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Desse modo, assume-se que uma lírica de tipo popular espanhola teria uma
datação mais remota e fundadora, porém, desvendar pontos inaugurais é sempre
tarefa árdua e, tratando-se de um gênero literário, é andar em areia movediça.
Aceita a primazia do popular, manteve-se a ideia de que ela era composta em
galego, ou seja, de que seria englobada pela vertente popular galego-portuguesa.
Entretanto, em 1948, com a divulgação de vinte jarchas – pequenos poemas
escritos em língua mozárabe, de eu-lírico feminino e temática amorosa, que eram
postos como arremate de poemas cultos em língua árabe – datadas dos séculos
XI ao XII, a questão da originalidade da poesia popular na Espanha teve que ser
revista.
Paralelamente a ancestralidade das jarchas, retomo como segundo
argumento de distinção da lírica popular espanhola a comparação estrutural feita
entre as formas típicas da lírica galego-portuguesa e da espanhola pelo mesmo
Pidal em artigo já citado:
La primitiva lírica peninsular tuvo dos formas principales. Una más propia
de la lírica galaico-portuguesa, y otra más propia de la castellana. La
forma gallega es la de estrofas paralelísticas completadas por un
estribillo (…). La forma castellana es la de un villancico inicial glosado en
estrofas, al fin de las cueles se suele repetir todo o parte del villancico, a
modo de estribillo. (PIDAL, 1919, p. 259-260)
Não se pode, todavia, ignorar que a presença de um fundo cultural em toda
a península permita que muitas características se mantenham comuns, como se
vê especialmente na questão temática. A predominância do eu-lírico feminino, da
problemática amorosa em seus diversos desdobramentos – chamada para o
encontro amoroso; a insônia causada pela espera do amado; a aurora que separa
os amentes, ou angustia os que já estão separados; os cabelos símbolos da
virgem; o rio e a natureza como lugares de encontro; as festas religiosas; etc. –
são recorrentes e confirmam tal bagagem compartilhada.
Por uma vez (...) – os versos iniciais “Por uma vez mis ojos alce / diecen que yo lo
maté” são repetidos integralmente no fecho do poema, novamente formando uma
moldura e confirmando essa estrutura típica do poema lírico popular.
Passo ao segundo grupo com o qual trabalharei (6o grupo da folha de questões),
neste estão contidos o poema LXXXIII de Goytisolo; “a coge el trébol, damas” do
Romancero general; “trébole, ay Jesús, como huele!” do mesmo romanceiro; e
“La noche de San Juan, mozas”.