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Psicologia do Trabalho

Material Teórico
Psicologia Aplicada às Organizações

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Gisele L. Fernandes

Revisão Textual:
Profa. Ms. Sandra Regina F. Moreira
Psicologia Aplicada às Organizações

• Introdução
• Da Psicologia Industrial à Psicologia Organizacional
• Da Psicologia Organizacional à Psicologia do Trabalho
• Psicologia do Trabalho

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Distinguir as diferentes fases da psicologia aplicada às organizações:
industrial, organizacional e do trabalho.
· Pretende-se ainda que o estudante possa identificar contribuições
de estudos e experimentos, tais como os de Hawthorne e das minas
de Haighmoore, generalizando tal habilidade para outras pesquisas
com as quais vier a ter contato futuramente.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Psicologia Aplicada às Organizações

Introdução
Os conceitos de psicologia passaram a integrar a administração de recursos
humanos entre o final do século XIX e início do século XX, quando a gestão de
pessoas começava a se desvincular de um modelo puramente burocrático, e passava
a atentar-se às questões relacionadas à individualidade do ser humano.

Embora não exista consenso entre os estudiosos da área acerca da evolução da


psicologia aplicada às organizações, no que se refere aos diferentes momentos e
formas de atuação, ou mesmo às nomenclaturas dessas, é relativamente comum
encontrarmos a história da psicologia dividida em três fases. A primeira fase, mais
conhecida como Psicologia Industrial, a segunda, denominada Psicologia Organi-
zacional, e a fase terceira, a atual, intitulada Psicologia do Trabalho.

Cada um desses momentos da psicologia nas organizações traz características


bastante peculiares e conectadas à história da própria gestão de pessoas, como
veremos a seguir.

Da Psicologia Industrial à
Psicologia Organizacional
Com atuação voltada inicialmente para as necessidades da organização, a apli-
cação dos conhecimentos da Psicologia, na época conhecida como Psicologia In-
dustrial, buscou por meio da compreensão do ser humano, formas de aperfeiçoar
a produção e, consequentemente, aumentar os lucros.

“Psychology and industrial efficiency”, de Hugo Müsterberg, foi primeiro livro de Psicologia
Explor

aplicado às organizações. A obra abordava a questão da produtividade versus a entrega de


esforços pelo trabalhador.

Essa primeira fase da psicologia durou cerca de meio século. Entre as décadas
de 1920 e 1970, a Psicologia Industrial, fazendo uso da psicometria, voltava
sua atuação especialmente aos processos de seleção de pessoal e à avaliação
de desempenho dos funcionários. A aplicação dos conhecimentos da psicologia
ao ambiente organizacional se justificava na tentativa de, por meio de estudos e
experimentos, compreender, explicar e otimizar a produtividade nas organizações.

Um famoso estudo da década de 1920, e que exemplifica bem o objetivo de


atuação de psicólogos no período, é o experimento denominado Hawthorne.
Entretanto, como veremos a seguir, ainda que a experiência realizada entre as
décadas de 1920 a 1930, tivesse como objetivo estudar aspectos relacionados à
produtividade, turnover, efeito das condições de trabalho, entre outros fatores,

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seus resultados surpreenderam aos pesquisadores, contribuindo para uma nova
visão da aplicação da psicologia no ambiente organizacional.

Turnover, termo em inglês cujo significado na língua portuguesa pode ser rotatividade,
Explor

movimento, volume de negócios, entre outras possíveis traduções. É utilizado na área de


gestão de pessoas como conceito para a entrada e saída de funcionários em um determinado
período de tempo. Aumento do turnover em algumas empresas e/ou departamento dessas,
ou seja, alta rotatividade de funcionários, pode indicar a existência de algum problema na
gestão de pessoas.

A pesquisa, coordenada pelo psicólogo e sociólogo Elton Mayo e desenvolvida


pelo National Research Council, foi realizada na Western Electric Company,
uma fábrica localizada em Chicago, nos Estados
Unidos, mais especificamente no bairro de Ha-
wthorne, decorrendo daí o nome do experimento.

O experimento, que ocorreu entre os anos de


1924 até 1932, foi realizado em quatro etapas.

A primeira etapa teve como objetivo avaliar o


efeito da iluminação sobre o rendimento dos fun-
cionários. Os pesquisadores dividiram as operárias
em dois grupos: grupo controle e grupo experi-
mental. Os dois grupos realizavam atividades idên-
ticas em condições também idênticas, exceto pela
iluminação. Enquanto no grupo controle a ilumina-
ção se mantinha estável, no grupo experimental a
Figura 1
intensidade da luz variava constantemente. Fonte: Wikimedia Commons

Os resultados da primeira fase revelaram aumento da produção em ambos os


grupos. A conclusão a que os pesquisadores chegaram foi de que fatores psico-
lógicos interferiram no desempenho das operárias. A atenção que as operárias
recebiam por parte dos avaliadores influenciou mais o rendimento dessas do que a
variação da luz.

Como de certa forma os resultados da primeira fase da pesquisa foram frustrados


em função do Efeito Hawthorne, os pesquisadores iniciaram, em 1927, a segunda
fase do estudo.

Nessa nova fase também se trabalhou com dois grupos de operárias: o


experimental, constituído por seis funcionárias, e o grupo controle, formado por
todas as demais.

As tarefas e os equipamentos eram idênticos para os dois grupos, excetuando-


se o fato de o grupo experimental trabalhar separado dos demais e ser submetido

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UNIDADE Psicologia Aplicada às Organizações

a algumas intervenções. Dentre as intervenções pelas quais o grupo experimental


foi submetido estava, por exemplo, maior número de intervalos para descanso,
intervalos mais longos e redução da jornada de trabalho. Em todas as intervenções
houve aumentos significativos da produção por parte do grupo experimental. Então,
uma nova intervenção com duração de 12 semanas foi aplicada. Nessa, mediante
aceitação das participantes do grupo experimental, todos os benefícios foram
retirados. Para surpresa dos pesquisadores houve novo aumento da produção, e,
nesse, ultrapassaram os índices de produção até então alcançados.

Novamente a conclusão dos pesquisadores foi que, embora importantes, as


condições de trabalho, não tiveram tanta influência nos resultados da produção.
Fatores psicológicos e sociais, tais como: supervisão mais branda, valorização e
realização pessoal.

Você Sabia? Importante!

O aumento da produção na Western Electric Company durante os estudos ficou conheci-


do como Efeito Hawthorne. Percebeu-se que os operárias se sentiam mais valorizadas
pelo fato de terem sido escolhidas para participar de um experimento e serem ouvidas
pelos pesquisadores.

A pesquisa seguiu por mais duas fases.


A terceira, iniciada em 1928, consistiu de O Efeito Hawthorne indicou o
um programa de entrevistas. Até o ano de predomínio do fator psicológico
sobre o fator fisiológico
1930 foram entrevistadas mais de 21.000
operárias. As entrevistadas revelaram impor-
tantes aspectos do grupo de operárias, entre eles a lealdade dessas como forma
de proteção contra as ameaças dos superiores da organização. A quarta e última
fase, também constituída por dois grupos – experimental e controle –, foi realizada
entre o final de 1931 e o primeiro semestre de 1932, totalizando seis meses de
duração. Com o objetivo de analisar a organização informal das operárias, o grupo
experimental, que se manteve isolado do controle, teve o pagamento baseado na
produção do grupo e não mais na produção individual. Observou-se que o grupo
agia de forma a garantir a produção que fosse ideal para todas, pressionando ope-
rárias que, por ventura, pudessem prejudicar as demais.

A experiência de Hawthorne foi muito importante para a compreensão de


como aspectos psicológicos, tais como a integração social, a valorização pessoal e
aspectos emocionais, interferem no desempenho dos funcionários. Essa e outras
pesquisas e intervenções, em fatores psicológicos, permitiram que essa ciência
tomasse forma e conquistasse lugar nas organizações.

Aos poucos, e a partir da segunda metade do século XX, a atuação da psicologia


no ambiente de trabalho deixava de ter como objetivo apenas os lucros e a
produtividade e assumia interesse também por questões mais voltadas à qualidade
de vida do trabalhador.

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Da Psicologia Organizacional
à Psicologia do Trabalho
Nessa nova fase, questões tradicionais como produtividade, seleção e treinamento
de pessoas, além da análise de tarefas e das condições de trabalho continuaram
fazendo parte da atuação do psicólogo organizacional, uma vez que não houve
ruptura com a proposta da psicologia industrial, mas sim a ampliação de seu
foco de atuação. Às questões iniciais foram somados interesses relacionados ao
comportamento em grupo, a influência da liderança e da comunicação, além de
outras variáveis alheias ao ambiente organizacional, tal como a guerra, por exemplo.
Ou seja, em plena fase pós-guerra, a aplicação dos conhecimentos da psicologia
no âmbito do trabalho passou a ser mais extensa; às questões relacionadas à
produtividade foram somados aspectos relacionados às estruturas organizacionais.

Um estudo realizado a partir da década de 1940 evidenciou predominância


de aspectos psicológicos sobre a mecanização e implementação tecnológica, evi-
denciando a importância das contribuições da psicologia organizacional. O estudo
realizado nas minas de carvão de Haighmoore, em Londres, Inglaterra, confirmou
como questões relacionadas à estrutura organizacional influenciam o comporta-
mento humano no trabalho.

Antes das guerras, o trabalho nas minas


de carvão e aço na Europa era conduzido O estudo de Haighmoore evidenciou
a predominância de aspectos
pelos próprios mineiros, que trabalhavam
psicológicos sobre a mecanização e
de forma interdependente em pequenos implementação tecnológica.
grupos, sem qualquer supervisão. A partir
do pós-guerra, as atividades nas minas passaram a ser divididas em etapas, e os
mineiros atuavam em tarefas especializadas, em diferentes níveis de habilidades e
com remuneração diferenciada.

Investimentos constantes com a melhoria da produtividade nas minas se davam,


especialmente, por essas serem fundamentais para a recuperação dos países no
pós-guerra, uma vez que eram fornecedoras de energia para a indústria. Por esse
motivo, novas técnicas de gestão passaram a ser implantadas. As minas deixaram
o modo tradicional, e, informal de trabalho, e passaram a ser administradas,
predominantemente, pelo modelo mecanicista vigente.

Todavia, ao contrário do que se esperava, a mecanização não resultou em aumen-


to da produtividade, mas sim em taxas de turnover e absenteísmos mais elevadas.

O modelo mecanicista de Taylor objetivava garantir a melhor relação custo/benefício na


Explor

produção, garantindo maior produção em menor tempo. Para tanto, a Administração Cientí-
fica implantou a racionalização do trabalho, buscando eliminar desperdício de esforço e
movimentos inúteis, além de racionalizar a seleção e a adaptação do operário ao trabalho.

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UNIDADE Psicologia Aplicada às Organizações

Por outro lado, nas minas de Haighmoore, em Londres, Inglaterra, o sistema


de trabalho tradicional havia sido mantido. Diferente do adotado nas demais minas
de carvão, em Haighmoore não havia sido implantada a mecanização das tarefas.
Ainda que tenha havido mecanização dessas minas, as mudanças se limitaram mais
aos instrumentos de trabalho que ao comportamento do trabalhador, já que tanto
o sindicato como os mineiros mantiveram, com algumas adaptações, o sistema
tradicional de trabalho. Os pequenos grupos de mineiros, que atuavam de forma
autônoma, ou seja, sem supervisão direta e com capacidade de decisão sobre a
forma de organizar seu trabalho, foram mantidos em Haighmoore.

Além disso, a diferença entre as minas de Haighmoore e as demais não se li-


mitava apenas ao modo de trabalho, mas também aos resultados. Enquanto em
outras minas a produtividade havia diminuído e o turnover e absenteísmo aumen-
tado, em Haighmoore se observava alta produtividade, comprometimento, além
da diminuição de absenteísmo.

Contratados pelo governo Inglês, pesquisadores do Instituto Tavistock, liderados


por Eric Lansdow Trist, passaram então a investigar a forma de trabalho dos mine-
radores de Haighmoore. As observações feitas nas minas indicaram dois aspectos
de caráter geral, os quais contribuíram fortemente para a formulação dos pressu-
postos de um novo paradigma pretendido: as relações informais e a comunicação
incentivada, o relacionamento interpessoal entre os colaboradores, a cooperação
existente entre eles, bem como a diversidade das atividades realizadas caracteriza-
vam o sistema de trabalho na Haighmoore.

Graduado em Psicologia pela Universidade de Yale, Trist foi um dos responsáveis pela
Explor

fundação do Instituto Tavistock de Pesquisa Social. Instituição sem fins lucrativos, localizada
em Londres, com o objetivo de pesquisar acerca do comportamento organizacional e do
comportamento em grupo.
Muita polêmica certa o Instituto Tavistock – https://goo.gl/RPhrb, cujas pesquisas são as-
sociadas, por alguns, ao controle de grandes massas.

O estudo evidenciou que apenas a sistematização da forma de trabalho não


era suficiente para garantir aumento da produtividade, era necessário considerar a
estrutura organizacional como um todo, incluindo o comportamento organizacional,
aspectos esses defendidos pela nova fase da psicologia aplicada às organizações: a
Psicologia Organizacional.

Os resultados dos estudos do Instituto Tavistock de Pesquisa Social, especialmente


nas minas de carvão, deram origem ao que se denominou Abordagem Sociotécnica,
cujos princípios, sistematizados por Trist (1981), são apresentados no Quadro 1:

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Quadro 1 – Princípios da Abordagem Sociotécnica

O sistema de trabalho passa a ser visto como o conjunto de atividades que


1. Sistema de Trabalho compõem um todo funcional, e não como uma decomposição em simples tarefas,
tal como propunha o taylorismo.

O foco passa a ser o trabalho em grupo, o que resulta na diminuição de níveis


2. Grupos de Trabalho hierárquicos e favorecimento da participação de todos.

A autonomia de regulação do próprio sistema de trabalho em detrimento ao


3. Autorregulação comando de uma supervisão. A supervisão, por sua vez, passa a atuar como apoio
aos grupos, acompanhando o rendimento desses.

A variedade de funções permite o desenvolvimento de múltiplas habilidades


4. Variedade de Funções e aumento do repertório, uma vez que o trabalhador passa a exercer funções
diversificadas.

Iniciativa e autonomia do trabalhador se sobressaem às regras preestabelecidas,


5. Liberdade de escolha possibilitando a esses encontrar soluções para os problemas de seu setor.

A máquina completa o homem de forma a ampliar suas funções. Ou seja, o


6. Complemento e não extensão homem não é mais visto como extensão da máquina, mas essa é que o serve.

Antítese do modelo burocrático, o princípio da diversidade valoriza maior


7. Diversidade flexibilidade técnico-produtiva, permitindo ao funcionário diversidade de funções
e possibilidades de mudança do modus operanti.

Fonte: adaptado de Trist (1981, p. 9)

Desse modo, cresciam as críticas ao sistema mecanicista, uma vez que o modelo
contribuía para o empobrecimento das tarefas, e, consequentemente, do trabalho.
O clássico Tempos Modernos, filme de Charles Chaplin, é um símbolo da crítica à
situação dos operários após a Revolução Industrial. O filme retrata a mecanização
do trabalho, o operário visto como extensão da máquina, a falta de liberdade no
desempenho das tarefas, entre outros aspectos que, posteriormente, vieram a
incorporar o que defendiam psicólogos organizacionais e sociólogos.

Uma crítica inteligente e bem-humorada, o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin,


Explor

retrata a história de uma linha de montagem que passa a utilizar uma máquina que evita a
hora do almoço: https://youtu.be/CozWvOb3A6E

Aos poucos, a psicologia foi alargando seu campo de abrangência, passan-


do a atuar de forma mais efetiva na compreensão da estrutura organizacional
como um todos e, à medida que oferecia ferramentas que otimizavam o de-
sempenho humano nas organizações, essa ciência ganhava força no ambiente
organizacional.

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UNIDADE Psicologia Aplicada às Organizações

Psicologia do Trabalho
No atual contexto, o foco de ação da psicologia não se restringe à tarefa a ser
executada pelo homem, mas ao contexto da organização como um todo. Mesmo
porque, o atual cenário organizacional é muito mais dinâmico e volátil que o do
início do século passado. Ainda em meados dos anos 1990, Bridges já afirmava
que os processos de reestruturação e a extinção de cargos e/ou níveis hierárquicos
nas empresas obrigava àqueles que nelas permaneciam a assumir novas responsa-
bilidades. E isso é exatamente o que temos visto nos dias atuais.

Nas palavras de Santos, no final da década de 1990, “o ‘downsizing’ está dis-


solvendo os perfis dos empregos convencionais, tendo em vista que estes tendem
a inibir a flexibilidade e entravar os processos de mudança organizacionais” (1999,
p. 38), já que, conforme descreve Bridges “os funcionários que ficam, tendem a
pegar os pedaços deixados pelos que saem, tornando as descrições de cargo cada
vez menos eficientes e sem sentido” (1995, p. 29).

Downsizing: Termo em inglês cujo significado na língua portuguesa pode ser achatamento
Explor

ou redução do trabalho. É utilizado na área de gestão de pessoas como conceito para racion-
alização de níveis hierárquicos, a partir da eliminação ou revisão de processos de trabalho,
a fim de facilitar a tomada de decisão, tornando as organizações mais enxutas e eficientes.

Além das alterações nas descrições de cargos e funções, a relação homem-


-trabalho passou por outras modificações, uma delas relacionada ao próprio local
de trabalho, que muitas vezes não pode ser dimensionado ao espaço físico. Sigmar
Malvezzi afirma que “dentro da empresa sem fronteiras, da carreira sem fronteiras
e do emprego ‘just-in-time’ o trabalhador torna-se igualmente, um indivíduo glo-
balizado. Vive-se uma transição radical” (MALVEZZI, 2000).

Just-in-time: Termo em inglês que tem como significado na língua portuguesa as ex-
Explor

pressões “na hora certa” ou “no momento certo”. O sistema visa otimizar a produção de for-
ma que qualquer produção, transporte, reposição de matéria prima, entre outros aspectos
relacionados ao negócio sejam realizados na hora certa, sem desperdícios.

Embora no início dos anos 2000, Malvezzi afirmasse que era cedo responder
como estava emergindo o trabalho na, então, nova sociedade globalizada da época,
sabemos hoje que ele estava correto ao prognosticar um cenário de “trabalho autôno-
mo sob um forte imperialismo tecnológico e uma condição de alta competitividade”.

Nesse novo contexto organizacional, compreender as influências da sociedade


moderna e globalizada, da constante inserção de novas tecnologias, da exigência por
competitividade, entre outras tantas variáveis relacionadas ao ambiente de trabalho,
além de identificar como esses aspectos interferem no desempenho e na saúde dos
trabalhadores, passa a ser papel fundamental da psicologia aplicada às organizações.

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O foco da psicologia passa a ser a compreensão do homem como ser completo,
e não apenas como trabalhador. A qualidade de vida, o bem-estar físico, psíquico
e social são focos de atuação da psicologia do trabalho. Ou seja, o papel da
psicologia do trabalho passa a ser essencialmente a busca pela saúde do trabalhador,
entendendo como saúde “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e
não somente ausência de doenças e enfermidades”, tal como define a Organização
Mundial de Saúde (1946).

Um estudo realizado no ano 2011, acerca das publicações científicas nacionais


na área de psicologia organizacional ocorridas no período de 1998 a 2009,
revelou que, entre 16 temáticas identificadas nos diversos artigos, quase um quarto
abordou o tema “trabalho e saúde” (22,54% do total de publicações). Somadas
a primeira e segunda maiores temáticas estudadas, respectivamente “trabalho e
saúde” e “significado do trabalho: imagem profissional/subjetividade (19,72%)”,
totalizam quase metade do total de estudos publicados no período (42,26), o que
evidencia a relevância dos temas na atual fase da psicologia aplicada às organizações
(CAMPOS et al., 2011).

A Tabela 1 apresenta alguns dos principais temas encontrados pelas autoras na


pesquisa realizada.

Tabela 1 – Distribuição temática de estudos de psicologia aplicada às organizações no período de 1998 a 2009
Temáticas Frequência Porcentagem
Trabalho e saúde 48 22,54%
Significado do trabalho/imagem
42 19,72%
profissional/subjetividade
Relações no trabalho/liderança/poder 29 13,62%
Condições de trabalho 24 11,27%
Modelo teórico/modelo RH 21 9,86%
Desemprego 10 4,69%
Outros* 39 18,30%
Total 213 100%
* Outros 10 temas foram encontrados no levantamento, totalizando 16 temáticas. Fonte: adaptado de CAMPOS et al. (2011).

Campos e as demais autoras do estudo discutem o resultado com a fase atual


da relação homem-trabalho, que se relaciona muito mais às questões de qualidade
de vida que à produtividade. Mesmo a terceira temática – “relações no trabalho/
liderança/poder” – e a quarta – “condições de trabalho” – são discutidas pelas
autoras como possivelmente influenciadas pelos processos de globalização e
reestruturação produtivas, que “obrigam as organizações a repensarem a forma
de liderança adotada até então e sua funcionalidade frente às novas relações de
trabalho que se impuseram”, além de o fato de “o trabalhador de hoje estar cada
dia mais consciente de seus direitos e preocupado em aliar suas metas pessoais às
questões profissionais”.

Enfim, é evidente a transformação dos interesses de investigação e intervenção


da psicologia aplicada às organizações ao longo dos anos. Entretanto, ainda que

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UNIDADE Psicologia Aplicada às Organizações

o foco da psicologia do trabalho não tenha mais como predomínio o foco na


produtividade, é impossível não considerar que cada vez mais se torna evidente a
importância do homem, não mais como extensão da máquina ou aquele que tem
a máquina como sua extensão, mas como ser pensante, e parte fundamental do
capital intelectual da organização.

O capital intelectual de uma organização é constituído pelo capital estrutural, pelo capital
Explor

de marca e pelo capital humano. O primeiro é constituído pela cultura organizacional, além
das formas tradicionais de armazenamento do conhecimento, tais como: manuais, patentes
etc. O segundo refere-se ao valor social da organização, tal como sua reputação no mercado
em que atua. O terceiro, o capital humano, refere-se ao conhecimento do profissional, é o
bem desse e não da empresa, mas compõe o capital intelectual da empresa, enquanto esse
estiver a serviço da organização.

Na busca por competências essenciais, tais como afirmam Phahalad e Hamel


(1990), “a tarefa crítica para a gestão é criar uma organização capaz de infundir
produtos com funcionalidades irresistíveis ou, melhor ainda, a criação de produtos que
os clientes precisam, mas ainda nem sequer imaginadas”, e nenhuma organização
conseguirá isso sem investir no capital humano. É nesse desenvolvimento que a
psicologia tem muito para contribuir.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Experiência de Hawthorne (Revolução Industrial)
PELUCIO, Be. Publicado em 22 de abril de 2015.
https://youtu.be/HXOGOO_2-Gk
Efeito Hawthorne
DAMY, Ana.
https://youtu.be/0BLk5IyRttE

Leitura
Psicologia Organizacional e do Trabalho – Retrato da Produção Científica na Última Década
CAMPOS, Keli Cristina de Lara et al. Psicologia organizacional e do trabalho - retrato
da produção científica na última década. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v.
31, n. 4, p. 702-717, 2011.
https://goo.gl/psJaVm
Abordagem Sócio-Técnica: Uma Rápida Avaliação
GARCIA, R. M. Abordagem sócio-técnica: uma rápida avaliação. Revista de Admi-
nistração de Empresas, São Paulo, v. 20, n. 3, p.71-77, set., 1980.
https://goo.gl/4IN8NI
Psicologia e Profissão: Neurose Profissional e a Atuação do Psicólogo Organizacional Frente à Questão
SANTOS, Ludmilla Cristine et al. Psicologia e profissão: neurose profissional e a atu-
ação do psicólogo organizacional frente à questão. Psicologia: Ciência e Profissão,
Brasília, v. 30, n. 2, p. 248-261, 2010.
https://goo.gl/wr0iv5

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UNIDADE Psicologia Aplicada às Organizações

Referências
BRIDGES, William. Job Shift: um mundo sem empregos. São Paulo: MB
Books, 1995.

CAMPOS, Keli Cristina de Lara et al. Psicologia organizacional e do trabalho -


retrato da produção científica na última década. Psicologia: Ciência e Profissão,
Brasília, v. 31, n. 4, p. 702-717, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932011000400004&lng=en&nrm
=iso. Acesso: 22/03/2017.

FISCHER, André Luiz. Um resgate conceitual e histórico dos modelos de gestão


de pessoas. In: FLEURY, Maria Tereza Leme Fleury (org.). As pessoas na
organização. São Paulo: Gente, 2002.

LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina. Comportamento organizacional: conceitos e


práticas. São Paulo: Saraiva, 2006.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Constituição da Organização


Mundial da Saúde (OMS/WHO) – 1946. Disponível em: http://www.
direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-
da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html.
Acesso: 22/03/2017.

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Harvard Business Review. May-June, 1990. Disponível em: https://hbr.
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ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. Trad. Reynaldo Marco-


des. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

SAMPAIO, Jáder dos Reis. Psicologia do Trabalho em três fases. In: GOULART,
Íris Barbosa; SAMPAIO, Jáder dos Reis. Psicologia do trabalho e gestão de re-
cursos humanos: estudos contemporâneos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

MALVEZZI, Sigmar. Psicologia Organizacional: da administração científica à


globalização uma história de desafios. São Paulo: USP, 2000.

WAGNER III, John A.; HOLLENBECK, John R. Comportamento organiza-


cional: criando vantagem competitiva. Trad. Cid Knipel Moreira. São Paulo:
Saraiva, 2003.

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