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Profa Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni
Pensamento, linguagem e os interacionistas
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Para o momento de contextualização, sugerimos que você leia o breve artigo, da
revista Nova Escola, “Concepções de linguagem alteram o que e como ensinar”. É um trecho
adaptado da reportagem “O papel das letras na interação social”, que também vale a pena ser
lido para ampliar os seus conhecimentos a respeito do tema.
A leitura do trecho citado é importante para que você entenda por que a prática diária
da leitura e da escrita, em atividades mediadas pelo professor, é fundamental quando se
considera a linguagem uma forma de interação social.
Logo abaixo do artigo, você encontrará links com os “10 capítulos essenciais da
produção de texto”. Nesses links você encontrará excelentes “dicas” sobre o que ensinar e
como ensinar. São sugestões que, certamente, farão você refletir sobre sua futura prática de
professor.
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Nesta unidade, estudaremos a construção do pensamento e da linguagem humana
com base em uma perspectiva interacionista. A matriz do conhecimento interacionista, na
Psicologia, está associada principalmente à teoria de Levi Vygotsky e Jean Piaget, além de
outros autores.
Qual a importância
Como a linguagem e
da linguagem e do
o pensamento
pensamento para o
podem influenciar o
processo de
nosso
comunicação
desenvolvimento?
humana?
São tantos questionamentos possíveis que poderíamos nos perder no meio de tantas
palavras e interrogações. Todavia, para podermos trocar ideias e chegarmos a alguma
conclusão ou construirmos conhecimento a respeito do tema, teremos que nos comunicar
através de uma linguagem. A Língua ou o sistema de comunicação e expressão verbal ou não
verbal permite que os indivíduos expressem suas ideias, seus pensamentos, suas emoções e
desejos. Esse sistema de comunicação, que se manifesta por diferentes maneiras de falar ou
escrever, está intimamente ligado à sua época e local de acontecimento. Para ressaltarmos a
importância da comunicação entre as pessoas, vamos fazer referência à história bíblica da
“Torre de Babel”. Você se lembra da história?
Nesse processo, devemos considerar que a língua que usamos para nos comunicar é,
em certo sentido, volátil e muda dependendo do tempo e do lugar. É o caso da internet, que,
paulatinamente, vem incluindo novas palavras e expressões ao nosso vocabulário cotidiano,
ou o caso das gírias, que também acrescentam palavras ao nosso repertório, ocasionando,
assim, uma mudança constante em nossa forma de expressão e comunicação, em nossa
forma de falar e escrever. Sendo assim, a escola e o professor devem ficar atentos às
mudanças ocorridas em nossa língua.
Durante esse processo, surgiu a necessidade de grafar essas ideias e o homem passou a
fazer registros em suas cavernas, os quais são encontrados, até hoje, na Arte Rupestre. Arte
Rupestre é a denominação dada a desenhos e registros iconográficos feitos pelos homens pré-
históricos nas cavernas onde moravam; são representações artísticas realizadas há mais de
40.000 anos a.C., ainda no período Paleolítico. É a fase da História que precede a escrita.
Veja a imagem:
http://www.brasilescola.com/historiag/a-arte-rupestre.htm
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Paulatinamente, os homens foram vinculando esses símbolos entre si e construíram um
sistema de códigos, pelo qual se comunicavam. As diferentes etnias construíram códigos
próprios, tais como os sumérios, povo ao qual se atribui o advento da escrita.
[...] Também no estágio inicial do desenvolvimento da criança, poderíamos, sem dúvida, constatar a
existência de um estágio pré-intelectual no processo de formação da linguagem e de um estágio pré-
linguagem no desenvolvimento do pensamento. O pensamento e a palavra não estão ligados entre si por um
vínculo primário. Este surge, modifica-se no processo do próprio desenvolvimento do pensamento e da
palavra (VYGOTSKY, 2001, p.369).
Observe que Vygotsky defende a ideia de que pensamento e linguagem são fenômenos
distintos e de que o desenvolvimento de ambos é modificado por sua própria influência.
Embasados pela teoria interacionista, podemos dizer que, apesar de objeto e palavra
formarem uma estrutura única, não podemos conceber essa relação como um simples vínculo
associativo entre palavra e seu significado. Essa é uma relação complexa e compõe uma
mutabilidade em seu desenvolvimento singular.
Vygotsky (2001) estudou com profundidade o tema, criticou os estudos anteriores aos
dele por não considerarem a questão da mutabilidade no desenvolvimento do pensamento e
da linguagem. Com muito respeito, faz observações sobre a obra de Piaget, principalmente no
que tange às questões do egocentrismo na infância. Também levanta questionamentos sobre a
teoria da Gestalt por não considerar a transformação do significado das palavras.
Esta tendência em contar com operações usadas na vida prática foi o fator controlador no caso de pessoas
analfabetas e que não tinham recebido qualquer educação. [...] Pessoas que, de alguma forma, eram mais
educadas empregavam a classificação categórica, como método de agrupar os objetos, ainda que tivessem
recebido apenas um ou dois anos de escolaridade (VYGOTSKY, LURIA E LEONTIEV, 2005, p. 50).
Quando nossos sujeitos adquiriram alguma educação e tiveram participação em discussões coletivas de
questões sociais importantes, rapidamente fizeram a transição para o pensamento abstrato (VYGOTSKY,
LURIA E LEONTIEV, 2005, p. 52).
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A Epistemologia Genética subordina o desenvolvimento do indivíduo a questões
sensório-motoras de fundo genético, o que acontece também em relação à linguagem e ao
pensamento. Para Piaget, o pensamento antecede a linguagem, que é definida apenas
como uma forma de expressão do pensamento, mas não a única.
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Montoya continua, ainda, com seus argumentos a respeito da teoria de Jean Piaget ou
da Epistemologia Genética:
Na perspectiva da explicação do progresso, nessa fase, as pesquisas de Piaget (1923, 1924) mostram
que os fatores sociais e culturais são aqueles que promovem o desenvolvimento do pensamento. Assim,
quando ele se refere à sucessão evolutiva do pensamento “autístico” (individual e incomunicável) para
o pensamento “dirigido” (socializada, orientada pela adaptação progressiva dos indivíduos uns aos
outros), o progresso é atribuído à ação do meio social e da linguagem (MONTOYA, 2006, p. 120).
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Diálogo com o Autor
Podemos, então, admitir que exista uma função simbólica mais ampla que a linguagem, englobando,
além do sistema de signos verbais, o do símbolo no sentido restrito. Pode-se dizer, então, que a origem
do pensamento deve ser procurada na função simbólica. Mas também se pode, legitimamente,
sustentar que a função simbólica se explica pela formação das representações [...] (PIAGET, 1972, p. 85).
Mas como a linguagem só é uma forma particular da função simbólica e, como símbolo individual é,
certamente, mais simples que o signo coletivo, conclui-se que o pensamento precede a linguagem e que
esta se limita a transformá-lo, profundamente, ajudando-o a atingir suas formas de equilíbrio através de
uma esquematização mais desenvolvida e de uma abstração mais móvel (PIAGET, 1972, p. 86).
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A escrita apareceu em várias culturas: na dos Sumérios, no Oriente Médio; na dos
povos Maias, nas Américas, ou ainda na dos povos Orientais, como os chineses.
Provavelmente a necessidade da escrita surgiu como imperativo do desenvolvimento da
economia e da sociedade. A primeira forma de escrita registrada é a escrita denominada
Cuneiforme, que surgiu por volta do ano 3500 a.C., na Mesopotâmia, desenvolvida pelo
povo Sumério.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25247
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25247
Não podemos nos esquecer do povo Maia, na América, e do povo Oriental, como os
Chineses e Indianos, que também desenvolveram uma forma de representar e registrar as
palavras.
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Hoje escrevemos em tablets e, de forma virtual, registramos nossas palavras; ao mesmo
tempo, alguns povos ameríndios e africanos ainda não possuem uma língua escrita, o que
mostra a complexidade das sociedades atuais que ocupam o planeta. Aqui não há juízo de
valor ou afirmação de que um povo é mais evoluído que outros por ter um sistema de escrita;
trata-se apenas uma observação.
O fato de grafar uma palavra não significa que ela passa a adquirir uma precisão
terminológica. Claro que um bom dicionário dará esclarecimentos sobre o significado da
palavra, mas, em nosso cotidiano, quando usamos a linguagem para uma comunicação entre
pessoas, será que temos o significado linguístico de cada palavra que falamos? E a pessoa que
ouve essas palavras, será que atribui o mesmo significado elas? Será que a entonação que
damos à palavra não modifica seu significado? E a palavra escrita, garante um entendimento
único? E a escola como faz para equacionar essas questões?
Letramento: produto da participação em práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia.
São práticas discursivas que precisam da escrita para torná-las significativas. Dessa concepção decorre o
entendimento de que, nas sociedades urbanas modernas não existe grau zero de letramento, pois nelas é
impossível não participar, de alguma forma, de algumas dessas práticas. (BRASIL, 1998, p. 121).
O texto refere-se a práticas discursivas tanto do ponto de vista oral quanto escrito. Uma
pessoa alfabetizada e letrada significa uma pessoa que, além de decifrar os códigos escritos da
linguagem, também é capaz de discernir os diversos usos da escrita, podendo diferenciar um
texto jornalístico ou informativo de uma poesia ou uma escrita escolar de um bilhete caseiro,
compreendendo a comunicação dessa escrita. E ainda, como diz Paulo Freire, sobre a
dinâmica da leitura das palavras e do contexto:
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir
da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão
do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o
contexto. (FREIRE, 1989.p.09)
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Então podemos concluir que a alfabetização, razão primeira da escola, não pode
prescindir também do letramento, porque o uso social da escrita deve considerar a realidade
em que ela acontece, ou seja, podemos inferir que a palavra lida interfere na compreensão do
mundo e vice-versa.
São as interações construídas por nossas vivências que nos permitem o incremento da
linguagem e do pensamento humano. Nesse sentido, a escola é lugar privilegiado para
desenvolvermos e incentivarmos a oralidade do educando, já que ele ainda não domina os
códigos da linguagem escrita ou a leitura das palavras.
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No processo de aquisição da oralidade, a criança passa por momentos diferentes: o da
fala e o da escuta. Ao professor, de forma interativa, cabe escutar a criança com atenção,
atribuindo sentido ao que é falado e reconhecendo que a criança necessita dizer algo. Além
do professor, a criança e seus pares também devem exercitar a escuta, para que haja um
processo de comunicação pleno e adequado. Proporcionar uma escuta atenta pode gerar
novos pensamentos, novas formas de pensar.
Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também os seus significados culturais, e,
com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio sociocultural entendem, interpretam e
representam a realidade (BRASIL, 1989. P. 117).
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Ao lermos a passagem acima, percebemos a importância da cultura e das interações
sociais na construção e no aprendizado de uma língua. A forma como interpretamos a
realidade em que estamos inseridos é condição primordial para a construção e o uso da
linguagem.
Para finalizar a unidade, vamos poetizar o texto, lembrando que, talvez, o melhor das
palavras faladas ou escritas, como nos ensinam as crianças, é que podemos delas nos
apropriar e com elas brincar como fazem os poetas e compositores, entre eles Chico Buarque
na música “Tantas Palavras”:
Tantas palavras
Que eu conhecia
Quantas palavras
Saíram de cartaz
Nós aprendemos
Palavras duras
Palavras tontas
Nossas palavras
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Sugerimos, para complementar seus estudos, três músicas, para que você, ao ouvi-las,
possa refletir sobre a palavra e a linguagem. As músicas e as letras poderão ser encontradas
nos sites indicados abaixo. Clique no link e acompanhe a música e a letra de cada canção.
Observe que, nas letras, são inventadas algumas palavras; outras aparecem, mas com sentido
figurado. Ouça com atenção e reflita sobre as palavras e seus significados.
http://letras.mus.br/caetano-veloso/76613/
http://letras.mus.br/chico-buarque/86061/
http://letras.mus.br/chico-buarque/86075/
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BRASIL. Ministério da educação e do desporto. Referencial Curricular Nacional Para a
Educação Infantil: Conhecimento de Mundo. V. 3. Brasília: Mec/Sef, 1998.
PIAGET J. Seis estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice M. D’Amorim e Paulo Sérgio L.
Silva. Coleção culturas em debate. Rio de Janeiro: Ed. Forense. 1972.
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