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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS – LICENCIATURA


DENISE SOMERA

ANGÉLICA DASS E SEU INVENTÁRIO CROMÁTICO

ARACAJU
2018
História das Artes Visuais no Brasil I prof. Danielle Virginie
Angelica Dass e seu inventário cromático

Angelica Dass é Angélica da Silva Santos, “mais brasileiro, mais pobre, mais africano,
não pode ser”, como disse a fotógrafa em uma entrevista (CITAÇÃO ENCONTRO ORAL).
Nascida no Rio de Janeiro em 1983 e criada no surbúrbio carioca de Padre Miguel, sua
trajetória até a arte foi iniciada com um curso de moda no Senai, seguindo para a academia de
Belas Artes da UFRJ e chegando à Madrid, na Espanha, onde reside há 10 anos.

Em 2012 deu o pontapé inicial no projeto Humanae, que ao longo destes seis anos
retratou mais de 3000 pessoas em 13 países (dados de 2016), além de abrir diversas
oportunidades para a fotógrafa: palestras no TED Talks, exposições em vários museus do
mundo e interação dos projetos de arte-educação que passaram a surgir. Casada com um
espanhol “com o tom de pele mais próximo de uma lagosta”, ficou intrigada quando escutava
a pergunta “como será a cor da pele dos filhos de vocês?”. Deste questionamento a outros
incômodos pessoais nasceu o projeto Humanae. “Quero captar as nossas cores de verdade, no
lugar de sermos etiquetados como branco, preto, amarelo, vermelho, associados a raças. É
como um jogo para questionar nossos códigos”, afirma a carioca. (Folha, 2016)

Eu nasci numa família cheia de cores. Meu pai é filho de uma


empregada doméstica de quem ele herdou um tom de pele chocolate intenso.
Ele foi adotado por pessoas que conheço como meus avós. A matriarca,
minha avó, tem pele de porcelana e cabelos brancos como algodão. Meu avô
tinha um tom de pele entre iogurte de baunilha e de morango, assim como
meu tio e meu primo. Minha mãe tem pele cor de canela, filha de uma
brasileira com uma pitada de avelã e mel e um homem com pele cor de café
com leite, mas com muito café. Ela tem duas irmãs. Uma delas tem a pele na
cor de amendoim torrado e a outra, também adotada, está mais para bege,
como uma panqueca. (DASS, 2016)

A ideia do projeto é bastante simples, como todo bom projeto é. Um inventário


cromático dos diferentes tons de pele.

Humanae é um exemplo de como a fotografia pode servir a diversos


propósitos e manifestos que extrapolam os limites de nacionalidades,
idiomas, identidades. Pois pela arte o Humanae chama a atenção sobre uma
série de questões como cor, raça, miscigenação e etnicidade. O projeto
consiste na realização de retratos feitos pela artista, um inventário cromático,
refletindo sobre as cores além das fronteiras de nossos códigos. (…) O
objetivo final é registrar e catalogar, através de uma medição metódica,
todos os possíveis tons de pele humana, desativando qualquer pretensão de
controle ou de estabelecimento hierárquico, não apenas de raça ou social.
(WANDEKOKEN, 2016)

A fotógrafa tem um processo relativamente simples e padronado: monta um mini-


estúdio onde decide fotografar, passa pelo menos 15 minutos com a pessoa que será
retratada – sempre de frente, encarando a lente, diante de um fundo branco, sem camisa.
Com a foto pronta, seleciona um pixel na ponta do nariz do fotografado. A cor resultante
será o fundo da foto, quando ela finaliza acrescentando sob a imagem o número da cor
de referência usando a paleta Pantone (catálogo de cores de uso profissional no campo
da moda e do design).
A artista começou fotografando parentes e amigos, depois foi estendendo seus
contatos até que, em uma chamada pelo Facebook para fotografar no morro do Vidigal,
no Rio de Janeiro, recebeu uma resposta de 600 pessoas. “Antes da pessoa sentar para a
foto, faço a pergunta “Qual é a sua cor?”. Depois que a pessoa sai do estúdio, fica
ansiosa e quando ver a sua tonalidade me comenta o quanto aquele tom muda a sua
forma de pensar. Somos além de preto e branco”, afirma a fotógrafa.

Nestes últimos anos, além de exposições Angélica também faz workshops com
professores e alunos, em um trabalho diferenciado de arte-educação. O Humanae a
levou “voltar para o desenho, as tintas, à sala de aula”, onde ela instiga os alunos a
produzirem autoretratos e a pensarem sobre o colorismo (termo utilizado para discutir a
discriminação conforme a cor da pele). São ministradas oficinas e workshops em
diferentes espaços de arte-educação (desde salas de aula tradicionais a parques, feiras,
etc) em que os participantes são levados a pensar sobre seu próprio tom de pele, sobre
auto imagem, entre outros questionamentos que passam a surgir. O objetivo da artista é
fotografar o maior número possível de pessoas em todo mundo, por conta disso o ‘work
in progress’ continua seguindo o nome do projeto Humanae.
Humanae em algumas imagens:

Humanae como é apresentado


Angélica Dass em oficinas de arte educação com alunos

Resultado das oficinas de arte educação.


Angélica Dass em oficinas de arte educação com alunos

Resultado das oficinas de arte educação.


Referências Bibliográficas

EZABELLA, Fernanda.Brasileira faz retratos para catalogar todas as cores da


humanidade. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2016/04/1753007-
brasileira-faz-retratos-para-catalogar-todas-as-cores-da-humanidade.shtml> Acesso em: 27
de fev. 2018.

DASS, A. The beauty of human skin in every color, Vancouver, fevereiro 2016. Disponível
em:<https://www.ted.com/talks/angelica_dass_the_beauty_of_human_skin_in_every_color?
language=pt-br> . Acesso em: 26 fev 2018.

WANDEKOKEN, Bruna. Sou o que lembro e o que esqueci: Angélica da Silva Santos. In:
ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL, XIII, 2016, Porto Alegre.

MARTÍNEZ, Héctor Llanos. A beleza do arco-íris da pele humana. Disponível em:


<https://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/23/cultura/1461423736_867369.html> Acesso
em: 27 de fev. 2018.

da redação BBC. Fotógrafa brasileira faz inventário de tons de pele. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2012/07/120711_galeria_catalogo_de_
cores_ru> Acesso em: 27 de fev. 2018.

Todas as imagens foram retiradas do site da artista, disponível em


<http://www.angelicadass.com/> Acesso em 28 de fev. 2018.

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