You are on page 1of 4

Exame de Lírica Popular da Idade Média

Literatura da Idade Média


Análise do 2o e do 6o grupo de poemas

Por um largo período a origem da lírica em língua espanhola foi considerada


tardia e vinculada a um contexto aristocrático de importações de estruturas e, até
mesmo, de uma língua estrangeira para a composição, contudo, segundo Pidal
(1919), tal associação causa estranhamento quando se considera que outras
formas poéticas – por exemplo, a poesia épica – já se encontravam bastante
desenvolvidas dentro da mesma cultura em épocas primordiais. Seguindo tal
raciocínio, o autor reflete que:
(...) hay que pensar que todo género literario que no sea una mera
importación extraña surge de un fondo nacional, cultivado
popularmente antes de ser tratado por los más cultos. (PIDAL, 1919, p.
200, grifo meu).

Desse modo, assume-se que uma lírica de tipo popular espanhola teria uma
datação mais remota e fundadora, porém, desvendar pontos inaugurais é sempre
tarefa árdua e, tratando-se de um gênero literário, é andar em areia movediça.
Aceita a primazia do popular, manteve-se a ideia de que ela era composta em
galego, ou seja, de que seria englobada pela vertente popular galego-portuguesa.
Entretanto, em 1948, com a divulgação de vinte jarchas – pequenos poemas
escritos em língua mozárabe, de eu-lírico feminino e temática amorosa, que eram
postos como arremate de poemas cultos em língua árabe – datadas dos séculos
XI ao XII, a questão da originalidade da poesia popular na Espanha teve que ser
revista.
Paralelamente a ancestralidade das jarchas, retomo como segundo
argumento de distinção da lírica popular espanhola a comparação estrutural feita
entre as formas típicas da lírica galego-portuguesa e da espanhola pelo mesmo
Pidal em artigo já citado:
La primitiva lírica peninsular tuvo dos formas principales. Una más propia
de la lírica galaico-portuguesa, y otra más propia de la castellana. La
forma gallega es la de estrofas paralelísticas completadas por un
estribillo (…). La forma castellana es la de un villancico inicial glosado en
estrofas, al fin de las cueles se suele repetir todo o parte del villancico, a
modo de estribillo. (PIDAL, 1919, p. 259-260)
Não se pode, todavia, ignorar que a presença de um fundo cultural em toda
a península permita que muitas características se mantenham comuns, como se
vê especialmente na questão temática. A predominância do eu-lírico feminino, da
problemática amorosa em seus diversos desdobramentos – chamada para o
encontro amoroso; a insônia causada pela espera do amado; a aurora que separa
os amentes, ou angustia os que já estão separados; os cabelos símbolos da
virgem; o rio e a natureza como lugares de encontro; as festas religiosas; etc. –
são recorrentes e confirmam tal bagagem compartilhada.

A poesia lírica popular da idade média é árvore da qual a lírica espanhola


posterior não deixou de recolher frutos e de, portanto, reelaborar, como
demostram poetas como Lope de Vega, Górgora e aqueles pertencentes a as
gerações que enfrentaram a guerra civil espanhola e seu pós-guerra, tais quais
Lorca e Goytisolo.

Após essa resumida introdução, passo a análise de dois conjuntos de


poemas compostos por pelo menos um poema pertencente à lírica medieval e
outro ao século XX, sendo que destes últimos todos são de autoria do autor, niño
de la guerra, Goytisolo e pertencem ao livro . Os poemas não serão aqui
transcritos e me referirei a eles, quando possível, pelos seus títulos, senão
recorrei aos versos iniciais.

No primeiro grupo submetido à análise (2a pareja da folha de questões), contrasto


o poema de número de XXXVI do autor barcelonês com o poema “por una vez
que mis ojos alcé” de Juan Vásquez.

Ambos os poemas se aproximam por elementos estruturais quanto temáticos.


Dos estruturais destaco a presença de versos iniciais que serão repetidos
integralmente ou com uma pequena variação ao final do poema, formando uma
moldura:

XXXVI – “No te rías más muchacha / y no te burles de quien / tan solo te


contempla” (versos iniciais) e “y por favor deja en paz / a quien sólo te miraba. /
No te rías más muchacha.” (versos finais).
Noto que no grupo de versos estão presentes uma ordem primária – “no te rías
más muchacha” - que é isolada por meio de dois pontos finais, e uma secundária
– “no te burles”; “deja em paz” – que é acoplada a justificativa do pedido através
de procedimentos de enjambement, tais ordens são inicialmente apresentadas em
um percurso direto – primária; secundária – e depois são invertidas. Tal inversão
é significativa, pois coloca em destaque a ordem semanticamente mais relevante.
Ainda tratando do campo semântico, posso analisar os dois “tercetos” como
paráfrases, assim, a retomada do villancico – em uma extrapolação, considero
que o trecho analisado seja um- com variação ou não visto por Pidal como típico
da lírica popular espanhola encontra aqui uma validação.

Por uma vez (...) – os versos iniciais “Por uma vez mis ojos alce / diecen que yo lo
maté” são repetidos integralmente no fecho do poema, novamente formando uma
moldura e confirmando essa estrutura típica do poema lírico popular.

Dos temáticos destaco dois aspectos, um convergente, outro divergente. Ambos


os poemas trazem como tema central o desejo amoroso provocado pelo olhar,
ambos também atribuem à mulher o papel de motivadora, proporcionadora, de tal
desejo. Posso retirar desse fato, a usual vinculação da mulher à detenção dos
saberes amorosos dentro dessa poética, a intencionalidade dessa medida deve
ser questionada quando relembro que os autores dos poemas são homens.

Já comentado o aspecto comum, passo ao diferenciador: a voz-lírica. No poema


medieval, encontro a típica voz feminina que recorre a também típica confidente
familiar, a mãe. Já no poema do século XX, tenho uma voz-lírica masculina.
Interessa-me desse contraste retirar que, ironicamente, as ordens e a culpa
atribuída à mulher estão diretamente contidas na voz do homem, ou na voz do
povo, que, pelo contexto, também expressa o masculino.

Passo ao segundo grupo com o qual trabalharei (6o grupo da folha de questões),
neste estão contidos o poema LXXXIII de Goytisolo; “a coge el trébol, damas” do
Romancero general; “trébole, ay Jesús, como huele!” do mesmo romanceiro; e
“La noche de San Juan, mozas”.

Sobre está seleção, trabalharei primeiramente os temas comuns e típicos da lírica


popular que a percorre. Tenho dois víeis temáticos que aqui se encontram
casados: a natureza como lugar de encontro amoroso e de sedução (questão do
cheiro, perfume) e a festa de São João, ocorrida no soltíquio de verão

You might also like