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escrito por
Jóice Bruxel
Eu descobri a minha depressão quando cheguei ao fundo do poço, porque eu não tinha alguns
dos sintomas mais comuns, como por exemplo: humor depressivo, desânimo, ausência de
sentido na vida, dificuldade de concentração. No meu caso, os sintomas predominantes eram a
irritabilidade, ansiedade, desinteresse pelas coisas que antes eu gostava e eram importantes
pra mim. Outra coisa que eu tinha muito, de uma forma muito intensa (inclusive fiz vários
exames na época), eram pontadas na cabeça. Pontadas avassaladoras, que quase me faziam
desmaiar de tão intensas.
Aos poucos, todas as cores me pareciam cinza. A alegria, a risada que eu sempre tive,
permaneciam, mas de uma forma forjada. De fora, pra fora. E não de dentro, pra fora. Faziam
parte só na aparência. Porque eu tentava fazer de conta que estava tudo bem, tentava
acreditar nisso, inclusive. Eu achava que ia passar, que era algo momentâneo. Eu segui essa
linha até que eu não consegui mais suportar e desmoronei.
Eu vivia irritada, dava uma proporção gigante para coisas que antes, eu não daria importância
alguma. Tudo me afetava profundamente. Mas eu achava que era por causa da adolescência,
porque eu sempre ouvia falar que adolescentes eram “aborrecentes”, então, eu achava que até
aí, estava tudo normal.
Eu cheguei ao fundo do poço e teve uma hora em que eu precisei de ajuda.
Tive a sorte de ter pais amorosos, acolhedores e carinhosos que me acolheram e me
compreenderam, que validaram os meus sentimentos, e procuraram ajuda especializada. Sem
cobranças, sem preconceitos, sem imposições.
Porque pra quem via de fora, eu não tinha motivos. Que audácia seria uma menina como eu,
que sempre teve tudo, sempre teve amor, cuidado, amparo, saúde, ter depressão, certo?
Errado. Para ter depressão basta ser humano.
Obviamente os meus sofrimentos não eram tão terríveis quanto muitos sofrimentos alheios,
mas eram meus, e eu não consegui lidar com eles, na época.
O que pra mim foi muito doloroso, talvez você “tirasse de letra”. Assim como o que pode causar
extremo sofrimento pra você, talvez, nem me afete. Tenha sempre em mente:
Não há como mensurar o sofrimento alheio!
Essa é outra fala que replicam por aí… “Há tanta gente pior que você, você tem tudo, deveria
agradecer pela vida que tem”. Blá, blá, blá.
Eu sempre fui grata, e sou mais grata a cada dia que passa.
Depressão também não tem a ver com gratidão
Existe possibilidade de melhora!
Ah, você quer saber como eu estou hoje? Eu estou bem, obrigada. Tão bem que eu dedico a
minha vida a ajudar as pessoas a enfrentarem os seus obstáculos.
Obviamente eu tenho dias tristes, mas tristeza é diferente de depressão. A tristeza é um
sentimento natural e legítimo, além do mais, só conhecemos a alegria por causa da tristeza.
Tristeza não é o problema, o problema é paralisarmos nela, permanecermos tristes.
Para sermos inteiros, precisamos nos permitir doer.
Aprender a lidar com os nossos sentimentos é sadio, não reprimir o que você sente e ser fiel ao
que você sente é importante.
Independente do diagnóstico, somos todos seres humanos, necessitados de amor, de
acolhimento, de carinho e empatia.
Há possibilidade de melhora. E muita possibilidade. O primeiro passo é buscar ajuda. Ignorar o
que te falam, deixar pra lá os “achismos” alheios. Nós não damos conta de tudo, o tempo todo.
Ser forte não é dar conta de tudo, ser forte é conhecer os nossos limites. E todos nós temos.
Não ultrapasse os seus limites. Peça ajuda antes!
Existem pessoas que podem te ajudar, você não precisa enfrentar isso sozinho!
Uma pessoa com depressão não precisa de motivação, ela
precisa de acolhimento e empatia!
NÃO adianta falar pra uma pessoa com depressão nenhuma das frases a seguir:
“você precisa se ajudar”; “você precisa sair de casa”; “você tem que se esforçar”; “você não é
mais a mesma”; “você tem que pensar positivo”; “você precisa levantar da cama”; “você deveria
sair um pouco”. Entre tantas outras similares.
O fato é: uma pessoa com depressão não precisa de um incentivador ou motivador emocional.
Ela sabe que deveria sair de casa, deveria sair da cama, se arrumar, comer, tomar banho,
enfim, fazer as coisas como sempre fez, mas a questão é que ela não consegue! É como se
ela tivesse “amarras” invisíveis. Independe da “força de vontade”. Porque muito provavelmente
ela não tenha mais força. Aliás, você acha mesmo que alguém escolhe ficar assim?
Depressão não é legal. Não é romântico. Não é preguiça e nem algo “da moda” (como eu já
ouvi pessoas falando).
Falas como as que eu citei acima, podem empurrar a pessoa mais pra baixo do que ela já está.
Você quer fazer com que ela se sinta mais impotente frente a própria vida ou quer mesmo
ajudar? Você está preocupado com ela ou só está frustrado por ela não corresponder às
expectativas que você tem sobre ela?
Ao invés de falar isso, mesmo que as suas intenções sejam ótimas, tente praticar a empatia.
Acolha, abrace, ouça. Pergunte como ela se sente. Ouça mais do que fale. Estenda a mão.
Ofereça ajuda e tente pensar com ela alternativas de ajuda.
O que eu acho fundamental? Psicoterapia. E em alguns casos, acredito na importância do
tratamento medicamentoso, em paralelo.
CONCLUSÃO
Cada caso é um caso. Cada ser é um ser. Não meça o outro pela sua própria perspectiva e
percepção. Tente enxergá-lo através do ângulo dele mesmo. Tente se colocar no lugar do
outro. Pratique a empatia!
Para ampliar a sua visão, sugiro também a leitura do meu artigo sobre suicídio.
Jóice Bruxel
Psicóloga CRP-08/25350
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