
25 forma como as marcas interagem com os consumidores, que se querem sentir
acarinhados. E nós tratamos os nossos amigos por 'tu', não por 'você'." O tuteio entre
empresas e potenciais clientes tornou-se ainda mais vincado com a crescente
popularidade das redes sociais. "Há um maior à-vontade que decorre da interação. As
pessoas falam com as marcas no Facebook e alguém lhes responde", explica Tiago
30 Veigas, diretor criativo da Brandia Central, uma firma de consultoria e gestão de
marcas. "As que ainda não deram o salto usam muito o infinitivo [por exemplo:
'comprar a marca X é uma boa ideia'] . O 'você' já parece demasiado formal." A
"informalidade educada" continuará a reforçarse até atingir um ponto de maturidade,
acrescenta. Pelo caminho, acredita, extinguir-se-á o "doutor" (que nos países anglo-
35 saxónicos está reservado a médicos e professores universitários). "Todas as coisas
estúpidas acabam. Entre elas, esse tratamento bacoco de 'doutor' a qualquer
licenciado."
LÍNGUA DESENGRAVATADA
Carlos Reis, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
40 também aponta as redes sociais como corresponsáveis pela generalização do "tu".
"Basta ver o fenómeno dos 'amigos' no Facebook. O que parece natural é tutear um
amigo (mesmo que ele seja um 'amigo', digamos, eletrónico...).
Além disso, os textos em redes sociais e em mensagens de dispositivos móveis
são muito breves, pouco refletidos e, por isso, a tendência para simplificar chega à
45 forma de tratamento: um 'tu' é mais fácil de conjugar do que um 'você', já para não
falar no quase arcaico 'vós'." A informalidade, em Portugal, não se esgota na
publicidade e nas redes sociais.
Hoje, raramente ouvimos crianças a tratarem os pais por "você", sentimo-nos
jovens até mais tarde e vestimo-nos a condizer, com roupas descontraídas, a gravata
50 está a desaparecer de muitos pescoços, incluindo de gestores de topo, deputados e
ministros. "O formalismo é muito inferior ao que existia há 20 anos. Não é falta de
respeito. É o caminho natural das relações portuguesas", diz António Mendes, diretor
da RFM, rádio que passou a tratar os ouvintes por "tu", há dois anos, depois de um
estudo de mercado ter colocado a estação ao lado de marcas informais.
55 "A ideia de mudar [o tratamento] para a segunda pessoa veio da observação do
que se passa à nossa volta, onde há cada vez mais gente a tratar-se por tu", justifica.
A evolução (ou será revolução?) da língua não é completamente pacífica: pode criar
"tensões, sobretudo entre pessoas de diferentes extratos socioeducativos", alerta
Carlos Reis. No mínimo, provoca instantes constrangedores como quando tuteamos
60 alguém e nos vocêam de volta.
O crescimento do "tu", no entanto, é inevitável. "Estamos a caminho do que se
passa em espanhol, onde o tuteio é absolutamente normal, entre extratos sociais e
pessoas que não têm qualquer intimidade ", compara o professor universitário.
A raiz desta diferença, conta-se, estará na Guerra Civil Espanhola, com os republicanos
65 a tratarem os camaradas por "tu".
Há um grupo que continua imune a esta tendência, arrisca Carlos Reis. "As
chamadas tias de Cascais não parecem dispostas a prescindir de um tratamento
afetado que dispensa o 'tu' e prefere uma bem mais artificial terceira pessoa ['o
senhor, a senhora'] ou um mais direto 'você'." Se for este o seu caso, cara leitora,
peço-lhe duas vezes desculpa por a ter tratado por tu.
In http://visao.sapo.pt/tu-ca-tu-la=f700573 (consultado dia 18-03-2013)
1.6. Na RFM começaram a tratar os ouvintes por “tu” há dois anos, quando
a) chegaram à conclusão que essa é a tendência natural da língua.
b) perceberam que assim teriam um maior auditório.
c) concluiram que a rádio teria que evoluir, no que concerne às formas de
tratamento.
d) entenderam que não queriam tratar deputados por “você”.