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MARINGA MANAGEMENT

ISSN 1807-6467

CULTURA ORGANIZACIONAL E SEUS ELEMENTOS:


PROPOSIÇÕES A PARTIR DAS MELHORES EMPRESAS PARA
SE TRABALHAR DE 2011

RESUMO

O artigo tem como objetivo apresentar algumas proposições sobre os


elementos da cultura organizacional no atual mundo do trabalho.
Para atingir tal objetivo foi utilizado por base de pesquisa os
elementos tratados pelo Guia Você S/A-Exame – As melhores
Empresas para Você Trabalhar, do ano de 2011. A pesquisa se
caracteriza como exploratória, descritiva, de natureza qualitativa, e a Patrícia Rodrigues da Silva
análise realizada a partir de dados secundários. As conclusões Faculdade Maringá
apontaram que essas empresas têm sua cultura fortemente definida UniCesumar
e valores organizacionais fortemente enraizados que representam
sua forma de ser e atuar, bem como regem o comportamento de
seus funcionários.

Palavras-chave: Cultura organizacional. Elementos da cultura.


Organizações.

e-mail:
Patriciarodrigues0905@gmail.com

Maringá Management: Revista de Ciências Empresariais, v. 10, n.2, - p. 07-23, jul./dez. 2013. 7
Cultura Organizacional e seus elementos: proposições a partir das melhores empresas para se
MARINGA MANAGEMENT trabalhar de 2011.
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Introdução de transformação social e conquistam novos


espaços no mundo do trabalho.
Atualmente, as discussões em torno das
mudanças ocorridas nas últimas décadas, sejam Na concepção de Harman e Hormann (1997), os
mudanças sociais, econômicas, tecnológicas, trabalhadores do mundo contemporâneo estão
organizacionais, dentre outras, não se findam. A em fase de transição e evolução e se
produção de textos (acadêmicos ou não) acerca caracterizam a partir de oportunidades de
do assunto se mostra vasta, principalmente adquirir novos conhecimentos, oportunidades
quando tais mudanças estão associadas ao de crescimento, autonomia e reconhecimento
impacto ou influência que exercem sobre pela execução de seu trabalho. Estas
aspectos como: o comportamento transformações fazem emergir a necessidade de
organizacional, a cultura organizacional, a reavaliação dos pressupostos anteriormente
liderança, a gestão de carreira, mas, instaurados, em busca de novas perspectivas
principalmente sobre o elemento humano nos que caracterizam um novo papel do indivíduo
ambientes organizacionais. na organização, pois, o trabalhador da
contemporaneidade, além de executar suas
Pode-se dizer que nos dias de hoje as pessoas atividades corretamente, assume
tornaram-se um ícone em destaque nos responsabilidades, toma iniciativas e monitora
ambientes de trabalho. Cada vez mais são seu próprio trabalho (HARMAN E HORMANN,
utilizadas ferramentas de gestão de pessoas, 1997).
como a pesquisa de clima organizacional, por
exemplo, para levantar as expectativas e as Para Borges (1999) a discussão acerca da
percepções dos empregados acerca da empresa aceleração e da diversidade das transformações
em que trabalham. do mundo trabalho é caracterizada pelo
surgimento de um novo paradigma que redefine
Não se espera aqui ter uma visão velada ou o lugar do trabalho na sociedade e na vida de
surreal acerca da influência exercida pelas cada indivíduo, por meio de novas formas e
organizações em seus empregados. Mas sim, relações de trabalho, que exigem envolvimento
suscitar que haja bases ideológicas nestas do trabalhador com o conteúdo do próprio
preocupações. Cada vez mais, as organizações trabalho, viabilizando a aplicação de diversas
têm procurado medidas e procedimentos que as técnicas de sua organização.
tornem mais atrativas para seus funcionários.
Novas estratégias e ferramentas são criadas e Na concepção de Antunes (2005) atualmente,
utilizadas para estabelecer novos parâmetros de delineia-se um quadro de transformações nas
acordo com as normas, valores e diretrizes da relações de trabalho. Nota-se uma ampliação da
organização, mantendo ou modificando, assim, inter-relação entre as atividades produtivas e
de acordo com seus interesses, a sua cultura improdutivas, entre as atividades fabris e de
organizacional. serviços, entre produção e conhecimento
científico, o que acentua o aumento e a
Segundo Mattoso (1994), as transformações no descoberta de novas formas de produção, que
mundo do trabalho afetaram principalmente as conduzem e formam novas tendências no
relações no interior do processo produtivo, a âmbito organizacional e social (ANTUNES, 2005).
divisão do trabalho, o mercado de trabalho, o
papel dos sindicatos, as negociações coletivas e Assevera Antunes (2005) que estas novas
a própria sociabilidade de um sistema baseado formas de produção estão relacionadas à
no trabalho. Os trabalhadores e suas transformações adjacentes do mundo do
organizações passam a desempenhar um papel trabalho, tais como a subjetividade do trabalho.

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Ademais, vive-se uma nova configuração das Complementando as acepções acerca da cultura
formas de ser e existir da sociabilidade humana, a partir da antropologia e da sociologia,
e um conjunto de tendências que em seus segundo Freitas (1991), a discussão em torno da
traços básicos configuram um quadro de cultura organizacional segue uma base de
metamorfoses, que repercute em conceitos fornecida pela Antropologia Cultural,
transformações nas relações de trabalho que, se desdobrando em diversas correntes
estabelecidas entre os indivíduos. teóricas, privilegia diferentes aspectos de uma
mesma questão.
Dessa forma, a partir dos aspectos
apresentados, evidenciam-se mudanças que Um ponto observado por Freitas (1991) e que
configuram uma nova caracterização do merece destaque, é o de que existe uma
trabalhador no mundo do trabalho e a ausência de consenso no que diz respeito à
construção de novas relações com a contribuição da Antropologia Cultural para os
organização, por meio das novas atribuições e estudos de cultura organizacional, o que
peculiaridades que lhe são exigidas. Embora dificulta um tratamento mais homogêneo à
suas atividades, ainda se identifiquem como classificação e à correspondência das linhas de
operacionais, no mundo contemporâneo o pesquisas existentes na análise cultural das
trabalho se caracteriza principalmente pelos organizações. Ademais, Freitas (1991) destaca
requisitos intelectuais exigidos do trabalhador. que as correntes antropológicas se relacionam
ainda com a Teoria Organizacional, contudo, tais
Neste contexto, parte-se do pressuposto de que aspectos não serão aqui discutidos ou
as organizações são constituídas de elementos aprofundados, pois, não é o foco principal deste
que formam a sua cultura e simbolizam um artigo.
modelo a ser seguido pelos demais empregados.
Tais considerações suscitaram o seguinte Motta e Caldas (1997) afirmam que a cultura
problema de pesquisa: quais proposições pode ser vista como a forma pela qual uma
podem ser alcançadas acerca dos elementos da comunidade satisfaz as suas necessidades
cultura organizacional no atual mundo do materiais e também as psicossociais. A cultura
trabalho? pode ser vista ainda como uma adaptação em si
mesma, já que trata também da forma em que
Cultura Organizacional uma comunidade define o seu perfil em função
da necessidade de adaptação ao meio
Segundo Motta e Caldas (1997, p. 16) “a cultura ambiente.
é um conceito antropológico e sociológico que
comporta múltiplas definições”. Assim, pode-se Schein (2001) complementa o que foi abordado
dizer que a palavra “cultura” é um conceito de por Freitas (1991) e Motta e Caldas (1997) sobre
várias acepções. as bases da cultura, apresentando além da
antropológica, uma vertente psicanalítica da
Na antropologia define-se como um estágio ou cultura organizacional. Na concepção de Schein
estado de desenvolvimento cultural de um povo (2001) a cultura organizacional pode ser
ou período, caracterizado pelo conjunto de definida como um conjunto de pressupostos
obras, instalações e objetos criados pelo homem básicos desenvolvidos por um grupo ao
desse povo ou período. Na sociologia, a cultura aprender a lidar com os problemas de
é vista como um conjunto de idéias, adaptação externa e integração interna. Esses
conhecimento, técnicas e artefatos de padrões pressupostos são considerados válidos para
de comportamento e atitudes que caracteriza serem ensinados aos novos membros como a
uma determinada sociedade (MICHAELIS, 1998).

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forma correta de perceber, pensar e sentir em conhecimento consensual sobre o significado do


relação a esses problemas. mundo, mas também pode ser vista como um
instrumento de poder e legitimação da ordem
Ainda para Schein (2001) a cultura vigente.
organizacional é percebida, expressada e
desenvolvida por intermédio de três níveis Asseveram Monteiro, Ventura e Cruz (1999) que
diferentes: no nível um estão os artefatos, que no nível das organizações é possível observar
incluem os processos e estruturas como esses sistemas simbólicos são criados e
organizacionais visíveis; no nível dois, valores legitimados por meio de procedimentos de
adotados, que representam os valores socialização (implícitos e explícitos), vivenciados
exteriorizados da cultura, ou seja, as estratégias, pelo indivíduo. Nos ambientes organizacionais
os objetivos e as filosofias; e, no nível três, estão criam-se padrões que são reproduzidos com
as premissas básicas, ou seja, as percepções, os economia de esforço e tempo, já que existe um
pensamentos, os sentimentos e tudo aquilo que compartilhar de um senso comum sobre a
compõe os pressupostos inconscientes do grupo realidade, produzindo significados (signos).
sobre como as coisas realmente são.
Dentro de tal perspectiva de reprodução de
Pode-se dizer que os níveis da cultura significados, Freitas (1997) afirma que a cultura
organizacional citados por Schein (2001), se da organização expressa, de forma sutil, um
relacionam entre si. E a partir de tal conjunto de nuanças sobrepostas que escapam
relacionamento emergem elementos que se a uma análise pragmática em relação aos
aglutinam num todo coerente e suscitam uma objetivos e ao tempo em que eles devem
forma mais “palpável” da cultura organizacional, ocorrer, tornando-se assim, um instrumento de
elementos tais como, os rituais, o clima, os poder político que permeia todas as relações
valores e os comportamentos. que se dão no seio da organização.

Ainda sobre a cultura organizacional, Fleury e Freitas (1997) ainda complementa que é a
Fischer (1991) observam que é formada pelo ausência de posse/controle por parte dos
somatório de opiniões e percepções dos indivíduos, que contribui para o não
membros da organização, que se manifestam aparecimento da cultura como veículo de poder
por meio de suas atitudes e da forma como visível, mas sim, como um conjunto de
reagem às decisões, e/ou, a algo ordenado por representações imaginárias construídas e
seus superiores. Além disso, Fleury e Fischer reconstruídas por meio das relações cotidianas
(1991) atribuem também à cultura nacional um existentes nos ambientes organizacionais. E
papel significativo para os comportamentos dos complementa ainda, que a organização projeta
membros da organização, pois, para estes para o indivíduo a imagem grandiosa que ela
autores, a cultura nacional, influencia e muito, tem de si, e este indivíduo acredita em tais
na cultura da organização. pressupostos e os absorve para se completar e
para realizar seus desejos de ser amado e
Segundo Monteiro, Ventura e Cruz (1999) a reconhecido (FREITAS, 1997).
cultura pode ser vista ainda, como um padrão
refletido de sistemas sociais de conhecimento, Diante de tais aspectos, suscita-se que a cultura
ideologia, valores, leis e rituais cotidianos, como organizacional pode ser vista como um meio de
também do grau de refinamento evidente em manipulação e controle dos indivíduos nas
tais sistemas de crenças e práticas. Ou seja, a organizações. Pois, o que acaba ocorrendo é
cultura pode ser entendida como um sistema uma cooptação do indivíduo pelas estruturas
simbólico que permite a elaboração de um organizacionais, já que eles incorporam os

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valores, os pressupostos e a imagem da relações de trabalho. Assim, passa a existir um


organização como se fosse deles. Freitas (1991, “compartilhar” do senso da realidade entre os
p. 299) reitera tal perspectiva ao afirmar que indivíduos, que percebem a correspondência
“[...] a organização toca uma veia sensível do existente entre os significados atribuídos aos
indivíduo, levando-o a sustentar a causa do seu objetivos e símbolos da “teia” (ambientes) em
desejo, ao mesmo tempo em que ela manobra que estão inseridos.
os signos de uma busca sem fim”.
Desta forma, assevera Fleury (1987) que os
Assevera a autora, Freitas (1997), que enquanto elementos cognitivos e normativos é que dão
da ordem do simbólico, da representação, da origem ao universo simbólico, que é legitimado
construção de imagens e de significados, a por meio de procedimentos implícitos e
cultura organizacional atua diretamente no explícitos da organização, produzindo assim,
imaginário dos indivíduos, na medida em que novos significados, novos símbolos e novos
ela (a cultura) sugere uma missão grandiosa, universos.
além de criar a idéia de comunidade, de orgulho
e pertencimento ao grupo exclusivo em que Pode-se dizer que dentre os procedimentos
este indivíduo está inserido. implícitos e explícitos da organização estão os
elementos da cultura organizacional. Segundo
Diante disso, pode-se dizer que por meio das Freitas (1991) a cultura de uma organização é
representações criadas pelos elementos conceituada a partir de seus elementos, a forma
simbólicos da organização, projeta-se sobre os como eles funcionam e interagem, além das
indivíduos significados, que são absorvidos e mudanças comportamentais que eles provocam.
reproduzidos por meio das práticas do
cotidiano. Os indivíduos são então, embebidos Os elementos da cultura organizacional
por práticas que, legitimadas, regem o seu fornecem aos membros da organização uma
comportamento e as suas atividades dentro da forma de interpretá-la, e a passagem dos
organização, em detrimento inclusive, sua significados se dá naturalmente por meio de
identidade pessoal. Alguns elementos da cultura uma linguagem funcionalizada que leva à
organizacional serão tratados na seção a seguir. naturalização do conteúdo e ao repasse
espontâneo de significados para os demais
Elementos da Cultura Organizacional membros (FREITAS, 1991).

Pode-se dizer que todas as organizações Para Freitas (1991), esse repasse natural de
possuem um universo simbólico. Este universo significados, que ocorre tanto por meio das
simbólico é constituído por elementos da redes formais quanto das redes informais de
cultura da organização. Na concepção de Fleury comunicação, sugere, na verdade, um caráter
(1987) a dimensão simbólica é concebida como hipnótico, em que as mensagens e
capaz de integrar os aspectos da prática social. comportamentos convenientes são aplaudidos e
E, por meio das representações simbólicas os aderidos pelos membros da organização. Assim,
membros do grupo se comunicam e expressam o que se provoca é uma homogeneidade de
formas de entender o ambiente que os cerca, comportamentos entre os membros da
como também de entendimento entre si. organização, que despercebidamente, absorvem
os aspectos da cultura organizacional
Fleury (1987) complementa ainda que o campo reproduzindo-os como se fossem seus.
simbólico, por meio da mediação das relações e
práticas sociais se afigura como uma das Complementando o exposto, segundo Srour
instancias fundamentais para a definição das (1998), a cultura pode ser percebida como as

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representações imaginárias da coletividade, torna-se fator chave para distinguir diferentes


pois, essas representações imaginárias formam coletividades.
seu substrato. Sendo assim, a cultura comporta
um conjunto de padrões que permitem a Sendo assim, é necessária a cautela e a
adaptação dos agentes sociais ao meio ao qual aprendizagem por parte de todos os membros,
pertencem, além de facultar o controle da já que o conhecimento e a absorção da cultura
organização sobre esse meio. organizacional funcionam como um mapa/kit de
sobrevivência do indivíduo no contexto
Srour (1998) afirma ainda que este conjunto de organizacional (SROUR, 1998). Daí um dos
padrões dirige-se a toda a atividade humana, aspectos relevantes para se abordar os
seja ela cognitiva, afetiva, motora, sensorial, elementos da cultura organizacional, pois, são
uma vez que todo comportamento humano é esses elementos que servem de base de
considerado simbólico. Ademais, assim como orientação para os indivíduos das organizações.
exposto por Freitas (1991), na concepção de
Srour (1998) a cultura é apreendida, Segundo Freitas (2007) a descrição dos
transmitida, partilhada e recorrente de uma elementos que constituem a cultura
aprendizagem socialmente condicionada, pois, organizacional, a forma como eles funcionam e
constitui um conjunto preciso de as mudanças comportamentais que tais
representações mentais e um complexo elementos provocam, são uma maneira de
definido de saberes, que formam um sistema tratar o assunto de forma mais concreta e
coerente de significações, e une os membros da possibilitar o seu reconhecimento e
organização em torno dos mesmos objetivos e entendimento mais facilmente.
modos de agir.
Freitas (2007) ainda complementa que a
Assevera Srour (1998) que as representações conceituação da cultura por meio dos seus
imaginárias que uma organização cultiva, elementos, acaba por ser plena de detalhes que
delimitam hábitos nem sempre explícitos, passariam despercebidos na vida organizacional
impõem precedências e formalidades cotidiana. Ademais, os elementos da cultura
compulsórias que regulam expectativas e organizacional fornecem uma interpretação
comportamentos, e, assim, criam a sua para os membros da organização, a respeito do
identidade (da organização). Ademais, a cultura que se considera importante e válido.
organizacional não se resume a somatória das
opiniões dos membros que a partilham, mas, Buscando compreender essa dimensão
tem vida própria e constitui uma das dimensões simbólica e suas representações, na sequência
da organização. serão abordados alguns elementos e pontos
relevantes da cultura organizacional nas
Ainda na visão de Srour (1998), essas concepções de Srour (1998), Schein (2001) e
representações imaginárias existentes nos Freitas (2007).
ambientes organizacionais, são necessárias,
pois, sem referências próprias, as organizações Práticas Cotidianas de um Universo Simbólico –
ficariam a mercê das convicções individuais de Srour (1998)
seus membros, principalmente diante de
situações novas e sofreriam prejuízos frente à Srour (1998) em suas concepções acerca do
disparidade de procedimentos e orientações. Ou universo simbólico das organizações, afirma que
seja, a cultura organizacional, que é construída cada cultura organizacional forma um objeto
ao longo do tempo, exprime a identidade da decifrável, configurado por relações de saber
organização, e por meio dos seus elementos, que conjugam relações de hegemonia e

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conformidade, e relações de influência e adesão utilizada, das tradições e evolução


entre agentes coletivos bem definidos. Ademais, dos costumes e dos rituais
para o autor a cultura organizacional é moldada empregados em diferentes
pelas representações imaginárias e pelos situações;
símbolos, que manifestados pelas expressões  Normas de grupo: padrões
mentais encontram-se tão entranhados nas implícitos e valores que evoluem
práticas cotidianas que somente por meio de em grupos de trabalho, os
uma observação acurada é possível revelá-los. contratos psicológicos que se
instauram;
Sendo assim, na concepção de Srour (1998) os  Valores expostos: os princípios e
elementos que compõem o cotidiano das valores articulados e publicamente
organizações podem assumir formas variadas, anunciados, que o grupo divulga
tais como: princípios, valores e códigos; estar tentando atingir;
conhecimentos, técnicas e expressões estéticas;  Filosofia formal: os princípios
tabus, crenças e pré-noções; estilos, juízos e ideológicos e as políticas que
normas morais; tradições, usos e costumes; guiam as ações do grupo em
convenções sociais, protocolos e regras de relação aos acionistas, clientes e
etiqueta; estereótipos, clichês e motes; demais stakeholders;
preconceitos, dogmas e axiomas; imagens,  Regras do jogo: as regras
mitos e lendas; dogmas, superstições e fetiches. implícitas para os indivíduos serem
bem sucedidos na organização;
Ao apresentar tais elementos, Srour (1998)  Clima: o sentimento que é gerado
reitera que os ambientes organizacionais são em um grupo por meio de suas
representações mentais que refletem relações e interações uns com os
convicções sociais ou saberes, ou seja, o outros, com clientes ou estranhos;
comportamento dos indivíduos dentro das  Habilidades incorporadas: as
organizações baseia-se em representações de competências especiais que os
informações, normas e procedimentos já membros do grupo demonstram
legitimados que constituem as relações e a ao realizar determinadas tarefas
dinâmica organizacional. que são passadas de geração para
geração sem necessariamente
Elementos da Cultura – Schein (2001) estarem articuladas por escrito;
 Hábitos de pensamento, modelos
Na concepção de Schein (2001) existem alguns mentais e/ou paradigmas
elementos que são vistos como as principais linguísticos: as estruturas
categorias associadas com a cultura. Conforme cognitivas compartilhadas que
abordado a priori, Schein (2001) observa a guiam as percepções,
cultura organizacional como um conjunto de pensamentos e linguagem que são
pressupostos que podem ser percebidos por usadas pelos membros de um
níveis diferentes que se relacionam entre si e grupo e são aprendidas pelos
formam o todo organizacional. Dentre os novos membros no processo de
elementos abordados por Schein (2001) estão: socialização inicial;
 Significados compartilhados: o
 Regularidades comportamentais entendimento tácito que emerge
observáveis quando as pessoas quando os membros do grupo
interagem: manifestações interagem;
observadas por meio da linguagem

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 Metáforas ou símbolos manifestam o lado concreto da


integrativos: as ideias, sentimentos cultura organizacional que detém
e as imagens que os grupos diversas funções, dentre as quais
desenvolvem para se caracterizar. estão: comunicar a maneira como
as pessoas devem se comportar na
Esses elementos da cultura organizacional organização, sinalizar sobre os
citados por Schein (2001) são vistos como parte procedimentos executados, guiar o
de um todo compartilhado que influencia nas comportamento dos participantes
relações e nos comportamentos dos indivíduos. sobre os valores básicos da
Ademais, torna-se importante elencar tais organização;
elementos com destaque, pois, eles  Sagas e heróis: narrativas
representam partes que quando integradas e heroicas ou épicas que enaltecem
compartilhadas formam a cultura de uma o caminho percorrido pela
organização. organização enfatizando os
grandes obstáculos encontrados
Elementos da Cultura – Freitas (2007) que foram vencidos, tendo como
função principal despertar a
Freitas (2007) afirma que a cultura admiração dos membros da
organizacional é dotada de elementos que se organização e suscitar o orgulho
relacionam e se interpõe em um todo que os em fazer parte de algo tão
rege. Segundo a autora, a descrição dos especial. Os heróis são parte
elementos que constituem a cultura integrante das sagas, pois,
organizacional e a forma como eles funcionam, simbolizam a organização para o
provocam o entendimento dos movimentos e mundo, personificam seus valores
das situações provocadas e existentes no e condensam a força e coragem
contexto organizacional. Os elementos citados organizacionais;
por Freitas (2007) são apresentados a seguir:  Estórias: narrativas baseadas em
 Valores: podem ser vistos como eventos reais que informam sobre
aquilo que é importante para o a organização e reforçam o
sucesso da organização e devem comportamento existente,
ser considerados guias para o enfatizando como esse
comportamento organizacional no comportamento se ajusta ao
dia-a-dia. A tarefa principal de ambiente organizacional desejado.
administradores e líderes estaria Funcionam como mapas ou scripts
na modelagem, realce e que auxiliam os indivíduos, a saber,
assimilação dos valores da como as coisas são feitas pelo
organização, bem como a grupo;
transmissão desses valores aos  Tabus: assim como os valores, os
demais membros; tabus são aspectos que irrigam a
 Crenças e pressupostos: vida grupal, no entanto, de forma
expressam aquilo que é tido como mais silenciada e escondida
a verdade na organização. Uma possível. Os tabus demarcam áreas
verdade que não é questionada de proibições, orientando o
nem discutida, uma verdade comportamento com ênfase no
natural; não permitido, temas que causam
 Ritos, rituais e cerimônias: são constrangimentos e erros que
atividades planejadas que envergonham;

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 Normas: diz respeito aos técnicas, métodos, modelos e teorias que


procedimentos ou orientarão a interpretação dos dados e
comportamentos considerados o permitirão a apresentação de resultados por
padrão, a regra, para a maior parte meio de descrições, narrativas, análises,
das situações e eventos relatórios e documentos.
organizacionais. Podem ser vistas
ainda como as regras que regem o No que tange a pesquisa qualitativa, Vieira
comportamento esperado, aceito e (2004) a caracteriza em princípio pela não
sancionado pelo grupo, podendo utilização de instrumentos estatísticos na
ser escritas ou não. análise de dados, e afirma ainda que esta pode
ser definida como a que tem por base
A partir dos elementos apresentados por Freitas conhecimentos teórico-empíricos que permitem
(2007), torna-se possível retratar a dinâmica atribuir-lhe cientificidade, fundamentando-se
organizacional, pois, conforme abordado pela principalmente, em análises qualitativas.
autora, tais elementos tem como foco principal
tornar a cultura organizacional mais palpável O artigo parte de um referencial construído no
para estudos ou análises posteriores. Freitas intuito de abordar os principais aspectos da
(2007) acrescenta ainda que as culturas são cultura organizacional no atual mundo do
criadas, apoiadas, sustentadas transmitidas e trabalho. Os dados de análise da pesquisa foram
mudadas por meio das interações que ocorrem secundários, coletados no Guia Você S/A-Exame
nos ambientes organizacionais, via processos de do ano de 2011, que elencaram as Melhores
modelagem, imitação, negociação, reprodução Empresas para se Trabalhar, em 16 setores,
de estórias ou socialização nos seus aspectos conforme segue:
formais ou informais.

Por fim, assevera Freitas (2007) que as


organizações são intrinsecamente fenômenos
de comunicações, e seus artefatos culturais
estão ligados entre si e exercendo influência
sobre os indivíduos e os grupos integrantes do
contexto organizacional.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa realizada se classifica como


exploratória e descritiva de natureza qualitativa.
Segundo Richardson (2008) a pesquisa
exploratória pode ser utilizada quando se deseja
buscar maiores informações sobre determinado
tema, para conhecer melhor o fenômeno.

Sobre a pesquisa descritiva, Triviños (2008)


afirma que os estudos descritivos almejam
descrever com exatidão os fatos e fenômenos
de determinada realidade. Para isso, o
pesquisador necessita dispor de informações
sobre o que se deseja pesquisar, se utilizando de

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Figura 1 – Melhores Empresas para Trabalhar melhor cuidam de seus colaboradores. A


Fonte: Guia Você S/A-Exame (2011, p. 63). pesquisa é realizada em parceria com a
Fundação Instituto de Administração (FIA) desde
Segundo Richardson (2008), os dados de fontes o ano de 2006, baseando-se em uma
secundárias são aqueles em que o pesquisador metodologia que fica mais criteriosa a cada ano.
não tem uma relação direta com o
acontecimento registrado, senão, por meio de Torna-se importante enfatizar que todo o
algum elemento intermediário. Ainda assim, tais processo de pesquisa é gratuito, em todas as
dados são utilizados como base para a pesquisa, suas etapas, e, que entram para o rol das
em busca do cumprimento dos objetivos ligados Melhores, as empresas que realmente agradam
ao fenômeno estudado. a seus funcionários, já que a opinião deles tem
peso de 70% na avaliação da empresa (GUIA,
Na seção a seguir será apresentada a análise de 2011).
dados, que considerou os principais aspectos
das empresas consideradas as Melhores para Para participar da pesquisa, as empresas
Trabalhar, apresentados como resultados da durante os meses de Fevereiro e Março fazem
pesquisa realizada e publicada no Guia (2011). sua inscrição gratuitamente por meio do site do
Para a análise de dados os elementos Guia. Podem participar as organizações com no
identificados foram apresentados de acordo mínimo, 100 funcionários e cinco anos de
com os elementos destacado pelos autores existência de mercado. Ao final do processo as
citados, conforme aparecem no Guia (2011). organizações inscritas que obtiveram um
número mínimo de respostas dos
Apresentação do Guia Você S/A-Exame colaboradores, também recebem
gratuitamente, um documento preparado pela
O Guia Você S/A-Exame é publicado desde 1997 equipe da FIA, que traz uma “Raio X” do
com o intuito de valorizar as empresas que ambiente interno e uma análise comparativa

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com o mercado, em relação ao setor, ao porte e Gestão de Pessoas (IQGP), que tem peso de 20%
às 150 melhores do ano (GUIA, 2011). na composição da nota final da empresa.

Participação dos Funcionários na Pesquisa As organizações que alcançarem um número


mínimo de questionários respondido por seus
Segundo o Guia (2011), os empregados que empregados, não zeram em nenhuma categoria
respondem a pesquisa são sorteados avaliada e obtêm as maiores notas de IQAT são
aleatoriamente pela VOCÊ S/A, a partir de uma pré-classificadas e passam a segunda fase da
listagem enviada pela empresa, seguindo uma pesquisa, na qual recebe a visita de um
porcentagem que varia conforme o número jornalista. A avaliação realizada durante a visita
total de colaboradores. Ressalta-se que os vale 10% na nota final da empresa (GUIA, 2011).
escolhidos não podem ser obrigados ou
coagidos a responder o questionário. Por fim, por meio da opinião dos funcionários,
das práticas do RH e da percepção do jornalista,
O questionário do funcionário é desenvolvido chega-se a nota final da empresa, que é o Índice
para medir o seu grau de satisfação em relação de Felicidade no Trabalho (IFT). E, em reunião
ao local onde trabalha, e é composto por 64 de consenso entre os jornalistas da Você S/A e
questões sobre identidade; satisfação e os profissionais da FIA, consolidam-se as notas
motivação; liderança; e aprendizado e de todas as empresas visitadas no ano, e
desenvolvimento. Por meio das respostas dos definem-se as 150 melhores empresas para se
colaboradores é gerado o Índice de Qualidade trabalhar do país (GUIA, 2011).
no Ambiente de Trabalho (IQAT), com peso de
70% na composição da nota final da companhia Análise dos Resultados
(GUIA, 2011).
Para a realização da análise a que se propõe
O Papel da Empresa na Pesquisa esse artigo, a seguir serão apresentadas
informações que foram extraídas dos resultados
O profissional de RH das empresas participantes dissertativos apresentados no do Guia (2011).
responde um questionário sobre as políticas e Torna-se importante ressaltar que os trechos
práticas de gestão de pessoas da organização. que serão descritos nesta seção são reescritos
As questões estão ligadas aos dados do perfil da tal qual como aparecem no Guia (2011).
empresa e da equipe, tais como segmento de
atuação, total de funcionários, faixa etária da Os elementos e os aspectos da cultura
equipe e missão e valores do negócio. Além organizacional identificados nos textos da
disso, são abordadas as iniciativas da empresa pesquisa serão descritos de tal forma que
subdivididas em quatro categorias: estratégia e possam ser observados segundo elementos da
gestão; lideranças; cidadania empresarial; e cultura organizacional, a partir das concepções
políticas e práticas (GUIA, 2011). de Srour (1998), Schein (2001) e Freitas (2007),
são descritos a seguir:
Ademais, de acordo com o Guia (2011), é
necessário montar o “Book de Evidências”, um Estórias/sagas/heróis
caderno que contém a descrição e os detalhes
das práticas relacionadas a cada uma das “O presidente da companhia lidera pelo
categorias respondidas. Por meio do exemplo: veste o macacão de eletricista,
questionário da empresa e do “Book de arregaça as mangas e também vai para o
Evidências” é gerado o Índice de Qualidade na campo” (ELEKTRO).

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“Tão comuns quanto os treinamentos são as uma única ação para o ano, mas tem de
histórias do porteiro que chegou à gerência ou desenvolvê-la” (MOINHO ALIMENTOS).
do gerente nacional de vendas que começou na “O principal é conseguir que todos os
empresa descarregando caminhões” (MOINHO profissionais – ou pelo menos a grande maioria
ALIMENTOS). – tenham concluído o Ensino Médio até a Copa
“Em 2002 o neto do fundador e seu diretor de 2014” (MOINHO ALIMENTOS).
superintendente, participou de todos os “A companhia mantém práticas consistentes
treinamentos de liderança ao lado dos gerentes” para tudo o que se refere à gestão de pessoas e
(MOINHO ALIMENTOS). sabe reconhecer de forma justa seus
“As primeiras transformações começaram no empregados, que adoram dizer que recebem a
topo, um ex-diretor financeiro foi escolhido para maior participação nos lucros do país” (VOLVO).
assumir a presidência, pois, segundo a equipe o “A empresa investe em educação, liderança,
novo presidente se encaixou perfeitamente nos carreira, sucessão e saúde” (VOLVO).
valores organizacionais de preocupação com os “Os funcionários são unânimes em dizer que os
funcionários” (ELEKTRO). gestores são abertos, colaborativos e
“Boa parte do sucesso da política de gestão de participativos” (ELEKTRO).
pessoas se deve à presença marcante do CEO da “Quem visita a sede fica impressionado com o
companhia, que faz questão de estar sempre alto astral e a satisfação demonstrada pelos
próximo da equipe, percorrendo os principais colaboradores da empresa. Existe uma
pólos comerciais da empresa” (LOSANGO). prioridade clara concedida a quem já esta
“Os gerentes estão sempre conosco no campo. dentro [...] a política oficial é preencher 100%
E, se algum chefe tiver um perfil maldoso, não das vagas com promoções, a não ser nos casos
há dúvidas de que ele será demitido” em que não exista alguém com perfil próximo ao
(EUROFARMA). desejado” (LOSANGO).
“O entrosamento entre líderes e equipes faz “Uma empresa originalmente familiar que
parte da cultura corporativa, disseminada pelo percebeu que era preciso investir fortemente em
próprio presidente” (ATA). gestão de pessoas para oferecer e competir com
“Desde 2003, o banco está mapeando as as grandes” (EUROFARMA).
competências de seus funcionários por meio de “Nossa prioridade é contratar e manter pessoas
entrevistas individuais entre líder e liderado. que influenciem positivamente no dia a dia da
Trata-se de um trabalho hercúleo, que já atingiu companhia” (EUROFARMA).
72.000 pessoas e pode se estender até 2013” “Ao lado da forte identificação com os valores
(BRADESCO). da empresa estão respeito aos funcionários,
“Você entra aqui sabendo que o atual diretor já estabilidade no emprego, benefícios e solidez da
foi escriturário e que a vaga que surgir acima empresa” (EUROFARMA).
sempre vai ser para você ou para alguém que “A qualidade de vida é um dos pilares da
trabalha com você” (BRADESCO). mineradora. A maioria dos gestores começou de
baixo e acumula uma média de 20 anos de casa”
Significados compartilhados/Regras do (SAMA).
Jogo/Valores expostos “Os funcionários sabem qual o caminho que a
companhia adotou para ganhar espaço na
“Para dar início ao processo de promoções são região. O objetivo é se sempre competitivo para
realizadas avaliações semestrais. No início o atender cada vez mais os clientes, diz um
projeto piloto foi direcionado apenas aos funcionário” (ATA).
gerentes, hoje as avaliações foram estendidas a “Meu chefe deixou claro que eu precisava iniciar
todos os funcionários e cada pessoa estabelece um curso superior para mudar de cargo” (ATA).

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“A companhia consegue manter um bom clima caso algum gestor saia da linha, e possibilita que
graças à postura ética e, principalmente, à os subordinados avaliem seus chefes” (SAMA).
transparência com seus funcionários” “A cada ano é eleito um profissional destaque
(INTERNATIONAL PAPER). pra receber um prêmio no valor de dez salários
“Uma das preocupações constantes é propiciar mínimos” (ATA).
uma comunicação fluente no cotidiano” “Aqui eu me sinto numa ilha ética. Quem
(LABORATORIO SABIN). começa a tratar mal os outros é podado
“A empresa valoriza também a informalidade rapidinho” (INTERNATIONAL PAPER).
em algumas ações mesclando com a seriedade “O modelo de carreira fechada, por meio do qual
de suas práticas de gestão” (TICKET). o ingresso de funcionários ocorre apenas em
“Ser democrática e dar autonomia” (GOOGLE). níveis de base e do qual o banco tanto se
“Para manter a satisfação dos colaboradores, a orgulha, continua a vigorar” (BRADESCO).
empresa investe em um amplo pacote de “Quando um profissional é escolhido para
benefícios” (VIVO). participar de algum workshop, ele é incentivado
“Todas as semanas, cerca de 90 vagas são a replicar os conhecimentos para os colegas por
divulgadas no site da empresa e 70% delas são meio de palestras” (INTERNATIONAL PAPER).
preenchidas pelos funcionários” (VIVO). “A sinergia e o reconhecimento são vistos como
“Ciente de que a comunicação com a equipe é qualidades da empresa e garante que o clima
fundamental para minimizar ruídos como esse e corporativo seja excelente. Nós conversamos
para manter o bom clima, a cooperativa tem muito todos os dias, mostramos as tarefas de
reforçado seus canais” (UNIMED SUL forma simples e camarada” (TICKET).
CAPIXABA). “O mapeamento de competências e a avaliação
de desempenho vão eliminar as subjetividades
Regularidades comportamentais observáveis nos critérios de promoção” (BRADESCO).
quando as pessoas interagem/ Hábitos e “Aqui todo mundo é estimulado a exercer a
normas de grupo liderança independente do cargo que ocupa”
(VIVO).
“Os rituais tem origem em um sentimento “A empresa está desenvolvendo programas
genuíno de realização com o trabalho, resultado internos para reafirmar que a marca será a
da soma de uma série de elementos desejados identidade comercial do grupo” (VIVO).
por qualquer profissional, como clima
agradável, bom pacote de benefícios, e claro, Sentimentos de satisfação
dinheiro no bolso” (LOSANGO).
“O alto grau de satisfação da equipe resulta em “Eu saio do trabalho, faço aula de tênis e ainda
vínculos de longa duração – 37% dos tenho tempo para estudar” (SAMA).
colaboradores já somam mais de dez anos de “Eu já fiz 52 cursos, todos de graça” (SAMA).
empresa e o tempo médio de casa, mesmo “Os funcionários falam com orgulho da
considerando os recém-chegados, aproxima-se preocupação da organização em manter o bem-
de nove anos” (LOSANGO). estar de cada um” (ATA).
“Tudo aqui é muito rápido e estamos “A empresa é um dos melhores lugares para
trabalhando para chegar lá” (EUROFARMA). trabalhar no país” (VIVO).
“Anualmente, todos os colaboradores passam “Aqui na cidade cinco ou seis pessoas querem
por uma avaliação de desempenho baseada em minha vaga na empresa” (MOINHO
13 competências preestabelecidas” ALIMENTOS).
(EUROFARMA).
“A companhia mantém uma política de portas Protocolos e regras
abertas, oferece um telefone para denúncias,

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Cultura Organizacional e seus elementos: proposições a partir das melhores empresas para se
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“A empresa é rígida nos equipamentos de “As ruas largas e arborizadas em nada lembram
segurança, que inclui até o protetor solar, óculos a imagem do poço de extração visto do alto [...]
escuros e capa de chuva no kit de quem trabalha o caminho mais parece o de um clube” (SAMA).
ao ar livre” (SAMA). “A plataforma VIVA MELHOR amarra as
iniciativas em prol da qualidade de vida”
Rituais/cerimônias (TICKET).
“Um GIGANTE NACIONAL, o Bradesco acumula
“A empresa faz cafés da manhã com líderes e número extraordinários” (BRADESCO).
tem hierarquia flexível. Qualquer um pode “Cor é o que não falta no escritório em São
conversar com o diretor-superintendente e Paulo. Os funcionários são incentivados a
apresentar ideias” (MOINHO ALIMENTOS). personalizar sua mesa para se sentirem mais
“Hoje, os líderes passam a cada ano por um confortáveis durante o expediente. Um benefício
novo curso específico e participam dos irreverente que a organização concede aos
programas de coaching e tutoria” (ELEKTRO). ‘googlers’” (GOOGLE).
“Nos espaços os funcionários e familiares podem “O ‘RH+perto’ é um espaço para conversas
fazer aulas de violão, tênis, futebol, reservadas dos colaboradores com um
hidroginástica e cursos profissionalizantes” representante da área de gestão de pessoas. O
(SAMA). programa DNA prevê café da manhã mensal da
“Um processo chamado People Review reúne diretoria com todos os funcionários. As
duas vezes por ano presidente, diretores, informações mais importantes são transmitidas
executivos seniores e RH para definir pelo jornal quinzenal Viva Voz” (UNIMED SUL
necessidades de contratação, recrutamento, CAPIXABA).
carreira, expatriação, coaching e sucessão”
(DOW BRASIL). Tabus
“A empresa investe ações simples como festas e
conversas de corredor, e investe forte no “Os funcionários reclamam de diferenças
desenvolvimento profissional” (TICKET). significativas entre as áreas. Enquanto alguns
“Uma reunião mensal tem como pauta a análise setores acreditam receber dentro da média de
das ameaças ao negócio, que partem de todo mercado, outros consideram seus vencimentos
lado” (UNIMED SUL CAPIXABA). bastante defasados” (INTERNATIONAL PAPER).
“O que ainda gera ceticismo é o Plano de
Metáforas ou símbolos integrativos Desenvolvimento Pessoal (PDP). Feitas a partir
de reuniões individuais com os chefes, as metas
“Em alguns momentos, todo o entusiasmo de desenvolvimento são vistas como pouco mais
chega a parecer quase teatral, como quando se do que teóricas” (INTERNATIONAL PAPER).
percebe o hábito dos colegas de chamar uns aos “Todo ano acabo fazendo meu PDP mais para
outros de ‘guerreiro’ ou quando se testemunha cumprir uma obrigação do que esperar algum
a forma inusitada como as reuniões são retorno pra valer” (INTERNATIONAL PAPER).
finalizadas – em pé e de mãos dadas, todos “Os gestores da organização, se envolvem na
entoam o grito de guerra ‘Um por todos e todos tarefa de desenvolver seus times – algo que toda
por um’” (LOSANGO). empresa diz que faz, mas poucas praticam de
“A empresa tem diversas ferramentas de fato” (DOW BRASIL).
comunicação interna, como o Jornal Mural, a TV “Houve ruído entre os gestores, por exemplo,
Losango e a Rádio Losango, conhecida como a quando o sistema de avaliação 360 graus foi
“Estação dos Guerreiros” (LOSANGO). implantado. Essa mesma reação foi percebida
em 2007 quando o programa Jovens Líderes foi
criado” (UNIMED SUL CAPIXABA).

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erros que envergonham. Estes tabus se


A partir dos trechos apresentados, é possível mostraram mais voltados para alguns rituais que
argumentar que foram facilmente visualizados se cumprem apenas “pró-forma” e que geram
fragmentos que se enquadram ao que Freitas insatisfações nos funcionários. Reitera-se que
(2007) aborda como estórias, sagas ou heróis. são pontos a serem revistos por essas
De um modo geral, percebeu-se por meio de organizações, suscitando-se a possibilidade de
falas dos funcionários, como também das tornarem valores compartilhados e, por
matérias em si, que existe uma base ideológica conseguinte, impactar na cultura organizacional.
forte nas empresas no que diz respeito a Outro ponto relevante, que pode ser percebido
construção de sua cultura organizacional a partir nos trechos apresentados são os sentimentos de
de principalmente, estórias e heróis. satisfação, valores, códigos, normas morais,
usos e costumes, convenções e protocolos, a
Suscita-se que a identidade das empresas partir da visão de Srour (1998). Ademais, são
pesquisadas foi construída e continua sendo, em estes elementos presentes nos textos das
cima de tais elementos, e que o espírito do empresas estudadas que fortalecem a
herói em muitos momentos manifestado na concepção de que as organizações podem ser
figura do fundador ou de seus descendentes, vistas como elementos simbólicos (SROUR,
impacta, e muito, na forma pela qual os 1998); SCHEIN (2001); FREITAS (2007).
funcionários concebem a organização. Ou seja,
tais elementos (estórias, sagas e heróis) podem Por fim, ressalta-se que esse universo simbólico
ser descritos como elementos propulsores da que torna capaz a integração das pessoas com a
empresa. organização, pois, por meio deles os
funcionários se comunicam, se expressam e
Percebeu-se ainda, que os elementos descritos interagem com a empresa da qual fazem parte.
por Schein (2001), abordam, em sua maioria, os É fato que alguns elementos são vistos como
subsistemas de recursos humanos, tais como: mecanismos de controle dos indivíduos, que
avaliação de desempenho, carreira, benefícios, cada vez mais fica preso as normas e diretrizes
treinamento e desenvolvimento, socialização de da organização.
pessoal, etc. Além disso, é possível observar
questões ligadas às relações interpessoais, Conclusões
relações de informalidade e autonomia, além da
ética nas relações de trabalho e clima O objetivo deste estudo foi apresentar algumas
organizacional. proposições sobre os elementos da cultura
organizacional no atual mundo do trabalho.
Em muitos momentos, nas descrições Para atingir tal objetivo, foram utilizados por
apresentadas no material analisado, o “espírito base de pesquisa os elementos tratados pelo
de equipe” surge como base de sustentação das Guia Você S/A-Exame – As melhores Empresas
empresas. Tal fato pode ser observado nos item para Você Trabalhar, do ano de 2011.
que trata dos valores compartilhados, como
também nas metáforas e símbolos integrativos As informações apreendidas a partir dos textos
de Schein (2001). apresentados no Guia (2011) foram
interpretadas e elencadas a partir dos
Em contraponto a esse “espírito de equipe” elementos da cultura organizacional
apresentado nos textos, foram apreendidos apresentados por Srour (1998), Schein (2001) e
alguns tabus, ou seja, pontos que podem Freitas (2007).
inclusive, de acordo com Freitas (2007) causar
constrangimentos, já que tratam também de

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Concluiu-se que as 16 empresas eleitas como as objetivando-se assim, realizar estudos que
“Melhores para se Trabalhar”, trazem consigo tenham por base dados primários para análises
fortes elementos que criam/formam a sua posteriores acerca da cultura organizacional e
cultura organizacional. Os elementos compõem seus elementos.
bases ideológicas que sustentam a organização
e direcionam os funcionários quanto às suas Referências
atitudes.
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho?: ensaio
Foi possível concluir ainda, que as empresas sobre as metamorfoses e a centralidade do
manifestaram uma preocupação exacerbada mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2005.
com a capacitação e o treinamento de seus
funcionários, o que pode ser visto como uma BORGES, Lívia de Oliveira. As concepções do
forma de ratificar e/ou disseminar seus valores, trabalho: um estudo e análise de conteúdo de
regras e procedimentos, ou seja, a sua cultura. dois periódicos de circulação nacional. RAC –
Fato este que corrobora a concepção de Freitas Revista de Administração
(1991) de que os elementos da cultura Contemporânea. Curitiba: CEPPAD/UFPR, v.3,
organizacional têm o intuito de fornecer aos n.3, Set./Dez. 81-107, 1999.
membros da organização uma forma de
interpretá-la, passando inclusive os significados FLEURY, Maria Tereza L; FISCHER, Rosa Maria.
manifestados aos outros membros. Cultura e poder nas organizações. São Paulo,
Editora Atlas: 1991.
Ligado a questão de “passar os significados aos
outros membros”, pode-se concluir ainda, que FLEURY, Maria Tereza L. Estórias, mitos, heróis –
este ponto está presente nas empresas cultura organizacional e relações de trabalho.
estudadas, pelo fato de que muitas delas RAE – Revista de Administração de Empresas.
prezam pela ascensão na carreira. Ou seja, para Rio de Janeiro, 27(4)7-18 out./dez. 1987.
se chegar a cargos superiores é necessário
passar primeiramente pelos inferiores. Tais FREITAS, Maria. E. Cultura organizacional:
normas das organizações estudadas podem ser evolução e crítica. São Paulo: Thomson Learning,
vistas como uma forma mais “fácil” de conceber 2007.
a cultura organizacional, já que as pessoas
ocupam novos cargos, mas, já faziam parte da FREITAS, Maria. E. Cultura organizacional:
empresa e conheciam seus valores, crenças, formação, tipologias e impactos. São Paulo. São
pressupostos, etc. Paulo: Editora Makron, 1991.

Os elementos apreendidos sugerem ainda, que FREITAS, Maria. Cultura organizacional: o doce
as organizações têm sua cultura fortemente controle no clube dos raros. In.: MOTTA,
definida, e que os indivíduos que fazem parte da Fernando C. P. Cultura organizacional e cultura
organização absorvem e também reproduzem brasileira. São Paulo: Atlas, 1997.
tal cultura, por meio de suas manifestações,
rituais, cerimônias e/ou sentimentos de GUIA Você S/A-Exame. As melhores Empresas
satisfação. Por alguns momentos essa absorção para Você Trabalhar. 2011.
pode ser vista como uma forma de cooptação e
controle da organização. HARMAN Willis.; HORMANN John. O trabalho
criativo. São Paulo: Cultrix, 1997.
Por fim, vale ressaltar que este artigo
representa uma etapa inicial de pesquisa,

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MATTOSO, Jorge E. L. O novo e inseguro mundo


do trabalho nos países avançados. In: O mundo
do trabalho: crise e mudança no final do século.
São Paulo: Scritta, 1994

MICHAELIS. Moderno dicionário da Língua


Portuguesa. São Paulo: Melhoramento, 1998.

MONTEIRO, Carmem D.; VENTURA, Elvira C.;


CRUZ, Patrícia N. Cultura e mudança
organizacional: em busca da compreensão sobre
o dilema das organizações. Caderno de
Pesquisas em Administração. São Paulo, v.1,
nº8. 1º Trim/1999.

MOTTA, Fernando C. P.; CALDAS, Miguel P.


Introdução: cultura organizacional e cultura
brasileira. In.: MOTTA, Fernando C. P. Cultura
organizacional e cultura brasileira. São Paulo:
Atlas, 1997.

PEREIRA, Maria. Cecília. et al. O Fenômeno do


Stress no Trabalho Sob a Ótica Sócio-
Construcionista: a produção de sentidos em
uma organização militar. In.: ENANPAD –
ENCONTRO ANUAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 30., 2006,
anais... Salvador: ANPAD, 2006 CD ROM

SCHEIN, Edgar H. Guia de Sobrevivência da


Cultura Corporativa. Rio de Janeiro: Ed.
Jose Olimpio, 2001.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:


métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2008.

SROUR, Robert H. Poder, Cultura e Ética nas


Organizações. São Paulo: Campus, 1998.

VIEIRA, Marcelo M. F. Por uma boa pesquisa


(qualitativa) em administração. IN: Vieira,
Marcelo M. F. e Deborah M. Z. Pesquisa
qualitativa em administração. Rio de Janeiro:
FGV, 2004.

Maringá Management: Revista de Ciências Empresariais, v. 10, n.2, - p. 07-23, jul./dez. 2013. 23

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