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12/03/2018 A Espiritualidade do Cardeal Mercier

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A Espiritualidade do Cardeal
Mercier

Ruy Afonso da Costa Nunes


FEUSP

Deus é admirável nos seus santos... E santos são todos os homens que
vivem na graça de Deus, que estão unidos a Ele pela oração e pela
caridade, e Lhe cumprem os mandamentos. Um dia, se Deus quiser,
quando estivermos no céu, poderemos descobrir na visão de Deus, a
imensa e incontável multidão de santos que rodeiam o trono celeste, cujo
número excede indizivelmente a cifra dos santos canonizados. Sempre que
penso nesse assunto, acode-me à lembrança o caso referido por São
Gregório Magno numa de suas homilias sobre os Evangelhos, ao comentar
um passo de São Lucas (3. 4-15). Certo homem, chamado Sérvulo, “pobre
de bens mas rico de méritos”, viveu paralítico, desde menino até à morte.
Não podia levantar-se nem sentar-se, nem levar a mão à boca nem virar-se
para outro lado. Dele cuidavam a mãe e um irmão. O que recebia de
esmolas, dava-os aos pobres. Nunca soube ler, mas rogava aos monges que
a família hospedava, que lessem para ele a Sagrada Escritura que veio,
assim, a conhecer muito bem. Dava contínuas graças a Deus em meio às
dores, e Lhe entoava hinos e louvores, de dia e de noite. Ao morrer,
espalhou-se suave fragrância no ambiente, enquanto seus amigos
cantavam salmos. O perfume perdurou até seu corpo ser baixado à
sepultura, fato testemunhado por um beneditino. (1).

Esse foi um caso de verdadeiro santo leigo no tempo de São Gregório


Magno (século VI) mas, através da história, até aos dias de hoje, no
dealbar do terceiro milênio da era cristã pululam muitíssimos santos entre
os membros do clero diocesano, regular e do laicato, homens e mulheres
de todas as idades e condições, que jamais foram ou serão erguidos no
pedestal da canonização, mas que brilham como estrelas por toda a
eternidade.

O Cardeal Désiré J. Mercier, Príncipe da Igreja, Pastor de almas e filósofo,


foi um desses radiosos astros no céu da Santa Igreja, um lídimo santo e
forjador de homens aptos à construção do Reino de Deus. Désiré Joseph
Mercier nasceu perto da planície de Waterloo, no grande povoado de
Braine-l’Alleud (Brabante), no pequeno castelo de Castegier, aos 21 de
novembro de 1851, filho de Paul-León Mercier e de Barbe Croquet. Aos
12 anos, passou a cursar o colégio Saint-Rombaut de Malines, em
novembro de 1863, e na casa em que se hospedava, aprendeu a falar o
flamengo, que lhe seria tão útil nas futuras lides apostólicas. A 1° de
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outubro de 1868, foi recebido no Seminário Menor de Malines para


estudar filosofia durante dois anos. Em outubro de 1870, foi admitido no
Seminário Maior. Em 1871, recebeu a tonsura, e foi enviado para a
Universidade de Louvaina, a fim de estudar teologia. Aos 4 de abril de
1874 foi ordenado sacerdote, tendo celebrado a Primeira Missa no altar da
sua Primeira Comunhão. Com o apoio do Papa Leão XIII, Mercier tornou-
se fundador e diretor do Instituto Superior de Filosofia, destinado
principalmente aos leigos. Em 1892, fundou o seminário eclesiástico Leão
XIII, anexo ao Instituto Superior de Filosofia. Pio X nomeou Mercier
arcebispo de Malines, aos 7 de fevereiro de 1906. O novel Arcebispo foi
Primaz da Bélgica e Cardeal (1907). A Grande Guerra Mundial de 1914-
1918 veio revelar a grandeza do santo arcebispo que enfrentou
impavidamente o invasor alemão de sua pátria.

O Cardeal Mercier morreu numa sexta-feira, 22 de janeiro de 1926, às 15


horas, num quarto de hospital de Bruxelas, vítima de câncer, depois das
orações dos agonizantes, da missa, da recitação de um Te Deum, e das
despedidas.

Em sua biografia de Mercier, Mons. Laveille ressalta alguns pontos


notáveis da vida do santo e sábio Cardeal, desde os albores da sua
formação (2). Assim, por exemplo, desde o primeiro ano do Seminário
Menor, Désiré Mercier servia de modelo aos seus condiscípulos pelo
recolhimento na oração e pelo fervor da sua adoração do Santíssimo
Sacramento, traços que lhe foram peculiares até o fim da vida. Durante o
seu período de formação, e ainda como sacerdote, bispo e cardeal, insistiu
sempre com os seminaristas, os padres e os fiéis, em que o ponto de
partida do progresso na vida espiritual, e da verdadeira piedade, é a
meditação assídua e regular. Empenhava-se em lhes ensinar a prática, a
superação das dificuldades, assim como o gozo dos seus frutos.
Preconizava, também, o exame particular que deveria versar
particularmente sobre a mortificação.

No tempo da formação seminarística e clerical de Mercier, o lado mais


fraco e lastimável quanto à doutrina e ao magistério, era apresentado pelo
estudo e pelo ensino da filosofia. “A que era ensinada nos seminários
menores e maiores, cerca de 1868, tanto na Bélgica como na França,
observa Laveille, ostentava os traços da incoerência, em que a multidão
dos sistemas havia lançado os principais pensadores do século XIX”. Os
manuais, usados nos seminários e nas universidades, inspiravam-se no
racionalismo de Descartes, no tradicionalismo de Lamennais, no
ontologismo mitigado de Ubaghs e de Branchereau, ambos condenados ou
desaprovados por Roma (3). A filosofia escolástica em 1868 era, na
verdade, uma triste caricatura da autêntica escolástica. Entre os
universitários e os outros só havia desprezo e descaso pela doutrina
escolástica de Santo Tomás de Aquino. A influência do tomismo
restringia-se a poucos e estreitos círculos de estudiosos, particularmente
dominicanos e jesuítas, e não alcançava os seminários maiores. Nesse
ponto alteou-se a clarividência, a aplicação estrênua e o gênio de Désiré
Mercier, que descobriu o tomismo por si próprio a duras penas, vindo a
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tornar-se um dos máximos expoentes do renascimento escolástico tomista


no século XIX.

Mercier empreendeu verdadeira aventura intelectual, descobrindo aos


poucos os lineamentos da filosofia tomista. Seu primeiro mentor para o
tomismo foi Salvador Tongiorgi (1820-1865), jesuíta com tendência para o
ecletismo, mas que soube elaborar uma crítica sadia da teoria do
conhecimento, apregoada pelos kantianos. Felizmente, Mercier logo
deparou com a obra de um jesuíta alemão, J. Kleutgen, A Filosofia
Escolástica exposta e defendida, recentemente traduzida para o francês.
Désiré Mercier, diz Laveille, fez dessas obras o seu livro de cabeceira, e
foi por impulso desse tratado que ele acometeu, desde o início do
Seminário Maior, a leitura da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino.
Em 1877, com 26 anos, Mercier tornou-se professor de Filosofia no
Seminário Menor de Malines. Em 1879, Leão XIII publicou a encíclica
Aeterni Patris, carta magna do renascimento tomista, do qual Mercier foi o
artífice na Universidade de Louvaina, na Bélgica. O seu papel foi decisivo
para o renascimento do tomismo, para a instauração da neo-escolástica,
sobretudo com a fundação de um Instituto para o estudo da filosofia
medieval (1889), e com a publicação da nova, e hoje gloriosa, revista
Revue néoscolastique de philosophie (1894). A obra fundamental de
Mercier no campo das idéias filosóficas foi o Cours de Philosophia, em 4
volumes alentados: Lógica, Psicologia, Criteriologia geral, Metafísica
geral ou Ontologia, que não foi nem é um simples manual escolar, mas
também e sempre, uma obra de profundo teor filosófico, legível, útil e
proveitosa, ainda hoje, para qualquer estudioso da filosofia.

O Cardeal Mercier, no entanto, não pairava apenas nas alturas da reflexão


filosófica, nem tinha olhos só para os seus seminaristas e sacerdotes.
Como verdadeiro apóstolo de Jesus Cristo, preocupava-se com a salvação
dos trabalhadores, dos operários e agricultores. Ele se dava conta de que
para muitíssimos cristãos, a religião parecia consistir em práticas
devocionais e em preceitos morais. Dizia e repetia que os padres, nos
sermões e retiros, pregavam muito pouco sobre o dogma, e alongavam-se
demasiadamente sobre a moral. Ora, concluía, “tal não é a essência do
Cristianismo”. A fim de promover a maior participação dos fiéis nas
celebrações litúrgicas, aplicou-se a introduzir em sua diocese o canto
coletivo. A sua carta pastoral mais importante, publicada em 1909, trata
das obrigações dos esposos e do seu papel quanto à família.

Por ocasião da Primeira Guerra Mundial, Mercier deu toda a medida da


sua grandeza, ao revelar-se como o protetor dos grandes e dos pequenos,
do clero e das famílias, enfim, como “o guardião da cidade”.

O segredo da sua atividade, da sua coragem, das suas iniciativas, residia na


sua intensa vida interior. Como diz Laveille, “o Cardeal era, antes de tudo,
homem de fé viva e de ardente piedade. Não é apenas pela dignidade e
pela majestade de sua atitude no curso das funções pontificais, que ele
exprimia a sua reverência a respeito do Santo dos Santos mas é, sobretudo,

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pelo favor de seus exercícios quotidianos, e no silêncio da sua capela


particular (4).

Désiré Mercier velava, e zelava, pela higidez espiritual dos seus


sacerdotes, e inculcava-lhes altíssimo conceito do sacerdócio e da missão
do padre diocesano. Deu-lhes exercícios espirituais dos quais surgiu o
volume Retiro Espiritual (5). No prefácio desta obra, Mercier enaltece a
pessoa de São Francisco de Sales, propondo-o como modelo para o clero
secular, pois o santo bispo de Genebra demonstrou, por sua vida, a
possibilidade de aliar ao devotamento ininterrupto a tudo e a todos a
manutenção, em si mesmo, de uma atmosfera interior de fé e de calor
sobrenatural, em que sempre a alma religiosa respira sem dificuldade e
pode encontrar o seu Deus.

Noutra obra, posterior ao Retiro Pastoral, ou seja, La Vie Intérieure (6). O


Cardeal consagra-se, ao ver de Laveille, como grande autor ascético, cujo
pensamento original traça longo rasto de luz. É nessa obra que Mercier
procura demonstrar que o padre, sem pronunciar votos de obediência e
pobreza, é um autêntico religioso. “Tese ousada, afirma Laveille, que
ensejará mais de uma controvérsia, mas que assinala a rara elevação dessa
alma episcopal, sempre pronta aos ímpetos mais vigorosos”. O Cardeal
Mercier mostra-se arguto e incisivo, ao argumentar e discorrer para
demonstrar que o padre diocesano, sem se submeter a uma regra religiosa,
sem noviciado e sem claustro, é um lídimo religioso, equiparável a
qualquer membro de Ordem Religiosa (7).

Há a perfeição subjetiva, interior, ensina, e há um estado exterior de


perfeição. Ainda que não se pertença a este estado, tem-se a obrigação de
possuir aquela. No estado exterior de perfeição, peculiar ao religioso,
exigi-se a vontade de adquiri-la, e o estado exterior de perfeição do bispo
pressuporia estar realizada a perfeição interior do sujeito. Ora, o padre
secular não se encontra nem no estado episcopal nem no estado religioso,
mas pela destinação oficial a exercer o culto religioso na Igreja, pela
sublimidade das funções ao serviço de Cristo, e ainda mais, pela cura de
almas, está obrigado à santidade interior, mais ainda que o religioso pela
sua profissão. Canonicamente, o padre diocesano não se acha no estado de
perfeição do religioso nem em estado de perfeição do bispo, mas no foro
íntimo e diante de Deus, nada lhe falta para possuir a perfeição dos dois
estados, a do religioso e a do bispo.

Não é possível esboçar em poucas páginas a espiritualidade vivida e


ensinada pelo Cardeal Désiré Mercier, mas é fácil acenar aos seus pontos
capitais, encontráveis numa obra singela, mas profunda e calorosa, como
as conferências publicadas sob o título de “Aos meus seminaristas”(8).

Laveille assere que o livro surgiu das conferências dadas aos seminaristas
e aos alunos do seminário Leão XIII. Essas palestras não revestem o estilo
dos cursos ministrados na Universidade, mas seguem o modelo dos
escritos ascéticos dos Santos Padres da Igreja Primitiva, lidos, meditados,
e assimilados por Mercier. A obra serviu para a formação espiritual dos
seminaristas belgas e, também, para os de muitas outras dioceses pelo
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mundo afora. Ela veio a ser traduzida e publicada no Brasil em 1928 (9).
Mercier pretendia ensinar aos jovens, mal saídos do século, o segredo do
seu futuro e frutuoso apostolado. “O grande meio de transformação,
aconselhado por ele, diz Laveille, é a oração. Falava por experiência
própria pois, cada manhã, passava uma hora inteira em colóquio íntimo
com Jesus no Santíssimo Sacramento”.

No tempo do Cardeal Mercier não havia televisão; portanto, não havia a


dissipação, a barulheira, o ruído infernal que tanto atezana as famílias, de
dia e de noite. Ora, ninguém pode rezar ou fazer leitura espiritual e
meditação com a televisão ligada, e com os estrondos maléficos de
conjuntos vocalistas ou bandas de rock, que atormentam o homem
contemporâneo e o impedem de ler, refletir e rezar. Como diz um teólogo
alemão, o demônio ama o barulho e, por isso, o patrocina e promove no
mundo atual em doses cavalares, um mundo mais rumoroso que em
qualquer época passada. Mercier mostra que a vida do cristão exige
recolhimento e silêncio, e que este é necessário para se progredir no
conhecimento de Deus e de Jesus Cristo. Ele reconhece a necessidade de
distrações sadias, mas observa que há tempo para tudo, e sem o
recolhimento da alma não se pode ser feliz.

A Segunda Conferência (1907), Recolhimento e Silêncio, e a Terceira


Conferência, O Recolhimento e o Silêncio do ponto de vista moral,
possuem alta relevância pedagógica e ascética. Nesta última conferência
ele mostra a inclinação natural do homem para à dissipação, e a urgência
de combatê-la para o cristão, mormente para um seminarista ou um
religioso. “A leviandade do caráter, ensina Mercier, é a conseqüência
inevitável da dissipação, assim como a gravidade ou madureza do juízo é
o fruto da reflexão”. A virilidade exige o domínio dos sentidos exteriores,
da imaginação e dos sentimentos. Quem tem juízo dissipado, comete o
pecado da língua. Por isso, cumpre ser reservado no falar, fugir da
murmuração e da impaciência. Quantas ofensas à caridade resultam da
leviandade no falar. Há pessoas que em tudo buscam o lado ridículo,
picante ou grotesco, e gostam de parecer espirituosas à custa de zombarias
e humilhações de colegas. Não se deve fazer rir aos outros sempre e a
propósito de tudo. Evitem-se o epigrama e os motejos irônicos, nem se
alimente a tentação do êxito brilhante nas conversas.

Na Quinta Conferência, Colóquios com Deus, Mercier atinge o acme de


sua doutrina espiritual e da sua exposição aos seminaristas. “Sim, diz ele
no início, o Senhor nos fala ao coração, e se mais vezes O não ouvimos, é
porque nos recusamos a manter, no recolhimento do silêncio, o coração
atende unicamente a Ele”. Deus nos fala, prossegue, pelas criaturas, pelos
acontecimentos, pela Sagrada Escritura, e “fala-nos nosso divino Jesus por
seus exemplos e por sua vida”. A Palavra de Deus atua suave e
progressivamente, e nem sempre a captamos distintamente. É preciso
aprender a degustar a palavra divina, evitando a meditação puramente
intelectiva, e fazendo-a como palestra cordial da alma com Jesus Cristo, o
Filho de Deus vivo; como um colóquio da alma com Deus.

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A oração não deve ser feita num só momento do dia, mas deve ser
contínua, e deve consistir, sobretudo, em ouvir a Deus mais do que em
Lhe falar. Ela possui uma influência santificadora incomparável e, embora
a sua importância, o exame de consciência não se confunde com a oração.

Muitas almas eleitas queixam-se da falta de lídimos diretores espirituais,


queixa esta mais procedente hoje que no tempo de Mercier. Ora, isso não é
de admirar, pois o confessor não pode vizinhar as almas de Deus, se ele
próprio é estranho aos segredos da vida interior, só cuida de obras
exteriores, e é avesso à oração. Esta visa a estabelecer a alma no estado de
união com Deus. Ainda que devamos permanecer incessantemente no
estado de oração, cumpre reservar uma hora de recolhimento especial no
começo do dia. A oração deve principiar por um ato de amor de Deus, e
prosseguir com a atenção à voz de Deus, e as moções da graça divina. Ela
deve ter por objeto, principalmente, a pessoa de Jesus Cristo, o Homem-
Deus. Bem feita, a oração ajuda-nos a emendar a vida, a corrigir os
defeitos, a unir-nos a Deus. Só por ela poderemos manter vivo em nós o
seu amor. Alunos da escola de Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos visitá-
lo freqüentemente no tabernáculo, e disso Mercier foi um paradigma
durante a vida inteira. Ele era homem de oração, de devoção eucarística e
de mortificação constante.

Por fim, outro pico saliente do livro, Aos meus seminaristas, é a sexta
conferência sobre a paz da alma. O homem pode ser feliz, afirma Mercier,
contanto que triunfe sobre as paixões. Quem satisfaz a paixão pecaminosa,
pode momentaneamente fazer orelhas moucas aos protestos da
consciência, mas esta não cessa de lhe denunciar os pecados e os vícios, e
o pecador vive, no fundo, insatisfeito e triste. “Não há paz estável,
assegura o Cardeal, senão no triunfo que a vontade alcança sobre os
apetites e repugnâncias do egoísmo”. É preciso, antes de tudo, renunciar
ao “velho homem”, aos vícios empedernidos, valorizar e adquirir as
virtudes da abnegação, do desapego e da paciência. Não pode haver vida
cristã sem a prática da mortificação. O triunfo sobre as paixões não ocorre
sem grandes e contínuas lutas e dores. No combate incessante entre o
espírito e a carne, no ataque diuturno e estrênuo às três concupiscências, o
prêmio da vitória é a paz interior.

Como afiança Mercier no epílogo do livro: “Sede austeros de costumes.


Na proporção em que domardes vossas paixões, triunfará vossa livre
vontade, assegurareis a eficácia da graça e alcançareis a serenidade do
espírito. “Enfim, não separeis jamais em vós estes dois sentimentos, em
que se compendiam as aspirações à santidade: humilde desconfiança de
vós mesmos e total abandono de confiança filial n’Aquele a que temos o
direito e a alegria de chamar Nosso Pai, Pater Noster”.

Eis num relance, aspectos capitais da doutrina espiritual de um verdadeiro


mestre!

Notas

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1. Cuarenta homilias sobre los Evangelios, in Obras de San Gregorio


Magno. Traducción castellana por Paulino Gallardo. Madrid, Biblioteca
de Autores Cristianos, 1958.

2. Mgr. Laveille, Le Cardinal Mercier, Archevêque de Malines (1851-


1926). Nouvelle Édition Revue et augmentés. Paris, Éditions Spes, 1929,
245 págs.

3. Laveille, ibid. pág. 21.

4. Ib., pág. 215.

5. Cardinal D.-J. Mercier, Retraite Pastorale. Louvain (Belgique), 1926,


372 págs. Em adendo, a Exortação de São Pio X, dirigida ao clero
católico, por ocasião do seu jubileu sacerdotal (4-VIII-1908).

6. D.J. Cardinal Mercier, La Vie Intérieure. Appel aux âmes sacerdotales.


Retraite prênchée à ses Prêtres. Louvain (Belgique), 1950, 599 págs.

7. Mercier, La Vie Intérieure. Quatrième Entretien: Oui ou non, sommes-


nous des religieux? – pág. 175. Résumé et conclusions, pág. 262.

8. Cardinal D.-J. Mercier, A mes Séminaristes. 13 me. Edition. Louvain


(Belgique). Depositaire Général: Em. Warny, 1926, 263 págs.

9. Cardeal D. –J. Mercier, Aos meus Seminaristas. Tradução portuguesa


de J.B. Cavalcante e A. A. de Siqueira, do Seminário Provincial de São
Paulo, 1928, 196 págs.

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