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suas intenções, sem levar em conta as experiências e os conhecimentos dos leitor ou da interação que
envolve esse processo.
Leitura e escrita assumem, assim, outras configurações e tomam o papel de protagonistas das
aulas de Língua Portuguesa, em detrimento de questões limitadas ao âmbito gramatical. Ler e
escrever tornam-se, então,“parte da interação verbal escrita, enquanto implicam a participação
cooperativa do leitor na interpretação e na reconstrução do sentido e das intenções pretendidos
pelo autor” (ibidem, p.45).
Nessa visão de ensino, “tanto aquele que escreve como aquele para quem se escreve são vistos
como atores / construtores sociais, sujeitos ativos que –dialogicamente – se constroem e são
construídos no texto” (KOCH e ELIAS,2010, p.34).
Há, portanto, de um lado, o autor que, com o propósito de alcançar sua intenção comunicativa,
faz, mesmo inconscientemente, escolhas dentre o seu repertório de linguagens. De outro lado, o
leitor que, com base nos saberes acumulados em outras práticas comunicativas e nas “pistas”
deixadas na superfície textual, relacionadas às escolhas linguísticas feitas pelo autor, constrói o
sentido do que vai lendo.
Tais pistas podem ser verbais (seleção lexical, uso das figuras de linguagem, colocação d os
termos na frase) e não verbais (ilustração, disposição das palavras no suporte, cor, tipo e tamanho
de fonte, uso de itálico, negrito e sublinhado)
O domínio da língua escrita é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem
acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Por isso, ao
ensiná-la, a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos, necessários para o
exercício da cidadania, direito imaleável de todos. (p. 24)
Escrever é comunicar-se com quem tem o que dizer, é um objeto que pretende alcançar através da
interlocução. Embora tenha surgido das várias necessidades de comunicação, de registro e de
preservação da memória isto é, de uma necessidade sócio-histórica emergente, a escrita evoluiu conforme
as exigências postas pela sociedade
O conteúdo temático essa expressão refere-se aos temas das diferentes atividades
humanas, ou seja, o assunto de que vai tratar o enunciado em questão. No gênero notícia o
tema é evidenciado a partir do título, o qual indica o enfoque principal na temática, a qual
será abordada no texto. Por exemplo, se no título da notícia estiver exposto como foco central
a “escovação bucal” nesse momento é chamado à atenção do leitor para a mensagem
transmitida que será sobre saúde bucal, assunto esse, que no decorrer da notícia será tratado.
O estilo verbal na notícia leva em consideração a linguagem empregada e a seleção
dos recursos linguísticos (vocabulário, estruturas sintáticas, a escolha lexical, preferências
gramaticais, etc.) que serão empregadas em função da esfera em que o gênero irá circular.
Logo, esse gênero poderá ser mais formal o menos formal, bem como, pode apresentar termos
técnicos de determinada áreas de conhecimento, a exemplo, uma notícia sobre o meio rural
provavelmente nela apresentará termos/palavras que só o leitor do meio rural entenderá.
A construção composicional desse gênero relaciona-se com a finalidade de sua ação,
que é de informar com precisão, clareza e objetividade. Por isso, quase sempre apresenta um
lide para informar o local e o tempo de ocorrência dos fatos, assim como os participantes dele.
Apresenta também um corpo, no qual, geralmente, recupera outros discursos a fim de validar
informações dispostas ou de se valer delas numa posição de adesão, ou oposição.
A partir da apresentação acima dos três elementos mediante ao gênero notícia,
elaboramos um quadro para representar de forma mais didática esses elementos na notícia.
Diante das considerações apresentada por Bahktin aos três fatores, foi possível refletir, de
forma detalhada, quanto à dimensão discursiva da notícia e as característicos desse gênero
discursivo. Sendo assim, abaixo mostramos o quadro para identificamos melhor as
características na notícia.
Quadro 1. Características da notícia a partir dos três elementos: o conteúdo temático, o estilo verbal e a estrutura
composicional.
o É um fato novo, de algo acontecido na realidade, um
evento socialmente relevante, recente ou atual, que
merece publicação/divulgação em uma mídia;
O conteúdo temático o ênfase no(s) fato(s) narrado(s) com oferta do máximo de
dados possíveis para que o relato pareça verdadeiro e a
notícia confiável (por exemplo, podem ser incluídos
depoimentos).
o linguagem formal, em função da situação comunicativa;
o relato predominantemente em 3ª pessoa, o qual busca
um distanciamento em relação ao fato, contribuindo
para a ideia da objetividade, sustentando a credibilidade
da informação;
o tempos verbais no passado (pretérito): pretérito
imperfeito para introduzir ‘personagens’ (‘quem era’) e
descrever o cenário (morava perto de...; gostava de...;
costumava passar as tardes...) e pretérito perfeito para
relatar o fato ocorrido (passou o tempo...; percebeu
que...; bateu na porta...);
O estilo verbal o uso de poucos adjetivos, dando ênfase aos substantivos
e aos verbos, os quais devem impressionar o leitor;
o linguagem mais objetiva com destaque para os aspectos
principais ou interessantes do fato relatado, situando-o
no seu momento histórico, como forma de revestir a
informação de seriedade;
o o uso da polifonia dos locutores, que pode ser
encontrados por meio de duas marcas lingüísticas
pronominais, a exemplo de (me e eu);
o pelo discurso relatado entre aspas, que indica uma
forma de argumentação por autoridade e etc;
o e por meio dos verbos discendi como: afirmar, falar
gritar, declarar, ordenar, perguntar, exclamar,
pedir, concordar etc.
o texto curto;
o predominância das modalidades: expor e narrar;
o título capaz de resumir o tema da notícia;
o subtítulo (é uma ou duas linhas explicativas, abaixo do
título), esta é opcional;
Estrutura o lead – primeiro parágrafo da notícia (expõe brevemente
composicional o assunto ou destaca o fato essencial, o clímax;
responde as perguntas: “o que aconteceu?”, “com
quem?”, “quando?”, “onde?”, “como”, “por quê?”;
o corpo da notícia: em que surgem informações
secundárias até se chegar aos detalhes, seguindo uma
ordem decrescente: primeiro os fatos mais importantes,
depois os secundários.
Fonte – Quadro organizado pela autora com base em Bakhtin (2000), Nascimento (2009), Erbolato (1991),
Martins (1997) e Garcia (2001)
Após essa apresentação, concluímos que esses elementos no gênero notícia intervêm
de modo fundamental na interpretação e identificação de um determinado gênero, portanto,
são muito importantes.