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MARINGÁ – PR
2015
VITOR MARQUES PEREIRA
MARINGÁ – PR
2015
AGRADECIMENTOS
Diversos autores, tais como Rosa e Rosa (2010), Axt (1991), Saad (1977) discutem em suas
pesquisas a importância da atividade experimental no processo de ensino-aprendizagem em
Física. Este trabalho apresenta um estudo sobre o que pensam e as dificuldades de professores
de Física, em relação à importância que atribuem à atividade experimental. Utilizamo-nos de
uma pesquisa de abordagem qualitativa-descritiva, em que os dados empíricos foram
coletados por meio de um questionário com perguntas abertas e fechadas, respondidas por 19
professores de Física, naturais de diferentes regiões do estado do Paraná, sendo que, no
período em que se desenvolveu esta pesquisa, 9 deles eram alunos do Mestrado Nacional
Profissional em Ensino de Física (MNPEF), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
campus de Campo Mourão (PR), e os demais, alunos do Plano Nacional de Formação de
Professores (PARFOR), da Universidade Estadual de Maringá, em Maringá (PR). Para se
analisar os dados apresentados nos questionários, utilizamos a metodologia da análise de
conteúdo, proposta por Bardin (2006). A análise e a interpretação dos dados demonstraram
que o ensino da Física, apesar de tantas propostas de reforma curricular e da consciência dos
professores em relação à importância do laboratório para o aluno, continua a ser ministrado no
modelo mais tradicional possível, com uma visão empirista-indutivista. Verificou-se, também,
que os professores, de modo geral, tentam justificar a não utilização do laboratório de Física,
muitas vezes, querendo se ausentar do problema, apontando a carga horária reduzida da
disciplina, o elevado número de alunos por turma, a ausência de laboratorista ou a falta de
laboratório, não havendo muita vontade em mudar a situação a seu favor. A investigação,
embora feita com apenas 19 professores, representa, de forma bastante próxima, a situação
geral da disciplina de Física no Ensino Médio nas escolas paranaenses.
Several authors such as Rosa and Rosa (2010), Axt (1991), Saad (1977), discuss their
research on the importance of experimental activity in the teaching-learning process in
Physics. This paper presents a study on the design of Physics teachers, about the importance
they attach to experimental activity. We use research qualitative descriptive approach, where
the empirical data was collected by applying a questionnaire with open and closed questions
to 19 teachers from different regions of the state of Paraná (Brazil), with 9 students of the
program of Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF) of the
Universidade Federal Tecnológica do Paraná, campus at Campo Mourão (Paraná, Brazil) and
other 10 students of the Plano Nacional de Formação de Professores (PARFOR) of the
Universidade Estadual de Maringá (Maringá; Paraná; Brazil). To analyze the data provided in
the questionnaires we use the methodology of content analysis proposed by Bardin (2006).
The analysis and interpretation of the data showed that the teaching of Physics, despite many
curricular reform proposals and consciousness of teachers regarding the importance of the
laboratory for the student, it remains possible given the more traditional model, with
empiricist-inductive vision. We also found that in general teachers try to justify not using the
physics lab, often wanting to leave the problem in reduced hours of discipline, the high
number of students per class, in the absence of laboratory technician or in the absence of
laboratory and there is no great desire to change the situation in their favor. Research, though
made with only 19 teachers is quite closely, the overall situation of the discipline of Physics
in high school in schools of the state of Paraná.
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13
1 ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NO ENSINO DE FÍSICA ........................... 16
1.1 OS GRANDES PROJETOS ............................................................................... 16
1.2 TIPOS DE ABORDAGEM EXPERIMENTAL ................................................ 22
1.2.1 AS EXPERIÊNCIAS DE CÁTEDRA ........................................................................... 22
1.2.2 O LABORATÓRIO TRADICIONAL ........................................................................... 23
1.2.3 O LABORATÓRIO DIVERGENTE ............................................................................. 23
1.2.4 O LABORATÓRIO ABERTO E O DE PROJETOS ......................................................... 23
1.2.5 O LABORATÓRIO À DISPOSIÇÃO DO ALUNO .......................................................... 24
1.2.6 O LABORATÓRIO E O PROBLEMA DA REDESCOBERTA ........................................... 24
1.3 ALGUMAS REFLEXÕES ................................................................................ 25
1.4 A EXPERIMENTAÇÃO NO CURRÍCULO ESCOLAR ................................. 27
1.5 A DIMENSÃO EPISTEMOLÓGICA DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO 29
2 OBSTÁCULOS NA LICENCIATURA EM FÍSICA ................................... 32
2.1 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ..... 32
2.2 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE FÍSICA ........................................ 37
2.3 OS PROBLEMAS NA FORMAÇÃO INICIAL EM FÍSICA ........................... 39
2.4 PERSPECTIVAS VERSUS INVESTIMENTOS ............................................... 45
2.4.1 PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ........................................... 49
2.4.2 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL ............................................ 50
2.4.3 MESTRADO NACIONAL PROFISSIONAL EM ENSINO DE FÍSICA .............................. 51
2.4.4 PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA .................. 52
3 O CAMINHO DA PESQUISA ........................................................................ 54
3.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................... 54
3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................... 55
3.3 PROCEDIMENTO ANALÍTICO ...................................................................... 56
4 UMA REFLEXÃO SOBRE AS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NO
CONTEXO ESCOLAR ................................................................................... 59
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 73
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 76
APÊNDICE 1 ..................................................................................................... 82
ANEXO 1 ........................................................................................................... 85
13
INTRODUÇÃO
cadela Laika, e, em 1961, o primeiro cosmonauta, Yuri Gagarin, então piloto da Força Aérea
Soviética, cuja notícia, em sua época, pode ser assistida2, parcialmente, ainda hoje.
Do outro lado do Pacífico, pode-se dizer que a resposta dos EUA não tardou. Ainda em
1961, John F. Kennedy, ex-presidente estadunidense, lançou o desafio de o homem ir à Lua. Foi
naqueles anos, bem antes do homérico discurso de Neil Armstrong, em 1969, que se deu origem
a maior das influências que o Ensino de Física mundial conhecera: o curso ‘Física’, do Physical
Science Study Committee (PSSC), traduzido, inclusive, para a língua russa.
Naquele período, o ensino da Física baseava-se, como ainda se baseia, no caso do Brasil,
em livros didáticos. Eles oferecem conhecimentos cuja seleção e organização podem refletir
certo padrão de profundidade e extensão passível de fornecer indicativos de qualidade do ensino
das instituições que os empregam. Porém, em 1837, esses livros eram diferentes dos didáticos
atuais, universitários ou do Ensino Médio, uma vez que se apresentavam como compêndios. Se
comparados, eles se diferem em muitos aspectos. Os compêndios eram elaborados por um único
autor, com base em suas notas de aulas, sem exercícios e apenas descrições de experimentos,
sem sugestões experimentais. Atividades experimentais, aliás, já eram consideradas à época,
mas, efetivamente, apenas livros eram adotados.
No contexto pós-guerra, o paradigma dos livros é substituído pelo dos projetos, cujas
atividades experimentais passam a ser mais valorizadas. Por representar tal mudança, o PSSC
é um bom referencial. Ele surgiu da insatisfação, especialmente dos físicos, com o ensino
dessa ciência, nos EUA, propondo uma completa renovação do currículo de Física do Ensino
Médio desse país (MOREIRA, 2000). Pode-se dizer, talvez, ser uma das primeiras iniciativas
de se pensar e efetivar um ensino de Física atualizado, motivador e eficiente (GASPAR,
2004).
Criado nos EUA, em 1956, patrocinado pela National Science Foundation, inseriu-se
o projeto em meio à ampla mobilização nacional que resultou do impacto das conquistas
soviéticas (GASPAR, 2004). Publicado em 1960, naquele país, traduzido para o português,
em 1963, o curso não era simplesmente mais um livro de Física para o Ensino Médio, mas um
projeto curricular completo, com materiais instrucionais inovadores e uma filosofia de ensino
de Física com destaque a procedimentos científicos e à estrutura da Física (MOREIRA, 2000).
Por um lado, o projeto opôs-se à Física como conjunto de fatos, e, de outro, apresentava-a
2
BRITISH PATHÉ. First Man in Space (1961). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=373SuXatM0U>. Acesso em: 22 dez. 2014.
18
como processo em evolução, por meio do qual o homem procura compreender a natureza do
mundo ao seu redor (PHYSICAL SCIENCE STUDY COMMITTEE, 1963).
Compunham o projeto, como um todo, além do livro, um guia de laboratório, kits
experimentais modernos, filmes, uma série de publicações preparadas por pesquisadores
expoentes nos respectivos campos científicos, testes padronizados e um livro do professor
(GASPAR, 2004).
Formada por centenas de professores de Física e alguns educadores, a comissão
responsável pelo PSSC, liderada por uma equipe de físicos do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), coordenada pelo professor Jerrold R. Zacharias, foi influenciada pelas ideias
de Jerome Bruner, pedagogo cognitivista, e, assim, refletiu-se em uma ênfase curricular
baseada num novo ordenamento lógico para a apresentação da Física (GASPAR, 2004).
Todavia, as ideias de Bruner não prevaleceram, mas as de Zacharias, de concepção indutivista-
ingênua3 – filosofia equivocada – em que as manifestações visíveis, tangíveis, da verdade,
precedem equações e gráficos (RAIMI, 2004).
No Brasil, os textos foram editados pela Editora Universidade de Brasília, com os
experimentos sendo confeccionados pela Fundação Brasileira para o desenvolvimento do
Ensino de Ciências (FUNBEC), criada em 1966, na capital de São Paulo, majoritariamente
para esse propósito. Sua difusão, porém, foi restrita. Poucos professores tomaram
conhecimento do material e, simultaneamente, sentiram-se capazes de aplicá-lo,
principalmente pela dificuldade de sua utilização, muitas vezes incompletos, sem uma
adequada identificação e instrução auxiliar, além daquela dos textos originais. Seu
descompasso com a realidade brasileira e o despreparo de grande parte dos professores são
tidos como os principais fatores que podem ter implicado no fracasso pragmático ness país,
porém nem nos EUA os resultados foram animadores (GASPAR, 2004). Mas outros projetos
surgiram.
Nos EUA, o Project Physics Course ou, simplesmente, Projeto Harvard surgiu, em
1963, influenciado pelo educador Fletcher Watson. Sem repercussão no Brasil, opôs-se ao PSSC
ao divergir da concepção de um ensino fragmentado e racionalmente sequenciado. Propôs-se,
com ele, mostrar, por meio de seu impacto social, um desenvolvimento humano da Física,
amenizando a ideia de que o progresso do mundo estivesse nas mãos da Ciência. No que diz
respeito aos kits experimentais, era a alternativa de um mesmo experimento oferecer
3
Empregamos o termo indutivista-ingênuo tal como cunhado por Chalmers (1993).
19
do ensino secundário de Física daquela época. Além dos textos em instrução programada, o
projeto também produziu filmes e material experimental.
Segundo Gaspar (2004), a instrução programada respeitava o ritmo individual de
compreensão do aluno, e a condição para passar a um novo tópico consistia no domínio do
conteúdo do tópico anterior.
Algumas razões para o insucesso, no Brasil, dos projetos destacados, internacionais e
nacionais, podem ser: dentre os estrangeiros, eles não superaram o forte atrelamento das
atividades experimentais à ideia de concepção empirista de aprendizagem e, também, a
concepção dos professores, permeada pela visão popular de ciência; e, entre os nacionais, os
seus autores não se preocuparam em explicar qual era a função do experimento no contexto
escolar (ALVES FILHO, 2000), além da ineficiente distribuição do material, da qualidade do
material experimental e da dificuldade de obtenção dos guias do professor.
Na década de 80, grupos de estudos específicos foram criados, dentre os quais, o
Grupo de Reelaboração do Ensino de Física (GREF), formado por professores da Rede
Pública Estadual de São Paulo, coordenado pelo Instituto de Física da USP, com a
participação, também, de alunos do mestrado em Ensino de Física daquele instituto. Na
proposta, enfatizou-se uma abordagem dos conteúdos de Física para o Ensino Médio com
enfoque na vivência cotidiana comum ao professor e aos alunos. O GREF propiciou, desde o
início, cursos de formação e assessoria aos professores do estado de São Paulo, além de
muitos outros estados da federação. Produziu uma coleção de três livros de Física (Volumes
1, 2 e 3), abrangendo as três séries do Ensino Médio, com o objetivo de possibilitar um ensino
de Física mais dinâmico e atrativo, no sentido de fazer que os professores atuem em sala de
aula conduzindo os alunos à compreensão de conceitos físicos. Além disso, produziu, para
estudantes do Ensino Médio, “Leituras em Física”, que ainda hoje encontram-se disponíveis
online4.
A proposta do GREF foi bastante difundida por todo o país, mas houve a relutância
dos professores em utilizá-la, pois esbarraram em alguns problemas. Segundo os docentes que
ministram aulas de Física, são eles: a carga horária reduzida na escola média (duas
aulas/semana), a deficiência na infraestrutura dos laboratórios de Física nas escolas, a
sobrecarga de trabalho e a consequente falta de tempo do professor para preparar as atividades
propostas.
4
GRUPO DE REELABORAÇÃO DO ENSINO DE FÍSICA. Leituras em Física. Disponível em:
<http://www.if.usp.br/gref/pagina01.html>. Acesso em: 7 set. 2015.
21
O insucesso da maioria dos projetos supracitados, ainda hoje, é sentido, uma vez que,
na segunda década do século XXI, professores de Física continuam a ministrar aulas
utilizando-se do modelo tradicional, voltado à transmissão de conteúdos por meio de aulas
expositivas e de exaustiva resolução de exercícios algébricos, não recorrendo a outros
recursos de ensino de Física disponíveis na mídia, por exemplo, experimentação, vídeos e
outros.
No início da segunda década do século XXI, mais uma vez, o Brasil colocava-se a
desenvolver, em larga escala, uma nova proposta de inserção de atividades experimentais em
aulas de Ciências. Tal proposta, intitulada “Aventuras na Ciência”, elaborada no seio das
universidades: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e Universidade de Campinas (UNICAMP), patrocinada pelo Ministério da Educação
(MEC) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
tem/tinha o objetivo de aproximar os alunos da Educação Básica das ciências exatas e
biológicas, por meio de experimentos, visando familiarizá-los com esses, a partir da
distribuição de pequenos laboratórios individuais em inúmeras escolas públicas de todo o
país.
Herch Moysés Nussenzveig, físico, mentor do projeto, explicou5 que a ideia dos kits,
que compõe o projeto, nasceu da convicção de um grupo de cientistas que acreditavam
poderem contribuir com o Ensino Médio de Ciências, estimulando, nos alunos, a sua
curiosidade inata e recuperando o prazer deles em descobrirem o porquê das coisas, por meio
dos recursos experimentais. Todavia, no momento em que se redigia esta dissertação, o sítio
eletrônico do projeto foi, aparentemente, suspenso – possivelmente afetado pelos cortes
orçamentários que diversos órgãos governamentais, incluindo o Ministério da Educação,
vêm sofrendo com a crise econômica – o que nos impossibilitou de verificar se a previsão do
MEC, de distribuir 1 milhão desses kits para mais de 22 mil escolas em todo o país, continua
previsto, como pudemos verificar na última notícia a que tivemos acesso6, com data de 13 de
março de 2015.
5
Disponível em: <http://www.aventurasnaciencia.com.br/o-projeto-dos-kits-aventuras-na-ciencia>. Acessado
em: 26 dez. 2014.
6
Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/03/13/kits-de-ciencias-serao-distribuidos-em-escolas>.
Acessado em: 25 jul. 2015.
22
Das seis categorias cujas atividades experimentais podem ser exploradas, é nessa que
o aluno tem a menor liberdade de interação com o material instrumental, com o(s)
experimento(s). Os objetivos são ilustrar e ajudar à compreensão dos conteúdos das aulas
teóricas, torná-las mais interessantes, mais agradáveis aos alunos – provavelmente devido à
liberdade de um diálogo mais informal com o professor – e desenvolver a capacidade de
observação e reflexão dos alunos.
Destaca-se que, para que esses objetivos sejam alcançados, os alunos devem ter
consciência da finalidade da experiência. Em outras palavras, ela não é auto-instrutiva.
23
Segundo Benini (2006), o laboratório aberto permite, ao aluno, uma participação quase
autônoma no trabalho experimental. É um laboratório tradicional com flexibilidade de horário
de trabalho, podendo, nos casos que lhe convier e com a supervisão de um responsável, o
24
aluno desenvolver as atividades. Por outro lado, o laboratório de projetos é caracterizado pela
possibilidade do aluno escolher seus objetivos, elaborar seu plano de trabalho, escolher o
material a utilizar etc. Nestes casos, os objetivos do professor podem relacionar-se ao
planejamento do experimento e à sua execução, e do aluno, que se vê diante de um trabalho
científico, ao de pesquisar por meio dos conhecimentos que se mostrarem necessários.
Paralelamente, o desenvolvimento acadêmico do aluno poderá ser objeto de observação do
professor, verificando-se se esse tem objetivos implícitos, efetuou adequada calibração dos
instrumentos, fez um bom tratamento dos dados etc.
Seu objetivo é proporcionar meios para que os alunos redescubram leis científicas,
refletindo, assim, em um aprendizado mais efetivo. A redescoberta de um fenômeno e sua
concordância com dados experimentais previamente existentes têm como ideia implícita fazer
com que o aluno se sinta vitorioso, com uma sensação de dever cumprido. Porém o processo
não poderá ser desenvolvido por acaso, colocando-se o aluno diante de uma variedade enorme
de instrumentos e aguardando que ele descubra algo. Se ocorrer assim, poderá ser
extremamente frustrante, tanto para o professor, quanto para o aluno. É apenas a partir de uma
sólida base conceitual e habilidades experimentais que o aluno poderá tentar alguma
redescoberta.
25
Considere, também, que, desse modo, livros que apresentam atividades experimentais
similares a essas podem ser seguidas, eventualmente, à risca, por um ou mais professores, como
uma receita indutivista.
Em ambos os exemplos, o aluno é orientado a realizar uma atividade experimental em
que, antes de realiza-la, já sabe o resultado. Em outras palavras, sua realização é passível de ser,
para ele, descartável. Apesar dessas atividades assim apresentarem-se, equivocadas, e para além
dos grandes projetos arquivados (engavetados), somos levados a acreditar que, em geral, aqui
no Brasil, elas continuam a ter sua relevância, ao menos para pesquisadores de nível Superior,
mas não tanto pelos docentes da escola básica. Os professores desses níveis, principalmente
os do Ensino Médio, manifestam interferências prejudiciais à utilização desse recurso, ou
27
mesmo outros presentes na mídia, tais como7: tempo restrito de duas horas-aula/semana de
Física, por turma; sobrecarga de trabalho, para compensar baixos salários; ausência ou
desestruturação de laboratório na escola; turmas numerosas com mais de quarenta alunos em
sala etc.
Nesse sentido, existem crenças de que, por um lado, a utilização da física experimental
no ensino dessa ciência é relevante e, por outro, o modo que o recurso é explorado, nesse
contexto, não contribui ao aprendizado. Em oito8 periódicos analisados por Moraes e Silva
Junior (2014), constata-se que nas últimas quatro décadas completas, iniciando na de 1970,
foram publicados, respectivamente, 5, 21, 44 e 68 artigos em que experimentos eram tratados,
com enfoque no ensino da Física. Porém esses autores destacam que:
Tal constatação evidencia que a ênfase nos aspectos experimentais esconde algumas
concepções que deveriam ser problematizadas. As pesquisadoras Rezende, Ostermann e Ferraz
(2009) sugerem que se revejam as concepções da Física enquanto ciência exclusivamente
experimental, a visão empirista da ciência e, também, da aprendizagem, cuja consequência é
creditar aos recursos experimentais a possibilidade de que, com eles, os alunos “visualizem” os
fenômenos físicos.
7
RUIZ, A. I.; RAMOS, M. N.; HINGEL, M. Escassez de Professores no Ensino Médio: Propostas Estruturais
e Emergenciais. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/escassez1.pdf>. Acesso em: 9 set. 2015.
8
Ciência e Educação; Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências; Investigações em Ensino de Ciências;
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências; Caderno Brasileiro de Ensino de Física; Revista
Brasileira de Ensino de Física; Ciência & Ensino; Experiências em Ensino de Ciências.
28
ensino de física são unânimes em considerar a importância das atividades experimentais para
uma melhor compreensão acerca dos fenômenos físicos” (PARANÁ, 2008, p. 71). Tal
enfático argumento faz-nos compreender que intenção é dizer que as atividades experimentais
devem ser inseridas nas atividades educativas.
Corroborando com o documento, encontramos em Gaspar (2004) e Araújo (2003) a
sugestão de que as atividades experimentais sejam adotadas com a finalidade de buscar
estímulo no aluno, de modo a favorecer sua aprendizagem, sendo, portanto, considerados
como uma ferramenta capaz de auxiliar na compreensão dos conceitos, princípios e leis
físicas.
Desse modo, pode-se dizer que os experimentos devem ser adotados com o enfoque de
oportunizar aos alunos compreenderem os conceitos científicos e sua natureza, ou melhor, a
natureza da ciência da qual fazem parte. Para tanto, é necessário que o professor compreenda
qual é o papel dos experimentos no contexto científico, e, assim, de fato, esteja convencido,
ou não, da sua pertinência à Educação Básica.
Para Axt (1991), deve-se proporcionar uma aproximação do ensino experimental de
ciências com suas características, objetivando-se um recurso cuja qualidade seja o confronto
de ideias, peculiaridade intrínseca do desenvolvimento científico, explicitando e confrontando
hipóteses, além de demarcar-se os seus limites de validade. Nesse contexto, é inadequado
utilizar experimentos com o objetivo tradicional de comprovar leis e teorias científicas.
Um outro objetivo tradicional, a ser evitado, como destacam Moreira e Ostermann
(1993), é o demasiado enfoque – e erro epistemológico – do método científico, ou melhor,
procedimentos científicos. Borges (2006, p. 36) destaca que:
Os cientistas utilizam métodos, mas isso não significa que haja um método
científico que determine exatamente como fazer para produzir
conhecimento. O laboratório pode proporcionar excelentes oportunidades
para que os estudantes testem suas hipóteses sobre fenômenos, para que
planejem suas ações, e as executem, de modo a produzir resultados dignos
de confiança. Para que isso seja efetivo, devem-se programar atividades de
explicitação dessas hipóteses antes da realização das atividades.
acumulados pela humanidade. De acordo com Rosa e Rosa (2010), a forma como o professor
conduz o processo ensino-aprendizagem decorre, em grande parte, da sua visão de ciência.
A dimensão epistemológica da experimentação permite a discussão de diferentes
entendimentos sobre a natureza da ciência, contribuindo para compreender características
importantes em uma atividade experimental. Esse entendimento permite ampliar as discussões
sobre as concepções dos professores de Física, principalmente acerca da natureza da ciência.
Arruda, Silva e Laburú (2001) afirmam que a dimensão epistemológica do professor,
muitas vezes de forma implícita, tem reflexos em suas atividades didáticas e, assim, na visão
da ciência que o aluno apreende em sala de aula. Para eles, a imagem de ciência veiculada
entre os professores de Física é uma visão tradicional ou popular, a qual se fundamenta,
dentre outros pressupostos, em:
Concepção
Implicações no ensino da Física
Epistemológica
A demonstração em Física está relacionada à concepção do
conhecimento como verdade estabelecida. Sua base filosófica é
sustentada pelo empirismo, no qual a observação representa a fonte de
conhecimento. A utilização de demonstrações no contexto escolar
Demonstrativa
valoriza o caráter motivacional no processo de ensino e aprendizagem.
Embora a motivação seja um aspecto importante, não há indícios de
que apenas a motivação proporcione uma melhoria no ensino e na
aprendizagem em sala de aula.
31
Concepção
Implicações no ensino da Física
Epistemológica
Concepção originada no paradigma positivista, tem suas bases
alicerçadas no empirismo aristotélico, enfatizando a observação e a
experimentação como fonte de conhecimento. As atividades
Empirista- desenvolvidas segundo essa concepção seguem as regras estabelecidas
indutivista
pelo método científico, apresentando uma sequência que inicia na
coleta dos dados, passando à observação rigorosa, à experimentação, à
análise dos dados, com a posterior formulação de leis e teorias.
Nesta orientação, as atividades experimentais partem de hipóteses
derivadas de uma teoria, ou seja, estão impregnadas de pressupostos
Dedutivista-
racionalista teóricos. A experimentação e a observação, por si só, não são
suficientes para produzir conhecimento.
Nesta orientação, as atividades são organizadas a partir de
conhecimentos prévios dos estudantes, sendo os experimentos
desenvolvidos na forma de problemas ou testagem de hipóteses. Nesta
De acordo com a mesma autora, não adianta criar diversidades de cursos sem que se
pergunte quem serão as pessoas, professores, que responderão por essa formação.
A formação de profissionais específicos em nosso país, inicialmente, deu-se, segundo
palavras de Araujo e Vianna (2009, p. 2),
apenas com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino básico, com base nas
competências ditadas.
A Lei Nº 9394/96 evidencia a participação de várias categorias sociais, incluindo
professores, uma vez que a categoria se apresentava organizada. De acordo com Pereira
(1999, p. 109 apud SANTOS, 2004, p. 21), houve discordâncias em relação ao teor do texto:
9
Disponível em: <http://www.anped11.uerj.br/carta5coned.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2015.
35
Inicial de Professores da Educação Básica, em cursos de nível superior. Santos (2004) destaca
que as diretrizes gerais do documento deixavam claro o propósito do governo de limitar a
formação de professores tão somente ao “desenvolvimento de competências que abranjam
todas as dimensões da atuação profissional do professor” (BRASIL, 2000 apud SANTOS,
2004, p. 24).
Vejamos o conflito que este modelo tem com o que pensam os educadores e que estes
desejam, aqui representados por Silva (2002 apud SANTOS, 2004, p. 170):
[...] uma má formação inicial resulta numa postura docente que, em sua
maior parte: i. reproduz as práticas e valores vivenciados no processo de
formação, desarticulando tanto teoria e prática, como formação e trabalho; ii.
veicula processos de ensino caracterizados pelos mecanismos de
transmissão, recepção e fixação de conteúdos; iii. desenvolve atitudes de
desesperança e resistência a mudanças; e iv. apresenta uma atitude pouco
crítica em relação à importância do seu papel político-social.
professores a respeito do que é ser um bom professor. Esses alunos, incapazes de emitirem
críticas frente a um ambiente antidemocrático, passam a atribuir suas dificuldades às limitações
próprias apenas, fazendo-os adquirir um “medo” de não estarem aptos a exercerem o
magistério, frente a esse modelo tecnicista de professor de Física que conheceram.
Tal experiência formativa reflete-se na dificuldade do já licenciado perceber que, em
sala de aula, no ensino básico, existem outros conhecimentos tão importantes quanto os de
conhecimento científico, ou específico, e que devem ser igualmente evidenciados. Porém,
nesse modelo de ensino universitário, não encontram suporte. Ensinar o hábito de refletir,
argumentar, respeitar e discordar de concepções diversas que podem existir para um mesmo
fenômeno físico não lhe foi apresentado, ao agora professor. Por isso surge a reflexão crítico-
pessoal, muitas vezes tardia, da falta de preparação pedagógica dos ex-licenciandos. Percebe-
se, então, que o professor atual precisa entender que a docência é um processo dinâmico,
vivencial e mais complexo do que um simples treinamento para a docência, mas que esse
entendimento não poderá ser oportunizado enquanto se mantiver um ensino tecnicista.
Abib (2002 apud PEREIRA, 2013) destaca a inadequação que procuramos exemplificar
dos programas de formação inicial, pois nesses programas há um
Sobre esses problemas, Camargo e Nardi (2006 apud PEREIRA, 2013), ao refletirem sobre
a opinião de Abib (1996), indicam algumas consequências ao “novo” profissional que se forma
sob tal base:
Destacamos, até aqui, que a formação inicial do professor de Física tem algumas
limitações, que influem na prática docente deles. Entretanto o que é que se pode dizer dos
profissionais que ministram a disciplina de Física e que não tem essa formação? É claro que as
dificuldades serão outras, mas, também, maiores. Entendemos que o ingresso desses
profissionais no atual caleidoscópio de problemas no ensino da Física tem como origem a
década de 1970, em que se reformulam os cursos de curta duração da década de 1960.
Segundo Lima-Tavares (2006), as licenciaturas curtas possuem dois momentos, uma
proposição aprovada em 1964 e, a outra, em 1971. Para os nossos objetivos, não
intencionamos fazer uma abordagem aprofundada desses cursos, mas apenas apontar as
especificidades da licenciatura curta, reformulada na década de 70, que tem implicações nas
dificuldades que hoje muitos professores enfrentam. O Parecer Nº 895/71 do CNE/CP indicava
que era necessário rever com urgência a duração das atuais licenciaturas curtas – que já eram
curtas! Por meio desse parecer, diminui-se o tempo da Licenciatura Curta em Ciências de
2.430 para 1.500 horas (para efeito de comparação, a duração dos cursos de Licenciatura
Plena, como já informamos anteriormente, é de 2.800 horas).
44
Surge daí diversas implicações formativas que, como já destacamos antes, determina o
modo do profissional lecionar. É igualmente determinante às aulas desse a sua adequação à
respectiva especificidade da área, uma vez que cada uma das ciências (Física, Química e
Biologia) tem a sua. São essas especificidades, às quais mostramos que há alguns problemas
existentes na Licenciatura em Física, das quais esses profissionais, formados nas licenciaturas
curtas, careceram, e que, como já citamos no início desta seção, tais limitações da formação
inicial dificilmente podem ser superadas por meio de formação continuada (CHAVES;
SHELLARD, 2005). Para citar mais um exemplo de limitação, destacamos a inserção da Física
Moderna e Contemporânea no currículo escolar do Ensino Médio. Os profissionais formados
em Licenciatura Curta em Ciências, com uma complementação/habilitação em Física, não são
contemplados em sua grade curricular formativa com qualquer tema sobre a Física Moderna e
Contemporânea, implicando em uma enorme dificuldade para eles abordarem esse assunto em
sala de aula, pela complexidade do mesmo.
Figura 3: Conclusões do INEP, sobre os docentes que lecionam Física no Ensino Médio regular.
Fonte: Parecer Nº 2/2015 CNE.
Por outro lado, ao Ensino Médio, Moreira (2000, p. 97) afirma que, para ele, “parece
apropriado tomar como perspectiva o que está proposto para a Física, em termos de
competências e habilidades” nos PCN, nos quais acrescentaríamos ensinar o hábito de refletir,
argumentar, respeitar e discordar de concepções diversas, como destacamos anteriormente,
47
pois entendemos que, majoritariamente, os PCN ainda propõe a Física de modo conteudista,
tecnicista e instrumentalista.
A grande maioria dos alunos do Ensino Médio não vai estudar Física mais
tarde. Por isso, não tem sentido ensinar-lhes Física como se fossem físicos
em potencial [...]. Eles serão, sobretudo, cidadãos e, como tal, a Física que
lhes for ensinada deve servir para a vida, [dentre outras habilidades de um
cidadão em um meio democrático] permitir-lhes melhor compreensão do
mundo e da tecnologia. (MOREIRA, 2000, p. 98, grifo nosso).
afastamento, remunerado, de 100% de sua carga horária no primeiro ano e 25% no segundo
ano do programa.
Prevê-se o ingresso anual dos professores estaduais no programa com vistas a, em dois
anos de curso, poderem melhorar o processo de ensino que oportunizam, em suas respectivas
escolas, bem como fornecer subsídios à sala de aula, relacionados a avanços no conhecimento
oriundos da evolução da Ciência e da Tecnologia, presentes no século XXI.
Com intuito de trazer melhorias para o ensino da Física no país, o Mestrado Nacional
Profissional em Ensino de Física (MNPEF) é um programa nacional profissionalizante
voltado aos professores do Ensino Médio e Fundamental e coordenado pela Sociedade
Brasileira de Física (SBF). O “ProFis”, como é mais conhecido, conta com várias instituições
de nível superior, totalizando 45 polos regionais, espalhados em todas as regiões do país,
sendo a Universidade Estadual de Maringá um dos 21 primeiros, que se deu início em 2013.
O aluno que ingressa no “ProFis” deverá ter como orientador um professor doutor
credenciado no programa e indicado como orientador pela Comissão de Pós-Graduação, com
previsão de conclusão do curso em 24 meses, período esse que os professores participantes do
programa cursarão sete disciplinas de quatro créditos cada.
As linhas de pesquisa do “ProFis” são preliminarmente estabelecidas, de acordo com a
Capes:
3 O CAMINHO DA PESQUISA
• O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial
pelo pesquisador;
• A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.
Na área de ensino, a pesquisa qualitativa é muito utilizada, pois serve para descrever e
interpretar os elementos de um sistema complexo, ou seja, traduz o que ocorre entre os
pesquisados, suas reações e os motivos de agirem de tal maneira. Para tanto, as observações
qualitativas são feitas permanecendo por um determinado tempo no local onde serão coletadas
as informações.
Por meio das observações que vão sendo descritas, é possível constatar os fatos e
coletar os dados necessários para uma análise final, onde pode se chegar a uma conclusão da
pesquisa. Todavia os participantes da pesquisa podem direcionar o rumo da pesquisa em suas
interações com o pesquisador.
Como os dados são obtidos em ambientes naturais, onde ocorre a situação estudada,
frequentemente, o pesquisador tem de estar presente, no entanto sem manipular,
intencionalmente, a situação, cujos dados têm grande relevância para a eficácia da pesquisa.
Além disso, a questão da confiabilidade e validação dos resultados obtidos em estudos
qualitativos deve ser considerada. Para obter esses atributos, o pesquisador deverá cumprir a
sequência e, integralmente, as fases do respectivo projeto, com a coleta de dados, a análise e a
documentação, contribuindo para tornar mais confiável o estudo.
De acordo com Gil (1999, p. 128), um questionário pode ser definido “como a técnica
de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas
por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos,
interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”
Ainda de acordo com o mesmo autor, o momento de formulação das questões é de
extrema importância. Gil (1999) destaca o seguinte:
• As perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concreta e precisa;
• Deve-se levar em consideração o sistema de preferência do interrogado, bem como o
seu nível de informação;
• A pergunta deve possibilitar uma única interpretação;
56
Diversos autores, tais como Bardin (2006), Minayo (1993) e Triviños (1987) definem
diferentes tipos de técnicas que podem ser adotadas para o desenvolvimento de uma análise
de conteúdo, técnica que utilizamos. São elas:
• Análise temática ou categorial;
• Análise de avaliação;
• Análise representacional.
Cada técnica citada permite a exploração do material analisado a partir da observação
de diferentes elementos presentes no texto, bem como conduzem a resultados distintos em
termos de compreensão da mensagem.
De acordo com Bardin (2006), a análise de conteúdo possui etapas bem definidas que,
ao serem seguidas, permitem ao pesquisador tirar algumas conclusões sobre o fenômeno ou o
sujeito estudado. As etapas citadas pela autora são definidas como: pré-análise, exploração do
material ou codificação, tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Essas etapas
podem ser especificadas como:
ETAPA DESCRIÇÃO
Nesta etapa são desenvolvidas as operações preparatórias para a
análise propriamente dita. Consiste num processo de escolha dos
Pré-análise documentos ou definição do corpus de análise; formulação das
hipóteses e dos objetivos da análise; elaboração dos indicadores
que fundamentam a interpretação final.
Consiste no processo através do qual os dados brutos são
Exploração do Material transformados sistematicamente e agregados em unidades, as
ou Codificação quais permitem uma descrição exata das características
pertinentes ao conteúdo expresso no texto.
Busca-se, nesta etapa, colocar em relevo as informações
Tratamento dos fornecidas pela análise, através de quantificação simples
Resultados - Inferência (frequência) ou mais complexas como a análise fatorial,
e Interpretação permitindo apresentar os dados em diagramas, figuras, modelos
etc.
Quadro 2: Descrição das etapas do processo de análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2011).
Fonte: Oliveira (2008, p. 572).
58
Caminhamos por essas etapas baseando-nos em Oliveira (2008), que desenvolveu uma
sistematização dos procedimentos exigidos pela análise de conteúdo temático-categorial. Aqui
destacamos algumas delas, com nossos encaminhamentos: i. leitura flutuante, meio pelo qual
o pesquisador deixa-se impressionar pelos conteúdos presentes nos textos analisados – nossa
leitura flutuante iniciou-se ainda no processo de transcrição das respostas dos professores ao
questionário em um editor de textos eletrônico, cuja tarefa conduziu-nos à etapa seguinte – ii.
definição de hipóteses provisórias, que oportunizou elaborar as unidades de significação, por
meio da qual construímos as categorias a seguir:
Categoria 1 – Limitações estruturais, cujas unidades de registro, respostas colhidas por
meio do questionário, foram discriminadas segundo a presença de argumentos relacionáveis
às condições ambientais e/ou de organizacionais do meio em que os professores se encontram
inseridos.
Categoria 2 – Limitações formativas, em que as respostas foram enquadradas segundo
argumentos explícitos relativos à formação acadêmica dos professores, refletindo-se, segundo
eles próprios, nos problemas e dificuldades enfrentados.
Por fim, procedemos à iii. análise categorial, acomodando as categorias em dimensões
de discurso e epistemológicas.
Destacamos que, por mais que o processo de análise de conteúdo tenha etapas bem
definidas a serem seguidas, ele não deve ser considerado e trabalhado como modelo exato e
rígido. Mesmo Bardin (2011) rejeita essa ideia de rigidez e de completude, deixando claro que
sua proposta, da análise de conteúdo, oscila entre dois polos da investigação científica: o rigor
da objetividade, da cientificidade, e a riqueza da subjetividade. Nesse sentido, o pesquisador,
ao utilizar-se da técnica, deve buscar ultrapassar o senso comum do subjetivismo e alcançar o
rigor científico necessário.
59
Considerando-se que este trabalho tem por objetivo i nvestigar como os professores
de Física, naturais de diferentes regiões do Estado do Paraná, abordam, ou compreendem, a
atividade experimental durante suas aulas no Ensino Médio, entendemos que esta pesquisa
será útil para se (re)pensar a formação inicial, e continuada também, desses profissionais, em
especial, de como se apresentam a eles as atividades experimentais nesses cursos. Os sujeitos
participantes da pesquisa foram 19 professores, entre 10 alunos do PARFOR e 9 do MNPEF,
como destaca-se no Quadro 3.
TEMPO DE LECIONA EM
ALUNO NATURAL DE FORMAÇÃO
EXPERIÊNCIA ESCOLA
P1 Lunardelli Matemática 4 anos Pública – Estadual
Ciências
P2 Cascavel 3 anos Pública - Estadual
Biológica
Ciências
P3 Lunardelli 11 anos Pública - Estadual
Biológica
P4 Paranavaí Matemática 4 anos Pública - Estadual
TEMPO DE LECIONA EM
ALUNO NATURAL DE FORMAÇÃO
EXPERIÊNCIA ESCOLA
M5 Campo Mourão Física 8 anos Privada
Questões
Alunos
1 2 3 4 5 6 7
P1 a não não a sim a b
P2 a não não a sim a b
P3 a não não a sim a, c, d c
P4 a não não a sim a b
P5 A a não não a sim a a
P6 L a sim sim a sim b b
P7 T a sim não a sim a, b c
E
P8 a sim sim a sim a, b c
R
P9 N a não não a sim a b
P10 A c não não b sim a a
T
I
M1 b sim sim a sim b, c b
V
M2 A a não não a sim a, c b
M3 S a sim sim a sim a, b a
M4 a sim sim a sim a, b c
M5 a sim sim b sim a, b, c c
M6 c sim não a não - c
M7 a não não b sim a b
M8 a sim sim b sim a, c a
M9 a sim sim a sim a, b, c c
Quadro 4: Descrição das situações apresentadas pelos professores pesquisados para as questões
fechadas.
Fonte: O Autor.
No que diz respeito à carga horária da disciplina de Física, todos os professores que
lecionam na esfera pública estadual afirmam ter 2 horas-aula semanais, para trabalharem os
conteúdos da disciplina. A carga horária condiz com a instrução Nº 04/2005 – SEED/SUED,
fornecida pela Secretaria da Educação do Estado, quando em suas Diretrizes para a Educação
Básica, de 2006, informa: As disciplinas da base nacional comum (Química, Física, Biologia,
Arte, Educação Física, Geografia, História, Língua Portuguesa e Matemática) terão carga
horária mínima de 2 (duas) horas-aula e máxima de 4 horas-aula semanais. Da esfera pública
federal, um professor afirmou ter 3 horas-aula semanais, das quais duas são teóricas e uma
prática, de laboratório, que sempre ocorre com a turma dividida, com no máximo 20 alunos. E
na instituição privada, dois professores disseram ter 4 horas-aula por semana na disciplina de
Física.
62
“Na escola não tem técnico disponível e a maioria dos materiais não
funcionam.” (P10)
No caso do professor M6, verifica-se no Quadro 3 que ele ministra aulas apenas na
rede privada de ensino. Essas instituições de ensino, na maioria das vezes, ancoram-se apenas
em aulas expositivas, seguindo metodologias tradicionais, visando principalmente a
aprovação dos alunos em concursos vestibulares.
Quando foram questionados sobre as dificuldades encontradas para a realização de
atividades experimentais no Ensino Básico, todos os professores elencaram uma série de
fatores que dificultam e, muitas vezes, inviabilizam a utilização dos laboratórios didáticos:
Cada uma dessas categorias pode ser formalizada juntamente com os tipos de
discursos apresentados pelos professores. Esses discursos, sob essas categorias, apresentamos
a seguir, no Quadro 6.
65
carga horária da
Limitações Estruturais
na escola, pois muitas vezes os alunos não estão “motivados” porque aprendem por meio de
experimentos, mas sim por estarem realizando algo que é muito diferente do que normalmente
caracteriza as aulas de Física.
No caso do sujeito M2, verifica-se em sua resposta uma dimensão epistemológica
construtivista, quando considera o aluno parte do processo de ensino-aprendizagem. Essa
resposta aponta indícios de que o laboratório didático está sendo entendido por esse professor
numa concepção construtivista. Contudo é necessário ter cautela nesta afirmação, uma vez
que o envolvimento ativo, por si só, não representa garantia de que o conhecimento esteja
sendo tratado de forma diferente daqueles envolvidos na dimensão epistemológica empirista-
indutivista (ROSA; ROSA, 2010).
A dimensão epistemológica empirista-indutivista se apresenta de forma clara nas
concepções, sobre a importância da experimentação no Ensino de Física, de dezessete dos
dezenove professores pesquisados. Isso contribui para compreender características
importantes em uma atividade experimental no sentido de entender a concepção do professor
sobre a natureza da Ciência. Esse é um aspecto relevante, pois a visão dos professores de
Física a respeito da construção do conhecimento científico influencia na maneira como eles
ensinam Ciência e principalmente na maneira como os alunos entendem a mesma.
Dessa forma, discutimos a ideia da experimentação no Ensino de Física explicitada em
parte dos relatos dos professores:
Física compreendem a atividade experimental durante suas aulas no Ensino Médio. Assim, os
resultados encontrados permitem repensar as características metodológicas das atividades
experimentais, sinalizando possibilidades ao desenvolvimento de experimentos ao longo da
trajetória formativa desses, ou novos, professores.
Dessa forma, finalizamos essa discussão entendendo que é de extrema importância a
utilização de atividades experimentais com a dimensão epistemológica construtivista como
alternativa importante, mas não única, na busca por melhorias no ensino da Física.
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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APÊNDICE 1
Instrumento de coleta de dados: o questionário aplicado aos alunos do
PARFOR e do MNPEF (“ProFis”).
83
84
85
ANEXO 1
Apresenta-se o parecer favorável do COPEP ao desenvolvimento da
pesquisa, intitulada, inicialmente, por ‘ATIVIDADES
EXPERIMENTAIS: A SOBREPOSIÇÃO DAS DIFERENTES
CONCEPÇÕES À TEORIA DE ÁUSUBEL E À DOCÊNCIA NO
ENSINO MÉDIO’.
86
87
88